A quem puder ou quiser ler, pois o texto é longo e está em espanhol, vale a pena ler esta matéria que saiu no jornal Público da Espanha (não confundir com o de Portugal, não são do mesmo dono e o Público da Espanha é digital) sobre o bombardeio no Japão.
O texto é de um blog (presumo que sobre ciência) do jornal digital espanhol e conta com vários documentos e a narrativa do bombardeio, bem como das cidades que foram "poupadas" da bomba. Contém bibliografia no fim do texto, que aviso mais uma vez que é bem longo, mas muito bem feito (em etapas):
Las ciudades que se salvaron y las gentes que no
Uma das imagens que mais choca na matéria (embora haja várias fotos chocantes do episódio) é esta da garota que ficou cega com a bomba. Contém a seguinte descrição no texto (tradução minha):
"Esta garota, de Hiroshima, chegou a ver "a luz que brilha como mil sóis"... e depois não voltou a ver mais nada, nunca mais. Imagem: Governo do Japão.
Não é uma montagem, isso foi o efeito do clarão da bomba a quem sobreviveu e não conseguiu se proteger dele.
Esse foi o desfecho brutal de uma guerra insana em escala planetária.
A quem também tiver interesse em assistir, pois só dá pra saber da abrangência do público pelos contadores (acesso por nacionalidade etc) pois muito pouca gente comenta (estou desconsiderando disso os comentários de imbecis), sendo que o blog chegou à marca de mais de 1 milhão de visitas (farei post sobre isso, pois esqueci, o marcador que fica à mostra no blog está errado pois foi colocado depois que o blog já estava aberto, o Google fornece o número de visitas internamente), segue um trecho de algum documentário - que não consegui identificar o nome (no momento) - que reconstitui o lançamento da bomba e a explosão. Mistura imagens reais com a reconstituição e mais depoimento de sobreviventes e de quem jogou a bomba:
Hiroshima Nuclear (atomic) Bomb - USA attack on Japan (1945)
https://www.youtube.com/watch?v=gwkyPvlWPM0
Observação: Eu já coloquei aviso em outros posts pois o pessoal idiota que vem encher o saco costuma comentar em posts antigos com medo que mais gente leia essas asneiras e resolva descer o chinelo neles.
Mostrando postagens com marcador sobrevivente. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador sobrevivente. Mostrar todas as postagens
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
70 anos do bombardeio de Hiroshima
Marcadores:
bomba atômica,
bombas incendiárias,
Enola Gay,
Estados Unidos,
EUA,
Hiroshima,
Japão,
Little Boy,
Nagasaki,
radiações,
segunda guerra,
sobrevivente
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Descendentes de sobreviventes vítimas do genocídio nazista condenam ofensiva de Israel a Gaza
327 descendentes e sobreviventes judeus das vítimas do genocídio nazista assinaram uma carta escrita em resposta ao que eles consideram ser uma manipulação de Elie Wiesel do genocídio nazi para justificar os ataques israelenses contra Gaza.
Para mais informação desta carta e o sobre o comunicado que saiu na imprensa, ver aqui e aqui.
Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2014/08/descendants-of-survivors-of-victims-of.html
Texto: Roberto Muehlenkamp
Título original: Descendants of Survivors of Victims of the Nazi Genocide Condemn Israel’s Assault on Gaza
Tradução: Roberto Lucena
Acréscimo: quem quiser ler mais matérias em português sobre a carta ao New York Times, podem conferir as matérias que saíram na BBC edição brasileira e na DW Brasil.
A quem quiser ler mais sobre o conflito no Oriente Médio no blog e o posicionamento sobre o conflito, cliquem na tag Oriente Médio que aparecem todos os posts com esta tag (marcador).
Para mais informação desta carta e o sobre o comunicado que saiu na imprensa, ver aqui e aqui.
Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2014/08/descendants-of-survivors-of-victims-of.html
Texto: Roberto Muehlenkamp
Título original: Descendants of Survivors of Victims of the Nazi Genocide Condemn Israel’s Assault on Gaza
Tradução: Roberto Lucena
Acréscimo: quem quiser ler mais matérias em português sobre a carta ao New York Times, podem conferir as matérias que saíram na BBC edição brasileira e na DW Brasil.
A quem quiser ler mais sobre o conflito no Oriente Médio no blog e o posicionamento sobre o conflito, cliquem na tag Oriente Médio que aparecem todos os posts com esta tag (marcador).
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Relato do Sr. Aleksander Henryk Laks, sobrevivente do Holocausto (vídeo)
Foi sugerido a mim dar uma olhada na página do Sr. Laks, então acabei resolvendo colocar o vídeo com seu relato pra assistirem. Segue abaixo o vídeo com o Sr. Alexander Henryk Laks dando uma palestra com o relato do que ele presenciou na segunda guerra e obviamente no Holocausto. Ele é oriundo da Polônia e presenciou a invasão nazi àquele país e toda a sequência de confinamento em guetos, campos de extermínio/concentração etc. O vídeo é longo, tem 2 horas e 37 minutos mas vale a pena assistir.
A quem quiser pular logo para seu relato pois há um intervalo no começo do vídeo demorado, o relato começa mais ou menos a partir dos 14 minutos e 50 segundos.
E pra não me alongar, só um adendo, pois muita gente vem abordar a gente de forma não muito "sútil" com pregação/ataque religioso etc ignorando a convicção de cada um do blog. Eu considero pessoalmente que esse adendo nem deveria ser relevante ou ocorrer, mas em virtude da frequência da ocorrência de atritos religiosos no país de uns tempos pra cá, não é demais fazê-lo: a palestra do vídeo foi dada a um grupo evangélico/protestante, inclusive a gravação consta na conta do grupo no youtube. O importante é o conteúdo do relato dele e não questões religiosas. Não sou evangélico/protestante e nem judeu, tampouco religioso (pra tristeza dos "revis", que adoram rotular todo mundo que eles odeiam de "judeu", "protestante", "sionista" etc).
A quem quiser pular logo para seu relato pois há um intervalo no começo do vídeo demorado, o relato começa mais ou menos a partir dos 14 minutos e 50 segundos.
E pra não me alongar, só um adendo, pois muita gente vem abordar a gente de forma não muito "sútil" com pregação/ataque religioso etc ignorando a convicção de cada um do blog. Eu considero pessoalmente que esse adendo nem deveria ser relevante ou ocorrer, mas em virtude da frequência da ocorrência de atritos religiosos no país de uns tempos pra cá, não é demais fazê-lo: a palestra do vídeo foi dada a um grupo evangélico/protestante, inclusive a gravação consta na conta do grupo no youtube. O importante é o conteúdo do relato dele e não questões religiosas. Não sou evangélico/protestante e nem judeu, tampouco religioso (pra tristeza dos "revis", que adoram rotular todo mundo que eles odeiam de "judeu", "protestante", "sionista" etc).
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Histórias Curtas - Dona Hertha, 26/11/2011 - Holocausto
Por indicação de Dalva, segue abaixo o curta documentário com a história de D. Hertha Spier, sobrevivente do Holocausto que vive no Brasil.
Sinopse do documentário: Hertha Spier é uma sobrevivente do Holocausto que vive em Porto Alegre. Tem 93 anos. Depois de passar por três campos de concentração nazistas, ela refez sua vida e recuperou-se do sofrimento de perder familiares e amigos durante a 2ª Guerra Mundial, construindo uma nova família.
Duração: 16'05"
Trailer
Página do vídeo:
http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=225902&channel=45
Sinopse do documentário: Hertha Spier é uma sobrevivente do Holocausto que vive em Porto Alegre. Tem 93 anos. Depois de passar por três campos de concentração nazistas, ela refez sua vida e recuperou-se do sofrimento de perder familiares e amigos durante a 2ª Guerra Mundial, construindo uma nova família.
Duração: 16'05"
Trailer
Página do vídeo:
http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=225902&channel=45
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Morre Jorge Semprún - O preso 44.904 de Buchenwald
A cultura e a política se despidem de Jorge Semprún elogiando sua lucidez e compromiso.
O grande memorialista do século XX necessitou de duas décadas de amnésia deliberada para escriver suas recordações.
Todo o espectro político louvou seu compromisso intelectual e sua lucidez para denunciar os totalitarismos e a barbárie do século XX que sentiu na própria carne e que deu início a uma das grandes obras memorialísticas contemporâneas. Tanto na França como na Espanha políticos e intelectuais comentaram sua incorruptível independência e seus sucessos literários que sobreviverão em seu legado. Tanto o presidente espanhol José Luis Rodríguez Zapatero como seu colega Nicolas Sarkozy elogiaram a figura e a obra da testemunha privilegiada de um século terrível. Um resistente que sobreviveu à barbárie para nos vacinar contra ela numa obra de singular estatura.
Com vinte anos Jorge Semprún (Madrid 1923) foi preso pela Gestapo e enviado ao campo de extermínio de Buchenwald. Foi marcado com o número 44.904, uma marca indelével e princípio de uma experiencia terrível que marcaria sua vida e sua obra. Sobreviveu àquele inferno e foi libertado em 1945. Necessitou de duas décadas de «amnésia deliberada» para abordar aquela pavorosa experiência. Nunca deixou de se perguntar como poderia explicar a si e explicar aquele intenso «cheiro de carne queimada» que emanava dos crematórios.
A enfermidade o dobrou nesta terça-feira, com 87 anos, a lúcida testemunha de um século terrível. Ao sobrevivente e resistente antinazi, ao desconforme militante comunista, ao clandestino e múltiplo Federico Sánchez, ao rebelde que abominou o stalinismo, ao roteirista que construiu o armazém do cinema político e comprometido, ao intelectual modesto, ao europeísta de primeira fornada, ao político que reclamou pela democracia com Felipe González e que marchou decepcionado e aos pontapés, ao republicano que quis se despedir do rei, e ao escritor que brilhou nas línguas de Molière e Cervantes. Um Semprún que teve como pátria primeiro o horror e depois a linguagem, «a necessidade de comunicação que está na natureza humana».
Resistente nato, guardou «mais lembranças do que se tivesse mil anos» segundo afirmou ele mesmo em 'Adiós, luz de veranos'(Adeus, luz de verões) apropriando-se de um verso de Baudelaire. Umas recordações que repassamos através de sua palavra e que para conseguir emergir necessitaram daquela «amnésia» autoimposta enquanto trabalhou como tradutor para a UNESCO. Com eles reconstruiu na literatura uma vida de compromisso, resistência e militância contada em 'Adiós, luz de veranos'(Adeus, luz de verões), 'Viviré con su nombre, morirá con el mío'(Viverei com seu nome, morrerei com o meu), 'Aquel domingo'(Aquele domingo), 'La escritura o la vida'(A escritura ou a vida), 'Autobiografía de Federico Sánchez'(Autobiografia de Frederico Sánchez) ou 'Federico Sánchez se despide de ustedes'(Frederico Sánchez se despede de vocês).
Buchenwald: «Sabe o que é mais importante em ter passado por um campo? Sabe o que é isso, o que é o mais importante e o mais terrível, e a única coisa que não se pode explicar? O cheiro da carne queimada. Que fazes com a recordação do odor da carne queimada? Para essas circunstâncias há a literatura. Mas como falas disso? Como comparas? A obscenidade da comparação? Dizes, por exemplo, que cheira como frango queimado?...Eu tenho dentro de minha cabeça, vivo, o odor mais importante de um campo de concentração. E não posso explicá-lo. E esse cheiro irá comigo como já não se foi com outros», dizia.
Literatura e vida: «A escritura e os escritores são os únicos capazes de manter vivo a recordação da morte. Se não, se os escritores não se apoderarem dessa memória dos campos de concentração, se não a fazem reviver e sobreviver mediante sua imaginação criadora, será apagada com as últimas testemunhas, deixará de ser uma recordação em carne e osso da experiência da morte».
Holocausto: «Estão desaparecendo as testemunhas do extermínio. Cada geração tem um crepúsculo dessas características. As testemunhas desaparecem. Mas agora me está tocando viver para mim. Ainda há mais velhos que eu que passaram pela experiência nos campos. Mas nem todos são escritores, claro. No crepúsculo a memória se faz mais tensa, mas também está mais sujeita às deformações».
Detenção, tortura e resistência: «Mentalizei para mim: tinha que resistir, não devia falar. Optei por um conto que não pusesse em perigo a nenhum dos companheiros. Uma novelinha leve que nesses dias era possível se ler na própria imprensa dos colaboracionistas: eu era o pobre estudante que não tinha dinheiro, que ouvia uma conversa e que é encarregado de levar umas maletas cujo conteúdo desconhecia. Acredito que estavam metidas com o mercado negro e um dia descubri que estava metida com o transporte de armas, que não pude deixar porque te ameaçam».
Militância e expulsão do PC: «Fui o bode expiatório. Talvez fui imprudente; quando começou tudo, tinha que ter cortado para sarar. Em todo caso, isso acelerou meu desgosto, minha náusea e minha disposição em ir à Espanha clandestinamente», disse sobre seu abandono do PC francês. «Grande parte da minha vida consistiu em destruir tudo isso. Não em trai-lo, senão em destrui-lo no sentido de deixar de ser um bom comunista para ser um bom democrata. Disto meu interesse pela Europa, porque é uma das coisas que me ajudou a me distanciar do comunismo e do leninismo e a compreender as virtudes da razão democrática. Quando fui comunista de verdade durante 20 anos não é de se gabar haver estado nos salões com Louis Aragon».
Stalinismo: «arrependo-me ou renego de haver sido militante do comunismo stalinista? Não. Creio que naquele momento havia uma justificativa para isto. Arrependo-me de não haver saído do PC em 1956, o ano dos movimentos antissoviéticos na Polônia e Hungria? Não. Porque sou espanhol; se fosse francês, haveria sido o momento de romper. Mas na Espanha, quaisquer que fossem os crimes de Stalin, lutar com o PC contra Franco valia a pena».
Ministro: «Não sei o que pinto nesta fotografia, mas tentarei pintar algo» disse ao assumir a pasta da Cultura e topar com Alfonso Guerra «uma pessoa que crê ter opiniões culturais».
Memória e identidade: «Minhas memórias são um pouco vitorianas. Não há nada íntimo. São tão pouco íntimas que não falo jamais de Colette (sua esposa), por exemplo, e passei 55 anos com ela de companheirismo e matrimônio».
Os restos mortais de Semprún serão sepultados neste domingo numa cerimônia laica, em Garentreville, onde a família de sua esposa possui um sepulcro. Ao enterro comparecerá como representante do governo espanhol a ministra da Cultura, Ángeles González-Sinde.
09.06.2011
Fonte: elnortedecastilla.es(Espanha)
http://www.elnortedecastilla.es/v/20110609/cultura/preso-buchenwald-20110609.html
Tradução: Roberto Lucena
Ver mais:
Jorge Semprun: la sociedad no puede cambiarse, pero el hombre, sí.
O grande memorialista do século XX necessitou de duas décadas de amnésia deliberada para escriver suas recordações.
Ao centro, Jorge Semprún. |
Com vinte anos Jorge Semprún (Madrid 1923) foi preso pela Gestapo e enviado ao campo de extermínio de Buchenwald. Foi marcado com o número 44.904, uma marca indelével e princípio de uma experiencia terrível que marcaria sua vida e sua obra. Sobreviveu àquele inferno e foi libertado em 1945. Necessitou de duas décadas de «amnésia deliberada» para abordar aquela pavorosa experiência. Nunca deixou de se perguntar como poderia explicar a si e explicar aquele intenso «cheiro de carne queimada» que emanava dos crematórios.
A enfermidade o dobrou nesta terça-feira, com 87 anos, a lúcida testemunha de um século terrível. Ao sobrevivente e resistente antinazi, ao desconforme militante comunista, ao clandestino e múltiplo Federico Sánchez, ao rebelde que abominou o stalinismo, ao roteirista que construiu o armazém do cinema político e comprometido, ao intelectual modesto, ao europeísta de primeira fornada, ao político que reclamou pela democracia com Felipe González e que marchou decepcionado e aos pontapés, ao republicano que quis se despedir do rei, e ao escritor que brilhou nas línguas de Molière e Cervantes. Um Semprún que teve como pátria primeiro o horror e depois a linguagem, «a necessidade de comunicação que está na natureza humana».
Resistente nato, guardou «mais lembranças do que se tivesse mil anos» segundo afirmou ele mesmo em 'Adiós, luz de veranos'(Adeus, luz de verões) apropriando-se de um verso de Baudelaire. Umas recordações que repassamos através de sua palavra e que para conseguir emergir necessitaram daquela «amnésia» autoimposta enquanto trabalhou como tradutor para a UNESCO. Com eles reconstruiu na literatura uma vida de compromisso, resistência e militância contada em 'Adiós, luz de veranos'(Adeus, luz de verões), 'Viviré con su nombre, morirá con el mío'(Viverei com seu nome, morrerei com o meu), 'Aquel domingo'(Aquele domingo), 'La escritura o la vida'(A escritura ou a vida), 'Autobiografía de Federico Sánchez'(Autobiografia de Frederico Sánchez) ou 'Federico Sánchez se despide de ustedes'(Frederico Sánchez se despede de vocês).
Buchenwald: «Sabe o que é mais importante em ter passado por um campo? Sabe o que é isso, o que é o mais importante e o mais terrível, e a única coisa que não se pode explicar? O cheiro da carne queimada. Que fazes com a recordação do odor da carne queimada? Para essas circunstâncias há a literatura. Mas como falas disso? Como comparas? A obscenidade da comparação? Dizes, por exemplo, que cheira como frango queimado?...Eu tenho dentro de minha cabeça, vivo, o odor mais importante de um campo de concentração. E não posso explicá-lo. E esse cheiro irá comigo como já não se foi com outros», dizia.
Literatura e vida: «A escritura e os escritores são os únicos capazes de manter vivo a recordação da morte. Se não, se os escritores não se apoderarem dessa memória dos campos de concentração, se não a fazem reviver e sobreviver mediante sua imaginação criadora, será apagada com as últimas testemunhas, deixará de ser uma recordação em carne e osso da experiência da morte».
Holocausto: «Estão desaparecendo as testemunhas do extermínio. Cada geração tem um crepúsculo dessas características. As testemunhas desaparecem. Mas agora me está tocando viver para mim. Ainda há mais velhos que eu que passaram pela experiência nos campos. Mas nem todos são escritores, claro. No crepúsculo a memória se faz mais tensa, mas também está mais sujeita às deformações».
Detenção, tortura e resistência: «Mentalizei para mim: tinha que resistir, não devia falar. Optei por um conto que não pusesse em perigo a nenhum dos companheiros. Uma novelinha leve que nesses dias era possível se ler na própria imprensa dos colaboracionistas: eu era o pobre estudante que não tinha dinheiro, que ouvia uma conversa e que é encarregado de levar umas maletas cujo conteúdo desconhecia. Acredito que estavam metidas com o mercado negro e um dia descubri que estava metida com o transporte de armas, que não pude deixar porque te ameaçam».
Militância e expulsão do PC: «Fui o bode expiatório. Talvez fui imprudente; quando começou tudo, tinha que ter cortado para sarar. Em todo caso, isso acelerou meu desgosto, minha náusea e minha disposição em ir à Espanha clandestinamente», disse sobre seu abandono do PC francês. «Grande parte da minha vida consistiu em destruir tudo isso. Não em trai-lo, senão em destrui-lo no sentido de deixar de ser um bom comunista para ser um bom democrata. Disto meu interesse pela Europa, porque é uma das coisas que me ajudou a me distanciar do comunismo e do leninismo e a compreender as virtudes da razão democrática. Quando fui comunista de verdade durante 20 anos não é de se gabar haver estado nos salões com Louis Aragon».
Stalinismo: «arrependo-me ou renego de haver sido militante do comunismo stalinista? Não. Creio que naquele momento havia uma justificativa para isto. Arrependo-me de não haver saído do PC em 1956, o ano dos movimentos antissoviéticos na Polônia e Hungria? Não. Porque sou espanhol; se fosse francês, haveria sido o momento de romper. Mas na Espanha, quaisquer que fossem os crimes de Stalin, lutar com o PC contra Franco valia a pena».
Ministro: «Não sei o que pinto nesta fotografia, mas tentarei pintar algo» disse ao assumir a pasta da Cultura e topar com Alfonso Guerra «uma pessoa que crê ter opiniões culturais».
Memória e identidade: «Minhas memórias são um pouco vitorianas. Não há nada íntimo. São tão pouco íntimas que não falo jamais de Colette (sua esposa), por exemplo, e passei 55 anos com ela de companheirismo e matrimônio».
Os restos mortais de Semprún serão sepultados neste domingo numa cerimônia laica, em Garentreville, onde a família de sua esposa possui um sepulcro. Ao enterro comparecerá como representante do governo espanhol a ministra da Cultura, Ángeles González-Sinde.
09.06.2011
Fonte: elnortedecastilla.es(Espanha)
http://www.elnortedecastilla.es/v/20110609/cultura/preso-buchenwald-20110609.html
Tradução: Roberto Lucena
Ver mais:
Jorge Semprun: la sociedad no puede cambiarse, pero el hombre, sí.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Livro: "O Longo caminho" de Henrique Van Biene, um relato do Holocausto
Divulgação do livro "O Longo Caminho", de Henrique Van Biene.
Sinopse:
'O Longo Caminho' narra a história de um menino que enfrentou fome, frio, pobreza, discriminação e perseguição devido à sua origem judia, mas conseguiu chegar à idade madura como um vencedor.
Cruzou o mundo sozinho, trabalhando em diversas profissões, fugindo da guerra e do nazismo, construindo e perdendo famílias, até se firmar no Brasil. Em nosso país, encontrou paz, amor, tranqüilidade, e finalmente um lugar para permanecer, criar os filhos e adotar como lar até a sua "passagem" para a eternidade.
Essa longa trajetória é contada de forma autobiográfica, permitindo que o leitor tenha uma visão sensível de fatos históricos, a partir dos medos, anseios, dúvidas e sonhos de um personagem real. Além das conhecidas histórias dos campos de concentração, Henrique Van Biene leva o leitor a refletir sobre a luta pela sobrevivência num cenário tão hostil.
Para mais informações confiram os links:
Site: http://www.olongocaminho.com.br/
Leia o 1º capítulo em PDF clique aqui
A Saga para publicar o livro clique aqui
A opinião de quem já leu o livro clique aqui
Recomende a um amigo clique aqui
Livro no Faustão - clique aqui
Para comprar na Livraria Cultura - clique aqui
Harry Hoving Jr
Mais informações sobre o livro e dúvidas de como adquiri-lo? Se você tiver twitter entre em contato com o Harry: http://twitter.com/olongocaminho
E-mail de contato: contato@olongocaminho.com.br
Comunidade no Orkut: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=65436197
Sinopse:
'O Longo Caminho' narra a história de um menino que enfrentou fome, frio, pobreza, discriminação e perseguição devido à sua origem judia, mas conseguiu chegar à idade madura como um vencedor.
Cruzou o mundo sozinho, trabalhando em diversas profissões, fugindo da guerra e do nazismo, construindo e perdendo famílias, até se firmar no Brasil. Em nosso país, encontrou paz, amor, tranqüilidade, e finalmente um lugar para permanecer, criar os filhos e adotar como lar até a sua "passagem" para a eternidade.
Essa longa trajetória é contada de forma autobiográfica, permitindo que o leitor tenha uma visão sensível de fatos históricos, a partir dos medos, anseios, dúvidas e sonhos de um personagem real. Além das conhecidas histórias dos campos de concentração, Henrique Van Biene leva o leitor a refletir sobre a luta pela sobrevivência num cenário tão hostil.
Para mais informações confiram os links:
Site: http://www.olongocaminho.com.br/
Leia o 1º capítulo em PDF clique aqui
A Saga para publicar o livro clique aqui
A opinião de quem já leu o livro clique aqui
Recomende a um amigo clique aqui
Livro no Faustão - clique aqui
Para comprar na Livraria Cultura - clique aqui
Harry Hoving Jr
Mais informações sobre o livro e dúvidas de como adquiri-lo? Se você tiver twitter entre em contato com o Harry: http://twitter.com/olongocaminho
E-mail de contato: contato@olongocaminho.com.br
Comunidade no Orkut: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=65436197
domingo, 30 de maio de 2010
Treblinka - "Eu Sou o ultimo Judeu"
Em agosto de 1943 ocorreu um motim no campo de extermínio nazi. Houve muito poucos sobreviventes. Chil Rajchman foi um deles. O motim no campo de extermínio de Treblinka, contado por um sobrevivente. ABC
Ano de 1943. Em Treblinka a minoria de reclusos que havia escapado das câmaras de gás sabia que seus dias estavam contados. O trabalho do campo de extermínio nazi logo acabaria e os prisioneiros temiam que nesse momento os nazis os matassem. Não tinham nada a perder se tentassem escapar.
Então, o grupo de resistência que se havia formado no começo do ano começou a planejar um levante. Tinham poucas armas escondidas e em 2 de agosto tentaram se apoderar de outras no depósito de armas. Mas foram descobertos. Numa intento desesperado, centenas de reclusos assaltaram a entrada de Treblinka. Muitos pereceram com os disparos. Outros escaparam, mas a maioria foi capturada e obrigada a desmantelar o campo. Uma vez finalizado o trabalho, foram fuzilados.
Chil Rajchman foi um dos poucos que sobreviveu para contar essa história. Em seus escritos aparece o nervosismo que reinava nos momentos prévios ao levante: "Repartiram o almoço. Todos temos fome, como sempre, mas nenhum de nós é capaz de comer nada. Ninguém pergunta se pode repetir a sopa. Dezenas de companheiros nem sequer tocam a comida".
"Muitos caem mortos"
Quando o relógio deu 3:30, "escutamos os disparos no campo 1. O sinal de que a revolta havia começado". Entre chamas e soldados alemães assassinados, o motim avança. Ainda que muitos caem entre metralhadoras e arames farpados, uns poucos conseguem sair.
A euforia se desata, mas o perigo espreita de novo. "Um automóvel nos persegue com metralhadora disparando em todas as direções. Muitos caem mortos. Topo-me com cadáveres a cada passo que dou. Mudo a direção e corro para a esquerda da estrada. O carro logo se encontrava em frente a mim. Corremos em várias direções. Os assassinos nos perseguem por todos os lados". Finalmente, os poucos que sobrevivem se escondem no mato.
Chil Rajchman escreveu um testemunho exato, sem contornos, do horror que permanece na família até que o tenha relatado num livro.
Livro: Eu sou o último judeu. Treblinka (1942-1943)
Fonte: ABC (Espanha)
http://www.abc.es/cultura/20130804/abci-levantamiento-treblinka-201308021211.html
Tradução: Roberto Lucena
Ano de 1943. Em Treblinka a minoria de reclusos que havia escapado das câmaras de gás sabia que seus dias estavam contados. O trabalho do campo de extermínio nazi logo acabaria e os prisioneiros temiam que nesse momento os nazis os matassem. Não tinham nada a perder se tentassem escapar.
Então, o grupo de resistência que se havia formado no começo do ano começou a planejar um levante. Tinham poucas armas escondidas e em 2 de agosto tentaram se apoderar de outras no depósito de armas. Mas foram descobertos. Numa intento desesperado, centenas de reclusos assaltaram a entrada de Treblinka. Muitos pereceram com os disparos. Outros escaparam, mas a maioria foi capturada e obrigada a desmantelar o campo. Uma vez finalizado o trabalho, foram fuzilados.
Chil Rajchman foi um dos poucos que sobreviveu para contar essa história. Em seus escritos aparece o nervosismo que reinava nos momentos prévios ao levante: "Repartiram o almoço. Todos temos fome, como sempre, mas nenhum de nós é capaz de comer nada. Ninguém pergunta se pode repetir a sopa. Dezenas de companheiros nem sequer tocam a comida".
Placa do campo de extermínio de Treblinka |
Quando o relógio deu 3:30, "escutamos os disparos no campo 1. O sinal de que a revolta havia começado". Entre chamas e soldados alemães assassinados, o motim avança. Ainda que muitos caem entre metralhadoras e arames farpados, uns poucos conseguem sair.
A euforia se desata, mas o perigo espreita de novo. "Um automóvel nos persegue com metralhadora disparando em todas as direções. Muitos caem mortos. Topo-me com cadáveres a cada passo que dou. Mudo a direção e corro para a esquerda da estrada. O carro logo se encontrava em frente a mim. Corremos em várias direções. Os assassinos nos perseguem por todos os lados". Finalmente, os poucos que sobrevivem se escondem no mato.
Chil Rajchman escreveu um testemunho exato, sem contornos, do horror que permanece na família até que o tenha relatado num livro.
Livro: Eu sou o último judeu. Treblinka (1942-1943)
Fonte: ABC (Espanha)
http://www.abc.es/cultura/20130804/abci-levantamiento-treblinka-201308021211.html
Tradução: Roberto Lucena
Marcadores:
antissemitismo,
campo de extermínio,
Chij Rajchman,
Fascismo,
Gueto,
Holocausto,
Judeus,
Lublin,
Nazismo,
Racismo,
sobrevivente,
Treblinka,
Ucrânia,
Uruguai
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Testemunho de uma sobrevivente do Gueto de Varsóvia
Eugenia Unger
A experiência da sobrevivente em sua visita à comunidade do Panamá.
Jovens da Comunidade do Panamá
Minha adolescência transcorreu no Gueto de Varsovia. Viviam-se os últimos dias da chamada “Solução Final”. Éramos quatro irmãos, duas mulheres e dois homens; não víamos Renia e David desde há algum tempo, haviam desaparecido; seguramente assassinados na luta diária pela sobrevivência no Gueto ou talvez houvessem sido deportados aos compos da morte. Desde o nosso confinamento no Gueto, as matanças eram habituais, o que convertia nossos dias em uma agonia e num martítio.
Às vezes quisera não recordar, apagando minha memória dessas e outras tantas imagens de horror que me atravessaram de dor e pena e que ainda hoje destroçam meu ser. Os maiores se escondiam nos bunkers enquanto que os jovens como Mordejai Anilevich, Antek Zuckerman, Teperman, Tzivia Lubetkin e outros, formaram grupos e lutaram com coragem e muito valor por nossa dignidade e a do povo judeu que estava sendo denegrido e aniquilado. Hoje podemos nos sentir cheios de orgulho pelo exemplo heroico que nos chegaram. Eram adolescentes de 14 a 20 anos. Meu irmão Ygnasz, era parte desses grupos de valentes. Um dia, entrou correndo no bunker, alertando-nos de que os nazis nos ordenavam, mediante cartazes pregados nas ruas, que no dia seguinte deveríamos nos apresentar em uma área de aproximadamente 10 quadras.
Nesse dia, Ygnasz decidiu não se reunir com seu grupo de luta para ficar conosco, os únicos que, de toda a família, restavam nesse momento vivos e nos sugeriu que desobedecêssemos a ordem. Recordo da cena: estávamos meus pais, ele e eu, apertando fortemente as mãos, e assim abraçados permanecemos por um tempo, tremendo como folhas ao vento. Num momento Ygnasz nos disse que não devíamos ter medo, que nos defenderíamos com os precários elementos de luta que conseguíssemos, que devíamos brigar com valor e dignidade até o fim. Assim ficamos todo o dia, que nos pareceu eterno; os nazis não apareceram porque estavam oculpados com as matanças nas ruas. Ao anoitecer voltamos ao bunker, sem minha mãe, que inesperadamente havia desaparecido. Este, que resultou no último bunker, era originariamente a padaria onde se assava o pão que dividíamos com 14 pessoas. No dia seguente, chegaram os nazis, que jogaram gases para dentro de nosso esconderijo enquanto nos ordenavam que saíssemos com os braços para o alto. Assim fomos obrigados a caminhar até o Umschlagplatz do Gueto, lugar onde se reunia os prisioneiros antes de seu translado para os campos de extermínio. No transporte me reecontrei com minha mãe, mas meu pai e meu irmão Ygnasz nunca mais voltamos a vê-los. Apesar de haver passado 60 anos, estas imagens me aparecem com tanta força que me parece estar revivendo esses terríveis momentos.
Meu nome é Genia Rotsztejn de Unger, sou uma sobrevivente do Holocausto e está é só uma das tantas experiências que desgraçadamente me cheguei a viver. Almejo que esta trágica experiência da Shoá sirva para que não se repitam mais matanças dos homens no mundo inteiro.
Fonte: Fundación Memoria del Holocausto(Argentina)
http://www.fmh.org.ar/revista/21/tessob.htm
Tradução: Roberto Lucena
A experiência da sobrevivente em sua visita à comunidade do Panamá.
Jovens da Comunidade do Panamá
Minha adolescência transcorreu no Gueto de Varsovia. Viviam-se os últimos dias da chamada “Solução Final”. Éramos quatro irmãos, duas mulheres e dois homens; não víamos Renia e David desde há algum tempo, haviam desaparecido; seguramente assassinados na luta diária pela sobrevivência no Gueto ou talvez houvessem sido deportados aos compos da morte. Desde o nosso confinamento no Gueto, as matanças eram habituais, o que convertia nossos dias em uma agonia e num martítio.
Às vezes quisera não recordar, apagando minha memória dessas e outras tantas imagens de horror que me atravessaram de dor e pena e que ainda hoje destroçam meu ser. Os maiores se escondiam nos bunkers enquanto que os jovens como Mordejai Anilevich, Antek Zuckerman, Teperman, Tzivia Lubetkin e outros, formaram grupos e lutaram com coragem e muito valor por nossa dignidade e a do povo judeu que estava sendo denegrido e aniquilado. Hoje podemos nos sentir cheios de orgulho pelo exemplo heroico que nos chegaram. Eram adolescentes de 14 a 20 anos. Meu irmão Ygnasz, era parte desses grupos de valentes. Um dia, entrou correndo no bunker, alertando-nos de que os nazis nos ordenavam, mediante cartazes pregados nas ruas, que no dia seguinte deveríamos nos apresentar em uma área de aproximadamente 10 quadras.
Nesse dia, Ygnasz decidiu não se reunir com seu grupo de luta para ficar conosco, os únicos que, de toda a família, restavam nesse momento vivos e nos sugeriu que desobedecêssemos a ordem. Recordo da cena: estávamos meus pais, ele e eu, apertando fortemente as mãos, e assim abraçados permanecemos por um tempo, tremendo como folhas ao vento. Num momento Ygnasz nos disse que não devíamos ter medo, que nos defenderíamos com os precários elementos de luta que conseguíssemos, que devíamos brigar com valor e dignidade até o fim. Assim ficamos todo o dia, que nos pareceu eterno; os nazis não apareceram porque estavam oculpados com as matanças nas ruas. Ao anoitecer voltamos ao bunker, sem minha mãe, que inesperadamente havia desaparecido. Este, que resultou no último bunker, era originariamente a padaria onde se assava o pão que dividíamos com 14 pessoas. No dia seguente, chegaram os nazis, que jogaram gases para dentro de nosso esconderijo enquanto nos ordenavam que saíssemos com os braços para o alto. Assim fomos obrigados a caminhar até o Umschlagplatz do Gueto, lugar onde se reunia os prisioneiros antes de seu translado para os campos de extermínio. No transporte me reecontrei com minha mãe, mas meu pai e meu irmão Ygnasz nunca mais voltamos a vê-los. Apesar de haver passado 60 anos, estas imagens me aparecem com tanta força que me parece estar revivendo esses terríveis momentos.
Meu nome é Genia Rotsztejn de Unger, sou uma sobrevivente do Holocausto e está é só uma das tantas experiências que desgraçadamente me cheguei a viver. Almejo que esta trágica experiência da Shoá sirva para que não se repitam mais matanças dos homens no mundo inteiro.
Fonte: Fundación Memoria del Holocausto(Argentina)
http://www.fmh.org.ar/revista/21/tessob.htm
Tradução: Roberto Lucena
domingo, 4 de outubro de 2009
Marek Edelman - Morreu último comandante da insurreição no gueto de Varsóvia
Morreu último comandante da insurreição no gueto de Varsóvia
Marek Edelman
O último comandante da insurreição do gueto judeu de Varsóvia, em 1943, morreu aos 90 anos. Marek Edelman integrou a oposição anti-comunista no país depois de guerra e chegou a mesmo eleito senador do país após a queda do comunismo.
Esther Mucznik lembra que insurreição do gueto de Varsóvia foi primeira «revolta colectiva» da Guerra
Áudio:
http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=1379432
O último comandante da insurreição heróica do gueto judeu de Varsóvia contra os nazis morreu, na capital polaca, aos 90 anos, anunciou esta sexta-feira o jornal Gazeta Wyborcza no seu site da Internet.
«Marek Edelman, um dos comandantes da insurreição do gueto de Varsóvia, combatente da insurreição de Varsóvia, cardiologista e militante da oposição democrática na época da Polónia comunista, morreu em Varsóvia», noticiou este jornal polaco.
Nascido numa aldeia, agora território da Bielorrússia, Edelman dizia frequentemente que não sabia que idade tinha, uma vez que os seus país morreram cedo e nunca ninguém lhe disse exactamente quando nasceu, muito embora o dia 1 de Janeiro de 1919 seja uma data provável.
Nac capital polaca desde jovem, Edelman foi um dos heróis da resistência quando os nazis decidiram acabar com o gueto de judeus de Varsóvia, em 1943, quando apenas aí se encontravam 60 mil pessoas, isto após muitas terem partido para os campos de extermínio de Treblinka.
«Sabíamos perfeitamente que nunca poderíamos ganhar. Frente a 220 rapazes mal armados, havia um exército poderoso», contava Edelman, que lembrou que na altura os habitantes do gueto tinham apenas uma metralhadora, pistolas, granadas, garrafas com combustível e duas minas, uma das quais que nem sequer chegou a explodir.
A insurreição durou três semanas, tendo Marek Edelman comandado a resistência nos últimos dias de combate, isto depois de o comandante da insurreição se ter suicidado, numa altura em que os nazis para acabar com a revolta queimavam todas as casas do bairro.
Depois de sair do gueto, acompanhado de alguns combatentes, Edelman acabou por se juntar à resistência polaca, tendo depois participada na Insurreição de Varsóvia, em 1944, que custou a vida a 200 mil habitantes da capital polaca e que acabou com a destruição parcial da cidade.
Quando outros decidiram abandonar no país, Edelman insistiu em ficar, tendo depois da guerra juntado-se à oposição anti-comunista ao presidente Jaruselski, que impôs a lei marcial sobre o país em 1981.
Com a queda do regime comunista, foi eleito senador pela lista do Solidariedade e da União Democrática, tendo até à sua morte denunciado com insistência o racismo e o anti-semistismo na Polónia e no mundo.
Em declarações à TSF, a vice-presidente da comunidade judaica em Portugal lembrou que esta insurreição foi a primeira «revolta colectiva do mundo durante a Guerra».
Esther Mucznik explicou ainda que «durante muito tempo, em geral, a população judaica tinha dificuldade em acreditar que havia campos de extermínio e que as pessoas iam para lá e eram assassinadas».
Esta responsável pela comunidade judaica em Portugal lembrou ainda que «quando os jovens começaram a ver o destino que os judeus do gueto de Varsóvia tinham eles resolvem pegar em armas».
«Tinham a perfeita consciência de que não iam sobreviver. Eles próprios diziam que queriam escolher a sua própria morte e mais valia para eles morrer de armas na mão do que morrer às mãos dos nazis», acrescentou.
Fonte: TSF
http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=1379432
Marek Edelman
O último comandante da insurreição do gueto judeu de Varsóvia, em 1943, morreu aos 90 anos. Marek Edelman integrou a oposição anti-comunista no país depois de guerra e chegou a mesmo eleito senador do país após a queda do comunismo.
Esther Mucznik lembra que insurreição do gueto de Varsóvia foi primeira «revolta colectiva» da Guerra
Áudio:
http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=1379432
O último comandante da insurreição heróica do gueto judeu de Varsóvia contra os nazis morreu, na capital polaca, aos 90 anos, anunciou esta sexta-feira o jornal Gazeta Wyborcza no seu site da Internet.
«Marek Edelman, um dos comandantes da insurreição do gueto de Varsóvia, combatente da insurreição de Varsóvia, cardiologista e militante da oposição democrática na época da Polónia comunista, morreu em Varsóvia», noticiou este jornal polaco.
Nascido numa aldeia, agora território da Bielorrússia, Edelman dizia frequentemente que não sabia que idade tinha, uma vez que os seus país morreram cedo e nunca ninguém lhe disse exactamente quando nasceu, muito embora o dia 1 de Janeiro de 1919 seja uma data provável.
Nac capital polaca desde jovem, Edelman foi um dos heróis da resistência quando os nazis decidiram acabar com o gueto de judeus de Varsóvia, em 1943, quando apenas aí se encontravam 60 mil pessoas, isto após muitas terem partido para os campos de extermínio de Treblinka.
«Sabíamos perfeitamente que nunca poderíamos ganhar. Frente a 220 rapazes mal armados, havia um exército poderoso», contava Edelman, que lembrou que na altura os habitantes do gueto tinham apenas uma metralhadora, pistolas, granadas, garrafas com combustível e duas minas, uma das quais que nem sequer chegou a explodir.
A insurreição durou três semanas, tendo Marek Edelman comandado a resistência nos últimos dias de combate, isto depois de o comandante da insurreição se ter suicidado, numa altura em que os nazis para acabar com a revolta queimavam todas as casas do bairro.
Depois de sair do gueto, acompanhado de alguns combatentes, Edelman acabou por se juntar à resistência polaca, tendo depois participada na Insurreição de Varsóvia, em 1944, que custou a vida a 200 mil habitantes da capital polaca e que acabou com a destruição parcial da cidade.
Quando outros decidiram abandonar no país, Edelman insistiu em ficar, tendo depois da guerra juntado-se à oposição anti-comunista ao presidente Jaruselski, que impôs a lei marcial sobre o país em 1981.
Com a queda do regime comunista, foi eleito senador pela lista do Solidariedade e da União Democrática, tendo até à sua morte denunciado com insistência o racismo e o anti-semistismo na Polónia e no mundo.
Em declarações à TSF, a vice-presidente da comunidade judaica em Portugal lembrou que esta insurreição foi a primeira «revolta colectiva do mundo durante a Guerra».
Esther Mucznik explicou ainda que «durante muito tempo, em geral, a população judaica tinha dificuldade em acreditar que havia campos de extermínio e que as pessoas iam para lá e eram assassinadas».
Esta responsável pela comunidade judaica em Portugal lembrou ainda que «quando os jovens começaram a ver o destino que os judeus do gueto de Varsóvia tinham eles resolvem pegar em armas».
«Tinham a perfeita consciência de que não iam sobreviver. Eles próprios diziam que queriam escolher a sua própria morte e mais valia para eles morrer de armas na mão do que morrer às mãos dos nazis», acrescentou.
Fonte: TSF
http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=1379432
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
De volta a 39: II Guerra Mundial no Estadão
Indicação da professora(e historiadora) Ana Maria Dietrich na comunidade Holocausto x "Revisionismo"(Orkut), acerca da matéria especial do Estadão sobre a Segunda Guerra Mundial.
São cinco áudios com entrevistas que compreendem as seguintes partes e entrevistados:
1. Contexto histórico: Marcos Guterman, historiador e jornalista de "O Estado de São Paulo"
2. Estratégias de guerra: Roberto Godoy, especialista em Defesa e jornalista de "O Estado de São Paulo"
3. Nazismo tropical: Ana Maria Dietrich, historiadora, autora de "Caça às Suásticas"
4. Sobreviver para contar: Aleksander Henryk Laks, 81 anos, polonês naturalizado brasileiro, autor de "O Sobrevivente"
5. Terror em Roma: Vittorio Riccitelli, 84 anos, italiano
Link para os áudios (é possível baixar os arquivos em formato mp3 no canto direito do site):
http://www.estadao.com.br/especiais/de-volta-a-39-visoes-dos-primeiros-dias-da-segunda-guerra-mundial,70288.htm
Confira também:
Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades
Descrição: A Contemporâneos - Revista eletrônica de Artes e Humanidades - especializada em fenômenos ligados à História do Tempo Presente (século XX e XXI) - recebe em fluxo contínuo artigos, resenhas, opiniões e ensaios críticos.
São cinco áudios com entrevistas que compreendem as seguintes partes e entrevistados:
1. Contexto histórico: Marcos Guterman, historiador e jornalista de "O Estado de São Paulo"
2. Estratégias de guerra: Roberto Godoy, especialista em Defesa e jornalista de "O Estado de São Paulo"
3. Nazismo tropical: Ana Maria Dietrich, historiadora, autora de "Caça às Suásticas"
4. Sobreviver para contar: Aleksander Henryk Laks, 81 anos, polonês naturalizado brasileiro, autor de "O Sobrevivente"
5. Terror em Roma: Vittorio Riccitelli, 84 anos, italiano
Link para os áudios (é possível baixar os arquivos em formato mp3 no canto direito do site):
http://www.estadao.com.br/especiais/de-volta-a-39-visoes-dos-primeiros-dias-da-segunda-guerra-mundial,70288.htm
Confira também:
Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades
Descrição: A Contemporâneos - Revista eletrônica de Artes e Humanidades - especializada em fenômenos ligados à História do Tempo Presente (século XX e XXI) - recebe em fluxo contínuo artigos, resenhas, opiniões e ensaios críticos.
Marcadores:
Ana Maria Dietrich,
Caça às Suásticas,
ciências humanas,
contemporâneos,
História,
Holocausto,
jornalismo,
nazismo tropical,
segunda guerra,
sobrevivente
segunda-feira, 4 de maio de 2009
O bilhete, Albert Veissid e Auschwitz
Anotação antiga recém-descoberta revela história de sobrevivente do Holocausto
Albert Veissid, judeu francês, foi preso pelos nazistas em Auschwitz.
Bilhete recém-encontrado continha o nome dele e outras seis pessoas.
Do G1, com informações do Fantástico
A memória do horror desta vez estava enterrada em uma garrafa. Foi encontrada escondida na parede, durante a reforma em uma escola que era depósito do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Em um papel de saco de cimento, uma relação de nomes e números.
Seis poloneses católicos, um judeu francês, prisioneiros dos nazistas. A data: setembro de 44. E uma única frase: todos entre 18 e 20 anos. Que mistério essa relação esconde?
Em uma vila do sul da França, encontramos o último da lista, Albert Veissid, de 85 anos. Ele foi preso na França, passou por vários campos de concentração antes de Auschwitz. Sessenta e cinco anos depois, a memória do holocausto continua impressa em seu braço e assombrando seus sonhos. Ele lembra que no campo tinha gente demais e os nazistas decidiram eliminar os mais fracos.
“Um dia, veio a ordem para todos os prisioneiros se apresentarem diante de uma fileira de guardas da SS, nus, com as roupas nos braços. Era a seleção, para decidir quem iria viver. Eu tremia por dentro, mas não era de frio, era de medo. Quando chega a minha vez, corro. Sei que os guardas estão lá, mas não olho para eles. Passo correndo, estou salvo. Mas meu amigo foi pego na fila e levado direto para a câmara de gás”, lembra ele.
Assim ele foi trabalhar na construção do depósito de Auschwitz. Ele cavava o subsolo e os poloneses trabalhavam na parte de cima. “Esses poloneses me salvaram a vida, porque eles recebiam uma grande porção de sopa para comer. Eles me davam tudo o que sobrava”, conta.
Esta semana, quando a notícia da nota chegou, o velho sobrevivente ficou surpreso. Não conseguia lembrar de nada. Albert não entendeu por que o nome dele estava lá, qual o propósito do bilhete. Mas quando confrontado com uma cópia, reconheceu: “Está escrito por mim, é minha letra, mas não me lembro de ter feito isso”.
Algum tempo depois, Albert, que é músico, foi transferido para tocar na orquestra do campo. Nunca mais teve notícias dos poloneses, até esta semana. Cinco morreram em Auschwitz. “Sabe do que tudo isso me lembra? Da sopa, nunca comi tanta sopa”, diz ele.
A sopa o manteve forte para suportar a retirada quando o cerco dos aliados apertou. Os prisioneiros morriam às centenas. “Eu via os cadáveres, uma montanha de cadáveres, azulados no frio. Eles ainda usavam os uniformes. Acho que fiquei louco. Mesmo eu não entendo o que aconteceu. Eu pensei: ‘Isso não me abala’. Eu não estava nem feliz, nem sofrendo, apenas olhei e achei natural”, comenta.
Uma foto de Albert foi tirada há dois anos em frente ao portão de um dos blocos de Auschwitz, onde ele tocava com a orquestra. Ele voltou várias vezes ao campo, levando estudantes, para manter a memória do holocausto. Na nota, enviada do passado, ele vê uma lembrança do horror que testemunhou, mas que hoje muitos tentam negar que um dia existiu.
Fonte: G1
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1107286-5602,00-ANOTACAO+ANTIGA+RECEMDESCOBERTA+REVELA+HISTORIA+DE+SOBREVIVENTE+DO+HOLOCAUS.html
Link do vídeo da matéria
Albert Veissid, judeu francês, foi preso pelos nazistas em Auschwitz.
Bilhete recém-encontrado continha o nome dele e outras seis pessoas.
Do G1, com informações do Fantástico
A memória do horror desta vez estava enterrada em uma garrafa. Foi encontrada escondida na parede, durante a reforma em uma escola que era depósito do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Em um papel de saco de cimento, uma relação de nomes e números.
Seis poloneses católicos, um judeu francês, prisioneiros dos nazistas. A data: setembro de 44. E uma única frase: todos entre 18 e 20 anos. Que mistério essa relação esconde?
Em uma vila do sul da França, encontramos o último da lista, Albert Veissid, de 85 anos. Ele foi preso na França, passou por vários campos de concentração antes de Auschwitz. Sessenta e cinco anos depois, a memória do holocausto continua impressa em seu braço e assombrando seus sonhos. Ele lembra que no campo tinha gente demais e os nazistas decidiram eliminar os mais fracos.
“Um dia, veio a ordem para todos os prisioneiros se apresentarem diante de uma fileira de guardas da SS, nus, com as roupas nos braços. Era a seleção, para decidir quem iria viver. Eu tremia por dentro, mas não era de frio, era de medo. Quando chega a minha vez, corro. Sei que os guardas estão lá, mas não olho para eles. Passo correndo, estou salvo. Mas meu amigo foi pego na fila e levado direto para a câmara de gás”, lembra ele.
Assim ele foi trabalhar na construção do depósito de Auschwitz. Ele cavava o subsolo e os poloneses trabalhavam na parte de cima. “Esses poloneses me salvaram a vida, porque eles recebiam uma grande porção de sopa para comer. Eles me davam tudo o que sobrava”, conta.
Esta semana, quando a notícia da nota chegou, o velho sobrevivente ficou surpreso. Não conseguia lembrar de nada. Albert não entendeu por que o nome dele estava lá, qual o propósito do bilhete. Mas quando confrontado com uma cópia, reconheceu: “Está escrito por mim, é minha letra, mas não me lembro de ter feito isso”.
Algum tempo depois, Albert, que é músico, foi transferido para tocar na orquestra do campo. Nunca mais teve notícias dos poloneses, até esta semana. Cinco morreram em Auschwitz. “Sabe do que tudo isso me lembra? Da sopa, nunca comi tanta sopa”, diz ele.
A sopa o manteve forte para suportar a retirada quando o cerco dos aliados apertou. Os prisioneiros morriam às centenas. “Eu via os cadáveres, uma montanha de cadáveres, azulados no frio. Eles ainda usavam os uniformes. Acho que fiquei louco. Mesmo eu não entendo o que aconteceu. Eu pensei: ‘Isso não me abala’. Eu não estava nem feliz, nem sofrendo, apenas olhei e achei natural”, comenta.
Uma foto de Albert foi tirada há dois anos em frente ao portão de um dos blocos de Auschwitz, onde ele tocava com a orquestra. Ele voltou várias vezes ao campo, levando estudantes, para manter a memória do holocausto. Na nota, enviada do passado, ele vê uma lembrança do horror que testemunhou, mas que hoje muitos tentam negar que um dia existiu.
Fonte: G1
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1107286-5602,00-ANOTACAO+ANTIGA+RECEMDESCOBERTA+REVELA+HISTORIA+DE+SOBREVIVENTE+DO+HOLOCAUS.html
Link do vídeo da matéria
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Wladyslaw Bartoszewski - Figura histórica da Polônia
Figura histórica da Polônia agora também é a sua voz diplomática
Ele não parece um sobrevivente de Auschwitz ou ou combatente no levante de Varsóvia.
Wladyslaw Bartoszewski, ex-chanceler e hoje consultor do premiê, é isso e ainda mais.
NICOLAS KULISH
Do New York Times, em Gdansk
Uma presença inteligente e espirituosa, o cavalheiro alto e mais velho usando bengala não parece logo de cara um sobrevivente de Auschwitz, ou combatente no levante de Varsóvia, ou dissidente prisioneiro sob o comunismo.
Na verdade, Wladyslaw Bartoszewski é tudo isso e ainda mais. Ele ainda é o tipo de homem que, mesmo num dia atarefado, pára para conversar com as empregadas do hotel e certifica-se de fazê-las rir antes de retomar seu rumo.
*Wladyslaw Bartoszewski em Berlim em 19 de junho de 2008 (Foto: The New York Times)
O mundo não tem muitas probabilidades de produzir mais Wladyslaw Bartoszewski, e isso é provavelmente uma coisa boa, dados os eventos que ele atravessou e testemunhou desde muito novo. Mas enquanto sua vida parece ter sido forjada sob intenso sofrimento, isso nunca chegou a definir sua visão de mundo.
“Os otimistas e pessimistas têm vidas igualmente longas, mas os otimistas são consideravelmente mais felizes”, diz ele quando questionado sobre seu famoso bom humor.
Bartoszewski, 86, sustenta uma história pesadíssima com um toque de leveza. É um presente que permitiu a ele, numa idade em que sua geração já se aposentou ou morreu há tempos, ser um diplomata de sucesso pela Polônia, assim como uma fonte de autoridade moral.
“Não sei por quanto tempo mais viverei”, diz ele, bastante sincero numa entrevista. “Ninguém sabe. Posso dizer que meu plano é ajudar o governo pelo tanto que eu possa dizer que é necessário. Minha idéia é morrer em serviço, e não pela esclerose.”
Ele foi por duas vezes o ministro do Exterior de seu país e está trabalhando de novo como consultor do premiê, Donald Tusk.
Sua responsabilidade especial é por duas das mais complicadas relações de seu país, com a Alemanha e com Israel. Ele foi elogiado pelos dois países repetidamente por seu trabalho para melhorar os laços.
Mesmo assim ele permanece elegante e acessível em um grau impressionante. Ele usa sua história pessoal não como um bastão, mas como uma oportunidade para demonstrar seu carisma e compreensão.
“Estou mais ao lado das pessoas no meio do que dos extremistas,” diz ele. “A humanidade sofreu enormemente devido a ideologias extremistas, na Europa e por todo o mundo.”
E ele fez essa observação do alto de sua – infeliz - experiência. Nascido em Varsóvia em 1922, ele tinha apenas 17 anos quando participou na fracassada defesa de sua cidade natal quando os nazistas conquistaram a Polônia em 1939. Um ano depois, Bartoszewski estava entre muitos jovens católicos cercados e enviados a Auschwitz, e entre os poucos sortudos o suficiente para sobreviverem.
Libertado em 1941, foi trabalhar com a resistência. Ajudou a fundar a clandestina Zegota, ou Conselho de Apoio a Judeus, que oferecia dinheiro, esconderijos e identidades falsas para judeus poloneses tentando fugir do Holocausto. Tal assistência era punível com a morte sob a ocupação nazista. Em 1965, Bartoszewski foi nomeado um dos Justos Entre as Nações pelo Yad Vashem, o museu e memorial oficial de Israel sobre o Holocausto.
Depois da Guerra, a Polônia caiu na esfera soviética. Bartoszewski foi recompensado por seu trabalho para libertar seu país e impedir que outros cidadãos judeus fossem jogados novamente em prisões.
“Com 32 anos, eu havia passado oito em prisões e campos,” diz Bartoszewski.
Depois de sua libertação em 1954 – e no próximo ano reabilitado pelo regime – ele se tornou um jornalista de um jornal católico em Cracóvia, e posteriormente um professor na Universidade Católica e Lublin.
Ele novamente se viu envolvido em um movimento subversivo, desta vez uma rede de ensino chamada Universidade Voadora operando fora do sistema educacional sancionado oficialmente.
Quando o último líder comunista da Polônia, o Ggneral Wojciech Jaruzelski, declarou lei marcial em dezembro de 1981 como parte de um esforço para suprimir o movimento Solidariedade, Bartoszewski foi mais uma vez para a prisão, até sua soltura em abril seguinte.
Na época das eleições em 1989, que foram apenas parcialmente livres mas mesmo assim vistas como uma vitória do Solidariedade, Bartoszewski tinha 67, já passado da idade de se aposentar. Mas ele estava apenas começando, embarcando em sua nova carreira como diplomata — primeiro como embaixador na Áustria e depois como o ministro do exterior sob dois diferentes governos poloneses, em 1995 e novamente de 2000 a 2001.
Ele havia conseguido uma aposentadoria bem movimentada, escrevendo livros e participando de comissões, como o Conselho Internacional de Auschwitz, do qual é presidente. Mas o governo nacionalista do premiê Jaroslaw Kaczynski, e de seu irmão gêmeo, o atual presidente, Lech Kaczynski, o trouxe de volta à briga.
Ele se tornou um violento crítico e expressou-se contra eles antes das eleições em outubro passado. Mais tarde, o novo primeiro ministro ofereceu tornar Bartoszewski ministro do exterior novamente. Ele recusou em favor de seu ex-representante, Radek Sikorski, mas concordou em assumir um papel especial de consultoria.
“Decidi voltar apesar de minha idade por estar convencido de que algo poderia ser feito”, diz ele.
Fale com especialistas e observadores nas relações Polônia-Alemanha, e seu nome é invariavelmente o primeiro a aparecer nas discussões sobre o degelo no relacionamento surgido desde que o novo governo assumiu o posto no ano passado.
“É uma política pessoal completamente nova”, diz Gesine Schwan, seu colega e coordenador de relações alemãs-polonesas pelo governo alemão, e agora candidato à presidência pelos social-democratas.
Bartoszewski não mostra sinais de desacelerar, dizendo que planeja publicar cinco livros nos próximos anos, um dos quais contendo 100 biografias curtas de pessoas famosas que ele conheceu. Ele diz que seus muitos projetos o motivam a continuar trabalhando enquanto pode.
“O que mais alguém poderia pedir?” diz ele, antes de pegar sua bengala e se dirigir a uma reunião com o embaixador polonês na Alemanha e, depois nesta mesma tarde, com o chanceler da Alemanha, a própria Angela Merkel.
Fonte: New York Times/G1
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL634368-5602,00-FIGURA+HISTORICA+DA+POLONIA+AGORA+TAMBEM+E+A+SUA+VOZ+DIPLOMATICA.html
Ele não parece um sobrevivente de Auschwitz ou ou combatente no levante de Varsóvia.
Wladyslaw Bartoszewski, ex-chanceler e hoje consultor do premiê, é isso e ainda mais.
NICOLAS KULISH
Do New York Times, em Gdansk
Uma presença inteligente e espirituosa, o cavalheiro alto e mais velho usando bengala não parece logo de cara um sobrevivente de Auschwitz, ou combatente no levante de Varsóvia, ou dissidente prisioneiro sob o comunismo.
Na verdade, Wladyslaw Bartoszewski é tudo isso e ainda mais. Ele ainda é o tipo de homem que, mesmo num dia atarefado, pára para conversar com as empregadas do hotel e certifica-se de fazê-las rir antes de retomar seu rumo.
*Wladyslaw Bartoszewski em Berlim em 19 de junho de 2008 (Foto: The New York Times)
O mundo não tem muitas probabilidades de produzir mais Wladyslaw Bartoszewski, e isso é provavelmente uma coisa boa, dados os eventos que ele atravessou e testemunhou desde muito novo. Mas enquanto sua vida parece ter sido forjada sob intenso sofrimento, isso nunca chegou a definir sua visão de mundo.
“Os otimistas e pessimistas têm vidas igualmente longas, mas os otimistas são consideravelmente mais felizes”, diz ele quando questionado sobre seu famoso bom humor.
Bartoszewski, 86, sustenta uma história pesadíssima com um toque de leveza. É um presente que permitiu a ele, numa idade em que sua geração já se aposentou ou morreu há tempos, ser um diplomata de sucesso pela Polônia, assim como uma fonte de autoridade moral.
“Não sei por quanto tempo mais viverei”, diz ele, bastante sincero numa entrevista. “Ninguém sabe. Posso dizer que meu plano é ajudar o governo pelo tanto que eu possa dizer que é necessário. Minha idéia é morrer em serviço, e não pela esclerose.”
Ele foi por duas vezes o ministro do Exterior de seu país e está trabalhando de novo como consultor do premiê, Donald Tusk.
Sua responsabilidade especial é por duas das mais complicadas relações de seu país, com a Alemanha e com Israel. Ele foi elogiado pelos dois países repetidamente por seu trabalho para melhorar os laços.
Mesmo assim ele permanece elegante e acessível em um grau impressionante. Ele usa sua história pessoal não como um bastão, mas como uma oportunidade para demonstrar seu carisma e compreensão.
“Estou mais ao lado das pessoas no meio do que dos extremistas,” diz ele. “A humanidade sofreu enormemente devido a ideologias extremistas, na Europa e por todo o mundo.”
E ele fez essa observação do alto de sua – infeliz - experiência. Nascido em Varsóvia em 1922, ele tinha apenas 17 anos quando participou na fracassada defesa de sua cidade natal quando os nazistas conquistaram a Polônia em 1939. Um ano depois, Bartoszewski estava entre muitos jovens católicos cercados e enviados a Auschwitz, e entre os poucos sortudos o suficiente para sobreviverem.
Libertado em 1941, foi trabalhar com a resistência. Ajudou a fundar a clandestina Zegota, ou Conselho de Apoio a Judeus, que oferecia dinheiro, esconderijos e identidades falsas para judeus poloneses tentando fugir do Holocausto. Tal assistência era punível com a morte sob a ocupação nazista. Em 1965, Bartoszewski foi nomeado um dos Justos Entre as Nações pelo Yad Vashem, o museu e memorial oficial de Israel sobre o Holocausto.
Depois da Guerra, a Polônia caiu na esfera soviética. Bartoszewski foi recompensado por seu trabalho para libertar seu país e impedir que outros cidadãos judeus fossem jogados novamente em prisões.
“Com 32 anos, eu havia passado oito em prisões e campos,” diz Bartoszewski.
Depois de sua libertação em 1954 – e no próximo ano reabilitado pelo regime – ele se tornou um jornalista de um jornal católico em Cracóvia, e posteriormente um professor na Universidade Católica e Lublin.
Ele novamente se viu envolvido em um movimento subversivo, desta vez uma rede de ensino chamada Universidade Voadora operando fora do sistema educacional sancionado oficialmente.
Quando o último líder comunista da Polônia, o Ggneral Wojciech Jaruzelski, declarou lei marcial em dezembro de 1981 como parte de um esforço para suprimir o movimento Solidariedade, Bartoszewski foi mais uma vez para a prisão, até sua soltura em abril seguinte.
Na época das eleições em 1989, que foram apenas parcialmente livres mas mesmo assim vistas como uma vitória do Solidariedade, Bartoszewski tinha 67, já passado da idade de se aposentar. Mas ele estava apenas começando, embarcando em sua nova carreira como diplomata — primeiro como embaixador na Áustria e depois como o ministro do exterior sob dois diferentes governos poloneses, em 1995 e novamente de 2000 a 2001.
Ele havia conseguido uma aposentadoria bem movimentada, escrevendo livros e participando de comissões, como o Conselho Internacional de Auschwitz, do qual é presidente. Mas o governo nacionalista do premiê Jaroslaw Kaczynski, e de seu irmão gêmeo, o atual presidente, Lech Kaczynski, o trouxe de volta à briga.
Ele se tornou um violento crítico e expressou-se contra eles antes das eleições em outubro passado. Mais tarde, o novo primeiro ministro ofereceu tornar Bartoszewski ministro do exterior novamente. Ele recusou em favor de seu ex-representante, Radek Sikorski, mas concordou em assumir um papel especial de consultoria.
“Decidi voltar apesar de minha idade por estar convencido de que algo poderia ser feito”, diz ele.
Fale com especialistas e observadores nas relações Polônia-Alemanha, e seu nome é invariavelmente o primeiro a aparecer nas discussões sobre o degelo no relacionamento surgido desde que o novo governo assumiu o posto no ano passado.
“É uma política pessoal completamente nova”, diz Gesine Schwan, seu colega e coordenador de relações alemãs-polonesas pelo governo alemão, e agora candidato à presidência pelos social-democratas.
Bartoszewski não mostra sinais de desacelerar, dizendo que planeja publicar cinco livros nos próximos anos, um dos quais contendo 100 biografias curtas de pessoas famosas que ele conheceu. Ele diz que seus muitos projetos o motivam a continuar trabalhando enquanto pode.
“O que mais alguém poderia pedir?” diz ele, antes de pegar sua bengala e se dirigir a uma reunião com o embaixador polonês na Alemanha e, depois nesta mesma tarde, com o chanceler da Alemanha, a própria Angela Merkel.
Fonte: New York Times/G1
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL634368-5602,00-FIGURA+HISTORICA+DA+POLONIA+AGORA+TAMBEM+E+A+SUA+VOZ+DIPLOMATICA.html
Marcadores:
Alemanha,
Angela Merkel,
Auschwitz,
Bartoszewski,
comunismo,
Holocausto,
Nazismo,
New York Times,
Polônia,
segunda guerra,
sobrevivente,
Wladyslaw Bartoszewski
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Sobrevivente de Auschwitz pesava 28 kg ao fim da Segunda Guerra
FERNANDO SERPONE
da Folha Online
A libertação do campo de concentração nazista de Auschwitz por tropas russas completa 63 anos neste domingo. O dia 27 de janeiro foi instituído como o Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto em 2005, pela Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Estima-se que cerca de 2 milhões de pessoas foram assassinadas no local.
"Em Auschwitz, todos os inaptos para o trabalho foram enviados às câmaras de gás e cremados. Enquanto eram cremados, as gorduras eram canalizadas para a fábrica de sabão, ao lado", disse o polonês Ben Abrahan, um dos sobreviventes do campo, em entrevista à Folha Online. Sua mãe foi uma das vítimas da câmara de gás. O pai de Abrahan morreu de fome, no gueto.
Presidente da Associação Brasileira dos Sobreviventes do Nazismo, o polonês tinha 14 anos quando a Segunda Guerra Mundial (1939) começou. Quando o conflito terminou --quatro anos no gueto e seis campos de concentração depois-- o polonês pesava 28 kg, estava com tuberculose, escorbuto e disenteria com sangue.
"E estou aqui, sobrevivi, e levei comigo a tarefa de contar ao mundo tudo o que aconteceu", afirmou Abrahan, que tem 15 livros publicados sobre o Holocausto.
Outra vítima da perseguição dos alemães foi Henrietta "Rita" Braun. No entanto, documentos falsos e a ajuda de um alemão evitaram que ela fosse enviada com a sua família a um campo de concentração.
Entrevista com Ben Abrahan, sobrevivente de Auschwitz:
Folha Online - Como foi o início da guerra?
Ben Abrahan - Eu avistei os alemães pela primeira vez em 6 de setembro, quando eles entraram em nossa cidade, Lotz. Então, começaram perseguições. Os religiosos tiveram sua barbas cortadas, os judeus eram colocados em trabalhos forçados sob chicotadas.
Os judeus eram obrigados a usar uma braçadeira com uma estrela de David. Os alemães, não achando isso humilhante o suficiente, mandaram pregar nas costas uma estrela de David com a inscrição "juden" (judeu).
No bairro mais miserável, foi instituído o gueto, onde foram aglomerados cerca de 162 mil judeus. Só no primeiro ano, durante o inverno rigoroso, com parcas rações, sem lenha, morreram mais de 20 mil pessoas.
Folha - Uma vez no gueto, vocês eram obrigados a trabalhar?
Abrahan - Os alemães instalaram fábricas no gueto, para os seus utensílios de guerra, onde todos eram obrigados a trabalhar --desde os 12 anos até os 70. Os que não podiam trabalhar eram enviados a um local que diziam se tratar de um cidade próxima. Eram levados em caminhões, e diziam que iam trabalhar na roça. Ledo engano. Quando aglomerados dentro do caminhão, as portas eram fechadas, os gases de escapamento eram canalizados dentro da carroceria, e o trajeto --que demorava cerca de dez minutos até as valas comuns-- era o suficiente para que todos chegassem asfixiados.
Com a aproximação das forças russas, no verão de 1944, os judeus foram retirados, e diziam-lhes que iam trabalhar nas fábricas na Alemanha.
Folha - Aonde vocês foram levados?
Abrahan - Chegamos a Auschwitz [no sul da Polônia], onde passamos por uma seleção rigorosa. Crianças, velhos e inválidos eram retirados de imediato, e nós passamos na frente --no meu caso, na frente do famigerado [Joseph] Mengele [apelidado de "Anjo da Morte", fez experiências com presos, entre elas a de injetar substâncias químicas nos olhos de crianças para ver se mudariam de cor. Após fugir para a Argentina, Mengele veio ao Brasil, onde morreu de infarto quando nadava em Bertioga, em 1979].
Ele (Mengele) só mexia o dedo para a esquerda e direita e enviava as pessoas para trabalhos forçados ou para a câmara de gás.
Folha - O sr. foi levado a Auschwitz de trem?
Abrahan - Sim. Um trajeto que hoje demora quatro horas, demorava um, dois dias --sem água, com 170 pessoas no vagão, fechado, onde muitos morriam asfixiados. Em Auschwitz, todos os inaptos para trabalho foram enviados às câmaras de gás e cremados. Enquanto eram cremados, as gorduras eram canalizadas para a fábrica de sabão, ao lado.
Antes, as pessoas eram despojadas de todos os bens de valor --dentes de ouro, anéis, etc. As mulheres tinham os cabelos cortados. As cinzas eram enviadas à Alemanha para serem usadas como fertilizante. Quem duvida disso, basta ir a Auschwitz hoje, que permaneceu intacto.
Folha - O senhor ficou com quanto tempo em Auschwitz?
Abrahan - Duas semanas. Diretores de fábricas da Alemanha compravam os prisioneiros para suas fábricas. Eu fui enviado a uma fábrica de caminhões, onde trabalhei até a primavera de 1945.
Com a aproximação das forças aliadas, fomos levados de um campo a outro. Na noite de 1º para 2 de maio, fui libertado pelos americanos, na noite em que Hitler se suicidou.
Eu pesava naquela época 28 kg, com tuberculose, escorbuto e disenteria com sangue. E estou aqui, sobrevivi, e levei comigo a tarefa de contar ao mundo tudo o que aconteceu. Escrevi em meu primeiro livro, "E o mundo silenciou", toda a minha odisséia, 24 edições, todas esgotadas.
Folha - O que aconteceu quando o senhor foi libertado?
Abrahan - Passei meses nos hospitais americanos, curando-me de minhas doenças. Eu sou o único sobrevivente da minha família. Meu pai morreu de fome no gueto em 1942, e minha mãe foi retida por Mengele em Auschwitz e enviada à câmara de gás.
Folha - Depois do período no hospital, aonde o sr. foi?
Abrahan - Fui a Israel e, depois de um tempo, vim ao Brasil, em janeiro de 1955.
Folha - O sr. tinha parentes?
Abrahan - Tinha parentes em Israel --um tio e um primo que sobreviveram, e parentes que emigraram antes da guerra.
Folha - Por que o sr. veio ao Brasil?
Abrahan - Quando pequeno, ouvia conversas de meu pai, ele tinha aqui um tio e descrevia que é um país bondoso, tolerante, sem discriminação, principalmente aos judeus, e dizia que gostaria de emigrar ao Brasil. Isto ficou gravado em minha memória.
Folha - O que o sr. fez quando chegou aqui?
Abrahan - Fui trabalhar em uma fábrica como ferramenteiro. Depois, abri uma pequena indústria no Brás. Fui comentarista internacional, trabalhei oito anos na "Folha da Tarde", escrevia artigos para jornais do Brasil e para jornais internacionais.
Hoje, dedico-me a palestras em escolas e universidades, a conscientizar as novas gerações aonde um regime totalitário e inescrupuloso pode conduzir os destinos do mundo e, inclusive, da própria nação.
Folha - Qual é a proposta da associação dos sobreviventes?
Abrahan - De início, era de ajuda aos carentes ou doentes. Atualmente, ajudamos os sobreviventes a receber indenizações da Alemanha.
Fonte: Folha Online(27.01.2008)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u367402.shtml
da Folha Online
A libertação do campo de concentração nazista de Auschwitz por tropas russas completa 63 anos neste domingo. O dia 27 de janeiro foi instituído como o Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto em 2005, pela Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Estima-se que cerca de 2 milhões de pessoas foram assassinadas no local.
"Em Auschwitz, todos os inaptos para o trabalho foram enviados às câmaras de gás e cremados. Enquanto eram cremados, as gorduras eram canalizadas para a fábrica de sabão, ao lado", disse o polonês Ben Abrahan, um dos sobreviventes do campo, em entrevista à Folha Online. Sua mãe foi uma das vítimas da câmara de gás. O pai de Abrahan morreu de fome, no gueto.
Presidente da Associação Brasileira dos Sobreviventes do Nazismo, o polonês tinha 14 anos quando a Segunda Guerra Mundial (1939) começou. Quando o conflito terminou --quatro anos no gueto e seis campos de concentração depois-- o polonês pesava 28 kg, estava com tuberculose, escorbuto e disenteria com sangue.
"E estou aqui, sobrevivi, e levei comigo a tarefa de contar ao mundo tudo o que aconteceu", afirmou Abrahan, que tem 15 livros publicados sobre o Holocausto.
Outra vítima da perseguição dos alemães foi Henrietta "Rita" Braun. No entanto, documentos falsos e a ajuda de um alemão evitaram que ela fosse enviada com a sua família a um campo de concentração.
Entrevista com Ben Abrahan, sobrevivente de Auschwitz:
Folha Online - Como foi o início da guerra?
Ben Abrahan - Eu avistei os alemães pela primeira vez em 6 de setembro, quando eles entraram em nossa cidade, Lotz. Então, começaram perseguições. Os religiosos tiveram sua barbas cortadas, os judeus eram colocados em trabalhos forçados sob chicotadas.
Os judeus eram obrigados a usar uma braçadeira com uma estrela de David. Os alemães, não achando isso humilhante o suficiente, mandaram pregar nas costas uma estrela de David com a inscrição "juden" (judeu).
No bairro mais miserável, foi instituído o gueto, onde foram aglomerados cerca de 162 mil judeus. Só no primeiro ano, durante o inverno rigoroso, com parcas rações, sem lenha, morreram mais de 20 mil pessoas.
Folha - Uma vez no gueto, vocês eram obrigados a trabalhar?
Abrahan - Os alemães instalaram fábricas no gueto, para os seus utensílios de guerra, onde todos eram obrigados a trabalhar --desde os 12 anos até os 70. Os que não podiam trabalhar eram enviados a um local que diziam se tratar de um cidade próxima. Eram levados em caminhões, e diziam que iam trabalhar na roça. Ledo engano. Quando aglomerados dentro do caminhão, as portas eram fechadas, os gases de escapamento eram canalizados dentro da carroceria, e o trajeto --que demorava cerca de dez minutos até as valas comuns-- era o suficiente para que todos chegassem asfixiados.
Com a aproximação das forças russas, no verão de 1944, os judeus foram retirados, e diziam-lhes que iam trabalhar nas fábricas na Alemanha.
Folha - Aonde vocês foram levados?
Abrahan - Chegamos a Auschwitz [no sul da Polônia], onde passamos por uma seleção rigorosa. Crianças, velhos e inválidos eram retirados de imediato, e nós passamos na frente --no meu caso, na frente do famigerado [Joseph] Mengele [apelidado de "Anjo da Morte", fez experiências com presos, entre elas a de injetar substâncias químicas nos olhos de crianças para ver se mudariam de cor. Após fugir para a Argentina, Mengele veio ao Brasil, onde morreu de infarto quando nadava em Bertioga, em 1979].
Ele (Mengele) só mexia o dedo para a esquerda e direita e enviava as pessoas para trabalhos forçados ou para a câmara de gás.
Folha - O sr. foi levado a Auschwitz de trem?
Abrahan - Sim. Um trajeto que hoje demora quatro horas, demorava um, dois dias --sem água, com 170 pessoas no vagão, fechado, onde muitos morriam asfixiados. Em Auschwitz, todos os inaptos para trabalho foram enviados às câmaras de gás e cremados. Enquanto eram cremados, as gorduras eram canalizadas para a fábrica de sabão, ao lado.
Antes, as pessoas eram despojadas de todos os bens de valor --dentes de ouro, anéis, etc. As mulheres tinham os cabelos cortados. As cinzas eram enviadas à Alemanha para serem usadas como fertilizante. Quem duvida disso, basta ir a Auschwitz hoje, que permaneceu intacto.
Folha - O senhor ficou com quanto tempo em Auschwitz?
Abrahan - Duas semanas. Diretores de fábricas da Alemanha compravam os prisioneiros para suas fábricas. Eu fui enviado a uma fábrica de caminhões, onde trabalhei até a primavera de 1945.
Com a aproximação das forças aliadas, fomos levados de um campo a outro. Na noite de 1º para 2 de maio, fui libertado pelos americanos, na noite em que Hitler se suicidou.
Eu pesava naquela época 28 kg, com tuberculose, escorbuto e disenteria com sangue. E estou aqui, sobrevivi, e levei comigo a tarefa de contar ao mundo tudo o que aconteceu. Escrevi em meu primeiro livro, "E o mundo silenciou", toda a minha odisséia, 24 edições, todas esgotadas.
Folha - O que aconteceu quando o senhor foi libertado?
Abrahan - Passei meses nos hospitais americanos, curando-me de minhas doenças. Eu sou o único sobrevivente da minha família. Meu pai morreu de fome no gueto em 1942, e minha mãe foi retida por Mengele em Auschwitz e enviada à câmara de gás.
Folha - Depois do período no hospital, aonde o sr. foi?
Abrahan - Fui a Israel e, depois de um tempo, vim ao Brasil, em janeiro de 1955.
Folha - O sr. tinha parentes?
Abrahan - Tinha parentes em Israel --um tio e um primo que sobreviveram, e parentes que emigraram antes da guerra.
Folha - Por que o sr. veio ao Brasil?
Abrahan - Quando pequeno, ouvia conversas de meu pai, ele tinha aqui um tio e descrevia que é um país bondoso, tolerante, sem discriminação, principalmente aos judeus, e dizia que gostaria de emigrar ao Brasil. Isto ficou gravado em minha memória.
Folha - O que o sr. fez quando chegou aqui?
Abrahan - Fui trabalhar em uma fábrica como ferramenteiro. Depois, abri uma pequena indústria no Brás. Fui comentarista internacional, trabalhei oito anos na "Folha da Tarde", escrevia artigos para jornais do Brasil e para jornais internacionais.
Hoje, dedico-me a palestras em escolas e universidades, a conscientizar as novas gerações aonde um regime totalitário e inescrupuloso pode conduzir os destinos do mundo e, inclusive, da própria nação.
Folha - Qual é a proposta da associação dos sobreviventes?
Abrahan - De início, era de ajuda aos carentes ou doentes. Atualmente, ajudamos os sobreviventes a receber indenizações da Alemanha.
Fonte: Folha Online(27.01.2008)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u367402.shtml
Marcadores:
apologia ao nazismo,
Auschwitz,
Ben Abrahan,
Câmaras de Gás,
Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto,
Holocausto,
ONU,
polonês,
Polônia,
sobrevivente,
sobreviventes
domingo, 30 de dezembro de 2007
Eu, filha de sobreviventes do Holocausto
Por Cadorno Teles
A graphic novel, ou melhor, o romance gráfico, traduzido literalmente do inglês, tornou-se extremamente popular na sociedade atual. Uma espécie de livro, que conta uma história através dos Quadrinhos, embora ecoem em alguns leitores personagens como Batman, Homem-Aranha ou Asterix, as graphic novels são essencialmente sérias, com temas mais significativos destinado ao público adulto. Will Eisner popularizou com o seu trabalho as graphic novels, e vieram Os 300 de Esparta de Frank Miller, Adolf de Osamu Tezuka, O coração do Império de Bryan Talbot, Maus de Art Spiegelman, Persepólis de Marjane Satrapi, V de Vingança de Alan Moore e David Lloyd, Watchmen de Moore e Dave Gibbons, entre muitas outras. Mas ninguém esperava a originalidade de Bernice Eisenstein em Eu, filha de sobreviventes do Holocausto (I was a child of holocaust survivors, tradução de Alzira Alegro, Novo Conceito, 200 páginas, R$ 35,90).
A artista canadense consegue preparar um texto brilhante e inspirado em meio aos desenhos simples ao longo das páginas desta impressionante obra. Seguindo a linha de Maus de Spiegelman, Eu, filha de sobreviventes do Holocausto é um testemunho da superação do horror, no caso o genocídio judeu. Bernice é filha de sobreviventes do capo de Auschwitz, cresceu em Toronto nos anos 1950 e viveu as dificuldades dos imigrantes que acabaram de sair de um pesadelo para integrá-se em uma nova sociedade. O livro é a memória de sua infância enegrecida pelas recordações do Holocausto, um testemunho comovente, honesto e em certas ocasiões satírico sobre a universalidade da memória e da experiência aterradora de viver sob o terror de morrer a qualquer hora.
Retratando os momentos vividos por sua família, da morte do seu pai à circuncisão de seu filho, Eisenstein deu um tom novo às graphic novels, fazendo uma síntese surpreendente com seus desenhos, delicados e unidos ao texto, ligados à história áspera e abrasadora, explorando com melancolia e humor sua infância. As ilustrações de meia-página e entremeados em uma arte-final original e provocativa. Uma graphic novel que com certeza irá se reunir aos clássicos do gênero e vale lembrar que a crítica internacional está colocando o trabalho desta autora canadense entre nomes como Primo Levi, Elie Wiesel e Raul Hilberg. E veja que é sua primeira investida no gênero. Eu, filha de sobreviventes do Holocausto, uma ode à vida, ao esforço da recompensa, ao trabalho sofrido, um verdadeiro tributo a sua família e a todos que sofreram os revezes da II Grande Guerra.
A Autora
Bernice Eisenstein (foto) nasceu em 1949 na cidade de Toronto, Canadá, pouco depois da emigração de seus pais ao país. Atualmente, é escritora e artista, publicando no periódico Globe and Mail. "Eu, filha de sobreviventes do Holocausto" recebeu o prêmio Canadian Jewish Book Award 2007 e foi finalista do Trillium Book Award.
Fonte: Bigorna.net(HQs, Brasil, 21/09/2007)
http://www.bigorna.net/index.php?secao=comics&id=1190350568
A graphic novel, ou melhor, o romance gráfico, traduzido literalmente do inglês, tornou-se extremamente popular na sociedade atual. Uma espécie de livro, que conta uma história através dos Quadrinhos, embora ecoem em alguns leitores personagens como Batman, Homem-Aranha ou Asterix, as graphic novels são essencialmente sérias, com temas mais significativos destinado ao público adulto. Will Eisner popularizou com o seu trabalho as graphic novels, e vieram Os 300 de Esparta de Frank Miller, Adolf de Osamu Tezuka, O coração do Império de Bryan Talbot, Maus de Art Spiegelman, Persepólis de Marjane Satrapi, V de Vingança de Alan Moore e David Lloyd, Watchmen de Moore e Dave Gibbons, entre muitas outras. Mas ninguém esperava a originalidade de Bernice Eisenstein em Eu, filha de sobreviventes do Holocausto (I was a child of holocaust survivors, tradução de Alzira Alegro, Novo Conceito, 200 páginas, R$ 35,90).
A artista canadense consegue preparar um texto brilhante e inspirado em meio aos desenhos simples ao longo das páginas desta impressionante obra. Seguindo a linha de Maus de Spiegelman, Eu, filha de sobreviventes do Holocausto é um testemunho da superação do horror, no caso o genocídio judeu. Bernice é filha de sobreviventes do capo de Auschwitz, cresceu em Toronto nos anos 1950 e viveu as dificuldades dos imigrantes que acabaram de sair de um pesadelo para integrá-se em uma nova sociedade. O livro é a memória de sua infância enegrecida pelas recordações do Holocausto, um testemunho comovente, honesto e em certas ocasiões satírico sobre a universalidade da memória e da experiência aterradora de viver sob o terror de morrer a qualquer hora.
Retratando os momentos vividos por sua família, da morte do seu pai à circuncisão de seu filho, Eisenstein deu um tom novo às graphic novels, fazendo uma síntese surpreendente com seus desenhos, delicados e unidos ao texto, ligados à história áspera e abrasadora, explorando com melancolia e humor sua infância. As ilustrações de meia-página e entremeados em uma arte-final original e provocativa. Uma graphic novel que com certeza irá se reunir aos clássicos do gênero e vale lembrar que a crítica internacional está colocando o trabalho desta autora canadense entre nomes como Primo Levi, Elie Wiesel e Raul Hilberg. E veja que é sua primeira investida no gênero. Eu, filha de sobreviventes do Holocausto, uma ode à vida, ao esforço da recompensa, ao trabalho sofrido, um verdadeiro tributo a sua família e a todos que sofreram os revezes da II Grande Guerra.
A Autora
Bernice Eisenstein (foto) nasceu em 1949 na cidade de Toronto, Canadá, pouco depois da emigração de seus pais ao país. Atualmente, é escritora e artista, publicando no periódico Globe and Mail. "Eu, filha de sobreviventes do Holocausto" recebeu o prêmio Canadian Jewish Book Award 2007 e foi finalista do Trillium Book Award.
Fonte: Bigorna.net(HQs, Brasil, 21/09/2007)
http://www.bigorna.net/index.php?secao=comics&id=1190350568
sábado, 15 de dezembro de 2007
Testemunho de um brasileiro que sobreviveu ao Holocausto
Yaari relata como escapou da morte nos campos de concentração
O paulista Arie Yaari, 82 anos, é um dos poucos sobreviventes das barbáries nazistas a viver no Brasil. Sua autobiografia, publicada há pouco em português, será lançada também na Alemanha.
Com o título O Leão da Montanha: dos Campos da Morte aos Campos do Jordão, o brasileiro naturalizado Arie Yaari, 82 anos, lançou seu livro de memórias pela Editora e Livraria Sêfer de São Paulo. Na obra, ele relata suas experiências de prisioneiro em campos de trabalhos forçados durante a Segunda Guerra até sua aventurosa, mas bem-sucedida, emigração para o Brasil no pós-guerra.
Yaari visitou recentemente a Alemanha, mais de 50 anos após sua emigração para o Brasil, para falar sobre sua obra, que ganhará tradução para o alemão, o inglês e o polonês. Ele explica que começou a escrever sua história após os 70 anos e diz não ter sido fácil relembrar fatos quase apagados da memória. Na tarefa, teve a ajuda da esposa, Olívia Yaari, a quem dedica o livro.
O relato foi escrito ao longo de mais de dez anos e concluído em Campos do Jordão (SP), onde Yaari reside desde 1978. Ele conta que, embora sempre tenha falado de sua experiência aos filhos, escrever sua história foi um processo doloroso. "As lembranças viram pesadelos à noite“, afirma. "Eu pretendia deixar o relato de minha história apenas para meus filhos e netos. Mas compreendi a importância do meu testemunho como um legado às gerações futuras. Eu perdi minha família nos campos de concentração e o fato de ter sobrevivido me faz porta-voz de todos os que morreram sem poder contar o que viveram."
"Sobrevivi por milagre"
Prisioneiros considerados incapazes eram levados para Auschwitz.
O autor dividiu sua história em cinco partes. O segundo capítulo, de 1939 a 1945, compreende a ocupação nazista e o horror dos campos de concentração. “Em 1940, fui recrutado na minha aldeia para trabalhar na produção de guerra na Alemanha. Eu tinha 18 anos e deveria ser por três meses. Mas fui prisioneiro dos alemães por cinco anos, durante os quais passei por 11 campos, entre eles Brande, Blechhammer, Gross Sarne, Bunzlau, Wisau, Gross-Rosen. Alguns nomes eu já esqueci. Lá éramos forçados a trabalhar pesado até 14 horas por dia, no inverno rigoro, mal alimentados e mal vestidos. Os prisioneiros declarados incapazes para o trabalho eram enviados a Auschwitz-Birkenau.”
Yaari fala em milagre ao tentar explicar como sobreviveu. "Não sou religioso, mas creio na existência de Deus. Acho que consegui sobreviver porque Deus quis. Várias vezes senti Sua presença. Em Wisau, uma pedra de 100 quilos caiu no meu pé. Sobrevivi a um bombardeio em pleno pátio no campo de concentração de Bunzlau. Um amigo que correu para baixo da mesa da cozinha morreu. Na retirada final dos prisioneiros do campo, quando a guerra já estava perdida para os alemães, consegui escapar por milagre da 'marcha da morte' escondido no sótão de uma casa abandonada." Ele conta ter sido libertado pelo regimento russo a caminho de Berlim e diz que, até hoje, não sabe por que guardas alemães não o mataram.
De Leon Greenwald a Arie Yaari
Nascido em 1922 em Katowice, Silésia, hoje território polonês, seu Arie, como é conhecido, fala bem polonês, alemão, iídiche, hebraico e português. O texto original de suas memórias foi escrito em português, língua na qual ele diz ter mais facilidade de se expressar hoje.
O título está relacionado às várias mudanças no seu nome. Ele nasceu como Leon Greenwald, foi registrado como Leon Bookspan (seu pai adotava circunstancialmente esse sobrenome) e, aos 22 anos, assumiu a identidade falsa de Abraham Shtiglitz para poder emigrar para a Palestina em 1945, logo depois da guerra. Serviu no exército de Israel de 1948 a 1950 com essa identidade e, quando deu baixa, mudou seu nome para Arie Yaari, que em hebraico significa Leon Greenwald. Com esse nome se tornou brasileiro e paulista de coração.
Brasil não era o destino da família
Capa do livro 'O Leão da Montanha: dos Campos da Morte aos Campos do Jordão'
Em 1953, na esperança de emigrar para os Estados Unidos, Yaari deixou Israel com um visto para o Brasil. Aos 32 anos, aportou em Santos, São Paulo, com a mulher, dois filhos (Joseph, nascido na Alemanha, e Shoshana, em Israel. Uma terceira filha, Paulina, nasceria no Brasil) e 300 dólares em três notas de cem no bolso.
Segundo ele, a intenção era conseguir ajuda da comunidade judaica de São Paulo para uma viagem aos Estados Unidos. "Chegamos ao porto de Santos e tomamos o trem para São Paulo. Aí aconteceu algo que me emocionou muito e me fez ficar no Brasil. Um trabalhador estava sentado no chão do trem, comendo de sua marmita. Ao me olhar, ele me perguntou se eu estava servido. Nunca havia vivido isso antes, em lugar algum. Logo nas minhas primeiras horas no país vivi a hospitalidade e a bondade do povo brasileiro. E assim o Brasil, que deveria ter sido um país de trânsito, se tornou a minha pátria", conta Yaari.
Medo de reviver fatos do passado
Ele afirma que, durante muitos anos, temeu reviver os fatos do passado. "Desconfiava de que pudesse acontecer outra desgraça. Angustiava-me a assimilação cultural dos meus filhos e netos no Brasil. Quem conhece a história, sabe que, antes de Hitler, os judeus alemães eram os mais assimilados do mundo." Hoje, com mais de 80 anos, ele se considera um afortunado. "Criei três filhos e tenho netos e bisnetos. E meus laços com a Alemanha agora se renovam sob bons sentimentos na união de um neto com uma alemã não-judia. Sempre fui otimista e penso que com o tempo tudo acaba bem."
Jehovanira Chrysóstomo
Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, 13.06.2005)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,9137,1609810,00.html
O paulista Arie Yaari, 82 anos, é um dos poucos sobreviventes das barbáries nazistas a viver no Brasil. Sua autobiografia, publicada há pouco em português, será lançada também na Alemanha.
Com o título O Leão da Montanha: dos Campos da Morte aos Campos do Jordão, o brasileiro naturalizado Arie Yaari, 82 anos, lançou seu livro de memórias pela Editora e Livraria Sêfer de São Paulo. Na obra, ele relata suas experiências de prisioneiro em campos de trabalhos forçados durante a Segunda Guerra até sua aventurosa, mas bem-sucedida, emigração para o Brasil no pós-guerra.
Yaari visitou recentemente a Alemanha, mais de 50 anos após sua emigração para o Brasil, para falar sobre sua obra, que ganhará tradução para o alemão, o inglês e o polonês. Ele explica que começou a escrever sua história após os 70 anos e diz não ter sido fácil relembrar fatos quase apagados da memória. Na tarefa, teve a ajuda da esposa, Olívia Yaari, a quem dedica o livro.
O relato foi escrito ao longo de mais de dez anos e concluído em Campos do Jordão (SP), onde Yaari reside desde 1978. Ele conta que, embora sempre tenha falado de sua experiência aos filhos, escrever sua história foi um processo doloroso. "As lembranças viram pesadelos à noite“, afirma. "Eu pretendia deixar o relato de minha história apenas para meus filhos e netos. Mas compreendi a importância do meu testemunho como um legado às gerações futuras. Eu perdi minha família nos campos de concentração e o fato de ter sobrevivido me faz porta-voz de todos os que morreram sem poder contar o que viveram."
"Sobrevivi por milagre"
Prisioneiros considerados incapazes eram levados para Auschwitz.
O autor dividiu sua história em cinco partes. O segundo capítulo, de 1939 a 1945, compreende a ocupação nazista e o horror dos campos de concentração. “Em 1940, fui recrutado na minha aldeia para trabalhar na produção de guerra na Alemanha. Eu tinha 18 anos e deveria ser por três meses. Mas fui prisioneiro dos alemães por cinco anos, durante os quais passei por 11 campos, entre eles Brande, Blechhammer, Gross Sarne, Bunzlau, Wisau, Gross-Rosen. Alguns nomes eu já esqueci. Lá éramos forçados a trabalhar pesado até 14 horas por dia, no inverno rigoro, mal alimentados e mal vestidos. Os prisioneiros declarados incapazes para o trabalho eram enviados a Auschwitz-Birkenau.”
Yaari fala em milagre ao tentar explicar como sobreviveu. "Não sou religioso, mas creio na existência de Deus. Acho que consegui sobreviver porque Deus quis. Várias vezes senti Sua presença. Em Wisau, uma pedra de 100 quilos caiu no meu pé. Sobrevivi a um bombardeio em pleno pátio no campo de concentração de Bunzlau. Um amigo que correu para baixo da mesa da cozinha morreu. Na retirada final dos prisioneiros do campo, quando a guerra já estava perdida para os alemães, consegui escapar por milagre da 'marcha da morte' escondido no sótão de uma casa abandonada." Ele conta ter sido libertado pelo regimento russo a caminho de Berlim e diz que, até hoje, não sabe por que guardas alemães não o mataram.
De Leon Greenwald a Arie Yaari
Nascido em 1922 em Katowice, Silésia, hoje território polonês, seu Arie, como é conhecido, fala bem polonês, alemão, iídiche, hebraico e português. O texto original de suas memórias foi escrito em português, língua na qual ele diz ter mais facilidade de se expressar hoje.
O título está relacionado às várias mudanças no seu nome. Ele nasceu como Leon Greenwald, foi registrado como Leon Bookspan (seu pai adotava circunstancialmente esse sobrenome) e, aos 22 anos, assumiu a identidade falsa de Abraham Shtiglitz para poder emigrar para a Palestina em 1945, logo depois da guerra. Serviu no exército de Israel de 1948 a 1950 com essa identidade e, quando deu baixa, mudou seu nome para Arie Yaari, que em hebraico significa Leon Greenwald. Com esse nome se tornou brasileiro e paulista de coração.
Brasil não era o destino da família
Capa do livro 'O Leão da Montanha: dos Campos da Morte aos Campos do Jordão'
Em 1953, na esperança de emigrar para os Estados Unidos, Yaari deixou Israel com um visto para o Brasil. Aos 32 anos, aportou em Santos, São Paulo, com a mulher, dois filhos (Joseph, nascido na Alemanha, e Shoshana, em Israel. Uma terceira filha, Paulina, nasceria no Brasil) e 300 dólares em três notas de cem no bolso.
Segundo ele, a intenção era conseguir ajuda da comunidade judaica de São Paulo para uma viagem aos Estados Unidos. "Chegamos ao porto de Santos e tomamos o trem para São Paulo. Aí aconteceu algo que me emocionou muito e me fez ficar no Brasil. Um trabalhador estava sentado no chão do trem, comendo de sua marmita. Ao me olhar, ele me perguntou se eu estava servido. Nunca havia vivido isso antes, em lugar algum. Logo nas minhas primeiras horas no país vivi a hospitalidade e a bondade do povo brasileiro. E assim o Brasil, que deveria ter sido um país de trânsito, se tornou a minha pátria", conta Yaari.
Medo de reviver fatos do passado
Ele afirma que, durante muitos anos, temeu reviver os fatos do passado. "Desconfiava de que pudesse acontecer outra desgraça. Angustiava-me a assimilação cultural dos meus filhos e netos no Brasil. Quem conhece a história, sabe que, antes de Hitler, os judeus alemães eram os mais assimilados do mundo." Hoje, com mais de 80 anos, ele se considera um afortunado. "Criei três filhos e tenho netos e bisnetos. E meus laços com a Alemanha agora se renovam sob bons sentimentos na união de um neto com uma alemã não-judia. Sempre fui otimista e penso que com o tempo tudo acaba bem."
Jehovanira Chrysóstomo
Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, 13.06.2005)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,9137,1609810,00.html
Assinar:
Postagens (Atom)