Judeus: questões sobre (Juifs: questions sur Vichy)
Por Jacques Duquesne (L'Express), publicado em 15/06/2006
Altamente documentada, a tese de Laurent Joly sobre o Comissariado Geral imposto pelo país ocupante. Daí a aceitar sua conclusão...
Os nazis mandavam, Vichy fazia. A partir do verão de 1940, o SS Dannecker queria criar na França um escritório central para assuntos judaicos. Os homens de Vichy, já haviam desenvolvido sua própria legislação antissemita, tardiamente. Substituindo a Pierre Laval como chefe de governo, o almirante Darlan não demora muito para satisfazer o ocupante. Assim cria o Comissariado Geral para Assuntos Judaicos (CGQJ, sigla em francês).
Estranhamente, ela não fez um livro real sobre o CGAJ. E aqui está, um bloco de 1.000 páginas da tese. Laurent Joly trabalhou todos os arquivos disponíveis. Ele dá a esta triste instituição, seus líderes, a ideologia por trás deles, a sua pequena equipe, uma imagem detalhada. Necessariamente mais sutil do que o sentido usual, porque qualquer investigação aprofundada revela brigas pessoais, as diferenças de interesse ou táticas.
A "arianização" das propriedades judaicas
Alguns leitores vão descobrir um assunto pouco tratado, com o foco definido, logicamente, sobre as deportações: o roubo e a "arianização" das propriedades dos judeus que interessava - no sentido material - muitos dirigentes. Lamentamos que este estudo, de uma riqueza rara, dedica apenas nove páginas de relatórios complexos à CGAJ com o Presbitério e com a União Geral dos Judeus na França (UGIF), instituição dita representativa criada por uma lei de 1941. E não vamos aceitar a conclusão de que "depois da Romênia, a França de Vichy é, certamente, dos países satélites que, por si só, desempenhou o papel mais criminoso nas políticas genocidas dos nazistas." Há quase 40 anos no livro La Destruction des juifs d'Europe (A destruição dos judeus europeus), Raul Hilberg, disse essencialmente: "Na Holanda, os alemães deportaram mais de três quartos dos judeus, na França, as estatísticas eram exatamente o oposto, impedidos com os esforços para deportar todos os judeus franceses, os alemães foram atrás da propriedade da comunidade judaica ".
Fonte: L'Express (França)
http://www.lexpress.fr/culture/livre/vichy-dans-la-solution-finale-histoire-du-commissariat-general-aux-questions-juives_821365.html
Tradução: Roberto Lucena
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sexta-feira, 31 de maio de 2013
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Meio século depois Hollande admite matança de argelinos em Paris
Meio século depois Hollande admite matança de argelinos em Paris |
O reconhecimento veio no 51º aniversário da manifestação de 17 de Outubro de 1961 e a pouco tempo de uma visita oficial à Argélia que o presidente francês tem agendada para o início de Dezembro. A manifestação brutalmente reprimida em 1961 fora convocada por organizações afectas ao movimento de libertação argelino FLN e dirigia-se contra o reclher obrigatório que apenas se aplicava aos argeilinos.
A manifestação terá reunido entre 20.000 e 50.000 pessoas e a maior parte dos mortos não foram vítimas de violência na rua, e sim nas esquadras, após a detenção. Um grande número foi lançado ao rio Sena, tendo os cadáveres continuado a aparecer nos dias seguintes, como denunciaram contra os desmentidos oficiais principalmente os jornais Le Monde, Libération e L'Humanité.
No lacónico comunicado do presidente Hollande, o balanço da repressão policial daquele dia é descrito como uma "tragédia" e refere-se a necessidade "não de vingança ou arrependimento, mas de do direito, por meio da verdade". O embaixador argelino em Paris, Missoum Sbih, comentou favoravelmente esta admissão do facto em si, que há muito era reivindicada pelo Governo argelino. Segundo Sbih, há no comunicado "vários sinais positivos e encorajadores".
Direita francesa furiosa com Hollande
Embora o comunicado em momento algum admita a existência de culpas da polícia francesa ou peça perdão às famílias das vítimas, os "sinais positivos" nele lidos pelo embaixador argelino já foram suficientes para desencadear um vendaval de protestos da direita francesa.
Assim, o líder parlamentar da UMP, Christian Jacob, considerou "intolerável" que o comportamento da polícia e o conjunto da República fossem postos em causa pelo comunicado. O dirigente histórico da Frente Nacional (extrema-direita) Jean-Marie Le Pen, conhecido por ter praticado a tortura em larga escala durante a Guerra da Argélia, afirmou que Hollande não tem o direito de se pronunciar sobre alegadas culpas da França.
E o ex-primeiro-ministro Fraçois Fillon, segundo citação do diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, interrogou-se retoricamente: "E o que é feito dos crimes que foram cometidos na Argélia após a independência, com os massacres contra os Harkis [soldados argelinos que serviram o exército francês], o que é feito dos arquivos argelinos, que nunca foram abertos?" E logo sugeriu: "Ou bem que tudo se revela à luz do dia, ou então o melhor é esquecer todo o assunto".
Papon: primeiro genocida anti-judeu, depois anti-árabe
Seja como for, os arquivos franceses ficarão abertos e permitirão conferir os cálculos dos historiadores - geralmente entre os 50 e os 200 mortos. Um dos mais conhecidos, da autoria do historiador francês Jean-Luc Einaudi, aponta para as duas centenas.
O balanço de Einaudi, que utilizava já o termo "massacre", deu na altura origem a um processo por difamação intentado por aquele que fora o prefeito da Polícia de Paris à data da manifestação: Maurice Papon. Este viria, por sua vez, a sentar-se depois no banco dos réus, não pela repressão de 17 de Outubro, mas pela sua colaboração com os nazis com vista a organizar a deportação de judeus para os campos de extermínio.
Papon viria a ser despojado de todas as suas condecorações e condenado a dez anos de prisão em 1998, por crimes contra a humanidade cometidos ao serviço do regime colaboracionista de Vichy. Mas acabou por cumprir apenas um ano de prisão, vindo a ser libertado por razões de saúde em 2000 e morrendo em 2002.
António Louçã, RTP 18 Out, 2012, 18:15 / atualizado em 18 Out, 2012, 18:30
DR
Fonte: RTP (Portugal)
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=596337&tm=7&layout=121&visual=49
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segunda-feira, 23 de julho de 2012
Hollande admite responsabilidade da França na deportação de judeus
François Hollande é o primeiro presidente socialista francês a quebrar o tabu da chamada “rafle du Vel d’Hiv”. O primeiro chefe de Estado francês a admitir a responsabilidade da França na deportação de judeus, durante a Segunda Guerra Mundial, foi o conservador Jacques Chirac, ao qual o socialista Hollande prestou homenagem.
“A verdade é que este crime foi cometido em França, pela França. O grande mérito do presidente Chirac foi ter reconhecido, aqui, a 16 de julho de 1995, esta verdade”, afirmou François Hollande, que prosseguiu: “A República perseguirá, com a maior determinação, todos os atos, todas as palavras antissemitas que possam provocar nos judeus de França uma sensação de inquietação no seu próprio país.” Uma referência ao assassinato de três crianças judias e de um professor judeu por Mohamed Merah em março último, na cidade de Toulouse.
O presidente francês participava na cerimónia, em Paris, que relembra os 13.152 judeus deportados pela França há 70 anos.
A “rafle du Vel D’Hiv” ocorreu nos dias 16 e 17 de julho de 1942. Durante esses dois dias, as autoridades francesas perseguiram e detiveram 13.152 judeus, os quais, na sua maioria, ficaram retidos no Velódromo de Inverno (“Vel d’Hiv”) – posteriormente demolido, em 1959 – antes de serem enviados aos campos de extermínio nazistas. “Nenhum soldado alemão foi mobilizado” para essa operação realizada por policiais franceses, lembrou o presidente.
Fonte: Euronews
http://pt.euronews.com/2012/07/22/hollande-admite-responsabilidade-da-franca-na-deportacao-de-judeus/
Ver mais:
Presidente da França honrou memória de milhares de judeus parisinos reprimidos (Voz da Rússia)
Hollande lembra participação francesa na deportação de judeus (RFI, Portugal)
Hollande assume responsabilidades francesas no Holocausto (Publico.pt, Portugal)
François Hollande admite responsabilidade de França no Holocausto (RTP, Portugal)
“A verdade é que este crime foi cometido em França, pela França. O grande mérito do presidente Chirac foi ter reconhecido, aqui, a 16 de julho de 1995, esta verdade”, afirmou François Hollande, que prosseguiu: “A República perseguirá, com a maior determinação, todos os atos, todas as palavras antissemitas que possam provocar nos judeus de França uma sensação de inquietação no seu próprio país.” Uma referência ao assassinato de três crianças judias e de um professor judeu por Mohamed Merah em março último, na cidade de Toulouse.
O presidente francês participava na cerimónia, em Paris, que relembra os 13.152 judeus deportados pela França há 70 anos.
A “rafle du Vel D’Hiv” ocorreu nos dias 16 e 17 de julho de 1942. Durante esses dois dias, as autoridades francesas perseguiram e detiveram 13.152 judeus, os quais, na sua maioria, ficaram retidos no Velódromo de Inverno (“Vel d’Hiv”) – posteriormente demolido, em 1959 – antes de serem enviados aos campos de extermínio nazistas. “Nenhum soldado alemão foi mobilizado” para essa operação realizada por policiais franceses, lembrou o presidente.
Fonte: Euronews
http://pt.euronews.com/2012/07/22/hollande-admite-responsabilidade-da-franca-na-deportacao-de-judeus/
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terça-feira, 17 de julho de 2012
França - Arquivos sobre o holocausto são exibidos pela 1º vez
Os perturbadores arquivos policiais sobre a maior deportação de judeus franceses durante Segunda Guerra Mundial estão sendo abertos ao público pela primeira vez, um raro retrato dos dias mais sombrios da colaboração da França com os nazistas.
A mostra, que começa nesta terça-feira, coincide com o 70º aniversário da batida policial em Paris que mandou mais de 13 mil judeus para o campo de extermínio de Auschwitz. Fotos, assinaturas e registros de bens pessoais de muitas vítimas entregues em 16 e 17 de julho de 1942 estão em exibição na prefeitura de Paris.
O presidente François Hollande vai fazer um discurso em memória à deportação no antigo velódromo de inverno, no domingo, o primeiro evento em lembrança do acontecimento em 17 anos. As informações são da Associated Press.
Fonte: AP
http://www.dgabc.com.br/News/5969375/arquivos-sobre-o-holocausto-sao-exibidos-pela-1-vez.aspx
Homenaje al holocausto de judíos franceses cerca de Paris (Televisa, México)
A mostra, que começa nesta terça-feira, coincide com o 70º aniversário da batida policial em Paris que mandou mais de 13 mil judeus para o campo de extermínio de Auschwitz. Fotos, assinaturas e registros de bens pessoais de muitas vítimas entregues em 16 e 17 de julho de 1942 estão em exibição na prefeitura de Paris.
O presidente François Hollande vai fazer um discurso em memória à deportação no antigo velódromo de inverno, no domingo, o primeiro evento em lembrança do acontecimento em 17 anos. As informações são da Associated Press.
Fonte: AP
http://www.dgabc.com.br/News/5969375/arquivos-sobre-o-holocausto-sao-exibidos-pela-1-vez.aspx
Homenaje al holocausto de judíos franceses cerca de Paris (Televisa, México)
terça-feira, 12 de junho de 2012
Rudy de Mérode, um colaboracionista fascista francês
Rudy de Mérode, nome real Frédéric Martin (1905, Silly-sur-Nied, Moselle - ?, provavelmente na Espanha) foi um colaboracionista francês durante a ocupação alemã da França na Segunda Guerra Mundial.
Vida
Originário de Luxemburgo, sua família emigrou para França e foram naturalizados como cidadãos franceses nos anos de 1920. Estudou engenharia em Estrasburgo e então na Alemanha, onde ele foi recrutado pela Abwehr em 1928. Em 1934 participou dos trabalhos de construção da Linha Maginot e repassou os planos (aos quais teve acesso) para os serviços da Inteligência alemã. Desmascarado como um espião em 1935, foi condenado em 1936 a 10 anos de cadeia (os quais serviu numa prisão de Clairvaux) e 20 anos de exílio da França.
Durante a queda da Batalha da França, centenas de milhares de prisioneiros fugiram pelas estradas da França. em 14 de junho, em Bar-sur-Aube, um grupo de prisioneiros foi evacuado da prisão central em Claivaux, incluindo Rudy de Mérode e outros espiões, que se aproveitaram da anarquia instalada para escapar e pedir ajuda aos alemães.
Em julho de 1940, ele retornou para Paris e organizou sozinho um centro de Inteligência militar alemão no Hotel Lutetia. Anexo a uma fonte do escritório no número 18 da rua Pétrarque em Paris como um disfarce, ele espionou para Abwehr ao lado de outro agente da SD, o holandês Gédéon van Houten (chamado de barão d'Humières).
Primeiramente ele reuniu a inteligência através de uma equipe de trinta pessoas sob suas ordens, que ele treinou por conta própria. A maioria deles eram foragidos da Justiça e ele os usou para conseguir equipamentos e para construções. Sua equipe requisitou varios apartamentos e hoteis particulares sob o pretexto de serem franceses ou (mais frequentemente) policiais alemães.
Sua especialidade era comboios bancários, de dinheiro vindo de diversas fontes ou na forma de objetos de ouro, jóias, arte ou lingotes. Em 1941, estabeleceu-se no boulevard 70 Maurice Barrès em Neuilly-sur-Seine, mas van Houten e de Mérode separaram-se após um desentendimento em 1942.
Com a ajuda do DSK (Devisenschutzkommando) abriu cofres de bancos, comprando objetos de ouro e prata de seus proprietários a um preço subvalorizado ou, no caso deles se recusassem a cooperar, ele os deportaria. Se a propriedade pertencesse a judeus, era totalmente confiscada e da Gestapo levava o proprietário preso e, muitas vezes deportava. A equipe da "gestapo de Neuilly" confiscou mais de 4 toneladas de ouro, e a rede de 'de Mérode' acumulou enormes somas de prata e prendeu e deporou mais de 500 pessoas.
Fuga pra Espanha
No início de 1944, a Abwehr o acusou de secretamente ter montado um escritório na Espanha. Primeiramente se alojou em Saint-Jean-de-Luz, em meados de 1945, inicialmente era para ficar em San Sebastián antes de chegar a Madrid, onde ele se autoproclamou como "o príncipe de Mérode". Em 1953, ele ainda vivia na Espanha, agora a 60 km ao norte de Madrid em uma fábrica de tijolos. Ele nunca voi levado à justiça e a data da sua morte permanece desconhecida até hoje.
Referências
Tradução: Roberto Lucena
Ver mais em:
BS Encyclopédie (em francês)
Seção sobre nazismo e Holocausto:
Les grandes idéologies. Le nazisme et la shoah
Vida
Originário de Luxemburgo, sua família emigrou para França e foram naturalizados como cidadãos franceses nos anos de 1920. Estudou engenharia em Estrasburgo e então na Alemanha, onde ele foi recrutado pela Abwehr em 1928. Em 1934 participou dos trabalhos de construção da Linha Maginot e repassou os planos (aos quais teve acesso) para os serviços da Inteligência alemã. Desmascarado como um espião em 1935, foi condenado em 1936 a 10 anos de cadeia (os quais serviu numa prisão de Clairvaux) e 20 anos de exílio da França.
Durante a queda da Batalha da França, centenas de milhares de prisioneiros fugiram pelas estradas da França. em 14 de junho, em Bar-sur-Aube, um grupo de prisioneiros foi evacuado da prisão central em Claivaux, incluindo Rudy de Mérode e outros espiões, que se aproveitaram da anarquia instalada para escapar e pedir ajuda aos alemães.
Em julho de 1940, ele retornou para Paris e organizou sozinho um centro de Inteligência militar alemão no Hotel Lutetia. Anexo a uma fonte do escritório no número 18 da rua Pétrarque em Paris como um disfarce, ele espionou para Abwehr ao lado de outro agente da SD, o holandês Gédéon van Houten (chamado de barão d'Humières).
Primeiramente ele reuniu a inteligência através de uma equipe de trinta pessoas sob suas ordens, que ele treinou por conta própria. A maioria deles eram foragidos da Justiça e ele os usou para conseguir equipamentos e para construções. Sua equipe requisitou varios apartamentos e hoteis particulares sob o pretexto de serem franceses ou (mais frequentemente) policiais alemães.
Sua especialidade era comboios bancários, de dinheiro vindo de diversas fontes ou na forma de objetos de ouro, jóias, arte ou lingotes. Em 1941, estabeleceu-se no boulevard 70 Maurice Barrès em Neuilly-sur-Seine, mas van Houten e de Mérode separaram-se após um desentendimento em 1942.
Com a ajuda do DSK (Devisenschutzkommando) abriu cofres de bancos, comprando objetos de ouro e prata de seus proprietários a um preço subvalorizado ou, no caso deles se recusassem a cooperar, ele os deportaria. Se a propriedade pertencesse a judeus, era totalmente confiscada e da Gestapo levava o proprietário preso e, muitas vezes deportava. A equipe da "gestapo de Neuilly" confiscou mais de 4 toneladas de ouro, e a rede de 'de Mérode' acumulou enormes somas de prata e prendeu e deporou mais de 500 pessoas.
Fuga pra Espanha
No início de 1944, a Abwehr o acusou de secretamente ter montado um escritório na Espanha. Primeiramente se alojou em Saint-Jean-de-Luz, em meados de 1945, inicialmente era para ficar em San Sebastián antes de chegar a Madrid, onde ele se autoproclamou como "o príncipe de Mérode". Em 1953, ele ainda vivia na Espanha, agora a 60 km ao norte de Madrid em uma fábrica de tijolos. Ele nunca voi levado à justiça e a data da sua morte permanece desconhecida até hoje.
Referências
- Magazine Historia Hors Série n°26 1972 por Jacques Delarue
- Les comtesses de la Gestapo ed. Grasset, 2007 by Cyril Eder, ISBN 978-2-246-67401-6
- Baptiste Roux, Figures de l'Occupation dans l'œuvre de Patrick Modiano, Paris, L'Harmattan, 1999, 334 p. (ISBN 2-7384-8486-7)
Tradução: Roberto Lucena
Ver mais em:
BS Encyclopédie (em francês)
Seção sobre nazismo e Holocausto:
Les grandes idéologies. Le nazisme et la shoah
sexta-feira, 9 de março de 2012
Casa Izieu. Memorial das crianças assassinadas na França pelo Carniceiro de Lyon, Klaus Barbie
Entre 1940 e 1941, o povo francês se encontrava sobrecogido pela derrota de seu país e preocupado com problemas materiais de sua vida diária, de forma que não reagiu à perseguição contra os judeus. Só organizações de caridade deram seu apoio aos judeus. Entre estas organizações, a Oeuvre de Secours aux Enfants (OSE), uma associação para crianças judias criada na Rússia em 1912, dedicava-se a ajudar os jovens.
Desde 1941, as crianças foram alojadas na casa da OSE em Palavas-les-Flots, por iniciativa de Sabine Zlatin. Isto foi possível graças ao apoio do prefeito do departamento de Hérault, Bénédetti, e seus assistentes. Quando a situação do departamento de Hérault se deteriorou, o prefeito perguntou à Sabine e Miron Zlatin se se podiam se mudar para a vila de Izieu. Em poucas semanas, a vida se reorganizou, apesar de que muitas crianças haviam sido repentinamente separadas de suas famílias e haviam sofrido com as condições de internamento durante meses etc. A ideia era tentar chegar à zona controlada por tropas italianas.
Mas a capitulação italiana, em setembro de 1943, provocou a ocupação da Wehrmacht das zonas anteriormente sob controle italiano. Em fevereiro de 1944, alguns colaboradores da OSE foram detidos pela Gestapo, pelo que a organização decidiu enclausurar todas suas casas para as crianças, quanto antes possível. Sabine Zlatin fez tudo o que estava a seu alcance para ocultar as crianças de Izieu.
Muitas crianças judias e seus responsáveis encontraram refúgio entre 1943 e 1944 no povoado de Izieu, não muito longe de Lyon.
Com a exceção do cuidador Leon Reifman, que conseguiu escapar saltando por uma janela, as 44 crianças e 7 cuidadores foram presos em 6 de abril de 1944, durante uma ação em Izieu. 42 crianças e 5 adultos foram enviados em diferentes transportes desde o campo de trânsito de Drancy até Auschwitz-Birkenau, onde foram assassinados.
Em 6 de abril, a Gestapo, sob a direção do "Carniceiro de Lyon", Klaus Barbie, entrou no orfanato e prendeu as crianças e os cuidadores, introduzindo-os em caminhões.
A professora Lea Feldblum foi a única sobrevivente de Auschwitz, porque foi empregada no campo. Dois jovens foram deportados para a Estônia, junto com o diretor do orfanato, Miron Zlatin, onde foram assassinados no verão de 1944.
Depois da guerra, Barbie conseguiu escapar, apesar de ser procurado pelas autoridades francesas, e conseguiu chegar à América do Sul, sob a proteção do serviço de inteligência norte-americano. Em 1952 e 1954, o Tribunal Militar de Lyon o condenou à morte em sua ausência.
Em junho de 1971, o escritório da Promotoria de Munique decidiu encerrar o caso, baseando-se que era impossível provar que Barbie conhecia o destino que esperava as pessoas que prendia. Mas Beate Klarsfeld mobilizou os membros da comunidade judaica e da Resistência para lutar contra esta setença, e conseguiu as testemunhas necessárias para que prosseguissem a investigação em Munique. Conseguiram estabelecer a verdadeira identidade de Barbie na América do Sul. Anos depois, a campanha levada a cabo por Beate e Serge Klarsfeld consiguiu que ele perdesse sua nacionalidade boliviana e fosse extraditado da Bolívia.
Em maio de 1987, depois de quatro anos de trabalhos preparatórios em Lyon, o julgamento contra Klaus Barbie foi aberto. Era o primeiro caso de crimes contra a humanidade julgado na França, e Barbie era acusado da liquidação do Comitê da União Geral dos Judeus da França em Lyon (UGIF), da prisão das crianças de Izieu, do internamento de 650 pessoas em campos de concentração, da tortura e morte de Marcel Gompel, um membro judeu da resistência, da prisão e internamento em campos de concentração de diferentes membros da Resistência.
Em dezembro de 1985, uma decisão do Tribunal de Cassação havia estipulado que a deportação dessas pessoas para campos de concentração não estava diretamente relacionada com o conflito bélico, pelo que ia mais além com os crimes contra a humanidade.
Barbie declarou que não sabia nada dos crimes os quais era acusado. Em 3 de julho de 1987, estabeleceu-se o veredito de culpabilidade, sem circunstâncias atenuantes, e foi setenciado à prisão perpétua. Em 25 de setembro de 1991, Klaus Barbie morreu de câncer na prisão.
A criação do memorial
Durante o julgamento contra Klaus Barbie em Lyon, em 1987, uma organização sem fins lucrativos foi criada por Sabine Zlatin, que havia fundado o orfanato com seu marido, em 1943. Em 24 de abril de 1994, o então Presidente da República francesa François Mitterand dedicou o memorial, que é visitado por um grande número de alunos e professores.
Dois edifícios estão abertos ao público. A casa que serviu de lar para as crianças de Izieu e dos cuidadores a cargo, está destinado a perpetuar sua memória. Na granja adjacente reconvertida, está presente o trasfondo histórico dos fatos daquele dia.
Em sua exposição se traça o itinerário das crianças judias, desde sua chegada à França, durante o período entreguerras e sua deportação para os campos de concentração. Através das fotografias e dos desenhos audiovisuais, os visitantes podem entender o horror do destino destas 44 crianças, e das 11.000 crianças judias deportadas da França para os campos de concentração e extermínio. Uma das salas é dedicada ao tema dos crimes contra a humanidade; também se mostra uma montagem com imagens do julgamento contra Barbie que fazem referência à redada de Izieu.
A história das crianças de Izieu é particularmente interessante para as crianças e jovens, porque faz referência a pessoas de sua mesma idade. O departamento educativo do museu sempre está disposto a ajudar professores a preparar visitas à escola. O trabalho educativo se centra nas políticas antissemitas do governo de Vichy que colaborou com as tropas de ocupação alemãs, os crimes contra a humanidade e a perseguição depois da guerra.
O memorial também tem uma exposição permanente de fotografias, que fazem referência a diferentes temas relacionados com a casa Izieu: a história das famílias de muitas das crianças, os campos de concentração de Drancy e Auschwitz, os julgamentos de Nuremberg, a carrera de Klaus Barbie e seu julgamento, a colaboração francesa etc.
A história da casa Izieu é particularmente interessante para crianças e jovens, porque faz referência a pessoas de sua idade. Por isso, uma grande parte do material e dos documentos expostos são diretamente dirigidos a este tipo de visitantes. Além disso, o departamento educativo do museu está a disposição dos professores para preparar as visitas dos colégios.
Para este fim, o memorial tem programas de visitas de um ou vários dias, nos quais os alunos podem trabalhar depois de visitar a instalação sobre estes temas do passado e refletir as questões que tenham surgido durante a visita. As visitas de vários dias permitem que os alunos absorvam a atmosfera deste lugar especial, aproximando-se do destino das crianças e de seus familiares, e compreender essa história desde seu próprio ponto de vista.
Contato:
Maison d’Izieu
01300 Izieu
http://www.izieu.alma.fr
Fonte: topografía de la memoria (memoriales históricos de los campos de concentración nacionasocialistas 1933-1945)
http://www.memoriales.net/topographie/francia/izieu.htm
Tradução: Roberto Lucena
Desde 1941, as crianças foram alojadas na casa da OSE em Palavas-les-Flots, por iniciativa de Sabine Zlatin. Isto foi possível graças ao apoio do prefeito do departamento de Hérault, Bénédetti, e seus assistentes. Quando a situação do departamento de Hérault se deteriorou, o prefeito perguntou à Sabine e Miron Zlatin se se podiam se mudar para a vila de Izieu. Em poucas semanas, a vida se reorganizou, apesar de que muitas crianças haviam sido repentinamente separadas de suas famílias e haviam sofrido com as condições de internamento durante meses etc. A ideia era tentar chegar à zona controlada por tropas italianas.
Mas a capitulação italiana, em setembro de 1943, provocou a ocupação da Wehrmacht das zonas anteriormente sob controle italiano. Em fevereiro de 1944, alguns colaboradores da OSE foram detidos pela Gestapo, pelo que a organização decidiu enclausurar todas suas casas para as crianças, quanto antes possível. Sabine Zlatin fez tudo o que estava a seu alcance para ocultar as crianças de Izieu.
Muitas crianças judias e seus responsáveis encontraram refúgio entre 1943 e 1944 no povoado de Izieu, não muito longe de Lyon.
Com a exceção do cuidador Leon Reifman, que conseguiu escapar saltando por uma janela, as 44 crianças e 7 cuidadores foram presos em 6 de abril de 1944, durante uma ação em Izieu. 42 crianças e 5 adultos foram enviados em diferentes transportes desde o campo de trânsito de Drancy até Auschwitz-Birkenau, onde foram assassinados.
Em 6 de abril, a Gestapo, sob a direção do "Carniceiro de Lyon", Klaus Barbie, entrou no orfanato e prendeu as crianças e os cuidadores, introduzindo-os em caminhões.
A professora Lea Feldblum foi a única sobrevivente de Auschwitz, porque foi empregada no campo. Dois jovens foram deportados para a Estônia, junto com o diretor do orfanato, Miron Zlatin, onde foram assassinados no verão de 1944.
Depois da guerra, Barbie conseguiu escapar, apesar de ser procurado pelas autoridades francesas, e conseguiu chegar à América do Sul, sob a proteção do serviço de inteligência norte-americano. Em 1952 e 1954, o Tribunal Militar de Lyon o condenou à morte em sua ausência.
Em junho de 1971, o escritório da Promotoria de Munique decidiu encerrar o caso, baseando-se que era impossível provar que Barbie conhecia o destino que esperava as pessoas que prendia. Mas Beate Klarsfeld mobilizou os membros da comunidade judaica e da Resistência para lutar contra esta setença, e conseguiu as testemunhas necessárias para que prosseguissem a investigação em Munique. Conseguiram estabelecer a verdadeira identidade de Barbie na América do Sul. Anos depois, a campanha levada a cabo por Beate e Serge Klarsfeld consiguiu que ele perdesse sua nacionalidade boliviana e fosse extraditado da Bolívia.
Em maio de 1987, depois de quatro anos de trabalhos preparatórios em Lyon, o julgamento contra Klaus Barbie foi aberto. Era o primeiro caso de crimes contra a humanidade julgado na França, e Barbie era acusado da liquidação do Comitê da União Geral dos Judeus da França em Lyon (UGIF), da prisão das crianças de Izieu, do internamento de 650 pessoas em campos de concentração, da tortura e morte de Marcel Gompel, um membro judeu da resistência, da prisão e internamento em campos de concentração de diferentes membros da Resistência.
Em dezembro de 1985, uma decisão do Tribunal de Cassação havia estipulado que a deportação dessas pessoas para campos de concentração não estava diretamente relacionada com o conflito bélico, pelo que ia mais além com os crimes contra a humanidade.
Barbie declarou que não sabia nada dos crimes os quais era acusado. Em 3 de julho de 1987, estabeleceu-se o veredito de culpabilidade, sem circunstâncias atenuantes, e foi setenciado à prisão perpétua. Em 25 de setembro de 1991, Klaus Barbie morreu de câncer na prisão.
A criação do memorial
Durante o julgamento contra Klaus Barbie em Lyon, em 1987, uma organização sem fins lucrativos foi criada por Sabine Zlatin, que havia fundado o orfanato com seu marido, em 1943. Em 24 de abril de 1994, o então Presidente da República francesa François Mitterand dedicou o memorial, que é visitado por um grande número de alunos e professores.
Dois edifícios estão abertos ao público. A casa que serviu de lar para as crianças de Izieu e dos cuidadores a cargo, está destinado a perpetuar sua memória. Na granja adjacente reconvertida, está presente o trasfondo histórico dos fatos daquele dia.
Em sua exposição se traça o itinerário das crianças judias, desde sua chegada à França, durante o período entreguerras e sua deportação para os campos de concentração. Através das fotografias e dos desenhos audiovisuais, os visitantes podem entender o horror do destino destas 44 crianças, e das 11.000 crianças judias deportadas da França para os campos de concentração e extermínio. Uma das salas é dedicada ao tema dos crimes contra a humanidade; também se mostra uma montagem com imagens do julgamento contra Barbie que fazem referência à redada de Izieu.
A história das crianças de Izieu é particularmente interessante para as crianças e jovens, porque faz referência a pessoas de sua mesma idade. O departamento educativo do museu sempre está disposto a ajudar professores a preparar visitas à escola. O trabalho educativo se centra nas políticas antissemitas do governo de Vichy que colaborou com as tropas de ocupação alemãs, os crimes contra a humanidade e a perseguição depois da guerra.
O memorial também tem uma exposição permanente de fotografias, que fazem referência a diferentes temas relacionados com a casa Izieu: a história das famílias de muitas das crianças, os campos de concentração de Drancy e Auschwitz, os julgamentos de Nuremberg, a carrera de Klaus Barbie e seu julgamento, a colaboração francesa etc.
A história da casa Izieu é particularmente interessante para crianças e jovens, porque faz referência a pessoas de sua idade. Por isso, uma grande parte do material e dos documentos expostos são diretamente dirigidos a este tipo de visitantes. Além disso, o departamento educativo do museu está a disposição dos professores para preparar as visitas dos colégios.
Para este fim, o memorial tem programas de visitas de um ou vários dias, nos quais os alunos podem trabalhar depois de visitar a instalação sobre estes temas do passado e refletir as questões que tenham surgido durante a visita. As visitas de vários dias permitem que os alunos absorvam a atmosfera deste lugar especial, aproximando-se do destino das crianças e de seus familiares, e compreender essa história desde seu próprio ponto de vista.
Contato:
Maison d’Izieu
01300 Izieu
http://www.izieu.alma.fr
Fonte: topografía de la memoria (memoriales históricos de los campos de concentración nacionasocialistas 1933-1945)
http://www.memoriales.net/topographie/francia/izieu.htm
Tradução: Roberto Lucena
Marcadores:
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sábado, 18 de fevereiro de 2012
França: Le Pen é condenado por declarações sobre a 2ª Guerra (extrema-direita)
Jean-Marie Le Pen, Front Nacional (partido da extrema-direita francesa) |
No dia 8 de fevereiro de 2008, o Tribunal Penal de Paris considerou Le Pen culpado de "apologia a crimes de guerra" e "contestação de crime contra a Humanidade", após uma declaração sua publicada em janeiro de 2005 na revista de extrema direita Rivarol.
Le Pen tinha declarado: "Na França, pelo menos, a ocupação alemã não foi particularmente desumana, mesmo acontecendo erros, inevitáveis em um país de 550 mil km quadrados". Várias vezes candidato a presidente, Le Pen hoje é eurodeputado.
Jean-Marie Le Pen, 83 anos, passou a liderança de seu partido, em janeiro de 2011, para sua filha Marine, que é candidata à presidência na eleição de abril-maio de 2012.
Fonte: Terra/AFP
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5616606-EI8142,00-Franca+Le+Pen+e+condenado+por+declaracoes+sobre+a+Guerra.html
Ver mais:
Jean-Marie Le Pen condenado a três meses de prisão com pena suspensa (Correio da Manhã, Portugal)
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
França reconhece responsabilidade no Holocausto
Corte de Justiça assumiu responsabilidade do governo em deportação de judeus.
- A mais alta corte de Justiça da França reconheceu formalmente nesta segunda-feira a responsabilidade do país na deportação de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Analistas dizem o anúncio do Conselho representa o maior claro reconhecimento das autoridades francesas da participação do país no Holocausto.
O Conselho de Estado disse que a França permitiu ou facilitou deportações que levaram à perseguição antisemita sem sofrer coerção dos nazistas, que controlaram a França de 1940 a 1944.
Porém, o Conselho concluiu que já foram feitos os devidos reparos "na medida do possível, para todas as perdas sofridas", descartando assim qualquer tipo de compensação para deportados ou seus familiares.
Chirac
Entre 1942 e 1944, cerca de 76 mil judeus foram deportados da França para campos de concentração nazistas pelo governo francês instalado pelos nazistas no centro-sul do país, com capital na cidade de Vichy.
O governo de Vichy dividiu entre 1940 e 1944 a administração do território da França com a própria Alemanha, que controlava Paris, o norte e o oeste do país.
Em 1995 o então presidente francês, Jacques Chirac, já havia reconhecido a responsabilidade do governo na deportação de judeus franceses, encerrando décadas de ambiguidade de todos os governos anteriores.
"Estas horas mancham nossa história e são um insulto ao nosso passado e nossas tradições" disse Chirac na época.
"Sim, a estupidez criminosa de nossos ocupantes foi sustentada pelos franceses, pelo Estado francês."
Fonte: BBC Brasil/Estadão
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,franca-reconhece-responsabilidade-no-holocausto,324763,0.htm
- A mais alta corte de Justiça da França reconheceu formalmente nesta segunda-feira a responsabilidade do país na deportação de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Analistas dizem o anúncio do Conselho representa o maior claro reconhecimento das autoridades francesas da participação do país no Holocausto.
O Conselho de Estado disse que a França permitiu ou facilitou deportações que levaram à perseguição antisemita sem sofrer coerção dos nazistas, que controlaram a França de 1940 a 1944.
Porém, o Conselho concluiu que já foram feitos os devidos reparos "na medida do possível, para todas as perdas sofridas", descartando assim qualquer tipo de compensação para deportados ou seus familiares.
Chirac
Entre 1942 e 1944, cerca de 76 mil judeus foram deportados da França para campos de concentração nazistas pelo governo francês instalado pelos nazistas no centro-sul do país, com capital na cidade de Vichy.
O governo de Vichy dividiu entre 1940 e 1944 a administração do território da França com a própria Alemanha, que controlava Paris, o norte e o oeste do país.
Em 1995 o então presidente francês, Jacques Chirac, já havia reconhecido a responsabilidade do governo na deportação de judeus franceses, encerrando décadas de ambiguidade de todos os governos anteriores.
"Estas horas mancham nossa história e são um insulto ao nosso passado e nossas tradições" disse Chirac na época.
"Sim, a estupidez criminosa de nossos ocupantes foi sustentada pelos franceses, pelo Estado francês."
Fonte: BBC Brasil/Estadão
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,franca-reconhece-responsabilidade-no-holocausto,324763,0.htm
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Os campos de internação do sul da França (Holocausto)
Os campos de internação do sul da França
Da exclusão ao extermínio
Na foto: Os campos de internação do sul da França
Löw e Bodek “Toujours la même chose”. Lavis. Camp de Gurs, 1940
Que a prática da xenofobia, da discriminação e da exclusão podem, sob certas condições, conduzir ao extermínio do outro é uma afirmação não só de ordem especulativa senão uma das mais duras lições do século XX. Um índice revelador de tal escalada que foi da “exclusão” até a “eliminação” massiva da população considerada indesejável é provido pelas transformações sofridas pelos campos de reclusão do sul da França. Efetivamente, estes locais destinados em princípio a serem centros de refugiados, especialmente de espanhóis republicanos e alemães social-democratas e comunistas, transformariam-se, no curso da guerra, de campos de deportação, à antessala dos centros de extermínio no centro da Europa.
A questão assume um viés particularmente espinhoso: aqueles centros de detenção foram localizados antes da chegada do governo pró-alemão de Vichy, precisamente foram construídas durante o período da República, sob o governo de Daladier em 1938. Esta nota singular dos campos do sul da França, o fato que remontam suas origens ao período republicano, os tem investido de caráter problemático que alcançam o coração da mesma memória histórica francesa. Contudo, nas últimas décadas, tem-se podido assistir a relevantes expressões por voltar-se sobre os passos daquele ignominioso lastro que nasceu durante a República. Uma das maiores expressões de retorno sobre o cenário dos campos do sul da França, anos depois do massacre, foi empreendida pela Biblioteca Municipal de Toulouse - fisicamente próxima a área onde se localizavam aqueles campos - sob a iniciativa e direção de Monique-Lise Cohen. De fato, a Biblioteca Municipal de Toulouse organizou diversas amostras sobre o antissemitismo no sul da França.
A abjeta lógica - a que vai da segregação ao extermínio - que testemunham estes campos, aquela que os levou a operar como centros de internação para estrangeiros e a chegar a serem campos de morte, é digno de uma revisão sobre sua existência.
Um traço singular no processo de deportação no sul da França concerne a anterioridade dos campos de internação referente ao governo de Vichy e a ocupação alemã. Mais precisamente, a origem destes campos remonta ao período da República, sob o governo de Daladier, em 1938. Esta “iniciativa” será herdada pelo governo pró-alemão de Vichy transformando o caráter e fim dos campos. Revela-se assim uma certa continuidade entra a obra do governo Republicano e o governo de Vichy sustentada, apesar de seus contrastes, no fino fio da xenofobia e da discriminação. Aqueles campos de refugiados destinados a comunistas, republicanos espanhóis e social-democratas alemães, converteram-se a partir de novembro-dezembro de 1940 em campos de judeus.
Na foto: Chegada dos refugiados espanhóis a França.
L’Illustration, 11 de fevereiro de 1939.
Com exatidão, os campos do sul da França nascem com o decreto-lei de 12 de novembro de 1938 do governo de Daladier. Aquele decreto já fazia referência aos “estrangeiros indesejáveis” um termo que evocava uma lei de 1849 que previa a expulsão de todos os estrangeiros julgados perigosos. O contexto destas medidas remetiam diretamente, durante este período, aos acontecimentos que por aqueles anos eram vividos no território espanhol, em especial Barcelona e outras zonas da Espanha próximas a França. Durante o mês de janeiro de 1939 um contingente numeroso de republicanos espanhóis, intimidados ante o avanço franquista, se dirigiam até a fronteira francesa.
Entre o 26 de janeiro - a um dia da queda de Barcelona - e o 9 de fevereiro - quando os nacionalistas fecharam definitivamente a fronteira catalã -, mais de 500.000 espanhóis, primeiro civis e militares feridos e depois os soldados republicanos, passaram pela aduana de Perthus. O primeiro “centro especial” destinado a internação de refugiados foi instalado por decreto em 21 de janeiro de 1939 em Rieucros perto de Mende(Lozère). Em pouco tempo esta “designação de residência” se tornaria em “internação administrativa”. Pouco depois, entre março e abril de 1939 se situam seis centros nas periferias dos Pirineus Orientais para o internamento de milicianos: em Bram(Aude) reservado aos anciãos; Agde (Hérault) e Riversaltes (Pirineus-Orientais)destinado aos catalães; Sepfonds (Tarn-et-Garonne) e Le Vernet (Ariège)para os trabalhadores e Gurs (Basses Pyrénées)onde esteve internada Hannah Arendt. Estes dois últimos centros foram os campos franceses mais importantes e funcionaram até 1944. Particularmente o campo de Le Vernet - onde permaneceu o escritor e ensaísta Arthur Koestler - teria como nota própria a ser “campo repressivo” onde deveriam ficar presos os “indivíduos perigosos para a ordem pública e a segurança nacional”, em geral comunistas e dirigentes das Brigadas Internacionais.
O destino dos internados nos campos do sul da França sofreria rapidamente as consequências das cada vez mais estreitas relações do governo de Vichy com o regime nazi. Seguindo os termos do tratado concluído em 22 de junho, o regime de Vichy entregou, na noite de 8 de fevereiro de 1941, algo em torno de vinte alemães antinazis reclusos nos campos para as autoridades do Reich. Entre estes alemães estavam os prestigiados Herschel Grynspan, Rudolf Hilferding e Rudolf Breitscheid, morto num campo nazi em 1944.
Pouco a pouco, os campos foram afetados pela coloratura particular das políticas antissemitas que impunham a aproximação do governo de Vichy ao regime nazi. Em 2 de outubro de 1940 o prefeito de Haute Garonne ordena que os ‘israelitas franceses sem recursos’ se dirijam ao campo de Clairfont. Sem nenhuma pressão alemã, Vichy estabeleceu uma discriminação jurídica que repousava sobre o postulado racial. O propósito do governo de Vichy era “limitar a influência judia” por uma série de interdições profissionais. Numa declaração promulgada em 18 de outubro o Conselho de Ministros adaptava o decreto anterior de 1938 relativo ao internamento de estrangeiros ao novo parâmetro racial e a perseguição antissemita. A nova lei permitia aos prefeitos internar nos “campos especiais” o estrangeiros de “raça judia”. A administração municipal começou, então, a revisar suas estatísticas segundo o novo critério racial. Em novembro, o prefeito de Haute Garonne indica a Vichy que os 53% dos 2000 internados de seu departamento eram da “raça judia” porcentagem que se elevaria a 70 % dos 40.000 estrangeiros internados da Zona Não-Ocupada.
A política fazia a população judia sofrer um virada crucial em outubro de 1940 quando se condena os judeus estrangeiros ao internamento e a vigilância especial em vilas distantes. O centro provincial maior, logo promovido a categoria de campo, foi o de Bouches du Rhône acerca de Aix, na carvoaria de Milles, onde foram reunidos 2.000 emigrados, entre os quais se encontrariam intelectuais de renome tais como Golo Mann, Walter Benjamin, Max Ernst e Lion Feuchtwanger que estampou num livro suas memórias do internamento sob o título de 'Diabo na França'.
Na foto: Monumento à Memoria dos deportados
(Cemitério do Campo de Noé)
Os mais notórios campos do sul da França foram Gurs, Argèles, Noé, Récébédou e Riversaltes. Vichy operou Vernet, Rieucros e a prisão de Brébant em Marselha como campo de punição. Os campos se caracterizaram, sobretudo, por suas condições de vida intoleráveis. Um informe do American Friends Service Comittee de janeiro de 1942 os chamava de locais para “esquálidos, apertados e enfermos com altas probabilidades de morrer”. André Jean-Faure, inspetor dos campos de Vichy e sem dúvida um não-crítico do regime descobriu condições chocantes nos campos. As crianças e os anciãos pereciam rapidamente entre a falta de vestimenta, o tifo e a tuberculose. Serge Klarsfeld calculou em 3000 os judeus mortos neste período.
De todos os campos da Zona Não-Ocupada, o de Gurs foi talvez o mais infame. Localizado em Basses-Pyré, sudoeste da cidade de Pau, Gurs foi apressadamente construído em 1939 como centro de detenção para 15.000 refugiados espanhóis. Durante os anos da guerra a população do campo, a maioria judeus mas também espanhóis e romenos, flutuou entre 6.000 a 29.000 pessoas. Em 1940, durante uma série de dramáticos traslados, as autoridades alemães expulsaram cerca de 7.000 judeus de Palatinado para Gurs em trens selados. Muitos daqueles que os nazis expulsaram de Baden, da Saarland e da Alsácia-Lorena hegaram a Gurs em 1940 só para aguardar a deportação em 1942. Cerca da metade dos judeus expulsos nesta operação estavam por chegar aos sessenta anos de idade(o mais velho foi um de 100 anos)e, naturalmente, não puderam sobreviver sob aquelas condições. Em novembro de 1940 uma média de oito pessoas por dia morriam no campo. Em novembro de 1943 haviam morrido 1.038 pessoas e cerca de 3900 haviam sido deportadas aos campos de morte nazi.
O campo de Riversaltes, a 20 quilômetros ao norte do povoado de Perpignan nos Pirineus Orientais, alojou cerca de 9.000 pessoas, a maioria judeus, incluindo até 3.000 crianças. Riversaltes abriu em 1941 para ‘atender’ o cada vez mais crescente número de internos judeus.
Até Riversaltes, foram orientadas uma série de esforços de diversas organizações judias para aliviar as penúrias dos que ali se encontravam: o rabino René Hirschler, capelão geral para os campos, intentou manter uma quantidade módica de vida cultural e religiosa judia para os prisioneiros, a Comissão Nîmes, um grupo de ajuda combinado, trabalhou para levar diversas formas de assistência as mães e crianças internados. As condições alimentares e de vestimenta em Riversaltes eram de tal grau de indigência que em 1942 o American Friends Service Comittee computava uma morte diária com maior incidência entre as crianças.
O campo de Noé com a metade de sua população judia e a outra dividida entre alemães e espanhóis foi outro campo de detenção onde os internos sofreram iguais condições inumanas durante sua permanência.
Entre os campos mais cruéis se encontra aquele de Le Vernet no que estaria internado o grande escritor Arthur Koestler junto a uma população que chegaria aos 3000 internos. Daquela população cerca de um quarto eram membros das Brigadas Internacionais e o resto judeus. Koestler pôde finalmente evadir-se, em 1940, mas o caráter de terror do campo ficaria bem retratado em seu livro de memórias 'A escória da terra'.
Como assinalamos mais acima estes campos sofreram pouco a pouco uma importante mudança de status. No começo entre 1939 e 1940, a maior parte deles eram campos para “estrangeiros perigosos” que persistiam como um corpo estranho à democracia, sendo sua existência amplamente debatida na câmara de deputados e na imprensa, sobretudo pelos diários de esquerda L’Humanite e o Populaire que em fevereiro de 1939 denunciavam a existência de “campos de concentração”. Mas a partir de 1942 os campos do sul da França, até esse momento herança assumida bem que mal pelo Estado francês, tornaram-se instrumentos naturais da política repressiva de Vichy.
Já em janeiro de 1940, 13.000 espanhóis haviam sido deportados desde os campos do sul até o campo nazi de Mauthausen onde pereceriam em número de 5.000.
Este caminho que recorreram os campos do sul da França, caminho impensado por aqueles a que na democracia os criaram seguramente sem imaginar sua transformação posterior, confrontam-nos com a periculosidade do gesto segregacionista ou xenófobo ainda quando se queira que este seja contido dentro das margens da lei. A sutil pátina que separa a exclusão do extermínio pode ser franqueada sob certas circunstâncias, certas mas não excepcionais circunstâncias segundo nos demonstra o século que deixamos."
Pablo M. Dreizik
Os campos de internação do sul da França.
Fonte: Fundación Memoria del Holocausto
Texto original(espanhol): http://www.fmh.org.ar/revista/18/delaex.htm
Tradução: Roberto Lucena
Da exclusão ao extermínio
Na foto: Os campos de internação do sul da França
Löw e Bodek “Toujours la même chose”. Lavis. Camp de Gurs, 1940
Que a prática da xenofobia, da discriminação e da exclusão podem, sob certas condições, conduzir ao extermínio do outro é uma afirmação não só de ordem especulativa senão uma das mais duras lições do século XX. Um índice revelador de tal escalada que foi da “exclusão” até a “eliminação” massiva da população considerada indesejável é provido pelas transformações sofridas pelos campos de reclusão do sul da França. Efetivamente, estes locais destinados em princípio a serem centros de refugiados, especialmente de espanhóis republicanos e alemães social-democratas e comunistas, transformariam-se, no curso da guerra, de campos de deportação, à antessala dos centros de extermínio no centro da Europa.
A questão assume um viés particularmente espinhoso: aqueles centros de detenção foram localizados antes da chegada do governo pró-alemão de Vichy, precisamente foram construídas durante o período da República, sob o governo de Daladier em 1938. Esta nota singular dos campos do sul da França, o fato que remontam suas origens ao período republicano, os tem investido de caráter problemático que alcançam o coração da mesma memória histórica francesa. Contudo, nas últimas décadas, tem-se podido assistir a relevantes expressões por voltar-se sobre os passos daquele ignominioso lastro que nasceu durante a República. Uma das maiores expressões de retorno sobre o cenário dos campos do sul da França, anos depois do massacre, foi empreendida pela Biblioteca Municipal de Toulouse - fisicamente próxima a área onde se localizavam aqueles campos - sob a iniciativa e direção de Monique-Lise Cohen. De fato, a Biblioteca Municipal de Toulouse organizou diversas amostras sobre o antissemitismo no sul da França.
A abjeta lógica - a que vai da segregação ao extermínio - que testemunham estes campos, aquela que os levou a operar como centros de internação para estrangeiros e a chegar a serem campos de morte, é digno de uma revisão sobre sua existência.
Um traço singular no processo de deportação no sul da França concerne a anterioridade dos campos de internação referente ao governo de Vichy e a ocupação alemã. Mais precisamente, a origem destes campos remonta ao período da República, sob o governo de Daladier, em 1938. Esta “iniciativa” será herdada pelo governo pró-alemão de Vichy transformando o caráter e fim dos campos. Revela-se assim uma certa continuidade entra a obra do governo Republicano e o governo de Vichy sustentada, apesar de seus contrastes, no fino fio da xenofobia e da discriminação. Aqueles campos de refugiados destinados a comunistas, republicanos espanhóis e social-democratas alemães, converteram-se a partir de novembro-dezembro de 1940 em campos de judeus.
Na foto: Chegada dos refugiados espanhóis a França.
L’Illustration, 11 de fevereiro de 1939.
Com exatidão, os campos do sul da França nascem com o decreto-lei de 12 de novembro de 1938 do governo de Daladier. Aquele decreto já fazia referência aos “estrangeiros indesejáveis” um termo que evocava uma lei de 1849 que previa a expulsão de todos os estrangeiros julgados perigosos. O contexto destas medidas remetiam diretamente, durante este período, aos acontecimentos que por aqueles anos eram vividos no território espanhol, em especial Barcelona e outras zonas da Espanha próximas a França. Durante o mês de janeiro de 1939 um contingente numeroso de republicanos espanhóis, intimidados ante o avanço franquista, se dirigiam até a fronteira francesa.
Entre o 26 de janeiro - a um dia da queda de Barcelona - e o 9 de fevereiro - quando os nacionalistas fecharam definitivamente a fronteira catalã -, mais de 500.000 espanhóis, primeiro civis e militares feridos e depois os soldados republicanos, passaram pela aduana de Perthus. O primeiro “centro especial” destinado a internação de refugiados foi instalado por decreto em 21 de janeiro de 1939 em Rieucros perto de Mende(Lozère). Em pouco tempo esta “designação de residência” se tornaria em “internação administrativa”. Pouco depois, entre março e abril de 1939 se situam seis centros nas periferias dos Pirineus Orientais para o internamento de milicianos: em Bram(Aude) reservado aos anciãos; Agde (Hérault) e Riversaltes (Pirineus-Orientais)destinado aos catalães; Sepfonds (Tarn-et-Garonne) e Le Vernet (Ariège)para os trabalhadores e Gurs (Basses Pyrénées)onde esteve internada Hannah Arendt. Estes dois últimos centros foram os campos franceses mais importantes e funcionaram até 1944. Particularmente o campo de Le Vernet - onde permaneceu o escritor e ensaísta Arthur Koestler - teria como nota própria a ser “campo repressivo” onde deveriam ficar presos os “indivíduos perigosos para a ordem pública e a segurança nacional”, em geral comunistas e dirigentes das Brigadas Internacionais.
O destino dos internados nos campos do sul da França sofreria rapidamente as consequências das cada vez mais estreitas relações do governo de Vichy com o regime nazi. Seguindo os termos do tratado concluído em 22 de junho, o regime de Vichy entregou, na noite de 8 de fevereiro de 1941, algo em torno de vinte alemães antinazis reclusos nos campos para as autoridades do Reich. Entre estes alemães estavam os prestigiados Herschel Grynspan, Rudolf Hilferding e Rudolf Breitscheid, morto num campo nazi em 1944.
Pouco a pouco, os campos foram afetados pela coloratura particular das políticas antissemitas que impunham a aproximação do governo de Vichy ao regime nazi. Em 2 de outubro de 1940 o prefeito de Haute Garonne ordena que os ‘israelitas franceses sem recursos’ se dirijam ao campo de Clairfont. Sem nenhuma pressão alemã, Vichy estabeleceu uma discriminação jurídica que repousava sobre o postulado racial. O propósito do governo de Vichy era “limitar a influência judia” por uma série de interdições profissionais. Numa declaração promulgada em 18 de outubro o Conselho de Ministros adaptava o decreto anterior de 1938 relativo ao internamento de estrangeiros ao novo parâmetro racial e a perseguição antissemita. A nova lei permitia aos prefeitos internar nos “campos especiais” o estrangeiros de “raça judia”. A administração municipal começou, então, a revisar suas estatísticas segundo o novo critério racial. Em novembro, o prefeito de Haute Garonne indica a Vichy que os 53% dos 2000 internados de seu departamento eram da “raça judia” porcentagem que se elevaria a 70 % dos 40.000 estrangeiros internados da Zona Não-Ocupada.
A política fazia a população judia sofrer um virada crucial em outubro de 1940 quando se condena os judeus estrangeiros ao internamento e a vigilância especial em vilas distantes. O centro provincial maior, logo promovido a categoria de campo, foi o de Bouches du Rhône acerca de Aix, na carvoaria de Milles, onde foram reunidos 2.000 emigrados, entre os quais se encontrariam intelectuais de renome tais como Golo Mann, Walter Benjamin, Max Ernst e Lion Feuchtwanger que estampou num livro suas memórias do internamento sob o título de 'Diabo na França'.
Na foto: Monumento à Memoria dos deportados
(Cemitério do Campo de Noé)
Os mais notórios campos do sul da França foram Gurs, Argèles, Noé, Récébédou e Riversaltes. Vichy operou Vernet, Rieucros e a prisão de Brébant em Marselha como campo de punição. Os campos se caracterizaram, sobretudo, por suas condições de vida intoleráveis. Um informe do American Friends Service Comittee de janeiro de 1942 os chamava de locais para “esquálidos, apertados e enfermos com altas probabilidades de morrer”. André Jean-Faure, inspetor dos campos de Vichy e sem dúvida um não-crítico do regime descobriu condições chocantes nos campos. As crianças e os anciãos pereciam rapidamente entre a falta de vestimenta, o tifo e a tuberculose. Serge Klarsfeld calculou em 3000 os judeus mortos neste período.
De todos os campos da Zona Não-Ocupada, o de Gurs foi talvez o mais infame. Localizado em Basses-Pyré, sudoeste da cidade de Pau, Gurs foi apressadamente construído em 1939 como centro de detenção para 15.000 refugiados espanhóis. Durante os anos da guerra a população do campo, a maioria judeus mas também espanhóis e romenos, flutuou entre 6.000 a 29.000 pessoas. Em 1940, durante uma série de dramáticos traslados, as autoridades alemães expulsaram cerca de 7.000 judeus de Palatinado para Gurs em trens selados. Muitos daqueles que os nazis expulsaram de Baden, da Saarland e da Alsácia-Lorena hegaram a Gurs em 1940 só para aguardar a deportação em 1942. Cerca da metade dos judeus expulsos nesta operação estavam por chegar aos sessenta anos de idade(o mais velho foi um de 100 anos)e, naturalmente, não puderam sobreviver sob aquelas condições. Em novembro de 1940 uma média de oito pessoas por dia morriam no campo. Em novembro de 1943 haviam morrido 1.038 pessoas e cerca de 3900 haviam sido deportadas aos campos de morte nazi.
O campo de Riversaltes, a 20 quilômetros ao norte do povoado de Perpignan nos Pirineus Orientais, alojou cerca de 9.000 pessoas, a maioria judeus, incluindo até 3.000 crianças. Riversaltes abriu em 1941 para ‘atender’ o cada vez mais crescente número de internos judeus.
Até Riversaltes, foram orientadas uma série de esforços de diversas organizações judias para aliviar as penúrias dos que ali se encontravam: o rabino René Hirschler, capelão geral para os campos, intentou manter uma quantidade módica de vida cultural e religiosa judia para os prisioneiros, a Comissão Nîmes, um grupo de ajuda combinado, trabalhou para levar diversas formas de assistência as mães e crianças internados. As condições alimentares e de vestimenta em Riversaltes eram de tal grau de indigência que em 1942 o American Friends Service Comittee computava uma morte diária com maior incidência entre as crianças.
O campo de Noé com a metade de sua população judia e a outra dividida entre alemães e espanhóis foi outro campo de detenção onde os internos sofreram iguais condições inumanas durante sua permanência.
Entre os campos mais cruéis se encontra aquele de Le Vernet no que estaria internado o grande escritor Arthur Koestler junto a uma população que chegaria aos 3000 internos. Daquela população cerca de um quarto eram membros das Brigadas Internacionais e o resto judeus. Koestler pôde finalmente evadir-se, em 1940, mas o caráter de terror do campo ficaria bem retratado em seu livro de memórias 'A escória da terra'.
Como assinalamos mais acima estes campos sofreram pouco a pouco uma importante mudança de status. No começo entre 1939 e 1940, a maior parte deles eram campos para “estrangeiros perigosos” que persistiam como um corpo estranho à democracia, sendo sua existência amplamente debatida na câmara de deputados e na imprensa, sobretudo pelos diários de esquerda L’Humanite e o Populaire que em fevereiro de 1939 denunciavam a existência de “campos de concentração”. Mas a partir de 1942 os campos do sul da França, até esse momento herança assumida bem que mal pelo Estado francês, tornaram-se instrumentos naturais da política repressiva de Vichy.
Já em janeiro de 1940, 13.000 espanhóis haviam sido deportados desde os campos do sul até o campo nazi de Mauthausen onde pereceriam em número de 5.000.
Este caminho que recorreram os campos do sul da França, caminho impensado por aqueles a que na democracia os criaram seguramente sem imaginar sua transformação posterior, confrontam-nos com a periculosidade do gesto segregacionista ou xenófobo ainda quando se queira que este seja contido dentro das margens da lei. A sutil pátina que separa a exclusão do extermínio pode ser franqueada sob certas circunstâncias, certas mas não excepcionais circunstâncias segundo nos demonstra o século que deixamos."
Pablo M. Dreizik
Os campos de internação do sul da França.
Fonte: Fundación Memoria del Holocausto
Texto original(espanhol): http://www.fmh.org.ar/revista/18/delaex.htm
Tradução: Roberto Lucena
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