Mostrando postagens com marcador sobreviventes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador sobreviventes. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Morre o último sobrevivente do campo de Treblinka. Samuel Willenberg

Samuel Willenberg faleceu aos 93 anos. Esteve no campo de concentração onde morreram cerca de 875.000 pessoas.

Sobrevivente do Holocausto, Samuel Willenberg mostra
um mapa do campo de extermínio de Treblinka.
Foto do ano de 2010. (Foto: AP)
Samuel Willenberg, o último sobrevivente do campo de concentração de Treblinka (Polônia), faleceu. Informaram allegados. Tinha 93 anos.

Cerca de 875 mil pessoas pereceram nesse campo da morte durante o genocídio nazi.

Willenberg foi membro de um grupo de prisioneiros judeus que em 1943 atearam fogo ao campo e fugiram para os bosques próximos. Centenas deles conseguiram fugir, mas a maioria foi abatida por soldados nazis ou capturados por aldeões poloneses.

Os nazis e seus colaboradores mataram cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Willenberg, numa entrevista com a AP em 2010, narrou como lhe dispararam na perna enquanto montava por cima de companheiros mortos até saltar a mureta do campo de concentração. depois da guerra conseguiu se estabelecer em Israel.

Fonte: AP/El Comercio (Peru)
http://elcomercio.pe/mundo/europa/murio-ultimo-sobreviviente-campo-nazi-treblinka-noticia-1880599
Título original: Murió el último sobreviviente del campo nazi Treblinka
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 9 de junho de 2015

Sobre Ben Abraham e o video do debate da TV Bandeirantes

A quem não acompanhou ou leu a discussão, vale a pena dar uma olhada nessa discussão abaixo (basta clicar no título do post) na caixa de comentários de um post sobre um impostor espanhol que se fazia passar por sobrevivente do Holocausto como perseguido político do franquismo. Pra quem não conhece a história da parte espanhola nesse "latifúndio", vários espanhóis republicanos (de esquerda), foram enviados/deportados pra campos de concentração pelo franquismo ou mais precisamente via França (vários fugiram pra França e foram pegos pelo regime de Vichy), (houve uma guerra civil na Espanha com pelo menos 500 mil mortos) e vários desses deportados que sobreviveram à guerra civil morreram nesses campos (cerca de 5 mil), com destaque pro campo de Mauthausen-Gusen na Áustria:
"O espanhol que se dizia sobrevivente do Holocausto, mas foi desmascarado"

A discussão saiu do contexto espanhol pra resvalar numa figura conhecida no Brasil que é a do Ben Abraham.

O João Lima (que comenta no post) comparou a figura do espanhol Enric Marco (o espanhol impostor) com a do Ben Abraham alegando que são impostores. Então tive que fazer uma ressalva comentando que não são casos parecidos.

Mas aproveito pra comentar essa questão do Ben Abraham de uma vez pois não quero retornar mais a esse assunto, porque apesar de nunca ter feito post sobre essa questão dele eu já comentei várias vezes o que penso sobre esse vídeo dele em discussões com "revisionistas" e é irritante ter que repetir tudo de novo pela enésima vez, então é melhor colocar tudo num post a ter que repetir a mesma coisa várias vezes. O fato de não se ter o registro do comentário (até porque a maior parte disso ficou no Orkut e o Orkut foi liquidado pelo Google que deve ter todo o conteúdo daquela rede arquivado) dá margem pra alguém sair alegando isso ou aquilo sem que ninguém tenha feito defesa dessas pessoas ou dito o que pensa sobre essas figuras e dos relatos.

O problema central com a figura do Ben Abraham vem de dois vídeos que mostram ele entrando em contradição (os vídeos estão editados em um só, chequem no link), embora uma das alegações de contradição não chega a ser (comento abaixo), todas as contradições foram tiradas de um debate na TV Bandeirantes (ou Band, como chamam hoje), de 1989, onde ele diz que passou cinco anos e meio em Auschwitz e noutro vídeo, de uma entrevista da TV Educativa de Porto Alegre, ele comenta que passou apenas duas semanas neste campo de extermínio, seguido do "sarcasmo" filonazi do S.E. Castan (já falecido).

A segunda contradição apontada pela edição dos vídeos é que ele fala que foram jogadas cápsulas de cianureto (cianeto, Zyklon-B) no trecho da Bandeirantes, e na TV de Porto Alegre ele fala que o gás saem de chuveiros na câmara de gás fechada, e novamente o S.E. Castan solta o "sarcasmo" dele repetindo uma bobagem sobre a Polônia.

Antes de ir pra questão dos cinco anos e meio de Auschwitz, a quem quiser saber como uma câmara de gás funcionava, sugiro lerem o texto abaixo (tradução) do The Holocaust History Project sobre as colunas Kula. De fato a descrição feita pelo Ben Abraham não está incorreta, as pastilhas ou cápsulas de Zyklon-B (cianeto) eram colocadas acima e o gás entrava na câmara como um "chuveiro" (a câmara obviamente lacrada pra ninguém fora inalar o gás), confiram o texto:
Colunas de Zyklon - coluna Kula (Câmaras de Gás)

Ou seja, a tal 'segunda contradição' não é tão contradição assim. Alguém acha que é algo complexo usar este método pra matar pessoas num local totalmente fechado com um gás altamente letal? Disso o Castan não tirou sarcasmo.

No vídeo do trecho da Band aparece mais abobrinhas ditas por um integralista, e aparece outro neofascista (neofascismo) de nome Armando Zanine (presumo que seja esse). O integralista cita o livro do Castan "Acabou o gás" (aparece a capa do livro) que nada mais é que uma cópia do Relatório Leuchter traduzida pro português:
Tag Relatório Leuchter

Só um adendo que já fiz nos comentários: os trechos do debate da Bandeirantes foram picotados, não subiram o debate inteiro quando deveriam subir por completo se o possuem gravado, pois, apesar do programa ser sensacionalista ao extremo (como quase toda programação de TV desse país), tirar conclusão de um debate só por trechos picotados é no mínimo "brincadeira".

O contexto político do país na época era de que o Brasil havia começado a redemocratização há apenas 4 anos (em 1985) e havia uma eleição altamente polarizada com Collor dum lado (representando a direita) e Lula e Brizola do outro (representando as forças de esquerda), eleição que foi a segundo turno com a disputa Collor e Lula onde o Collor foi eleito. Foi provavelmente a primeira vez que deram destaque a esse grupo negacionista no país. A Bandeirantes, a meu ver de forma irresponsável só pensando em audiência, deu margem a isso ignorando a problemática em torno desses grupos.

Mas voltando ao assunto, o Ben Abraham entra mesmo em contradição no primeiro ponto sobre o tempo em Auschwitz, não há o que negar ou "chorar" sobre isso, está gravado pra quem quiser ver. A segunda afirmação dele de que esteve por duas semanas é que é a correta pois entrar em Auschwitz em 1940 ou antes e sair vivo seria bem 'complicado', até porque o campo foi aberto em maio de 1940 e quem entrou primeiro no campo I foram prisioneiros políticos.

Como dito acima, Auschwitz foi aberto em maio de 1940 pra prisioneiros políticos, o campo de Auschwitz I. Auschwitz é dividido em 3 partes (ou campos) e mais 45 campos satélites, os principais são os 3 campos que recebem o nome de Auschwitz. O extermínio propriamente dito só começa em 1941 em Birkenau ou Auschwitz II, conhecido também como Auschwitz-Birkenau que é o campo de extermínio propriamente dito.

Auschwitz III ou Monowitz-Buna serviu como campo de trabalho escravo pra IG Farben, complexo industrial químico (maior empresa química da Europa na época, e talvez do mundo, estou citando de memória).

O que disse num dos comentários (que não é nem ideia nova já que esse assunto é bem antigo e os "revis" citam o nome do Ben Abraham como disco arranhado) é de que não dá pra entender a postura de entidades que deveriam cuidar disso com completo descaso com essas coisas, entidades como a CONIB etc. Em vez de se preocuparem com isso ficam mais preocupadas (neuróticas) com conflitos no Oriente Médio e uma ideia fixa com Israel. E essa questão da segunda guerra, pra elas, é tratada como algo secundário (na melhor das hipóteses) enquanto que fora do país há várias entidades que cuidam disso com bastante atenção.

Há tempo que percebo isso e toda vez que alguém, indevidamente, vem cobrar que a gente tome posição "X" ou "Y" sobre coisas que só dizem respeito a essas entidades, a resposta é essa: cobrem delas, falem com elas.

Estão pedindo demais dos outros e menos de quem deveria ter mais atenção (e recursos) com a coisa por envolver diretamente a questão judaica, embora a questão do genocídio não fique circunscrita à comunidade judaica (por isso que o tema é amplamente discutido, pois resvala sempre na questão do racismo e preconceito). O assunto nazismo e segunda guerra é muito abrangente, mas este cuidado em particular de testemunhas deveria receber uma atenção melhor dessas entidades ou grupos que cuidam disso.

É algo relativamente fácil de se resolver, bastaria alguém entrar em contato com ele (o quanto antes pois ele está em idade avançada) e tirar a dúvida (gravar um vídeo) sobre as afirmações. Fim de problema. Encerrava-se a "dúvida" levantada pelo negacionista já falecido Castan que aparece nos vídeos editados com o "sarcasmo" dele. E já devem ter visto os vídeos.

No frigir dos ovos ficará o dito pelo não dito com os vídeos gravados se não houver qualquer pronunciamento (e registro) da pessoa sobre esses erros.

E sim, isso é um problema, pois quando ele morrer o que valerá é o que está gravado pros mais "céticos" ("céticos" entre aspas é referente a quem tem uma cisma fora do comum com o assunto), pois mesmo que você demonstre o erro e qual a afirmação certa irão contestar. Algo simples de resolver mas não fazem nada.

Como já disse acima, eu tenho uma opinião sobre esse descaso, eu acho que a falta de ação sobre se coletar um simples relato é desleixo e desinteresse mesmo, mas os "revis" vão alegar que não gravaram nada porque ele está mentido (e que sabiam disso e ficaram com medo de rebater) e que todo o relato do Holocausto é feito por mentirosos e o bla bla bla enfadonho deles. É assim que eles acusam, e estão dando margem a isso com o desleixo.

Por essa razão e outras eu não uso relatos do Ben Abraham. Não uso e nem vou usar.

No blog só há uma matéria com o Ben Abahram na Folha de SP, com um relato, publicado há muito tempo (2008) quando não se tinha muita atenção com esses problemas. O Castan alega que o Ben Abraham é o que mais divulga o Holocausto no Brasil, eu mesmo não havia ouvido falar dele por isso (só notei que era a pessoa revendo o vídeo) que acho curiosas essas alegações "revisionistas".

Fora que eu removi quase todas as matérias da Folha de SP do blog depois daquela defesa ridícula (uma matéria cretina, patética) que este jornal fez (abriu espaço) daquela Mayara Petruso depois daquela confusão de 2010 pós-eleição. Inclusive essa matéria valeria um post.

Eu não publico uma vírgula sequer deste jornal depois deste episódio e de todos a mídia que segue a linha deste jornal, exceto se for pra criticar alguma coisa deles. Só não removi todas as matérias já postadas da Folha de SP pra não amputar o blog (teve umas matérias, poucas, que não deu pra substituir, mas não gosto disso por isso evito cortar mas abro exceções), mas no que foi possível eu troquei a matéria do jornal por tradução de alguma matéria estrangeira ou de Portugal, mas a vontade que dá é de remover até o que não deu pra cortar.

Voltando ao tema de novo, fora do Brasil o escrutínio com essas testemunhas do Holocausto é muito maior, existe um rigor, não precisa um blog ou site apontar o problema pra que grupos que cuidam disso (como o USHMM e outros) verifiquem o problema e apontem erros e não sejam rechaçados de forma leviana por fazerem isso.

Eu disse nos comentários que havia mais erros dele, e esse os "revis" nunca comentaram, pelo menos nunca vi. Citarei pela primeira vez abaixo (pelo menos no blog já que apontei isso no Orkut).

A TV Globo uma vez passou um episódio de um programa policial (que programação horrível, o bizarro é que o povo no país só fica sabendo das coisas se essa emissora passar, não existe comportamento parecido a esse em país algum do mundo) sobre a figura do Mengele. Consegui achar o vídeo: Linha Direta.

Pois bem, no vídeo o Ben Abraham é convidado a comentar e dá mais bolas fora alegando que o Mengele fugiu pros Estados Unidos e não morreu no Brasil, sem apontar prova alguma. Não lembro de mais coisa do vídeo, mas lembro nitidamente dessa. Ou seja, todas as provas colhidas que mostram que o "Anjo da Morte" de Auschwitz (Mengele) morreu no interior de São Paulo, afogado, são deixadas de lado por uma afirmação sem prova alguma de que ele fugiu que só dá pano pra manga pra negacionistas fazerem a festa. Eu não sei como os negacionistas não notaram isso já que ficam vidrados/alucinados com qualquer tema sobre nazismo e judeus.

Podem notar que a exclusão dos relatos do Ben Abraham não é por má vontade mas é que seria irresponsável, inconsequente, colocar depoimentos de uma pessoa que uma hora diz uma coisa e noutra diz outra sem qualquer crítica aos erros gravada, fora as alegações desqualificando a versão apontada pela polícia de que o Mengele havia de fato morrido no Brasil sem apontar prova alguma que demonstre que isso é falso.

Eu acho bizarro que nenhum departamento de Universidade do Brasil que cuide disse se pronuncie sobre essas questões, acho bizarro que nenhuma entidade que cuide da memória disso no país tenha cuidado ou escrutínio com esses relatos, o descaso é total, é simplesmente absurdo a forma como lidam com esse assunto, ao ponto deu dizer (ou torcer) que é melhor que nem discutam isso no país pra não sair besteira porque a maioria não lê nada ou quando lê, são aquelas besteiras rasas reproduzidas em algum site ou revista de quinta como a Veja ou outra publicação do tipo também publicando bobagem, ou a discussão rasa pautada num emocionalismo que remonta a guerra fria, cheio de tabus sobre o racismo no Brasil e esses grupos de extrema-direita.

Faz tempo que eu gostaria de pegar posts antigos ou questões antigas e comentar erros nos textos, esse foi o primeiro. E deve ter muitos outros, por exemplo, o da Ustasha que inclusive estou devendo um post no Holocaust Controversies com as correções do primeiro texto que publiquei sobre ela.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Eurodeputado antissemita descobre que é judeu

Csanad Szegedi, do partido húngaro de extrema-direita Jobbik, descobriu que os avós maternos são sobreviventes do Holocausto

O eurodeputado húngaro, Csanad Szegedi, do partido de extrema-direita Jobbik, e famoso pelos seus comentários anti-semitas, descobriu que é judeu. Os avós maternos são sobreviventes do Holocausto, depois de terem estado em Auschwitz, durante a II Guerra Mundial.

Depois de várias semanas de especulação na Internet, Szegedi admitiu em junho passado as origens judaicas, o que, segundo o judaísmo, faz dele um judeu, apesar de não ser praticante.

Pressionado pelo Jobbik, o político de extrema-direita renunciou no mês passado ao partido, entregando o cartão de filiação.

Mas isso não chegou para o partido húngaro, que o quer ver fora do Parlamento Europeu, onde está desde 2009. O Jobbik disse, no entanto, que a decisão não está relacionada com as raízes do eurodeputado, mas com a existência de provas de corrupção.

O partido refere-se a uma gravação de 2010 entre Szegedi e um ex-presidiário, que o eurodeputado admite ter tido lugar, mas que garante ter sido adulterada. Então, o condenado terá dito ter provas da origem judaica do político húngaro que, por sua vez, depois de manifestar surpresa, terá comprado o silêncio.

O Jobbik considera a gravação genuína e quer que Szegedi deixe o Parlamento Europeu.

Szegedi, de 30 anos, que já pediu desculpas à comunidade judaica pelas suas palavras, prometeu visitar Auschwitz.

Fonte: tvi24
http://www.tvi24.iol.pt/internacional/csanad-szegedi-szegedi-jobbik-holocausto-parlamento-europeu-tvi24/1368259-4073.html

sábado, 7 de julho de 2012

U-507: O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra

Livro-reportagem detalha episódio que jogou o Brasil na Segunda Guerra

A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial completa 70 anos em agosto próximo. A decisão foi tomada pelo então presidente Getúlio Vargas depois que o submarino alemão U-507 torpedeou cinco navios nacionais, no litoral de Sergipe e da Bahia, entre os dias 15 e 17 de agosto de1942, causando a morte de 607 brasileiros. Uma semana depois, Vargas decretou estado de beligerância à Alemanha e à Itália e, no dia 31 de agosto, declarou guerra.

O episódio, ainda pouco conhecido dos brasileiros, é o tema do livro-reportagem “U-507 – O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra”, que marca a estréia no mercado editorial do jornalista gaúcho Marcelo Monteiro, pela Editora Schoba, com prefácio de Luis Fernando Verissimo. A obra, que será lançada oficialmente em 20 de junho, às 19h30, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, em Brasília, é resultado de três anos e meio de pesquisas e entrevistas. Com cerca de 350 páginas, o livro-reportagem revela em detalhes os afundamentos dos mercantes Baependy, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará, mostrando o sofrimento das vítimas da carnificina nazista. A narrativa conta o drama de náufragos devorados por tubarões, de sobreviventes vagando por mais de dois dias sem água ou comida e da menininha que sobreviveu ao afundamento do Itagiba boiando por horas dentro de uma caixa de madeira vazia.

Até então, o Brasil procurava manter-se neutro no conflito. Mas, depois de romper relações diplomáticas com o Eixo – em função do ataque à base americana de Pearl Harbor, em dezembro anterior –, o País colaborava com o esforço de guerra ianque, exportando borracha e outros itens essenciais à indústria bélica dos Estados Unidos. Após o ataque aos navios brasileiros e diante da revolta da população, que saiu às ruas em protesto, depredando estabelecimentos comerciais pertencentes a imigrantes alemães, italianos e japoneses, Vargas viu-se obrigado a abandonar a condição de não beligerante.

Além de entrevistar sobreviventes dos naufrágios, Monteiro teve acesso ao diário de bordo de Harro Schacht, comandante do submarino alemão. Assim, além da rotina nos navios afundados, o livro também detalha, com base nos documentos nazistas, o cotidiano do próprio submersível, corrigindo alguns equívocos históricos, como o de que todos os vapores brasileiros teriam sido afundados com dois torpedos (somente o Baependy recebeu dois disparos) e trazendo uma nova – e talvez definitiva – versão para o episódio.

História viva

Entre os personagens localizados pelo autor está a alagoana Walderez Cavalcante, de 74 anos. Em 1942, com apenas quatro anos de idade, ela foi resgatada do naufrágio do Itagiba depois de permanecer cerca de quatro horas boiando dentro de uma caixa de transporte de Leite Moça. “O pessoal da baleeira me botou numa caixa de leite condensado da Nestlé, vazia, e me disse: ‘segure, não solte’”, lembra a psicóloga aposentada.

Outra náufraga entrevistada para o livro é Vera Beatriz do Canto, hoje com 74 anos, filha do capitão do Exército José Tito do Canto. Dias antes do ataque do U-507,a mãe de Vera, Noêmia, tivera um pesadelo: vira um navio preto, com centenas de pessoas vestindo preto e com um número 13 estampado no casco. No dia 13 de agosto de 1942, às 13 horas, o Itagiba partiu do armazém 13 do cais do porto do Rio de Janeiro em direção a Salvador. Essa seria a sua última viagem. No dia17, duas horas antes da chegada a Salvador, o vapor foi alvejado pelo submarino nazista, próximo ao Morro de São Paulo.

O soldado Dálvaro José de Oliveira era um dos soldados da tropa comandada pelo pai de Vera, que estava sendo transferida do Rio para Olinda (PE), onde seria formado o 7º Grupo de Artilharia de Dorso. Outro contingente de soldados do mesmo pelotão seguia no Baependy, que partira dois dias antes do Itagiba. No dia 15, o Baependy foi torpedeado. O Itagiba teria o mesmo destino no dia 17.Centenas de militares perderam a vida nos dois ataques alemães.

Às margens do Rio Una, em Valença, cidade para onde foram levados os náufragos e feridos dos naufrágios de Itagiba e Arará, o soldado Oliveira e seus colegas sobreviventes juraram vingança. Assim, em 1944, Oliveira embarcou para a Itália, onde ajudou a eliminar o nazifascismo. “Nossa vitória na guerra foi uma homenagem àqueles que morreram, inocentemente, nos navios mercantes brasileiros”,diz Oliveira, hoje com 92 anos, que até 2011 ocupava a presidência da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB).

Fonte: Portal FEB
http://www.portalfeb.com.br/u-507-o-submarino-que-afundou-o-brasil-na-segunda-guerra/

Ver mais:
Livro-reportagem relata como o Brasil participou da Segunda Guerra Mundial

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Descoberta fraude em fundos para vítimas do Holocausto nos EUA

Falsários recrutavam supostas vítimas e encaminhavam pedidos de indenização baseados em documentos falsos a dois fundos para vítimas do Holocausto nos Estados Unidos. Dezessete pessoas foram indiciadas.
Bharara: administradores
dos fundos ajudaram na fraude

Dois fundos financiados pela Alemanha para o pagamento de indenizações a vítimas do Holocausto foram fraudados em mais de 42 milhões de dólares, anunciaram nesta terça-feira (09/11) em Nova York investigadores federais dos Estados Unidos.

A fraude aconteceu com a ajuda de pessoas que deveriam administrar os recursos, disse o promotor Preet Bharara, de Nova York. Dezessete pessoas foram indiciadas, incluindo seis funcionários da organização que administra os fundos, a Conference on the Jewish Material Claims Against Germany (conferência sobre reclamações materiais judias contra a Alemanha), também conhecida por Claims Conference.

Segundo os investigadores, os falsários, a maioria de origem russa, recrutavam imigrantes de idade avançada vindos de países do Leste Europeu e da Europa Central. Os recrutados então submetiam documentos falsos ao fundo, nos quais pediam indenização alegando terem sido vítimas do nazismo.

Os investigadores afirmam que os falsários encaminharam 5.500 pedidos falsificados ao assim chamado Fundo Hardship, que prevê o pagamento de uma indenização única de 3.600 dólares a pessoas que foram expulsas de suas residências durante o regime nazista. Entre 2000 e 2009, 4.957 desses pedidos foram aprovados.

Foram descobertos ainda mais de 650 pedidos para o fundo Artigo 2, que faz pagamentos mensais de 411 dólares para vítimas do nazismo que viveram em guetos, campos de concentração ou em locais de trabalho forçado e tem, hoje, renda inferior a 16 mil dólares por ano.

No Fundo Hardship, a fraude alcança 18 milhões de dólares. No segundo fundo, soma 24,5 milhões. Em ambos os casos, os falsários ficavam com uma parte da indenização. Doze deles foram detidos nesta terça-feira. Os outros cinco já estavam presos.

"Fundos criados e financiados pelo governo alemão para ajudar sobreviventes do Holocausto foram desfalcados por gananciosos e não, como planejado, pagos aos necessitados", afirmou a diretora assistente do FBI Janice Fedarcyk. "Foi um vergonhoso mau uso dos programas de indenização."

AS/ap/dpa/afp
Revisão: Carlos Albuquerque

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6214641,00.html?maca=bra-rss-br-top-1029-rdf

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sobreviventes do Holocausto comemoram trabalho de memória

Documento mostra despesas de viagem de oficial do Ministério das
Relações Exteriores para "extermínio de judeus" Foto: AFP
Uma associação de sobreviventes do Holocausto comemorou neste domingo o trabalho realizado por um grupo de historiadores, a pedido de Berlim, sobre a cumplicidade do Ministério das Relações Exteriores alemão no assassinato de milhares de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

O relatório da comissão independente de historiadores, criada em 2005 pelo então ministro alemão das Relações Exteriores Joschka Fischer, será publicado oficialmente na quinta-feira.

"A Alemanha se propôs a examinar honestamente e dolorosamente seu passado", afirmou em um comunicado Elan Steinberg, vice-presidente da Associação americana de sobreviventes do Holocausto e de seus descendentes em Nova York.

As tentativas anteriores de "aliviar a responsabilidade do ministério das Relações Exteriores e seus funcionários dos crimes do Holocausto são categoricamente contestadas", afirmou. "Este relatório é um lembrete do fato de que uma grande parcela da sociedade alemã e de suas instituições estavam envolvidos no Holocausto e nas brutalidades do regime nazista", disse Steinberg.

Fonte: AFP
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4752329-EI8142,00-Sobreviventes+do+Holocausto+comemoram+trabalho+de+memoria.html

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Documentário: Pessah - Sobreviventes do Holocausto

Divulgação; Documentário: "Pessah - Sobreviventes do Holocausto"

Descrição do Trailer Promocional - Primeira Parte (depoimentos captados no RJ e RS) Longa-Documentário "Pessach - Sobreviventes do Holocausto".
Direção: Denise Sganzerla
Idioma: Português
País: Brasil

segunda-feira, 5 de julho de 2010

John Rabe: O nazi antinazi

de FLORIAN GALLEMBERGER
A incrível história de John Rabe: um nazi que se transformou num herói anti-nazi
Manuel Halpern

Como é que um membro do Partido Nazi se transforma num herói que salva 200 mil chineses, na guerra entre o Japão e a China, que antecedeu a II Guerra Mundial? John Rabe é uma personagem fascinante. Director da Siemens em Nanjing, presenciou a invasão nipónica, onde se cometeram as maiores atrocidades, e não ficou de braços cruzados. Criou uma zona neutral, onde albergou 200 mil pessoas, poupando-as da morte e da miséria. A personagem é suficientemente ambígua para ser rica. Já é o terceiro filme dedicado a esta personagem, mas este talvez seja o mais grandioso.

Florian Gallenberg, basenado-se nos seus diários, apresenta John Rabe como uma figura incompreendida. Por viver tanto tempo na China, cerca de 20 anos, não se teria apercebido das barbaridades que se esperavam do próprio regime nazi, em que se inscrevia. Ele próprio, ingenuamente, escreveu uma carta a Hitler, denunciando os excessos da guerra nipónica. Quando regressou à Alemanha foi interrogado, mas acabou, mais tarde, por ocupar um cargo na Siemens. No final da guerra pediu a sua desnazificação. Mas demorou algum tempo a reconhecerem-se todos os seus méritos.

O filme ganha por retratar um lado menos conhecido da guerra e por conseguir criar uma personagem grandiosa, que faz um percurso humanista ao longo do tempo. O realizador coloca-nos no lugar da personagem de Steve Buscemi, o benemeritíssimo e rufião médico americano, que, desde o início, chama Rabe de nazi. Mas John Rabe não nasce grandioso, muito pelo contrário, mas faz-se o mais improvável herói de uma China dilacerada.

Fonte: AEIOU(Portugal)
http://aeiou.visao.pt/john-rabe-o-nazi-anti-nazi=f560836

Trailer do filme:

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Sobreviventes e veteranos recordam libertação de Auschwitz




Sobreviventes de Auschwitz, veteranos do exército soviético e dirigentes políticos como o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu participam nesta quarta-feira da comemoração da libertação deste campo de concentração e extermínio nazista há 65 anos.


Mais de 1,1 milhão de homens, mulheres e crianças, entre os quais um milhão de judeus em toda a Europa, morreram no campo de Auschwitz, instalado em 1940 na Polônia ocupada e libertado em 27 de janeiro de 1945 pelo exército soviético.

O dia de hoje foi designado o Dia Internacional de Comemoração das Vítimas do Holocausto pelas Nações Unidas em 2005.


Mensagem de Obama


O presidente Barack Obama pediu resistência frente ao antissemitismo e a ignorância em uma mensagem divulgada nesta quarta-feira em Cracóvia, sul da Polônia, durante as celebrações pelo 65º aniversário da libertação do campo de extermíniio nazista de Auschwitz.


"As atuais gerações devem resistir frente ao antissemitismo e a ignorância sob todas as suas formas e se negar a ser testemunha do mal cada vez que este mostrar seu rosto ignominioso, onde quer que seja", afirma o presidente.


"Temos o dever sagrado de recordar a crueldade que imperou neste lugar", afirma em sua mensagem de vídeo exibida ante 700 participantes em uma conferência organizada pelo Congresso Judeu antes das cerimônias pelo aniversário da libertação do campo.


Discurso no Parlamento de Berlim


O presidente de Israel, Shimon Peres, pediu nesta quarta-feira que todos os que participaram no Holocausto sejam processados, em um vibrante discurso em hebreu ante o Parlamento de Berlim, no qual mencionou seu avo queimado vivo pelos nazistas junto com toda a comunidade judia em sua aldeia numa sinagoga na atual Bielorrússia.
"Os sobreviventes do Holocausto desapareceram progressivamente do mundo dos vivos e, ao mesmo tempo, homens e mulheres que participaram na pior das açoes sobre a Terra - o genocídio - continuam vivendo na Alemanha e na Europa, assim como em outras partes do mundo. Eu lhes peço, por favor, que façam todo o possivel para levá-los ante a justiça", afirmou ao lado de seu colega alemão Horst Köhler e da chanceler Angela Merkel, durante a comemoração pelo 65º aniversário da libertação do campo de extermínio nazista de Auschwitz.

Papa denuncia crueldade

Também nesta quarta, papa Bento 16 denunciou a crueldade inacreditável dos campos de extermínio da Alemanha nazista em seu discurso durante a audiência-geral desta quarta-feira.
"A libertação de Auschwitz e os testemunhos dos sobreviventes revelaram o horror dos crimes de uma crueldade inaudita cometidos nos campos de extermínio criados pela Alemanha nazista", declarou o papa dirigindo-se aos peregrinos alemães presentes. Falando em seu idioma materno, o Papa afirmou que "o horror nazista recorda o respeito pela vida".

terça-feira, 24 de junho de 2008

Papa recebe grupo de sobreviventes do Holocausto

Fundação 'Pave the Way' promove simpósio sobre a atuação do papa Pio XII durante a Segunda Guerra

VATICANO - O papa Bento XVI recebeu no Vaticano sobreviventes do Holocausto. Após a audiência geral, o papa "acolheu de braços abertos" o norte-americano Gary Krupp, presidente da "Pave the Way Foundation" (Fundação Pavimente o Caminho), segundo informou o jornal Osservatore Romano.

Krupp "quis fortemente o encontro com Bento XVI" para informar-lhe sobre um simpósio que, de 15 a 18 de setembro, em Roma, "aprofundará" o estudo sobre a ajuda oferecida aos judeus pelo papa Pio XII.

Para o norte-americano, a presença durante a audiência de sobreviventes do Holocausto é "uma expressão de gratidão ao papa Pio XII, por ocasião dos 50 anos de sua morte".

Alguns judeus acusam Pio XII, no comando da Igreja Católica de 1939 a 1958, de ser indiferente em relação ao Holocausto e de não se manifestar contra Hitler. Os defensores do papa vêem nele um homem santo que trabalhou nos bastidores para ajudar os judeus na Europa toda.

Vários grupos judaicos, em especial a Liga Antidifamação, com sede nos EUA, já pediram que o Vaticano suspenda o processo de canonização desse papa, que se encontra em andamento, enquanto não divulgar todos os documentos secretos referentes à Segunda Guerra.

O Osservatore Romano também informou que, além dos judeus, Bento XVI recebeu Mame Mor Mbacke, "notável referência para os muçulmanos do Senegal", que expressou seu compromisso de colaborar com os católicos pela paz e pela justiça. Segundo a publicação, o encontro "é um sinal positivo para o diálogo com o Islã na África".

Fonte: Ansa e Reuters/Estadão(18.06.2008)
http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid191840,0.htm

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Sobrevivente de Auschwitz pesava 28 kg ao fim da Segunda Guerra

FERNANDO SERPONE
da Folha Online
A libertação do campo de concentração nazista de Auschwitz por tropas russas completa 63 anos neste domingo. O dia 27 de janeiro foi instituído como o Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto em 2005, pela Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Estima-se que cerca de 2 milhões de pessoas foram assassinadas no local.

"Em Auschwitz, todos os inaptos para o trabalho foram enviados às câmaras de gás e cremados. Enquanto eram cremados, as gorduras eram canalizadas para a fábrica de sabão, ao lado", disse o polonês Ben Abrahan, um dos sobreviventes do campo, em entrevista à Folha Online. Sua mãe foi uma das vítimas da câmara de gás. O pai de Abrahan morreu de fome, no gueto.

Presidente da Associação Brasileira dos Sobreviventes do Nazismo, o polonês tinha 14 anos quando a Segunda Guerra Mundial (1939) começou. Quando o conflito terminou --quatro anos no gueto e seis campos de concentração depois-- o polonês pesava 28 kg, estava com tuberculose, escorbuto e disenteria com sangue.

"E estou aqui, sobrevivi, e levei comigo a tarefa de contar ao mundo tudo o que aconteceu", afirmou Abrahan, que tem 15 livros publicados sobre o Holocausto.

Outra vítima da perseguição dos alemães foi Henrietta "Rita" Braun. No entanto, documentos falsos e a ajuda de um alemão evitaram que ela fosse enviada com a sua família a um campo de concentração.

Entrevista com Ben Abrahan, sobrevivente de Auschwitz:

Folha Online - Como foi o início da guerra?

Ben Abrahan - Eu avistei os alemães pela primeira vez em 6 de setembro, quando eles entraram em nossa cidade, Lotz. Então, começaram perseguições. Os religiosos tiveram sua barbas cortadas, os judeus eram colocados em trabalhos forçados sob chicotadas.

Os judeus eram obrigados a usar uma braçadeira com uma estrela de David. Os alemães, não achando isso humilhante o suficiente, mandaram pregar nas costas uma estrela de David com a inscrição "juden" (judeu).

No bairro mais miserável, foi instituído o gueto, onde foram aglomerados cerca de 162 mil judeus. Só no primeiro ano, durante o inverno rigoroso, com parcas rações, sem lenha, morreram mais de 20 mil pessoas.

Folha - Uma vez no gueto, vocês eram obrigados a trabalhar?

Abrahan - Os alemães instalaram fábricas no gueto, para os seus utensílios de guerra, onde todos eram obrigados a trabalhar --desde os 12 anos até os 70. Os que não podiam trabalhar eram enviados a um local que diziam se tratar de um cidade próxima. Eram levados em caminhões, e diziam que iam trabalhar na roça. Ledo engano. Quando aglomerados dentro do caminhão, as portas eram fechadas, os gases de escapamento eram canalizados dentro da carroceria, e o trajeto --que demorava cerca de dez minutos até as valas comuns-- era o suficiente para que todos chegassem asfixiados.

Com a aproximação das forças russas, no verão de 1944, os judeus foram retirados, e diziam-lhes que iam trabalhar nas fábricas na Alemanha.

Folha - Aonde vocês foram levados?

Abrahan - Chegamos a Auschwitz [no sul da Polônia], onde passamos por uma seleção rigorosa. Crianças, velhos e inválidos eram retirados de imediato, e nós passamos na frente --no meu caso, na frente do famigerado [Joseph] Mengele [apelidado de "Anjo da Morte", fez experiências com presos, entre elas a de injetar substâncias químicas nos olhos de crianças para ver se mudariam de cor. Após fugir para a Argentina, Mengele veio ao Brasil, onde morreu de infarto quando nadava em Bertioga, em 1979].

Ele (Mengele) só mexia o dedo para a esquerda e direita e enviava as pessoas para trabalhos forçados ou para a câmara de gás.

Folha - O sr. foi levado a Auschwitz de trem?

Abrahan - Sim. Um trajeto que hoje demora quatro horas, demorava um, dois dias --sem água, com 170 pessoas no vagão, fechado, onde muitos morriam asfixiados. Em Auschwitz, todos os inaptos para trabalho foram enviados às câmaras de gás e cremados. Enquanto eram cremados, as gorduras eram canalizadas para a fábrica de sabão, ao lado.

Antes, as pessoas eram despojadas de todos os bens de valor --dentes de ouro, anéis, etc. As mulheres tinham os cabelos cortados. As cinzas eram enviadas à Alemanha para serem usadas como fertilizante. Quem duvida disso, basta ir a Auschwitz hoje, que permaneceu intacto.

Folha - O senhor ficou com quanto tempo em Auschwitz?

Abrahan - Duas semanas. Diretores de fábricas da Alemanha compravam os prisioneiros para suas fábricas. Eu fui enviado a uma fábrica de caminhões, onde trabalhei até a primavera de 1945.

Com a aproximação das forças aliadas, fomos levados de um campo a outro. Na noite de 1º para 2 de maio, fui libertado pelos americanos, na noite em que Hitler se suicidou.

Eu pesava naquela época 28 kg, com tuberculose, escorbuto e disenteria com sangue. E estou aqui, sobrevivi, e levei comigo a tarefa de contar ao mundo tudo o que aconteceu. Escrevi em meu primeiro livro, "E o mundo silenciou", toda a minha odisséia, 24 edições, todas esgotadas.

Folha - O que aconteceu quando o senhor foi libertado?

Abrahan - Passei meses nos hospitais americanos, curando-me de minhas doenças. Eu sou o único sobrevivente da minha família. Meu pai morreu de fome no gueto em 1942, e minha mãe foi retida por Mengele em Auschwitz e enviada à câmara de gás.

Folha - Depois do período no hospital, aonde o sr. foi?

Abrahan - Fui a Israel e, depois de um tempo, vim ao Brasil, em janeiro de 1955.

Folha - O sr. tinha parentes?

Abrahan - Tinha parentes em Israel --um tio e um primo que sobreviveram, e parentes que emigraram antes da guerra.

Folha - Por que o sr. veio ao Brasil?

Abrahan - Quando pequeno, ouvia conversas de meu pai, ele tinha aqui um tio e descrevia que é um país bondoso, tolerante, sem discriminação, principalmente aos judeus, e dizia que gostaria de emigrar ao Brasil. Isto ficou gravado em minha memória.

Folha - O que o sr. fez quando chegou aqui?

Abrahan - Fui trabalhar em uma fábrica como ferramenteiro. Depois, abri uma pequena indústria no Brás. Fui comentarista internacional, trabalhei oito anos na "Folha da Tarde", escrevia artigos para jornais do Brasil e para jornais internacionais.

Hoje, dedico-me a palestras em escolas e universidades, a conscientizar as novas gerações aonde um regime totalitário e inescrupuloso pode conduzir os destinos do mundo e, inclusive, da própria nação.

Folha - Qual é a proposta da associação dos sobreviventes?

Abrahan - De início, era de ajuda aos carentes ou doentes. Atualmente, ajudamos os sobreviventes a receber indenizações da Alemanha.

Fonte: Folha Online(27.01.2008)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u367402.shtml

domingo, 20 de janeiro de 2008

"Sobre Viver" traz relatos de sobreviventes

"Sobre Viver" traz relatos de sobreviventes do Holocausto

(Foto)Memorial do Holocausto, em Berlim

Pesquisadora brasileira Sofia Débora Levy fala em entrevista à DW-WORLD sobre pesquisa e livro acerca dos sobreviventes do Holocausto nazista que emigraram para o Rio de Janeiro.

A psicóloga brasileira Sofia Débora Levy entrevistou entre 1994 e 1996 dez sobreviventes do Holocausto. Judeus de várias nacionalidades, todos residentes no Rio de Janeiro, eles relatam a experiência da fuga do nazismo e o recomeço da vida no Brasil.

Oito das dez entrevistas realizadas por Levy foram reunidas no volume Sobre Viver – oito relatos antes, durante e depois do Holocausto por homens e mulheres acolhidos no Brasil, publicado pela editora Relume-Dumará.

À DW-WORLD.DE Levy fala da forma como conduziu as entrevistas que formam o livro de sua autoria, descreve o processo de integração dos sobreviventes após a chegada ao Brasil e ressalta a importância da história oral para a memória coletiva.

DW-WORLD – A premissa do projeto de pesquisa que conduziu à publicação do seu livro Sobre Viver foi rever criticamente o comentário difamante de que os judeus "teriam se deixado levar como gado em direção ao matadouro". Poderia falar um pouco sobre como os depoimentos que você colheu elucidam a perversão da máquina nazista e a postura das vítimas, que muitas vezes não conseguiam, à primeira vista, acreditar no que acontecia?

Levy – Minha intenção ao rever este comentário é chamar a atenção para a maneira como a história é repassada às gerações que não vivenciaram aquele momento histórico. Dizer que os judeus se deixaram levar como gado é atribuir uma posição passiva a um povo que fora estigmatizado pela ideologia vigente no totalitarismo nazi-fascista, que proibia a sua existência.

As vítimas, traumatizadas pela categorização de "não-seres", "coisificadas" ideologicamente e ameaçadas de morte a cada segundo, foram tratadas como indignas de pertencer à raça ariana, ideal de humanidade do nacional-socialismo. O absurdo de tais idéias de exclusão social em massa despertava primeiramente a reação de descrédito de que tal dimensão pudesse se concretizar, retardando tentativas de reposicionamento.

Com a gradativa deterioração social e financeira, e as chances diminutas de obter ajuda em larga escala, restava às vítimas tentar sobreviver dia a dia à morte circundante, inclusive submetendo-se às piores situações para poder chegar a ver o dia seguinte. Assim, a visão dos vagões de gado transportando milhares de seres humanos retrata a intenção das autoridades, mas não a conivência dos passageiros, como dá a entender o comentário referenciado.

DW - Sua tese de mestrado inclui dez entrevistas com sobreviventes do Holocausto, que emigraram para o Brasil. A história brasileira vive em grande parte do mito da cordialidade em relação ao imigrante. Esses entrevistados têm lembranças positivas da chegada ao Brasil ou falam da transição entre as culturas como um processo doloroso?

(Foto) Livro da autora Sofia Débora Levy

É unânime a referência ao Brasil como um país no qual os depoentes sentiram-se acolhidos. Todos relatam a boa impressão frente às belezas naturais e, sobretudo, a um país onde não havia guerra. A possibilidade de novamente pertencer a uma pátria e ter sua cidadania reconhecida e legitimada fez com que a integração à cultura brasileira fosse vivenciada com abertura e satisfação. A colaboração de entidades filantrópicas e da comunidade judaica que aqui já vivia também ajudou bastante.

DW - Os depoimentos que formam o volume Sobre Viver foram baseados no que você chama de escuta sensível, com poucas interferências do entrevistador. Poderia comentar a opção por este tipo de diálogo com os entrevistados?

Entrevistar sobreviventes com idade avançada e acompanhá-los numa retrospectiva de suas vidas, durante e depois de terem passado pelo Holocausto, não é como entrevistar uma pessoa para colher uma informação específica. Minha intenção era compreender como essas pessoas conseguiam apreender o que se passava com elas e, tendo sobrevivido, em que bases psicológicas e filosóficas conseguiram se reerguer e não sucumbir à dor.

Como psicóloga clínica, trago comigo a referência da escuta respeitosa à verdade do outro. Aliada à ótica da estruturação de coleta de dados pela técnica de "história de vida", ramo da história oral, coube a mim ouvir os relatos com atenção, de modo a conseguir trazer à tona as vivências frente às quais poderíamos nos aproximar de pessoas e não de dados, fatos, números já coletados e formatados pela história formal.

DW - Recorrer à crueldade do passado e contar traumas vividos é certamente um momento doloroso. Poderia falar sobre a reação dos entrevistados, ao serem confrontados com a própria lembrança?

À medida que o sobrevivente acessava dados dolorosos e deixava aflorar sua sensibilidade durante a entrevista, minha interferência maior fazia-se no apoio à sua possibilidade de repassar essas dores com a certeza de que estariam sendo compreendidas, e não julgadas, duvidadas, nem distorcidas.

Assim, procurei ater-me à visão de mundo (Weltanschauung) presente no relato de cada depoente, sem contrapor comparações com outras fontes, mas sim enfatizando o resgate de quem relembrava momentos em que nem podia falar, muito menos ter sua percepção legitimada por alguém.

Além disso, todos os entrevistados concordaram em registrar suas histórias de vida com a finalidade de contribuir com informações para que outros não sejam vítimas e nem algozes de atrocidades como as perpetradas durante a Segunda Guerra Mundial. Este objetivo deu força para que cada um conseguisse relatar e atravessar suas dores pessoais em prol de uma contribuição social maior, além de constituir um legado para seus descendentes.

DW - A relevância da história oral ainda é pouco valorizada pela história formal, que confia mais no documento do que no depoimento e muitas vezes ignora este último. Qual é, na sua opinião, a importância do registro do testemunho pessoal para a constituição da memória coletiva?

Quando trabalhamos com a história oral e em particular com a história de vida, constituímos, com a aquiescência do depoente, um "documento pessoal", como no caso das entrevistas de Sobre Viver. Quando o depoente possuía algum documento da época, comprobatório dos dados relatados, anexamos ao seu relato. No entanto, como é comum às vítimas de grandes tragédias, na maioria das vezes os sobreviventes não portavam nenhuma prova de suas vidas durante os anos de Holocausto.

Mas o que é mais fascinante no testemunho pessoal é a aproximação da vítima para com aqueles que não estavam em condições similares. O relato traz dados em linguagem clara e acessível, mantendo a história viva, inteligível e próxima de quem as ouve ou lê. Um dos objetivos de Sobre Viver é promover essa aproximação entre depoente e leitor, mantendo a peculiaridade de cada depoente em seu modo de se expressar e descrever o seu cotidiano.

Hoje em dia, a narrativa em primeira pessoa ganha espaço tanto em textos acadêmicos quanto em romances. Os depoimentos têm despertado maior interesse por parte de pesquisadores, visando apreender o real vivido e não só o real conjeturado ou teorizado.

DW - Em seus textos, você cita a reflexão acerca do Holocausto como uma forma de pensar, num contexto social ou até mesmo filosófico, sobre as relações humanas. Em que sentido esta reflexão pode ser inserida numa análise atual das sociedades contemporâneas?

Refletir sobre o Holocausto é refletir sobre a capacidade e responsabilidade humana de ser tão mais vil ou sublime conforme a posição ética e moral de cada indivíduo. Este é um exercício sempre necessário ao aprimoramento social. O horror inimaginável e desumano foi concretizado no período nazista e, infelizmente, ainda hoje assistimos ao longo do mundo inteiro a repetição de atrocidades, apesar de não organizadas sob a mesma égide nazista.

Em nossos dias, convivemos com novas formas de banalização do mal, que cresce em escala individual e coletiva – desde a violência doméstica até o fundamentalismo que mata o diferente em nome do seu sagrado religioso. O que vemos acontecer na violência atual é o despojamento de qualquer sentimento de culpa, vergonha ou responsabilidade acerca do mal intentado e praticado; esta foi a correção que os algozes fizeram de sua posição destrutiva na Segunda Guerra: não sucumbir, nem se suicidar se o plano não teve sucesso.

(Foto)Sofia Débora Levy

Basta negar a participação, manipular as informações ainda mais e inverter os motivos de suas ações através de justificativas racionalizadas, distantes da realidade perpetrada. Além disso, havemos de considerar as crises econômicas ao longo do mundo, que aumentam a intolerância e promovem a violência como parâmetro socialmente aceito. Isso por si só já nos remete às características totalitárias.

DW - Não negar a diferença e sim fazer proveito dela como enriquecimento é certamente uma utopia nas sociedades multiculturais. As posturas frente à diversidade são, no entanto, bastante distintas na Europa e no chamado Novo Mundo. Você acredita que o Brasil pode, neste contexto, servir de exemplo a ser seguido?

Sim, se nós brasileiros conseguirmos manter a qualidade "macunaímica" da miscigenação resultando de felicidade e aceitação. Mas, infelizmente, a violência se alastra pelo Brasil, e a imagem do país ensolarado e hospitaleiro cede lugar, nas manchetes nacionais e internacionais, a um país temível, perigoso e do qual não se tem certeza de visitar e sair ileso.

Soma-se a isso a tendência colonialista de assimilarmos modelos culturais dos países desenvolvidos, inclusive suas formas de violência e de discriminação. A manutenção da imagem do país acolhedor, emocionante, integrador e rico em belezas naturais depende da prática vivida pelos seus cidadãos.

Espero que possamos resgatar essa característica já registrada historicamente no Brasil, mantendo um referencial de melhores possibilidades de convivência, revisitando esta identidade nacional como forma de combate à da intolerância, e como expressão da cultura brasileira.

(Foto)Edward Heuberger, um dos entrevistados de 'Sobre Viver', em foto ao lado de Oskar Schindler: primeiro encontro com soldados norte-americanos após a libertação e fim da Segunda Guerra, em 1945

Soraia Vilela

Fonte: Deutsche Welle(Brasil/Alemanha. 18.09.2007)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,2781827,00.html
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,2781827_page_2,00.html

domingo, 30 de dezembro de 2007

Eu, filha de sobreviventes do Holocausto

Por Cadorno Teles

A graphic novel, ou melhor, o romance gráfico, traduzido literalmente do inglês, tornou-se extremamente popular na sociedade atual. Uma espécie de livro, que conta uma história através dos Quadrinhos, embora ecoem em alguns leitores personagens como Batman, Homem-Aranha ou Asterix, as graphic novels são essencialmente sérias, com temas mais significativos destinado ao público adulto. Will Eisner popularizou com o seu trabalho as graphic novels, e vieram Os 300 de Esparta de Frank Miller, Adolf de Osamu Tezuka, O coração do Império de Bryan Talbot, Maus de Art Spiegelman, Persepólis de Marjane Satrapi, V de Vingança de Alan Moore e David Lloyd, Watchmen de Moore e Dave Gibbons, entre muitas outras. Mas ninguém esperava a originalidade de Bernice Eisenstein em Eu, filha de sobreviventes do Holocausto (I was a child of holocaust survivors, tradução de Alzira Alegro, Novo Conceito, 200 páginas, R$ 35,90).

A artista canadense consegue preparar um texto brilhante e inspirado em meio aos desenhos simples ao longo das páginas desta impressionante obra. Seguindo a linha de Maus de Spiegelman, Eu, filha de sobreviventes do Holocausto é um testemunho da superação do horror, no caso o genocídio judeu. Bernice é filha de sobreviventes do capo de Auschwitz, cresceu em Toronto nos anos 1950 e viveu as dificuldades dos imigrantes que acabaram de sair de um pesadelo para integrá-se em uma nova sociedade. O livro é a memória de sua infância enegrecida pelas recordações do Holocausto, um testemunho comovente, honesto e em certas ocasiões satírico sobre a universalidade da memória e da experiência aterradora de viver sob o terror de morrer a qualquer hora.

Retratando os momentos vividos por sua família, da morte do seu pai à circuncisão de seu filho, Eisenstein deu um tom novo às graphic novels, fazendo uma síntese surpreendente com seus desenhos, delicados e unidos ao texto, ligados à história áspera e abrasadora, explorando com melancolia e humor sua infância. As ilustrações de meia-página e entremeados em uma arte-final original e provocativa. Uma graphic novel que com certeza irá se reunir aos clássicos do gênero e vale lembrar que a crítica internacional está colocando o trabalho desta autora canadense entre nomes como Primo Levi, Elie Wiesel e Raul Hilberg. E veja que é sua primeira investida no gênero. Eu, filha de sobreviventes do Holocausto, uma ode à vida, ao esforço da recompensa, ao trabalho sofrido, um verdadeiro tributo a sua família e a todos que sofreram os revezes da II Grande Guerra.

A Autora
Bernice Eisenstein (foto) nasceu em 1949 na cidade de Toronto, Canadá, pouco depois da emigração de seus pais ao país. Atualmente, é escritora e artista, publicando no periódico Globe and Mail. "Eu, filha de sobreviventes do Holocausto" recebeu o prêmio Canadian Jewish Book Award 2007 e foi finalista do Trillium Book Award.

Fonte: Bigorna.net(HQs, Brasil, 21/09/2007)
http://www.bigorna.net/index.php?secao=comics&id=1190350568

sábado, 15 de dezembro de 2007

Testemunho de um brasileiro que sobreviveu ao Holocausto

Yaari relata como escapou da morte nos campos de concentração

O paulista Arie Yaari, 82 anos, é um dos poucos sobreviventes das barbáries nazistas a viver no Brasil. Sua autobiografia, publicada há pouco em português, será lançada também na Alemanha.

Com o título O Leão da Montanha: dos Campos da Morte aos Campos do Jordão, o brasileiro naturalizado Arie Yaari, 82 anos, lançou seu livro de memórias pela Editora e Livraria Sêfer de São Paulo. Na obra, ele relata suas experiências de prisioneiro em campos de trabalhos forçados durante a Segunda Guerra até sua aventurosa, mas bem-sucedida, emigração para o Brasil no pós-guerra.

Yaari visitou recentemente a Alemanha, mais de 50 anos após sua emigração para o Brasil, para falar sobre sua obra, que ganhará tradução para o alemão, o inglês e o polonês. Ele explica que começou a escrever sua história após os 70 anos e diz não ter sido fácil relembrar fatos quase apagados da memória. Na tarefa, teve a ajuda da esposa, Olívia Yaari, a quem dedica o livro.

O relato foi escrito ao longo de mais de dez anos e concluído em Campos do Jordão (SP), onde Yaari reside desde 1978. Ele conta que, embora sempre tenha falado de sua experiência aos filhos, escrever sua história foi um processo doloroso. "As lembranças viram pesadelos à noite“, afirma. "Eu pretendia deixar o relato de minha história apenas para meus filhos e netos. Mas compreendi a importância do meu testemunho como um legado às gerações futuras. Eu perdi minha família nos campos de concentração e o fato de ter sobrevivido me faz porta-voz de todos os que morreram sem poder contar o que viveram."

"Sobrevivi por milagre"
Prisioneiros considerados incapazes eram levados para Auschwitz.


O autor dividiu sua história em cinco partes. O segundo capítulo, de 1939 a 1945, compreende a ocupação nazista e o horror dos campos de concentração. “Em 1940, fui recrutado na minha aldeia para trabalhar na produção de guerra na Alemanha. Eu tinha 18 anos e deveria ser por três meses. Mas fui prisioneiro dos alemães por cinco anos, durante os quais passei por 11 campos, entre eles Brande, Blechhammer, Gross Sarne, Bunzlau, Wisau, Gross-Rosen. Alguns nomes eu já esqueci. Lá éramos forçados a trabalhar pesado até 14 horas por dia, no inverno rigoro, mal alimentados e mal vestidos. Os prisioneiros declarados incapazes para o trabalho eram enviados a Auschwitz-Birkenau.”

Yaari fala em milagre ao tentar explicar como sobreviveu. "Não sou religioso, mas creio na existência de Deus. Acho que consegui sobreviver porque Deus quis. Várias vezes senti Sua presença. Em Wisau, uma pedra de 100 quilos caiu no meu pé. Sobrevivi a um bombardeio em pleno pátio no campo de concentração de Bunzlau. Um amigo que correu para baixo da mesa da cozinha morreu. Na retirada final dos prisioneiros do campo, quando a guerra já estava perdida para os alemães, consegui escapar por milagre da 'marcha da morte' escondido no sótão de uma casa abandonada." Ele conta ter sido libertado pelo regimento russo a caminho de Berlim e diz que, até hoje, não sabe por que guardas alemães não o mataram.

De Leon Greenwald a Arie Yaari

Nascido em 1922 em Katowice, Silésia, hoje território polonês, seu Arie, como é conhecido, fala bem polonês, alemão, iídiche, hebraico e português. O texto original de suas memórias foi escrito em português, língua na qual ele diz ter mais facilidade de se expressar hoje.

O título está relacionado às várias mudanças no seu nome. Ele nasceu como Leon Greenwald, foi registrado como Leon Bookspan (seu pai adotava circunstancialmente esse sobrenome) e, aos 22 anos, assumiu a identidade falsa de Abraham Shtiglitz para poder emigrar para a Palestina em 1945, logo depois da guerra. Serviu no exército de Israel de 1948 a 1950 com essa identidade e, quando deu baixa, mudou seu nome para Arie Yaari, que em hebraico significa Leon Greenwald. Com esse nome se tornou brasileiro e paulista de coração.

Brasil não era o destino da família
Capa do livro 'O Leão da Montanha: dos Campos da Morte aos Campos do Jordão'

Em 1953, na esperança de emigrar para os Estados Unidos, Yaari deixou Israel com um visto para o Brasil. Aos 32 anos, aportou em Santos, São Paulo, com a mulher, dois filhos (Joseph, nascido na Alemanha, e Shoshana, em Israel. Uma terceira filha, Paulina, nasceria no Brasil) e 300 dólares em três notas de cem no bolso.

Segundo ele, a intenção era conseguir ajuda da comunidade judaica de São Paulo para uma viagem aos Estados Unidos. "Chegamos ao porto de Santos e tomamos o trem para São Paulo. Aí aconteceu algo que me emocionou muito e me fez ficar no Brasil. Um trabalhador estava sentado no chão do trem, comendo de sua marmita. Ao me olhar, ele me perguntou se eu estava servido. Nunca havia vivido isso antes, em lugar algum. Logo nas minhas primeiras horas no país vivi a hospitalidade e a bondade do povo brasileiro. E assim o Brasil, que deveria ter sido um país de trânsito, se tornou a minha pátria", conta Yaari.

Medo de reviver fatos do passado

Ele afirma que, durante muitos anos, temeu reviver os fatos do passado. "Desconfiava de que pudesse acontecer outra desgraça. Angustiava-me a assimilação cultural dos meus filhos e netos no Brasil. Quem conhece a história, sabe que, antes de Hitler, os judeus alemães eram os mais assimilados do mundo." Hoje, com mais de 80 anos, ele se considera um afortunado. "Criei três filhos e tenho netos e bisnetos. E meus laços com a Alemanha agora se renovam sob bons sentimentos na união de um neto com uma alemã não-judia. Sempre fui otimista e penso que com o tempo tudo acaba bem."

Jehovanira Chrysóstomo

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, 13.06.2005)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,9137,1609810,00.html

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Alemanha diz que não pagará mais para sobreviventes do Holocausto

Governo disse que pagará o que foi acordado em 1952.
Representante das vítimas afirma que não foi tratar de dinheiro com Berlim

"O governo alemão se recusou a pagar mais indenizações para os sobreviventes do Holocausto e disse que já foram pagos 60 bilhões de euros (mais de R$ 158 bilhões), frutos de um acordo de 1952.

A informação foi dada por um porta-voz do ministério das Finanças após uma reunião com um representante das vítimas do nazismo.

O secretário-geral da organização que representa todos os sobreviventes do Holocausto, Noah Flug, considera insuficientes as indenizações concedidas até agora pela Alemanha pelos crimes cometidos pelo nazismo contra os judeus até o fim da Segunda Guerra Mundial.

Flug afirmou, porém, que não tratou de dinheiro com o governo alemão. “Nós não estamos pedindo dinheiro. Nós falamos sobre a responsabilidade do governo alemão, disse Flug.

Flug, que representa os interesses de aproximadamente 250 mil sobreviventes, afirmou que o pagamento dessas indenizações beneficiou especialmente a Alemanha, já que permitiu ao país voltar a se integrar na comunidade internacional.

As críticas de Flug se somam às do ministro israelense para Assuntos dos Aposentados, Rafi Eitan, que exigiu há duas semanas o pagamento de novas indenizações por parte da Alemanha para os sobreviventes do Holocausto.

Eitan afirmou que, ao assinar os tratados, há mais de 50 anos, ninguém pensou no elevado custo da vida atual nem em que a esperança média de vida aumentasse em dez anos desde meados da década de 50."

(Foto, segunda): Noah Flug e Angela Merkel
Fonte: G1

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

66 Perguntas e Respostas sobre o Holocausto - Pergunta 22

Traduzido por Leo Gott

22. Como beneficia ao Estado de Israel?

O IHR diz:

Justifica os bilhões de dólares que o Estado de Israel tem recebido no conceito de "indenizações" da RFA. (Alemanha Oriental se recusou a pagar). É utilizado pelo lobby sionista/israelita para controlar a política externa americana para Israel e para forçar os contribuintes americanos a pagar todo o dinheiro que Israel queira. E a quantidade anual cresce ano após ano.

A versão da Editora Samisdat (Ernst Zündel):

Justifica os mais de 65 bilhões de dólares que o Estado de Israel tem recebido no conceito de "indenizações" da Alemanha. É utilizado pelo lobby sionista/israelita para controlar a política externa americana para Israel e para forçar os contribuintes americanos a pagar todo o dinheiro que Israel queira. E a quantidade anual cresce ano após ano.

Nizkor responde:

Não pagaram indenizações às pessoas assassinadas pelos nazistas. Foram pagas aos sobreviventes por danos morais e pelas posses perdidas. Obviamente, se as indenizações eram a motivação principal, o interesse dos sobreviventes deveria ter sido minimizar, e não maximizar a lista de mortos.

Sem querer entrar em argumentações sobre política atual, simplesmente assinalemos que existem razões óbvias do interesse nacional dos Estados Unidos apoiar Israel.

Se o IHR nega isto, e pensa que só uma tragédia como o Holocausto pode explicar a quantidade de ajuda que Israel recebe, talvez poderiam explicar porque o Egito recebe mais ajuda financeira do que Israel. (ver pergunta 21).

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...