quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Histórico da Negação do Holocausto na Alemanha

A mentira final: Negação do Holocausto na Alemanha

No verão de 1942 Heinrich Himmler, Reichfürhrer e chefe da polícia alemã, ordenou a criação de um campo de concentração em umas antigas barracas proximidades do povoado de Oswiecim, no distrito de Kattowitz, Polônia. Poucos anos depois, Auschwitz-Birkenau se converteria no maior campo de extermínio construído pelos nazis em terreno polonês, símbolo do genocídio dos judeus europeus durante a Segunda Guerra Mundial e peça central da conciência nacional do povo germânico.

Dita consciência coletiva do Holocausto se caracteriza pela presença de sentimentos de culpa e vergonha. Parte da população manifesta seu sentir buscando a “salvação através do filosemitismo emocional”. Muitos outros, ao tratar de despojar-se dessa culpabilidade introjectam um novo ressentimento face aos judeus, justificando os crimes cometidos pelos nazis mediante a negação sistemática dos fatos históricos, fenômeno que tem sido descrito como a “segunda culpa”.

Estudos recentes sobre as tendências antissemitas na Alemanha e a negação do Holocausto demonstram que a hostilidade perante os judeus surge de um ressentimento que poderia descrever-se como um “antissemitismo secundário”, isto é, que deriva da dificuldade de confrontar o passado.

Da Apologia a Negação

Através dos “Julgamentos de Nuremberg”, testemunhas e sobreviventes do Holocausto nazi revelaram ao mundo crimes impossíveis de se crer. Centenas de milhares de cidadãos germânicos preferiram ignorar a realidade convertendo-se assim em sujeitos suscetíveis a manipulação.

Os anos quarenta. Nos primeiros anos do pós-guerra um crescente número de publicações apologéticas inundaram o mercado alemão. Os fatos eram ainda demasiado recentes para se intentar banalizar ou minimizar o Holocausto. Durante os Julgamentos de Nuremberg - levados a cabo entre outubro de 1945 e 1946 - os oficiais nazis não negaram os crimes cometidos, só pretenderam justificar suas ações. Não obstante suas confissões não convenceram a aqueles que se negavam a crer na responsabilidade da Alemanha nazi.

Os anos cinqüenta. O antissemitismo ressurgiu na República Federal Alemã nos finais da década de cinqüenta. Em tão somente um mês - de dezembro de 1959 a janeiro de 1960 - se perpetraram 470 incidentes motivados por sentimentos antijudaicos. Na Alemanha Ocidental circulavam publicações de extrema-direita de natureza apologética, nas que se defendia a “inocência” dos soldados alemães que “supostamente” desconheciam a existência dos crimes nazis. Posteriormente começaram a editar-se livros - como foi o caso de "Tu também Fostes Parte", de Peter Kleist - justificando a guerra expansionista de Hitler.

Os anos sessenta. Depois do impacto d julgamento de Eichmann em Jerusalém(1961) e dos julgamentos de Auschwitz em Frankfurt (1963-1966), a Alemanha começou a aceitar o Holocausto. Sem dúvida, a consciência humana, confrontada com a abundância de informação, permaneceu muda.

O tema central dos apologistas desta década foi a denúncia do que eles chamavam de “a mentira culpa-de-guerra”. Nas ditas publicações não se mencionava o extermínio dos judeus.

Os anos setenta. Quando em 1972, Willy Brandt, Chanceler da Alemanha, se ajoelhou ante o monumento construído em memória dos judeus assassinados no Gueto de Varsóvia foi severamente criticado pelos nascentes círculos neonazis. Dessa vez, incrementou-se o vandalismo antijudaico assim como a publicação de documentos que negavam o Holocausto e criavam legendas sobre o “lado positivo” dos crimes do Nacional-Socialismo.

Os anos oitenta. A diferença dos anos anteriores no que um importante grupo de historiadores alemães aceitava que o antissemitismo havia sido um elemento central da ideologia nazi e descrevia o Holocausto como un evento único na história, durante a década de oitenta se generalizaram os intentos de relativizar os crimes do Terceiro Reich. Tal foi o caso de Ernst Nolte, um dos mais controvertidos historiadores alemães, que negou a singularidade do genocídio judeu em sua obra "A Disputa dos Historiadores". De acordo com Nolte, “o antissemitismo de Hitler podia ser compreendido como uma resposta legítima e racional a ameaça comunista. De fato, o Führer tão somente imitou as práticas exterminadoras de Stalin”.

Assim mesmo, “experts” pseudo-científicos publicaram o 'Relatório Leuchter' e nele negavam a existência das câmaras de gás nos campos de concentração alemães, documento que foi utilizado pelos 'revisionistas históricos' para difundir sua propaganda.

A circulação de livros e publicações desmentindo ou justificando o Holocausto continuou ao longo desta década, apesar de que em junho de 1985 se integrou ao Código Penal alemão uma lei proibindo a difusão deste tipo de idéias.

Os anos noventa. Para muitos alemães a divisão da Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial constituiu um castigo pelo Holocausto. Por isto a reunificação foi interpretada como uma reabilitação de seu passado nazi. Com a queda do Muro de Berlim, desapareceu o tabu que rodeava o antissemitismo e se incrementaram os atos de vandalismo contra instituições judias.

Depois de prolongados debates em dezembro de 1994, se promulgou uma lei para impôr uma sentença de cinco anos a quem negasse o Holocausto e extenderam a proibição ao uso de símbolos e slogans nazis. Não obstante, os revisionistas - como Ernst Nolte - continuam afirmando que a dita ação restringe o direito constitucional a liberdade de expressão.

A SITUAÇÃO LEGAL

A negação do extermínio judeu é considerada uma ofensa na Bélgica, Áustria, França, Espanha, Suíça e Alemanha. No caso específico da Alemanha, o parágrafo 194 do Código Penal estipula que a propagação da “mentira de Auschwitz” pode ser perseguida pelas autoridades ex officio quando é cometido publicamente, isto é, sob a forma impressa, em reuniões públicas ou através de meios eletrônicos.

Ante a impossibilidade de operar na Alemanha, os “revisionistas do Holocausto” difundem sua propaganda onde não existe uma legislação a respeito como é o caso de Dinamarca, Grã-Bretanha ou países da Europa Oriental.

BIBLIOGRAFIA
Rembiszewski, Sarah
La Mentira Final: Negación del Holocausto en Alemania
The Project for the Study of Antisemitism, UTA, Israel, 1996

Fotos: Militante neonazista; Marcha neonazista em Berlim(2005), Ernest Nolte.
Mais informações sobre "revisionismo" e neonazismo(em inglês): http://www.martinfrost.ws/htmlfiles/neonazism1.html

Texto original em espanhol: Negación del Holocausto en Alemania
http://www.jafi.org.il/education/espanol/ciclo/iomhashoa/pages/negacion02.html
Tradução(português): Roberto Lucena

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