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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Obra de Art Spiegelman mistura história pessoal com mundial

Art Spiegelman revolucionou os quadrinhos com "Maus", obra vencedora do prêmio Pulitzer. Em entrevista à DW, ele falou sobre o valor das HQs, o mundo após o 11/09 e a vida sob o peso de um enorme rato.

Art Spiegelman é uma pessoa ocupada. Ele se autodescreve como "cosmopolita arraigado" e está na Alemanha para promover a exposição itinerante CO-MIX. Art Spiegelman: Uma retrospectiva de cartuns, trabalhos gráficos e recortes, no Museu Ludwig em Colônia.

Rodeado por jornalistas na sala de imprensa do Museu Ludwig, há um certo alívio quando um repórter indaga: "Você se importa se não perguntarmos 'por que um rato, por que um livro de quadrinhos'?"

"Boa ideia", respondeu Spiegelman. "Quero dizer, já respondi tudo o que podia responder". Isso explica em grande parte a produção de MetaMaus. É uma oportunidade, disse Spiegelman, de enfrentar "um rato de mais de 2 toneladas, que o vem perseguindo desde que Maus: a história de um sobrevivente foi lançado há duas décadas."

Sala de espelhos

Capa de 'Maus. a história de um sobrevivente'

"Maus foi construído a partir de entrevistas com o meu pai e fiz MetaMaus a partir de entrevista comigo mesmo, e agora estou sendo entrevistado sobre 'MetaMaus'. Então há um ponto onde tudo fica tão 'meta' que a pessoa acaba se perdendo na sala dos espelhos", explicou.

O autor é um grande adepto de navegar naquela sala de espelhos. Como seus cartuns, desenhos e livros, ele é articulado, pensativo e envolvente. Maus trouxe a Spiegelman um tipo de reconhecimento internacional que mudou sua vida, uma experiência vivenciada somente por poucos.

Filho de judeus poloneses sobreviventes do Holocausto, Spiegelman nasceu em Estocolmo, em 15 de fevereiro de 1948. A família emigrou para os EUA quando ele ainda era criança, e ele cresceu no bairro nova-iorquino do Queens.

Como figura-chave do movimento comix underground (de comics, HQs em inglês) nos anos 1960 e 1970, ele iniciou os trabalhos de Maus no início dos anos 1970.

Maus conta a história do pai de Spiegelman, Vladek, desde sua infância em Czestochowa, na Polônia, e então em Sosnowiec, após ter encontrado a mãe de Spiegelman, Anja, e suas subsequentes vivências nas mãos do regime nazista. Tanto Vladek quanto Anja sobreviveram os horrores de um campo de concentração. A grande maioria dos membros de sua família, incluindo seu primeiro filho, Richieu, não teve a mesma sorte.

O peso da história

Maus pula de conversas entre Spiegelman e seu pai em Nova York para eventos na Polônia e Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. No romance, os judeus são retratados como ratos, os alemães como gatos e os poloneses como porcos.

Apesar do legado familiar judaico-alemão e da infância do autor na Suécia, as conversas com seu pai são narradas em inglês. "Eu não conheço outra língua, sou norte-americano", explicou Spiegelman com naturalidade.

A máscara do rato

Art Spiegelman: 'Autorretrato com máscara de Maus'

Art Spiegelman: 'Autorretrato com máscara de Maus'

Maus foi originalmente publicado em Raw, uma antologia de quadrinhos de vanguarda editada por Spiegelman e sua esposa, Françoise Mouly, entre 1980 e 1991. Após uma série de cartas de rejeição de possíveis editores, a primeira metade de Maus: a história de um sobrevivente, com o subtítulo Meu pai sangra história foi publicada pela editora Pantheon em 1986.

Esse livro e o segundo volume com o subtítulo E aqui meus problemas começam publicado em 1991 mudaram para sempre a percepção popular das HQs, também conhecidas como romances gráficos.

Isso lhe garantiu o prêmio Pulitzer em 1992, como também outros prêmios, distinções e reconhecimento desde então. Não é preciso dizer que o fato transformou a vida de Spiegelman.

"Eu ganhei uma máscara de 'Maus' estampada no meu rosto e eu tenho que aprender a conviver com ela ou ser capaz de ver através dela e permitir que as pessoas olhem para a máscara e observem os menores protosplasmas por detrás", disse o autor.

MetaMaus é a maneira que ele encontrou para expressar isso. É um arquivo de documentos históricos, álbuns de família, um DVD contendo áudios de conversas com seu pai, notebooks pessoais e esboços. Ele contém até mesmo cópias de cartas de rejeição do período em que Spiegelman estava lutando para encontrar um editor para o trabalho. Na época, a ideia de retratar a barbaridade do Holocausto numa história em quadrinhos aparentemente superficial assustou a maioria dos editores.

Desenhando a aniquilação

O desafio de representar a perseguição sistemática e o extermínio de milhões de pessoas tem incomodado gerações de artistas desde o fim da Segunda Guerra, em 1945. No entanto, a cultura popular está repleta de filmes, livros, documentários e biografias sobre o Holocausto. Mas poucas foram tão incisivas quanto Maus. Trata-se de umas das obras mais contundentes, assustadoras e autênticas de qualquer gênero sobre o Holocausto – e é uma história em quadrinhos.

"Há um certo tipo de fazer que é como um sismógrafo de pensar. Isso torna o pensamento visível. E, para mim, é emocionante e interessante quando eu olho para o trabalho de outras pessoas. E tudo o que posso oferecer é tornar meu pensamento visível", disse Spiegelman.

Como no caso de seus pais, há pouco mais de uma década, Spiegelman se encontrou na interseção entre "história pessoal e a história mundial", como ele mesmo descreveu. Bem no centro de Nova York, onde a tradição norte-americana de HQs nasceu nas prensas das editoras Hearst e Pulitzer, existe um lugar chamado Ground Zero.

Entre história pessoal e mundial: painel ilustrativo para 'In the Shadow of No Towers'

Entre história pessoal e mundial: painel ilustrativo para 'In the Shadow of No Towers'

A arte da provocação

Spiegelman produziu a capa icônica da edição da revista The New Yorker publicada em 24 de setembro de 2001, retratando as Torres Gêmeas em preto sobre um fundo cinza escuro. O autor disse que não foi tanto o dia em si – 11 de setembro de 2001 – que o motivou a desenhar, mas as consequências desse evento histórico, que se desenvolveu ao longos dos anos seguintes.

Enquanto se conversava no Museu Ludwig, a controvérsia em torno do filme The Innocence of Muslims se espalhava pelo mundo. A indignação foi alimentada por uma série de charges do profeta Maomé publicadas na revista satírica francesa Charlie Hebdo.

Parece que o trabalho de um cartunista se tornou mais perigoso nos dias de hoje. Mas de Honoré Daumier a Art Young, de Robert Crumb a Kurt Westergaard, a história da ilustração e das charges vive e respira a provocação.

"Estou muito orgulhoso do Charlie Hebdo pelas charges feitas esta semana, mesmo que isso venha a criar um problema para o governo francês, porque não se trata de um filme ou charges ruins. É o que sempre chamo de 'MacGuffin', uma palavra que Hitchcock inventou para descrever a motivação de uma história", explicou Spiegelman. "A obra de arte em si é uma desculpa", acrescentou.

Autora: Helen Whittle (ca)
Revisão: Francis França

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/dw/article/0,,16257962,00.html

quinta-feira, 10 de março de 2011

"Maus", como gatos, ratos, nazis e judeus

Por Pepe Flores

Os livros sobre história de sobrevivência em campos de concentração deveriam contar como um subgênero próprio. Relatos como "O diário de Anne Frank" ou "O homem em busca do sentido" são clássicos que, com frequência, são passados nas escolas para que o estudante tenha uma aproximação com a época do Holocausto. Dentro desses testemunhais, chega às mãos "Maus: relato de um sobrevivente", de Art Spiegelman, considerada uma das grandes novelas gráficas da história contemporânea, laureada em 1992 com o Prêmio Pulitzer.

Vladek Spiegelman, um judeu polonês que sofreu as inclemências do regime nazi, narra sua história através do desenho de seu filho, Art. Para mostrar o caráter antitético da relação entre alemães e judeus, o desenhista se vale de uma metáfora muito simples: os nazis são gatos, os judeus são ratos. Uma relação de depreciação que, nas páginas do livro, converte-se em um símile perfeito da caça sistemática de judeus durante o regime nazi. O zoológico de Spielgman também inclui a porcos poloneses e cachorros estadunidenses, poderosas alegorias de como o reino animal simboliza o papel das nacionalidades na guerra. Também destaca o detalhe do uso de máscara, com um porco disfarçado de gato, ou de combinações, como uns curiosos ratos tigrados, filhos de judeus e alemães.

Contudo, a virtude de Art em "Maus" não só é saber recuperar a história do Holocausto, senão nos mostrar, graças aos saltos narrativos característicos dos quadrinhos, as causas e as consequências que teve tal acontecimento na vida do sobrevivente. Assim, atestamos como a educação que recebeu, por nascer em uma casa abastada, serviu a nosso personagem para conseguir a amizade de um oficial nazi. Do mesmo modo, notamos como um envelhecido Vladek se nega a desperdiçar até um grão de café, depois de sofrer na própria carne as garras da fome.

Não obstante, o conflito mais profundo não ocorre entre gatos e ratos, senão entre Art e Vladek. Produtos de épocas e conjunturas diferentes, chocam-se constantemente em suas visões de mundo. De certo modo, a sobrevivência de Vladek é uma louça bastante pesada para Art, que na escritura da novela encontra uma reivindicação com si mesmo e seu pai, alegoria inconsciente do sentir de uma geração judia do pós-guerra.

"Maus" é uma novela multifacetada. Pode-se ler como testemunho, história de vida, documentário, ou em seu nível mais profundo, como um tributo de um filho a seu pai. Há que se agradecer a Spiegelman a introdução de quadros desnecessários na história corrente, mas indispensáveis para compreender a relação entre Vladek e seu descendente. Através dos traços, pode-se (re)viver um Holocausto que vai mais além de um relato sobrevivência ou o lugar comum do espírito humano. "Maus" não é uma crônica histórica:** é uma crônica de como deve se contar, sentir e respeitar a história**, seja a nossa ou a alheia. Porque ao final, saber como mantê-la viva - em sua parte humana, não a estatística — converte-se no bálsamo que cura feridas.


Fonte: ALT1040
http://alt1040.com/2011/03/geekoteca-maus-como-gatos-ratones-nazis-y-judios
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Escolas alemãs adotam revista em quadrinhos sobre Holocausto

Por Ruy Jobim Neto
04/02/2008

Escolas alemãs irão adotar uma revista em Quadrinhos holandesa para ensinar crianças sobre a era nazista e o Holocausto. A nova publicação é uma seqüência de outra revista chamada A descoberta, também voltada para crianças, baseada na história dos judeus na Europa entre 1933 e 1940. Intitulada A Busca, a revista - criada pelo cartunista holandês Eric Heuvel (foto) - conta a história de Esther, uma sobrevivente fictícia do Holocausto, e já está à venda na Holanda.

O centro Anne Frank, em Berlim, que apóia o projeto, acredita que a proposta serve para a Alemanha. "Não há uma grande diferença em relação à história que a Alemanha ensina sobre a era nazista, mas é uma abordagem nova", disse a porta-voz do centro, Melina Feingold.

A revista, de 61 páginas, já está disponível em várias línguas e será usada em escolas de Berlim durante os próximos seis meses. Depois, poderá ser adotada em todo o país. A publicação descreve como os judeus na Alemanha e na Holanda ocupada pelos nazistas vivenciaram o genocídio e a perseguição nazista, que matou mais de 6 milhões na Europa.

Após várias décadas em que possuía apenas poucas centenas de judeus, a Alemanha conta hoje em dia com a mais crescente população judaica do mundo, depois da chegada de mais de 220 mil judeus vindos da ex-União Soviética, desde a década de 1990. No entanto, o anti-semitismo também cresce no país. No mês passado, cinco adolescentes judeus foram atacados por um grupo de punks. (com Reuters)

Fonte: Reuters/Bigorna.net
http://www.bigorna.net/index.php?secao=hqeuropeia&id=1202089311
Imagens dos quadrinhos(em alemão):
http://www.welt.de/berlin/article1610682/Holocaust-Comic_wird_an_Berliner_Schulen_getestet.html
Daily News(em inglês):
http://www.nydailynews.com/news/us_world/2008/02/01/2008-02-01_comic_book_teaches_german_students_about.html

domingo, 30 de dezembro de 2007

Eu, filha de sobreviventes do Holocausto

Por Cadorno Teles

A graphic novel, ou melhor, o romance gráfico, traduzido literalmente do inglês, tornou-se extremamente popular na sociedade atual. Uma espécie de livro, que conta uma história através dos Quadrinhos, embora ecoem em alguns leitores personagens como Batman, Homem-Aranha ou Asterix, as graphic novels são essencialmente sérias, com temas mais significativos destinado ao público adulto. Will Eisner popularizou com o seu trabalho as graphic novels, e vieram Os 300 de Esparta de Frank Miller, Adolf de Osamu Tezuka, O coração do Império de Bryan Talbot, Maus de Art Spiegelman, Persepólis de Marjane Satrapi, V de Vingança de Alan Moore e David Lloyd, Watchmen de Moore e Dave Gibbons, entre muitas outras. Mas ninguém esperava a originalidade de Bernice Eisenstein em Eu, filha de sobreviventes do Holocausto (I was a child of holocaust survivors, tradução de Alzira Alegro, Novo Conceito, 200 páginas, R$ 35,90).

A artista canadense consegue preparar um texto brilhante e inspirado em meio aos desenhos simples ao longo das páginas desta impressionante obra. Seguindo a linha de Maus de Spiegelman, Eu, filha de sobreviventes do Holocausto é um testemunho da superação do horror, no caso o genocídio judeu. Bernice é filha de sobreviventes do capo de Auschwitz, cresceu em Toronto nos anos 1950 e viveu as dificuldades dos imigrantes que acabaram de sair de um pesadelo para integrá-se em uma nova sociedade. O livro é a memória de sua infância enegrecida pelas recordações do Holocausto, um testemunho comovente, honesto e em certas ocasiões satírico sobre a universalidade da memória e da experiência aterradora de viver sob o terror de morrer a qualquer hora.

Retratando os momentos vividos por sua família, da morte do seu pai à circuncisão de seu filho, Eisenstein deu um tom novo às graphic novels, fazendo uma síntese surpreendente com seus desenhos, delicados e unidos ao texto, ligados à história áspera e abrasadora, explorando com melancolia e humor sua infância. As ilustrações de meia-página e entremeados em uma arte-final original e provocativa. Uma graphic novel que com certeza irá se reunir aos clássicos do gênero e vale lembrar que a crítica internacional está colocando o trabalho desta autora canadense entre nomes como Primo Levi, Elie Wiesel e Raul Hilberg. E veja que é sua primeira investida no gênero. Eu, filha de sobreviventes do Holocausto, uma ode à vida, ao esforço da recompensa, ao trabalho sofrido, um verdadeiro tributo a sua família e a todos que sofreram os revezes da II Grande Guerra.

A Autora
Bernice Eisenstein (foto) nasceu em 1949 na cidade de Toronto, Canadá, pouco depois da emigração de seus pais ao país. Atualmente, é escritora e artista, publicando no periódico Globe and Mail. "Eu, filha de sobreviventes do Holocausto" recebeu o prêmio Canadian Jewish Book Award 2007 e foi finalista do Trillium Book Award.

Fonte: Bigorna.net(HQs, Brasil, 21/09/2007)
http://www.bigorna.net/index.php?secao=comics&id=1190350568

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