domingo, 3 de novembro de 2013

Sobre cobaias de laboratório e humanos, e o "caldo" da segunda guerra

Foto do julgamento dos médicos
no tribunal em Nuremberg,
pós-guerra
Eu resolvi trazer esse comentário (abaixo) pra cá porque poderia desviar o foco do post sobre o julgamento de médicos nazistas em Nuremberg, aqui o link:
O julgamento dos médicos em Nuremberg

A quem quiser ler mais sobre experimentos médicos na segunda guerra, clique na tag (marcador) abaixo:
Experimentos médicos/Cobaias humanas na segunda guerra

Não há condição de deixar passar batido o que houve, primeiro porque é algo sério (tratado com descaso e sensacionalismo pela mídia), e também (principalmente) porque não gostei da abordagem (agressiva e fanática) de uma pessoa comentando sobre esse assunto, e me impressiona como eles embasam um discurso cheio de lacunas - moralista ao extremo - pra criticar os testes de laboratório ignorando a finalidade disso, refiro-me ao caso da remoção dos cachorros (beagles) do laboratório do tal Instituto Royal em São Paulo.

Segue abaixo a cópia do comentário que estava no link acima "O julgamento dos médicos em Nuremberg". Irei remover o comentário do outro post pois já está colocado em um post separado, pra evitar que o outro post sobre o julgamento se perca, caso haja discussão sobre essa questão (estou me precavendo porque as reações que tenho visto são agressivas e emocionais ao extremo, e muitas sem fundamento algum, abaixo eu explico melhor o porquê deu achar isso, e há dois vídeos que espero que as pessoas assistam e reflitam sobre o ocorrido).
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Comentário: esse texto apareceu quando citaram o nome dessa Herta Oberheuser num grupo e não há praticamente referência no verbete dela da Wikipedia em inglês (ao contrário do verbete em alemão) de bibliografia etc, sendo que se enquadra na questão dos médicos e o nazismo, ela fez experimentos no campo de Ravensbrück.

Mas o texto toca inevitavelmente num ponto que foi assunto nas últimas semanas no país que é a questão de cobaias de laboratório e o porquê do uso de animais em experimentos, refiro-me à invasão de um laboratório e a captura de cães da "raça" beagle. Parece que não "tem nada a ver" o assunto, mas tem tudo a ver. Não sei se deveria comentar isto aqui ou em um post à parte. Se for o caso, colocarei em separado o texto com o comentário/observação em outro post posteriormente, pois o intuito ao fazer o comentário não é abafar o tema do post, embora pela reação totalmente emocional que eu observei neste caso, a gente fica com receio de comentar isso neste post e começarem a discutir somente o caso dos cachorros em laboratório.

Um dos motivos do uso de animais em laboratório é justamente este citado no texto, para não usar humanos como cobaias de laboratório, principalmente depois das atrocidades conhecidas na segunda guerra (Holocausto e também o uso de cobaias humanas na China pelo regime japonês) e na guerra fria (houve uso de cobaias humanas de forma não-oficial, clandestina, pelos EUA). Eu coloquei a matéria no blog sobre estes testes na guerra fria mas não estou achando no momento, por isso coloquei o link com o assunto do que saiu na imprensa pra mostrar que foi noticiado (não estou "chutando").

As cenas da captura de animais foi uma das coisas mais bizarras que já vi em muito tempo. Ninguém que afirma que achou as cenas bizarras é a favor de tortural animal ou algo do gênero (pois um dos recursos apelativos usados por quem faz um ativismo maluco e xiita é ficar imputando aos outros que quem é contra atos tresloucados como este só "pode ser a favor" de tortura etc), e caso o laboratório tenha culpa (de maus tratos) que seja apurado, processado e condenado, coisa que agora ficou difícil de apurar pois desmontaram o local e as provas. "Justiceirismo" sempre costuma dar em besteira, é um dos comportamentos que mais vi no Orkut e que simplesmente arruinou aquela rede, e pelo visto segue no Facebook (pior que no Orkut).

Não ter ideia do porquê do uso de animais como cobaias, como fez o grupo que invadiu e tirou os cachorros, beira a algum tipo de fundamentalismo 'estilo talibã' (acho a postura parecida, desculpem-me se por acaso ofender algum ativista sério), anti-científico e totalmente imprudente. Tiraram animais que poderiam estar infectados por experimentos e que morreriam por infecção, doença etc em pouco tempo fora do laboratório ou poderiam passar alguma doença no contato exterior (ao laboratório), além de que ninguém sabe aonde foram parar os cachorros. Pior foi a sucessão dos fatos, saíram bizarrices ainda mais grotescas como colocar um animal pego no laboratório à venda por mais de 2 mil reais, visivelmente não recebendo alimentação adequada e consequentemente podendo morrer:
Beagle vendido por R$ 2.700 na internet era do Instituto Royal, diz anúncio
Beagle que estava à venda na internet é recuperado pelo Instituto Royal

Isso é comportamento de quem gosta de animal? Pôr um cachorro a venda ou deixá-los largados?

Eu li num dos links acima (o link está dentro do outro link do Zero Hora) que foram recolhidos 178 animais do Instituto em questão, e não se sabe onde foi parar a maioria deles, se estão vivos, mortos etc. Tudo fruto de uma histeria coletiva porque acharam que uma determinada "raça" de cachorro é "fofa". Muita gente só se "comove" com a aparência do animal (e já vi muito comentário grotesco falando de testes em humanos, coisa digna de um Mengele), enquanto não se observa a mesma "histeria" com testes em ratos, cobras e animais menos "apresentáveis" visualmente. Parece que pelo fato de uma cobra não ser um "animal fofinho", desperta menos "compaixão" no pessoal com tendência a uma certa histeria coletiva.

Passaram esse vídeo (e acabei vendo outro que também irei colocar o link abaixo) sobre o caso e acho pertinente como espero que assistam (assistam pra depois criticar ou não), são dois, vou colocar os dois vídeos abertos e os links caso alguém queira ver direto no Youtube:



O resgate dos beagles (link do vídeo acima)



Experimentos e beagles: FAQs (link do segundo vídeo, complemento)

Quem citou o o nome do neurocientista Miguel Nicolelis foi o dono do (Canal do Pirulla) dos vídeos acima, por isso achei pertinente mostrar o experimento do cientista brasileiro (muito bem lembrado por ele nos vídeos) que pode fazer com que pessoas paralíticas voltem a andar. Não é pela menção ao vídeo mas já tinha admiração pelo prof. Nicolelis (já vi matérias sobre ele antes), figura sensacional e motivo de orgulho pra qualquer brasileiro.

Pra quem não sabe ou conhece, o Nicolelis faz experimentos em macacos, e se for levar à risca o que esse tipo de 'ativismo xiita' tentou passar pra "opinião pública" com o caso dos cachorros, vai ter gente, por dedução lógica, querendo enquadrar/rotular o Nicolelis como um "sádico que maltrata animais" pois ele faz experimentos em macacos. O que é absurdo e não precisaria nem ser comentado (por ser algo aparentemente óbvio demais) se não houvesse tanta gente propensa a agir de forma extremada e puramente emocional (e irracional):
Nicolelis diz que exoesqueleto será testado no Brasil até novembro
As imagens do joelho robótico: link
Nicolelis divulga simulação do chute de paraplégico na abertura da Copa do Mundo de 2014
"É como pôr um homem na Lua", diz Nicolelis sobre Walk Again link2
Brasileiro faz macacos sentirem textura em objetos virtuais
Em livro, Nicolelis explica plano de fazer garoto tetraplégico chutar bola
Nicolelis reproduz “ilusão da mão de borracha” em macacos; projetos com a AACD são aprovados na Conep

Achei bizarras as cenas do que houve. A gente se pergunta se esse pessoal assistiu a pelo menos alguma aula de biologia no colégio pra que haja um surto histérico coletivo dessa proporção e de ignorância científica também. E não é um problema qualquer como tem sido tratado pela mídia, é algo bem sério pois já houve surto de histeria irracional movido por "crendices" na campanha de vacinação contra a gripe suína e que pode MATAR pessoas (eu, você ou qualquer um podemos ser vítimas da estupidez alheia, são casos que algum orgão sanitário precisa fazer uma chamada se´ria), um tipo de irracionalidade histérica que acomete principalmente gente com pouca capacidade de reflexão e suscetível a sugestões emocionais extremadas e que muitas vezes vão "na onda" da maioria sem refletir sobre o que estão fazendo ou endossando.

Esse tipo de ativismo mais lembra algum tipo de fundamentalismo religioso talibã. Não quero com isso afirmar que não exista gente séria que faça ativismo sobre esta causa, mas não gostei do que vi nesse episódio, além do fato de que ninguém sabe qual destino os animais tiveram (178 animais no total), com um deles sendo vendido em sites de mercadoria e ninguém responde/assume responsabilidades por nada que fizeram ou referente ao destino dos cães.

A ação de "resgaste", se é que houve (eu pelo menos não considero), não deveria se resumir ao "teatro" da histeria no local, como também e principalmente em ações nos dias seguintes como saber quem cuidaria dos cachorros etc, ou acham que são "bichinhos de pelúcia" que não precisam comer? Algo que fatalmente passou batido e que muita gente pode ter antevisto que algo desse tipo iria ocorrer. Foi uma das primeiras coisas que me vieram à mente quando vi as cenas, "e agora, para onde vão levar os cachorros? quem vai cuidar deles?".

Como diz o dito popular: "de boas intenções o inferno tá ...". Mais raciocínio/reflexão (razão) e menos histeria (apelo emocional), todo extremismo inconsequente acaba se tocando. Esse comportamento de "justiceiro", "síndrome de Batman", é algo próximo da barbárie.

8 comentários:

Daniel Moratori disse...

Complicado esse assunto.

Geralmente,quem tem/teve um relação com animais de estimação,cria um vinculo extremo com o mesmo, e tende a ir para o lado dos que não concordam com os experimentos,especialmente animais domesticados, como cachorros; ainda mais quando eles são usados para fins estéticos, como cosméticos.

Depois da uma lida nesse artigo:

http://www.ipebj.com.br/docdown/_ddf.pdf

Roberto disse...

Daniel, mas eu já tive cachorro, e por mais apegado que eu seja a animais (e sou), não colocaria isso acima de achar correto o que esse grupo fez, até porque não há alternativa aí que aí está, esse é o "x" da problema que eles simplesmente ignoraram achando que um surto histérico e teatro vai resolver esse assunto.

A solução que o cara do vídeo dá é a mais correta, que o pessoal engajado nisso procurem alternativas viáveis a esses testes pra substitui-los. A alegação que o tal Instituto só fazia testes pra cosméticos saiu desses "ativistas", mas esse tipo de Instituto não faz teste disso, atende a várias empresas.

As indústrias de cosméticos dizem que não usam testes de animais, podem não usar hoje mas já usaram, fora a infinidade de objetos testados em animais antes de entrar em circulação (teste de alergia, intoxicação etc).

Roberto disse...

O mais ridículo desse espetáculo aí, fora que ninguém sabe o paradeiro dos cachorros (da maioria deles, se estão vivos ou mortos, eles esqueceram desse "detalhe"), está sendo o desenrolar desse caso, isso aqui é um absurdo total:
Ativista se filia ao PMDB

Usar o caso pra se filiar a partido é fim de linha, nem esperar dar um tempo na coisa a pessoa deu (pra "disfarçar", chamar menos atenção), e o pior são os ataques emocionais do pessoal que idolatra esses ativistas quando alguém critica essa série de bizarrices.

Um cachorro é colocado à venda num site de vendas e ninguém responde por isso. Fizeram a coisa toda lá no dia, soltaram os bichos (sem saber se estão doentes ou não etc), largaram e não sabem onde se encontram, se estão mortos etc. Isso não é coisa de quem gosta de animal, achei a postura desse pessoal (tirando os sérios que acabaram sendo levados na "turba") algo parecido a um ataque de grupo religioso, seita, um negócio irracional e desmedido, que também vai ao encontro do que anda rolando nas ruas com esses Black Blocs nessas duas capitais de estado do país, parece que há um foco de irracionalidade nesses centros (um deles é onde também circula a maioria dos "revis"/neos) que começa a chamar atenção e preocupar dada a quantidade de problemas que esse tipo de militância ignorante causa.

Roberto disse...

O fato de empresas dizerem que não fazem testes em animais não quer dizer que não usem, elas podem pegar testes de terceiros etc. Muita gente nos EUA critica o trabalho escravo no China, mas veja a marca das empresas que fazem isso lá (a maioria dos EUA). O cara ataca o problema localmente achando que esses grupos não encontram meios pra driblar legislações.

A única alternativa a isso é o que o cara disse no vídeo: procurarem alternativas viáveis pra substituir os testes que só podem ser feito dessa forma, esse tipo de ativismo xiita e espetaculoso não resolve problema algum, é como aquele Femen na Europa que o pessoal não dá a mínima pra "causa" delas e fica mais vendo a mulherada de peito de fora nos "protestos", é o tipo de "ativismo" burro, questionável (ninguém sabe se há motivações escusas por trás) e midiático.

O que mais me espanta nesses casos (e eu também citei o caso da histeria da vacina contra o H1V1, feita por fundamentalistas religiosos principalmente) é a completa despolitização e ignorância (misturada com certa estupidez, falta de capacidade de reflexão) desse pessoal, acho que isso choca até mais que o evento em si (que já é bizarro). Fala-se muito nos talibãs lá no Oriente Médio enquanto há vários talibãs espalhados no Brasil e no que chamam agora de "Ocidente" (termo literalmente ideológico).

Roberto disse...

Acabei não citando acima esse caso e cito agora: ninguém lembrou do Butantã, já que esses "ativistas" só falam de cachorro de "raça".

Eles nunca pararam pra pensar que no Butantã se cria cobras e outros animais peçonhentos pra extrair soro antiofídicos e pesquisas?

Eles acham que as cobras, aranhas lá não são animais de laboratório, da mesma forma que esses cachorros? Será que eles iam até lá soltar as cobras, aranhas, escorpiões etc? Duvido que fizessem isso, e se fizessem é maluquice pois soltar um animal sem saber o estado de saúde dele na natureza é irresponsabilidade pois eles podem contaminar o meio onde são soltos.

Veja que o caso citado foi literalmente seletivo, o cachorro "fofinho" comove pela aparência (comove principalmente as dondocas fúteis e superficiais que falam até de fazer teste em humanos, achando que dizendo isso elas são o "ápice" do humanismo), os outros animais não chamam atenção (peçonhento principalmente) e esse pessoal claramente faz distinção dos animais (do tipo, aparência etc) e ficam tentando rotular quem os critica como "bárbaros", insensíveis e coisas do gênero.

Daniel Moratori disse...

O meu comentário não foi a você quando me referi a ter animais,foi em um contexto geral.
E sobre os comestivos, não foi aplicado ao Instituto Royal em si, foi algo mais genérico também.

Em outros países já há um avanço em relação ao tratamento animal, mas infelizmente não cobre todas as áreas.

No link que passei no comentário anterior o Dr. Marco Aurélio da uma visão geral sobre o uso e suas alternativas, abrange tudo o que fala nos videos que passou e na resposta do vegan ao vídeo do mesmo.

Eu entendi o ponto que você quis citar no seu texto. Essa questão da histeria é clássica, basta um jogar a pedra que dezenas também tampam, mesmo nem sabendo o porque.
Eu assisti os videos, e as colocações do autor dele são bem interessantes, e a parte que ele fala sobre "procurarem alternativas viáveis pra substituir os testes que só podem ser feito dessa forma", o qual você citou acima e que me chamou a atenção na filmagem, que eu também falo aqui em casa (minha irmã é vegan), já que eu sou contra os testes, mas sei que infelizmente temos de ter outras alternativas para substitui-las(ele cita até no vídeo que devemos estudar pra procurar essas soluções, não achar que a resposta vai aparecer do nada ou estar pronta, só esperando usar - algo assim).

Sobre o Butantã, nem precisa explicar, a diferença é clara, já que não há animais domésticos lá; a população em geral tem aversão a animais peçonhentos.

A forma de driblar leis, em transferências de ações para outros países é clássica, ainda mais quando se trata de grandes empresas, em que o capital de giro tende-se a ser afetado por determinadas sansões. Simplesmente mudam para outro pais onde é liberado. Só quem é burro que não enxerga isso.Europa e EUA tem suas legislações contra uso de animais, mas quem garante que não testam em outros lugares livres dessas imposições.

As pessoas que botaram pra vender o cachorros, deveriam ser colocadas no lugar deles pra serem usadas nos testes, é muita canalhice.

Roberto disse...

Daniel, mas a gente acaba virando "advogado do diabo" porque esse tipo de ativismo xiita desse grupo cria uma radicalização extremada que geralmente só beneficia um lado (apesar da gritaria).

Sobre cosméticos o que saiu apenas foram comentários desse grupo, se a maioria dessas empresas do país de cosméticos diz que não faz uso de teste animal (embora devam usar de terceiros), os testes nesse instituto não eram ligados a essas empresas de cosméticos.

O argumento usado por eles é pra justificar o ato, veja que se houvesse testes pra remédios, eles não teriam como justificar o ato.

Fora que, além da futilidade dos cosméticos, há uso também pra outros fins não estéticos, ninguém usa protetor solar por "futilidade", ou seja, a generalização que esse tipo de grupo cria e faz, na prática acaba favorecendo o Instituto se de fato ele estava errado (pois apagaram qualquer prova contra ele ao invadirem).

Roberto disse...

Essa contradição dos cosméticos eu vi de cara em argumentações deles, eles dizem que empresas não fazem isso ao mesmo tempo que alegam que o Instituto fazia só pesquisa com cosméticos (mas sem mostrar prova alguma).

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