Mostrando postagens com marcador Império Alemão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Império Alemão. Mostrar todas as postagens

sábado, 9 de agosto de 2014

O dia em que o Brasil declarou guerra ao Império Alemão

Envolvimento do país no conflito é pouco conhecido, mas digno de um bom enredo, que começa com o afundamento de navios brasileiros por submarinos alemães e termina com a participação na criação da Liga das Nações.

Presidente Venceslau Brás assina a declaração de guerra
contra a Alemanha em outubro de 1917
O BRASIL EM ESTADO DE GUERRA. Foi assim, em letras garrafais, que foi anunciada à população a entrada do país na Primeira Guerra Mundial por diversos diários brasileiros numa manhã de sexta-feira, nos idos de 1917.

O inimigo era nada menos que a Alemanha, que já lutava há três anos contra a chamada Tríplice Entente, e que, dias antes, havia afundado o navio mercante brasileiro Macau na costa espanhola, uma área afetada pelo bloqueio naval alemão.

O Brasil, por sua vez, contava com uma força armada precária, cuja máxima experiência internacional até então tinha sido a Guerra do Paraguai. E foi assim, com um Exército incipiente, uma frota naval defasada e uma força aérea inexistente, que desafiamos o Império Alemão.

O envolvimento do Brasil no conflito mundial de 1914-1918 é pouco conhecido, mas, sem dúvida, digno de um bom enredo. Trata-se de uma história repleta de capítulos curiosos, tais como uma onda de perseguição a cidadãos com sobrenomes alemães ou uma divisão naval praticamente dizimada pela gripe espanhola, e que culmina num desfecho quase épico: a chegada da missão brasileira à zona de combate justamente às vésperas do armistício.

"O suficiente para participar das comemorações do final da guerra", comenta o jornalista Marcelo Monteiro, que acaba de lançar o livro U-93: A Entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, por ocasião do aniversário de cem anos do início do conflito. O título faz referência ao nome do submarino que afundou o Macau.

Para Marcelo, a participação do Brasil foi antes de tudo simbólica, já que o país não possuía uma força militar ou uma Marinha relevantes. "O Brasil não tinha estrutura nenhuma. Não tinha praticamente nada com o que pudesse contribuir diretamente no front. Era mais uma questão de apoio moral de um país das dimensões do Brasil", avalia.

Contudo, ele ressalta que foi justamente esse esforço brasileiro que posteriormente contribuiu para a inserção do país no cenário diplomático internacional. Um exemplo emblemático foi a participação do Brasil na Convenção de Paz de Paris, que resultou na criação da Liga das Nações, precursora da Organização das Nações Unidas (ONU).

Nas palavras de Marcelo, o ataque ao Macau foi, na verdade, a gota d'água. Há meses que o povo vinha pressionando o presidente Venceslau Brás a tomar uma atitude em relação aos sucessivos torpedeamentos de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães. A prática remontava a meados de fevereiro, quando a Alemanha declarara guerra submarina ilimitada a navios de qualquer bandeira que cruzassem as áreas em conflito, numa tentativa de impedir a chegada de suprimentos aos inimigos.

O Brasil, que exportava cereais e café principalmente para a França e a Inglaterra, nunca aceitou o bloqueio e seguiu enviando navios para a Europa. O fato de ter se declarado neutro desde o início do conflito, no entanto, não impediria o país de também virar alvo da estratégia alemã.

Embates navais

Capa do livro U-93
A primeira vítima foi o vapor Paraná, o maior navio em operação da marinha mercante brasileira na época, ao navegar nas proximidades de Barfleur, na França. Apesar de ostentar a bandeira nacional, a embarcação foi posta a pique na madrugada do dia 4 de abril pelo submarino alemão UB-32, cujo projétil acertou em cheio o letreiro do casco onde se lia a palavra Brasil. O episódio provocou uma grande comoção no país e a subsequente ruptura das relações diplomáticas com a Alemanha.

O clima ficou ainda mais tenso em maio, quando mais dois navios brasileiros, Tijucas e Lapa, foram atacados. Isso tudo fez com que o presidente decretasse o apresamento de 45 navios alemães que estavam atracados em portos brasileiros, como forma de indenização. Um deles era o Palatia, que posteriormente seria incorporado à frota brasileira sob um novo nome: Macau.

Por uma ironia do destino, foi justamente esse navio alemão "radicado" no Brasil que serviu de estopim para a entrada do Brasil no conflito. "Isso fez com que houvesse uma onda de nacionalismo, uma série de manifestações públicas, comícios, depredação de estabelecimentos de propriedades de alemães, principalmente no Sul e em São Paulo, levando o governo a romper a neutralidade e a declarar o estado de beligerância com a Alemanha e seus aliados", conta o coronel Luiz Carlos Carneiro de Paula, do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB).

A declaração de guerra foi sancionada no dia 26 de outubro pelo presidente Brás através do decreto número 3.361: "Fica reconhecido e proclamado o estado de guerra iniciado pelo Império Alemão contra o Brasil e autorizado o Presidente da República a [...] tomar todas as medidas de defesa, nacional e segurança pública que julgar necessárias". E foi assim que entramos na guerra.

A contribuição brasileira

Segundo Monteiro, participação brasileira foi
sobretudo simbólica, mas ainda assim importante
Após a declaração do estado de guerra, uma das principais iniciativas do Brasil foi o envio para a Europa de uma Divisão Naval de Operações de Guerra (DNOG), formada por oito navios e destinada a operar com a marinha britânica. "Só que quase todos os navios já estavam muito velhos, sucateados", pondera Marcelo, lembrando que, na época, a frota brasileira ainda era composta por navios a carvão.

O uso desse combustível implicava uma série de dificuldades logísticas, como a necessidade de se providenciar navios carvoeiros só para abastecerem o restante da flotilha. "Na viagem que esses navios fizeram em 1918 para a Europa, eles tiveram que parar em vários portos na África e em algumas ilhas do Atlântico para consertar problemas mecânicos que surgiram."

Com a missão de patrulhar uma área marítima compreendida entre Dakar, no Senegal, e Gibraltar, na entrada do Mediterrâneo, a DNOG partiu de Fernando de Noronha no dia 1º de agosto de 1918 rumo a Dakar, onde só então começariam as grandes provações da missão brasileira.

Além de um breve embate com um submarino pouco antes de chegar ao porto africano, a esquadrilha foi surpreendida por um surto de gripe espanhola no mês de setembro, resultando na morte de 156 tripulantes. A divisão só retomaria a missão em direção a Gibraltar no início de novembro, só que desta vez desfalcada em quatro embarcações (duas avariadas e outras duas designadas para outras missões).

"A divisão naval, portanto, não teve uma participação de combate", afirma o coronel Carneiro. "Ela foi importante para que se fossem revistos alguns processos de mobilização, preparação, adestramento e também a questão sanitária das tripulações, de como manter a tropa com rigidez física em condições de combate."

Outra contribuição do Brasil foi o envio de uma equipe de saúde com cerca de cem médicos e dezenas de enfermeiras e auxiliares para a França, onde foi montado um hospital para atender não só os combatentes, mas também as populações atingidas pela guerra em diversas áreas no entorno de Paris. Ao contrário da DNOG, o hospital teve uma função tão importante que continuou em operação mesmo depois da guerra.

Fora isso, o Brasil também enviou 13 aviadores para a Inglaterra e mais um grupo de 24 oficiais para atuarem ao lado do Exército francês em missões de observação e treinamento – o que implicaria profundas mudanças nas Forças Armadas brasileiras.

O abandono do modelo prussiano

Manchete de jornal no dia em que o
Brasil entrou na Primeira Guerra
O envio de militares à França foi responsável por mudar completamente a orientação profissional do Exército brasileiro, até então baseada nos moldes da doutrina prussiana, em direção a uma tradição francesa. "Por doutrina entende-se a adoção de um pensamento de atuação militar de acordo com as possibilidades que o equipamento utilizado e o treinamento da tropa permitem", explica o coronel Carneiro. Ele chama a atenção para o caso dos chamados "jovens turcos", um grupo de militares brasileiros que se instruiu no Exército alemão entre 1910 e 1912, e que, em seu regresso, dedicou-se à profissionalização militar nacional apoiada no treinamento germânico.

Além de ser determinante na compra de novos armamentos, que passariam a vir da Alemanha, a experiência dos jovens turcos acabou por influenciar todo o comportamento do Exército brasileiro, desde os procedimentos militares até os uniformes utilizados. Em 1913, por exemplo, eles fundaram a revista Defesa Nacional, uma publicação de cunho conservador e discurso altamente patriótico. Uma mostra do seu ideário pode ser lida no primeiro editorial do periódico:

"[...] Um exército bem organizado é uma das criações mais perfeitas do espírito humano, porque nele se exige e se obtém o abandono dos mesquinhos interesses individuais, em nome dos grandes interesses coletivos; nele se exige e se obtém que a entidade do homem, de ordinário tão pessoal e tão egoísta, se transfigure na abstração do dever; nele se exige e se obtém o sacrifício do primeiro e do maior de todos os bens, que é a vida, em nome do princípio superior de pátria."

Diante da declaração de guerra à Alemanha, foi necessária então uma mudança estrutural no Exército, com o intuito de afastá-lo do modelo alemão. A solução foi a contratação da Missão Francesa. "Quando se compra um material, principalmente armamento, é necessário fazer um treinamento diferente: tem que se organizar a tropa de maneira adequada a esse armamento. O resultado disso é que, quando se mexe no treinamento, muda toda a maneira de se atuar num conflito armado. É como se a gente trocasse de diretor numa peça de teatro. Quando você muda o diretor, muda o vestuário, muda a posição dos atores no palco, acelera mais uma música", resume o coronel.

A participação do Brasil na Primeira Guerra foi, portanto, fundamental para a adoção da Missão Francesa, pois contou com o envio de uma legião à França com o fim de absorver conhecimentos e adquirir o material necessário à sua implementação no Brasil. Liderados pelo general Napoleão Felipe Aché, o grupo de oficiais integrou unidades de combate do Exército francês por cerca de três meses, de setembro a novembro de 1918.

O fim da guerra

No final do conflito, o Brasil teve um saldo de quase 200 mortos, além de um total de nove navios afundados por submarinos alemães. Por outro lado, o fato de ter participado oficialmente da Primeira Guerra Mundial fez com que o país fosse uma das 32 nações convidadas a participar da célebre Conferência de Paz de Paris, em 1919, que culminou na assinatura do Tratado de Versalhes.

Entre os acordos estabelecidos, o Brasil pôde também incorporar à frota nacional aqueles navios alemães que haviam sido confiscados pelo governo de Venceslau Brás. Alguns deles, inclusive, viriam a ser afundados na Segunda Guerra Mundial, como o vapor Cabedelo.

O envolvimento do Brasil no segundo grande conflito mundial, aliás, traz uma série de semelhanças com a guerra anterior, com direito a bloqueios navais e torpedeamentos de navios brasileiros por submarinos alemães – uma prova de que os eventos históricos realmente se repetem. Mas isso já é uma outra história.

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha, edição brasileira)
http://www.dw.de/o-dia-em-que-o-brasil-declarou-guerra-ao-imp%C3%A9rio-alem%C3%A3o/a-17824787

sábado, 29 de março de 2014

A guerra que mudou o destino da Europa (Primeira Guerra Mundial)

Quase todos os países que participaram calcularam que o conflito que estourou em agosto de 1914 ia ser breve. Durou mais de quatro anos e deixou oito milhões de mortos, dos quais um terço foram civis.

Julián Casanova 2 JAN 2014 - 00:01 CET

ENRIQUE FLORES (desenho)
"A primavera e o verão de 1914 estiveram marcados na Europa por uma tranquilidade excepcional", recordava anos mais tarde Winston Churchill, alimentando essa ideia nostálgica da estabilidade europeia em tempos da Alemanha Imperial de Guilherme II ou da Inglaterra de Eduardo VII, de contraste entre os "good times" e o período das grandes convulsões políticas e sociais inaugurado pelo começo da Primeira Guerra mundial em agosto de 1914.

Quando começou essa guerra, a Europa estava dominada por vastos impérios, governados - exceto a França, onde havia surgido uma República da derrota na guerra com a Prússia em 1870 - por monarquias hereditárias. A nobreza exercia todavia um notável poder econômico e político. Na Grã-Bretanha, França ou Alemanha, para citar as nações mais poderosas, uma oligarquia de ricos e poderosos, de boas famílias, de nobres e burgueses conectados através de matrimônios e conselhos de administração de empresas e bancos, mantinham seu poder social através do acesso à educação e às instituições culturais.

Muitos cidadãos europeus tinham restringida a liberdade para falar seu idioma ou praticar sua religião e sofriam notáveis discriminações de gênero, raça ou de classe a qual pertenciam. As mulheres não votavam, com exceções como a Finlândia que lhes havia concedido o voto em 1906, e em raras ocasiões lhes era permitido possuir propriedades ou conduzir seus próprios negócios. Antes de 1914, a democracia e a presença de uma cultura popular cívica, de respeito pela lei e da defesa dos direitos civis eram bem escassas, presentes em alguns países como a França e Grã-Bretanha e ausentes na maior parte do resto da Europa.
Em 1919, só restavam os impérios britânico e francês. Todos os demais haviam desaparecido.
Foi essa ordem o que começou a se desmoronar quando a Áustria declarou guerra à Sérvia em 28 de julho de 1914, um mês depois do assassinato em Sarajevo do herdeiro do trono austríaco, o arquiduque Francisco Fernando. A partir daí, as tensões e rivalidades entre os diferentes Estados a converteram em uma guerra geral, primeiro europeia e, depois com a entrada dos Estados Unidos em 6 de outubro de 1917, mundial. E ainda que os governos das principais potências, da Rússia à Grã-Bretanha, passando pela Alemanha e Áustria-Hungria, contribuíram para pôr em risco a paz com suas mobilizações militares, nenhum deles havia feito planos militares ou econômicos para um prolongado combate.

Esperavam que a guerra fosse curta porque sabiam que se entrassem em guerra todos de uma vez, algo que possibilitava o sistema de alianças pactuado alguns anos antes, o dinheiro e as energias gastas podiam conduzir à bancarrota da indústria e do crédito na Europa. Ao declarar a guerra em agosto de 1914, argumenta a historiadora Ruth Henig, "As potências europeias contemplavam uma série de encontros militares curtos e incisivos, seguidos presumivelmente de um congresso geral dos beligerantes no que confirmariam os resultados militares mediante um arranjo político e diplomático". Guilherme, o príncipe herdeiro da coroa alemã, ansiava que a guerra fosse "radiante e prazerosa". O ministro russo da Guerra, o general V.A. Sukhomlinov, preparava-se para uma batalha de dois a seis meses e as expectativas britânicas eram de que suas forças expedicionárias estivessem em casa para o Natal.

A guerra, contudo, durou quatro anos e três meses e o entusiasmo que exibiram a favor dela a maior parte das populações dos países beligerantes, incluídas as classes trabalhadoras, evaporou-se relativamente logo, especialmente na Europa central e a do leste. A escassez de comida e de matérias primas e os numerosos conflitos que se derivaram das duras condições em que se desenvolveu a guerra formaram o pano de fundo das revoluções de 1917 na Rússia que sucessivamente derrubaram o regime czarista e levaram os bolcheviques ao poder, a mudança revolucionária mais súbita e ameaçante que conheceu a história do século XX. Em 1919, só restavam os impérios britânicos e francês. Todos os demais haviam desaparecido e com eles, um amplo exército de oficiais, soldados, burocratas e proprietários de terras que os haviam sustentado.

No século que transcorreu entre o Congresso de Viena em 1815, que pôs fim à era de Napoleão, e o estouro da Primeira Guerra Mundial, a Europa foi o cenário de duas grandes guerras que se destacaram sobre outros conflitos mais localizados: a guerra da Crimeia, de 1854-56, deixou uns 400.000 mortos; a que enfrentou a França e a Prússia, em 1870-71, causou 184.000 vítimas. Mais de oito milhões de pessoas morreram na Grande Guerra de 1914-1918, uma cifra a qual se deveria acrescentar as vítimas da pandemia de gripe de 1918-19, que golpeou com severidade uma população debilitada pelos efeitos da contenda.
Ao menos 800.000 armênios foram assassinados pelas forças armadas otomanas
Antes de 1914, os civis mortos nas guerra eram poucos comparados com quem as combatiam (militares). Na Primeira Guerra Mundial, as vítimas civis mortais já representaram um terço do total; na Segunda, superaram a dois terços. O "embrutecimento" causado pela primeira dessas guerras, com terríveis consequências, deu o passo para que populações civis se convertessem em objeto de acosso e destruição.

Com o começo da Primeira Guerra Mundial, o destino da Europa começou a ser decidido pela força das armas. Foi um conflito de uma escala sem precedentes, uma ocidental e outra oriental, com a aparição pela primeira vez na história dos bombardeios aéreos, depois que batalhas por terra e por mar houveram sido durante muito tempo as principais manifestações da guerra. Já no começo de 1915 houve ataques com bombas vindas do céu, executadas pelos britânicos e alemães. As atrocidades cometidas sobre a população civil demonstram que essa guerra inaugurou uma nova época na violência entre Estados, que alcançou seu zênite na Segunda Guerra Mundial.

Segundo a investigação de John Horme e Alan Kramer, 6.427 civis belgas e franceses foram assassinados pelas tropas alemãs invasoras de 1914, apenas começada a guerra, e a perseguição e morte de civis foi também comum no front leste, protagonizada pelos soldados alemães, austríacos e russos. Centenas de milhares de lituanos, letões, poloneses e judeus foram deportados para o interior da Rússia. Ainda que o exemplo mais claro desse "embrutecimento" alimentado pela Grande Guerra, um claro precedente do genocídio nazi, foi o assassinato a sangue frio de cerca de 800.000 armênios, entre 1915 e 1916, pelas forças armadas otomanas, uma ação deliberadamente planejada e levada a cabo pelas elites do Estado otomano.

A Primeira Guerra Mundial, que decidiu o destino da Europa pela força, depois de décadas de primazia da política e da diplomacia, é considerada por muitos autores a autêntica linha divisória da história europeia do século XX, a ruptura traumática com as políticas então dominantes. Marcou o começo da escalada da violência nessa era que se estendeu até 1945, porque apagou a linha entre o inimigo interno e o externo, a fronteira entre a população civil e militar, foi o cenário dos primeiros exemplos de extermínio em massa da história e dela saíram o comunismo e o fascismo, os movimentos paramilitares e a militarização da política.

A maioria dos dirigentes das grandes potências no momento do estouro da Primeira Guerra Mundial pertenciam a esse mundo exclusivo e elitista, estreitamente vinculado à cultura aristocrática do Antigo Regime, com escassos conhecimentos sobre a sociedade industrial e as mudanças sociais que isto estava provocando. Depois dela nada foi igual. Para intelectuais e artistas ficou quase impossível estar à margem dos grandes debates públicos. O comunismo e o fascismo converteram-se em alternativas à democracia liberal, veículos para a política de massas, viveiros de novos líderes que, subindo do nada, saltando de fora do establishment e da velha ordem monárquica e imperial, propuseram rupturas radicais com o passado. Como declarou Sir Edward Grey, ministro de Assuntos Externos da Grã-Bretanha, as luzes estavam se apagando na Europa.

Julián Casanova é autor de Europa contra Europa, 1914-1945 (Editora Crítica).

Fonte: El País (edição espanhola)
Título original: La guerra que cambió el destino de Europa
http://elpais.com/elpais/2013/12/23/opinion/1387813667_675098.html
Tradução: Roberto Lucena

Observação: só pra deixar registrado, há uma versão do El País agora em português (versão brasileira), como não saiu esse texto em português (e eu achei interessante), eu traduzi. Não sei se daqui pra frente vai ter problema pois o jornal também faz versões em português de textos sobre a segunda guerra e o texto é obviamente do jornal conforme indicado acima (no link da parte Fonte).

A parte sobre segunda guerra do El País merece elogio, é muito boa e uma alternativa a quem não quer ler o "amontoado" de textos de qualidade duvidosa que é publicado na mídia nativa por 'problemas' que não sei se cabe destacar aqui (mas que todo mundo sabe como anda a "reputação" da imprensa brasileira de anos pra cá, e pelo visto a imprensa brasileira continua querendo chegar ao fundo do poço, um dia chega, fica subentendido).

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Planos antissemitas dos nazis publicados antes de sua ascensão ao Poder

"Façam um trabalho adequado para os judeus!"
Existem várias visões sobre o objetivo final e demanda do movimento nacional alemão (deutsch-voelkisch) a respeito dos judeus. Uns acreditam que o chamado trabalho conscientizador é o suficiente; outros apenas querem "eliminar" o espírito judeu do campo "cultural"; alguns querem apenas cortá-los da economia, e alguns outros têm outros objetivos, e todas as opiniões tornam-se confusas... mas muito aquém disso, consideramos que é muito mais urgente e necessário que os grupos locais devam procurar operar primeiro antes de tudo em seu próprio terreno e erradicar os Ostjuden*(judeus do leste) e a canalha judaica em geral com uma vassoura de ferro....

É preciso livrar-se de todos os Ostjuden(judeus do leste) sem mais demora, e medidas brutais têm que ser tomadas imediatamente contra todos os judeus. Tais medidas têm que ter, por exemplo, a remoção imediata dos judeus de todo emprego público, escritórios de jornais, teatros, cinemas, etc.; brevemente, o judeu tem que ser despojado de todas as possibilidades de continuar a causar uma influência desastrosa em seu ambiente. A fim de que os semitas, sem trabalho, não possam secretamente nos sabotar e se agitar contra nós, eles devem ser colocados em campos de concentração....

Voelkischer Beobachter, Número 20/34, 10 de março de 1920.

* Ostjuden é referente aos judeus que migraram do leste europeu, particularmente da Polônia para Alemanha. A propaganda antissemita no período do Império Alemão e da República de Weimar era diregida contra esses judeus.
Fonte: Völkischer Beobacher; Documents of the Holocaust, Part I(Germany and Austria), site do Yad Vashem
http://www1.yadvashem.org/about_holocaust/documents/part1/doc2.html
Tradução: Roberto Lucena

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...