sábado, 18 de agosto de 2007

Carrascos Voluntários de Hitler - críticas ao livro II

Carrascos Voluntários de Hitler - críticas ao livro(parte II)
continuação da parte I:
http://holocausto-doc.blogspot.com/2007/08/carrascos-voluntrios-de-hitler-crticas_18.html

A falta de pesquisa comparativa por parte de Goldhagen foi problemática não somente em termos de outro material secundário, de acordo com Bauer, mas também em termos de sua própria tese. E quanto à Romênia, ele perguntou, e sua tradição de anti-semitismo exclusionista datado do século dezenove?

E quanto ao entusiasmo romeno pela captura e matança de homens, mulheres e crianças judias? Por que Goldhagen não lidou com nenhuma outra tradição de anti-semitismo, inclusive a polonesa, a russa, e a francesa? Nesse respeito, Bauer fez referência à afirmação de George Mosse de que, se você tivesse dito às pessoas em 1900 que haveria uma Solução Final, a resposta delas teria sido (parafraseado), "Oh, aqueles franceses maus, muito maus". Bauer então atacou o consultor de Goldhagen em Harvard. Goldhagen, disse ele, não deveria ser responsabilizado por este trabalho de mal feito, em particular por sua falta de foco comparativo.

Em vez disso, é seu consultor que deve ser culpado: Como este trabalho recebeu um PhD em Harvard quando ele não cobre as questões mais básicas? Bauer então criticou Goldhagen por ignorar as forças concorrentes da história alemã e, ao fazê-lo, por não ser capaz de responder às questões: se o anti-semitismo eliminacionista era dominante já no século dezenove, então por que o Holocausto não aconteceu antes do século vinte? Qual foi a diferença? Como foi que Hitler chegou ao poder? Bauer censurou Goldhagen por não lidar adequadamente com o colapso da República de Weimar.

A esse respeito, ele citou o fato de que, na última eleição livre da República de Weimar, 67% dos alemães não votaram em Hitler. Hitler foi votado, perguntou Bauer, somente porque as pessoas apoiavam seu anti-semitismo?

Bauer concluiu dizendo que, enquanto a resposta de Goldhagen estava "errada", sua questão continuava importante. Mas, continuou ele, ela precisa ser tratada com "humildade", e não arrogância. Ao afirmar que, "Eu estou certo e todos aqueles que vieram antes de mim estão errados", Goldhagen, de acordo com Bauer, mostrou uma surpreendente falta de sensibilidade com relação ao assunto. Goldhagen também correu o risco, continou Bauer, de se tornar um outro Arno Mayer depois de "Why Did the Heavens Not Darken?". Seguido por uma grande exposição da mídia e muita discussão, disse Bauer, o livro de Mayer foi completamente e justificadamente esquecido. O trabalho de Mayer se foi, disse ele, e com razão; ninguém mais o cita ou fala sobre ele. Você, disse ele, virando-se para Goldhagen, não quer terminar como Arno Mayer. Você iniciou sua carreira do jeito errado, concluiu ele; você não começa com Relações Públicas, você termina com elas.

Lawrence Langer então falou como moderador. Fazendo referência ao fato de Goldhagen ter excedido o tempo limite para sua apresentação inicial, Langer sugeriu que ele fosse "generoso" e abrisse mão de seu comentário para que a discussão pudesse começar. Goldhagen respondeu, entretanto, - com muito aplauso - começando a afirmar que seu livro era um produto de seu próprio trabalho, então não se deveria respon-sabilizar seu tutor. "Eu sou mais velho do que aparento", disse ele. "Eu posso me responsabilizar por mim mesmo". Sua tese, continuou Goldhagen, era nova, mesmo que sua documentação não o fosse. Kwiet, afirmou ele, compreendeu meu livro de forma totalmente errada, enquanto Bauer e eu concordamos mais do que discordamos. Despois de Goldhagen ter-se sentado, a discussão começou. Dentre as questões/comentários da audiência, perguntaram a Goldhagen sobre o marketing do livro.

Em resposta, ele disse que tudo o que Knopf havia feito para promover o livro havia sido autorizado por ele, e que ele aprovou o pedido do editor, de que ele "reescreveria completamente a história do Holocausto".

Kwiet então afirmou que não havia prova histórica de que os cidadãos alemães haviam aplaudido a Solução Final. Os alemães responderam com indiferença e silêncio, disse Kwiet, não com aplauso. Em sua resposta a Kwiet, Goldhagen contra-argumentou que indiferença era o mesmo que apoio. Pouco depois, numa pergunta, Jerry Muller da Universidade Católica disse que ele agora lamenta ter convidado seus estudantes graduados para o simpósio. Este era um exemplo excepcionalmente pobre de discussão acadêmica, disse ele, porque vocês, acadêmicos mais velhos, têm sido imensamente desrespeitosos para com este jovem. Vocês estão demonstrando desprezo e ciúmes sobre o fato de que ele se tornou importante, e traindo o propósito de nosso projeto. Em resposta ao comentário de Muller, a audiência irrompeu em calorosos aplausos. Lawrence Langer interrompeu em meio à confusão, [dizendo] que discordâncias acadêmicas honestas não tinham que ser caracterizadas como "desprezo". As luzes foram ligadas e o intervalo programado começou.

Aparentemente, toda a audiência retornou no intervalo. Começando a segunda metade do processo, Richard Breitman introduziu Christopher Browning, que começou observando que ele havia escrito em "Ordinary Men" que outra pessoa cm uma perspectiva diferente poderia não ler os mesmos documentos de forma similar. Eu não esperava, continou ele, que isso acontecesse tão rapidamente e tão dramaticamente. Browning então afirmou que a tese de Goldhagen não era de forma alguma nova, "apesar dos apelos da promoção do livro". (Ele recebeu uma sonora desaprovação da platéia). O maior defeito da tese de Goldhagen, continuou ele, foi sua "monocausalidade" e foco sobre o "anti-semitismo demonológico". De acordo com Goldhagen, disse Browning, não houve relutância para os alemães superarem a fim de poderem matar. Eles mataram por prazer e porque eles pensaram estar fazendo a coisa certa; eles gostavam disso.

Browning continuou, dizendo que muito da tese de Goldhagen baseava-se em seu tratamento de fontes, muitas das quais ele mesmo usou em "Ordinary Men". Browning criticou a metodologia de Goldhagen da seguinte forma: Ao desprezar qualquer testemunho de julgamentos do pós-guerra nos quais os perpetradores alemães expressaram reservas ou remorso - com base no argumento de que isto era uma simples tentativa de receber clemência - Goldhagen garantiu que as fontes apoiariam sua conclusão pré-formulada.

O princípío exclusionista foi "determinístico", de acordo com Browning, e não conseguiu explicar exemplos de Schutzpolizei que ajudaram judeus ou outros que sofreram emocionalmente pelo que eles fizeram. A abordagem de Goldhagen também excluía a possibilidade de que alemães pudessem distinguir, como fizeram, entre anti-semitismo socialmente aceitável e planos inaceitáveis de extermínio em massa. O ponto seguinte de Browning relacionava-se à questão dos perpetradores não-alemães no Holocausto e particularmente o desprezo de Goldhagen por fontes que tratavam desta questão. Aqui, Browning confiou num estudo de caso de luxemburgueses que haviam sido integrados nas forças de extermínio alemãs. Esses homens, argumentou ele, presumivelmente não haviam sido imbuído com a "norma cultural" do anti-semitismo exclusionista, e entretanto eles participaram nos crimes no mesmo grau que os homens alemães. Isto mostrou o poder da pressão de grupo e outras forças sociais em ação, afirmou Browning. Tais pressões específicas de tempo e situacionais não encontraram lugar no trabalho de Goldhagen.

Goldhagen, concluiu Browning, escreveu um livro de história "buraco de fechadura", encon-trando na história alemã somente o que ele queria ver e ignorando essas forças poderosas e competidoras, como catolicismo, socialismo, etc. Goldhagen operou fora de um contexto histórico, de acordo com Browning; conseqüentemente, ele ofereceu uma análise unidimen-sional. Goldhagen deprezou, além disso, o grau de controle nazista da sociedade e as reais penalidades que existiam para se falar abertamente. Browning acusou Goldhagen de escrever história simplista, maniqueísta e "popular", e concluiu com uma citação de Primo Levi,em outras palavras, de que as coisas nunca são tão simples quanto as pessoas gostariam que elas fossem. Nada em história é muito fácil.

Nós saímos enquanto Hans-Heinrich Wilhelm da Universidade de Colônia começou a falar."

Maria D. Mitchell, m_mitchell@...
Professora Assistente de História, Franklin & Marshall College
American Institute for Contemporary German Studies, 1995-1996

Peter Caldwell, caldwell@...
Professor Assistente de História, Rice University
Fellow at the Center for German and European Studies,
Georgetown University, 1995-96

Tradução: Marcelo Oliveira
http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/6332

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