quinta-feira, 3 de maio de 2012

Os Khazares e o "revisionismo"

A História dos Khazares é uma história costumeiramente citada e distorcida pelos "revisionistas" para fins políticos, que usam esse discurso para afirmar que os judeus europeus não teriam laços com os judeus que saíram da região onde se encontra Israel hoje, sendo que um dos principais sites que divulgam essa baboseira é o site antissemita chamado Radio Islam, de um extremista de origem marroquina chamado Ahmed Rami, que vive na Suécia.

Essa história dos Khazares e dos judeus ashkenazis foi principalmente difundida por um jornalista(não historiador) judeu, Arthur Koestler, que lançou um livro nos anos setenta chamado "A décima terceira tribo (O Império Khazar e sua herança)" no qual formulava a idéia de que esse império (que haveriam se convertido ao judaísmo) teria uma contribuição significativa na formação dos judeus europeus(no caso, os Ashkenazim). Em cima disso se chega a pérolas como a que alegam que todos os judeus da Europa seriam descendentes dos khazares ignorando que judeus de países como Espanha e Portugal não eram descendentes de Khazares, fora outros erros.

O curioso de tudo isso é que o livro do Koestler é usado e divulgado principalmente por grupos de extrema-direita pra pregação antissemita e afins (negacionismo do Holocausto e outras teorias da conspiração).

Em virtude disso segue abaixo um texto sobre a origem dos Ashkenazim, mesmo não sendo um assunto diretamente ligado ao Holocausto, mas sendo um assunto citado por grupos "revisionistas" (negacionistas), o texto tem a ver com a questão do "revisionismo" e "revisionistas" (negadores do Holocausto).

Esta tradução do texto é antiga e não foi publicada antes pra evitar "romarias" de fanáticos religiosos obcecados com assuntos relacionados aos conflitos do Oriente Médio, por isso aviso que não nutro qualquer idolatria ou crença religiosa em relação aos conflitos daquela região do planeta.

Os Ashkenazim
por Shira Schoenberg

"O nome Ashkenaz foi aplicado na Idade Média para Judeus que viviam ao longo do Rio Reno no norte da France e na parte oeste da Alemanha. A concentração dos judeus Ashkenazi mais tarde se extendeu até a Polônia-Lituânia e hoje existem assentamentos Ashkenazi ao redor do mundo. O termo "Ashkenaz" foi identificado primeiramente com costumes alemães e descendentes de Judeus alemães.

No 10º e 11º século, os primeiros Ashkenazim, comerciantes judeus na França e Alemanha, eram pioneiros econômicos, tratados bem devido a suas conexões comerciais com o Mediterrâneo e o Oriente. Comunidades judaicas surgiram em muitos centros urbanos. No início as comunidades Ashkenaz eram pequenas e homogêneas. Até grêmios cristãos eram formados, judeus eram agricultores/representantes dos produtores e artesãos. Na França, muitos judeus possuíam vinhedos e faziam vinho. Eles carregavam armas e sabiam como usá-las em sua própria defesa. Os judeus de cada cidade constituíam uma independente entidade de governo própria. Cada comunidade, ou kahal, estabeleciam seus próprios regulamentos feitos por comitê eleito e cortes judiciais. Eles forçavam cumprir suas regras com a ameaça de excomunhão. Os Ashkenazim geralmente evitavam as influências externas e se concentravam nas fontes internas judaicas, idéias e costumes.

Os Ashkenazim focaram-se nos estudos bíblicos e talmúdicos. Centros de estudo rabínicos apareceram no décimo século em Mainz e Worms na Renânia e em Troyes e Sens na França. Os centros de estudo Ashkenazi centraram-se em torno da discussão oral. Os sábios focaram-se na compreensão de pequenos detalhes dos textos ao invés de extrair princípios gerais. O mais famoso novo professor era o Rabino Gershom de Mainz. Alguns de seus decretos, como a da proibição da poligamia, ainda existem até hoje.

A primeira principal figura literária Ashkenazi foi Rashi (Salomão ben Isaac de Troyes, 1040-1105), cujos comentários na Bíblia e no Talmud são até hoje considerados fundamentais para o estudo judaico. Os tosafistas, eruditos talmúdicos Ashkenazi no norte da França e Alemanha, introduziram novos métodos e introspecções dentro do estudo talmúdico que ainda está em uso. Os judeus Ashkenazi dessa época compuseram poesia religiosa modelada depois do quinto e sexto século, 'piyyutim'(poemas litúrgicos). Enquanto a oração litúrgica variava até entre países Ashkenazi, as diferenças eram quase insignificantes comparadas as diferenças entre a liturgia Sefaradi e Ashkenazi.

Enquanto judeus Ashkenazi ocasionalmente experimentavam o anti-Semitismo, a violência da multidão primeiro estourou contra eles no final do século XI. Muitos judeus foram assassinados no que Robert Seltzer chama de "atmosfera religiosa sobrecarregada". Muitos estavam dispotos a morrer como mártires a ter que se converter.

Nos 12º e 13º séculos, muitos judeus Ashkenazi tornaram-se prestamistas. Eles eram apoiados por governantes seculares que eram beneficiados pelas taxas impostas aos judeus. Os governantes não totalmente os protegiam, mas entretanto, o libelo de sangue aumentava acompanhado pela violência. Em 1182, os judeus foram expulsos da França. Judeus Ashkenazi continuaram a construir comunidades na Alemanha até eles enfrentarem motins e massacres nos séculos de 1200s e 1300s. Alguns judeus mudaram-se para a Espanha Sefaradi enquanto outros instalaram Ashkenazi comunidades na Polônia.

O centro da judaria Ashkenazi mudou-se para a Polônia, Lituânia, Boêmia e Morávia no início do século XVI. Os judeus estavam pela primeira vez concentrados no Leste Europeu ao invés da Europa Ocidental. Judeus poloneses adotaram os ritos Ashkenazi, liturgia, e costumes religiosos dos judeus alemães. O Ashkenazi mahzor(livro de orações do feriado)incluía orações compostas por poetas da Alemanha e Norte da França.

Na Polônia, os judeus tornaram-se agentes fiscais, coletores de impostos, gerentes do Estado para nobres, comerciantes e artesãos. Nos séculos de 1500-1600s, a judaria polonesa cresceu e tornou-se a maior comunidade judaica na diáspora. Muitos judeus viviam em shtetls, pequenas cidades onde a maioria dos habitantes eram judeus. Eles instalaram os 'kehillot' como aqueles da Idade Média que elegiam um comitê de administradores para coletar impostos, instalaram sistemas educacionais e de negócios com outras necessidades da vida judaica. Os judeus até tinham seus próprios grêmios de ofício. Cada kahal tinha um yeshiva, onde meninos com cerca de 13 anos de idade aprendiam textos talmúdicos e rabínicos. Yiddish era a linguagem da oral translation e da discussão da Torá e do Talmud. Eruditos Ashkenazi focaram-se na leitura cuidadosa do texto e também em resumir interpretações legais dos eruditos Ashkenazi e Sefaradi anteriores da lei judaica.

Ashkenazim focaram-se no Hebraico, Torá e especialmente no Talmud. Eles usaram a religião para proteger a eles mesmos de influências externas. Os judeus desta época eram largamente de classe média. Por escolha, a maioria deles viviam em comunidades autônomas ao redor de sua sinagoga e outras instituições comunitárias. O Iidishe era a linguagem em comum dos judeus Ashkenazi no Leste europeu e na Europa central. Com o início da Renascença e as guerras religiosas em meados do século XVI, a divisão cresceu entre os judeus da Europa central e a do leste. Na Europa Central, particularmente na Alemanha, governantes forçaram os judeus a viverem a parte do resto da sociedade em guetos com cerca de 100 e 500 habitantes. Os guetos eram geralmente limpos e em boas condições. Judeus do Leste europeu viviam nos shtetls, onde judeus e gentios viviam lado a lado.

Nos séculos XVII e XVIII, judeus na Polônia, o centro da judaria Ashkenazi, enfrentaram libelos de sangue e motins. O crescimento do Hasidismo na Polônia tirou muitos judeus ausentes da típica prática Ashkenazi. Depois dos massacres de Chmielnicki na Polônia em 1648, judeus poloneses se espalharam pela Europa ocidental, alguns até cruzaram o Atlântico. Muitos judeus poloneses Ashkenazi fujiram para Amsterdã e entraram previamente nas comunidades existentes dos judeus alemães. Os Sefardim por lá consideravam os Ashkenazim socialmente e culturalmente inferiores. Enquanto os Sefardim eram geralmente ricos, os Ashkenazim eram vendedores ambulantes pobres, comerciantes pequenos, artesãos, polidores de diamantes, trabalhadores de jóias e ourives. Como os Sefardim tornaram-se mais pobres no século XVIII, as comunidades tornaram-se mais igualitárias e mais unidas.

A comunidade judaica na Inglaterra também mudou no século XVIII. Ela tinha sido primeiramente Sefaradi durante o século XVII, mas tornou-se mais Ashkenazi na cultura a medida que o número crescia dos judeus alemães e poloneses que chegavam.

Por volta de 1750, cerca de 2,500 judeus viviam nas Colônias Americanas, a maioria era Ashkenazi. Eles eram judeus que falavam Yidish da Holanda, Alemanha, Polônia e Inglaterra. Os primeiros judeus eram comerciantes e traders. Desde então, judeus Ashkenazi levantaram comunidades ao longo dos Estados Unidos.

Pelo final do século XIX, como resultado da perseguição russa, houve uma massiva emigração Ashkenazi do Leste europeu para outras áreas da Europa, Austrália, África do Sul, Estados Unidos e Israel. Ashkenazim excediam os Sefardim em todas as partes exceto no Norte da África, Itália, Oriente Médio e partes da Ásia. Antes da Segunda Guerra, Ashkenazim compreendiam 90% do mundo judeu.

A destruição da judaria européia na 2a Guerra reduziu o número de Ashkenazim e, com alguma exceção, sua superioridade númerica superava os Sefardim. Os Estados Unidos tornaram-se o principal centro para os judeus Ashkenazi.

Em um certo período Ashkenazim e Sefardim desenvolveram diferentes orações litúrgicas, serviços da Torah, pronúncias do hebraico e modos de vida. Originalmente, a maioria dos Ashkenazim falavam Yidish. Os tons dos Ashkenazi e Sefaradi para ambas orações e leitura da Torah são diferentes. Uma Torah Ashkenazi encontra-se plana enquanto está sendo lida, enquanto uma Torah Sefaradi eleva-se. Os escreventes Ashkenazi desenvolveram um certificado distinto. Uma das maiores diferenças está na fonte usada para decidir a lei judaica. Os Sefardim seguem a 'Shulhan Arukh' do Rabino Joseph Caro. Os Ashkenazim seguem o Rabino Moses Isserles, que escreveu um comentário na 'Shulhan Arukh' citando a prática Ashkenazi. Existem diferenças em muitos aspectos da lei judaica, na qual as leis para mulheres são isentas daquela comida que é permita para se comer na Pesah(Páscoa). Atualmente, muitas das distinções entre Ashkenazim e Sefardim desapareceram. Em ambos, Israel e Estados Unidos hoje, Ashkenazim e Sefardim vivem juntos, embora tenham geralmente instituições separadas.

Em Israel, tensões políticas continuam a existir por causa de sentimentos por parte de muitos Sefardim de que eles seriam discriminados e ainda não teriam o respeito que merecem. Historicamente, a elite política da nação tem sido Ashkenazim; entretanto, isto está gradualmente mudando. O Shas, um partido religioso Sefaradi, tornou-se um dos mais poderosos no país e indivíduos políticos Sefaradi agora ocupam posições poderosas. Marroquino de nascimento, David Levy, por exemplo, serviu como ministro do exterior e, em Julho de 2000, o judeu, iraniano de nascimento, Moshe Katsav, foi eleito presidente.

Fonte do texto resumo: Jewish Library (fonte online)
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Judaism/Ashkenazim.html
Fontes (livros): Ausubel, Nathan. Pictorial History of the Jewish People. New York: Crown Publishers, 1953.
Dimont, Max. Jews, God and History. New York: Simon and Schuster, 1962.
Encyclopedia Judaica. "Ashkenaz". Jerusalem: Keter Publishing House, 1972.
Seltzer, Robert. Jewish People, Jewish Thought. New York: Macmillan Publishing Co., 1980.
Tradução: Roberto Lucena

Leitura adicional: History of the word Ashkenaz
http://www.somethingjewish.co.uk/judaism_guide/ashkenazi_jews/index.htm

Ver mais:
Shlomo Sand: A invenção do povo judeu (livro)

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