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sábado, 1 de fevereiro de 2014

A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 4 (Observação)

In English: The Ustasha and Vatican's Silence (Part 1, Part 2, Part 3 with Observation).

Eu havia comentado em uma das três partes (creio que foi na parte 1 na caixa de comentários, onde há uma discussão) que eu faria um texto comentando os erros deste texto "A Ustasha e o silêncio do Vaticano" (parte 1, parte 2, parte 3) que foi uma tradução do capítulo 5 inteiro deste livro "Biografía no autorizada del Vaticano", de Santiago Camacho (jornalista espanhol).

Vou transcrever a observação (fica no final) que fiz no blog Holocaust Controversies na tradução da terceira e última parte deste texto, antecipando do que tratará a correção já que deixo indicações na observação de onde localizar textos mais acurados sobre a Ustasha e o genocídio na Croácia que apontam os erros deste texto traduzido do capítulo 5, já que não sei quando isso sairá.

Como se pode notar, apesar de saber que é um livro de denúncia (com tons anticlericais), e portanto, sensacionalista, a respeito do Vaticano, decidi traduzir assim mesmo pois no geral o método de extermínio empregado pela Ustasha é basicamente o que se encontra descrito no texto (apesar dos erros), e em virtude de que na época que encontrei este texto não havia muitas fontes sobre a Ustasha (principalmente em português), e mesmo em inglês não é algo abundante. E não é ironia o comentário que farei: este blog e o do Daniel são dos poucos que contém textos em português sobre a Ustasha, a tradução do texto do Dusan Batakovic pro português só se encontra aqui (a não ser que alguém copie, e caso ocorra espero que coloquem os créditos, pois a tradução tem dono).

Além de um problema de conflito sobre o assunto: vários textos sobre a Ustasha e o genocídio nos Balcãs na segunda guerra podem ser enviesados ao extremo, dependendo do lado que narra a coisa porque as feridas entre sérvios e croatas estão muito longe de cicatrizar e um lado fica apontando o dedo para o outro porque "filho feio" (genocídio, limpeza étnica) quase ninguém quer assumir. E a coisa não se resume só à segunda guerra, nos anos noventa houve um conflito pesado (maior conflito europeu pós-segunda guerra) nos Balcãs com a dissolução da Iugoslávia.

"Traduzindo" a questão: dependendo do lado que comenta, o assunto pode ser aumentando ou diminuído, pra distorcer o fato pra um dos lados (a favor ou contra), politizando e criando uma disputa em torno da memória deste genocídio. Obviamente que há gente séria que consegue se pôr acima disso, só que não é um assunto muito divulgado da segunda guerra, e não só no Brasil e 'mundo lusófono' (chega a ser ridículo o número de textos sobre Ustasha em português, textos relevantes pois porcaria há muita, em espanhol idem), em inglês a coisa também é muito fraca (restrita), o que não é algo muito comum pois praticamente todos os assuntos relativos à segunda guerra foram e são muito estudados e abordados, mas este incrivelmente é pouco citado e conhecido.

Os Balcãs é uma região de intenso conflito, rancores e ódios históricos, com religião (e fanatismo) no meio, o que potencializa ainda mais o ódio e carnificina na região (em caso de conflito aberto). O lado Croata é católico romano (usam alfabeto latino), o lado sérvio é ortodoxo (e usa alfabeto cirílico), os bósnios são de maioria muçulmana e os eslovenos são de maioria católica romana.
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Nota no Holocaust Controversies: na parte 1 deste texto, o Roberto Muehlenkamp fez um comentário interessante sobre o historiador sérvio Milán Bulajic e a estimativa de mortos do Holocausto nos Balcãs que ele fez. Você pode ler a discussão aqui (em inglês). O link sobre as distorções do Bulajic está aqui.

*E pra mostrar como o assunto é delicado, o site HIC é enviesado pro lado croata onde há textos apologéticos sobre o arcebispo Stepinac que foi canonizado pelo Vaticano por João Paulo II. Fui notar isto depois procurando informações sobre o Stepinac em virtude de um comentário feito na parte 1.

Em virtude desse problema, eu reli o texto inteiro do capítulo 5 deste livro e notei que há vários erros nele. Eu já achava este livro sensacionalista (ler comentário mais acima) ao traduzir, embora no geral as atrocidades da Ustasha citadas contém a essência do método de massacre dela, portanto, mesmo com erros isto não invalida o conteúdo principal do texto, a não ser que você esteja preocupado em tomar partido de um dos lados.

Por esta razão, eu fiquei cismado de traduzir a terceira e última parte do texto (demorei muito e sem motivação (pois há textos melhores), porque procurando por mais fontes sobre o massacre nos Balcãs achei fontes mais detalhadas e sérias como os textos de outro historiador sérvio chamado Dusan Batakovic (Dušan T. Bataković) sobre o período do governo da Ustasha no Estado Independente da Croácia (sua sigla é NDH).

O texto de Dusan Batakovic (que é ou era diplomata sérvio na França e historiador) é infinitamente superior a este que foi traduzido, mas a maioria dos seus textos se encontram em francês, embora eu tenha traduzido um texto dele sobre a Ustasha há muito tempo atrás. Pra quem quiser checar este texto dele sobre a Ustasha, em português, os links se encontram no final deste texto. (Título: O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945).

Portanto, farei um post mostrando os erros deste texto "A Ustasha e o silêncio do Vaticano", citando principalmente o livro Balkan Holocausts?: Serbian and Croatian Victim Centered Propaganda and the War in Yugoslavia (de David Bruce MacDonald), que relata toda a disputa política de ambos os lados (sérvios e croatas) acerca do genocídio da segunda guerra nos Balcãs, e que assinala com detalhes as distorções do historiador M. Bulajic (que o R. Muehlenkamp mencionou no link acima), principalmente após a fragmentação da finada Iugoslávia e a guerra entre sérvios e croatas (e bósnios e eslovenos) nos anos noventa.
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Destaque: texto mais detalhado sobre a Ustasha, do historiador Dusan Batakovic
O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945
[Parte 1] [Parte 02] [Parte 03]

Sugestão de leitura:
Sarajevo, 1941-1945. Muçulmanos, cristãos e judeus na Europa de Hitler

Ver também:
1. A Ustasha (no blog avidanofront.blogspot.com do Daniel)
2. Holocausto na Croácia - parte 1
3. Ustasha (tag do blog)

sábado, 27 de outubro de 2012

Sarajevo, 1941-1945. Muçulmanos, cristãos e judeus na Europa de Hitler

Sarajevo, 1941-1945. Muçulmanos, cristãos e judeus na Europa de Hitler

Em 15 de abril de 1941, Sarajevo caiu com a 16ª Divisão de Infantaria Motorizada da Alemanha. A cidade, como o resto da Bósnia, foi incorporada ao Estado Independente da Croácia, um dos mais brutais países entre os estados-satélites nazis governado pelo regime ultranacionalista croata Ustasha. A ocupação colocou uma extraordinária quantidade de desafios à cultura cosmopolita de Sarajevo e sua consciência cívica; esses desafios incluíam crises humanitárias e políticas e tensões sobre a identidade nacional. Como detalhado pela primeira vez no livro de Emily Greble, o complexo mosaico de confissões da cidade (Católico, Ortodoxo, Muçulmano, Judaico) e etnias (Croata, sérvio, judeu, muçulmano bósnio, Roma, e várias outras minorias nacionais) começaram a fraturar sob o violento assalto do regime Ustasha sobre os "sérvios, judeus e roma" — contestadas categorias de identidade neste espaço multiconfessional — atravessando as tradições mais básicas da cidade. Também não houve unanimidade dentro dos vários grupos étnicos e confessionais: alguns croatas católicos detestavam o regime Ustasha, enquanto outros caminharam para poder dentro dele; muçulmanos discutiam sobre a melhor forma de se posicionar no mundo do pós-guerra, e alguns lançaram sua sorte com Hitler e entraram para a malfadada divisão muçulmana da Waffen-SS.

Com o tempo, essas forças centrípetas foram envolvidas pela guerra civil na Iugoslávia, um conflito civil de vários lados onde havia luta entre partisans comunistas, Chetniks (nacionalistas sérvios), Ustashas, e uma série de outros grupos menores. A ausência de um conflito militar em Sarajevo permite que Greble explore os diferentes lados do conflito civil, lançando luz sobre os caminhos que as crises humanitárias contribuíram para aumentar as tensões civis e as formas com que os grupos marginalizados procuravam o poder político dentro do sistema político em mudança. Há muito drama nestas páginas: nos dias finais da guerra, os líderes da Ustasha, percebendo que seu jogo havia acabado, transformou a cidade num matadouro antes de fugirem do país. A chegada dos partisans comunistas em abril de 1945 marcou o início de uma nova era revolucionária, e que foi recebida com cautela pelas pessoas da cidade. Greble conta esta história complexa, com notável clareza. Ao longo do livro, ela enfatiza as medidas que os líderes da cidade tomaram para preservarem o pluralismo cultural e religioso que por muito tempo permitiu diversas populações da cidade prosperarem juntas.

Título original: Sarajevo, 1941–1945. Muslims, Christians, and Jews in Hitler's Europe
Autora: Emily Greble

Fonte: Cornell University Press
http://www.cornellpress.cornell.edu/book/?GCOI=80140100324500
Tradução: Roberto Lucena

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