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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Quem traiu Anne Frank? Caso em aberto

Anne Frank (segunda a partir da esquerda), com suas
amigas, em 1939.
Uma equipe reabre a investigação a partir do achado de uma lista com os informantes dos nazis em Amsterdã.

Quem traiu Anne Frank e sua família e amigos judeus durante a Segunda Guerra Mundial? A pergunta foi feita durante décadas por múltiplos historiadores, escritores e jornalistas, mas ninguém conseguiu encontrar uma resposta fiável. Um agente jubilado do FBI se pôs agora no comando de uma equipe internacional de especialistas para buscar, usando técnicas policiais, novas pistas que permitam identificar o traidor.

O ex-agente Vince Pankoke, de 59 anos, está tratando de resolver a história pergunta e a mais frequente entre os visitantes do Museu Casa de Anne Frank em Amsterdã: a fonte que informou e permitiu os nazis descobrirem em 1944 o esconderijo dos Frank na rua Prinsengracht da capital holandesa.

As tentativas anteriores não chegaram a grandes resultados, mas esta equipe, composta por especialistas procedentes de diferentes partes do mundo, utiliza sua experiência, múltiplas técnicas usadas em casos frios e informação privilegiada de arquivos históricos de outros países para encontrar as respostas.

Na equipe de 19 pessoas figuram criminólogos, historiadores, jornalistas e informáticos, assim como um ex-chefe da unidade de Ciências do Comportamento do FBI, Roger Depue. A Holanda também se voltou para colaborar neste estudo, permitindo o acesso ao Arquivo Nacional dos Países Baixos, o instituto de guerra, os relatórios sobre o Holocausto e o genocídio, a prefeitura de Amsterdã etc.

Os investigadores estão fazendo uso de um novo software que pode organizar e analisar grandes quantidades de dados. A companhia Xomnia de Amsterdã, especializada no processamento de informação, está proporcionando suporte e inteligência artificial para a investigação.

"Há tanta informação disponível, de arquivos e velhas pesquisas, que para um ser humano é difícil de vincular e analisar, mas com bons programas de ordenador é possível fazer isso, pode-se analisar e fazer conexões", afirmou Pankoke, segundo a imprensa holandesa.

A ideia de iniciar este novo estudo veio do cineasta holandês Thijs Bayens e do jornalista Van Twisk. Ambos se reuniram com o ex-agente do FBI, que se aposentou no ano passado, para lhe pedir que dirigisse esta investigação na qual há também um ex-oficial da polícia holandesa.

Depois da segunda guerra mundial, os soldados estadounidenses reuniram toda a informação disponível e a enviaram para os Estados Unidos. Todos esses documentos estão num arquivo com o qual Pankoke passou horas nos últimos meses em busca de pistas. Entre outras questões, descobriu uma lista de informantes dos alemães em Amsterdã. "Os especialistas com os quais falei depois não sabiam da existência desta lista", assegurou.

Em 4 de agosto de 1944, depois de dois anos na clandestinidade escondidos num anexo da rua Prinsengracht, 263, de Amsterdã, Anne Frank foi presa junto com sua família. A traição parecia ser a única conclusão lógica que desembocou nesta detenção, mas a fonte segue sendo uma incógnita até os dias de hoje.

Quando Otto Frank regressou de Auschwitz, descobriu que era o único sobrevivente das oito pessoas que haviam se escondido em Prinsengracht. Sua esposa, Edith, suas duas filhas Margot e Anne, o dentista Fritz Pfeffer e os demais amigos judeus haviam morrido nos campos de concentração da Alemanha e Polônia.

Imediatamente depois da guerra, Otto iniciou uma investigação sobre a traição. O principal suspeito por isso até então era um dos trabalhadores do armazém, Wilhem van Maaren. Contudo, dois investigações, uma em 1947 e outra em 1963 lhe exoneraram de culpa por falta de provas.

Pankoke lançou uma página na web para recolher toda a informação útil que já apareceu nessas décadas para sua investigação. Durante os últimos 73 anos, várias pessoas tentaram resolver o mistério da traição, o que resultou em cerca de trinta suspeitos: um vizinho? um antigo empregado? uma faxineira? Pankoke está no caso.

Fonte: El Mundo (Espanha)
http://www.elmundo.es/cultura/2017/10/03/59d3441e268e3e46328b457d.html
Título original: "¿Quién traicionó a Ana Frank? Caso abierto"
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Hitler era astuto, não tanto hipnótico, diz nova biografia alemã (Peter Longerich)

BERLIM (Reuters) - Uma nova biografia de Hitler escrita por um proeminente historiador alemão deve gerar controvérsias com seu argumento de que a perspicácia política do líder nazista foi subestimada e de que a crença de seu domínio hipnótico sobre os alemães é inflado.

O livro "Hitler", de Peter Longerich, que será publicado na segunda-feira é um tomo de 1.295 páginas que inclui material sobre os diários do chefe de propaganda nazista Joseph Goebbels e os primeiros discursos de Hitler.

"De modo geral, você tem uma imagem de um ditador que controlou muito mais, que era mais envolvido de perto em decisões individuais do que se pensava anteriormente. Eu quis colocar Hitler como uma pessoa de volta ao centro", disse Longerich em entrevista à Reuters.

Trabalhos recentes sobre o Terceiro Reich têm colocado mais ênfase nos climas social e político que levaram à ascensão do nazismo após a derrota na Primeira Guerra Mundial e as demandas de reparação incapacitantes.

Logo após a Segunda Guerra Mundial, os alemães agarraram-se na crença de que eles foram mantidos reféns de uma gangue criminosa liderada pelo carismático Hitler, empenhada em conquistar a Europa e exterminar judeus.

Longerich, professor da Universidade de Londres, argumenta que enquanto todas as políticas de Hitler e os resultados foram catastróficos, ele agiu de maneira inteligente em situações específicas.

"A questão de porquê ele conseguiu chegar tão longe precisa ser abordada: Obviamente ele tinha habilidade para explorar situações individuais em seu interesse próprio e para seus objetivos próprios", disse ele.

Mesmo suas políticas raciais foram em grande parte devido a um oportunismo político, disse Longerich, que não acha que Hitler era radicalmente anti-semita na sua juventude.

"Nos anos de 1919-1920 ele percebeu que poderia ser bem sucedido em política ao abraçar e incitar o antissemitismo", disse, acrescentando que isso virou elemento central apenas em 1930.

A habilidade de Hitler de tomar o poder é ainda mais impressionante dado que o estudante de arte nascido na Áustria era um "ninguém" sem ideologia até seus 30 anos. Apenas então, recusando-se a aceitar a derrota da Alemanha, ele foi levado ao recém-criado Partido Nazista.

Longerich também busca desmascarar a teoria de que Hitler tinha um carisma irresistível que cativou os alemães, argumentando que ela foi em grande parte construída artificialmente pela máquina de propaganda nazista, que bombardeou imagens de fãs extasiados em comícios.

O autor não exonera os alemães, dizendo que grande parte da população apoiou Hitler enquanto outros foram oportunistas em segui-lo, mas argumenta que havia uma tensão social e um descontentamento, por exemplo dentro da Igreja.

"Não seria lógico pensar que um país profundamente dividido como a Alemanha de repente se uniu por trás de uma pessoa e compartilhava de uma única visão política", disse Longerich.

Setenta anos após sua morte, as atitudes dos alemães em relação a Hitler ainda estão evoluindo, disse Longerich.

"Eu não acho que há qualquer entusiasmo por Hitler, mas estamos vendo tabus sendo quebrados", afirmou ele, citando filmes recentes sobre o ditador e um debate sobre a publicação "Minha Luta".

Com um crescimento de temores sobre o radicalismo de direita na Alemanha, por conta da crise dos refugiados, ele alerta que com uma atmosfera política "mais dura", "o potencial de uma figura política singular é um fator que não deve ser subestimado".

(Por Madeline Chambers)
sábado, 7 de novembro de 2015 11:01 BRST

Fonte: Reuters Brasil
http://br.reuters.com/article/entertainmentNews/idBRKCN0SW0GH20151107
Hitler was shrewd, not so hypnotic, new German biography says (Reuters, EUA)

terça-feira, 21 de julho de 2015

Novas fotos de Eduardo VIII a fazer saudação nazi surgem em público

Depois das imagens de Elizabeth II* com sete anos a fazer o que parece ser a saudação nazi, é a vez do seu tio Eduardo VIII, conhecido simpatizante de Hitler, surgirem em pública, mas para um leilão.

A polêmica em torno das imagens da família real britânica a fazer gestos nazis continua no Reino Unido. Desta vez, é o Telegraph que publica imagens do tio de Elizabeth II, Eduardo VIII, a fazer a saudação nazi numa visita à Alemanha em 1937.


A ‘simpatia’ de Eduardo VIII pelo regime alemão está longe de ser um segredo, mas a divulgação das imagens não vem numa boa altura, depois de o The Sun ter publicado imagens da rainha Elizabeth II em 1933, então com apenas sete anos, a fazer a saudação nazi nos jardins reais.

Nas fotos, que foram colocadas em leilão, o então Duque de Windsor surge a fazer rodeado de responsáveis nazis de uniforme, alguns com uma braçadeira com a cruz suástica, numa visita a uma mina alemã. A visita não era oficial, e tinha a objeção do Governo britânico.

Eduardo VIII chegou a conhecer, juntamente com a sua mulher, Adolf Hitler.


A altura em que as fotos surgem é apenas uma coincidência, garante a casa de leilões que irá proceder à sua venda. “É pura coincidência. Aconteceu ser na mesma altura que a outra história saiu”, diz um responsável da Morgan Evans.

Mas a história continua a fazer correr muita tinta no Reino Unido, com algumas histórias que já eram conhecidas a ressurgirem, em grande parte numa tentativa de explicar o que se sabia na época.


No blogue de política do jornal britânico Guardian, Michael White, diretor adjunto do jornal, lembra que em meados da década de 30 não era só a realeza e os políticos que achavam que valia a pena ser amigo de Adolf Hitler.

Entre outros casos que são recuperados, o Guardian lembra o caso da seleção de futebol inglesa em 1938, quando foi a Berlim jogar contra a sua homóloga germânica. A foto é conhecida, mas ajuda a ilustrar a época, com toda a seleção a fazer a saudação nazi no início do jogo.


Fonre: Observador (Portugal)
http://observador.pt/2015/07/21/novas-fotos-de-eduardo-viii-a-fazer-saudacao-nazi-surgem-em-publico/

*Observação sobre grafia: eu irei publicar mais outro post sobre isso então colocarei a explicação no outro. Mas onde há "Elizabeth II", no jornal/site (que é de Portugal) há a grafia da rainha da Inglaterra como "Isabel II". Mas como ninguém no Brasil a conhece mais por esse nome, eu alterei a grafia. Fica o aviso a quem for ler, e coloco no outro post o "porquê" disso, pois o certo seria escrever Isabel II mesmo, e o Brasil escrevia assim e "alterou". Fica estranho a grafia de Edward VIII ser mantida como Eduardo VIII e a de Elizabeth II sem alteração pra Isabel II como era antes. Neste aviso estou me dirigindo ao público brasileiro, mas como o blog alcança vários países (incluindo os de língua portuguesa, obviamente), caso alguém tenha curiosidade no assunto, fica o alerta.

Na Espanha também se grafa Isabel II, não deixam o nome grafado em inglês.

Mas pruma imprensa (como a do Brasil) que fala "tá calor" (perdi as contas de quantas vezes ouvi isso em TV, verbo de ligação "estar" pede adjetivo, no caso seria "quente", pois "calor" é substantivo), conjuga verbo com "mim", o "fazem anos" (em vez do "faz anos"), e agora deu pra usar a expressão "risco de morte" no lugar da tradicional "risco de vida" (apesar das duas estarem corretas, mas sempre se usou "risco de vida") por cretinice e modismo (essa eu lembro quando começou, foi modismo da Rede Globo, a 'onipotente'), tudo é possível. Tudo isso são regras básicas que se aprendem (teoricamente) em colégio, não há nada de "sofisticado" nessas expressões pra se justificar tanto erro.

sábado, 23 de maio de 2015

O espanhol que se dizia sobrevivente do Holocausto, mas foi desmascarado

Enric Marco nunca lutou contra o fascismo; pelo contrário, ele se inscreveu
como trabalhador voluntário na Alemanha nazista
Dos 7.532 espanhóis mantidos no campo de concentração nazista de Mauthausen (Áustria), só 2.335 sobreviveram.

Nesta terça-feira, completam-se 70 anos da liberação desses sobreviventes, uma data particularmente especial para a Espanha. Foi ali que terminaram a maioria dos 9 mil espanhóis deportados.

No entanto, a memória deles correu o risco de ser distorcida. Tudo devido a um impostor, Enric Marco, que até dez anos atrás foi presidente da principal associação de vítimas do nazismo na Espanha, a Amical Mauthausen.
Discurso de impacto

O historiador madrilenho Benito Bermejo, especialista em deportados da Espanha, interessou-se por Marco depois de conhecê-lo em uma conferência em 2002 – e achou a história dele muito intrigante.

Enric Marco contava que havia sido preso em Flossenbuerg, um campo de concentração na Baviera (Alemanha) e um destino atípico para um deportado espanhol.

Bermejo leu tudo o que pôde encontrar sobre o passado de Marco, a partir da versão deste - de que havia sido um anarquista obrigado a fugir de Barcelona, sua cidade natal, para a França no fim da Guerra Civil Espanhola (1936-39).

"Eu estava curioso, interessado em descobrir mais, mas logo fiquei perplexo", conta Bermejo à BBC.

"A versão de Marco para os acontecimentos mudava a cada vez que ele contava. Tanto sobre o campo de concentração quanto sobre como havia chegado ali."

Benito Bermejo também achou misterioso que nas poucas ocasiões que conseguiu falar com Marco cara a cara, ele se recusou a contar suas experiências na Alemanha nazista.

Enric Marco tem 94 anos e não se arrepende de ter mentido sobre sua presença no campo de concentração
Como presidente da Amical Mauthausen, Marco mostrou uma predileção por discursos de grande impacto, cheios de detalhes horríveis de sua suposta vida em Flossenbuerg.

Deixou vários deputados chorando ao se dirigir a eles no Dia Internacional da Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto, em janeiro de 2005.

Desmascarado

Buscando no arquivo do Ministério das Relações Exteriores, o historiador encontrou uma solicitação oficial do comando do Exército na Catalunha para obter informações sobre o paradeiro de Marco, já que ele não havia se apresentado para o serviço militar obrigatório em 1943.

O ministério respondeu que Marco era empregado de um estaleiro naval de Deutsche Werke, em Kiel, no norte da Alemanha.

Longe da luta contra o fascismo, Marco na verdade fez parte dos 20 mil espanhóis que trabalhavam para o Terceiro Reich sob um acordo de 1941 entre o general espanhol Francisco Franco e Adolf Hitler.

"Quando soube que Marco não foi deportado, e sim que foi à Alemanha voluntariamente, vi que algo muito estranho estava acontecendo", disse Bermejo.

Mas ele ainda tinha dúvidas quanto um possível engano de Marco, já que alguns trabalhadores voluntários que tiveram problemas com o regime nazista terminaram em campos de concentração.

Durante meses, o historiador buscou uma explicação de Marco.

Descobriu que Marco fora preso brevemente em Kiel, mas nunca foi condenado, e muito menos enviado a um campo de concentração.

Logo, durante o evento para comemorar o 60º aniversário da liberação do campo de Mauthausen, ele enviou um relatório sobre o caso ao escritório do governo espanhol e à associação Amical. E esperou.

"O que mais eu poderia fazer? Decidi que ir a público com o que eu sabia seria uma espécie de declaração de guerra e algo muito controverso naquele momento."

A caminho da Áustria, um dia antes da cerimônia de Mauthausen, Bermejo leu na imprensa que Marco havia tido que voltar à Barcelona por estar "indisposto". A farsa havia acabado.

O livro O Impostor, do escritor Javier Cercas, escrito com a colaboração de Marco, sugere que o próprio Marco foi confrontado por seus colegas da Amical a respeito das conclusões de Bermejo e confessou ter sido um voluntário do Terceiro Reich.

Perto do desastre

Marco finalmente admitiu abertamente que nunca havia estado em um campo de concentração. Passou a argumentar que foi preso brevemente "sob acusação de conspiração contra o Terceiro Reich" mas nunca foi liberado pelas tropas aliadas - como contava anteriormente - em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial.

Aos 94 anos, não se arrependeu publicamente da mentira que contou por três décadas, alegando que o objetivo era manter viva a memória das vítimas espanholas de Hitler.

Marco ia participar de Comemoração oficial com o então premiê Zapatero (à dir.), mas acabou desmascarado
"Quem teria me escutado se eu não tivesse encarnado esse personagem?", disse recentemente.

"É assustador pensar que se eu não o tivesse conhecido, as coisas poderiam ter sido muito diferentes", afirmou Bermejo.

Para José Marfil, também de 94 anos e um dos poucos sobreviventes espanhós reais do campo de Mauthausen, a luta para manter as memórias do local vivas deve continuar.

"Temos que fazer tudo o que for possível para manter a memória da existência desses campos de concentração viva para as pessoas, já que nós sobreviventes vamos desaparecer."

James Badcock, De Madri para a BBC
5 maio 2015

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150505_espanhol_nazista_rm
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Observação: curioso que nos sites "revisionistas" (ao menos os lusófonos) esta matéria não tenha sido citada como "prova" da "não existência" do Holocausto (como eles costumam alegar) com o alarde de costume. Matéria recente, do mês de maio.

Críticas à parte ao já habitual 'mantra' "revi", a matéria destaca a importância dos pesquisadores que desbancaram essa fraude antes que os ditos negacionistas usassem o caso pra fazer o alarde habitual deles ignorando que, num evento deste porte, com a quantidade de pessoas envolvidas, pode haver impostores como o da matéria e outros casos recentes, por exemplo:
Caso Misha Defonseca. Mulher que inventou memórias do Holocausto condenada a devolver mais de 22 milhões de dólares
Livro que conta história falsa sobre o Holocausto causa polêmica nos EUA (Caso Herman Rosenblat)

Só que casos como este têm sido coisas pontuais, mas na narrativa negacionista o que é pontual vira "regra" em vez de exceção, pois a agenda política deles está acima do evento em si. Todos os três casos citados foram descobertos e denunciados.

Por essas e outras que vale a repetição do dito popular de que "de boas intenções o inferno está cheio", pois pessoas com supostas boas intenções (pelo menos alguns alegam) podem agir de má fé e provocar prejuízos.

Esses casos acima sempre me faz lembrar daquele pessoal "bem intencionado" (na visão deles, que ignoram totalmente o que os outros comentam ou criticam), misturando a questão de Israel com essa questão da segunda guerra, causam ao irem provocar "revisionistas" com discurso moralista achando, tolamente, que irão mudar a visão de mundo dos negacionistas sem entender o quão são arraigadas essas crenças obscuras nos "revis", ignorando a agenda fascista (na acepção do termo) por detrás do discurso.

domingo, 29 de março de 2015

Werner Heyde. A psiquiatria nos campos de concentração, os Totenkopf e a Aktion T4

Werner Heyde figura nos livros de história do III Reich por dois motivos. Nas histórias militares, ou das SS, é o jovem psiquiatra que sanou as dúvidas de Himmler sobre a cordura (tolerância) e sanidade de de Theodor Eicke. A raíz de seus relatórios, Eicke deixou de estar recluso em uma clínica psiquiátrica, para ser nomeado comandante do maior campo de concentração (KZ) da Alemanha, Dachau, a partir de junho de 1933.

A partir daí, Eicke desenvolveu uma singular carreira como organizador de todo o sistema de campos de concentração do III Reich, previu o assassinato de Ernst Röhm na chamada Noite dos longos punhais. Em 1940, abandonou essas responsabilidades para liderar uma divisão com o pessoal de seus campos. Terminou morrendo no front, quando seu Storch foi derrubado em 26 de fevereiro de 1943. Talvez devido a essa morte prematura, todo o pessoal dos KZ, nos julgamentos pós-guerra, atribuíram a sua formação, a crueldade e dureza do sistema. Eles só seguiam as ordens de Eicke. Nada além disso.

Mas regressemos a Werner Heyde.

Werner Heyde ingressa no NSDAP em 01-05-1933 pela recomendação de Eicke, e participou no desenho e na realização prática dos programas de esterilização e eugenia. Começou trabalhando dois dias na semana nas SS-Totenkopfverbände, como chefe das unidades psiquiátricas dos KZ, ao mesmo tempo que era professor associado da Universidade de Würzburg. SS-Hauptsturmführer (capitão) em 1936, de 1939 a dezembro de 1941 foi o diretor médico da Aktion T4. A Aktion T4 consistiu em matar, segundo suas próprias cifras, a 70.273 doentes mentais alemães entre 1939 e 1941, sem incluir outras mortes e seleções no KZ. Heyde também trabalhou nas esterilizações forçadas.

Heyde perdeu seu cargo a frente da T4 ao ser acusado pelo SD de atividades homossexuais, que pelo visto reconheceu, alegando traumas infantis. Himmler considerou que era valioso demais para as SS e não o expulsou da organização. Tendo em conta seu enfoque prático nessas questões, sem dúvida pesou a favor de Heyde o fato de que estava casado desde 1927, de forma que sua homossexualidade não o impedia de ter filhos para o Reich. Heyde chegou a SS-Obersturmbannführer (tenente coronel), e no pós-guerra seguiu trabalhando como médico e perito judicial sob nome falso. Descoberto e acusado, suicidou-se na prisão de Butzbach em 13-02-1964.

Bibliografia:

Michael Burleigh: Death and Deliverance. Euthanasia in Germany 1900-1945. Pan Books, Londres 2002, pg. 116-120. (1º ed. 1994 Cambridge University Press).

French MacLean: The Camp Men, Schiffer Militay History, Atglen, PA, 1999. Pg. 108.

Verbete da Wikipedia alemã (a Wikipedia inglesa, consultada em 16-02-15 contém muitos erros).


Werner Heyde no momento de sua detenção em 1959. Fonte: http://historyofmentalhealth.com/

Fonte: blog Antirrevisionismo (Espanha)
Título original: Werner Heyde. La psiquiatría en los campos de concentración, los Totenkopf y la Aktion T4
https://antirrevisionismo.wordpress.com/2015/02/16/werner-heyde-la-psiquiatria-en-los-campos-de-concentracion-los-totenkopf-y-la-aktion-t4/
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Manter ou não manter o resort turístico de Hitler, eis a questão

Colosso de Prora. Manter ou não manter o resort turístico de Hitler, eis a questão. 22/12/2014, 16:24

O que está a perturbar a sociedade alemã não é só o aproveitar financeiramente um marco nazi. Alguns argumentam que esta reconstrução é, de alguma forma, o cumprir das ambições iniciais de Hitler.


Delirante é um adjetivo apropriado para descrever Adolf Hitler. Ainda antes do início da Segunda Guerra Mundial, o Fuhrer alemão incumbiu um tenente da sua confiança de criar o resort turístico ideal para a população da nação nacional-socialista. Nasceu o Complexo de Prora, um resort turístico com mais de 10.000 quartos numa ilha do mar báltico. Porém, com a guerra, nunca chegou a ser totalmente construído. Hoje, 2014, continua envolvido em polêmica, uma vez que já estão em marcha obras para o transformar num resort moderno, conta o jornal norte-americano Washington Post.

O primeiro dilema com este espaço surgiu em 2011, quando foi autorizada a abertura de um hostel para jovens num dos edifícios que faz parte do complexo. Mas agora a situação está ainda mais complicada.

O complexo batizado de Colosso de Prora está a gerar debate na sociedade alemã sobre a mercantilização do espaço contra a “Vergangenheitsbewältigung”, termo alemão para como o país deve lidar com o seu passado negro.

Edifícios com seis andares, todos iguais, ao longo de mais três quilômetros foram construídos antes do início da Segunda Guerra Mundial. Porém, em tempos de guerra o turismo não foi prioridade para Hitler. O espaço foi adaptado num campo de treino e habitação para os soldados alemães.

Hoje, um grupo de investidores está a fazer o que os nazis nunca conseguiram: transformar o local num complexo turístico. Grande parte dos edifícios está a ser reaproveitada e reconstruída. Onde até agora estão edifícios memória do Terceiro Reich, vão aparecer condomínios de luxo, um hotel de cinco estrelas e um spa.

A fachada de alguns dos blocos está a ser alterada, eliminado a natureza austera da arquitetura durante o Terceiro Reich e o seu caráter militar, escreve o Washington Post.

O que está a perturbar a sociedade alemã não é só o aproveitar financeiramente um marco nazi. Alguns argumentam que esta renovação e reconstrução é, de alguma forma, o cumprir das ambições iniciais do governo nacional-socialista.

Na publicidade ao complexo, um dos construtores descreve o projeto original como um “monumento mundialmente famoso” e que nos seus dias foi reconhecido com um feito arquitetônico. Supostamente, o design do complexo foi escolhido pelo próprio Adolf Hitler, conta o Washington Post.

“Estes não são edifícios inofensivos”, afirmou Jürgen Rostock, cofundador do Centro de Documentação de Prora, em declarações ao Washington Post. “O propósito original do Hitler era a construção de [um resort] em preparação da guerra que estava para vir. Esta forma de lidar com este edifício trivializa-o e afirma o regime Nazi”.

Mas ainda existem mais problemas. O centro de documentação de Prora, responsável por explicar o programa Strength Through Joy pode vir a ser mudado relocado para outra localização, na periferia do complexo.

Após a Segunda Guerra Mundial, muitas das estruturas nazi foram preservadas como testamento do regime inumano, ao mesmo tempo que outros foram transformados em escritórios. O estádio de Berlim, construído para os jogos Olímpicos de Hitler em 1936, é hoje a casa do clube de Futebol do Hertha de Berlim. O edifício Detlev-Rohwedder-Haus, a sede do ministério da Aviação de Hermann Göring, alberga agora uma filial do Ministério das Finanças, lembra o jornal norte-americano.

Fonte: Observador (Portugal)
http://observador.pt/2014/12/22/manter-ou-nao-manter-o-resort-turistico-de-hitler-eis-questao/

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Os filósofos de Hitler: os pensadores antes e depois do Holocausto

De Kant a Nietzsche, de Alfred Bäumler a Kurt Huber, de Theodor Adorno a Walter Benjamin, todos esses filósofos debateram em torno das mesmas ideias que foram utilizadas pelo ditador alemão em seus propósitos. Um livro da pesquisadora Yvonne Sherratt aporta chaves no assunto.

O tema é espinhoso e escreveram não poucos livros a respeito. Qual foi o papel de determinados pensadores e filósofos no nazismo. Já em 1953, Habermas escreveu Heidegger contra Heidegger, um texto onde reprovava o filósofo – então seu professor - por ter negado sua corresponsabilidade na ascensão de Hitler. O tempo passa e as perguntas parecem seguir sendo as mesmas.

Assim demonstra a professora da Universidade de Oxford, Yvonne Sherratt, no livro 'Los filósofos de Hitler' (Os filósofos de Hitler), publicado originalmente pela Yale University Press e que agora chega à Espanha editado pela Cátedra. O livro faz um passeio pelos pensadores ao redor do nazismo antes, durante e depois do Holocausto. Incluem-se as influências involuntárias, os colaboradores e os adversários. "Os filósofos eram celebridades. O que eles fizeram, como atuaram e que ideias promoveram, exerceu uma poderosa influência no imaginário alemão", escreve Sherratt.


É bem conhecida a adoração que Hitler professou por Nietzsche e que também simpatizou com as interpretações de Darwin favoráveis a sua causa. Encontrou fios de antissemitismo e utilizou a ideia de raça, a força e a guerra para legitimar seu projeto. Assim assegura a autora: "Hitler teve o sonho de governar o mundo, não só pela força, também com suas ideias. Via-se a si mesmo como um filósofo líder e surpreendentemente ganhou o apoio de muitos intelectuais de seu tempo".

Neste livro, Yvonne Sherratt explora não só a relação de Hitler com os filósofos senão que escava na crueldade, na ambição, na violência e traição que brotou aí onde menos se esperava, "no coração da torre de marfim da Alemanha". Por que teve a colaboração de filósofos como Schmitt, redator da constituição legal dos nazis, ou do mesmo Heidegger?

Sherratt planta várias hipóteses. Provavelmente viram ali a oportunidade de ascensão dentro das universidades alemãs. Mas, quais foram suas histórias e por que aderiram o racismo e a guerra? Para responder essas perguntas, a autora mergulha em distintos arquivos e consegue inclusive provas que demonstram como, na década de 1920, Hitler coloca a mão em pensadores nobres do passado, incluindo Kant, Nietzsche e Darwin, para a formação de seu corpo de leitura.

Nos filósofos de Hitler, Yvonne Sherratt revela como os pensadores da década de 1930 foram entusiastas colaboradores do regime nazi e se prestaram para aportá-lo num manto de respeito: de Martin Heidegger ou Carl Schmitt até opositores como Kurt Huber, junto a muitos outros perseguidos ou assassinados, como foi o caso de Theodor Adorno e Hannah Arendt, que se viram obrigados a fugir como refugiados. O livro relata seus destinos, que se dispersaram pelo mundo. Conclui com os julgamentos de Nuremberg, examinando se alguns filósofos foram julgados e se as universidades alemãs foram purgadas/limpas de nazis depois de 1945.

Karina Sainz Borgo

Fonte: Vozpopuli (Espanha)
http://vozpopuli.com/ocio-y-cultura/54257-los-filosofos-de-hitler-los-pensadores-antes-y-despues-del-holocausto
Título original: Los filósofos de Hitler: los pensadores antes y después del Holocausto
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

As autópsias de Hadamar

Eu indico aos leitores esta excelente tese de Madeline Schlesinger, que mostra de forma conclusiva porque as autópsias realizadas pelo Major Bolker em Hadamar provaram que os pacientes não morreram de tuberculose, e também observa o fato fundamental de que Hadamar não tinha meios para diagnosticar e tratar a doença, tais como máquinas de raios-X e medicamentos adequados (pág. 19). As mortes foram consistentes com os envenenamentos descritos pelos réus (pág. 44) e os frascos de morfina encontrados no local (pág. 35). Além disso, o documento cita (em pág.40) a declaração de Wahlmann sugerindo que 200.000 eram o alvo inicial de morticínio do programa T4, implicando num cálculo de 80.000.000 x 0,004 x 0,625.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2014/09/hadamar-autopsies.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: Hadamar Autopsies
Tradução: Roberto Lucena

Leitura adicional:
"Euthanasia" crime in Hadamar (Site da Universidade de Minnesota)
Hadamar Euthanasia Centre (Wikipedia em inglês)
Tötungsanstalt Hadamar (Wikipedia em alemão)

Checar as referências no final dos verbetes.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

O Bund norte-americano. O fracasso do nazismo norte-americano (a quinta coluna)

O Bund (União) Norte-americano. O fracasso do nazismo norte-americano: a tentativa do Bund teuto-norte-americano de criar uma quinta coluna" estadunidense

Por Jim Bredemus

Muitos norte-americanos temiam a presença de uma "Quinta Colina" alemã antes da Segunda Guerra Mundial. No caso do desorganizado e mal conduzido Bund norte-americano, mas a maioria desses medos acabaram por se mostrar injustificados.

Após a ascensão de Hitler ao poder em 1933, alguns norte-americanos descendentes de alemães formaram grupos de apoio ao partido nazista na Alemanha, na tentativa de influenciar a política norte-americana. O mais famoso desses grupos foi o "Bund teuto-norte-americano", que tentou se modelar como um braço norte-americano do Terceiro Reich de Hitler. Embora estes grupos usassem uniformes e ostentassem suásticas, na realidade, eles tinham poucos laços com a Alemanha nazista e o apoio recebido entre a grande comunidade teuto-norte-americana foi mínimo. No entanto, o grupo promoveu fortemente o ódio aos judeus e se esforçou para trazer o fascismo de estilo nazista para os Estados Unidos.

O suporte inicial para as organizações fascistas norte-americanos veio da Alemanha. Em maio de 1933 o Vice-Führer nazista Rudolf Hess deu autoridade ao imigrante alemão Heinz Spanknobel para criar uma organização nazista norte-americana. Pouco tempo depois, os "Friends of New Germany" (Amigos da Nova Alemanha) foi criada com a ajuda do cônsul alemão em Nova York. A organização tinha sede em Nova York, mas teve uma forte presença em Chicago.

A organização liderada por Spanknobel era abertamente pró-nazista, e engajada em atividades como atacar o jornal em idioma alemão New Yorker Staats-Zeitung com a demanda de que artigos simpáticos aos nazistas fossem publicados, e também na infiltração de outras organizações teuto-norte-americanas não-políticas. Spanknobel foi deposto como líder e posteriormente deportado em outubro de 1933, quando se descobriu que ele não tinha conseguido se registrar como um agente estrangeiro.

(Foto) Supostamente 22.000 apoiadores nazistas participaram de um comício do Bund norte-americano no Madison Square Garden, em Nova York, em fevereiro de 1939, sob a guarda da polícia. Manifestantes protestaram em frente (acima, à direita). Um desfile do Bund norte-americano pelo distrito de Yorkville, em Nova York, no Upper East Side de Manhattan (abaixo) atraiu ambos, os partidários e os manifestantes - e a imprensa.

A organização existiu em meados dos anos de 1930, embora sempre se manteve pequena, com uma adesão entre 5.000-10.000. Principalmente os cidadãos alemães vivendo nos EUA e emigrantes alemães que só recentemente haviam se tornado cidadãos compunham suas fileiras. A própria organização ocupava-se com ataques verbais contra judeus, comunistas e ao Tratado de Versalhes. Até 1935, a organização foi abertamente apoiada pelo Terceiro Reich, embora as autoridades nazistas logo perceberam que a organização estava fazendo mais mal do que bem a imagem dos nazistas nos Estados Unidos e em dezembro de 1935 Hess ordenou que todos os cidadãos alemães deixassem a "Friends of New Germany" (Amigos da Nova Alemanha); além disso, todos os líderes do grupo foram chamados para a Alemanha.

Não muito tempo depois dos "Friends of New Germany" (Amigos da Nova Alemanha) caírem em desgraçado por conta dos nazis e ser desmontada, uma nova organização com objetivos semelhantes surgiu no seu lugar. Formada em março de 1936 em Buffalo/Nova York e se autodenominando "German-American Bund" (Bund teuto-norte-americano) ou Amerikadeutscher Volksbund, esta organização escolheu Fritz Kuhn como seu Bundesleiter.

Como nativo de Munique, Kuhn lutou no exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Depois de receber uma educação em engenharia química, Kuhn brevemente trabalhou no México antes de vir para os Estados Unidos e, em 1934, adquiriu a cidadania norte-americana. Kuhn foi inicialmente eficaz como líder e foi capaz de unir a organização e expandir seus membros.

Kuhn era a figura perfeita para a organização. A fachada de suásticas e "Sieg Heil" prevaleceu, mas na realidade Kuhn viria a se tornar visto simplesmente como um vigarista incompetente e mentiroso que dominava pobremente o inglês; até mesmo os nazistas tinham vergonha dele. O embaixador alemão Hans Dieckhoff o chamou de "estúpido, barulhento e grotesco".

A organização foi logo preenchida com aqueles que se autodenominaram de "Germans in America" (Alemães nos EUA) e sonhavam com o dia que o nazismo governasse os Estados Unidos. Apesar de terem sido instruídos a não aceitar cidadãos alemães em sua organização, eles não quiseram desligar todos os interessados e muitos imigrantes que haviam entrado. Estima-se que cerca de 25% dos membros do Bund eram cidadãos alemães - o restante era em sua maioria descendentes de primeira ou segunda geração de alemães. A pesquisa indica que a maioria dos membros do Bund eram de origem de classe média-baixa.

O Bund logo começou a realizar comícios cheios de suásticas, saudações nazistas e o canto de canções alemãs. O Bund criou acampamentos recreativos como o Campo Siegfried, em Nova York e em Camp Nordland, Nova Jersey. Também estabeleceu o acampamento Hindenburg em Wisconsin e o grupo reunia-se com frequência em Milwaukee e em cervejarias de Chicago.

O Bund criou uma versão norte-americana da Juventude Hitlerista em que crianças são educadas na língua alemã, com história alemã e filosofia nazista. Embora esta organização tentou se diferenciar da previamente vencida "Friends of New Germany" (Amigos da Nova Alemanha), o Ministério das Relações Exteriores alemão comentou que "Na realidade ... eles são as mesmas pessoas, com os mesmos princípios e a mesma aparência".

A organização impetuosamente promoveu o mesmo antissemitismo do Terceiro Reich: ele distribuiu panfletos "arianos" do lado de fora dos estabelecimentos de propriedade de judeus e fazendo uma campanha na eleição presidencial de 1936 contra Franklin Delano Roosevelt, que era acusado por eles de ser parte da "conspiração" judeu-bolchevique. O Bund mesmo gerou vários incidentes de violência contra judeus-americanos e empresas de propriedade de judeus. Numa pesquisa de opinião feita no final dos anos de 1930 rotulavam Fritz Kuhn como o líder antissemita nos EUA.

Em 1936, Kuhn e alguns de seus seguidores viajaram à Berlim para participar dos Jogos Olímpicos de Verão de 1936. Durante sua visita, Kuhn foi convidado para ir à chancelaria do Reich e ter sua foto tirada com o Führer. Isso dificilmente significava um endosso de Hitler, que fez muitas fotos cerimoniais no espírito dos Jogos Olímpicos, mas para Kuhn isto simbolizou seu batismo como Bundesführer dos Estados Unidos.

O Bund começou a atrair a atenção do governo federal no verão de 1937, com os rumores de que Kuhn tinha 200.000 homens prontos a pegar em armas. Durante este verão uma investigação do FBI sobre esta organização foi realizada, mas nenhuma evidência de irregularidade foi encontrada. Mais tarde, em 1938, Martin Dies, do Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara descontroladamente proclamou que Kuhn tinha 480.000 seguidores. Registros mais precisos mostram que no auge do seu poder, em 1938, Kuhn tinha apenas 8.500 membros e outros 5.000 "simpatizantes".

Foi neste momento que o embaixador alemão para os Estados Unidos Hans Heinrich Dieckhoff começou a expressar sua desaprovação e as preocupações com o Bund. Dieckhoff escreveu aos funcionários em Berlim que o Bund nunca teria sucesso nos EUA porque nenhuma "minoria" alemã existia nos EUA no sentido europeu. Ele escreveu que a maioria dos movimentos de imigrantes nos Estados Unidos foram muito reprovados e que a organização estava apenas criando sentimentos anti-alemães entre os norte-americanos.

O ceticismo de Dieckhoff foi bem justificado. Muitos norte-americanos alemães eram indiferentes em relação à política e pesquisas feitas na época mostraram que alemães norte-americanos não eram muito mais simpáticos à Alemanha nazista do que os norte-americanos tradicionais. A maioria dos norte-americanos, incluindo a maioria dos norte-americanos alemães, viam Kuhn e o Bund como apoiadores da presença nazista sob comando de Hitler, quando de fato isto eram apenas percepções complicadas de Kuhn.

Embora tenha havido algum contato oficial entre os funcionários do Bund e os nazistas, para a maior parte do governo nazista era desinteressado na organização e não deu à organização nenhum apoio financeiro ou verbal. A maioria dos funcionários do Terceiro Reich desconfiavam de Kuhn e do Bund, e o próprio Adolf Hitler expressou seu descontentamento quando soube da organização. Em 1 de Março de 1938, o governo nazista - em parte para apaziguar os EUA, e em parte para se distanciar de um embaraçosa organização - firmemente declarou mais uma vez que nenhum cidadão alemão pode ser membro do Bund e, ainda, que nenhum emblema e símbolos nazistas poderiam ser utilizados pela organização.

Em março de 1938, Kuhn viajou à Berlim para recorrer da decisão que havia sido tomada. Ele se reuniu com o assessor de Hitler, o Capitão Wiedemann, que simplesmente disse a Kuhn que a decisão era final. Apesar de sua rejeição, Kuhn retornou para se gabar aos norte-americanos de suas reuniões com Goering e Goebbels e os laços que ele tinha feito com Hitler. Tudo isto eram fabricações (mentiras).

Em fevereiro de 1939, Kuhn e o Bund realizaram seu maior comício no Madison Square Garden - ironicamente, o comício que marcou o começo do fim da organização. Para uma multidão de 22.000 pessoas, ladeado por um retrato enorme de George Washington, suásticas e bandeiras norte-americanos, Kuhn atacou FDR por ser parte de uma conspiração judaico-bolchevique, chamando-o de "Frank D. Rosenfeld" e criticando o New Deal, que Kuhn havia considerado como o "The Jew Deal" (literalmente "O Trato Judeu"). Três mil membros da Ordnungsdienst, o braço militante do Bund, estavam preparados e brigas eclodiram no meio da multidão entre aqueles que haviam vindo para importunar Kuhn.

Após o comício, o Procurador do Distrito de Nova York, Thomas Dewey, prendeu Kuhn sob a acusação de apropriação indébita e falsificação. Ele não só foi condenado por essas acusações, mas ele também confessou ter sido preso várias vezes por embriaguez, envolvimento em casos extraconjugais e de ter embolsando 15.000 dólares do rali no Madison Square Garden. Após a guerra, Kuhn foi deportado para a Alemanha; ele morreu ali sem a menor cerimônia em 1951.

Após a prisão de Kuhn, o Bund lentamente secou, até sua dissolução em 8 de dezembro de 1941, após o ataque a Pearl Harbor. Depois que os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha, as autoridades federais começaram a prender funcionários do Bund. O sucessor de Kuhn Gerhard Kunze foi capturado no México e condenado a 15 anos de prisão por "atividades subversivas". Vinte e quatro outros oficiais foram condenados por conspiração por violar a Lei de Serviço Seletivo de 1940 e cumpriram pena na prisão. Alguns outros líderes do Bund cometeram suicídio antes que o FBI apanhasse eles. Embora alguns membros do Bund tenham tido sua naturalização revogada e alguns passaram um tempo em campos de prisioneiros, a maioria dos membros foram deixados em paz depois da organização ser dissolvida.

No final, o Bund de imigrantes alemães teve pouco poder, e com frequência fizeram com que norte-americanos médios se tornassem menos simpáticos com a Alemanha, como as visões extremistas antissemitas e pró-nazistas do Bund não circulavam bem entre o público norte-americano. Mesmo a Alemanha nazista percebeu isso e tentou distanciar-se do Bund. Apesar de todas as marchas, suásticas e comícios encenados pelo Bund, o prefeito LaGuardia de Nova York adequadamente descreveu isso como sendo simplesmente "uma agitação".

Fontes:

1. Bell, Leland. “The Failure of Nazism in America”. Political Science Quarterly. Vol 85(4). Dec. 1970, pág. 585.
2. MacDonnell, Francis. Insidious Foes: The Axis Fifth Column and the American Home Front. Oxford University Press, New York: 1995.
3. Remak, Joachim. “Friends of the New Germany: The Bund and German-American Relations”. Journal of Modern History. Vol 29(1). Mar. 1957, p. 38.
4. Smith, Gene. “Bundesfuehrer Kuhn”. American Heritage. Vol 46(5). Sep. 1995, p. 102.

Fonte: Texto do site traces.org
http://www.traces.org/americanbund.html
Título original: American Bund. The Failure of American Nazism: The German-American Bund’s Attempt to Create an American “Fifth Colum
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 13 de abril de 2014

Heidegger privado

Heidegger privado. A divulgação das cadernetas que o filósofo escreveu durante seus anos no partido nazista provoca polêmica
Luis Fernando Moreno Claros 11 ABR 2014 - 19:00 BRT

Martin Heidegger, identificado com um x, em um ato
de propaganda nazista em novembro de 1933. / Ullstein Bild
Três novos volumes pertencentes à monumental edição das obras completas de Martin Heidegger (1889-1976), aparecidos em março na Alemanha, chamaram a atenção para a personalidade e a obra do autor controverso de Ser e tempo, “protagonista supremo da filosofia do século XX” para muitos, “filósofo nazista” a secas e trapaceiro para outros. Tais volumes constituem as primeiras revelações dos chamados “livros pretos”, as cadernetas de capas de borracha preta que Heidegger usava para fazer anotações sobre seus pensamentos. Ele começou a usar este tipo de caderno em 1931 e continuou usando até pouco antes de sua morte.

Por vontade sua, as cadernetas só deveriam ser publicadas como epílogo de suas obras completas. Mantidas no Arquivo de Marbach, ninguém podia lê-las até então. O filho não-biológico de Heidegger, Hermann, proprietário do legado de seu pai, manteve um silêncio ciumento sobre o mistério do seu conteúdo; mas também deu a entender que, entre pensamentos muito valiosos para interpretar a obra de Heidegger, as cadernetas continham “respostas” que esclareceriam o seu envolvimento e ruptura com o Nacional-Socialismo. Além disso, revelaria alguma coisa a mais até então escondida? E uma pergunta candente: Heidegger era antissemita? A partir daí que os estudiosos do filósofo, e não apenas eles, esperavam com expectativa o aparecimento desses volumes. Será que vai atender a tantas expectativas?

Estes três volumes protegidos contêm a transcrição meticulosa de 14 livros negros intitulados “Reflexões”. Dos 34 conservados, ainda restam ser publicados mais 20 com títulos como “Anotações”, “Sinais” e “Noturno”, entre outros; mais 6 volumes devem sair para completar os 102 planejados para culminar na enorme “obra completa” de Heidegger. As mais de mil e seiscentas reflexões heideggerianas, a maioria numerada, que são agora são divulgadas pela primeira vez, datam do período entre 1931 e 1941; uma década maldita para os alemães e pouco encantadora para Heidegger. Hitler chega ao poder em 1933; neste mesmo ano, “o filósofo do ser”, o “rei secreto do pensamento” – era assim que os alunos chamavam o professor Heidegger – é nomeado reitor da Universidade de Friburgo. Em 1939, estoura a Segunda Guerra Mundial e, de fundo, a humilhação dos judeus, premonitória de seu extermínio.

"O pensador se emocionou com Hitler, acreditou que simbolizava uma nova era que levaria os alemães à verdade e ao orgulho"

Surpreendentemente para muitos de seus conhecidos que não viam nele um “nazista”, Heidegger comungou com os novos detentores do poder na Alemanha; não revelou nem farejou o perigo, mas muito pelo contrário. Enquanto o filósofo Jaspers, amigo de Heidegger, e muitos jovens “heideggerianos” seguidores de seus seminários – Karl Löwith, Hans Jonas, Günther Anders, Herbert Marcuse ou Hannah Arendt – ficaram chocados por aquele revés político, o novo reitor desfilava aqui e ali vestindo a águia alemã sobre a lapela; ou posava para a foto oficial da Universidade com bigode estilo Chaplin-Hitler, rosto severo de führer e olhos iluminados. Em conversa com Jaspers, que expressou que Hitler não era um homem de cultura e muito pouco se poderia esperar dele, Heidegger lhe respondeu: “Isso não importa, o senhor apenas observe suas mãos bonitas”. O “filósofo do começar” se emocionou com Hitler, acreditou que seu advento simbolizava o início de uma nova era que iria encaminhar os alemães à verdade e ao orgulho de sua existência.

Heidegger, bombástico e vazio em sua gravidade política, agiu como um pequeno ditador durante o ano em que atuou como reitor: surpreendeu a universidade. Acreditando ser um novo Heráclito, um filósofo fundador e único, conclamou os alunos a pensar tudo de novo, a “decidir” estabelecer a sabedoria e a cultura como valores absolutos que deveriam ser consagrados com fanatismo. Os outros professores e autoridades nacional-socialistas não concordavam com esse desejo tão temerário de renovação e isolaram Heidegger. Seus anseios de führer universitário, talvez até mesmo de nazista iludido, entravam em confronto com a verdade do que estava acontecendo em todos os lugares, o que não demorou a advertir, assim como confiou a suas cadernetas. Na verdade, o triunfo era do partidarismo e a bruta cultura imposta pelos vencedores – uma “cultura” de corte “popular” –; triunfavam o “ruído” e a “propaganda” (“arte da mentira”) – anotou ele. A Universidade se encontrava tomada por estudantes em uniforme das SA; era preciso medir as palavras naquela instituição transformada em “escola técnica”. Em suma, Heidegger ficou desiludido.

Em 28 de abril de 1934, ele escreveu: “Meu cargo foi posto à disposição, já não é possível uma responsabilidade. Que viva a mediocridade e o ruído!”. Heidegger estava irritado com os nazistas, embora em privado. Logo viu que o grande perigo que estava à espreita na Universidade e, por extensão, na Alemanha constituía “essa mediocridade e essa nivelação que dominam sobre todas as coisas”. Para ele, era insuportável que “professores de escolas grosseiros, técnicos desempregados e pequenos burgueses complexados se colocassem como guardiães do povo”. Em outras anotações posteriores – críticas, como todas as suas – se interrogava sobre a valentia do perguntar, tão cara à sua filosofia. “Por que falta agora no mundo a disposição de saber que não temos a verdade e que devemos perguntar de novo?”. Na época em que vive, escreve novamente, as ciências do espírito se veem submetidas a “uma visão política do mundo”, a medicina se converte em “técnica biologicista”, o direito é “supérfluo” e a teologia “carece de sentido”.

Após o fracasso de seu mandato como reitor, afastado da política (“a real política, uma prostituta”), Heidegger continuou com suas palestras e seminários. Em 1936, começou suas palestras sobre Nietzsche e a interpretar a poesia de Hölderlin. Nos livros negros de 1938 e 1939, os dois autores são onipresentes; o filósofo os via como portadores de “verdades” que os alemães não entendiam. Incompreendidos e solitários, sentia-se próximo a seus destinos: Alemanha, “povo de pensadores e poetas”, não sabe como “povo” apreciar os seus pensadores e poetas. Entretanto, começa a guerra. Heidegger, confinado à sua cabana alpina de Todtnauberg, se concentrou em suas especulações sobre a "existência" ou Dasein imerso nos entes e jejum do “ser”. Em suas notas jamais vemos um eu pessoal que expresse sentimentos; Heidegger é frio e dramático, sem um pingo de humor; só abstração e torção das ideias que saíam de sua caneta.

Algumas anotações de 1941, com ecos antissemitas, causaram polêmica na imprensa internacional. Heidegger, que nunca falou sobre o Holocausto, rejeitava as teorias raciais classificando-as de “mero biologicismo”, mas também escreveu que “... os judeus, dado o seu acentuado dom calculista, vivem desde há muito tempo segundo o princípio racial; daí que agora se opõem com tanto afinco à sua aplicação”. Outras reflexões sustentam que “judaísmo”, “bolchevismo”, “nacional-socialismo” e “americanismo” são estruturas supranacionais que fazem parte do poder ilimitado de uma “trama universal” – “Machenschaft” – a qual só move “interesses” que causaram a guerra mundial. A guerra é a consumação da “técnica”; seu último ato será a “explosão em pedaços de terra e o desaparecimento da humanidade”. Tal resultado não seria uma “desgraça”, escreve o filósofo, “porque o Ser ficaria limpo de suas profundas deformidades causadas pela supremacia das autoridades”. Em outra nota, Heidegger sentencia: “Só restam duas possibilidades ao homem espiritual ativo: estar na ponte de comando de um caça-minas ou voltar o barco do mais extremo perguntar em direção à tempestade do Ser”. Ele escolheu a segunda opção.

No fim da guerra, em 1945, Heidegger é inscrito nas milícias populares para a defesa de Friburgo, mas o Reich capitulou antes que ele pudesse travar combate; sua luta particular se seguiu depois. Rotulado de nazista, os aliados o proibiram de dar aulas. O que mais irritou a comissão que julgou a sua adesão ao nacional-socialismo foi a ausência de arrependimento por parte do famoso professor. Ele se mostrou distante, mudo. Quando voltou a ficar famoso, em vez de dizer algo contundente sobre seu passado ou os crimes nazistas, continuou guardando silêncio. Hannah Arendt atribuiu o seu silêncio enfatizando sua falta de caráter e covardia. Mas havia algo substancial por trás de semelhante silêncio? Um filósofo tão abstrato podia dar respostas claras? (“Toda pergunta, um prazer; toda resposta, um desprazer”, escreveu). Será necessário um estudo profundo dessas cadernetas negras para determinar se as reflexões trazem luz à escuridão de Heidegger. Para começar, uma frase iluminada do próprio Heidegger: “Errar é dom mais escondido da verdade”.

Fonte: El País (edição brasileira)
http://brasil.elpais.com/brasil/2014/04/09/cultura/1397054643_204960.html

Ver mais:
Heidegger privado (El País, ed. espanhola)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Hitler, os alemães e a Solução Final: as diferenças entre Hitler e Stalin

Publicado em 2 de fevereiro, 2014

Meu ponto de partida para esta reflexão é o suposto de que, apesar das similaridades enquanto a formas de dominação, os dois regimes foram em essência mais distintos que similares. (…), eu gostaria de sublinhar as características únicas da ditadura nazi (…)

Às vezes, contudo, destacar os contrastes pode ser melhor do que comparar semelhanças. No que se segue, gostaria de utilizar o que, em que pese meu imperfeito conhecimento da historiografia recente sobre o stalinismo, entendo como características destacadas da ditadura de Stalin, para estabelecer com ela importantes contrastes com o regime de Hitler. Espero oferecer assim uma base para refletir sobre o que segue sendo um problema central na interpretação do Terceiro Reich: o que é que explica a inércia crescente da radicalização, da dinâmica de destruição do Terceiro Reich? Grande parte da resposta a esta pergunta tem a ver, e gostaria de sugerir que desde o princípio, com o debilitamento e o colapso do que se podia denominar de estruturas "racionais" de governo, um sistema de governo e administração "ordenado". Mas o que provocou este colapso, e não menos importante, qual papel teve Hitler neste processo? Estas são as perguntas que permanecem no centro de minha investigação.

Primeiramente, contudo, permita-me esboçar o que me parecem pontos importantes de contraste entre os regimes de Stalin e Hitler:

1. Stalin surgiu de "dentro" de um sistema de governo, como um expoente destacado do mesmo. Era, como Ronald Suny, um homem do comitê, um oligarca, um homem da maquinaria, (…) que se converteu em déspota graças ao controle do poder que residia no coração do partido, em seu secretariado. (…) De todas as formas, é difícil imaginar um líder de partido e chefe de governo com menos tendência burocrática que Hitler, um homem menos de comitê e da maquinaria que ele (Stalin). Antes de 1933, ele não estava envolvido e vivia distante da burocracia do movimento nazi. Depois de 1933, como chefe de governo, apenas posava pessoalmente a pena no papel a não ser que fosse para assinar a legislação de Lammers que a colocava diante de seu nariz. (…) A forma de operar de Hitler não propiciava um governo ordenado. (…) inclusive Lammers, o único vínculo entre Hitler e os ministros de Estado (que deixaram definitivamente de se reunir em torno de uma mesa como gabinete num momento tão precoce como 1938), tinha às vezes dificuldades para ter acesso a Hitler e conseguir que este tomasse decisões. (…) O cada vez maior distanciamento de Hitler acerca da burocracia do Estado e dos principais órgãos de governo, marca mais do que uma diferença de estilo com o modus operandi de Stalin. Refletindo, sob meu ponto de vista, uma diferença na essência dos regimes, dá-se na posição do líder de cada um deles, um ponto que ainda regressaremos.

2. Stalin era um ditador altamente intervencionista, acostumado a enviar um fluxo de cartas e diretivas determinando ou interferindo na política. Presidia todos os comitês importantes. Seu objetivo era, ao que parece, a monopolização de toda a tomada de decisões e sua concentração no Politburo, a centralização do poder do Estado e uma unidade na tomada de decisões que havia eliminado o dualismo partido-Estado. Hitler, ao contrário, foi, em termos gerais, um ditador não intervencionista naquilo a que a administração do governo se refere.

3. Suas esporádicas diretivas, quando surgiam, soavam serem ambíguas e transmitidas de maneira verbal (oral), normalmente pela boca de Lammers, o chefe da chancelaria do Reich, ou, nos anos de guerra (pelo que a questões civis se referia), cada vez mais por Bormann. (…) fez todo o possível para sostener e fomentar o dualismo irreconciliável entre partido e Estado que existia em todos os níveis. (…) os vínculos de lealdade pessoal foram desde o começo o princípio determinante crucial do poder, invalidando por completo o posto funcional ocupado e o status. Personalidades à parte, a posição de liderança de Hitler é estruturalmente mais segura que a de Stalin. Se seguiram devidamente os debates, as purgas de Stalin tinham alguma base racional, ainda que a paranoia do ditador as tenha levado para o reino da fantasia. (…) Hitler pensava que Stalin estava louco por levar a cabo as purgas. O único débil reflexo das mesmas no Terceiro Reich, foi a liquidação das SI (Sessões de Assalto) na "Noite das Facas Longas" (ou Noite dos Longos Punhais), em 1934, e a implacável vingança pelo atentado contra a vida de Hitler em 1944. (…) Hitler, há que se aceitar, foi, durante a maioria dos anos em que esteve no poder, excetuando os partidários reprimidos e impotentes dos antigos movimentos da classe trabalhadora, certas sessões do catolicismo e alguns indivíduos das elites tradicionais, um líder extremamente popular, tanto entre os grupos governantes como entre as massas. (…) Mas enquanto o culto a Stalin estava sobreposto à ideologia marxista-leninista e do partido comunista, e ambos conseguiram sobreviver, o "mito de Hitler" era estruturalmente indispensável para o movimento nazi e seu Weltanschauung, sendo, de fato, sua base, e sem poder se distinguir dele. (…)

4. (…) E, apesar do caminho para uma ditadura personalizada, na União Soviética não se produziu uma "radicalização acumulativa" inexorável. Pelo contrário, até metade da década de 1930 houve uma "grande marcha à ré" no radicalismo, e se produziu uma reversão para certas formas de conservadorismo social antes que a guerra impusesse seus próprios compromissos com a retitude ideológica. (…) No sistema foi capaz de resistir quase três décadas de Stalin e este sobreviver a ele. Era, em outras palavras, um sistema capaz de se reproduzir, inclusive às custas de Stalin. Resultaria complicado afirmar o mesmo a respeito do nazismo. O objetivo de uma redenção nacional através da purificação racial e o império racial eram uma quimera, uma visão utópica. A barbárie e a destruição inerentes ao vão intento de alcançar esse objetivo foram infinitos enquanto seu alcance, quanto o expansionismo e a extensão da agressão a outros povos foram ilimitados. Enquanto que o stalinismo podia "apaziguar-se", como efetivamente aconteceu depois da morte de Stalin, até se converter em um regime estático e inclusive conservador e repressivo, um "apaziguamento" que o convertesse em um autoritarismo sóbrio, do tipo franquista, é inconcebível no caso do nazismo. Aqui a dinâmica era incessante, a inércia da radicalização acelerada, incapaz de ter freio a menos que o "sistema" em si fosse fundamentalmente alterado.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2014/02/02/hitler-los-alemanes-y-la-solucion-final-diferencias-entre-hitler-y-stalin/
Trecho do livro (citado no blog): "Hitler, los alemanes y la solución final" (link) (livro original em inglês, Hitler, the Germans, and the Final Solution), Esfera de los libros, págs. 63-74, 2009; de Ian Kershaw.
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

(Berlim) Marzahn. Campo de concentração cigano das Olimpíadas de Berlim (1936)

A "limpa" dos ciganos da Alemanha nas Olimpíadas de 1936.

Campo de Concentração cigano de Marzahn
"A polícia não estava passiva enquanto as leis raciais de restrição a casamento e relações sexuais entre ciganos e alemães estavam sendo promulgadas ... Os Sinti e Roma, tradicionalmente, tinham sido vítimas de assédio principalmente na Bavária depois de 1933, no entanto, o assédio direto tornou-se sistemático com a expulsão de ciganos estrangeiros do país, e com outras pessoas enquadradas como vagabundos, criminosos habituais e vários outros tipos de antissociais. Usando os Jogos Olímpicos como pretexto, a polícia de Berlim, em maio de 1936, prendeu centenas de ciganos e transferiram famílias inteiras com suas carroças, cavalos e outros pertences para o chamado Marzahn "lugar de descanso", que ficava próximo de um depósito de lixo e de um cemitério do outro lado. Logo o lugar inteiro foi fechado com arame farpado. Um campo de concentração cigano de fato então havia sido criado num subúrbio de Berlim. foi a partir Marzahn, e de outros lugares semelhantes criados em pouco tempo próximos a outras cidades alemãs, que alguns anos mais tarde milhares de Sinti e Roma foram enviados para os locais de extermínio no leste". (Friedlaender, pág. 205)

Extraído do livro: Nazi Germany and the Jews: (Volume One). The Years of Persecution, 1933-1939. New York: HarperCollins, 1997; Saul Friedlaender

Última modificação: 1997/06/04

Fonte: Nizkor
http://www.nizkor.org/ftp.cgi/camps/ftp.cgi?camps//marzahn//marzahn-established
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Memorial to the Victims of the Marzahn "Gypsy Camp"

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O plano de Franco para invadir Portugal (Operação Isabella)

A Espanha teve um plano para conquistar Portugal no início da Segunda Guerra. A invasão, por terra, ar e mar, contaria com um exército de 250 mil homens e destinava-se a ocupar Lisboa e toda a costa.

José Pedro Castanheira. 19:00 Sexta feira, 7 de novembro de 2008

A partir do plano original, o historiador
Manuel Ros Agudo publicou no seu livro
‘La Gran Tentación’ o mapa da operação
de invasão de Portugal por forças do
Exército de Espanha
O historiador espanhol Manuel Ros Agudo revelou recentemente um plano de invasão militar de Portugal pela Espanha de Franco, no início da Segunda Guerra Mundial. O plano foi elaborado no contexto de uma quase certa guerra com a Inglaterra.

Para tanto, Madrid tratou de preparar um ataque surpresa a Gibraltar, a que - segundo os estrategos espanhóis - Londres responderia pela ocupação das Canárias e por um desembarque em Portugal, visto como 'testa de ponte' da invasão da Península. O Estado-Maior militar de Franco preparou então uma vasta manobra de antecipação, que passaria pelo ataque a Gibraltar e por uma "invasão preventiva" de Portugal.

A invasão seria precedida de um ultimato, com um prazo praticamente impossível de cumprir e que o historiador calcula que seria de 24 a 48 horas. Os termos da invasão fazem parte do 'Plano de Campanha nº 1(34)', um estudo de 120 páginas, elaborado pela Primeira Secção, de Operações, do Alto Estado-Maior (AEM) durante a segunda metade de 1940.

O plano foi apresentado a Franco a 18 de Dezembro. O objectivo final da invasão, por terra, mar e ar, era "ocupar Lisboa e o resto da costa portuguesa". Em termos de efectivos do Exército, seriam mobilizadas dez divisões de infantaria e uma de cavalaria, quatro regimentos de carros de combate, oito grupos de reconhecimento e oito regimentos mistos de infantaria - num total de 250 mil homens. Ou seja: o dobro dos meios humanos de que Portugal poderia dispor.

O desequilíbrio era tal que, ao máximo de cinco divisões que Portugal poderia organizar, a Espanha responderia, logo à partida, com 25 divisões. A Força Aérea, por seu turno, participaria com cinco grupos de bombardeamento e dois de caça, duas esquadrilhas de reconhecimento, quatro esquadrilhas de caças Fiat CR-32 e dois grupos de assalto. Para tanto, as autoridades de Madrid contavam com o apoio quer da Alemanha quer da Itália. À Marinha estaria reservada uma missão de menor relevo, já que se temia uma forte reacção da poderosíssima armada britânica, que não deixaria de apoiar Lisboa.

As forças espanholas seriam organizadas em dois exércitos, que actuariam a norte e a sul do Tejo. O primeiro avançaria ao longo da linha Guarda, Celorico da Beira, Coimbra e Lisboa; o segundo, pela linha Elvas, Évora e Setúbal. O objectivo fixado pelo plano de operações era "ocupar rapidamente Lisboa e dividir o país em três partes, por forma a facilitar a conquista de todo o território". Sabe-se como a Segunda Guerra Mundial não confirmou os receios de Espanha, que, tal como Portugal, acabou por não entrar directamente no conflito.

Assim, o referido plano foi arquivado, permanecendo em segredo durante 68 anos, até que o historiador Manuel Ros Agudo o revelou no livro 'La Gran Tentación' (ed. Styria). O autor explicou ao Expresso que "o plano da invasão é uma novidade absoluta, já que ficou guardado em segredo até hoje". Ros Agudo adiantou que há um exemplar do plano no arquivo do Estado-Maior da Defesa e outro no arquivo pessoal de Franco. O autor diz não possuir dados que lhe permitam saber quais os planos políticos posteriores à invasão. Um episódio temporário ou uma absorção? Agudo transcreve uma conversa de Setembro de 1940, em Berlim, na qual o ministro dos Assuntos Exteriores de Espanha, Serrano Súñer, disse ao homólogo alemão, Ribbentrop, que, "ao olhar para o mapa da Europa, geograficamente falando Portugal não tinha direito a existir". Agudo admite que "Madrid não via com maus olhos uma integração ibérica de Portugal em Espanha".

Fonte: Expresso (Portugal)
http://expresso.sapo.pt/o-plano-de-franco-para-invadir-portugal=f446991

Ver mais:
II Guerra Mundial: Franco planeou invadir Portugal (TVI24, Portugal)

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Martelo dos Deuses: a Sociedade Thule e o nascimento do Nazismo, de David Luhrssen (livro)

Martelo dos Deuses, de David Luhrssen: a Sociedade Thule e o nascimento do nazismo (Hammer of the Gods. The Thule Society and the Birth of Nazism) (Potomac Books) avalia um elemento pouco analisado do nazismo e faz isso com precisão histórica e revelação perspicaz. A Sociedade Thule era um grupo de ocultismo de Munique com aspirações políticas. Liderada por Rudolf von Sebottendorff, a Sociedade defendia uma variante da Teosofia, com a superioridade racial dos arianos como ideologia central. Para difundir suas ideias esotéricas para as massas, a Thule estabeleceu um partido de trabalhadores alemães antissemitas, eventualmente transformado por Hitler no Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, conhecido como Partido Nazista. Alguns membros da Sociedade Thule, finalmente, receberam cargos importantes no Terceiro Reich.

É dada uma definição clara ao atoleiro moral em relação à máquina de matar que foi o regime nazista em Martelo dos Deuses (Hammer of the Gods). Este livro retrata a fundação invisível para as políticas cruéis e predestinadas, e fala de questões de como o Terceiro Reich foi capaz de convencer e controlar toda a população alemã.

Este é um livro assustador. É educativo, de fato, mas também repleto de exposição delineada e precisa dos mistérios que influenciaram e conduziram os assuntos de uma nação seguidas de forma pedagogicamente insana sob a regra de não apenas um tirano, mas um possesso e capacitado por forças que nenhum de nós quer reconhecer ou enfrentar. Os relatos factuais, documentadas exaustivamente em anotações, lê-se tão bem como um romance consagrado.

Mas não é ficção, apesar que muitos gostariam que tivesse sido, quando traços da Sociedade Thule são trazidos à evidências manifestas dentro de exemplos contemporâneos. "O nazismo tornou-se inevitável na cultura popular", escreve Luhrssen, abordando tudo, desde a obscura ficção de brochura dos filmes mais populares de Hollywood nas últimas décadas como "Os caçadores da Arca Perdida" (Raiders of the Lost Ark). E ele acrescenta: "a Thule continua a ser um elemento da obsessão mundial com o nazismo."

Luhrssen fornece uma atualizada, mesmo corrigida, história do nazismo, e para aqueles de nós que refletem sobre o destino da humanidade, é um documento da uma realidade final horripilante em relação à condição humana. Não estamos seguros em formas que permanecem desprotegidas, não detectadas e que podem ser verificado (e que ainda assim continuam).

Martelo dos Deuses (Hammer of the Gods) é leitura obrigatória para os historiadores e para cada indivíduo que deseja ser plenamente informado sobre um momento desconcertante na história do mundo. Mas também está na lista de leitura para aqueles que sabem que a verdade sobre o nosso futuro não é como pode parecer, e que entendem exatamente o que aconteceu dentro do Terceiro Reich induz maior compreensão de como a nossa própria existência é governada por forças invisíveis em um contínuo e escurecido movimento. O que é edificante é a pesquisa e a revelação do autor. O que não é aquilo que é descoberto e explicado com a mente de um estudioso e o coração de um poeta.

David Luhrssen falará sobre Martelo dos Deuses (Hammer of the Gods) às 19:00 em 11 de maio, em Boswell Book Co. Glen Jeansonne, autor de uma nova biografia sobre Herbert Hoover, que também está no programa.

David Luhrssen é editor do A&E do Shepherd Express e co-autor de "Elvis Presley, rebelde relutante" (Elvis Presley, Reluctant Rebel) e "Tempos de mudança: a vida de Barack Obama" (Changing Times: The Life of Barack Obama).

Texto de Martin Jack Rosenblum

Fonte: Express Milwaukee.com (EUA)
http://expressmilwaukee.com/article-permalink-18607.html
Tradução: Roberto Lucena

Observação 1: este livro "Martelo dos Deuses" (tradução livre) foi elogiado pelo historiador britânico Nicholas Goodrick-Clarke (de Oxford), que é uma das referências (ou 'A Referência') quando o assunto é "misticismo nazista", tratando o assunto de forma acadêmica e não como o assunto costuma ser tratado em edições sensacionalistas (porque esse tipo assunto "místico" vende), de crendice ou de superstição para preencher vazios de "cabeças" que se impressionam facilmente tentando buscar explicações "sobrenaturais" pra processos humanos/históricos ou que vivem surfando no "pensamento mágico" delirante. Inclusive o texto que eu iria traduzir com uma sinopse do livro continha os elogios do Nicholas Goodrick-Clarke ao livro junto com de outros historiadores mas achei melhor traduzir o texto acima. Há uma resenha de um livro do Goodrick-Clarke no blog colocado pela mesma razão deste post. Quem quiser conferir, o livro foi lançado em Portugal: Raízes Ocultistas do Nazismo - cultos secretos arianos e sua influência na ideologia nazi

Aproveitando a deixa acima pra fazer um comentário que não tem nada a ver com o post (pra não abrir outro post), ao contrário do que "reza" a crença comum (e que eu mesmo já cheguei a levar a sério): as diferenças de escrita entre o tal "português do Brasil" pro "português de Portugal" beiram a insignificância. Até pedi uma vez ao Roberto Muehlenkamp (que escreve com o português de Portugal) pra eu fazer uma revisão no texto pra "corrigir" alguns termos que não são usados no Brasil (a maioria foram de nomes de localidades/pessoas que não costumam ser traduzidos ao pé da letra como em Portugal, mas coisa pouca), mas foi aí que vi a irrelevância da coisa (da tal "diferença") e passei a prestar atenção nesse mito que difundem dos "dois idiomas", que de fato possui diferença grande na forma de falar (na fonética), pronúncia, mas não na escrita. A pronúncia do português do Brasil está mais próximo do som do galego da Galiza/Galícia (Espanha) que é a "mãe" do próprio idioma português que da pronúncia do português de Portugal, descobri isso por acaso por curiosidade em saber como falam os galegos. Curiosamente a forma de falar de Portugal se distanciou da Galiza e do Brasil, é curiosamente mais fácil, eu como brasileiro, entender um galego falando (e às vezes até um espanhol com pronúncia boa) do que um português com sotaque carregado, mas mesmo assim não há dois "idiomas" como a extrema-direita em Portugal dissemina por pirraça e idiotice.

Observação 2: voltando ao post, eu não publicaria textos de divulgação de livros com conteúdo capenga e duvidoso (não-científicos) sobre esses assuntos, se por acaso sair foi engano nunca por intenção, e há vários "livros" que se enquadrariam fácil neste termo de livro não-científico/histórico (aqueles que falam sobre a "fuga de Hitler" do Bunker dele pra viver na Patagônia, francamente...), pois os considero no mesmo patamar dos livros "revis" (literatura de quinta e ficção/fantasia, muitas distorções, fontes ausentes etc). Uma das razões pra eu publicar dois links com livros acadêmicos sobre o tema "ocultismo nazi no Terceiro Reich" é porque vez ou outra aparecia algum "iluminado" na comunidade de segunda guerra citando o assunto, e ao invés de prestar atenção ao que o pessoal mais lúcido comentava sugerindo leitura crítica disso etc, esse pessoal se apegava de forma emocional, com unhas e dentes, a leituras cheias de fábulas, crendices e coisas desse tipo e ficavam irritados com os comentários tentando equiparar livros de fantasia com livros de História, o que não é aceitável, como se o local fosse destinado a ficar discutindo baboseira de ficção/fantasia.

É um direito de cada um, só que... tanto a comunidade como o blog aborda os assuntos de forma científica, então assuntos "mágicos" (de superstição) são tratados aqui como devem ser tratados a luz da ciência, como superstição e crendice, nada além disso, não adianta ninguém chorar ou espernear, é assim e pronto. Irrita muito ver gente tentando equiparar livros sérios acadêmicos (como os mencionados) com livros de ficção/fantasia, auto-ajuda e de fábulas/crendices (de ocultismo e essas baboseiras, que até podem ser bons roteiros pra filme, eu até gosto, mas são só isso, ficção/fantasia). Se essa minha opinião (que não é só minha) por acaso irritar a quem for crédulo, paciência, os comentários tentando impôr, a mim e a mais gente, crendices e superstições também irritam tão ou muito mais do que a irritação eventual que eu possa provocar e só estou fazendo o comentário por achar que discussão sobre equiparar coisas que não são equiparáveis (livros de História com livros de conteúdo duvidoso) já passou da conta, até porque eu não tento impôr minhas crenças mas já vi muita gente tentando impôr suas "crenças/superstições".

Observação 3: considero esse assunto "misticismo nazi" ou "ocultismo nazi", um assunto marginal na questão do nazismo/fascismo, considero outras questões mais relevantes nos temas nazismo e fascismo, mas era difícil falar isso com a quantidade de crédulos que circulavam no Orkut falando dessas baboseiras como "verdade absoluta" e que ficavam com raiva quando a gente contestava os comentários toscos que eles colocavam. Embora a questão do "misticismo" tenha existido (tanto que os livros citados acima tratam disso), a maior parte dos nazistas da época eram cristãos ou se denominavam cristãos (religião majoritária na Alemanha, com todas as suas denominações/divisões), assunto já tratado em outros posts e que pode ser mais discutido adiante caso alguém se interesse, embora essas crenças racistas esotéricas culturalmente se misturavam às crenças religiosas da época.

Sei que muito religioso não gosta quando se toca no assunto, mas uma forma de não se chocar com isso é admitindo o que se passou na época em relação a essas igrejas e não querer negar o que se passou, não tratar a coisa como "questão de fé" e sim de assunto histórico.

Só finalizando, digo que o assunto do "misticismo" é marginal pois não é um elemento central desses sistemas, pode ser central na estética e em grupos mais radicais (principalmente os liderados por Himmler que era chegado nessas baboseiras), mas não é algo central na economia e política. Só que como o cinema fantasia muito em torno desse tema (Hellboy, Caçadores da Arca Perdida, Indiana Jones e a Última Cruzada) e a superstição é uma praga universal, então acho necessário o post com os livros desses historiadores pois são o que há de mais acurado no assunto no mundo, fora alguma outra publicação em alemão que eu já vi mas não lembro agora do nome (que não é um idioma tão acessível à maioria, ao contrário do inglês e espanhol). Há livros em português do Nicholas Goodrick-Clarke.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Enfermeiras de dia, nazis e assassinas à noite (livro de Wendy Lower)

'As harpias de Hitler' mostra os crimes das mulheres alemãs. Enfermeiras de dia, nazis e assassinas à noite
Javier Zurro. 07/10/2013 (06:00)

Enfermeiras da Cruz Vermelha reunidas em
Berlim para fazer juramento (As harpias de Hitler)
Apesar dos julgamentos realizados depois da Segunda Guerra Mundial contra os criminosos que ajudaram a executar o genocídio contra os judeus, muitos deles conseguiram escapar e evitar sua condenação. Não só aqueles que fugiram para outros países e adotaram novas identidades para fugir da justiça. Também todos os que tiveram um papel secundário no mesmo, ou tendo participado ativamente ninguém foi capaz de identificar ou dar nomes. Especialmente relevante é o caso das mulheres nazis, já que poucas delas foram julgadas, o que faz dar pouca importância ao papel fundamental que exerceram na execução de um grande número de crimes.

Treze milhões de mulheres militaram ativamente no partido nazi, e mais de meio milhão compareceram em países como Ucrânia, Polônia ou Bielorrússia excedendo as funções para as quais foram enviadas, mas elas tomaram partido nas matanças contra judeus? Isso é o que afirma Wendy Lower em "As harpias de Hitler" (Editado por Memoria Crítica), título original em inglês: Hitler's Furies: German Women in the Nazi Killing Fields. Graças a um árduo trabalho de documentação e busca de dados e testemunhos, Lower conseguiu dar um pouco de luz acerca deste tema.

Ainda que os julgamentos de mulheres nazistas não fossem especialmente numerosos, As harpias de Hitler relembra que muitos dos sobreviventes do Holocausto identificaram as pessoas que os acossaram, violaram e os torturaram como senhoras alemães que nunca puderam encontrar por desconhecer seus nomes. Além disso, os estudos realizados posteriormente advertiu que o genocídio não teria sido possível sem uma ampla colaboração da sociedade. Quem foram essas mulheres que sujaram suas mãos com sangue dos prisioneiros?

Cozinheiras, enfermeiras, secretárias e esposas

Membros da Liga de Jovens Alemãs
disparando como parte de seu treinamento (1936)
A crença mais ampla é que as únicas que cometeram crimes foram as guardas dos campos de concentração, enquanto que o resto teve um papel secundário na história do nazismo. Contudo, a realidade é bem outra. Quando os alemães avançaram para o leste, meio milhão de mulheres lhes acompanharam e alcançaram um poder sem precedentes que lhes deu liberdade para fazer com os prisioneiros o que bem quiserem. Maestras, enfermeiras, secretárias e esposas, essas eram as funções que originalmente teriam que realizar todas aquelas que compareciam junto ao exército. Finalmente, muitas delas decidiram, voluntariamente, colaborar diretamente com a SS.

As harpias de Hitler incide constantemente num dado fundamental: nenhuma das mulheres descritas tinha a obrigação de matar. Negar-se a assassinar judeus não teria lhes acarretado nenhum castigo. E mais, o regime não formava as mulheres para se converter em assassinas, senão em cúmplices. Portanto, as que finalmente decidiram realizar tais crimes os cometeram ou por satisfação pessoal ou para obter um benefício daquelas ações.

De fato, as primeiras matanças cometidas pelos nazis foram protagonizadas pelas enfermeiras dos hospitais, que exterminaram milhares de crianças por desnutrição, ou inclusive com injeções letais, ainda que a maioria delas nunca tenha pago por seus delitos.

Este é o caso de Pauline Kneissler, cuja tarefa consistia em portar uma lista de pacientes que posteriormente deveriam ser mortos. Em um só ano (1940) a equipe na qual Kneissler trabalhava em Grafeneck assassinou 9.389 pessoas. Ela foi testemunha direta de como lhes gaseavam e prestou sua ajuda na hora de administrar injeção letal a muitos pacientes durante cinco anos. Pauline foi uma das mulheres que, posteriormente, se mudou para o leste para continuar sua onda de crimes.

Entretanto, não foram as enfermeiras as que cometeram os assassinatos mais sádicos, senão as secretárias e esposas dos membros do partido nazi. Entre as primeiras se destaca o nome de Johanna Altvater, que ocupava seu posto em Minden, Vestfália, antes de ser transferida para a Ucrânia. Ali, em 1942, Altvater começou sua queda aos infernos, chegando inclusive a assassinar um garoto judeu de dois anos golpeando sua cabeça contra um muro para jogá-lo sem vida aos pés de seu pai. Este posteriormente chegou a declarar que nunca havia visto tal sadismo em uma mulher, uma imagem que nunca pode apagar de sua mente.

Comício do Partido Nazi em Berlim (Agosto de 1935)
Crimes ante seres indefesos, mulheres e inclusive crianças. A mulher nazi tampouco teve piedade, como não a tinham seus companheiros masculinos. Aprenderam bem a lição de que havia que fazer e não duvidaram disso um só momento. Assim também fez Erna Kürbs Petri, filha e esposa de granjeiro que junto com seu marido Horst (membro da SS) era encarregada de dirigir uma finca agrícola. Um dia, Erna Petri vislumbrou algo próximo da estação de Saschkow. Quando seu vagão se aproximou se deu conta de que eram várias crianças judias escondidas que haviam conseguido fugir.

Petri pediu que eles eles se aproximassem e os levou para sua casa. Lá ela lhes deu de comer e os tranquilizou. Mas tudo isto só foi parte de seu sinistro plano. Ao ver que seu marido não regressava para casa, ela decidiu terminar o trabalho que ele havia começado. Levou as crianças até uma fossa onde já se havia assassinado antes e os colocou em fila, de costa. Pegou a pistola que seu pai lhe havia presenteado e um a um os matou a sangue frio. Nem sequer os gritos desconsolados dos que viram como caia o primeiro abrandaram o coração de Erna.

Estes são só três dos muitos casos que Wendy Lower apresenta em As harpias de Hitler. Relatos que encolhem o coração e mostram até onde é capaz de chegar o ser humano. Como a própria autora disse ao finalizar seu livro, nunca saberemos tudo sobre o nazismo e o Holocausto, isto é só uma história a mais em um quebra-cabeças com infinitas peças de crueldade.

Fonte: El Confidencial (Espanha)
http://www.elconfidencial.com/cultura/2013-10-07/enfermeras-de-dia-nazis-y-asesinas-de-noche_37151/
Tradução: Roberto Lucena

Ver a outra resenha do livro:
O exército de mulheres de Hitler (livro)

Mais resenhas:
Nazism’s Feminine Side, Brutal and Murderous (New York Times)
The Nazi women who were every bit as evil as the men: From the mother who shot Jewish children in cold blood to the nurses who gave lethal injections in death camps (Mail Online)

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