Eu havia comentado em uma das três partes (creio que foi na parte 1 na caixa de comentários, onde há uma discussão) que eu faria um texto comentando os erros deste texto "A Ustasha e o silêncio do Vaticano" (parte 1, parte 2, parte 3) que foi uma tradução do capítulo 5 inteiro deste livro "Biografía no autorizada del Vaticano", de Santiago Camacho (jornalista espanhol).
Vou transcrever a observação (fica no final) que fiz no blog Holocaust Controversies na tradução da terceira e última parte deste texto, antecipando do que tratará a correção já que deixo indicações na observação de onde localizar textos mais acurados sobre a Ustasha e o genocídio na Croácia que apontam os erros deste texto traduzido do capítulo 5, já que não sei quando isso sairá.
Como se pode notar, apesar de saber que é um livro de denúncia (com tons anticlericais), e portanto, sensacionalista, a respeito do Vaticano, decidi traduzir assim mesmo pois no geral o método de extermínio empregado pela Ustasha é basicamente o que se encontra descrito no texto (apesar dos erros), e em virtude de que na época que encontrei este texto não havia muitas fontes sobre a Ustasha (principalmente em português), e mesmo em inglês não é algo abundante. E não é ironia o comentário que farei: este blog e o do Daniel são dos poucos que contém textos em português sobre a Ustasha, a tradução do texto do Dusan Batakovic pro português só se encontra aqui (a não ser que alguém copie, e caso ocorra espero que coloquem os créditos, pois a tradução tem dono).
Além de um problema de conflito sobre o assunto: vários textos sobre a Ustasha e o genocídio nos Balcãs na segunda guerra podem ser enviesados ao extremo, dependendo do lado que narra a coisa porque as feridas entre sérvios e croatas estão muito longe de cicatrizar e um lado fica apontando o dedo para o outro porque "filho feio" (genocídio, limpeza étnica) quase ninguém quer assumir. E a coisa não se resume só à segunda guerra, nos anos noventa houve um conflito pesado (maior conflito europeu pós-segunda guerra) nos Balcãs com a dissolução da Iugoslávia.
"Traduzindo" a questão: dependendo do lado que comenta, o assunto pode ser aumentando ou diminuído, pra distorcer o fato pra um dos lados (a favor ou contra), politizando e criando uma disputa em torno da memória deste genocídio. Obviamente que há gente séria que consegue se pôr acima disso, só que não é um assunto muito divulgado da segunda guerra, e não só no Brasil e 'mundo lusófono' (chega a ser ridículo o número de textos sobre Ustasha em português, textos relevantes pois porcaria há muita, em espanhol idem), em inglês a coisa também é muito fraca (restrita), o que não é algo muito comum pois praticamente todos os assuntos relativos à segunda guerra foram e são muito estudados e abordados, mas este incrivelmente é pouco citado e conhecido.
Os Balcãs é uma região de intenso conflito, rancores e ódios históricos, com religião (e fanatismo) no meio, o que potencializa ainda mais o ódio e carnificina na região (em caso de conflito aberto). O lado Croata é católico romano (usam alfabeto latino), o lado sérvio é ortodoxo (e usa alfabeto cirílico), os bósnios são de maioria muçulmana e os eslovenos são de maioria católica romana.
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Nota no Holocaust Controversies: na parte 1 deste texto, o Roberto Muehlenkamp fez um comentário interessante sobre o historiador sérvio Milán Bulajic e a estimativa de mortos do Holocausto nos Balcãs que ele fez. Você pode ler a discussão aqui (em inglês). O link sobre as distorções do Bulajic está aqui._______________________________________________________
*E pra mostrar como o assunto é delicado, o site HIC é enviesado pro lado croata onde há textos apologéticos sobre o arcebispo Stepinac que foi canonizado pelo Vaticano por João Paulo II. Fui notar isto depois procurando informações sobre o Stepinac em virtude de um comentário feito na parte 1.
Em virtude desse problema, eu reli o texto inteiro do capítulo 5 deste livro e notei que há vários erros nele. Eu já achava este livro sensacionalista (ler comentário mais acima) ao traduzir, embora no geral as atrocidades da Ustasha citadas contém a essência do método de massacre dela, portanto, mesmo com erros isto não invalida o conteúdo principal do texto, a não ser que você esteja preocupado em tomar partido de um dos lados.
Por esta razão, eu fiquei cismado de traduzir a terceira e última parte do texto (demorei muito e sem motivação (pois há textos melhores), porque procurando por mais fontes sobre o massacre nos Balcãs achei fontes mais detalhadas e sérias como os textos de outro historiador sérvio chamado Dusan Batakovic (Dušan T. Bataković) sobre o período do governo da Ustasha no Estado Independente da Croácia (sua sigla é NDH).
O texto de Dusan Batakovic (que é ou era diplomata sérvio na França e historiador) é infinitamente superior a este que foi traduzido, mas a maioria dos seus textos se encontram em francês, embora eu tenha traduzido um texto dele sobre a Ustasha há muito tempo atrás. Pra quem quiser checar este texto dele sobre a Ustasha, em português, os links se encontram no final deste texto. (Título: O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945).
Portanto, farei um post mostrando os erros deste texto "A Ustasha e o silêncio do Vaticano", citando principalmente o livro Balkan Holocausts?: Serbian and Croatian Victim Centered Propaganda and the War in Yugoslavia (de David Bruce MacDonald), que relata toda a disputa política de ambos os lados (sérvios e croatas) acerca do genocídio da segunda guerra nos Balcãs, e que assinala com detalhes as distorções do historiador M. Bulajic (que o R. Muehlenkamp mencionou no link acima), principalmente após a fragmentação da finada Iugoslávia e a guerra entre sérvios e croatas (e bósnios e eslovenos) nos anos noventa.
Destaque: texto mais detalhado sobre a Ustasha, do historiador Dusan Batakovic
O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945
[Parte 1] [Parte 02] [Parte 03]
Sugestão de leitura:
Sarajevo, 1941-1945. Muçulmanos, cristãos e judeus na Europa de Hitler
Ver também:
1. A Ustasha (no blog avidanofront.blogspot.com do Daniel)
2. Holocausto na Croácia - parte 1
3. Ustasha (tag do blog)
Um comentário:
Parabéns pelo trabalho, pela pesquisa, pelos links. O conhecimento histórico é a base para uma humanidade melhor.
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