terça-feira, 29 de março de 2011

Projeto resgata obras de compositores perseguidos pelo nazismo

Kletzki: judeu, parou
de compor após o nazismo
Pesquisadores de uma universidade do Texas buscam registros e obras de músicos que foram forçados a interromper a carreira após a chegada dos nazistas ao poder.

O músico Timothy Jackson, professor da Universidade do Norte do Texas, em Denton, nos Estados Unidos, vem trabalhando num projeto importante para a música: resgatar os trabalhos de dez compositores que ficaram "perdidos" na história. Sobretudo por conta da ascensão do nazismo na Alemanha.

Um desses compositores é Paul Kletzki. Nascido em 1900 na cidade polonesa de Lodz, Kletzki logo se tornou uma das estrelas do cenário musical alemão. Respeitado por compositores e maestros, alcançou particular sucesso em Weimar, com suas sinfonias e concertos ao piano.

Só que Kletzki era judeu, e os compositores judeus eram proscritos pelos nazistas, não interessando a que tipo de música se dedicassem. "Quando Paul Kletzki estava começando a estourar, Hitler chegou ao poder (em 1933) e o compositor percebeu que seu futuro estava arruinado", conta Jackson.

Primeiramente, Kletzki fugiu para a Itália. Em seguida foi para a Rússia e logo depois para a Suíça. Traumatizado com as atrocidades dos nazistas – ele perdeu os pais e a irmã na perseguição – Kletzki parou de compor em 1942 e enterrou os papéis com suas músicas dentro de uma caixa.

Arte desenterrada

A caixa foi descoberta em 1964, mas o compositor não pôde ir ao local abri-la. Apenas após a sua morte, em 1973, a viúva, Yvonne, viu que todas as composições permaneciam intactas. Ela repassou todo o trabalho do marido para Timothy Jackson e desde então várias das composições de Kletzki foram gravadas em CD. A última gravação, um concerto de piano, chegou a ser indicado ao Grammy deste ano.

De acordo com o curador musical do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, Bret Werb, vários compositores perseguidos pelo regime nazista vêm sendo redescobertos e seus trabalhos resgatados após vários anos, em pesquisas realizadas em diversos lugares do mundo. Werb ressalta que a Internet tem facilitado e intensificado o intercâmbio de informações. Com isso, se sabe cada vez mais sobre esse período perdido.

"Não fosse isso, grande parte da música produzida naquele tempo ficaria perdida", diz Werb. "É nosso dever dar uma segunda chance àqueles que foram injustiçados no passado".

Mesmo doente, Oppel foi
chamado pelos nazistas
Músico na guerra

Outro nome importante revelado pelas pesquisas foi o do músico Reinhard Oppel. Jackson chegou a ele quando estava pesquisando sobre músicos contemporâneos do famoso teórico de música Heinrich Schenker, de Viena, logo no começou de seu projeto, no início dos anos 1990. Oppel e Schenker haviam sido professores na Universidade de Kiel.

O pastor Kurt Oppel, de 80 anos de idade e residente em Heidelberg, era filho de Reinhard Oppel. Ele lembra que seu pai era um homem incomum e interessante, que conseguia ser "dócil e colérico ao mesmo tempo". Ele era, sobretudo, um músico. Ele aprendeu a tocar órgão aos seis anos de idade, antes mesmo de entrar para a escola, e trombone, aos 60.

Reinhard Oppel nunca fizera segredo da sua má vontade em relação aos nazistas. Aos 62 anos de idade, já enfrentando graves problemas cardíacos, foi chamado para uma inspeção militar. Ele morreu em 1941.

Após a guerra, seu filho Kurt foi para a Alemanha Ocidental, deixando as obras parcialmente enterradas ou em caixas de margarina numa casinha de jardim de amigos da família.

Compositores perdidos

O pesquisador Jackson também busca também detalhes da história de sua própria família. Sua mãe foi uma artista e cresceu sob a sombra do Holocausto. Por meio de suas buscas, ele espera descobrir mais "compositores perdidos". O professor afirma que grande parte de suas descobertas acabam vindo à tona por "acaso", dependendo de quanto os familiares pretendem resgatar de seus ancestrais.

"Nós esperamos que suas músicas não sejam relacionadas a arte proibida ou de compositores exilados, ou mesmo consideradas músicas do Holocausto. Mas que as obras sejam vistas, simplesmente, como música", defende Werb.

Autora: Christina Bergmann (msa)
Revisão: Roselaine Wandscheer

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,14941773,00.html

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