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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Franjo Tudjman, o ex-presidente croata antissemita e negador do Holocausto e Jasenovac

Tradução do texto "Holocaust Deniers at the U.S. State Department" (Negadores do Holocausto e o Departamento de Estado dos Estados Unidos) sobre as afirmações racistas e negacionistas de Franjo Tudjman, ex-presidente croata, negacionista do Holocausto, racista e antissemita.

Por Srdja Trifkovic
Terça-feira, 23 de março de 2010

O relatório de direitos humanos do Departamento de Estado dos EUA sobre a Croácia, lançado em 11 de março, afirma com certa naturalidade que Jasenovac foi "o local do maior campo de concentração da Croácia durante a Segunda Guerra Mundial, onde milhares de sérvios, judeus e ciganos foram assassinados" [grifo feito; uma cena diária de Jasenovac, acima] Esta afirmação notável é o equivalente moral e factual exato de se afirmar que "dezenas de milhares" de judeus e outros povos foram mortos em Auschwitz ou Treblinka ..

O número de vítimas de Jasenovac ainda é incerto. A estimativa mais baixa sem qualquer pretensão de seriedade metodológica - de dezenas de milhares de vítimas - foi feita pelo falecido presidente croata Franjo Tudjman, famoso por ter dito "Graças a Deus, minha esposa não é nem sérvia e nem judia." A "estimativa" de Tudjman em Jasenovac encaixa-se com suas outras avaliações:
"Em seu livro: Wastelands verdades históricas, publicado em 1988, o Sr. Tudjman escreveu que o número de judeus que morreram no Holocausto foi de 900.000 - não seis milhões. Ele afirmou também que não mais que 70 mil sérvios morreram nas mãos da Ustasha - a mairoria dos historiadores dizem que cerca de 400 mil foram assassinados"(The New York Times, 20 de agosto, 1995)
Outras fontes fornecem estimativas dezenas de vezes maior que as de Dr. Tudjman, e centenas de vezes maior do que o apresentado como fato pelo Departamento de Estado dos EUA:
"Jasenovac" - entrada feita por Menachem Shelach na Enciclopédia do Holocausto, Yad Vashem, 1990, págs. 739-740: "Cerca de seiscentas mil pessoas foram assassinadas em Jasenovac, na maioria sérvios, judeus, ciganos e opositores do regime Ustasha."

Segundo o site "The Holocaust Education & Archive Research Team"**: "estima-se que perto de 600 mil pessoas ... principalmente sérvios, judeus, ciganos, foram assassinados em Jasenovac."
Se já basta de fontes judaicas, vamos olhar para o que os aliados alemães contemporâneos do regime Ustasha tinha a dizer sobre o assunto (todas as citações são de "The Crônica de Krajina: Uma História dos sérvios na Croácia, Eslavônia e Dalmácia" ("THE KRAJINA CHRONICLE: A History of Serbs in Croatia, Slavonia and Dalmatia"). Segundo Hermann Neubacher, especialista político mais importante de Hitler para os Balcãs, em seu livro Sonderauftrag Südost 1940-1945. Bericht eines Fliegenden Diplomaten (Goettingen:. Muster-Schmidt-Verlag, 1957, pág. 18)
"A receita para o problema dos sérvios ortodoxos pelo líder e Führer da Croácia, Ante Pavelic, foi lembrar das guerras religiosas de memória mais sangrenta: um terço deve ser convertido ao catolicismo, outro terço deve ser expulso e o terço final deve ser liquidado. A última parte do programa foi conduzida." [ou seja, um terço de cerca de 1,9 milhões foi chacinado]
Num relatório para Himmler, o general da SS Ernst Frick estimou que "entre 600 e 700 mil vítimas foram massacradas à moda dos Balcãs". O General Lothar Rendulic, comandando forças alemãs nos Balcãs Ocidentais em 1943-1944, estimou o número de vítimas da Ustasha em cerca de 500.000. Em suas memórias Gekaempft, gesiegt, geschlagen (Welsermühl Verlag, Wels und Heidelberg, 1952, pág.161), ele recordou a memorável discussão csobre essa questão com um dignitário croata:
"Quando eu me opus a um alto funcionário que estava perto de Pavelic, apesar do ódio acumulado, não consegui compreender o assassinato de meio milhão ortodoxos, a resposta que recebi foi característica da mentalidade que prevalecia lá: Meio milhão, isso é muito - não havia lá mais que 200 mil!"
O Departamento de Estado dos EUA pode ter em sua posse novas e incontroversas provas que os pesquisadores do Yad Vashem tenham exagerado no número de vítimas em Jasenovac em uma centena ou mais, de que testemunhas alemães estavam erradas, que até mesmo o negador do Holocausto, o Presidente Tudjman, esteja errado, e que o número de vítimas seja certamente de alguns "milhares" em vez de dezenas ou centenas de milhares.

Se isso existe, o Departamento de Estado deveria tornar tal prova pública. Em caso contrário (de não existir), ele deveria fazer uma correção detalhada e um pedido de desculpas.

Fonte: The Lord Byron Foundation for Balkans Studies (site)
http://www.balkanstudies.org/blog/holocaust-deniers-us-state-department
Título original: Holocaust Deniers at the U.S. State Department
Tradução: Roberto Lucena
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Para ler sobre os números do Holocausto na Croácia, conferir o seguinte post (e clicar em seus links): A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 4 (Observação)

Todos os posts sobre a Ustasha nesta tag.

**Sobre o site "The Holocaust Education & Archive Research Team", favor conferir os posts do Holocaust Controversies sobre os problema deste site e da má conduta de seus atuais donos. Não foi possível cortar o trecho que cita o site do texto acima, senão eu teria cortado.

Como não sei se o R. Muehlenkamp gostaria de comentar o caso pois como é algo restrito a discussões em inglês (os que mantém o site são um britânico e um norte-americano), sendo que os donos são dois paspalhos usando vários trolls/fakes para atacar o pessoal do Holocaust Controversies com cyberbullying e stalking, acho que o link dos posts do HC comentando o caso sobre a má ação do site e dos mantenedores já é suficiente. Caso alguém tenha dificuldade em ler em inglês basta pôr o link no tradutor do Google que traduz boa parte pro português sem distorções idiomáticas.

Pra quem acha que os "revis" são o ápice do que há de pior na web, eis aí um exemplo do que gente supostamente "anti-"revi"" pode fazer por conta também de extremismo político, divergência de opinião e mau comportamento.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 4 (Observação)

In English: The Ustasha and Vatican's Silence (Part 1, Part 2, Part 3 with Observation).

Eu havia comentado em uma das três partes (creio que foi na parte 1 na caixa de comentários, onde há uma discussão) que eu faria um texto comentando os erros deste texto "A Ustasha e o silêncio do Vaticano" (parte 1, parte 2, parte 3) que foi uma tradução do capítulo 5 inteiro deste livro "Biografía no autorizada del Vaticano", de Santiago Camacho (jornalista espanhol).

Vou transcrever a observação (fica no final) que fiz no blog Holocaust Controversies na tradução da terceira e última parte deste texto, antecipando do que tratará a correção já que deixo indicações na observação de onde localizar textos mais acurados sobre a Ustasha e o genocídio na Croácia que apontam os erros deste texto traduzido do capítulo 5, já que não sei quando isso sairá.

Como se pode notar, apesar de saber que é um livro de denúncia (com tons anticlericais), e portanto, sensacionalista, a respeito do Vaticano, decidi traduzir assim mesmo pois no geral o método de extermínio empregado pela Ustasha é basicamente o que se encontra descrito no texto (apesar dos erros), e em virtude de que na época que encontrei este texto não havia muitas fontes sobre a Ustasha (principalmente em português), e mesmo em inglês não é algo abundante. E não é ironia o comentário que farei: este blog e o do Daniel são dos poucos que contém textos em português sobre a Ustasha, a tradução do texto do Dusan Batakovic pro português só se encontra aqui (a não ser que alguém copie, e caso ocorra espero que coloquem os créditos, pois a tradução tem dono).

Além de um problema de conflito sobre o assunto: vários textos sobre a Ustasha e o genocídio nos Balcãs na segunda guerra podem ser enviesados ao extremo, dependendo do lado que narra a coisa porque as feridas entre sérvios e croatas estão muito longe de cicatrizar e um lado fica apontando o dedo para o outro porque "filho feio" (genocídio, limpeza étnica) quase ninguém quer assumir. E a coisa não se resume só à segunda guerra, nos anos noventa houve um conflito pesado (maior conflito europeu pós-segunda guerra) nos Balcãs com a dissolução da Iugoslávia.

"Traduzindo" a questão: dependendo do lado que comenta, o assunto pode ser aumentando ou diminuído, pra distorcer o fato pra um dos lados (a favor ou contra), politizando e criando uma disputa em torno da memória deste genocídio. Obviamente que há gente séria que consegue se pôr acima disso, só que não é um assunto muito divulgado da segunda guerra, e não só no Brasil e 'mundo lusófono' (chega a ser ridículo o número de textos sobre Ustasha em português, textos relevantes pois porcaria há muita, em espanhol idem), em inglês a coisa também é muito fraca (restrita), o que não é algo muito comum pois praticamente todos os assuntos relativos à segunda guerra foram e são muito estudados e abordados, mas este incrivelmente é pouco citado e conhecido.

Os Balcãs é uma região de intenso conflito, rancores e ódios históricos, com religião (e fanatismo) no meio, o que potencializa ainda mais o ódio e carnificina na região (em caso de conflito aberto). O lado Croata é católico romano (usam alfabeto latino), o lado sérvio é ortodoxo (e usa alfabeto cirílico), os bósnios são de maioria muçulmana e os eslovenos são de maioria católica romana.
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Nota no Holocaust Controversies: na parte 1 deste texto, o Roberto Muehlenkamp fez um comentário interessante sobre o historiador sérvio Milán Bulajic e a estimativa de mortos do Holocausto nos Balcãs que ele fez. Você pode ler a discussão aqui (em inglês). O link sobre as distorções do Bulajic está aqui.

*E pra mostrar como o assunto é delicado, o site HIC é enviesado pro lado croata onde há textos apologéticos sobre o arcebispo Stepinac que foi canonizado pelo Vaticano por João Paulo II. Fui notar isto depois procurando informações sobre o Stepinac em virtude de um comentário feito na parte 1.

Em virtude desse problema, eu reli o texto inteiro do capítulo 5 deste livro e notei que há vários erros nele. Eu já achava este livro sensacionalista (ler comentário mais acima) ao traduzir, embora no geral as atrocidades da Ustasha citadas contém a essência do método de massacre dela, portanto, mesmo com erros isto não invalida o conteúdo principal do texto, a não ser que você esteja preocupado em tomar partido de um dos lados.

Por esta razão, eu fiquei cismado de traduzir a terceira e última parte do texto (demorei muito e sem motivação (pois há textos melhores), porque procurando por mais fontes sobre o massacre nos Balcãs achei fontes mais detalhadas e sérias como os textos de outro historiador sérvio chamado Dusan Batakovic (Dušan T. Bataković) sobre o período do governo da Ustasha no Estado Independente da Croácia (sua sigla é NDH).

O texto de Dusan Batakovic (que é ou era diplomata sérvio na França e historiador) é infinitamente superior a este que foi traduzido, mas a maioria dos seus textos se encontram em francês, embora eu tenha traduzido um texto dele sobre a Ustasha há muito tempo atrás. Pra quem quiser checar este texto dele sobre a Ustasha, em português, os links se encontram no final deste texto. (Título: O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945).

Portanto, farei um post mostrando os erros deste texto "A Ustasha e o silêncio do Vaticano", citando principalmente o livro Balkan Holocausts?: Serbian and Croatian Victim Centered Propaganda and the War in Yugoslavia (de David Bruce MacDonald), que relata toda a disputa política de ambos os lados (sérvios e croatas) acerca do genocídio da segunda guerra nos Balcãs, e que assinala com detalhes as distorções do historiador M. Bulajic (que o R. Muehlenkamp mencionou no link acima), principalmente após a fragmentação da finada Iugoslávia e a guerra entre sérvios e croatas (e bósnios e eslovenos) nos anos noventa.
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Destaque: texto mais detalhado sobre a Ustasha, do historiador Dusan Batakovic
O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945
[Parte 1] [Parte 02] [Parte 03]

Sugestão de leitura:
Sarajevo, 1941-1945. Muçulmanos, cristãos e judeus na Europa de Hitler

Ver também:
1. A Ustasha (no blog avidanofront.blogspot.com do Daniel)
2. Holocausto na Croácia - parte 1
3. Ustasha (tag do blog)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Relatório militar sérvio sobre fuzilamento de judeus e ciganos

NOKW-905, Comandante da 9ª companhia, 433º Regimento de Infantaria, à 704ª Divisão de Infantaria, relatório sobre o fuzilamento de judeus e ciganos em 01/11/41, reproduzido aqui:
As esposas dos judeus que estavam reunidos em frente do campo. Elas estavam chorando e gritando quando as conduzimos para fora...

[...]

O fuzilamento de judeus é mais fácil do que o dos ciganos. É preciso admitir que os judeus são muito composto como encaram a morte - eles ficam muito calmos - enquanto os ciganos choram, gritam e constantemente se movem quando chegam ao local de execução. Alguns deles até saltou para as valas antes dos tiros serem disparados e fingiu estar morto.

No início, meus soldados não ficaram impressionados. No segundo dia, no entanto, ficou claro que um ou outro não tinham nervos para realizar as execuções por um longo período de tempo. É minha impressão pessoal que alguém não tem nenhum escrúpulo mental enquanto está atirando. Eles aparecem dias depois, enquanto a pessoa reflete sobre isso calmamente à noite.
Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2012/01/serbian-military-report-on-shooting-of.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 2

In English: The Ustasha and Vatican's Silence - Part 2
Ler antes o texto observação, sobre os erros desta série:
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 4 (Observação)

Os crimes dos ustashi croatas (NDH)

OS FRADES ASSASSINOS

Genocídio: soldados ustashi posam
ao lado de cinco sérvios mortos.
O mais escandaloso de todo este sórdido assunto é que não poucos sacerdotes e, sobretudo, freis franciscanos, estiveram no comando destes campos da morte.

Com poucas exceções aqui e ali, o fenômeno aqui descrito era característico dos massacres ustashi. A diferença dos extermínios em outros países durante a Segunda Guerra Mundial, é de que era quase impossível imaginar uma expedição punitiva ustashi sem a presença de um sacerdote no comando, tratando-se geralmente de um franciscano.17

17. Ibid.

O mais conhecido deles foi o frei franciscano Miroslav Filipovic, que dirigiu o campo de Jasenovac, onde se deu uma morte atroz a milhares de pessoas. Outro franciscano daquele campo, Pero Brzica, ostenta um recorde ainda mais macabro se é que é possível.

Ante à chegada de novos prisioneiros, ficou evidente a necessidade de assassinar aos já existentes para dar lugar aos recém chegados. O pessoal do campo se mostrou entusiasmado ante esta perspectiva:

O franciscano Pero Brzica, Ante Zrinusic, Sipka e eu apostamos para ver quem mataria mais prisioneiros em uma só noite. A matança começou e depois de uma hora eu matei muitos mais que eles. Sentia-me no sétimo céu. Nunca havia sentido tal éxtasis em minha vida. Depois de um par de horas havia conseguido matar a 1.100 pessoas, enquanto os outros só puderam assassinar entre 300 e 400 cada um. E depois, quando estava experimentando meu mais grandioso prazer, notei um velho campesino parado me olhando com tranquilidade enquanto matava minhas vítimas e elas morriam com o maior sofrimento.

Essa olhada me impactou; de imediato me congelei e por um tempo não pude me mover. Depois me aproximei dele e descobri que ele era do povoado de Klepci, próximo de Capijina, e que sua família havia sido assassinada, sendo enviado a Jasenovac depois de javer trabalhado no bosque. Falava-me com uma incompriensível incomprensible paz que me afetava mais que os desgarradores gritos que se sucediam ao meu redor. De imediato senti a necessidade de destruir sua paz mediante a tortura e assim, mediante seu sofrimento, poder restaurar meu estado de êxtase éxtasis para poder continuar com o prazer de infligir dor.

Apontei-lhe e lhe fiz sentar comigo num tronco. Ordenei-lhe a gritar: «Viva Poglavnik Pavelic!», ou te corto uma orelha. Vukasin não falou. Arrenquei-lhe uma orelha. Não disse uma uma palavra. Disse a ele outra vez que gritasse: «Viva Pavelic!» ou te arranco a outra orelha. Então a arranquei. Grite: «Viva Pavelic!», ou te corto o nariz, e quando lhe ordenei pela quarta vez gritar «Viva Pavelic!» e lhe ameacei arrancar o coração com meu cuchillo, olhou-me e em sua dor e agonia me disse:

«Faça seu trabalho, criatura!». Essas palavras me confundiram, congelou-me, e lhe arranquei os olhos, logo o coração, cortei-lhe a garganta de orelha a orelha e a joguei no poço. Mas algo se rompeu dentro de mim e não pude matar mais durante toda essa noite.

O franciscano Pero Brzica me ganhou a aposta, havia matado a 1.350 prisioneiros. Eu paguei sem dizer uma palavra.18
18. Bulajic, Milán, The Role of the Vanean in the Break-Up of the Yugoslav State: The Mission of the Vatican in the Independent State of Croatia: Ustashi Crímes of Genocide (Documents, facts), op. cit.

Por esta façanha o franciscano recebeu o título de «rei dos cortadores de gargantas» e um relógio de outro, possivelmente roubado de um prisioneiro antes de executá-lo.

CONVERTER-SE OU MORRER

A barbárie, longe de decrescer, aumentou e chegou a um ponto em que nem sequer a formalidade dos campos de extermínio foi considerada necessária. Povoados inteiros foram assaltados e seus habitantes passados a faca, quando não assassinados com martelos e machados, enforcados ou inclusive crucificados. Os sérvios sofreram as torturas mais atrozes que se enchiam com especial sanha os sacerdotes ortodoxos, muitos dos quais foram queimados, esfolados ou esquartejados vivos:

As execuções em massa eram comuns, as vítimas, degoladas e às vezes despedaçadas. Em muitas ocasiões era comum ver pedaços de carne penduradas em matadouros com um cartaz que dizia «carne humana». Os crimes dos alemães em campos de extermínio pareciam pequenos comparados com as atrocidades cometidas pelos católicos. Os ustashi adoravam os jogos de tortura que se convertiam em orgias noturnas, e que incluíam cravar pregos ao vermelho vivo debaixo das unhas, pôr sal nas feridas abertas, cortar todas as partes humanas concebíveis e competir pelo título de quem era o melhor degolador de suas vítimas. Queimaram igrejas ortodoxas cheias de gente, empalaram crianças en Vlasenika e Kladany, cortaram narizes, orelhas e arrancaram olhos. Os italianos fotografariam a um ustashi que tinha duas correntes de línguas e olhos ao redor do pescoço.19

Todas as propiedades da Igreja ortodoxa foram saqueadas e confiscadas. A maior parte desta pilhagem foi transferida para a Igreja católica croata, que seguia encatada com o regime. O arcebispo de Sarajevo, Saric, chegou ao extremo de publicar uma poesia enaltecendo o líder dos ustashi:

Contra os avarentos judeus com todo seu dinheiro, os que queriam vender nossas almas, atraiçoar nossos nomes, esses miseráveis.

Você é a rocha onde se edifica a pátria e a liberdade. Proteja nossas vidas do inferno, marxista e bolchevique.

Outra pilhagem, neste caso espiritual e econômica ao mesmo tempo, que recebeu a Igreja Católica foi a conversão forçada de milhares de sérvios, que, a ponta de faca, foram obrigados a renegar sua religião. Estas conversões em massa foram classificadas de grande triunfo para o catolicismo por parte da hierarquia eclesiástica.20 Por que esta pilhagem de almas era também econômica? Porque para adicionava iniquidade à infâmia, estas conversões se realizavam sob prévio pagamento de 180 dinares à Igreja por parte do converso.

19. Deschner, Kariheinz, Mit Gott una den Faschisten, Günther Verlag, Stuttgart, 1965.

20. Djilas, Aleksa, The Contested Country: Yugoslav Unity and Communist Revolution, 1919-1953, Harvard University Press, Cambridge, 1991.

Além disso, aqueles que sabiam escreve deviam enviar uma carta de agradecimento ao arcebispo Stepinac, que informava pontualmente ao Papa da boa marcha das conversões. Em qualquer caso, os únicos que tinham a opção de salvar a vida mediante conversão eram os campesinos pobres e incultos das zonas rurais. Todo sérvio educado, com capacidade de conversar ou transmitir algo parecido a uma identidade nacional sérvia era assassinado sem possibilidade de salvação.

VISITANTE APOSTÓLICO

Em 14 de maio de 1941, os sérvios da localidade de Glina foram concentrados num salão de atos por um bando ustashi comandados pelo abade do monastério de Gunic. Na continuação, ordenou-se que mostrassem seus certificados de conversão. Só dois deles dispunham do documento. O resto foi degolados enquanto o abade rezava por suas almas.

Entre a venda de certificados de conversão e o saqueio dos tesouros guardados nas igrejas ortodoxas, não resulta em exagero dizer que se houve alguém que obteve benefício econômico do genocídio cometido pelos coatras foi, precisamente, a Igreja Católica. Em contrapartida, durante toda a guerra, a Igreja católica apoiou oficialmente o regime, apesar de seus desmandos e loucuras serem públicos e notórios.

O Vaticano não podia alegar desconhecimento destes graves acontecimentos. Em 17 de março de 1942, o Congresso judaico mundial enviou à Santa Sé uma nota de auxílio, uma cópia da qual ainda se conserva em Jerusalém.

Várias milhares de famílias foram deportadas para ilhas desertas na Costa Dálmata ou internadas em campos de concentração [...]. Todos os homens judeus foram enviados a campos de trabalho onde lhes foram dados trabalhos de drenagem ou saneamento durante os quais pereceram em grande número [...]. Ao mesmo tempo, suas esposas e filhos foram transladados a outros campos onde igualmente tiveram que afrontar graves privações.

Monsenhor Giuseppe Ramiro Marcone, um beneditino da congregação de Monte Vergine e membro da academia romena de São Tomás de Aquino, era o representante pessoal do Papa no episcopado da Croácia, e mantinha o Santo Padre a par de tudo que ali sucedia. Os defensores do Vaticano alegam que Marcone era um simples «visitante apostólico». Contudo, para o Ministério de Assuntos Exteriores em Zagreb, o padre Marcene tinha status de «delegado da Santa Sé», e nas cerimônias oficiais lhe colocava a frente, inclusive, dos representantes do Eixo, sendo considerado decano do corpo diplomático. Além disso, Marcone, em sua correspondência com o governo ustashi, qualificava-se a si mesmo como Sancti seáis legatus ou Elegatus, mas nunca como «visitante apostólico».

Os meios de comunicação também faziam eco desta situação. Em 16 de fevereiro de 1942, a BBC emitia o seguinte informe sobre a Croácia:

As piores atrocidades estão sendo cometidas ao redor do arcebispo de Zagreb. O sangue de irmãos corre em rios. Os ortodoxos estão sendo obrigados a força a se converterem ao catolicismo e não escutamos a voz do arcebispo se pronunciando à rebelião. Em lugar disso, informa-se de que está tomando parte em desfiles nazis e fascistas.

Nem sequer quando a imprensa internacional começou a informar amplamente sobre as barbaridades cometidas por clérigos católicos, o Papa fez algo para deter os sanguinários franciscanos. A própria imprensa católica croata refletiu em suas páginas a perseguição, tratando-a como se fosse a coisa mais normal do mundo. Em 25 de maio de 1941, em Katolicki List, o sacerdote Franjo Kralik publicou uma reportagem entitulada «Por que os judeus estão sendo perseguidos», no que justificava o genocídio da seguinte forma:

Os descendentes daqueles que odiaram a Jesus, que o condenaram a morte, que o crucificaram e imediatamente perseguiram a seus discípulos, são culpados de excessos maiores que os seus antepassados. A cobiça cresce. Os judeus que conduziram a Europa e ao mundo inteiro ao desastre — moral, cultural e econômico — desenvolveram um apetite que somente o mundo em sua totalidade pode satisfazer. Satanás lhes ajudou a inventar o socialismo e o comunismo. O amor tem seus limites. O movimento para libertar o mundo dos judeus é um movimento para o renascimento da dignidade humana. O Todopoderoso e Sábio Deus está por trás deste movimento.
O FIM DE STEPINAC

Quando se viu com claridade que o curso da guerra ia a ser contrário ao Eixo, Stepinac realizou alguns atos de «repentino humanitarismo», atos nos quais se basearam os revisionistas croatas para pedir ao Yad Vashem israelense, a Autoridade Nacional para a Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto, a inclusão de Stepinac em sua «Lista dos Justos». A petição foi negada em duas ocasiões. Um representante da instituição declarou em respeito a isto que «pessoas que, ocasionalmente, ajudaram a um judeu e colaboraram simultaneamente com um regime fascista que foi parte do plano de extermínio nazi contra os judeus ficam desqualificadas para o título de "Justo"».

Os contatos dos ustashi com o Vaticano não terminaram com o final da Segunda Guerra Mundial. Em 25 de junho de 1945, tão só sete semanas depois de concluído o conflito, os ustashi contataram com uma missão papal em Saizburgo, na zona da Áustria que estava sob a administração estadunidense. Pediam ao Papa sua ajuda para a criação de um Estado croata, ou, ao menos, uma união danúbio-adriática na qual os croatas pudessem se estabelecer.21 A própia Igreja escondeu e ajudou Ante Pavelic a fugir — burlando as autoridades aliadas —, que conseguiu escapar para a Argentina.22 Em seu leito de morte, e sob a proteção de Franco, recebeu a bênção pessoal do Papa João XXIII. João Paulo II recusou visitar em reiteradas ocasiões os campos de concentração de Jasenovac em suas visitas à Croácia, preferindo receber o ex-líder croata e negador do Holocausto Franjo Tudjman.

Finalmente, um dos fatores que mais chama a atenção desta história é que, ao terminar a guerra, o Vaticano não fez nada para socorrer Stepinac, circunstância que conhecemos por uma carta do marechal Tito fechada em Zagreb em 31 de outubro de 1946:

Quando o representante do Papa ante nosso governo, o bispo Hurley, fez-me sua primeira visita, expus-lhe a a questão de Stepinac. «Levêm-no da Iugoslávia», disse-lhe, «porque de outra forma nos obrigarão a pô-lo na prisão». Adverti o bispo Hurley das ações que teríamos que seguir. Discuti o assunto detalhadamente com ele. Fiz-lhe saber dos muitos atos hostis de Stepinac contra nosso país. Dei-lhe um arquivo com toda classe de provas documentais dos crimes do arcebispo.
21. Aarons, Mark e Loftus, John, Unholy Trinity: The Vatican, the Nazis and the Swiss Banks, St. Martin's Griffin, Nova York, 1998.

22. Ibid.

Esperamos quatro meses sem que ocorresse nenhuma resposta, até que as autoridades prenderam Stepinac e o levaram a julgamento, de maneira semelhante a qualquer outro indivíduo que atue contra o povo.

O arcebispo ficou bastante parado, apesar da sordidez de suas andanças durante a guerra. Foi julgado e condenado a dezesseis anos de prisão num julgamento que contou com os testemunhos de dezenas de testemunhas que contaram toda classe de abusos cometidos por clérigos católicos sob o reino do terror ustashi. Sua única defesa durante no julgamento foi dizer: «Tenho a consciência tranquila». Só nesse momento Pio XII atuou, apressando-se em excomungar os participantes no julgamento, e conseguindo finalmente sua libertação um anos depois. Stepinac foi elevado à categoría de beato por João Paulo II em outubro de 1998.

Fonte(livro): Biografía no autorizada del Vaticano; capítulo 5
Autor(livro): Santiago Camacho
Tradução(do original em espanhol): Roberto Lucena

As outras partes:
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 1
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 3
Sobre os erros do texto, observação:
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 4 (Observação)

Destaque: texto mais detalhado sobre a Ustasha, do historiador Dusan Batakovic
O genocídio do Estado Independente Croata 1941-1945
[Parte 1] [Parte 02] [Parte 03]

Ver também:
1. A Ustasha (no blog avidanofront.blogspot.com do Daniel)
2. Holocausto na Croácia - parte 1

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 1

In English: The Ustasha and Vatican's Silence - Part 1
Ler antes o texto observação, sobre os erros desta série:
A Ustasha e o silêncio do Vaticano - parte 4 (Observação)

Os crimes dos ustashi croatas (NDH)

O OUTRO HOLOCAUSTO
O VATICANO E O GENOCÍDIO NA CROÁCIA


Pavelic e o arcebispo católico
de Zagreb A. Stepinac.

A maior parte das pessoas ignora que durante a Segunda Guerra Mundial se produziu outro genocídio, cuja brutalidade superou com acréscimo o visto em campos de concentração nazis. O assassinato de meio milhão de sérvios na Croácia já passou por direito próprio aos anais dos mais infames crimes contra a humanidade. O papel da Igreja Católica nesta tragédia não foi em absoluto menor.

Quando Adolf Hitler atacou a Iugoslávia em 6 de abril de 1941, ficou imediatamente evidente que a Wehrmacht contava com o apoio de grupos traidores dentro do Estado iugoslavo. O exército do país estava entre a espada e a parede, superado pela imensa maquinária de guerra alemã e apunhalado pelas costas por terroristas pró-nazis membros do Partido Ustasha, uma perigosa organização croata de extrema-direita. Inclusive os comandos de algumas unidades de maioria croata estiveram em conversações com os nazis, abrindo-lhes praticamente as portas do país. [01]

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