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Negadores do Holocausto e apologistas do nazismo frequentemente fazem muitas reivindicações reveladoras sobre os judeus, o bolchevismo e o stalinismo. Eles frequentemente afirmam que o bolchevismo foi um movimento judaico que resultou em assassinato em massa de cristãos em uma escala muito maior do que a Solução Final. A implicação disso é que mesmo que o Holocausto não houvesse ocorrido, os judeus o mereceram e/ou o fato do assassinato em massa cometido pelos stalinistas, de alguma forma, diminuiria o fato dos nazistas e seus cúmplices terem cometido um assassinato em massa. Mesmo se os negadores do Holocausto e nazi-apologistas tivesses seus fatos corretos, alguém perguntaria qual a lógica do seu raciocínio. Como o suposto fato de alguns judeus terem participado de um assassinato em massa justificaria o assassinato em massa de todos os judeus? Não obstante, essa implicação absurda e desumana devemos, como de costume, analisar os supostos fatos.
Os crimes do Stalinismo
Os crimes do stalinismo não devem ser subestimados. Que o regime stalinista cometeu crimes de magnitude sem precedentes e desumanidade vai além de qualquer debate razoável. As coletivizações forçadas no Cazaquistão, Ásia Central Soviética, e, é claro na Ucrânia[1] teve um custo terrível:
A Grande Fome de 1932-33 na qual 5-10 milhões de vidas foram perdidas, foi causada em grande parte pelo caos da coletivização. Embora a produção agrícola tenha declinado na década de 1930, a exportação de grãos aumentou. Robert Tucker chama de coletivização forçada a uma revolução de "iniciada pelo Estado, dirigida pelo Estado, e imposta de cima pelo Estado." [2],[3]A brutalidade do regime stalinista é incontestável. A origem judaica dessa brutalidade, por outro lado, é uma afirmação mentirosa.
O Bolchevismo era um movimento judaico?
Em uma publicação no grupo alt.revisionism da Usenet, Jacob Minsky [4] demonstra, em termos inequívocos, o absurdo de tal posição. Primeiro, ele cita Pipes:
O censo do Partido Comunista realizado em 1922 mostra que apenas 959 membros judeus participavam antes de 1917.[5]Minsky, em seguida, coloca a seguinte pergunta para o seu interlocutor apologista-nazi:
Por que o Bund (União Judaica Trabalhista) [link1] [link2] foi um dos dois únicos partidos políticos (o outro foi o pequeno e judaico PSR, um partido socialista democrático) inequivocamente condenaram no Congresso dos Deputados a tomada bolchevique do poder? [6]A típica resposta dos antissemitas é escolher bolcheviques pouco proeminentes e afirmar, sem provar, que todos eram judeus. Que Trotsky era judeu é verdade, mas antissemitas esquecem de citar que ele era um dos maiores e primeiros críticos de Stalin e que este criticismo custou-lhe a própria vida. Talvez, pouco menos que 1000 judeus que foram membros de início do Partido foram para posições de liderança, mas como Aristóteles assegura: "Uma andorinha só não faz verão".
Claro, é ridículo culpar uma etnia pelos crimes dos bolcheviques. O fato de Stalin era georgiano não torna todos os georgianos responsáveis pelos crimes do stalinismo. Alguns podem argumentar que isso é tão injusto quanto culpar todos os alemães pelos crimes dos nazistas. Este ponto é válido: a culpa deve ser atribuída, individualmente, não coletivamente. Somente aqueles alemães que sabiam, ou que deviam saber sobre a Solução Final, participaram de sua execução, ou nada fizeram para impedi-la quando eles poderiam ter feito isso, torna culpado por esses crimes. Não sendo ncessário reafirmar que os jovens alemães nascidos após a guerra são inocentes.
Antissemitas culpam os judeus pelo por usar de algumas meias-verdades. Por este método, poderia ser demonstrado que foi na verdade os alemães, os responsáveis pelo bolchevismo. É tão sem propósito culpar os alemães pela ascensão do bolchevismo como é culpar os judeus. Marx, afinal, era um ateu alemão. Além disso, o líder político da Alemanha na época da Revolução Bolchevique foi um dos maiores patrocinadores bolcheviques.
Kaiser alemão patrocina o bolchevismo
Martin Gilbert afirma o seguinte sobre o apoio do governo alemão ao bolchevismo:
Os bolcheviques não esperavam que os Governos alemão e austríaco fossem ser simpáticos à sua causa revolucionária, mas os caciques políticos em Berlim e Viena estavam ansiosos para apoiar o avanço do bolchevismo na esperança, não tão improvável, de que os bolcheviques minassem o governo estável na Rússia e destruisse os poder de guerra do czar. Em 7 de janeiro [1915-RJG] um grupo bolchevique em Petrogrado distribuiu folhetos aos soldados, trabalhadores e camponeses, convidando-os a não pagar as suas rendas mensais em impostos. No mesmo dia em Constantinopla, um rico bolchevique, Alexander Helphand, aproximou-se do embaixador da Alemanha na Turquia com as seguintes palavras: 'Os interesses do Governo alemão são idênticos aos dos revolucionários russos. "... A conversa de Helphand marcou o início de um interesse crescente alemão para estimular a revolução na Rússia: um interesse que foi se intensificando pelo impasse no campo de batalha, e que encontra seu ponto culminante na facilitação do retorno de Lênin à Rússia, atravessando solo alemão. Dentro de três meses, o governo alemão deu dinheiro a um intermediário da Estônia para dar a Lenin, para encorajá-lo a exercer suas atividades antiguerra. Na verdade, ele não precisou de nenhum encorajamento.Gilbert adiciona a nota de rodapé:
O montante pago a Lenin foi entre 200.000 e 250.000 marcos, algo que na época equivaleria a algo entre US $ 50.000 e 62.000 dólares. Quando os bolcheviques chegaram para pagar o empréstimo em 1923, a inflação do marco era tal que ele valia menos de US $ 1. [07]Será que nossos "amigos" antissemitas culparão os alemães pelas origens do bolchevismo tão prontamente quanto culpam os judeus? Culpar um ou outro grupo , na minha opinião, é algo ridículo. Quero apenas apontar a hipocrisia de nossos "amigos" que, sem dúvida, continuam a culpar os judeus pela Revolução Bolchevique, bem como a exploração capitalista, o buraco de ozônio e a morte térmica do universo.
Stalin atinge os judeus
Examinar a questão de saber se Stalin era um judeu exterminador de cristãos, é bastante relevante para examinar como ele tratava os judeus.
Em nosso contexto, a evolução da União Soviética, especialmente depois de 1948 - o ano da morte misteriosa de Jdanov e o "caso de Leningrado" - são de maior importância. Pela primeira vez depois do Grande Expurgo, Stalin teve um grande número de altos funcionários executados, e sabemos com certeza que isso foi planejado como o início de outro expurgo nacional. Isto teria sido levado a cabo pela história do "complô dos médicos" se a morte de Stalin não tivesse intervido. Um grupo de maioria de médicos judeus foi acusado de ter planejado "acabar com os quadros dirigentes da URSS." [30] ... Além disso, o conteúdo absurdo da acusação contra os médicos, de que "eles matam as pessoas em posições de liderança em todo país", deve ter enchido de maus pressentimentos todos os que estavam familiarizados com o método de Stalin de acusar um inimigo fictício do crime que ele mesmo estava prestes a cometer. (O exemplo mais conhecido é, naturalmente, a acusação de que Tukhachevski conspirou com a Alemanha no momento em que Stalin estava contemplando uma aliança com os nazistas)...Assim, está claro que não apenas a alegação de que o bolchevismo foi uma conspiração judaica para cometer genocídio contra os cristãos é uma mentira, como o número de soviéticos culpados por assassinato em massa era em sua maioria antissemita e que poderiam ter tentado exterminar o que é dito sobre nosso "herói" dos nazi-apologistas, a aniquilação total do povo judeu na Europa.
O mais dramático novo elemento neste último expurgo, que Stalin planejou nos últimos anos de sua vida, foi uma mudança decisiva na ideologia, a introdução de uma conspiração judaica mundial. Durante anos, o terreno para esta mudança fora cuidadosamente colocado em uma série de julgamentos nos países satélites - o julgamento de Rajk na Hungria, o caso Ana Pauker na Romênia, e, em 1952, o julgamento de Slansky na Tchecoslováquia. Nessas medidas preparatórias, altos funcionários do partido foram escolhidos em virtude de suas "origens judaicas burguesas" e acusados de sionismo; essa acusação foi gradualmente alterada para implicar agências notoriamente não-sionistas (especialmente o Comitê Judaico Americano de Articulação de Distribuição), a fim de indicar que todos os judeus eram sionistas, e que todos os grupos sionistas eram "mercenários do imperialismo americano" 32. Não havia nada de novo no "crime" de sionismo, além da campanha que evoluiu e começou a mirar os judeus da União Soviética, outra mudança significativa aconteceu: os judeus agora eram acusados de "cosmopolitismo" ao invés de sionismo, e o padrão de acusações que se desenvolveram com este slogan estavam cada vez mais próximos do padrão nazista da conspiração judaica mundial oriunda do livro antissemita Os Protocolos dos Sábios de Sião. Agora ficava assustadoramente claro a impressão profunda que este pilar da ideologia nazista teve sobre Stalin - as primeiras indicações disto tinham ficado claras desde o pacto Hitler-Stalin - em parte, com certeza, devido ao valor como propaganda na Rússia como em todos os países satélites, onde o sentimento antijudaico foi generalizado e a propaganda antijudaica sempre gozava de grande popularidade, mas em parte também porque este tipo de conspiração mundial fictícia fornecia um fundo ideologicamente mais adequado para afirmações dos governo totalitários controlando o mundo do que Wall Street, o capitalismo, o imperialismo. A adoção aberta, sem vergonha do que tinha se tornado para o mundo inteiro o sinal mais importante do nazismo foi o último cumprimento que Stalin prestou ao seu falecido colega e rival no domínio total com quem, para sua decepção, ele não tinha sido capaz de chegar a um acordo duradouro. [08]
The Bolshevik Canard
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Notas
[01] Green, Barbara B. The Dynamics of Russian Politics: A Brief History, Westport: Greenwood Press, 1994, pp. 39-40.
[02] Ibid., p. 38.
[03]Tucker, Robert C., "Stalinism as Revolution from Above," in Stalinism: Essays in Historical Interpretation, ed. Robert C. Tucker, New York: W. W. Norton, 1977, p. 83 as cited in Green Ibid.
[04] Minsky, Jacob, Article: 191161 of alt.revisionism,Subject: Re: I AM PROUD TO BE ON THE NIZKOR ENEMIES LIST,Message-ID: , Date: Mon, 14 Jul 1997 03:36:26 GMT
[05] Pipes, Richard, Russia Under the Bolshevik Regime, New York: Vintage Books, 1995, p. 113. ISBN 0-679-76184-5 as cited in Minsky, Ibid.
[06] Minsky, op. cit. Minsky also cites: Dmitri Volkogonov, Stalin: A Political Portrait, Volume 1, Moscow: Novosti, 1996, ISBN 4-7020-0025-0.
[07] Gilbert, Martin, The First World War: A Complete History, New York: Henry Holt and Company, 1994, p. 125.
[08] Arendt, Hannah, The Origins of Totalitarianism, New York: Harcourt & Brace, 1979 pp. xxxviii-xl. Her notes are as follows:
[30] Armstrong, op. cit., pp. 235 ff.
[32] Armstrong, op. cit., p. 236
[op. cit. refers to: Armstrong, John A. , The Politics of Totalitarianism: The Communist Party of the Soviet Union from 1934 to the Present, New York, 1961-my note-RJG]
Fonte: The Holocaust History Project
http://www.holocaust-history.org/bolshevik-canard/
Tradução: Roberto Lucena
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