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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Edwin Black revolve as raízes americanas da eugenia nazista

MARCELO FERRONI
free-lance para a Folha de S.Paulo
(Post original publicado em 09.05.2010).
Em 1934, um ano depois de Hitler ter tomado o poder na Alemanha, o superintendente de um hospital da Virgínia (EUA) reclamou a um jornal americano: "Os alemães estão nos vencendo em nosso próprio jogo". O jogo era a discriminação racial, com a posterior exclusão dos "mais fracos", perpetrada pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

O médico que fez a afirmação, Joseph De Jarnette, pertencia a um grupo de eugenistas norte-americanos que, desde o início do século 20, se esforçava para aprovar no país leis e medidas de exclusão social e de esterilização das pessoas que fossem consideradas inadequadas a ter filhos.

A Virgínia, um dos Estados que mais apoiaram a eugenia --ou a ciência destinada a "melhorar geneticamente" a espécie humana--, havia promulgado suas leis de esterilização em 1924. Ela não fora a única.

Entre 1907 e 1940, a Carolina do Norte, Michigan e outros Estados norte-americanos realizaram milhares de esterilizações e castrações. Só na Califórnia, o número de intervenções cirúrgicas forçadas chegou a 14.568. No entanto, foi com Hitler que o projeto de um grande extermínio, sonhado por alguns desses eugenistas, tomou forma concreta.

"Esse grupo pequeno estava no poder, sabia como manipular as leis e usou sua posição influente para usar as armas do governo contra as minorias étnicas", diz o jornalista Edwin Black, 53, autor de "A Guerra Contra os Fracos", lançado agora no Brasil.

Black causou polêmica ao lançar em 2001 "IBM e o Holocausto" (Campus), em que afirmava que a empresa americana havia ajudado os alemães a conduzir seu sistema de extermínio em massa. Em seu novo livro, vai mais longe.

Acusa não só a IBM, mas centros de pesquisa e financiamento americanos, como a Instituição Carnegie e a Fundação Rockefeller, de terem estimulado a discriminação e defende que, apesar de a eugenia ter sido criada pelo inglês Francis Galton (1822-1911), ela só adquiriu seu aspecto violento nos EUA devido à ação de uns poucos fanáticos, que chegaram a influenciar Hitler. Leia, a seguir, trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - É possível dizer que Galton era um eugenista de boas intenções, apesar de suas idéias preconcebidas?
Edwin Black - Há uma diferença entre eugenia "positiva" e "negativa". Galton, em muitos aspectos, era "positivo", ou seja, ele procurava promover casamentos melhores. Suas idéias foram desvirtuadas nos EUA e se tornaram eugenia negativa, que era o desejo de obliterar ou destruir linhagens humanas. Acho que, apesar de equivocado, Galton pode ter sido bem intencionado.

Folha - Por que a eugenia se tornou tão forte nos EUA?
Black - Na virada do século 20, havia milhões de judeus chegando da Europa Oriental e da Rússia. Havia milhões de mexicanos que haviam sido absorvidos após a guerra de anexação dos EUA. Havia asiáticos que vieram para construir as ferrovias, uma grande quantidade de negros, e os índios estavam sendo lentamente integrados. Não só o país estava mudando demograficamente, mas também se urbanizando.

Alguns homens da alta sociedade se sentiram ameaçados pelas mudanças extremas que eles presenciaram em um curto período de tempo, de cinco a dez anos, e quiseram voltar para a época de seus avós e bisavós. Foram as sementes do medo que causaram o racismo. O racismo é somente o produto do medo.

Folha - Por que a eugenia era mais forte na Califórnia?
Black - É preciso diferenciar onde a eugenia era mais ativa e onde era mais apoiada. É possível dizer que a Virgínia era um dos Estados onde havia mais apoio, mas, na Califórnia, ela era mais ativa. Tratava-se de um grupo muito pequeno de pessoas contra uma sociedade maior. Mas esse grupo pequeno estava no poder, sabia como manipular as leis e usou sua posição influente para usar as armas do governo contra as minorias étnicas.

Folha - A idéia dos campos de concentração alemães foi inspirada pelos eugenistas americanos?
Edwin Black - Eu diria que ela foi inspirada por uma combinação de duas coisas: os primeiros campos de concentração da guerra dos bôeres [entre o Exército inglês e colonos sul-africanos, de 1899 a 1902] e a idéia eugenista americana de que cidadãos deveriam ser separados e colocados em colônias que hoje podemos chamar de campos de concentração.
A justificativa para campos domésticos, em oposição aos campos para inimigos, provavelmente veio de filosofias eugenistas americanas.

Folha - E dá para afirmar que a idéia de extermínio em massa veio dos eugenistas norte-americanos?
Black - Infelizmente, essa idéia foi norte-americana. A eutanásia foi uma das propostas iniciais, e o método deveria ter como base câmaras de gás. Mas a sociedade não estava preparada, e assim a esterilização individual forçada foi implementada no lugar.

Folha - Mas, quando Hitler subiu ao poder, parte dos eugenistas americanos deixou de apoiá-lo.
Black - Conforme o programa de Hitler se tornou mais detestável, muitos eugenistas abandonaram suas idéias ou se calaram. Mas o núcleo mais "duro" se isolou e continuou a apoiar o regime. Eles tinham um conceito chamado de "seleção letal", uma versão da seleção natural de Darwin em que o mais forte prevaleceria sobre o mais fraco e agentes externos, como bactérias, seriam usados para acelerar os desígnios da natureza.

Folha - Qual a importância da eugenia para a fundação da genética?
Black - A eugenia não foi o avô da genética; foi seu pai. É muito simples. Após a Segunda Guerra Mundial, quando se descobriu que milhões haviam morrido, o movimento norte-americano se recolheu e mudou de nome. Ele passou a se chamar "genética humana".
Após uma ou duas gerações, uma nova leva de cientistas apareceu para criar a nova ciência que conhecemos, imune aos preconceitos raciais anteriores.

Folha - A genética pode se tornar tão perigosa quanto a eugenia?
Black - Acredito que a "nova-genia" possa reaparecer. Mas a ameaça não terá por base bandeiras nacionais e dogmas racistas. Ela virá da área econômica, de seguradoras, de empregadores que queiram usar informações genéticas para caracterizar a ancestralidade como base para a discriminação e, logo, perseguição.

Livro: A GUERRA CONTRA OS FRACOS
Autor: Edwin Black

Fonte: Folha de São Paulo(Brasil, 31.01.2004)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u41025.shtml

Edwin Black é também autor do famoso livro IBM e o Holocausto.

domingo, 9 de maio de 2010

A Guerra contra fracos (livro) - Edwin Black. As raízes dos EUA da eugenia nazi

Raízes do Holocausto. Adolf Hitler copiou de eugenistas americanos política que eliminava “raças inferiores”

Cláudio Camargo; Lloyd Wolf
Origens: Edwin Black espicaça o establishment americano

Algumas palavras ficaram tão associadas a crimes aberrantes que simplesmente desapareceram do vocabulário corrente. É o caso da “eugenia” ou “higiene racial”, um movimento racista e pseudocientífico surgido no início do século XX que classificava as pessoas segundo a hereditariedade, esterilizando os “incapazes” (doentes mentais, epilépticos, alcoólatras, criminosos comuns, deficientes visuais, pobres, mas também negros, judeus, poloneses...) com o objetivo de preservar e ampliar a “raça superior”, branca e nórdica. Embora tenha sido aplicada em escala industrial e genocida apenas na Alemanha nazista, a eugenia tomou corpo e ganhou forma e robustez nos EUA. Os epígonos de Hitler apenas copiaram e universalizaram o modelo. Essa incrível história, pouco conhecida, é contada agora, num minucioso relato, em A guerra contra os fracos – a eugenia e a campanha norte-americana para criar uma raça superior (editora A girafa, 860 páginas, R$ 68,00), do jornalista americano Edwin Black.

Nos domínios de Tio Sam, berço da democracia moderna, a eliminação de grupos étnicos indesejáveis não foi perpetrada por sinistras tropas de assalto, como no III Reich, mas por “respeitados professores, universidades de elite, ricos industriais e funcionários do governo”. Criada na Inglaterra no século XIX pelo matemático Francis J. Galton, a eugenia (composta do grego “bem nascido”) atravessou o oceano e encontrou campo fértil em terras americanas. Sob a batuta do zoólogo Charles Davenport, o movimento eugenista obteve apoio de instituições renomadas, como a Carnagie Institution – que montou a primeira empresa de eugenia em Long Island –, da Fundação Rockefeller e de uma plêiade de acadêmicos, políticos e intelectuais.

O movimento cativou tanto a elite americana da época que, a partir de 1924, leis que impunham a esterilização compulsória foram promulgadas em 27 Estados americanos, para impedir que determinados grupos tivessem descendentes. Uma vasta legislação proibindo ou restringindo casamentos também foi criada para barrar a miscigenação. Confrontada com tamanha violação dos princípios da Constituição americana, a Suprema Corte deu sua bênção à eliminação dos mais fracos. “Em vez de esperar para executar descendentes degenerados por crimes, a sociedade deve se prevenir contra aqueles que são manifestadamente incapazes de procriar sua espécie”, disse o juiz Oliver Wendell. Entre os anos 1920 e 1960 pelo menos 70 mil americanos foram esterilizados compulsoriamente – a maioria mulheres.

Edwin Black, que ficou famoso em 2001 com o best-seller A IBM e o Holocausto, lembra que a cruzada eugenista de Tio Sam não foi apenas um crime doméstico. “Os esforços americanos para criar uma super-raça nórdica chamaram a atenção de Hitler.” Antes da guerra, os nazistas praticaram a eugenia com total aprovação dos cruzados eugenistas americanos. Não sem uma ponta de inveja, claro: “Hitler está nos vencendo em nosso próprio jogo”, declarou em 1934 Joseph DeJarnette, superintendente do Western State Hospital, da Virgínia.

Desmascarado pelo genocídio hitlerista, o antes arrogante movimento eugenista baixou a guarda. Mesmo assim, entre 1972 e 1976, hospitais de quatro cidades esterilizaram 3.406 mulheres e 142 homens. Muitas mulheres pobres foram ameaçadas com a perda de benefícios sociais ou mesmo a guarda dos filhos.

Condenada pela comunidade acadêmica em 1977, a eugenia escondeu o rosto e buscou refúgio nos cromossomos da engenharia genética. Mas, assim como no passado a eugenia contaminou causas sociais, médicas e educacionais importantes, hoje ela pode inocular o vírus da intolerância em projetos científicos fundamentais, como o genoma e o processo de clonagem para fins terapêuticos. Afinal, é sabido que, ao brincar de Deus, o homem costuma fazer a obra do diabo.

Fonte: IstoÉ independente/Terra
http://www.terra.com.br/istoe-temp/1798/artes/1798_raizes_do_holocausto.htm

domingo, 13 de setembro de 2009

Humanidade Sem Raças? - Libelo contra o racismo

Livro sistematiza argumentos do geneticista Sergio Pena pela desracialização da humanidade
Por: Bernardo Esteves

O geneticista Sergio Pena, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é uma referência nacional na discussão da questão racial. Ele tem vindo a público com freqüência para mostrar como a visão da humanidade dividida em raças, cristalizada em parte da sociedade, é totalmente incompatível com as descobertas recentes da genética. Pena acaba de voltar a esse debate com o lançamento do livro Humanidade sem raças?

A obra, um verdadeiro manifesto contra o racismo, reúne os veementes argumentos do geneticista para combater a racialização da humanidade. Essa discussão não é novidade para os leitores de “Deriva Genética”, a coluna que o autor publica na segunda sexta-feira do mês na CH On-line – a denúncia da inexistência das raças do ponto de vista biológico é um tema recorrente em seus textos.

A novidade de Humanidade sem raças? é reunir os argumentos de Pena e sistematizá-los em um discurso coeso, além de trazer novas considerações e discussões detalhadas de vários exemplos históricos. O livro consolida o pensamento sobre a questão racial que o geneticista vem amadurecendo ao longo de anos, em suas colunas, artigos na imprensa e palestras pelo país afora.
Genealogia do racismo

Para levar a cabo seu raciocínio, Pena propõe retraçar uma genealogia do racismo – conceito que, assim como a própria noção de “raça” é uma construção humana relativamente recente. A divisão da humanidade em raças, explica ele, remonta ao início do século 18 – o naturalista sueco Carl Linnaeus I(1707-1778) foi o primeiro a propor tal classificação formal. Essa visão deu origem ao racismo científico no século 19, em que alguns cientistas condenaram a mistura das raças, o que culminou com a nefasta experiência da eugenia nazista no século 20.

Ao final da Segunda Guerra, continua o autor, surgiu um novo modelo, que propunha dividir a humanidade em populações. Embora partisse de premissas menos condenáveis, ele acabou perpetuando a ideologia do racismo ao se converter em um modelo “populacional de raças”. O problema persistia.

Pena propõe uma mudança de paradigma que permita superar essa visão, socialmente perniciosa e biologicamente equivocada. O autor é muito feliz ao mostrar como a única divisão da humanidade que a genética permite embasar é em seis bilhões de indivíduos. Ou “cada homem é uma raça”, como bem resumiu o escritor moçambicano Mia Couto, que Pena gosta de citar.

Sociedade desracializada

Lembrando a seu leitor que não há “natureza humana” fixa e preestabelecida, o geneticista convida-o a juntar-se a ele na luta pelo fim do racismo. “Devemos fazer todo esforço possível para construir uma sociedade desracializada, na qual a singularidade do indivíduo seja valorizada e celebrada e na qual exista a liberdade de assumir, por escolha individual, uma pluralidade de identidades”, conclama.

Humanidade sem raças? é um livro breve, com 63 páginas de texto, que pode ser lido de uma só sentada. É uma leitura contundente, que assume ares de dever cívico nas circunstâncias atuais. Num momento em que a discussão sobre as cotas raciais para universidades volta à esfera pública, os argumentos de Sergio Pena são essenciais para alimentar o debate sobre a questão racial no Brasil.

Livro: Humanidade Sem Raças?
Autor: Sergio D. J. Pena
Páginas: 72

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line

Fonte: Instituto Ciência Hoje
http://cienciahoje.uol.com.br/resenhas/libelo-contra-o-racismo

Ver também:
Será que existem raças humanas? Investigadores do Instituto Gulbenkian respondem

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