Mostrando postagens com marcador Christopher Browning. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Christopher Browning. Mostrar todas as postagens

sábado, 4 de maio de 2013

Browning e a tomada de decisão no III Reich - Raul Hilberg

Abaixo, entrevista concedida a Jennie Rothenberg por Christopher Browning, historiador do Holocausto e autor de "Origins of the Final Solution", e que atuou na defesa de Deborah Lipstadt no processo movido por David Irving contra ela.

O processo de tomada de decisão no Terceiro Reich é explicado aqui por Browning, bastante próximo da idéia de Raul Hilberg.

*Observação: Abaixo consta apenas um trecho da entrevista traduzido, a entrevista inteira - em inglês - está no link da fonte.

Tradução:
...
[Jennie Rothenberg] Sua conclusão choca-se contra uma discussão do papel de Hitler na Solução Final. Você enfatiza que o entusiasmo de Hitler unia todos os tipos de pessoas -- eugenistas que queriam alcançar pureza racial, técnicos que queriam mostrar suas habilidades, políticos carreiristas que queriam progredir. Mas você também mostrou que muitas das idéias e planos específicos não vinham de Hitler, mas de seus subordinados, que captavam sinais das vagas declarações de Hitler. Você acha que aqueles líderes nazistas de segundo escalão como Himmler deveriam ser tão responsáveis quanto Hitler pelo Holocausto?

[Christopher Browning] É verdade que Hitler não tinha que ser um micro-administrador nisto. Ele podia fazer exortações, dar discursos proféticos. Estava embutido no sistema nazista que o dever ou imperativo sobre todo nazista leal era, em seus próprios termos, "trabalhar para alcançar o Fuehrer", sempre antecipá-lo e apoiá-lo, de um jeito a devotar sua vida a ele. Quando ele fazia uma profecia, sua obrigação era fazer aquela profecia virar realidade. Quando ele reclamava para si algo em termos de um objetivo vago, seu trabalho era fazer aquilo tornar-se realidade.

Isto provocou todos os tipos de iniciativas, todos os tipos de planos. Esses eram trazidos para Hitler. A alguns ele dizia "não, você não me entendeu direito". Às vezes ele mostrava um sinal vermelho. Algumas vezes ele fazia piscar uma luz amarela -- "não pronto ainda" -- e às vezes ele mostrava luz verde e dava aprovação para continuar. A pessoa que entendia melhor Hitler nisso era Himmler. Ele era o único que podia normalmente antecipar o que Hitler queria e entender o que Hitler queria dizer. É por isto que os SS ganharam poder tão rapidamente neste período, porque enquanto Himmler os estava liderando, ele se tornou progressivamente indispensável para Hitler em termos de transformar profecias em realidades.

Para um historiador, esta forma de tomada de decisão é absurdamente imprecisa. Você não pode ir até um documento específico ou uma reunião específica e dizer "Aqui é quando a decisão foi tomada." Há um longo período para Hitler dar sinais vagos, outros para entender os sinais, eles vindo até Hitler, ele afirmando que eles tinham-no entendido bem, eles voltando e fazendo planos e então trazendo-os de volta. Então o processo de tomada de decisão pode acontecer durante meses, tempo durante o qual não há um único dia ou documento que nós podemos marcar e dizer "Aconteceu aqui."

Fonte: The Atlantic
Entrevista completa: http://www.theatlantic.com/past/docs/unbound/interviews/int2004-02-11.htm
http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/4929
Tradução: Marcelo Oliveira

*A observação antes do trecho fui eu que fiz, não consta do texto original da lista holocausto-doc.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Evidências de Implantação da Solução Final por Christopher R. Browning (Einsatzgruppen)

Capítulo 2 – Einsatzgruppen

5.2.3.1 Em 16 de Maio de 1942, o Dr. August Becker apresentou um relatório secreto a Walter Rauff respeito da visita de inspeção das vans de gás a ser utilizado pelos Einsatzgruppen. Os caminhões Saurer modelo grande com Einsatzgruppen C e D, ele reportou, poderiam viajar em estradas de terra somente em tempo seco e foram inúteis após chuva. Além disso, o terreno acidentado tinha afrouxado as vedações e rebites, de modo que muitos caminhões mais herméticos. Os caminhões do Einsatzgruppen D se tornaram mais conhecidos da população civil que se referiam a eles como “caminhões da morte”.(Todeswagen) Eles disfarçavam pintando as janelas laterais, mas eles não achavam que este subterfúgio iria preservar o sigilo por muito tempo.

No entanto, os maiores problemas com as vans de gás, segundo o relatório de Becker, não eram técnicos. Os homens sofreram “enormes danos emocionais e problemas de saúde” (ungeheure seelische und gesundheitliche Schäden) e queixavam-se de dores de cabeça após cada desembarque. “O gaseamento, sem exceção é realizado corretamente. Para terminar o trabalho o mais rápido possível, os motoristas, sem exceção, abrem o acelerador ao máximo. Por esta razão, aqueles que são executados sofrem com a morte por asfixia, e não, como se pretendia, descansar em paz.” O resultado foi medonho – rostos horrivelmente distorcidos e os corpos cobertos de excremento e vômito. (verzerrte Gesichter und Ausscheidungen)(103)

Apesar desses problemas, as vans de gás ainda continuavam com demanda. O chefe da Polícia de Segurança em Riga reportou em meados de Junho de 1942, um mês após o relatório de Becker, que na Bielorússia ocupada pelos alemães “um transporte de Judeus chega semanalmente e são submetidos a tratamento especial. Os três caminhões especiais que tinham em mãos não eram suficientes para este fim!” Então ele pediu um Saurer modelo grande para ao outro Saurer e aos dois caminhões Diamante do modelo pequeno.(104)

Notas:

(103) – Documento de Nuremberg 501-PS, Becker para Rauff, 16.5.42, publicado em: IMT, vol. 26, pp.103-5. (Die Vergasung wird durchweg nicht richtig vorgenommen. Um die Aktion möglich schnell zu beenden, geben die Fahrer durchweg Vollgas. Durch diese Massnahme erleiden die zu Exekutierenden den Erstickungstod und nicht wie vorgesehen, den Einschläferungstod.)

(104) - 501-PS, BdS Ostland para RSHA, II D 3 a, 15.6.42, publicado em: IMT, vol. 26, pp.106-7. (trifft woechentlich ein Judentransport ein, der einer Sonderbehandlung zu unterziehen ist. Die 3 dort vorhandenen S-Wagen reichen fuer diesen Zweck nicht aus!)

Fonte: Holocaust Denial On Trail (Christopher Browning Report)

Link: http://www.holocaustdenialontrial.com/en/trial/defense/browning/523.0

Tradução: Leo Gott

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Evidências de Implantação da Solução Final por Christopher R. Browning (Chelmno)

Capítulo 1 – Chelmno

A partir de Dezembro de 1941, os judeus do gueto de Lodz e outras cidades de Warthegau foram deportados para o pequeno vilarejo de Chelmno. Em 1º de Maio de 1942, Arthur Greiser escreveu para Himmler: “O tratamento especial de aproximadamente 100.000 judeus em meu território, em uma ação aprovada por você de acordo com o Chefe do Escritório Central de Segurança do Reich SS-Obergruppenführer Heydrich será concluído nos próximos dois ou três meses.”(100)

A conclusão desta tarefa aconteceu sem incidentes, no entanto como pode ser visto em um relatório da seção de motores do RSHA em 5 de Junho de 1942 acerca das alterações técnicas na produção de “caminhões especiais”.

Desde Dezembro de 1941, por exemplo, 97.000 foram processados na ação por três caminhões, nenhum defeito foram encontrados nos veículos. A explosão ocorrida em Chelmno deve ser considerada um caso isolado. A causa deve ser atribuída a erro do operador.(101)

As deportações de Warthegau para Chelmno continuaram em 1942 até que as províncias estivessem livres de Judeus e a população do gueto de Lodz foi reduzida para menos de 90.000.(102)

Notas:

(100) – Documento de Nuremberg NO-246, Greiser para Himmler, 1.5.42. (Die von Ihnen im Einvernehmen mit dem Chef des Reichssicherheitshauptamtes SS-Obergruppenführer Heydrich genehmigte Aktion der Sonderbehandlung von rund 100,000 Juden in meinem Gaugebiet wird in den nächsten 2-3 Monaten abgeschlossen werden können.) Nesta carta, Greiser pergunta se o Sonderkommando emregado na ação judaica poderia ser usado para liberar Warthegau da ameaça representada pelos Poloneses com “tuberculose aberta”. Himmler posteriormente deu permissão a Greiser para submeter os Poloneses tuberculosos considerados incuráveis para o “tratamento especial”. NO-249, Greiser para Himmler, 21.11.42.

(101) - II D 3 Vermerk, 5.6.42, assinado por Just, em BA, R 58/871. (Seit Dezember 19421 wurden beispielweise mit 3 eingesetzten Wagen 97,000 verarbeitet, ohne dass Mägel an den Fahrzeugen auftraten. Die bekannte Explosion in Kulmhof ist als Einzelfall zu bewerten. Ihre Ursache ist auf einen Bedienungsfehler zurückzuführen.) O relatório propôs uma série de melhorias, incluindo: (1) A instalação de duas fendas estreitas com retalhos leves que facilitem a rápida entrada de CO, evitando sobrepressão; (2) Encurtar o modelo Saurer Grande. Eles não podiam transpor o terreno da Rússia em plena carga, e portanto muito espaço vazio existiam para ser preenchido rapidamente com monóxido de carbono, e portanto o tempo de funcionamento é bastante prolongado. Um caminhão menor em plena carga pode operar com muito mais rapidez. A redução do compartimento traseiro não seria desvantajosa ao afetar o equilíbrio do peso, sobrecarregando o eixo da frente, porque, “Na verdade, uma compensação na distribuição do peso é feita automaticamente pelo fato de que a carga pesada na porta traseira durante a operação é sempre preponderante.” (Tätsächlich findet aber ungewollt ein Ausgleich in der Gewichtsverteilung dadurch statt, dass das Ladegut beim Betrieb in dem Streben nach der hinteren Tür immer vorwiegend dort liegt.); (3) Para facilitar a limpeza, buracos de oito a doze polegadas devem ser feitas no chão e munidos de uma tampa para abrir para fora. O piso deve ser levemente inclinado e a tampa equipada com uma peneira pequena. Assim, todos os “fluidos” iriam para o meio, os “fluidos finos” iriam sair, mesmo durante a operação e a “sujeira grossa” poderia ser limpa com mangueira depois; (4) uma luz protegida fortemente que funcione durante os primeiros minutos, assim a “carga” não ficariam pressionando a tranca para abrir a porta de trás quando mergulharem na escuridão em pânico.

(102) - Yad Vashem Archives, O-/79, Report of Statistical Office of Lodz on the Jewish population em 1940. Gestapo situation report, Lodz, 3.10.41, impresso em: Faschismus-Getto-Massenmord, p. 266; The Chronicle of the Lodz Ghetto, pp. xxxix and 266.


Fonte: Holocaust Denial On Trail (Christopher R. Browning)

Link: http://www.holocaustdenialontrial.com/en/trial/defense/browning/522.0

Tradução: Leo Gott

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Evidências de Implantação da Solução Final por Christopher R. Browning (Parte 1)

A – Prova Documental do surgimento do programa para matar os Judeus da Europa:

O programa Nazista para o assassinato de todos os Judeus da Europa que estavam ao alcance da Alemanha foi chamado de “Solução Final da Questão Judaica” (Endlösung der Judenfrage). Enquanto os historiadores que fizeram pesquisas exaustivas nos arquivos Nazistas sobre a política Judaica concordam que este programa foi implementado pelo regime nazista, eles não são unânimes nas suas conclusões sobre vários aspectos importantes da interpretação histórica. Em particular, eles não concordam a respeito de quando o regime nazista decidiu a política de assassinato sistemático em massa, também não concordam sobre o papel preciso de Hitler no processo decisório. Tais divergências sobre interpretação histórica, é claro, não são de todo incomum. Pelo contrário, são ocorrências bastante comuns. O que segue, é a minha interpretação sobre o surgimento da Solução Final, e não é compartilhado em todos os aspectos por outros historiadores competentes e conhecedores do Holocausto.

Na esteira do pogrom Kristallnacht, Hitler colocou Hermann Göring responsável pela coordenação da política Judaica. Por sua vez, Göring delegou jurisdição sobre a política Judaica envolvendo policiamento e emigração para as SS, e em 24 de Janeiro de 1939, Hermann Göring autorizou Reinhard Heydrich a cuidar da emigração de Judeus do Terceiro Reich.(75) Heydrich expandiu sua jurisdição para incluir a expulsão de Judeus, Poloneses e ciganos dos territórios Poloneses incorporados ao Terceiro Reich no Outono de 1939. Na primavera de 1941, Heydrich começou a organizar os Einsatzgruppen da Polícia de Segurança e Serviço de Segurança, que liderou o ataque aos Judeus Soviéticos naquele verão. Então em 31 de Julho de 1941, Heydrich expandiu ainda mais sua jurisdição, quando ele obteve autorização novamente assinada por Göring, confiando-lhe a tarefa de fazer “todos os preparativos necessários” para uma “solução total da questão Judaica” (Gesamtlösung der Judenfrage). Dentro da esfera de influência alemã na Europa. Heydrich apresentou um “projeto abrangente” (Gesamtentwurf) das medidas preliminares para essa “Solução Final da Questão Judaica” (Endlösung der Judenfrage) prontamente.(76) Esta não era uma ordem para a Solução Final, mas Heydrich, o homem que estava atualmente no comando da campanha dos assassinatos do Einsatzgruppen em território soviético ocupado, já havia autorizado a elaborar planos a respeito do destino de todos os outros Judeus sob controle alemão.

Nenhum “projeto abrangente” para uma Solução Final foi encontrado nos documentos alemães que sobreviveram após a guerra. Mas outros documentos que sobreviveram, indicam uma série de mudanças na política Judaica Nazista no outono de 1941, que juntos, constituíram um programa para assassinato sistemático em massa dos Judeus Europeus. A primeira foi uma inversão da política anterior de Hitler de que a deportação dos Judeus Alemães não aconteceria após a guerra. Em 18 de Setembro de 1941, Himmler informou ao Gauleiter de Warthegau, Arthur Greiser: “O Führer quer que o Old Reich e o Protetorado esvaziado e livre de Judeus de leste a oeste, o mais rapidamente possível.” Assim Himmler tencionou, “como o primeiro passo” (als erste Stufe), para deportar os judeus para os territórios incorporados (especialmente o gueto de Lodz) “a fim de deportá-los mais para o leste ainda na próxima primavera”.(77) Em 10 de Outubro, Heydrich em Praga, anunciou que Riga e Minsk também seriam destinos para deportação de Judeus Alemães.(78) As deportações, primeiro em Lodz, tiveram início em 15 de Outubro.

A segunda grande mudança na política alemã foi a proibição da imigração Judaica para o exterior. Em Agosto de 1941, um número de Judeus espanhóis residentes em paris foram presos, o que levou o governo espanhol a sugerir a possibilidade de evacuar todos os judeus espanhóis (cerca de 2.000) para o Marrocos Espanhol – uma proposta foi aprovada pelo Ministério das Relações Exteriores alemão em plena sintonia com a política alemã de emigração ou expulsar judeus no exterior. Em 17 de Outubro, Heydrich bloqueou a proposta espanhola por duas razões. A primeira, os espanhóis não tinham direito de colocá-los no Marrocos. Em segundo lugar, “Além disso, estes Judeus também estariam muito fora do alcance das medidas para uma solução básica para a questão Judaica ser promulgada após a guerra”.(79) Em 23 de Outubro de 1941, o Chfe da Gestapo, Heirich Müller, despachou uma circular para todos os órgãos para anunciar a ordem de Himmler, que era para parar a emigração Judaica.(80)

O que o fim da emigração Judaica no exterior para os Judeus espanhóis, mesmo que não seria “muito fora do alcance direto das medidas para uma solução básica para a questão Judaica, a ser promulgada após a guerra” quer dizer? O que a deportação dos Judeus alemães, primiro os de Lodz e em seguida de Minsk e Riga “ainda mais a leste na próxima primavera” significa? Será que eles não significam nada mais do que a expulsão para o leste da Rússia ou Sibéria depois da derrota da União Soviética, ainda na primavera de 1942? Uma combinação de três documentos que datam do final de Outubro de 1941 sugerem o contrário.

Entre 18 e 21 de Outubro de 1941, o expert em assuntos Judaicos do Ministério das Relações Exteriores, Franz Rademacher e o segundo substituto de Eichmann, Friedrich Suhr, visitaram Belgrado. Depois da viagem de Rademacher reportou que homens judeus adultos haviam sido baleados pelo exército alemão na Sérvia. Quanto ao destino das mulheres judaicas, crianças e idosos, Rademacher relatou: “Então, assim como a possibilidade técnica existe no âmbito da solução total para a questão Judaica, os Judeus serão deportados via fluvial para o campo de recepção no leste.”(81) Em suma, os Judeus deportados da Europa não deveriam simplesmente serem expulsos para o leste da Rússia, eles deveriam ser internados em um “campo de recepção” alemão, ainda não construído. Além disso, como este campo de recepção era para as mulheres, crianças e idosos, é evidente que não era um campo de trabalho.

Um segundo documento relevante é um memorando manuscrito de 23 de Outubro de 1941, que Franz Rademacher escontrou esperando por ele do Editor Internacional do Der Stürmer, Paulo Wurm, quando ele retornou de Berlim. Wurm escreveu:

Caro camarada de partido Rademacher,

No retorno de minha viagem de Berlim, eu conheci um antigo companheiro de partido que trabalha no leste sobre a resolução da questão Judaica. Num futuro próximo muitos dos parasitas Judeus serão exterminados por meio de medidas especiais.(82)

5.1.8 O que Wurm entende por “medidas especiais” para a destruição dos Judeus no leste? Em 25 de Outubro de 1941, de contrapartida a Rademacher, o Ministro do Reich para os Territórios do Leste, Eberhard Wetzel reuniu-se com Viktor Brack da Chancelaria do Führer (onde este estava envolvido com o programa de eutanásia dos doentes mentais e físicos e portadores de deficiência em hospitais e asilosalemães) e depois com Adolf Eichmann (assessor especial de Heydrich para a política Judaica). Em seguida, Wetzel elaborou uma carta e enviou para o seu chefe, Alfred Rosenberg, dizendo que Hinrich Lohse não estava contente com a iminente deportação de Judeus alemães para Riga. De acordo com Wetzel, Brack declarou-se pronto para ajudar na construção de “aparelhos de gaseamento” (vergasungsapparate) no local, em Riga. Eichmann confirmou para Wetzel que os campos de Judeus em Ricga e Minsk estavam prestes a serem criados para receber os Judeus alemães. Aqueles capazes para o trabalho seriam enviados “para o leste” mais tarde. Nestas circunstâncias não há objeções “se os Judeus que não estão aptos para o trabalho seriam removidos pelo dispositivo de Brack”, entretanto.(83)

Em suma, os documentos que sobreviveram mostram que no final de Outubro de 1941, o regime nazista: 1) pôs fim a uma antiga política de criação de uma Europa livre de Judeus através da emigração e da expulsão para o exterior; 2) tinha começado a deportar Judeus alemães para o leste em guetos onde aguardavam deportação, mais a leste na primavera seguinte; 3) estava planejando um “campo de recepção” no leste para não-trabalhadores, mulheres Judias, crianças e idosos; 4) estava planejando a destruição dos Judeus através de “medidas especiais”; e 5) estava discutindo a construção de “aparelhos de gaseamento”, em Riga, de modo que os Judeus alemães inaptos para o trabalho poderiam ser “removidos” imediatamente.

Esses documentos sugerem que uma política de extermínio sistemático, incluindo a deportação para campos de recepção e utilização de gaseamento como método de assassinato, foi tomando forma no final de Outubro de 1941, mesmo que não estivesse implementado até a primavera seguinte (após o esperado fim da guerra). As declarações de líderes nazistas, nos meses seguinte, certamente apontam para um crescente reconhecimento de assassinato em massa, sem expulsão, agora era o objetivo do regime. Em 15 de Novembro de 1941, Himmler teve uma discussão de quatro horas com Alfred Rosenberg.(84) Três dias depois, Rosenberg fez um relatório de fundo “confidencial” para a impressa alemã. Os repórteres ainda não estavam com os detalhes impressos do que estava acontecendo no leste, mas eles precisavam de fundo suficiente para que a imprensa pudesse dar o tratamento de “cor” (Farbe) apropriada, ele explicou. Entre os temas abordados por Rosenberg um deles foi a questão Judaica.

No leste, cerca de seis milhões de judeus ainda vivem, e esta questão só pode ser resolvida com a erradicação biológica da Judiaria de toda a Europa. A questão Judaica só será resolvida para a Alemanha, quando o último Judeu tiver deixado o território alemão, e para a Europa, quando não tiver um único judeu no continente europeu até os Urais. ...por essa razão é necessário expulsá-los ao longo dos Urais ou erradicá-los de alguma outra forma.(85)

Em 28 de Novembro de 1941, Hitler se reuniu com o Grande Mufti de Jerusalém. Hitler declarou: “A Alemanha estava decidida, passo a passo, para solicitar a uma nação européia ou outra para resolver o problema Judaico, e no momento adequado, uma apelação direta a nações não Européias”. Quando a Alemanha derrotou a União Soviética e interrompeu do Cáucaso até o Oriente Médio, a Alemanha não tinha objetivos imperiais próprios e apoiará a libertação árabe, Hitler assegurou ao Grande Mufti. Mas ele tinha um objetivo: “O objetivo da Alemanha seria então, somente a destruição do elemento Judeu na esfera árabe sob proteção do poder Britânico.”(86)

Em Dezembro de 1941, após a contra-ofensiva soviética em torno de Moscou, o ataque japonês a Pearl Harbor e a declaração de guerra alemã aos Estados Unidos, não poderia haver qualquer duvida que a guerra não terminaria antes da primavera seguinte. No entanto, Hitler deixou claro em um discurso para o alto escalão do Partido Nazista em 12 de Dezembro de 1941, que este não iria alterar a emergente política alemã de assassinatos em massa.

Quanto à questão Judaica, o Führer está determinado a fazer uma limpeza. Ele profetizou que, se eles fossem mais uma vez os causadores de uma guerra mundial, o resultado seria sua própria destruição. Isso não era uma figura de linguagem. A guerra mundial está aqui, a destruição dos judeus deve ser a conseqüência inevitável.(87)

Hans Frank, que participou desta reunião, voltou para o Governo Geral e explicou o que tinha aprendido em Berlim para os seus governadores de distrito e líderes de divisão.

Temos que pôr um fim aos judeus, eu quero dizer isso abertamente. O Führer quando disse essas palavras: Se a união dos Judeus mais uma vez desencadearem uma guerra mundial, então os povos que foram incitados a esta guerra não serão apenas vítimas, porque os Judeus na Europa irão encontrar o seu fim. ...Antes de eu continual a falar, eu pediria que vocês concordassem comigo no seguinte princípio: queremos ter compaixão somente para o povo alemão, e mais ninguém no mundo inteiro. Outros não tiveram compaixão de nós. Como um velho Nacional Socialista, devo dizer também: Se a tribo Judaica sobreviver á guerra na Europa, enquanto nós tivermos sacrificado o nosso melhor sangue para a preservação da Europa, após a guerra, seria um sucesso apenas parcial. Assim vis-a-vis os judeus em princípio procederão apenas na suposição de que eles irão desaparecer. Eles devem ir. Tenho entrado em negociações com a finalidade de deportá-los para o leste. Em Janeiro uma grande reunião será convocada no Escritório Central de Segurança do Reich pelo SS Obergruppenführer Heydrich. De qualquer forma, uma grande migração de Judeus serão postas em movimento. Mas o que vai acontecer com os Judeus? Vovê acredita que eles serão apresentados nos assentamentos na Ostland? Em Berlim, nos foi dito: não podemos usá-los em Ostland, no Reichskommissariat ou em qualquer outro; iremos liquidá-los mesmo! Cavalheiros, eu devo perguntar, armem-se contra qualquer sentimento de compaixão. Temos que destruir os judeus, sempre que nos deparamos com eles e sempre que for possível, a fim de preservar toda a estrutura do Reich.

Frank ainda não sabia como uma destruição sem precedentes nesta escala poderia ser feita, mas ele garantiu aos seus ouvintes que “mesmo assim vamos tomar algum tipo de ação que irá levar a uma destruição bem sucedida, e, de fato, em conjunção com as medidas importantes a serem discutidas no Reich.”(88)

O que Frank chamou de “grande reunião” em Berlim, sob a liderança de Heydrich, onde “medidas importantes” iriam ser discutidas em Janeiro, tinha sido inicialmente agendada para 8 de Dezembro de 1941, mas foi adiada para 20 de Janeiro de 1942. Conhecida como Conferência de Wannsee, que contou com a presença de Secretários de Estado, ministérios do Interior (Stuckart), Justiça (Freisler), Governo Geral (Bühler), Territórios Ocupados do Leste (Meyer e seu substituto Leibbrandt), bem como o Gabinete do Plano de Quatro Anos (Neumann), a Chancelaria do partido (Klopfer), o subsecretário do Ministério das Relações Exteriores (Luther) e o diretor ministerial da Chancelaria do Reich (Kritzinger). Os Secretários de Estado, logo abaixo do nível de ministro, através do protocolo, eram os mais altos do ranking que Heydrich poderia convidar – como adjunto de Himmler – sobre a qual presidia. Também estavam presentes os chefes da Gestapo (Müller), Escritório Central de Raça e Reassentamento (Hofmann), da Polícia de Segurança do Governo Geral (Schöngarth), bem como Heydrich, Eichmann e Rudolf Lange, comandante do Einsatzkommando 2 na Letônia. Os convites de Heydrich para a reunião foram acompanhadas de cópias de sua autorização, assinada por Göring em 31 de Julho de 1941, para preparar uma solução definitiva para a questão Judaica em toda esfera de influência alemã na Europa. Não há registro de Heydrich ter presidido qualquer outra reunião com uma lista tão ilustre de altos funcionários do regime nazista em toda a sua carreira.

Heydrich brevemente reiterou a sua autorização para preparar uma Solução Final na escala européia e revisão da política de emigração, até sua proibição, no outono de 1941. Heydrich em seguida disse: “No lugar da emigração, a evacuação dos Judeus para o leste surgiu agora, após a aprovação adequada prévia do Führer, como a única solução possível.” Um total de 11 milhões de Judeus europeus, inclusive naqueles países neutros como a Irlanda, Suíça e Suécia estariam envolvidos, de acordo com Heydrich. As evacuações, no entanto, deveriam ser consideradas “apenas como medida temporária” (als lediglich Ausweichmöglichkeiten), para a experiência prática “praktischen Erfahrungen), já estavam sendo recolhidas do que seria de grande importância para o “eminente” (kommende) Solução Final. Heudrich em seguida passou a explicar exatamente o que ele quis dizer com isso. Os Judeus seriam utilizados para o trabalho no leste.

Separados por sexo, os Judeus aptos ao trabalho serão levados para estas áreas em grandes colunas para construir estradas, uma grande parte, sem dúvida, irá cair por diminuição natural. O restante, que sobreviver a tudo isso, é sem dúvida uma questão de maior resistência, serão tratados como tal, porque estes remanescentes, representando uma seleção natural, devem ser considerados o germe da célula da nova reconstrução Judaica se forem liberados.

Se o protocolo indica que os Judeus capazes para o trabalho, após serem submetidos ao trabalho árduo de tal forma que a maioria iria morrer, e aqueles que não seriam “tratados como tal”, não faz menção do que estava para acontecer com os Judeus que não estavam aptos ao trabalho. Bühler compreendia perfeitamente que a Solução Final significava mais do que os Judeus trabalharem até a morte, porque ele insistiu que ela começasse no Governo Geral, porque não havia nenhum problema de transporte e a maior parte dos Judeus eram inaptos para o trabalho.

O protocolo foi resumido em longas discussões sobre a política em relações aos Judeus, em casamentos mistos e os seus filhos como sem solução. Eu um ponto o protocolo foi excepcionalmente breve, que diz respeito à questão que Frank tinha levantado em Dezembro, ou seja, como os Judeus seriam destruídos. Sem qualquer explicação sobre o verdadeiro conteúdo da discussão, o protocolo se limitou a referir enigmaticamente: “Finalmente, houve uma discussão sobre os vários tipos de soluções possíveis...”

Trinta cópias do protocolo da Conferência Wannsee foram feitas, e a única cópia que sobreviveu foi a que foi enviada por Heydrich para o Ministério das Relações Exteriores em 26 de Janeiro de 1942.(89) Aparentemente, o Ministério do Interior do reich recebeu uma cópia, ao mesmo tempo em outra reunião em 29 de Janeiro de 1942, o especialista em Judeus, Bernhard Lösener, fez uma referência à Conferência de 20 de Janeiro.(90)

Um notável líder nazista não tinha enviado um representante para a Conferência de Wannsee, ao saber o rival não gostou de Heydrich e Himmler, Josef Goebbels do Ministério da propaganda. Parece que Goebbels recebeu uma versão resumida do protocolo bem mais tarde. Ele observou em seu diário em 7 de Março de 1942, sobre um relatório “da SD e da Polícia em relação à Solução Final da Questão Judaica”. Ele observou na Conferência de Wannsee o número de 11 milhões de Judeus na Europa, em seguida escreveu: “Eles terão que concentrar mais tarde, para começar no leste, possivelmente uma ilha como Madagascar pode ser atribuída a eles após a guerra.”(91) Na realidade é claro, os Judeus não foram e nem iriam ser concentrados “mais tarde” e nem enviados para Madagascar após a guerra. Os Judeus de Warthegau já estavam sendo asfixiados neste momento, e já era eminente o gaseamento dos Judeus sérvios no campo de Semlin. Além disso, a “concentração” os Judeus da Polônia, nas três aldeias de Belzec, Sobibor e Treblinka estava prestes a começar.

Notas:

(75)Documento de Nuremberg NG-2586-A: Göring para o Ministro do Interior do Reich, 24.1.39 (cópia em Political Archives of the German Foreign Office, Inland II 177).

(76) Documento de Nuremberg PS-710: Göring para Heydrich, 31.7.41, publicado em IMT, vol.. 26, pp. 266-67.

(77) Himmler para Greiser, 18.9.41, em National Archives, T-175/54/2568695. (Der Führer wünscht, dass möglichst bald das Altreich und das Protekorat vom Westen nach Osten von Juden geleert und befreit werden. ...um sie im nächsten Frühjahr noch weiter nach dem Osten abzuschieben)

(78) Notas sobre a conferência presidida por Heydrich em Praga, 10.10.41, publicado em: H.G. Adler, Theresienstadt 1941-1945 (Tübingen, 1960, 2nd edition), pp.720-722 (Document 46b).

(79) Memorando de Luther, 13 e 17.10.41, em: Political Archives of the German Foreign Office, Pol. Abt.. III 246. (Darüber hinaus wären diese Juden aber auch bei den nach Kriegsende zu ergreifended Massnahmen zur grundsätzlichen Lösung der Judenfrage unmittelbaren Zugriff allzusehr entzogen)

(80) Müller Runderlass, 23,10.41 (Documento do Julgamento de Eichmann T/1209).

(81) Relatório de Rademacher, 25.10.41, em Political Archives of the German Foreign Office, Inland II 194, publicado em: Akten zur Deutschen Aussenpolitik, D, XIII, Part 2, pp. 570-72. (Sobald dann im Rahmen der Gesamtlösung der Judenfrage die technische Möglichkeit besteht, werden die Juden auf dem wasserwege in die Auffanglager im Osten abgeschoben.)

(82) Wurm para Rademacher, 23.10.41, em: Political Archives of the German Foreign Office, Inland II A/B 59/3. (Auf meine Rückreises aus Berlin traf ich einen alten Parteigenossen, der im Osten an der Regelung der Judenfrage arbeitet. In nächster Zeit wird von dem jüdishen Ungezeifer durch besondere Massnahmen manches vernichtet werden.)

(83) Documento de Nuremberg NO-365: memorando Rosenberg para Lohse, rubricado por Wetzel, 25.110.41. (wenn diejenigen Juden die nicht arbeitsfähig sind, mit den Brackschen Hilfsmitteln beseitigt werden) De acordo com o dicionário Langenscheidts “beseitigen” tem o significado literal de “remover” e dois dos seus usos figurativos são “dispor” no contexto de lixo e “acabar com”, “liquidar” e “limpeza” no contexto de matar. Aqui está um caso em que uma tradução em inglês não pode ser capturada de forma simultânea os múltiplos significados da palavra no alemão original. Uma segunda versão do memorando de Wetzel é manuscrito, NO-996 e NO-997. Nesta versão o autor da carta afirmava que ele tinha objeção às propostas sobre a questão Judaica contidas em um relatório de Lohse de 4 de Outubro. No entanto, ele estava enviando a Lohse o registro das conversas de Wetzel com Brack e Eichmann, ele pediu Lohse “para inferir as informações relativas ao estado do assunto.”

(84) Documento de Nuremberg NO-5329: Arquivo de notas de Himmler em conversa com Rosenberg, 15.11.41; Himmler Terminkalendar, entrada de 15.11.41, em Moscow Special Archives, 1372-5-23.

(85) Discurso de Rosenberg, 18.11.41, em Political Archives of the Foreign Office, Pol. XIII, VAA Berichte. (Im Osten leben noch etwa sechs-Millionen Juden, und diese Frage nur gelöst werden in eine biologischen Ausmerzung des gesamten Judentums in Europe. Die Judenfrage ist für Deutschland erst gelöst, wenn der letzte Jude das deutsche Territoriums verlassen hat, und für Europa wenn kein Jude mehr bis zum Ural auf dem europäischen Kontinent steht. ...dazu ist es nötig, sie über den Ural zu drängen oder sonst irgendwie zur Ausmerzung zu bringen.)

(86) Documents on German Foreign Policy, D, XIII, No. 515, pp. 882-84.

87. Die Tagebücher von Joseph Goebbels, Teil II, Bd. 2, pp. 498-99 (entry of 13.12.41). (Bezüglich der Judenfrage ist der Führer entschlossen, reinen Tisch zu machen. Er hat den Juden prophezeit, dass, wenn sie noch einmal einen Weltkrieg herbeiführen würden, sie dabei ihre Vernichtung erleben würden. Das ist keine Phrase gewesen. Der Weltkrieg ist da, die Vernichtung der Judentums muss die notwendige Folge sein).

88. Frank speech at Regierungssitzung of 16.12.41, printed in Das Diensttagebuch des deutschen Generalgouverneurs in Polen 1929-1945 (Stuttgart, 1975), pp. 457-8. (Mit den Juden--dass will ich Ihnen auch ganz offen sagen--must so oder so Schluss gemacht werden. Der Führer sprach einmal das Wort aus: wenn es der vereinigten Judenschaft wieder gelingen wird, einen Weltkrieg zu entfesseln, dann werden die Blutopfer nicht nur von den in den Krieg gehetzten Völkern gebracht werden, sondern dann wird der Jude in Europa sein Ende gefunden haben. ...Ich möchte Sie bitten: einigen Sie sich mit mir zunächst, bevor ich jetzt weiterspreche, auf die Formel: Mitleid wollen wir grundsätzlich nur mit dem deutschen Volke haben, sonst mit niemandem auf der Welt. Die anderen haben auch kein Mitleid mit uns gehabt. Ich muss auch als alter Nationalsozialist sagen: wenn die Judensippschaft in Europa den Krieg überleben würde, wir aber unser bestes Blut für die Erhaltung Europas geopfert hätten, dann würde dieser Krieg doch nur einen Teilerfolg darstellen. Ich werde daher den Juden gegenüber grundsatzlich nur von der Erwartung ausgehen, dass sie verschwinden. Sie müssen weg. Ich habe Verhandlungen zu dem Zwecke angeknüpft, sie nach dem Osten abzuschieben. Im Januar findet über diese Frage eine grosse Besprechung in Berlin statt, zu der ich Herrn Staatssekretär Dr. Bühler entsenden werde. Diese Besprechung soll im Reichssicherheitshauptamt bei SS-Obergruppenführer Heydrich gehalten werden. Jedenfalls wird eine grosse jüdische Wanderung einsetzen.
Aber was soll mit den Juden geschehen? Glauben Sie, man wird sie im Ostland in Siedlungsdörfen unterbringen? Man hat uns in Berlin gesagt: weshalb macht man diese Scherereien; wir können im Ostland oder im Reichskommissariat auch nichts mit ihnen anfangen, liquidiert sie selber! Meine Herren ich muss Sie bitten, sich gegen alle Mitleidserwägungnen zu wappnen. Wir müssen die Juden vernichten, wo immer wir sie treffen und wo es irgend möglich ist, um das Gesamtgefüge des Reiches hier aufrecht zu erhalten.
...wir den aber doch Eingriffe vornehmen, die irgendwie zu einem Vernichtungserfolg führen, und zwar im Zusammenhang mit den von Reich her zu besprechenden grossen Massnahme.)

89. Protocol of the Wannsee Conference and Heydrich cover letter to Luther, 26.1.42, in Political Archives of the German Foreign Office, Inland II 177.
(An Stelle der Auswanderung ist nunmehr als weitere Lösungsmöglichkeit nach entsprechender voheriger Genehmigung durch den Führer die Evakuierung der Juden nach dem Osten. ...Der allfällig verbleibende Restbestand wird, da es sich bei diesen zweifellos um den widerstandsfähigsten Teil handelt, entsprechend behandelt müssen, da dieser, eine natürliche Auslese darstellend, bei Freislassung als Keimzelle eines neuen jüdische Aufbaues anzusprechen ist. (In grossen Arbeitskolonnen, unter Trennung der Geschlechter, werden die arbeitsfähigen Juden strassenbauend in diese Gebiete geführt, wobei zweifellos ein Grossteil durch natürliche Verminderung ausfallen wird.
...Abschliessend wurden die verschiedenen Arten dere Lösungsmöglichkeiten besprochen...) )

90. Protocol of Ostministerium conference, 29.1.42, in: Political Archives of the German Foreign Office, Inland II 179.

91. Louis Lochner, ed., The Goebbels Diaries (New York, 1948), pp. 147-48.

Fonte: Holocaust Denial On Trail (Christopher Browning Report)

Link: http://www.holocaustdenialontrial.com/en/trial/defense/browning/500

Tradução: Leo Gott

terça-feira, 9 de março de 2010

Holocausto: Intencionalistas x Funcionalistas

Debate entre historiadores: Estava programada de antemão a destruição dos judeus da Europa?

Duas correntes historiográficas tem tentado compreender o modo como se organizou o genocídio dos judeus. Ambas estão de acordo em constatar a enormidade dos crimes cometidos, mas qual foi o papel pessoal exercido por Hitler? E qual o dos nazis em seu conjunto?

Uns são os "intencionalistas", que pensam que o genocídio estava já presente no primeiro programa de Hitler, entre 1919- 1920; os outros são "funcionalistas", que sustentam que o genocídio foi sendo executado sobre a marcha, com frequência mediante a improvisação e em meio a uma contenda entre diversos poderes do sistema nazista.

Os "intencionalistas": Para um considerável grupo de historiadores, as perguntas sobre o surgimento da solução final encontram resposta na retórica antissemita de Hitler que, em diferentes períodos de sua carreira, materializa nos judeus um objetivo constante. Desta forma, Hitler aparece como o motor da política antissemita nazi, manifestando em suas opiniões uma linha de pensamento coerente. Hitler é, assim mesmo, considerado como o único estrategista com suficiente autoridade e determinação para levar a cabo a realização da solução final. No que pode ser a obra mais lida sobre este aspecto ("A guerra contra os judeus"), Lucy Dawidowicz sustenta que o Fürher já preparava o terreno para o extermínio em massa em setembro de 1939, durante a invasão da Polônia. "A aniquilação dos judeus e a guerra eram interdependentes", escreve. As desordens da guerra proporcionaram a Hitler a cobertura necessária para cometer os assassinatos desenfreados. Tais operações necessitavam de um cenário onde as regras da moral ou os habituais códigos de guerra não tivessem lugar". Setembro de 1939 veio, pois, a desenvolver uma "dupla guerra": por uma parte, uma guerra de conquista buscando por meios tradicionais o controle de matérias-primas e a criação de um império; por outra, a guerra contra os judeus, a confrontração decisiva contra o principal inimigo do Terceiro Reich. Desta perspectiva, a ordem de extermínio em massa na escala europeia, lançada em finais da primavera ou durante o verão de 1941, deriva-se diretamente das ideias de Hitler acerca dos judeus, ideias que já haviam sido expressas em 1919. Pode, em diversas ocasiões, camuflar ou minimizar a importância de seu programa de aniquilação. Mas, insiste Dawidowicz, suas intenções não variaram jamais: "Hitler havia formulado planos de longo prazo para realizar seus objetivos ideológicos, e a destruição dos judeus era seu núcleo fundamental". Tomando a expressão do historiador britânico Tim Mason, Chistopher Browning foi o primeiro a qualificar de "intencionalista" esta interpretação que põe o acento sobre o papel exercido por Hitler na ação de pôr em execução o assassinato dos judeus da Europa, detectando um alto grau de obstinação, de coerência e de lógica no desenvolvimento da política antissemita dos nazis, da qual o principal objetivo era o extermínio em massa. Os "funcionalistas", que criticam esta corrente, insistem mais sobre a evolução dos objetivos nazis, ao compasso dos acontecimentos malogrados da política alemã e da interação entre esta e os mecanismos internos do Terceiro Reich.

(Michael Marrus: L´Holocauste dans l´Histoire. Eshel, 1990)
Título em português: A Assustadora História do Holocausto, Michael Marrus

Os funcionalistas: a corrente funcionalista se desenvolveu em torno de importantes historiadores alemães como Martin Broszat. Os trabalhos de Martin Broszat, de Hans Mommsen e de muitos outros põem em questão a ideia de que a evolução do Terceiro Reich fora o resultado da aplicação de um plano pré-estabelecido, enunciado no Mein Kampf("Minha Luta") e minuciosamente preparado durante o "período de luta" anterior à tomada de poder, em 1933. Rechaçam o fato de que tal programa pudesse se impôr sem repreender a todos os componentes da sociedade alemã e mais ainda ao resto da sociedade internacional. Criticam o postulado de base desta análise, chamada intencionalista, que sustenta que Hitler foi o fator determinante do sistema criminoso posto em funcionamento pelos nazis, e que a violência extrema e uma posição onipotente lhe permitira concretizar sua visão racista do mundo. Frente a esta perspectiva, os funcionalistas retomaram e desenvolveram uma ideia sugerida em 1942 pelo sociólogo exilado Fraz Neumann. Longe de formarem um bloco, o regime nazista estava submetido à forças centrífugas apartadas naquilo que a interação definia sua especificidade: o aparato do partido propiamente dito, suas múltiplas organizações satélites (profissionais, culturais, juvenis...), o exército, as forças econômicas, nas que se juntam os aparatos totalitários que escapam ao controle tanto do partido como do Estado. Dois fatos essenciais são deduzidos desta interpretação. Por uma parte, o sistema nazi se construiu sobre a dinâmica de um movimento descontínuo. A etapa final – a radicalização assassina -, não pode erigir-se no ponto de arranque de toda análise, numa espécie de aproximação teleológica, porque o Terceiro Reich esteve sujeito a uma temporalidade própria, é o produto de uma história que se trata precisamente de analisar. Distante de ser um sistema rígido e fechado, o estado hitlerista foi um sistema relativamente aberto, às vezes anárquico, em evolução permanente e que uma de suas molas foi a existência de fortes rivalidades entre as diversas fontes de poder, isso que Broszat denomina de a "policracia nazi". Por outra parte, neste sistema, a função de Hitler, que está longe de ser o ditador todopoderoso tantas vezes descrito, era a de garantir a coesão do sistema. Sua vontade pessoal era um fator menos determinante que o "mito do Führer", elaborado por uma propaganda eficaz e onipresente. Este mito ou esta mística tinham como objetivo mobilizar as energias, integrar os diferentes estratos sociais (pelo terror, a persuasão ou a exclusão) e legitimar um regime cujos mecanismos internos escapavam em parte a seus dirigentes.

Esta corrente tem se mostrado especialmente fecunda para estudar a gênesis da solução final, os processos de decisão e os complexos meios de sua aplicação. Sobre este ponto em concreto, os historiadores da corrente funcionalista reavaliaram para baixo o peso pessoal de Hitler em benefício de outras instâncias de decisão centrais ou locais, e tem insistido sobretudo na importância decisiva das circunstâncias políticas e militares de 1940-1941. Uma vez efetuada a deportação e a concentração em grande escala das populações judias do leste, e em particular a dos judeus poloneses, os responsáveis nazis, especialmente os da Polônia oculpada, encontraram-se ante a uma situação material inadministrável que foi a invasão da URSS, em junho de 1941, e o avanço das tropas alemãs na frente oriental se tornou ainda mais crítico. A decisão de exterminar em massa os judeus, que se produziu segundo eles no outono de 1941, seria o resultado de uma conjução de fatores: o fanatismo ideológico extremo (a condição necessária), as divergências dos aparatos burocráticos, as pujanças radicais resultantes e a anarquia de uma situação que os nazis não controlavam, apesar de que eles mesmos a haviam criado.

(Henry Rousso, prefácio de Norbert Frei, L'Etat hitlerien et la société allemande. Le Seuil, 1994)
Fonte: 2009 Proyecto Clío
http://clio.rediris.es/fichas/Holocausto/debate.htm
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Da destruição através do trabalho à destruição do trabalho

Este frase vem de Browning, p.87, e descreve uma transição que pode ser envolvido em dois extracts. O primeiro vem de Oswald Pohl e descreve a política de trabalho que existiu até abril de 1942 no Governo Geral:
O comandante do campo sozinho é responsável pelo emprego dos trabalhadores. Este tipo de trabalho deve ser exaustivo no sentido exato da palavra, a fim de obter o máximo de rendimento. [...] O tempo de trabalho é obrigatório e sem limites. [...] Se a demora avançar apenas o intento de comida na hora do almoço serão vetados. [IMT: The process, volume XXXVIII, página 366/Doku. 129-R].
O segundo vem do diário de Hans Frank, datado de 9 de dezembro de 1942, e descreve o dilema que Frank encarou depois que Himmler tinha intervido para exterminar seus trabalhadores judeus essenciais:
Em nosso tempo de experimento com judeus não tínhamos tido nenhuma fonte insignificante força de trabalho tomada de nós. Está claro que o processo de trabalho mobilizado está rendendo mais dificuldades quando no meio deste programa de trabalho em tempos de guerra a ordem seja de que todos os judeus devam ser conduzidos à sua destruição [citação, Browning, p.79].

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2009/05/from-destruction-through-labour-to.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais: Europa dominada

sábado, 18 de agosto de 2007

Carrascos Voluntários de Hitler - críticas ao livro I

Carrascos Voluntários de Hitler - críticas ao livro (parte I)

Relatório de uma discussão do trabalho de Goldhagen realizado no Instituto de Pesqui-sas do Holocausto do Museu Memorial do Holocausto.

Por Maria Mitchell e Peter Caldwell
Fonte:
http://www.h-net.org/~german/discuss/goldhagen/gold5.html

[...]

É importante notar que nós saímos depois da apresentação de Christopher Browning. Nenhum de nós ficou para ouvir o trabalho de Hans-Heinrich Wilhelm, a resposta de Daniel Goldhagen para Christopher Browning, ou os comentários conclusivos de Leon Wieseltier.

Berenbaum introduziu a conferência com um apelo por "discurso civilizado" e obser-vando que o Instituto de Pesquisas [USHMM, n. do t.] havia sido criticado por sediar um simpósio sobre o livro de Goldhagen. Ele então apresentou as seguintes questões: Quão essencial foi o anti-semitismo para a motivação dos perpetradores? Quão endêmico era o anti-semitismo para a cultura social e política alemã?

Para os propósitos de sua apresentação, Goldhagen organizou sua tese em três grandes pontos: (a) "anti-semitismo exterminacionista" era uma "norma cultural" na Alemanha já no final do século dezenove; (b)todos os perpetradores partilhavam de uma visão hitlerista dos judeus; (c) a maioria dos cidadãos alemães também partilhava dessa visão. Sua conclusão com base nesses três pontos era de que a maioria dos alemães comuns estava preparada para matar judeus. Ao afirmar que o "anti-semitismo exter-minacionista" era uma "norma cultural" pelo final do século dezenove na Alemanha, Goldhagen argumentou que "o anti-semitismo exterminacionista" tornou-se parte da cultura alemã devido a um certo conjunto de circunstâncias históricas as quais, afirmou ele, mudaram fundamentalmente depois da II Guerra Mundial. Os judeus tornaram-se um símbolo de tudo o que era mau na Alemanha do final do século dezenove à medida em que o anti-semitismo misturava-se com o "conceito de raça"; o objetivo deste tipo de anti-semitismo, bastante difundido em todas culturas e classes sociais na Alemanha do final do século dezenove, era exclusivamente eliminar os judeus. Esta versão do anti-semitismo se tornou, de acordo com Goldhagen, a ideologia pública oficial incontestável dentro da sociedade alemã.

Ela afirmava que os judeus eram racialmente diferentes dos alemães, nocivos à Alemanha, e portanto tinham que ser eliminados. Por não haver um ponto de vista alternativo apoiado institucionalmente na Alemanha antes de 1945, os alemães foram criados sobre o anti-semitismo eliminacionista tanto quanto eram sobre seu "leite materno". É por isto que, de acordo com Goldhagen, os perpetradores tiveram tão pouca dificuldade em assassinar os judeus.

Carreirismo, pressão dos colegas, "burocracia mióptica" (tudo o que ele rotulou como "não-histórico") não representaram papel algum; pelo fato de que alguns dos pressionados resistiram à "coerção governamental" para matar, era claro que não havia nenhuma "coerção real". O anti-semitismo exterminacionista era a única motivação e a colaboração dos alemães deve então ser atribuída - e exclusivamente atribuída - a virulento anti-semitismo. Isto explicava, nas palavras de Goldhagen, por que os alemães estavam não apenas entusiasmados em eliminar os judeus mas excepcionalmente cruéis em fazê-lo. Isto era verdadeiro, além disso, não apenas para a colaboração dos perpetradores, mas também para os cidadãos alemães, cuja recusa em intervir refletiu sua adesão ao anti-semitismo exterminacionista. Nos anos 30, concluiu Goldhagen, a grande maioria dos cidadãos alemães apoiava a Solução Final.

Kwiet começou acusando Goldhagen de ter escrito e promovido o livro a fim de ficar famoso, afirmando que - não importando qual o resultado deste debate - Goldhagen tinha-o "feito". Para exibir-se e atrair a atenção da mídia entre as numerosas publicações na Holocaust Studies, disse Kwiet, deve-se advogar uma tese espetacular; isto foi exatamente o que Goldhagen fez. Em particular, Kwiet criticou a embalagem do livro feita por Knopf, especialmente sua alegação de que a tese embasava-se em "material novo". A maioria do material, de acordo com Kwiet, foi emprestada do livro de Christopher Browning "Ordinary Men: Reserve Police Battalion 101" E a Solução Final na Polônia". Muito pouco além disso era realmente novo, de acordo com Kwiet; o grosso do livro baseava-se em fontes secundárias.

Não só era bem conhecido o material de Goldhagen, continuou Kwiet, como também nada sobre a tese de Goldhagen era original. A dependência em generalizações sobre o caráter nacional e a representação dos Alemães como "excepcionais" representava o coração da tese "Sonderweg", de acordo com Kwiet, que foi refutada há mais de uma década. Por esse motivo, Kwiet achou particularmente "irritante" o pedido de Goldhagen para entender completa e finalmente o Holocausto. Nenhum outro estudioso, disse Kwiet, jamais fez tal pedido arrogante. Neste contexto, ele citou Hilberg e Friedlaender, que disseram do livro (parafraseado): É inútil, apesar de toda a publicidade feita por Knopf. No nível mais específico, Kwiet desafiou a representação das mulheres feita por Goldhagen como igualmente envolvidas/anti-semitas e seu desprezo pelas vítimas não-judaicas do regime nazista. Como Goldhagen explica o assassinato de ciganos e outros grupos, perguntou ele, se o assassinato foi motivado exclusivamente pelo anti-semitismo exterminacionista? Kwiet também criticou a interpretação da sociedade alemã do pós-guerra feita por Goldhagen, particularmente sua alegação de que o anti-semitismo desapareceu depois de 1945. Kwiet citou Goldhagen, em resumo, que os alemães de hoje são "como nós". Se é assim, afirmou Kwiet, então nós não podemos esperar que os alemães demonstrem nenhum tipo de sensibilidade ou responsabilidade com relação ao Holocausto; ele poderia muito bem ser esquecido. Kwiet concluiu descrevendo a perspectiva de Goldhagen como "mais do que assustadora". Em contraste a Goldhagen, que havia recebido aplausos ruidosos da audiência, Kwiet recebeu quase o silêncio.

Kwiet foi seguido por Yehuda Bauer, que começou afirmando que a tese de Goldhagen é simplesmente um argumento "Sonderweg" requentado, que foi difundido pelas décadas depois da II Guerra Mundial. Esta interpretação, sustentou Bauer, foi de fato a mesma que ele, Bauer, havia debatido pelos últimos trinta anos, embora numa forma muito mais sofisticada.

Seu próprio trabalho, afirmou Bauer, explorava estruturas políticas e culturais assim como vozes e instituições contestadoras na sociedade alemã. Ele também dependia de trabalhos que estudiosos poloneses e israelenses haviam produzido pelas últimas décadas, trabalho ao qual Goldhagen, de acordo com Bauer, não teve acesso porque ele não lia naqueles idiomas. O fato de que o argumento de Goldhagen assentava-se sobre fontes de língua alemã e inglesa representava um sério problema, continuou Bauer; entre suas poucas fontes não-alemãs/inglesas havia uma em tcheco - "provavelmente copiada de mim", disse Bauer.*

*continua na parte abaixo.
http://holocausto-doc.blogspot.com/2007/08/carrascos-voluntrios-de-hitler-crticas.html

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...