Hitler vs. Estaline: Quem foi pior?
Timothy Snyder
Enquanto lembramos a libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho em 27 de Janeiro de 1945, poderemos questionar-nos: quem foi pior, Hitler ou Estaline?
Na segunda metade do século vinte, os americanos foram ensinados a ver ambas a Alemanha nazi e a União Soviética como o cúmulo da maldade. Hitler foi pior, porque o seu regime propagou o horror sem precedentes do Holocausto, a tentativa de erradicar um povo inteiro por motivos raciais. Mas Estaline também foi pior, porque o seu regime matou muitas, muitas mais pessoas – dezenas de milhões, foi o que frequentemente se afirmou – na desolação infinita do Gulag. Durante décadas, e mesmo hoje em dia, a confiança na diferença entre os dois regimes — qualidade versus quantidade— determinou as regras fundamentais para as políticas da memória. Mesmo historiadores do Holocausto consideram um dado adquirido que Estaline matou mais pessoas do que Hitler, assim colocando-se a si próprios sob maior pressão para enfatizar o caráter especial do Holocausto, já que foi isso o que fez o regime nazi pior do que o estalinista.
A discussão de números pode abafar a nossa sensação do horrível caráter pessoal de cada homicídio e a irredutível tragédia de cada morte. Como qualquer um que perdeu uma pessoa querida sabe, a diferença entre zero e um é uma infinidade. Embora tenhamos mais problemas em entender isto, o mesmo de aplica à diferença entre, digamos, 780.862 e 780.863 — que por acaso é a melhor estimativa do número de pessoas assassinado em Treblinka. Grandes números têm importância porque são uma acumulação de números pequenos, isto é, de preciosas vidas individuais. Hoje, depois de duas décadas de acesso aos arquivos da Europa de Leste, e graças ao trabalho de estudiosos alemães, russos, israelitas e outros, podemos resolver a questão dos números. O número total de não-combatentes mortos pelos alemães — cerca de 11 milhões— é mais ou menos o que pensávamos que era. O número total de civis mortos pelos soviéticos, contudo, é consideravelmente menor do que tínhamos acreditado. Sabemos agora que os alemães mataram mais pessoas do que os soviéticos. Isto dito, a questão da qualidade é mais complexa do antes se pensava. O assassínio em massa na União Soviética envolveu motivos, especialmente de natureza nacional e étnica, que podem ser perturbadoramente próximos dos motivos nazis.
Resulta que, exceto durante os anos da guerra, uma grande maioria das pessoas que entraram no Gulag saíram com vida. A julgar pelos registos soviéticos que agora temos, o número de pessoas que morreram no Gulag entre 1933 e 1945, enquanto Estaline e Hitler estavam ambos no poder, foi na ordem de um milhão, talvez um pouco mais. O número total para todo o período estalinista é provavelmente entre dois e três milhões. O Grande Terror e outras ações de fuzilamento não mataram mais do que um milhão de pessoas, provavelmente um pouco menos. A maior catástrofe humana do estalinismo foi a fome de 1930–1933, em que mais de cinco milhões de pessoas morreram de fome.
Daqueles que morreram de fome, os cerca de 3,3 milhões de habitantes de Ucrânia Soviética que morreram em 1932 e 1933 foram vítimas de uma política deliberada de assassínio relacionada com a sua nacionalidade. No início de 1930, Estaline tinha anunciado a sua decisão de "liquidar" os camponeses prósperos ("kulaks") como classe para que o estado controlasse a agricultura e utilizasse o capital extraído do campo para construir indústria. Dezenas de milhares foram fuzilados pela polícia estatal soviética e centenas de milhares deportados. Aqueles que ficaram perderam a sua terra e frequentemente passavam fome quando o estado requisitava alimentos para exportação. As primeiras vítimas da fome foram os nómadas do Cazaquistão Soviético, onde aproximadamente 1,3 milhões morreram. A fome alastrou para a Rússia Soviética e teve o seu auge na Ucrânia Soviética. Estaline requisitou grão sabendo que essa política iria matar milhões. Culpando os ucranianos pelas falhas da sua própria política, ordenou uma série de medidas – tais como selar as fronteiras daquela república soviética – que asseguraram a morte em massa.
Em 1937, enquanto a sua visão da modernização fraquejava, Estaline ordenou o Grande Terror. Uma vez que agora temos as ordens de matar e as quotas de morte, inacessíveis enquanto existia a União Soviética, sabemos agora que o número de vítimas não foi de milhões. Também sabemos que, tal como no início da década de 1930, as principais vítimas foram os camponeses, muitos deles sobreviventes da fome e dos campos de concentração. As máximas autoridades soviéticas ordenaram que 386.798 pessoas fossem fuziladas na "Operação Kulak" de 1937 – 1938. Os outros "inimigos" principais durante aqueles anos foram pessoas pertencentes a minorias nacionais que podiam ser associados com estados fronteiriços da União Soviética: cerca de 247.157 cidadãos soviéticos foram mortos pelo NKVD em ações de fuzilamento étnicas.
Na maior destas, a "Operação Polonesa" que começou em Agosto de 1937, 111.091 pessoas acusadas de espiar pela Polónia foram fuziladas. No total, 682.691 pessoas foram mortas durante o Grande Terror, aos quais podem ser acrescentados mais algumas centenas de milhares de cidadãos soviéticos fuzilados em ações similares. O número total de civis deliberadamente mortos sob o estalinismo, cerca de seis milhões, e desde logo horrivelmente alto. Mas é muito inferior do que as estimativas de vinte milhões ou mais feitas antes de termos acesso a fontes soviéticas. Ao mesmo tempo, vemos que os motivos destas ações de matança eram às vezes bem mais nacionais, ou até étnicos, do que tínhamos presumido. De facto foi Estaline, não Hitler, quem iniciou as primeiras campanhas de matança étnica na Europa entre as guerras.
Até à Segunda Guerra Mundial, o regime de Estaline era de longe o mais mortífero dos dois. A Alemanha nazi apenas começou a matar à escala soviética após o Pacto Molotov-Ribbentrop no verão de 1939 e a invasão conjunta germano-soviética da Polónia em Setembro daquele ano. Aproximadamente 200.000 civis poloneses foram mortos entre 1939 e 1941, sendo cada um dos regimes responsável por mais ou menos metade daquelas mortes. Esta cifra inclui cerca de 50.000 cidadãos poloneses fuzilados pela polícia de segurança e soldados alemães no outono de 1939, os 21.892 cidadãos poloneses fuzilados pelo NKVD soviético nas massacres de Katyn na primavera de 1940, e os 9,817 cidadãos poloneses fuzilados em Junho de 1941 numa apressada operação do NKVD depois de Hitler ter traído Estaline e a Alemanha ter atacado a URSS. Sob a cobertura da guerra e da ocupação da Polónia, o regime nazi também matou os deficientes ou outros considerados inválidos num programa de "eutanásia" em grande escala que causou 200.000 mortes. Foi esta política que trouxe a asfixia mediante monóxido de carbono como uma técnica de matar.
Além do número de mortes fica a questão da intenção. A maior parte das matanças soviéticas tiveram lugar em tempos de paz, e estavam relacionadas mais ou menos afastadamente com uma visão de modernização influenciada pela ideologia. A Alemanha foi a principal responsável pela guerra, e matou civis quase exclusivamente em conexão com práticas de imperialismo racial. A Alemanha invadiu a União Soviética com planos de colonização elaborados. Pretendia-se que trinta milhões de cidadãos soviéticos morressem de fome, e que dezenas de milhões mais fossem fuzilados, deportados, escravizados, ou assimilados. Tais planos, embora não concretizados, forneceram o fundamento para a ocupação mais sangrenta na história do mundo. Os alemães colocaram os prisioneiros de guerra soviéticos em campos de fome, onde 2,6 milhões morreram de fome e mais meio milhão (desproporcionadamente judeus) foram fuzilados. Mais um milhão de cidadãos soviéticos morreram de fome durante o cerco de Leningrado. Em "represálias" por ações de guerrilheiros, os alemães mataram cerca de 700.000 civis em grotescas execuções em massa, maioritariamente bielorussos e poloneses. No fim da guerra os soviéticos mataram dezenas de milhares de pessoas nas suas próprias "represálias", especialmente nos Estados Bálticos, Belarus, e Ucrânia. Cerca de 363.000 soldados alemães morreram em cativeiro soviético.
Hitler chegou ao poder com a intenção de eliminar os judeus da Europa; a guerra no leste mostrou-lhe que isto podia ser logrado mediante chacina em massa. Passadas semanas do ataque pela Alemanha (e os seus aliados finlandeses, romenos, húngaros, italianos e outros) à União Soviética, os alemães estavam exterminando comunidades judaicas inteiras, com assistência local. Até Dezembro de 1941, que parece ter sido quando Hitler comunicou o seu desejo de que todos os judeus fossem chacinados, talvez um milhão de judeus já estavam mortos na União Soviética ocupada. A maior parte tinha sido abatida a tiro em frente de valas, mais milhares foram asfixiados em camiões de gaseamento. A partir de 1942, o monóxido de carbono foi utilizado nas fábricas da morte Chełmno, Bełżec, Sobibór e Treblinka, para matar judeus poloneses e outros judeus europeus. À medida que o Holocausto alastrava ao resto da Europa ocupada, outros judeus foram gaseados com cianeto de hidrogénio em Auschwitz-Birkenau.
Ao todo os alemães, com muita assistência local, deliberadamente assassinaram cerca de 5,4 milhões de judeus, mais ou menos 2,6 milhões a tiro e 2,8 milhões mediante gás (cerca de um milhão em Auschwitz, 780.863 em Treblinka, 434.508 em Bełzec, cerca de 180.000 em Sobibór, 150.000 em Chełmno, 59.000 em Majdanek, e muitos dos demais em camiões de gaseamento na Sérvia ocupada e na União Soviética ocupada). Alguns centos de milhares de judeus mais morreram durante deportações aos guetos ou de fome e doença nos guetos. Mais 300.000 judeus foram mortos pela Roménia, aliada da Alemanha. A maior parte das vítimas do Holocausto tinham sido cidadãos poloneses ou soviéticos antes da guerra (3.2 milhões e 1 milhão, respetivamente). Os alemães também mataram mais de cem mil romani.
Ao todo, os alemães deliberadamente mataram cerca de 11 milhões de não combatentes, uma cifra que aumenta para mais de 12 milhões se forem incluídas mortes previsíveis por deportação, fome e encarceramento em campos de concentração. Para os soviéticos durante o período estalinista, as cifras análogas são aproximadamente seis milhões e nove milhões. Estas cifras estão desde logo sujeitas a revisão, mas é muito improvável que o consenso volte a mudar tão radicalmente como mudou desde a abertura dos arquivos da Europa de Leste na década de 1990. Uma vez que os alemães mataram principalmente em países que mais tarde ficaram atrás da Cortina de Ferro, o acesso a fontes na Europa de Leste tem sido quase tão importante para o nosso novo entendimento da Alemanha nazi como tem sido para a pesquisa sobre a própria União Soviética. (O regime nazi matou aproximadamente 165.000 judeus alemães.)
Além da inacessibilidade dos arquivos, porque é que os nossos pressupostos anteriores foram tão errados? Uma explicação é a guerra fria. Afinal, as nossas alianças na Europa durante e depois da guerra exigiram um certo grau de flexibilidade moral e portanto histórica. Em 1939 a Alemanha e a União Soviética eram aliados militares. No fim de 1941, depois de os alemães terem atacado a União Soviética e o Japão os Estados Unidos, Moscovo tinha efetivamente trocado Berlim por Washington. Em 1949, as alianças tinham mudado novamente, com os Estados Unidos e a República Federal Alemã juntos na NATO, confrontando a União Soviética e os seus aliados da Europa de Leste, incluindo a República Democrática Alemã, de menor tamanho. Durante a guerra fria, era às vezes difícil para os americanos ver claramente a maldade particular dos nazis e dos soviéticos. Hitler tinha promovido o Holocausto, mas os alemães eram agora os nossos aliados. Estaline também tinha morto milhões de pessoas, mas alguns dos piores episódios, uma vez que tinham ocorrido antes da guerra, já tinham sido minimizados pela propaganda americana do tempo da guerra, quando estávamos do mesmo lado.
Formamos uma aliança com Estaline mesmo no fim dos anos mais mortíferos do estalinismo, e depois aliamo-nos a um estado alemão ocidental poucos anos depois do Holocausto. Talvez não seja surpreendente que neste ambiente intelectual uma certa posição de compromisso em relação às maldades de Hitler e Estaline – i.e. que ambos eram, de facto, piores – tenha emergido e virado o saber convencional.
A nova compreensão dos números, desde logo, e apenas parte de qualquer comparação, e ela própria coloca novas questões tanto de quantidade como de qualidade. Como contar as perdas nos campos de batalha da Europa na Segunda Guerra Mundial, não consideradas aqui? Foi uma guerra que Hitler quis, e portanto a responsabilidade alemã deve predominar, mas de facto começou com uma aliança germano-soviética e uma invasão conjunta da Polónia em 1939. Algures perto do livro razão de Estaline devem estar os trinta milhões ou mais chineses que morreram de fome durante o Grande Passo em Frente, já que Mao seguiu o modelo de coletivização de Estaline. A qualidade especial do racismo nazi não é diluída pela observação histórica de que os motivos de Estaline eram às vezes nacionais ou étnicos. O reservatório da maldade apenas fica mais fundo.
A proximidade mais fundamental entre os dois regimes, na minha opinião, não é ideológica mas sim geográfica. Uma vez que os nazis e os estalinistas tendiam a matar nos mesmos locais, nas terras entre Berlim e Moscovo, e uma vez que foram, em alturas diferentes, rivais, aliados e inimigos, devemos levar a sério a possibilidade de que uma parte da morte e destruição que assolou as terras situadas entre eles foi a sua responsabilidade mútua. O que fazer do facto, por exemplo, de que as terras que mais sofreram durante a guerra foram aquelas que foram ocupadas não uma ou duas mas três vezes: pelos soviéticos em 1939, os alemães em 1941, e novamente os soviéticos em 1944?
O Holocausto começou quando os alemães provocaram pogroms em Junho e Julho de 1941, em que cerca de 24.000 judeus foram mortos, em territórios da Polónia anexados pelos soviéticos menos do que dois anos antes. Os nazis planeavam eliminar os judeus de qualquer forma, mas as anteriores matanças pelo NKVD decerto facilitaram aos gentios locais justificar a sua própria participação em tais campanhas. Conforme escrevi em Bloodlands, onde todas as maiores atrocidades nazis e soviéticas são discutidas, vemos, mesmo durante a guerra germano-soviética, episódios de cumplicidade entre os beligerantes, em que uma das partes matou mais porque foi provocada ou de alguma forma assistida pela outra. Os alemães capturaram tantos prisioneiros de guerra soviéticos em parte porque Estaline ordenou aos seus generais que não recuassem. Os alemães fuzilaram tantos civis em parte porque guerrilheiros soviéticos deliberadamente provocaram represálias. Os alemães fuzilaram mais de cem mil civis em Varsóvia em 1944 depois de os soviéticos terem incitado os locais a revoltar-se e depois recusado ajuda-los. No Gulag de Estaline cerca de 516.543 pessoas morreram entre 1941 e 1943, sentenciados a trabalhos forçados pelos soviéticos, mas privados de alimentos pela invasão alemã.
Estas pessoas foram vítimas de Estaline ou de Hitler? Ou de ambos?
terça-feira, 7 de abril de 2015
Hitler vs. Estaline: Quem foi pior?
Segue minha tradução de um artigo do historiador americano Timothy Snyder (autor do livro Bloodlands, traduzido sob o título Terras de Sangue), publicado em 27 de Janeiro de 2011 em The New York Review of Books.
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8 comentários:
Roberto, agradecer pelo texto e pela tradução.
Mas vou ver se comento com calma depois. Como cheguei a comentar, eu ia ver os rascunhos dos dados que eu havia levantado sobre as estimativas de mortes no stalinismo e cometi um erro com o navegador: deu problema de memória quando eu estava lendo o rascunho e em vez deu fechar o navegador fui inventar de tentar ver assim mesmo e o blogger salvou (automaticamente) o clique que dei apagando o rascunho inteiro.
Só sobre isso do que eu havia salvo: Controverse sur le qualificatif de génocide. Do verte em francês da Wikipedia. Bateu desgosto ao ver o estrago pois achei que tinha backup de janeiro deste blog e não achei (se houver dá pra resgatar o rascunho perdido).
Mas há mais de um levantamento sobre mortes no stalinismo, esse era um dos que falava do posicionamento do Orlando Figes, mas o livro que eu queria citar (pensei que tinha outro nome) foi esse aqui: "Life and Terror in Stalin's Russia, 1934-1941"
Que foi atacado por um jornal russo anti-russo (isso existe) chamado The Moscow Times, link:
http://www.themoscowtimes.com/news/article/naive-apology-for-stalin/319549.html
Onde o colunista acusa o autor do livro acima de "justificar" o terror stalinista porque o autor (historiador) diz que o terror era aprovado pela população e não rechaçado como é disseminado pela maioria, é este o motivo que leva o autor do jornal a desferir a metralhadora.
Ainda estou chateado com o 'apagão' do rascunho, embora eu deva ter salvo parte dos links que havia nele em outros rascunhos mas tudo espalhado (desorganizado), e havia informações mais referentes ao Holodomor e não propriamente o período stalinista inteiro, com aquele verbete francês que eu citei que é o mais completo (esse aqui abaixo):
http://fr.wikipedia.org/wiki/Holodomor#Controverse_sur_le_qualificatif_de_g.C3.A9nocide
Foi o que sobrou do rascunho, pois lembro vagamente que havia os links dos estudos do Taugen (historiador dos EUA) sobre a coletivização, PDFs etc.
Mas sobre as estimativas, eu lembro que fui pesquisar depois daquele post do esloveno que comentou no Holocaust Controversies com os dados que ele apurou sobre o número de mortos da URSS na segunda guerra. Vou verificar os rascunhos antigos pra ver se lembro de parte do que foi apagado (lembro vagamente de uma parte) pois a gente fica mesmo chateado quando isso ocorre e não tem cópia. Eis o link com as perdas soviéticas na segunda guerra (caso alguém leia o post e queira ver também):
http://holocausto-doc.blogspot.com.br/2014/09/sobre-as-perdas-sovieticas-da-segunda-guerra-mundial.html
Estaline?
Mas pergunto ao Roberto (tem dois), este Timothy Snyder é criticado por viés político?
"Estaline?"
Stalin na grafia de Portugal. Mas dá pra ler sem problemas.
Lembro que uma vez pedi pro Roberto pra colocar um texto dele na grafia brasileira, só que foi bobagem de minha parte, repeti (sem querer) as crendices que difundem no país sobre a "grande diferença" (contém ironia) do português de Portugal pro do Brasil, algo que fica restrito à pronúncia das palavras (o sotaque) mas não em relação à escrita. E mesmo a questão do sotaque beira à idiotice essa crença de achar que "há dois idiomas". Há diferenças como há entre o inglês dos EUA e Reino Unido, mas ninguém vê os norte-americanos tão distantes dos britânicos como há, hoje, uma distância entre Brasil e Portugal.
Passei a ler uns jornais de Portugal e me espanta que haja gente no país que espalhe que é difícil de entender os textos no português de Portugal, pois isso é uma inverdade.
"Mas pergunto ao Roberto (tem dois), este Timothy Snyder é criticado por viés político?"
Não sei dizer. Andei procurando e o livro dele foi bem recebido. Lembro que tinha gente no Orkut (de novo a finada rede do Google, rs), de forma atabalhoada, dizendo que o Snyder seria anticomunista. O fato é que os números (estimativas) dele batem com os números de pesquisas recentes sobre as vítimas do stalinismo na URSS (do período de Stalin).
O problema fica sempre por conta da questão da fome em massa, dependendo da escala que aceitam, as estimativas aumentam muito ou diminuem, por isso sempre coloco os números da fome à parte pois oscilam mais, e há má interpretações sobre o caso. Toda vez que ouvia falar em Holodomor nunca falam/falavam que a fome atingiu a própria Rússia e outra República Soviética (acho que o Cazaquistão, tou citando de memória), por isso que a escala de 6 milhões compreende todos esses países e não só a Ucrânia. Os números da Ucrânia ficam em torno de 3-3,5 milhões.
E há a questão de que existem historiadores que consideram que a fome não foi proposital (política de Estado), e isso é criminalizado na Ucrânia e em alguns países como negação do genocídio (entra na questão de definir se a fome foi ou não genocídio). O que mudaria totalmente a escala de mortes pois se a coisa fica na perseguição política, a "disputa" (entre aspas) Hitler x Stalin, o cabo Adolfo dispara consideravelmente, até levando em conta o período que ele governou e fez a guerra (durou menos tempo que Stalin).
Mas ao dizer isso vc corre o risco de alguém dizer que vc está defendendo Stalin e por aí vai, principalmente com a polarização atual no país.
Ainda sobre grafia, já que se tocou no assunto. Em Portugal se escreve Lenine em vez de Lênin, Estaline em vez de Stalin e por aí vai.
É estranho pois antigamente eles escreviam Adolfo Hitler e deixaram essa grafia de lado, mas mantiveram as da URSS.
Por outro lado, essas mudanças de grafias de nome no Brasil também às vezes são absurdas (sem critério), quem nasce em Moscou se chama moscovita (no Brasil), que vem de Moscovo (que é como se escreve em Portugal). Não sei quando passaram a escrever Moscou em vez de Moscovo, acho que rolou um anglicismo nisso (mais um) que a mídia dissemina porcamente, como o modismo atual de falarem "risco de morte" em vez do tradicional (consagrado) "risco de vida".
E agora querem que se escreve Beijing em vez de Pequim, rsrsrs.
Em geral as regras de nome se dão pelo costume ou de adaptar pro português (no Brasil) nomes complicados de pronunciar, fora isso se mantém a escrita original, por isso o Stalin, Lênin etc em vez de Estaline (de Portugal).
Mas é convenção, as duas grafias estão certas (são aceitas), só que deveriam padronizar isso duma vez.
Agradeço as respostas. Minha pergunta sobre a grafia foi porque estranhei a princípio o texto com a grafia portuguesa mas concordo com você, criaram um escândalo sobre o nada, dá para entender totalmente o texto, as expressões diferentes de nomes próprios é que chamam mais atenção.
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