domingo, 19 de junho de 2011

O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 2

A tarefa mais importante dos grupos regionais da AO era a Gleichschaltung (unificação forçada) dos alemães no exterior[15], quer dizer, assumir a direção das organizações da comunidade alemã que tinham reputação e dinheiro, e que podiam servir para propagar as ideias nacional-socialistas. Através do controle de escolas, jornais e asssociações, a AO tentava impedir a assimilação dos alemães à cultura dos países que os recebia e instrumentalizá-los para a difusão da ideologia nacional-socialista. No México, a AO não conseguiu seu objetivo sem problemas, pois surgiu um conflito de gerações, de classes e de poder. Os representantes estabelecidos da comunidade alemã, empresários exitosos, de classe alta, mais ou menos duas décadas mais velhos que os nazis, criticavam a juventude dos militantes, seu baixo status social e os poucos anos de residência no país, tudo com o qual, nos seus modos de ver, descalificava-lhes de assumir a liderança da comunidade. Ainda que acertados, estes argumentos eram mais um bom pretexto para não se subordinar às reivindicações do partido e não ceder seus postos em organizações que davam a essa elite um alto prestígio social e vantagens econômicas.

Assim, uma primeira tentativa do Gleichschaltung em 1933 fracassou. O partido pretendia tomar a Verband Deutscher Reichsangehdriger (Associação de Cidadãos do Reich) como base institucional para transformá-la numa organização que integraria toda a comunidade alemã, ou seja, também os mexicanos de origem alemã. Só a intervenção do representante diplomático, o ministro Rüdt v. Collenberg, ajudou o Landesgruppe a ter sucesso em seu objetivo. Rüdt esclareceu que um estreito vínculo com a pátria significava também a cooperação da AO. Com essa frase RÜdt deixou al descubierto un ponto central da ideologia nacional-socialista: ser alemão somente era possível como nazi. Apresentando a AO como representante oficial do Reich, o ministro implicitamente advertiu contra as consequências de insubordinação ao partido: a privação dos recursos do Reich para as associações, a interrupção da intervenção da Representação nos contatos com oficiais mexicanos, o boicote econômico e o isolamento social. Em janeiro de 1935, finalmente, fundou-se a Comunidade do Povo Alemão no México (Deutsche Volksgemeinschaft, DVM). Sob o controle de Wilhelm Wirtz e Artur Dietrich, que assumiram funções centrais, a DVM se converteu na maior organização alemã do México, com filiais em todo o país. A alusão de RÜdt venceu a resistência da comunidade alemã, de modo que muitos, e também alguns dos velhos adversários, uniram-se à DVM. Outros, sobretudo a direção anterior, abandonaram a DVM, protestando assim contra aa subversión nazista. Em 1936, a DVM já tinha 1665 membros, 798 dos quais viviam no interior. A alta porcentagem de membros no interior explica a fundação de filiais em povos onde até então não existiam associações alemãs: por exemplo em Chihuahua, onde 26 dos 30 alemães se tornaram membros. A esfera de ação mais importante da DVM, contudo, fez-se sentir na capital, onde, por exemplo, operava um serviço para alemães sem empleo ou necessitados, e se impartían cursos de alemão para mexicanos. Sua sede social era o lugar central para as festividades da comunidade alemã[16].

Além da DVM, outras associações estavam sob o controle do partido nazi. O respeitado Colégio Alemão na capital foi dirigido por um membro a partir de 1933. Friedrich W. Schróter descartou a orientação elitista predominante até esse momento e abriu a escola a crianças alemãs de todas as classes sociais. Com ele, propagaram-se ideias nacional-socialistas na enseñanza, e os judeus tiveram que abandonar a escola. Schróter teve muito êxito com esse programa dentro da comunidade alemã: o número de alunos duplicou entre 1936 e 1940, de 620 a 1259[17].

Outras instituições sob o controle do partido, ou com orientação nazista, eram a Juventude Hitlerista, com 245 membros, e a Associação de Professores Alemães Nacional-socialistas, que reuniam a 20 pessoas[18]. Estas cifras mostram que para uma valorização da AO no México não basta contar o número de militantes. Somando só os membros das associações aqui mencionadas, contam-se muito mais de 2000 pessoas. Ainda que nem todos seus membros tenham sido nazis empedernidos e alguns talvez tenham ingressado por oportunismo ou pela pressão da adaptação, isso indica que uma parte considerável da comunidade alemã no México, sobretudo na capital, foi exposta à propaganda e aos rituais do nacional-socialismo.

Um simples membro do NSDAP no México se movia no reduzido microcosmos da comunidade alemã, e seu contato com o povo mexicano se limitava ao imprescindível; as relações com os representantes do governo se reservavam para a Representação Alemã. A propagação de ideias nacional-socialistas no México, frequentemente, era tarefa de Artur Dietrich. Este, por exemplo, transmitiu material sobre judeus e sobre o comunismo à Ação Revolucionária Mexicanista, aos fascistas mexicanos, e convidou seu líder, Nicolás Rodríguez Carrasco, a intensificar a propaganda anticomunista e antissemita. Esta era a única ajda de que dispunha a ARM. Dietrich também aconselhou Rodríguez Carrasco a nomear um representante pessoal ante o Reich. Contudo, o governo alemão não prestou atenção ao representante durante uma visita que este efetuou à Alemanha, porque temia problemas com o governo mexicano, que nesse momento já havia proscrito a ARM.

Dietrich cultivou o contato com os fascistas sem intenção de lhes ajudar nem a organização do partido e nem a tomada do poder. Mas Más bien, a ARM era uma de tantos possíveis multiplicadores nacional-socialistas. Também jornais, como a 'La Prensa', receberam propaganda alemã. Dietrich inclusive fundou um diário - La Noticia -, no qual, contudo, só foi publicado por pouco tempo[19].

Uma olhada em outros países confirmará esta interpretação das relações entre nacional-socialistas alemães e fascistas. Somente no sul do Brasil existiram contatos cotidianos entre simples partidários do NSDAP e os fascistas brasileiros, a Ação Integralista Brasileira, devido ao fato de que ali descendentes de alemães, impressionados por Hitler haviam fundado as primeiras células fascistas, ou fascistas e nacional-socialistas, pertenciam aos mesmos grupos e tinham os mesmos inimigos: a elite política e econômica. Normalmente, contudo, os membros do partido solían ser de um nível alto ou médio, ou a quem, além de seu cargo dentro do partido, desempenharam uma função para o Ministério de Propaganda de Goebbels ou tuveram contato com os fascistas latinoamericanos[20]. Assim, seu interesse nos fascistas não era decisiva para a qualidade do membro da AO, senão a função local que desempenhavam para Goebbels.

Tampouco em outros países os representantes da AO/Goebbels apoiaram revoluções ou golpes de estado dos fascistas vernáculos. Ao contrário, empenhados em impedir a assimilação dos alemães, a AO contrastou com a política nacionalista dos fascistas que, por sua parte, queriam integrar os alemães na nação[21]. Por exemplo, quando o líder do Movimento Nacional-Socialista do Chile descobriu que membros de origem alemã rechaçavam a mistura de raças e exigiam aos alemães conservar seu sangue puro, expulsou-lhes do partido e publicamente criticou esta atitude que - segundo disse - desintegrava o país[22]. No Brasil, o fato de que muitos alemães pertenciam à Ação Integralista Brasileira não impediu de seus líderes atacar a resistência dos alemães em se assimilar[23]. Para a AO, frequentemente, um contato demasiado estreito com estes grupos, que no geral lutavam contra seus respectivos governos, podia pôr em perigo sua existência, fato que era muito presente aos líderes da AO na Alemanha[24].

Fonte: El NSDAP en México: historia y percepciones, 1931-1940
Autor: Jürgen Müller; Universitdt Kóln
Tradução: Roberto Lucena

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Observação: a princípio, o texto seria dividido em apenas duas partes, mas sendo muito extenso(poucas pessoas leem textos muito grandes) poderá ficar em quatro partes, podendo(ou não)futuramente ser fundido em apenas duas(como dito de início).

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