sábado, 18 de agosto de 2007

Carrascos Voluntários de Hitler - críticas ao livro I

Carrascos Voluntários de Hitler - críticas ao livro (parte I)

Relatório de uma discussão do trabalho de Goldhagen realizado no Instituto de Pesqui-sas do Holocausto do Museu Memorial do Holocausto.

Por Maria Mitchell e Peter Caldwell
Fonte:
http://www.h-net.org/~german/discuss/goldhagen/gold5.html

[...]

É importante notar que nós saímos depois da apresentação de Christopher Browning. Nenhum de nós ficou para ouvir o trabalho de Hans-Heinrich Wilhelm, a resposta de Daniel Goldhagen para Christopher Browning, ou os comentários conclusivos de Leon Wieseltier.

Berenbaum introduziu a conferência com um apelo por "discurso civilizado" e obser-vando que o Instituto de Pesquisas [USHMM, n. do t.] havia sido criticado por sediar um simpósio sobre o livro de Goldhagen. Ele então apresentou as seguintes questões: Quão essencial foi o anti-semitismo para a motivação dos perpetradores? Quão endêmico era o anti-semitismo para a cultura social e política alemã?

Para os propósitos de sua apresentação, Goldhagen organizou sua tese em três grandes pontos: (a) "anti-semitismo exterminacionista" era uma "norma cultural" na Alemanha já no final do século dezenove; (b)todos os perpetradores partilhavam de uma visão hitlerista dos judeus; (c) a maioria dos cidadãos alemães também partilhava dessa visão. Sua conclusão com base nesses três pontos era de que a maioria dos alemães comuns estava preparada para matar judeus. Ao afirmar que o "anti-semitismo exter-minacionista" era uma "norma cultural" pelo final do século dezenove na Alemanha, Goldhagen argumentou que "o anti-semitismo exterminacionista" tornou-se parte da cultura alemã devido a um certo conjunto de circunstâncias históricas as quais, afirmou ele, mudaram fundamentalmente depois da II Guerra Mundial. Os judeus tornaram-se um símbolo de tudo o que era mau na Alemanha do final do século dezenove à medida em que o anti-semitismo misturava-se com o "conceito de raça"; o objetivo deste tipo de anti-semitismo, bastante difundido em todas culturas e classes sociais na Alemanha do final do século dezenove, era exclusivamente eliminar os judeus. Esta versão do anti-semitismo se tornou, de acordo com Goldhagen, a ideologia pública oficial incontestável dentro da sociedade alemã.

Ela afirmava que os judeus eram racialmente diferentes dos alemães, nocivos à Alemanha, e portanto tinham que ser eliminados. Por não haver um ponto de vista alternativo apoiado institucionalmente na Alemanha antes de 1945, os alemães foram criados sobre o anti-semitismo eliminacionista tanto quanto eram sobre seu "leite materno". É por isto que, de acordo com Goldhagen, os perpetradores tiveram tão pouca dificuldade em assassinar os judeus.

Carreirismo, pressão dos colegas, "burocracia mióptica" (tudo o que ele rotulou como "não-histórico") não representaram papel algum; pelo fato de que alguns dos pressionados resistiram à "coerção governamental" para matar, era claro que não havia nenhuma "coerção real". O anti-semitismo exterminacionista era a única motivação e a colaboração dos alemães deve então ser atribuída - e exclusivamente atribuída - a virulento anti-semitismo. Isto explicava, nas palavras de Goldhagen, por que os alemães estavam não apenas entusiasmados em eliminar os judeus mas excepcionalmente cruéis em fazê-lo. Isto era verdadeiro, além disso, não apenas para a colaboração dos perpetradores, mas também para os cidadãos alemães, cuja recusa em intervir refletiu sua adesão ao anti-semitismo exterminacionista. Nos anos 30, concluiu Goldhagen, a grande maioria dos cidadãos alemães apoiava a Solução Final.

Kwiet começou acusando Goldhagen de ter escrito e promovido o livro a fim de ficar famoso, afirmando que - não importando qual o resultado deste debate - Goldhagen tinha-o "feito". Para exibir-se e atrair a atenção da mídia entre as numerosas publicações na Holocaust Studies, disse Kwiet, deve-se advogar uma tese espetacular; isto foi exatamente o que Goldhagen fez. Em particular, Kwiet criticou a embalagem do livro feita por Knopf, especialmente sua alegação de que a tese embasava-se em "material novo". A maioria do material, de acordo com Kwiet, foi emprestada do livro de Christopher Browning "Ordinary Men: Reserve Police Battalion 101" E a Solução Final na Polônia". Muito pouco além disso era realmente novo, de acordo com Kwiet; o grosso do livro baseava-se em fontes secundárias.

Não só era bem conhecido o material de Goldhagen, continuou Kwiet, como também nada sobre a tese de Goldhagen era original. A dependência em generalizações sobre o caráter nacional e a representação dos Alemães como "excepcionais" representava o coração da tese "Sonderweg", de acordo com Kwiet, que foi refutada há mais de uma década. Por esse motivo, Kwiet achou particularmente "irritante" o pedido de Goldhagen para entender completa e finalmente o Holocausto. Nenhum outro estudioso, disse Kwiet, jamais fez tal pedido arrogante. Neste contexto, ele citou Hilberg e Friedlaender, que disseram do livro (parafraseado): É inútil, apesar de toda a publicidade feita por Knopf. No nível mais específico, Kwiet desafiou a representação das mulheres feita por Goldhagen como igualmente envolvidas/anti-semitas e seu desprezo pelas vítimas não-judaicas do regime nazista. Como Goldhagen explica o assassinato de ciganos e outros grupos, perguntou ele, se o assassinato foi motivado exclusivamente pelo anti-semitismo exterminacionista? Kwiet também criticou a interpretação da sociedade alemã do pós-guerra feita por Goldhagen, particularmente sua alegação de que o anti-semitismo desapareceu depois de 1945. Kwiet citou Goldhagen, em resumo, que os alemães de hoje são "como nós". Se é assim, afirmou Kwiet, então nós não podemos esperar que os alemães demonstrem nenhum tipo de sensibilidade ou responsabilidade com relação ao Holocausto; ele poderia muito bem ser esquecido. Kwiet concluiu descrevendo a perspectiva de Goldhagen como "mais do que assustadora". Em contraste a Goldhagen, que havia recebido aplausos ruidosos da audiência, Kwiet recebeu quase o silêncio.

Kwiet foi seguido por Yehuda Bauer, que começou afirmando que a tese de Goldhagen é simplesmente um argumento "Sonderweg" requentado, que foi difundido pelas décadas depois da II Guerra Mundial. Esta interpretação, sustentou Bauer, foi de fato a mesma que ele, Bauer, havia debatido pelos últimos trinta anos, embora numa forma muito mais sofisticada.

Seu próprio trabalho, afirmou Bauer, explorava estruturas políticas e culturais assim como vozes e instituições contestadoras na sociedade alemã. Ele também dependia de trabalhos que estudiosos poloneses e israelenses haviam produzido pelas últimas décadas, trabalho ao qual Goldhagen, de acordo com Bauer, não teve acesso porque ele não lia naqueles idiomas. O fato de que o argumento de Goldhagen assentava-se sobre fontes de língua alemã e inglesa representava um sério problema, continuou Bauer; entre suas poucas fontes não-alemãs/inglesas havia uma em tcheco - "provavelmente copiada de mim", disse Bauer.*

*continua na parte abaixo.
http://holocausto-doc.blogspot.com/2007/08/carrascos-voluntrios-de-hitler-crticas.html

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