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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Alguns heróis ciganos

O povo romani reivindica referências como o boxeador Johan Trollmann, o ilustrador Helios Gómez ou o líder anarquista Mariano Rodríguez Vázquez

Da esquerda para a direita, o líder da CNT Mariano Rodríguez Vázquez,
o grafista Helios Gómez, e o boxeador Johan Trollmann.
Jóvenes gitanos plantan cara al antigitanismo
HELENA LÓPEZ / BARCELONA

Quinta-feira, 8 de dezembro de 2016 - 17:18 CET

Johan Trollmann (1907-1944), conhecido como Rukeli, foi campeão nacional de boxe na Alemanha de 1933, ano em que Hitler ascendeu ao poder. Não é estranho dizer, pois, que oito dias depois, os nazis retiraram o título alegando "falta de nível". O Terceiro Reich não podia aceitar exaltar a um cigano. Um jovem como Rukeli, nas antípodas do modelo ariano que o nazismo pretendia impor. Não só por sua tez morena e sua frondosa mata de cabelo azeviche, senão também por seu característico estilo dançarino sobre o quadrilátero, muito longe do duro 'estilo alemão'. Saltos ágeis e muito efetivos que, contam, tiravam os nazis do sério. Assim que, não sendo bastante lhe retirar o título de campeão, ameaçaram-no em lhe negar também a licença para seguir competindo a nível profissional se não deixasse de "dançar" enquanto lutava.

A seguinte peleja que ele participou acudiu depois de terem tirado seu título, Rukeli, desafiante, subiu ao ringue com o cabelo tingindo de ruivo e o rosto polvilhado de branco (algumas versões dizem que com farinha, outras, que com pó de talco). Com a rebeldia própria de sua condição cigana, Rukeli fez caso e, por uma vez, não dançou. Ficou no centro do ringue coberto em pó branco sem mover as pernas até que foi nocauteado no quinto assalto; tudo dignamente. Ali terminou sua carreira, mas esse gesto de galhardia lhe converteu em um herói para o povo cigano. Um gesto simples mas estoico com o qual ridicularizou a todo um regime racista, que acabou o encarcerando em um campo de trabalho forçado.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL HELIOS GÓMEZ
Os anjos negros da 'Capela cigana' da Modelo,
pintados por Helios Gómez na prisão
Histórias como a de Rukeli, ainda referência, são as que os jovens ciganos não só daqui, senão de meia Europa, reivindicam, fazendo pressão tanto a seus governos locais como através das poderosas redes sociais para lhes fazer justiça.

ARTISTA INTERNACIONAL

Em Barcelona também há heróis ciganos com histórias muito desconhecidas, pese o impacto que deixam em quem as descobre (algo que se sente difícil, já que a história do povo cigano não é estudada nos colégios). É o caso de Helios Gómez (1905-1956), autor da 'Capela cigana' (Link2) de 'La Modelo', ainda tapada sob uma capa de cal em uma habitação fechada. Rebelde como Rukeli, Gómez foi anarquista, comunista e de novo anarquista, segundo desencadeou em decepções. Preso em incontáveis ocasiões por sua ideologia, o ilustrador foi 'convidado' pelo cura do cárcere pra que desenhasse em uma das paredes da cela um fresco da Virgem das Mercês (Barcelona). Também ao melhor estilo Rukeli, Gómez - que fora proibido de pintar entre grades - concordou, mas o fez, como não, a sua maneira. Pintou uma Virgem e um menino Jesus rasgos inequivocamente ciganos, acompanhados por uns anjos negros de Machín que acabaram se convertendo em um apelo contra o regime.

O filho de Helios, Gabriel, passa anos trabalhando na associação cultural que leva o nome de seu pai para restituir a memória do ilustrador, grafista e poeta e de "todos os que, como ele, lutaram pela liberdade".

Outra figura cigana muito reivindica, também rebelde e anarquista, é Mariano Rodríguez Vázquez, 'Marianet'. Secretário Regional da Catalunha e da CNT entre novembro de 1936 e junho de 1939, "desempenhou um papel decisivo no futuro anarcosindicalista e na vida política e social da guerra civil espanhola", segundo a Wikipedia. Urge que as petições do coletivo de que se estude e documente a fundo sua história sejam escutadas para poder ir mais além da enciclopédia livre.

Fonte: El Periódico, Barcelona (Espanha)
http://www.elperiodico.com/es/noticias/barcelona/algunos-heroes-gitanos-5674253
Título original: Algunos héroes gitanos
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Romênia proíbe símbolos fascistas e a negação do Holocausto

O presidente da Romênia promulgou uma lei que penaliza a negação do Holocausto e o fomento do Movimento Legionário fascista com sentenças de até três anos de prisão.

O presidente Klaus Iohannis assinou na terça-feira emendas a uma legislação já existente, aprovadas no mês passado pelo Parlamento.

A legislação também proíbe organizações e símbolos fascistas, racistas, xenofóbicos, e promover culpados de crimes contra a humanidade. As sentenças serão de até três anos de prisão.

A negação do Holocausto se refere a negar a participação da Romênia no extermínio de judeus e Romanis (ciganos) entre 1940 e 1944. Cerca de 280.000 judeus e 11.000 Romas, ou ciganos, foram assassinados durante o regime pró-fascista do ditador Marechal Ion Antonescu.

A Romênia tem poucos grupos radicais de direita como o Noua Dreapta, que poderia se ver afetado pela lei.

AP 22.07.2015 - 08:46h PST

Fonte: 20minutos (Espanha)
http://www.20minutos.com/noticia/b85789/rumania-prohibe-simbolos-fascistas-y-negar-el-holocausto/
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Rumania prohíbe símbolos fascistas y negar el Holocausto (Pulso, México)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O triângulo negro / Nenhum povo é ilegal

Violência, propaganda e deportação.
Um manifesto de escritores, artistas e intelectuais contra a violência contra os rom*, os romenos e as mulheres.

"Negócio ariano"
[A faísca surgiu num grupo de escritores e intelectuais fartos de observar a tendência racista que cruza toda a Itália, por desgraça agravada com a violenta morte de Giovanna Reggiani. Desta saturação, a necessidade de compartilhar uma tomada de posição firme. Assim nasceu "O triângulo negro", chamamento elaborado por Alessandro Bertante, Gianni Biondillo, Girolamo De Michele, Valerio Evangelisti, Giuseppe Genna, Helena Janeczek, Loredana Lipperini, Monica Mazzitelli, Marco Philopat, Marco Rovelli, Stefania Scateni, Antonio Scurati, Beppe Sebaste, Lello Voce e o coletivo Wu Ming. A este grupo logo se juntaram outros importantes nomes da cultura que decidiram aderir ao mesmo. Entre eles: Gad Lerner, Erri De Luca, Bernardo Bertolucci, Massimo Carlotto, Carlo Lucarelli, Moni Ovadia, Nanni Balestrini, Franca Rame, Stefano Tassinari, Marcello Flores, Andrea Bajani, Lisa Ginzburg, Lanfranco Caminiti, Ugo Riccarelli, Enrico Brizzi, Marco Mancassola, Simona Vinci, Raul Montanari, Giulio Mozzi, Andrea Porporati, Sandro Veronesi e muitos outros que se somam a cada minuto, para ratificar que os direitos individuais não justificam castigos coletivos. Clique Aqui, a possibilidade de aderir ao chamamento. Na continuação, o texto].

A história recente deste país é uma sequência de campanhas de alarme, cada vez mais próximas entre si e envoltas no escândalo. As campanhas soam o alarme, as palavras dos demagogos geram incêndios, uma nação com os nervos a flor da pele responde a cada estímulo criando "emergências" e escolhendo bodes expiatórios.

Uma mulher foi violada e assassinada em Roma. O homicida seguramente é um homem, talvez um romeno. Romena é a mulher que, atirando-se na rua para deter um ônibus que não freava, tentou salvar aquela vida. O horrendo crime sacode toda a Itália, o gesto de altruísmo cai no silêncio/esquecimento.

No dia anterior, sempre em Roma, uma mulher romena é violada e deixada quase sem vida por um homem. Duas vítimas com igual dignidade? Não: da segunda não se sabe nada, nada publicam os diários: da primeira se tem que saber que é italiana, e que o assassino é um homem, senão um romeno um rom.

Três dias depois, sempre em Roma, membros encapuzados de um grupo fascista atacam com porretes e navalhas a alguns romenos na saída de um supermercado, ferindo quatro. Não houve jornalistas junto ao leito desses feridos, que ficam sem nome, sem história, sem humanidade. Sobre seu estado, nada mais a dizer.

A partir desses sucesos se desencadeia uma alucinante criminalização massiva. Culpado um, culpado todos. As forças da ordem desalojam o povoado favelado em que vivia o suposto assassino. Duzentas pessoas, mulheres e crianças incluídas, foram colocados na rua.

E depois? Ódio e receio alimentam as generalizações: todos os romenos são rom, todos os rom são ladrões e assassinos, todos os ladrões e assassinos têm que ser expulsos da Itália. Políticos velhos e novos, de direita ou esquerda, competem para ver quem grita mais forte, denunciando a emergência. Emergência que, de acordo com os dados do Rapporto sulla criminalità (1993-2006), não existe: homicídios e delitos estão, hoje, com as cifras mais baixas dos últimos vinte anos, enquanto que estão com forte aumento os delitos cometidos entre paredes domésticas ou por razões passionais. O relatório Eures-Ansa 2005, L'omicidio volontario in Italia e o relatório Istat 2007 dizem que um homicídio em quatro ocorre no lar; sete entre dez vítimas é uma mulher; mais de um terço das mulheres entre os 16 e 70 anos padeceu com violência física ou sexual no curso de sua vida, e o responsável da agressão física ou violação é, sete em cada dez, seu marido ou companheiro: a família mata mais que a máfia, as ruas com frequência apresentam menor risco de violação que os dormitórios.

No verão de 2006, quando Jina, jovem de vinte anos paquistanesa, foi degolada por seu pai e seus parentes, políticos e meios de comunicação se embarcaram no paralelo entre culturas. Afirmavam que a ocidental, e a italiana em particular, havia evoluído felizmente em relação aos direitos das mulheres. Falso: a violência contra as mulheres não é um legado atroz em outras culturas, senão que cresce e floresce na nossa, cada dia, na construção e na multiplicação de um modelo feminino que privilegia o aspecto físico e a disponibilidade sexual fazendo-os passar como uma conquista. Pelo contrário, como testemunha o recente relatório do World Economic Forum on Gender Gap, sobre a igualdade feminina no trabalho, na saúde, nas expectativas de vida e na influência política, a Itália está no posto 84. Última na União Europeia. A Romênia está no posto 47.

Se esses são os fatos, o que é que está se passando?

O que se passa é que é mais fácil agitar um fantasma coletivo (hoje os romenos, ontem os muçulmanos, um pouco antes os albaneses) em vez de se comprometer com as verdadeiras causas do pânico e da insegurança social causados pelos processos de globalização.

O que se passa é que é mais fácil, e pega antes e melhor como consenso incondicional, gritar "perigo" e pedir expulsões em vez de cumprir as diretrizes europeias (como a 43/2000) sobre o direito à assistência sanitária, ao trabalho e a habitação dos migrantes; que é mais fácil mandar escavadoras para privar seres humanos de suas míseras casas, em vez de ir aos lugares de trabalho para combater o emprego ilegal.

O que se passa debaixo do tapete da equação romenos-deliquência é que se esconde a poeira da feroz exploração do povo romeno.

Exploração em obras, onde cada dia um trabalhador romeno é vítima de um acidente laboral mortal.

Exploração nas ruas, onde trinta mil mulheres romenas são obrigadas a se prostituir - a metade menores de idade - são cedidas pelo crime organizado a italianíssimos clientes (a cada ano nove milhões de homens italianos compram sexo de escravas estrangeiras, forma de violência sexual que está ante os olhos de todos mas poucos "querem ver").

Exploração na Romênia, onde empresários italianos - depois de terem "deslocalizado" (transferido) e gerado desemprego na Itália - pagam soldos de fome aos trabalhadores.

O que se passa é que ministros demais, prefeitos e menestréis convertidos em caudilhos jogam para serem aprendizes de bruxo para obter seus quinze minutos de popularidade. Não se perguntam o que se passará amanhã, quando os ódios que ficam no terreno seguirão fermentando, envenenando as raízes de nossa convivência e despertando esse micro-fascismo que está dentro de nós e nos faz desejar o poder e admirar os poderosos. Um micro-fascismo que se expressa com palavras e gestos rancorosos, enquanto já se sente, não muito longe, o sapateado de botas militares e a voz das armas de fogo.

O que se passa é que se está levando a cabo a construção do inimigo absoluto, como com os judeus e ciganos no nazifascismo, como com os armênios na Turquia em 1915, como com os sérvios, croatas e bósnios, reciprocamente, na ex-Iugoslávia dos anos noventa, em nome de uma política que promete segurança em troca de renunciar aos princípios de liberdade, dignidade e civilização; que se faz indistinguíveis a responsabilidade individual e coletiva, efeitos e causas, males e remédios; que invoca homens fortes no governo e pede aos cidadãos que sejam súditos obedientes.

Só falta que alguém recupere do desvão da intolerância o triângulo negro dos antissociais, marca da infâmia que os nazis faziam coser nas roupas dos ciganos.

E não parece ser mais que a última etapa, por agora, de uma propagada guerra contra os pobres.

Frente a todo isto não podemos permanecer indiferentes. Não nos reconhecemos no silêncio, na renúncia ao direito de crítica e no abandono da inteligência e da razão.

Delitos individuais não justificam castigos coletivos.

Ser romeno ou rom não é uma forma de "cumplicidade".

Não existem as raças, e muito menos raças culpáveis ou inocentes.

Nenhum povo é ilegal.

*A palavra "rom" é a forma mais usada na Itália para designar a um membro da comunidade cigana. Na tradução ao castelhano se manteve esta denominação quando era necessário indicar o equívoco que pode se produzir com membros da nacionalidade romena. [Ninguém em particular].

15 de Novembro de 2007

Fonte: Site Wumingfoundation.com
http://www.wumingfoundation.com/italiano/outtakes/triangulonegro.htm
Título original: El triángulo negro / Ningún pueblo es ilegal
Tradução: Roberto Lucena

Observação: eu cortei do texto acima as assinaturas, quem quiser ver basta acessar o link do texto original. Este texto é de 2007 (só fui ver depois) e o pior é que continua atual.

domingo, 30 de março de 2014

Suécia admite que durante 100 anos marginalizou e esterilizou o povo cigano

Dois ciganos desalojados de um
acampamento em Estocolmo
em 14 de março. / Rikard Stadler
(Cordon Press)
O Governo reconhece 100 anos de perseguição e roubos de crianças
Ana Carbajosa / Miguel Mora Madri / Paris 29 MAR 2014 - 15:20 BRT

Ao longo do último século, a Suécia esterilizou, perseguiu, retirou crianças de suas famílias e proibiu a entrada no país dos ciganos; e as pessoas dessa minoria étnica foram tratadas durante décadas pelo Estado como “incapacitados sociais”. Estes anúncios não foram feitos por uma ONG militante. Eles fazem parte do relato do Governo conservador sueco, que em um gesto inédito na Europa, tanto por sua honestidade intelectual como pela amplitude do respeito à verdade, decidiu olhar para o passado e a revirar seus arquivos mais obscuros.

A ideia é saldar as dívidas com o passado para procurar melhorar o presente: “A situação que vivem os ciganos hoje se devem à discriminação histórica a que ele foram submetidos”, afirma o chamado Livro Branco, que foi apresentado nesta semana em Estocolmo, e no qual se detalham os abusos cometidos com os ciganos a partir de 1900.

A coalizão de centro-direita vigia a ascensão da extrema direita

O ministro de Integração,Erik Ullenhag, definiu essas décadas de impunidade e racismo de Estado como “um período escuro e vergonhoso da história sueca”. Suas palavras coincidiram com um episódio que ilustra a situação atual: na quarta-feira, uma das mulheres ciganas convidadas a dar seu depoimento foi proibida pelos funcionários do hotel Sheraton de entrar na área do café da manhã.

Os abusos históricos, assinala o Livro Branco, seguiram um padrão criado há séculos pelas monarquias europeias: começaram com os censos que elaboraram organismos oficiais como o Instituto para Biologia Racial ou a Comissão para a Saúde e o Bem-estar, que identificaram os ciganos que viviam no país. Os primeiros documentos oficiais descreviam os ciganos como “grupos indesejáveis para a sociedade” e como “uma carga”. Entre 1934 e 1974, o Estado prescreveu às mulheres ciganas a esterilização apelando ao “interesse das políticas de população”, como fez Austrália com os aborígenes. Não há cifras de vítimas, mas no Ministério de Integração explicam que uma em cada quatro famílias consultadas conhece algum caso de abortos forçados e esterilização. Os órgãos oficiais ficaram com a custódia de crianças ciganas que foram arrancadas de suas famílias. O estudo também não oferece dados sobre este costume, mas Sophia Metelius, assessora política do ministério, explica que se tratava de “uma prática sistemática”, sobretudo no inverno.

Estocolmo admite que proibiu a entrada de ciganos na Suécia até 1964, apesar de se saber o destino que tinham as minorias em um cenários de expansão nazista: os especialistas calculam que ao menos 600.000 romas e sintis foram exterminados no Porrajmos (como é conhecido o holocausto cigano), nas mãos do regime hitlerista e outros similares.

O Livro Branco detalha as prefeituras suecas que proibiram que os ciganos se assentassem de forma permanente, e lembra que as crianças eram segregadas em sala de aulas especiais e que não podiam ser atendidas pelos serviços sociais. “A ideia era tornar a vida deles impossível para que fossem embora do país”, resume Metelius.

Algumas destas práticas acontecem ainda em diversos países europeus, e a ciganofobia permanece com força na França , Grã-Bretanha e Alemanha. Paris desalojou em 2013 mais de 20.000 ciganos. Berlim planeja uma lei para evitar que os migrantes romenos e búlgaros —a maioria, roma— sem trabalho fiquem mais de seis meses no país.

Na próxima semana, a União Europeia celebrará uma cúpula especial para avaliar o caminho das políticas de integração da minoria roma. O panorama geral é desolador, com mostras de ódio racial na Hungria, Eslováquia e a República Tcheca.

Na Suécia, um país de cerca de nove milhões e meio de habitantes, vivem hoje mais de 50.000 ciganos. Por enquanto, as autoridades não contemplam a compensação aos familiares das vítimas de abusos, embora o Livro Branco abra porta para as demandas. O Governo estabeleceu a verdade histórica cruzando entrevistas pessoais de dúzias de ciganos com os arquivos oficiais. “Não são revelações novas. Os ciganos estão há anos contando estas histórias, mas ninguém dava atenção. Agora, simplesmente, reunimos os documentos oficiais e os cruzamos com depoimentos”, diz Sophia Metelius.

A coalizão de centro-direita enfrenta um forte crescimento nas pesquisas da extrema direita (10% das intenções de voto) e se propôs combater as mensagens xenófobas com uma firme defesa da tradição progressista sueca.

A aceitação em massa de refugiados sírios é uma das políticas com as quais liberais e conservadores querem demonstrar que o catastrofismo populista não deve irremediavelmente se converter em profecia autocumprida. O reconhecimento das selvagerias cometidas com os ciganos caminha nessa mesma direção. A ironia é que o civilizado e tolerante norte da Europa, ao final, não era tudo isso. A esperança se propaga com esse infrequente exercício de memória e respeito.

Fonte: El País (edição brasileira)
http://brasil.elpais.com/brasil/2014/03/28/internacional/1396032026_384483.html

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Hungria vai ter Centro de Documentação do Holocausto Cigano

Ciganos roma e sinti à espera de serem deportados pelos nazis na cidade
alemã de Asperg, 22 de Maio de 1940. Foto cortesia dos Arquivos
da Alemanha Federal, usada com licença 3.0 Creative Commons
Um Centro de Documentação do Holocausto Cigano (Romani) será inaugurado [en] na cidade de Pécs, no sul da Hungria, em finais de 2014. O Centro de Documentação é um projeto conjunto do Município de Pécs e da minoria cigana da Hungria. Haverá também colaboração com a Universidade de Pécs, visando o ensino aos estudantes desta parte esquecida da História da Europa do século XX.

O Holocausto Cigano, conhecido também como Porajmos no idioma romani, foi uma tentativa dos nazis alemães de exterminar o povo cigano na Europa. Aproximadamente entre 1933 e 1945, cidadãos ciganos de diversos países europeus foram perseguidos, presos, destituídos da sua nacionalidade, frequentemente transportados para países ocupados ou colaboradores dos nazis, onde muitos deles foram assassinados. Os números foram, de modo geral, minimizados pelos colaboradores nazis, mas se estima que o número de ciganos assassinados durante este período na Europa se situe entre 220 mil a 1.5 milhões.

A Alemanha Ocidental reconheceu o Holocausto Cigano em 1982, contudo o reconhecimento oficial e a referência a este acontecimento tem-se revelado difícil devido à falta de memória colectiva registada e documentada do Porajmos entre o povo cigano. Consequência tanto das suas tradições orais, como do analfabetismo agudizado pela pobreza generalizada e discriminação, fazendo com que a abertura deste centro em Pécs seja primordial para lembrar esta parte trágica da História cigana e europeia.

Fonte: Global Voices (site)
http://pt.globalvoicesonline.org/2014/02/05/hungria-vai-ter-centro-de-documentacao-do-holocausto-cigano/

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

(Berlim) Marzahn. Campo de concentração cigano das Olimpíadas de Berlim (1936)

A "limpa" dos ciganos da Alemanha nas Olimpíadas de 1936.

Campo de Concentração cigano de Marzahn
"A polícia não estava passiva enquanto as leis raciais de restrição a casamento e relações sexuais entre ciganos e alemães estavam sendo promulgadas ... Os Sinti e Roma, tradicionalmente, tinham sido vítimas de assédio principalmente na Bavária depois de 1933, no entanto, o assédio direto tornou-se sistemático com a expulsão de ciganos estrangeiros do país, e com outras pessoas enquadradas como vagabundos, criminosos habituais e vários outros tipos de antissociais. Usando os Jogos Olímpicos como pretexto, a polícia de Berlim, em maio de 1936, prendeu centenas de ciganos e transferiram famílias inteiras com suas carroças, cavalos e outros pertences para o chamado Marzahn "lugar de descanso", que ficava próximo de um depósito de lixo e de um cemitério do outro lado. Logo o lugar inteiro foi fechado com arame farpado. Um campo de concentração cigano de fato então havia sido criado num subúrbio de Berlim. foi a partir Marzahn, e de outros lugares semelhantes criados em pouco tempo próximos a outras cidades alemãs, que alguns anos mais tarde milhares de Sinti e Roma foram enviados para os locais de extermínio no leste". (Friedlaender, pág. 205)

Extraído do livro: Nazi Germany and the Jews: (Volume One). The Years of Persecution, 1933-1939. New York: HarperCollins, 1997; Saul Friedlaender

Última modificação: 1997/06/04

Fonte: Nizkor
http://www.nizkor.org/ftp.cgi/camps/ftp.cgi?camps//marzahn//marzahn-established
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Memorial to the Victims of the Marzahn "Gypsy Camp"

domingo, 22 de setembro de 2013

Mulher grega pisando em garota cigana em Atenas - foto se torna viral

por Maria Arkouli em 17 de setembro de 2013, tags: Culture, Media, News, Racism, Society

Músicos de rua na Grécia

Uma fotografia de uma dona de loja feminina pisando uma garota cigana (Roma) música de rua numa passarela de pedestres sob a Acrópole para mandá-la embora virou viral na Internet e forçou as autoridades gregas a investigar o abuso.

O local é frequentado por crianças ciganas (Roma) que são colocadas lá para pedir trocados, tocar música para doações ou venda de flores, atividades que na Grã-Bretanha são encontradas fazendo por até $ 160,00 por criança, tornando-se um negócio muito lucrativo.

A foto foi tirada pelo fotógrafo da Associated Press Dimitris Messinis em um dos mais movimentados pontos turísticos de Atenas, perto da principal estação de metrô e do Novo Museu da Acrópole. Não foi relatado por que a mulher queria a menina fora da área, mas isso aconteceu na frente de muitas testemunhas.

A imagem é chocante: uma mulher está pisando uma menina que toca o acordeão para forçá-la a ir para fora do ponto, talvez porque a menina a "ofendeu" esteticamente.

Depois do alvoroço causado pela publicação da fotografia, do Departamento de Proteção à Criança da Segurança da Ática lançou uma investigação para tentar encontrar a mulher.

Fonte: Greek Reporter
http://greece.greekreporter.com/2013/09/17/woman-kicking-girl-pic-goes-viral/

Comentário: não preciso comentar esta foto, a imagem fala por si. Só fica o aviso aos fascistinhas cagões que vez por outra deixam mensagens racistas com fakes por não terem coragem de assumir o que escrevem (comentários racistas) com o nome, se vierem escrever besteira aqui não terão comentário algum publicado, não baterei boca com lixo covarde e defensor desse tipo de imundície que não assume sequer o que escreve. Sejam ao menos homens pra escrever com o nome as imundícies que defendem (duvido que façam isso).

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Pesadas penas de prisão para homicidas de ciganos na Hungria

Crime. Quatro homens foram hoje considerados culpados de “crimes racistas” por um tribunal húngaro e três deles condenados a prisão perpétua por seis mortes de Roms (ciganos), incluindo uma criança de cinco anos, em 2008 e 2009.

Pesadas penas de prisão para homicidas de ciganos na Hungria
DR. Mundo; 17:38 - 06 de Agosto de 2013 | Por Lusa

Zsolt Peto e os irmãos Arpad e Istvan Kiss foram condenados a prisão perpétua por terem assassinado, com premeditação, seis Roms em nove ataques à granada, armas de fogo e ‘cocktail molotov’ em diversas localidades do nordeste da Hungria entre julho de 2008 e agosto de 2009, provocando ainda cinco feridos graves.

Um quarto homem, Istvan Csontos, foi condenado a 13 anos de prisão, acusado de cumplicidade por ter conduzido a viatura no momento dos crimes, apesar de ter negado participação nas mortes.

Alguns ataques foram particularmente cruéis: uma criança de cinco anos e o seu pai foram mortos quando tentavam escapar da sua casa em chamas. Num outro ataque, uma mulher foi morta enquanto dormia.

“É moralmente inaceitável… que pessoas se reúnam para cometer crimes com o objetivo de intimidar um grupo étnico”, considerou o juiz Laszlo Moszori, do tribunal de Budapeste.

Estas pesadas condenações foram pronunciadas quando se assinala o Holocausto que vitimou esta minoria sempre muito estigmatizada na Hungria e que representa entre 5% a 8% dos 10 milhões de habitantes. Em 02 de agosto de 1944 os nazis massacraram cerca de 3.000 Roms no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, situado no sul da Polônia.

Os quatro condenados, membros de movimentos ‘skinheads’ de extrema-direita, permaneceram impassíveis durante a leitura da sentença, enquanto centenas de pessoas se concentraram no tribunal para tomar conhecimento do veredicto, perante forte aparato policial.

“Penso que esta condenação, a mais pesada que existe no direito húngaro, é totalmente justificada”, disse o advogado das partes civis, Laszlo Helmeczy.

“Eles pretendiam provocar uma guerra civil entre os húngaros e os Roms húngaros. As atas de acusação deveriam ser: crime contra a humanidade, terrorismo e racismo”, sustentou o presidente da Associação para os direitos cívicos dos Roms, Aladar Horvath.

A minoria cigana da Hungria, marginalizada e pobre, é sujeita com frequência a agressões verbais e físicas promovidas por milícias de extrema-direita e descrita com frequência como “criminosa” pelo partido de extrema-direita Jobbik.

Em janeiro, o influente jornalista Zsolt Bayer, próximo do primeiro-ministro conservador Viktor Orban, associou os Roms a “animais” que “não deveriam ser tolerados” e “não deveriam existir”. O seu jornal foi condenado ao pagamento de uma multa pela entidade reguladora dos ‘media’.

Fonte: Notícias ao Minuto (Portugal)
http://www.noticiasaominuto.com/mundo/96417/pesadas-penas-de-pris%C3%A3o-para-homicidas-de-ciganos-na-hungria

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Tribunal: Quatro húngaros condenados por matarem seis ciganos

Um tribunal de Budapeste condenou hoje três homens a prisão perpétua e um quarto a 13 anos de prisão por envolvimento na morte de seis ciganos entre 2008 e 2009, noticia a AFP.

Quatro húngaros condenados por matarem seis ciganos
DR. Mundo. 11:59 - 06 de Agosto de 2013 | Por Lusa

Esta condenação surge numa altura em que se assinala o aniversário do Holocausto contra esta minoria étnica, ainda hoje muito estigmatizada no país.

Arpad Kiss, Istvan Kiss e Zsolt Peto foram condenados a prisão perpétua e Istvan Csontos a 13 anos de prisão.

Estes quatro húngaros, que na altura tinham entre 28 e 42 anos, realizaram entre julho de 2008 e agosto de 2009 nove ataques com granadas, espingardas e coqueteis Molotov, atos que resultaram em seis mortos e cinco feridos em diferentes aldeias do nordeste do país.

Os crimes foram particularmente cruéis, com uma criança de cinco anos e o pai abatidos quando tentavam fugir da sua casa em chamas e uma mulher assassinada enquanto dormia.

"Seis pessoas húngaras foram mortas simplesmente porque eram ciganas. Esta tragédia deve ficar viva na memória coletiva da nação, como todas as tragédias nacionais", disse o partido da oposição do antigo primeiro-ministro de centro esquerda Gordon Bajnai, o principal rival político do chefe do governo conservador Viktor Orban.

Os quatro suspeitos, todos membros do núcleo duro de apoiantes da equipa de futebol de Debrecen, grande cidade do leste do país, com inclinações neonazis, tinham todos contas a ajustar com ciganos e foi ao trocar as suas experiências num bar que a ideia de vingança surgiu, segundo o Ministério Público.

Detidos no fim de agosto de 2009, os três principais acusados declararam-se inocentes enquanto o último cúmplice, que servia de motorista, reconheceu ser culpado mas disse não ter participado nas mortes.

O Ministério Público tinha pedido prisão perpétua para os três principais acusados e uma pena de 20 anos para o quarto. O julgamento começou a 25 de março de 2011.

A sentença surge numa altura em que a Hungria assinala o Holocausto contra os ciganos. A 02 de agosto de 1944, os Nazis massacraram quase 3.000 ciganos no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, situado na Polônia.

Dois de agosto foi também o dia do último dos homicídios realizados pelo grupo agora condenado.

Os ciganos, cidadãos de etnia Roma, pobres e marginalizados, representam entre cinco e oito por cento (5,8 %) da população húngara, de 10 milhões de habitantes.

Fonte: AFP/Notícias ao Minuto/Lusa (Portugal)
http://www.noticiasaominuto.com/mundo/96296/quatro-h%C3%BAngaros-condenados-por-matarem-seis-ciganos

Ver mais:
Menina cigana queimada em ataque neonazista deixa o hospital
Aparece degolado um juiz tcheco que condenou neonazis (elcorreo.com, Espanha)

sábado, 6 de julho de 2013

Korkoro - Liberté - Freedom - Filme sobre o Holocausto cigano na França ocupada (Vichy)

Segue abaixo a descrição do filme Korkoro que foi lançado em 2009 na França como Liberté, pouco conhecido do público geral, que retrata a perseguição dos ciganos na França ocupada pelos nazistas pelo regime de Vichy (dos fascistas franceses colaboracionistas dos nazis). Uma indicação pra quem quiser saber mais sobre a perseguição dos ciganos pelo regime nazi e pelos colaboracionistas dos nazis pela Europa (em vários países houve colaboracionismo por parte dos regimes fascistas fantoches locais, com deportações e perseguições de minorias).
Korkoro ("Sozinho" na língua romani) é um filme francês de drama de 2009 escrito e dirigido por Tony Gatlif, estrelado pelos atores franceses Marc Lavoine, Marie-Josée Croze e James Thierrée. O elenco do filme foi formado por várias nacionalidades, com gente da Albânia, Kosovo, Geórgia, Sérvia, França, Noruega, e os nove ciganos que Gatlif encontrou na Transilvânia.

Baseado em uma anedota/conto sobre a Segunda Guerra Mundial escrita pelo historiador Romani (Cigano) Jacques Sigot (seu blog e website), o filme foi inspirado na verdadeira vida de um Romani que escapou dos nazistas com a ajuda de aldeões franceses, e mostra o assunto raramente retratado do Porrajmos (o Holocausto Cigano). [1] Além dos ciganos, o filme tem um personagem que representa a resistência francesa na pele de Yvette Lundy (o link direciona pra verdadeira Yvette Lundy e não a atriz do filme), uma professora de francês deportada por forjar os passaportes para os ciganos. Gatlif queria que o filme fosse um documentário, mas a falta de documentos de apoio fez com que ele apresentasse o filme como um drama.

O filme estreou no Festival de Filme Mundial de Montreal (Montréal World Film Festival), vencendo o Grande Prêmio das Américas, entre outros prêmios [2] Foi lançado na França como Liberté em fevereiro de 2010, onde arrecadou $ 601.252 dólares; e receitas provenientes da Bélgica e dos Estados Unidos levaram o total para $ 627.088 dólares. [3] A música do filme, composta por Tony Gatlif e Delphine Mantoulet, recebeu uma indicação na categoria de melhor música escrita para um filme no 36º César Awards.

Korkoro tem sido descrito como "uma rara homenagem cinematográfica" aos mortos no Porrajmos. [4] Em geral, o filme recebeu críticas positivas da crítica, incluindo elogios por ter um ritmo incomum vagaroso para um filme sobre o Holocausto. [5] Os críticos o consideraram como um dos melhores trabalhos do diretor, junto a Latcho Drom, o "mais acessível" de seus filmes. O filme tem o mérito em mostrar os Romanis (ciganos) de uma forma não-estereotipada, longe de suas representações clichês como músicos.
Trailer:


Link do filme completo no Youtube (sem legendas):
http://www.youtube.com/watch?v=wlTdGWDnl5U

domingo, 4 de novembro de 2012

Quem foi Joseph Mengele?

Algumas das imagens mais marcantes de Auschwitz são as terríveis cenas da chegada de transportes de judeus para aquele campo de concentração. Em meio ao caos e o desespero estava uma figura solitária em imaculados uniformes e luvas brancas impecáveis,  inspecionando os presos e acenando um de cada vez para um lado ou para o outro com o seu chicote. De um lado estava a fome, a brutalidade e a privação, mas também uma chance de sobrevivência. Do outro lado, a morte instantânea nas câmaras de gás. A figura assustadora que frequentemente tomava esta decisão, era Josef Mengele, um dos médicos designados para Auschwitz. Ele passou a simbolizar a maneira que a medicina tornou como uma ferramenta para o genocídio.

Mengele nasceu na Baviera, pouco antes da Primeira Guerra Mundial em uma família de classe média alta que tinha um negócio de máquinas e ferramentas. Foi um estudante promissor, foi enviado a Munique em 1920, onde ele foi atraído pelas teorias raciais de Alfred Rosenberg, o "filósofo" do nacional-socialismo. Como Mengele tornou-se um adepto da ideologia nacional-socialista, ele mudou-se para Frankfurt-am-Main, onde recebeu seu diploma de medicina estudando com Otmar von Verschuer, o diretor do Instituto de Higiene Racial na Universidade de Frankfurt. A ênfase principal de sua pesquisa foi a importância da hereditariedade no contexto de "ciência racial" nazista. No momento em que terminou seus estudos, Mengele era tanto membro do Partido Nacional-Socialista como das SS. Ele era um fanático anti-semita e odiava os Roma e Sinti (ciganos), muito além do que ele odiava os judeus.

No início da Segunda Guerra Mundial, Mengele estava engajado com a Waffen-SS. Ele serviu como médico em várias unidades na invasão da União Soviética, recebendo quatro medalhas por sua ação. Depois de ser ferido e declarado impróprio para o serviço ativo, Mengele foi nomeado para servir como médico em Auschwitz, em maio de 1943. Mengele não era o médico-chefe de Auschwitz - que foi Eduard Wirths - mas Mengele tinha seu próprio laboratório em um bloco, financiamento independente e uma equipe de médicos presos que ele supervisionava.

Mais do que qualquer outro médico da SS designado para Auschwitz, Mengele parecia confortável com o regime cruel e com o processo de assassinato no campo. Mengele foi designado - como foram os outros médicos de Auschwitz – para supervisionar as "escolhas" na chegada dos transportes. Essas seleções determinavam quais seriam enviados imediatamente para as câmaras de gás, e quem iria se tornar prisioneiro do campo. Ao contrário de vários dos outros médicos, no entanto, ele parecia glorificado com o poder que lhe deram. Mengele carregava um chicote com que ele indicava vida ou morte para os presos que chegavam. Ele sempre usou a cultura sobre os prisioneiros e há relatos de uso de sua pistola para matar prisioneiros desobedientes. Ao contrário dos outros médicos, Mengele frequentemente estava presente nas rampas de chegada, quando ele não estava programado, ele certificava que suas ordens sobre os gêmeos que seriam enviados para o seu "laboratório" fossem realizadas.

Mengele, de acordo com outros médicos que serviram em Auschwitz, estava totalmente de acordo com a brutal administração de Auschwitz. Ele acreditava claramente que os prisioneiros eram menos humanos e colocou em prática essa crença. Há vários casos conhecidos onde Mengele pessoalmente assassinou presos com sua pistola ou com injeções fatais de fenol. A medida em que ele desviou dos padrões éticos da medicina é ilustrada por seu tratamento às 600 mulheres doentes que encontrou no "hospital" em sua chegada à Auschwitz. Ele ordenou que todas elas fossem imediatamente enviadas para as câmaras de gás. Mas não foi apenas a sua administração do departamento médico de Auschwitz que mereceu sua inclusão como um dos piores criminosos de Auschwitz. Foram as experiências que ele realizou em infelizes presos indefesos.

A paixão que atraiu Mengele para as rampas de chegada era a sua "coleção" de gêmeos. Tal como o seu mentor, o Dr. Verschuer, Mengele acreditava que se pares de gêmeos sem defeitos hereditários fossem cuidadosamente analisados, ​​um pesquisador poderia sintetizar uma determinação completa e confiável da hereditariedade e da relação "entre a doença, tipos raciais, e miscigenação." Esta pesquisa foi entusiasticamente apoiada pelo Dr. Verschuer que arranjou ajuda financeira para Mengele receber por seu trabalho. Mengele continuou sua cuidadosa medição nos gêmeos mesmo depois da interrupção de outros experimentos em Auschwitz.

A “coleção” de gêmeos de Mengele ficava alojada em um bloco especial onde os outros médicos da prisão o ajudavam - incluía um radiologista, um antropólogo, e um patologista – que cuidadosamente mediam e analisavam ​​os gêmeos. Os arquivos foram cuidadosamente dispostos e o último documento, o relatório da dissecção da vítima, sempre no topo. Principalmente porque Mengele considerava sua "base de dados" de grande valor científico, os gêmeos foram muitas vezes mais bem tratados do que outros prisioneiros em Auschwitz. Mengele os protegia das atribuições de trabalho duras e garantia que eles tivessem refeições adequadas, mas não importa o quão bem eles foram tratados, nunca Mengele pensava neles como pessoas. Eles sempre foram apenas sujeitos de sua pesquisa. E o passo final era de que a investigação sempre era um exame post-mortem. Mengele não teve pudores sobre tudo pessoalmente matando gêmeos como a etapa final de sua pesquisa. Ele é conhecido por ter matado gêmeos apenas para resolver uma discussão sobre o diagnóstico com outro médico.

O interesse experimental de Mengele não se limitou aos gêmeos. Além de sua pesquisa sobre os gêmeos, Mengele mantinha uma "coleção" de anões e pessoas (especialmente os judeus) com anormalidades genéticas que ele encontrava nas rampas de chegada. Ele estava especialmente interessado em uma condição chamada "noma", que é uma condição gangrenosa do rosto e boca, devido à debilitação extrema. Embora seja claro que esta doença rara foi causada, em Auschwitz, pelas condições do campo, Mengele tentou encontrar causas raciais e genética para a doença.

A última área de experimentação que Mengele atuou foi sua tentativa de mudar a cor dos olhos. Estes experimentos foram inteiramente de natureza racial. Começando com um interesse em prisioneiros com olhos de cores diferentes e presos com cabelo loiro e olhos castanhos, Mengele começou a injetar vários produtos químicos nos olhos de seus súditos experimentais. Cientificamente, é claro, não existe possibilidade de que a injeção de azul de metileno, pode alterar a cor dos olhos. O resultado foi só dor e infecções. Muitas das crianças eventualmente recuperavam da injeção, mas conduziam à morte num caso e, em outro na cegueira.

Além de suas experiências, Mengele assiduamente recolhia "espécimes" para o Dr. Verschuer. Sete pares de gêmeos com cores de olhos diferentes, por exemplo, foram mortos com injeções de fenol e, após a dissecção, os olhos enviados para seu mentor. Em 1944, Verschuer, enviou para o Instituto de Antropologia Kaiser Wilhelm uma proposta de nova pesquisa no qual ele afirmou:

Meu assistente, o Dr. Mengele juntou-me nesse ramo de pesquisa. Ele atualmente é Hauptsturmführer e médico do campo de concentração de Auschwitz. Investigações antropológicas sobre os mais diversos grupos raciais deste campo de concentração estão sendo realizadas com a permissão do Reichsführer SS [Himmler], as amostras de sangue são enviadas para análise no meu laboratório.

Na verdade, houve um fluxo constante de tais espécimes com os olhos acima mencionados para o Dr. Verschuer.

Com o fim da guerra Mengele se tornou um fugitivo. Ele nunca trabalhou como médico de novo. Ele eventualmente fugiu para a América do Sul - provavelmente com a ajuda de sua família - onde viveu como um homem caçado. Em 1985, quando morava no Brasil, ele sofreu um acidente vascular cerebral ao nadar e se afogou. Sua obra, como os outros "experimentos" realizados por outros médicos em Auschwitz, morreu com ele. Suas anotações e arquivos sobre os gêmeos nunca foram encontrados e o que se sabe é que eram cientificamente e clinicamente inútil.

Por onde começar sua pesquisa

O livro mais completo sobre como Josef Mengele e outros médicos foram afetados pela filosofia nazista é:

Robert Jay Lifton, The Nazi Doctors, Basic Books (1986)

Narrativas pessoais por gêmeos que sobreviveram experimentos de Mengele estão em:

Benno Muller-Hill, Murderous Science, Oxford University Press (1988)

Disputas contemporâneas de bioética nas áreas de genética médica, experimentação humana e eutanásia são explicados em:

Arthur L. Caplan (Ed.), When Medicine Went Mad, Humana Press (1992)

Relatos pessoais de experiências médicas realizadas em Auschwitz:

Lore Shelley (Ed.), Criminal Experiments on Human Beings in Auschwitz & War Research Lab, Mellen Research (1991)
Lucette Lagnado, Children of the Flames, William Morrow (1991).
Duas memórias de prisioneiros que fisicamente trabalharam com o Dr. Mengele:

Miklos Nyisli, Auschwitz: A Doctor's Eyewitness Account, Arcade Paperbacks (1960)
Gisella Perl, I Was a Doctor in Auschwitz, I.U.P. (1948)

Um site mantido por vítimas de experimentos médicos em Auschwitz:



Fonte: The Holocaust History Project
Tradução: Leo Gott

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