PRISIONEIROS DA GUERRA: OS SÚDITOS DO EIXO DOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO (1942 - 1945)
Autor: Priscila Ferreira Perazzo
Editora: Humanitas: Fapesp
ISBN: ISBN (Humanitas) 978-85-7732-008-0 e ISBN (Imprensa Oficial) 978-85-7060-519-1
Ano: 2009
Prefácio:
Este é um livro que perturba. Ele segue a trilha aberta pela nova historiografia brasileira sobre a participação do país na Segunda Guerra Mundial, contrapondo-se à visão apologética que construiu uma mitologia no imediato pós-guerra. Durante várias décadas, o envolvimento brasileiro permaneceu encoberto por espesso véu de ignorância e de condescendência.
Concomitantemente ao vazio na historiografia brasileira, os estudos históricos sobre o episódio multiplicaram-se através de departamentos, institutos e centros de pesquisas em muitos países, partícipes ou não, da terrível hecatombe. Uma dupla obrigação sustenta estes esforços: por um lado o direito e o dever de memória. Todo povo detém o direito fundamental e inalienável de saber o que foi feito em seu nome. Por outro lado, a capacidade de lembrança constitui importante instrumento para tentar evitar os erros e renovar os acertos do passado.
Cada geração tem a obrigação de reconstruir a memória sobre a trajetória das gerações que a antecederam. Neste sentido, reveste-se de fundamental importância o papel do historiador na renovação temática, instrumental, metodológica e, sobretudo, na luta para ter acesso a novas fontes documentais. Esta é, certamente, a maior contribuição do livro que tenho o prazer de apresentar. A presente tese atinge plenamente o objetivo que deveria ser de toda tese: uma contribuição original sobre um tema obscuro ou desconhecido. Ressalte-se que as fontes utilizadas são inéditas e a trabalhosa pesquisa de campo fornece resultados extraordinários.
No final da década de 1970, começou a surgir uma série de estudos que renovaram a historiografia brasileira. Alguns orientados informalmente por José Honório Rodrigues como os de Stanley Hilton (1) e os meus, outros como do sempre lembrado Gerson Moura (2) e posteriormente Tullo Vigevani (3), todos eles tratando essencialmente das relações exteriores do país. A memória sobre o Brasil, partícipe marginal do conflito, começava a ser construída.
Muitos outros estudos se seguiram sobre essa área que desperta, ainda hoje, um grande interesse junto a parte ponderável da opinião publica.
Todavia, os aspectos internos decorrentes do conflito internacional ainda permaneciam à sombra. Foi novamente Stanley Hilton, num texto provocativo que causou grande impacto (4), o iniciador de uma reflexão sobre temas considerados secundários do conflito. O livro de Priscila Ferreira Perazzo inscreve-se nessa perspectiva. Ele decorre de um trabalho consistente e abrangente desenvolvido no Programa de História Social da FFLCH da Universidade de São Paulo e do Projeto Integrado Arquivo do Estado/Universidade de São Paulo, que resultou na preparação e publicação de um conjunto de trabalhos fundamentais sobre a política das autoridades brasileiras com relação às supostas minorias vinculadas de alguma maneira ao Eixo (5).
O tratamento dispensado aos prisioneiros de guerra capturados junto ao inimigo e sobretudo aos que poderíamos denominar reféns das circunstâncias (supostos membros de quinta-coluna ou simplesmente detentores de vínculos com o inimigo, sejam eles de nacionalidade, de descendência ou de simpatia por sua causa), denominados neste trabalho de «prisioneiros da guerra», constitui um dos temas historiográficos de maior aridez e que impõem uma série de dificuldades de abordagem.
Em primeiro lugar, trata-se de um tema que é marginal no conjunto da historiografia dos conflitos. Se tomarmos como exemplo as centenas de obras escritas sobre a Segunda Guerra Mundial veremos que são escassos os trabalhos dedicados a estes reféns das circunstâncias. Assim, durante décadas permaneceu escondido, em razão de um misto de indiferença e de pruridos mal avaliados, o tratamento imposto, durante os anos de conflito, às minorias oriundas do Eixo estabelecidas nos Estados Unidos.
Convidado pela Professora Maria Luiza Tucci Carneiro, orientadora, participei da banca de defesa da tese de doutoramento de Priscila que resultou no presente livro. Constatada a importância da pesquisa, a metodologia, o tratamento das fontes e inovação – bases de uma boa tese – a banca discutiu longamente a natureza e, por conseguinte, a caracterização dos espaços destinados pelo Estado brasileiro para reunir os prisioneiros de guerra. Este é o segundo grande desafio da obra. Ora, a autora designa estes espaços como sendo «campos de concentração», contrariando outros especialistas que os consideram como simples prisões onde as regras eram de tal modo elásticas, a ponto de ser identificadas como verdadeiras «colônias de férias» (6).
De fato, o debate deve orientar-se pela definição da expressão «campo de concentração». Considero que, etimologicamente, trata-se de um espaço físico delimitado por barreiras (físicas, normativas e de autoridade) que separam os internos do restante da população. Não é necessária a constatação de maus tratos para caracterizar a existência de um campo de concentração. Nesse caso, muitas prisões e delegacias policiais brasileiras deveriam mudar de denominação … Por outro lado, não deve haver confusão de gênero entre os campos de concentração e os famigerados campos de extermínio. Neste sentido, o auxílio de que se vale Priscila junto aos trabalhos de Hannah Arendt são muito úteis pois o sistema concentracionário brasileiro pode ser efetivamente considerado como integrante do «limbo» cujas formas são «relativamente benignas, que já foram populares mesmo em países não-totalitários, destinados a afastar da sociedade todo tipo de elementos indesejáveis» (7).
A ocorrência de dois fenômenos contraditórios nos campos de concentração brasileiros torna mais complexa a escolha correta de sua denominação. Priscila constata que os internos de certos campos eram autorizados a manter uma vida social fora dele. Portanto, estamos diante de situações nas quais os internos gozavam de uma semi-liberdade. De outra parte, as condições de higiene, a falta de qualidade e de regularidade do atendimento médico, bem como a própria localização do campo, muitas vezes situado em lugares insalubres, fez com que muitos internos padecessem de moléstias evitáveis e viessem a falecer.
O presente livro, ao contestar uma visão idílica da história, desperta consciências e provoca desconforto. Redigido em uma linguagem coloquial, na primeira pessoa do plural, ele aborda um tema pungente. Trata-se, sem sombra de dúvida, de uma tentativa de resgate dos marginais da história e da construção de uma visão dos vencidos. Mas não unicamente isso, pois a autora opera a historia através do homem e sua condição, extraindo dela lições sobre sua natureza. Surge então o homem em sua (des)humanidade, pouco importando o que o Estado tente fazer com ele através das normas da nacionalidade que separam e opõem os humanos.
Outra importante contribuição de Priscila advém do enfoque metodológico. Uma primeira lição deve ser retida e conservada pelos leitores, especialmente aqueles que se dedicam à pesquisa. Por trás de um excelente livro como este, esta (e sempre estará em todas as grandes obras), muita dedicação, trabalho, sacrifício e espírito de equipe. Não se constrói uma obra científica somente com inspiração e ideias, mesmo que sejam pertinentes. A autora não somente percorre uma trajetória intelectual através da qual ela renova, contesta e afina seus pressupostos, mas também percorre um trajetória física que a conduz aos quatro cantos do país. A fazê-lo, demonstra que as fontes constituem a matéria-prima imprescindível do bom historiador. Mas sobretudo aproxima a História da vida e do homem. Para avaliar de maneira adequada a contribuição de Priscila, é indispensável imaginar que em cada etapa da pesquisa de campo e dos arquivos, a autora organizava as ideias, as fichas e as informações acumuladas para tentar tirar o maior proveito possível da investida. Ora, a sempre possível incompreensão dos guardiões dos arquivos paira como uma espada de Dâmocles sobre os pesquisadores, assim como a precária preparação para o trabalho de campo pode torná-lo inútil.
Apesar de ser tratado marginalmente nos estudos sobre a repressão ao comunismo e sobre o controle social no Brasil, objetos de vários estudos recentes(8), o tema da repressão às minorias originárias do Eixo constitui um vasto campo ainda a ser explorado. Trabalhos pontuais foram publicados enfocando a realidade estadual ou a micro-realidade municipal (9). Todavia falta uma sistematização e uma abrangência que somente trabalhos que se espelhem no exemplo da tese de Priscila poderão responder. Certamente se trata de uma história dolorosa mas indispensável para a construção da memória nacional.
A tese acadêmica ora apresentada ao grande público reúne grande valor para a historiografia brasileira. Posso não concordar com a utilização de um vocabulário por vezes pouco científico e com conclusões apressadas como, por exemplo, a que identifica a existência de um projeto étnico-político marcado pela xenofobia da política governamental brasileira. Todavia, o mérito do livro consiste em nos fazer entender como o governo autoritário de um pais povoado essencialmente por imigrantes enfrenta o desafio que poderia ter mudado a face das relações internacionais. Imaginando que a distância dos principais palcos de operações militares pudesse também nos manter afastados dos dramas da guerra, as nossas riquezas naturais e a forte presença de contingentes populacionais oriundos do Eixo, jogaram por terra qualquer esperança de neutralidade. O tributo que pagamos para reconquistar a paz deve ser compensado pela construção da memória. As páginas que seguem constituem inconteste contribuição.
(1). Conforme O Brasil e a as grandes potências. Aspectos políticos da rivalidade comercial (1930-1939 e O Brasil e a crise internacional (1930-1945), ambos publicados pela Civilização Brasileira em 1977.
(2). in Autonomia na dependência : a política externa brasileira de 1935 à 1942, Nova Fronteira, 1980.
(3). in Questão nacional e política exterior. Um estudo de caso: formulação da política internacional do Brasil e motivações da FEB, FFLCH-USP, 1989.
(4). Conforme A guerra secreta de Hitler no Brasil : a espionagem alemã e a contra-espionagem aliada no Brasil (1939-1945), Nova Fronteira, 1983.
(5). A primeira publicação da Coleção Teses e Monografias resultante do programa é justamente a dissertação de Mestrado de Priscila sob o titulo O perigo alemão e a repressão policial no Estado Novo, Arquivo do Estado de São Paulo, 1999.
(6). Consultar, por exemplo,CYTRYNOWICZ, R., Guerra sem guerra : a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial, Edusp, 2000.
(7). Cf. Origens do totalitarismo : anti-semitismo, imperialismo e totalitarismo, Cia das Letras, 1989, p. 496.
(8). As obras de Paulo Sérgio Pinheiro e mais recentemente o livro de R. S. Rose, Uma das coisas esquecidas : Getúlio Vargas e controle social no Brasil/ 1930-1954, Cia. das Letras, 2001.
(9) Cf. a obra pioneira de René Gertz no Rio Grande do Sul e as mais recentes de Maria Hoppe Kipper sobre o impacto da política de nacionalização em Santa Cruz do Sul e o interessante livro de SGANZERLA, C., A lei do silêncio : repressão e nacionalização no Estado Novo em Guaporé (1937-1945), Ed. UPF, 2001.
Ricardo Seitenfus
Doutor em Relações Internacionais pelo Institut Universitaire des Hautes Etudes Internationales (Genebra) e autor, entre outras, da obra O Brasil vai à Guerra, São Paulo, Editora Manole, 2003, 3a. edição, 365 p.
Fonte: site da USP
http://www.usp.br/proin/publicacoes/detalhes_publicacoes.php?idLivro=32&idCategoriaLivro=5
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terça-feira, 25 de março de 2014
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
As vítimas esquecidas da anatomia nazista
As vítimas esquecidas da anatomia nazi
Victoria Gill. BBC; Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Liane Berkowitz
Liane Berkowitz tinha só 19 anos quando foi executada pelos nazis.
Foi presa em 1942 pela Gestapo, a polícia secreta, quando pegava cartazes com mensagens contra a propaganda nazi.
Estava grávida, mas isto só postergou sua execução até depois que desse a luz a seu bebê.
A sombria história de Liane não acabou com sua morte. Seu corpo foi um dos milhares que foram dissecados por anatomistas e utilizados para seus experimentos.
A identidade destas vítimas do horror nazi agora sai a luz graças aos pesquisadores que rastreiam os registros legais para identificar quem acabou nas mesas de trabalho de anatomistas do regime.
Liane foi uma das 182 pessoas cujos cadáveres foram analisados por Hermann Stieve, que naquele momento era um renomado especialista da Universidade de Berlim.
Os nomes completos da chamada "lista de Stieve" – composta principalmente por mulheres – acabam de ser publicados por Sabine Hildebrant, una anatomista alemã que trabalha na Universidade de Michigan.
"O mesmo Stieve elaborou esta lista em 1946", explica a doutora Hildebrant, que levou uma década pesquisando a história da anatomia alemã. O detalhado registro de Stieve com seu macabro trabalho permitiu identificar suas vítimas.
Hildebrant centrou seus esforços para contra as histórias dessas pessoas.
"Queria saber quem eram", disse a pesquisadora consultada pela BBC, "queria que fossem conhecidas outra vez".
Trauma e estresse
Vera Obolensky e Libertas Schulze-Boysen
Stieve estava interessado especialmente na anatomia reprodutiva. Por isso a maioria de suas vítimas foram mulheres.
"Antes de 1933 podia se estudar os cadáveres de homens que haviam sido executados, mas não mulheres, já que a Alemanha não executava mulheres".
"Mas repentinamente, durante o Terceiro Reich, começaram a fazê-lo".
Cerca da metade dessas mulheres, entre elas Liane Berkowitz, foram condenadas a morte acusadas de traição.
Algumas foram denunciadas à Gestapo por outros cidadãos depois de expressar suas ideias políticas contrárias ao nazismo.
William Seidelman, ex-professor de medicina da Universidade de Toronto, Canadá, também dedicou anos à pesquisa dos laços entre a "medicina e o "assassinato" no Terceiro Reich.
Num artigo acadêmico de 1999 publicado em "Dimensions: A Journal of Holocaust Studies", Seidelman revelou alguns detalhes sobre como Stieve trabalhou em estreita colaboração com a prisão berlinense na qual se realizava as execuções.
"Quando uma mulher em idade reprodutiva ia ser executada, informavam a Stieve, escolhia-se uma data e era comunicada à prisioneira quando ela iria morrer", escreveu o professor Seidelman.
"Stieve estava particularmente interessado nos efeitos do estresse e do trauma psicológico nos ciclos menstruais das mulheres condenadas".
Depois da execução, os órgãos pélvicos da mulher eram extraídos para ser examinados. Stieve publicou relatórios baseados nesses estudos sem nenhum remorso ou desculpa", disse Seidelman.
Stieve se referia aos órgãos que analisava como "material". Suas publicações de então foram as primeiras a sugerir que o estresse - encarnado em nada menos que uma sentença de morte - interrompia o ciclo menstrual.
Em sua missão de revelar a vida das pessoas por detrás desse "material", a doutora Hildebrandt revisou os arquivos pessoais das vítimas de Stieve, que são guardados no museu do Monumento à Resistência Alemã de Berlim.
Hildebrant analisou cada arquivo junto a uma cópia da lista de Stieve que é mantida no Ministério de Justiça alemão, e identificou a cada uma das pessoas.
Comprovou os nomes de 174 mulheres e oito homens da lista, as datas exatas de nascimento e óbito, as nacionalidades, as razões de sua execução e qualquer outra informação pessoal que pode encontrar.
Alguns dos arquivos contém cartas que expressam os últimos desejos dos prisioneiros condenados, como os de "se reunir com seus entes queridos na morte", segundo explica a pesquisadora.
Uma dessas cartas era de Libertas Schulze-Boysen, que havia sido membro do partido nazi, mas em 1937 se uniu à resistência alemã e documentou e coletou evidências fotográficas dos crimes do nacional-socialismo.
Libertas foi presa em setembro de 1942 e condenada à morte por traição em dezembro do mesmo ano.
Numa carta para sua mãe, escreveu: "Como último desejo pedi que lhe entreguem minha 'substância material' (restos mortais). Se for possível, enterrem-me em um lugar bonito, ensolarado e rodeado pela natureza".
EXPERIMENTOS NAZIS
De acordo com o historiador médico Paul Weindling, quase 25.000 vítimas dos experimentos científicos nazis foram identificadas.
Weindling disse que houve distintas "fases" desses experimentos". A primeira esteve ligada à eugenia e à esterilização forçada.
A segunda fase coincidiu com o início da guerra. "Os doutores começaram a experimentar com pacientes de hospitais psiquiátricos", escreveu o professor Weindling em uma reportagem à BBC. "Fizeram experimentos esporádicos em campos de concentração como o de Sachsenhausen, próximo de Berlim, e observações antropológicas em Dachau."
A terceira fase começou em 1942, quando a SS (a polícia militar nazi) e o exército alemão tomaram o controle da experimentação científica. Aumentou o número de provas nos quais se inocularam doenças mortais como malária e tifo, esta uma doença epidêmica para milhares de vítimas.
Durante uma quarta fase em 1944-45, explica o doutor Weindling, "os cientistas sabiam que a guerra estava perdida mas continuaram com seus experimentos".
O MACABRO ATLAS DE PERNKOPF
Eduard Pernkopf, diretor de Anatomia da Universidade de Viena entre 1933 e 1945 e membro do Partido Nazi, utilizou cadáveres de prisioneiros executados para seus estudos e registrou isso em seu atlas de anatomia.
As detalhadas ilustrações que ele detinha o fizeram famoso entre os estudantes de anatomia.
Pernkopf trabalhou 18 horas diárias dissecando cadáveres enquanto uma equipe de artistas criava as imagens. Levou mais de vinte anos para terminar seu livro.
Tal como Sabine Hildebrandt escreveu em um artigo de 2006 na publicação Clinical anatomy, este projeto revelou "o traslado de ao menos 1.377 corpos de pessoas executadas no Instituto Anatômico de Viena" durante o Terceiro Reich.
"O possível uso desses cadáveres como modelos não se pode descartar em ao menos metade das quase 800 lâminas do atlas".
História obscura
Hildebrant disse que sua investigação deixou "dolorosamente" em evidência o pouco que interessava então a anatomistas o destino das pessoas cujos corpos estavam dissecando.
Por associação, é uma mancha na pesquisa anatômica alemã.
Dos 31 departamentos de anatomia na Alemanha e nos territórios ocupados entre 1933 e 1945, a especialista descobriu que "em todos eles, sem exceção, receberam cadáveres das câmaras de execução".
Este tema no chamou a atenção pública senão há apenas duas décadas.
O professor Seidelman conta que em 1989 um acadêmico anatomista da Universidade de Tubinga indicou em uma conferência que os espécimes que estavam mostrando eram de trabalhadores escravos poloneses e russos executados durante o Terceiro Reich.
Segundo explicou Seidelman à BBC, "os estudantes estavam comocionados e exigiram uma explicação".
A universidade iniciou uma investigação formal. Todas as mostras anatômicas de "origem incerta ou suspeita" foram sepultadas em uma seção especial do cemitério de Tubinga e em 8 de julho de 1990 foi realizada uma cerimônia comemorativa.
Várias universidades realizaram pesquisas formais sobre a obtenção de corpos durante o auge do nazismo em seus próprios departamentos de anatomia.
Instituições da Áustria estiveram envolvidas.
"A Universidade de Viena teve um bonde fúnebre especial que transportava os cadáveres da sala de execução do tribunal regional para o instituto de anatomia", disse o professor Seidelman.
Eduard Pernkopf, que foi diretor de anatomia entre 1933 e 1945, deixou um legado impresso em um tomo acadêmico de duvidosa fama. Muitas das ilustrações incrivelmente detalhadas do atlas de Pernkopf retratam os corpos de vítimas do terror nazi.
Seidelman disse que os pesquisadores estão ainda em "uma fase muito prematura do processo de revelar as histórias daquelas pessoas que se converteram em 'material experimental'".
"Converteram-se em objetos inanimados", disse.
Hildebrant afirma que este tema ainda projeta uma sombra sobre a ciência anatômica e opina que "a anatomia alemã do pós-guerra foi construída em parte sobre os corpos das vítimas".
"É hora de devolver os nomes aos números, de dar rostos e biografias às vítimas da anatomia do Terceiro Reich para recordar sua humanidade e as injustiças que tiveram que enfrentar", conclui.
Fonte: BBC Mundo (em espanhol)
Título original: Las víctimas olvidadas de la anatomía nazi
http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2013/02/130128_historia_victimas_anatomistas_nazis_np.shtml
Tradução: Roberto Lucena
Victoria Gill. BBC; Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Liane Berkowitz
Liane Berkowitz foi executada pelos nazis e seu corpo foi utilizado para experimentação de cientistas anatomistas. |
Foi presa em 1942 pela Gestapo, a polícia secreta, quando pegava cartazes com mensagens contra a propaganda nazi.
Estava grávida, mas isto só postergou sua execução até depois que desse a luz a seu bebê.
A sombria história de Liane não acabou com sua morte. Seu corpo foi um dos milhares que foram dissecados por anatomistas e utilizados para seus experimentos.
A identidade destas vítimas do horror nazi agora sai a luz graças aos pesquisadores que rastreiam os registros legais para identificar quem acabou nas mesas de trabalho de anatomistas do regime.
Liane foi uma das 182 pessoas cujos cadáveres foram analisados por Hermann Stieve, que naquele momento era um renomado especialista da Universidade de Berlim.
Os nomes completos da chamada "lista de Stieve" – composta principalmente por mulheres – acabam de ser publicados por Sabine Hildebrant, una anatomista alemã que trabalha na Universidade de Michigan.
"O mesmo Stieve elaborou esta lista em 1946", explica a doutora Hildebrant, que levou uma década pesquisando a história da anatomia alemã. O detalhado registro de Stieve com seu macabro trabalho permitiu identificar suas vítimas.
Hildebrant centrou seus esforços para contra as histórias dessas pessoas.
"Queria saber quem eram", disse a pesquisadora consultada pela BBC, "queria que fossem conhecidas outra vez".
Trauma e estresse
Vera Obolensky e Libertas Schulze-Boysen
Muitas das vítimas da lista de Stieve eram mulheres e membros da resistência, como Vera Obolensky e Libertas Schulze-Boysen. |
"Antes de 1933 podia se estudar os cadáveres de homens que haviam sido executados, mas não mulheres, já que a Alemanha não executava mulheres".
"Mas repentinamente, durante o Terceiro Reich, começaram a fazê-lo".
Cerca da metade dessas mulheres, entre elas Liane Berkowitz, foram condenadas a morte acusadas de traição.
Algumas foram denunciadas à Gestapo por outros cidadãos depois de expressar suas ideias políticas contrárias ao nazismo.
William Seidelman, ex-professor de medicina da Universidade de Toronto, Canadá, também dedicou anos à pesquisa dos laços entre a "medicina e o "assassinato" no Terceiro Reich.
Num artigo acadêmico de 1999 publicado em "Dimensions: A Journal of Holocaust Studies", Seidelman revelou alguns detalhes sobre como Stieve trabalhou em estreita colaboração com a prisão berlinense na qual se realizava as execuções.
"Quando uma mulher em idade reprodutiva ia ser executada, informavam a Stieve, escolhia-se uma data e era comunicada à prisioneira quando ela iria morrer", escreveu o professor Seidelman.
"Stieve estava particularmente interessado nos efeitos do estresse e do trauma psicológico nos ciclos menstruais das mulheres condenadas".
Depois da execução, os órgãos pélvicos da mulher eram extraídos para ser examinados. Stieve publicou relatórios baseados nesses estudos sem nenhum remorso ou desculpa", disse Seidelman.
Stieve se referia aos órgãos que analisava como "material". Suas publicações de então foram as primeiras a sugerir que o estresse - encarnado em nada menos que uma sentença de morte - interrompia o ciclo menstrual.
Em sua missão de revelar a vida das pessoas por detrás desse "material", a doutora Hildebrandt revisou os arquivos pessoais das vítimas de Stieve, que são guardados no museu do Monumento à Resistência Alemã de Berlim.
Hildebrant analisou cada arquivo junto a uma cópia da lista de Stieve que é mantida no Ministério de Justiça alemão, e identificou a cada uma das pessoas.
Comprovou os nomes de 174 mulheres e oito homens da lista, as datas exatas de nascimento e óbito, as nacionalidades, as razões de sua execução e qualquer outra informação pessoal que pode encontrar.
Alguns dos arquivos contém cartas que expressam os últimos desejos dos prisioneiros condenados, como os de "se reunir com seus entes queridos na morte", segundo explica a pesquisadora.
Uma dessas cartas era de Libertas Schulze-Boysen, que havia sido membro do partido nazi, mas em 1937 se uniu à resistência alemã e documentou e coletou evidências fotográficas dos crimes do nacional-socialismo.
Libertas foi presa em setembro de 1942 e condenada à morte por traição em dezembro do mesmo ano.
Numa carta para sua mãe, escreveu: "Como último desejo pedi que lhe entreguem minha 'substância material' (restos mortais). Se for possível, enterrem-me em um lugar bonito, ensolarado e rodeado pela natureza".
EXPERIMENTOS NAZIS
De acordo com o historiador médico Paul Weindling, quase 25.000 vítimas dos experimentos científicos nazis foram identificadas.
Weindling disse que houve distintas "fases" desses experimentos". A primeira esteve ligada à eugenia e à esterilização forçada.
A segunda fase coincidiu com o início da guerra. "Os doutores começaram a experimentar com pacientes de hospitais psiquiátricos", escreveu o professor Weindling em uma reportagem à BBC. "Fizeram experimentos esporádicos em campos de concentração como o de Sachsenhausen, próximo de Berlim, e observações antropológicas em Dachau."
A terceira fase começou em 1942, quando a SS (a polícia militar nazi) e o exército alemão tomaram o controle da experimentação científica. Aumentou o número de provas nos quais se inocularam doenças mortais como malária e tifo, esta uma doença epidêmica para milhares de vítimas.
Durante uma quarta fase em 1944-45, explica o doutor Weindling, "os cientistas sabiam que a guerra estava perdida mas continuaram com seus experimentos".
O MACABRO ATLAS DE PERNKOPF
Eduard Pernkopf, diretor de Anatomia da Universidade de Viena entre 1933 e 1945 e membro do Partido Nazi, utilizou cadáveres de prisioneiros executados para seus estudos e registrou isso em seu atlas de anatomia.
As detalhadas ilustrações que ele detinha o fizeram famoso entre os estudantes de anatomia.
Pernkopf trabalhou 18 horas diárias dissecando cadáveres enquanto uma equipe de artistas criava as imagens. Levou mais de vinte anos para terminar seu livro.
Tal como Sabine Hildebrandt escreveu em um artigo de 2006 na publicação Clinical anatomy, este projeto revelou "o traslado de ao menos 1.377 corpos de pessoas executadas no Instituto Anatômico de Viena" durante o Terceiro Reich.
"O possível uso desses cadáveres como modelos não se pode descartar em ao menos metade das quase 800 lâminas do atlas".
História obscura
Hildebrant disse que sua investigação deixou "dolorosamente" em evidência o pouco que interessava então a anatomistas o destino das pessoas cujos corpos estavam dissecando.
Por associação, é uma mancha na pesquisa anatômica alemã.
Dos 31 departamentos de anatomia na Alemanha e nos territórios ocupados entre 1933 e 1945, a especialista descobriu que "em todos eles, sem exceção, receberam cadáveres das câmaras de execução".
Este tema no chamou a atenção pública senão há apenas duas décadas.
O professor Seidelman conta que em 1989 um acadêmico anatomista da Universidade de Tubinga indicou em uma conferência que os espécimes que estavam mostrando eram de trabalhadores escravos poloneses e russos executados durante o Terceiro Reich.
Segundo explicou Seidelman à BBC, "os estudantes estavam comocionados e exigiram uma explicação".
A universidade iniciou uma investigação formal. Todas as mostras anatômicas de "origem incerta ou suspeita" foram sepultadas em uma seção especial do cemitério de Tubinga e em 8 de julho de 1990 foi realizada uma cerimônia comemorativa.
Várias universidades realizaram pesquisas formais sobre a obtenção de corpos durante o auge do nazismo em seus próprios departamentos de anatomia.
Instituições da Áustria estiveram envolvidas.
"A Universidade de Viena teve um bonde fúnebre especial que transportava os cadáveres da sala de execução do tribunal regional para o instituto de anatomia", disse o professor Seidelman.
Eduard Pernkopf, que foi diretor de anatomia entre 1933 e 1945, deixou um legado impresso em um tomo acadêmico de duvidosa fama. Muitas das ilustrações incrivelmente detalhadas do atlas de Pernkopf retratam os corpos de vítimas do terror nazi.
Seidelman disse que os pesquisadores estão ainda em "uma fase muito prematura do processo de revelar as histórias daquelas pessoas que se converteram em 'material experimental'".
"Converteram-se em objetos inanimados", disse.
Hildebrant afirma que este tema ainda projeta uma sombra sobre a ciência anatômica e opina que "a anatomia alemã do pós-guerra foi construída em parte sobre os corpos das vítimas".
"É hora de devolver os nomes aos números, de dar rostos e biografias às vítimas da anatomia do Terceiro Reich para recordar sua humanidade e as injustiças que tiveram que enfrentar", conclui.
Fonte: BBC Mundo (em espanhol)
Título original: Las víctimas olvidadas de la anatomía nazi
http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2013/02/130128_historia_victimas_anatomistas_nazis_np.shtml
Tradução: Roberto Lucena
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quarta-feira, 11 de julho de 2012
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 03
As igrejas alemãs ante Hitler
A igreja alemã na Argentina, Brasil e Chile, junto com as escolas, foi um foco de vida e cultura nas comunidades alemãs. Como na velha pátria, dois terços dos alemães praticavam o protestantismo e um terço o catolicismo. Os sacerdotes católicos estavam subordinados ao bispado local, independentes da igreja do Reich. Mas ao contrário, os pastores luteranos estavam incorporados às igrejas alemãs, e muitos deles foram enviados da Alemanha. Com a alienação da igreja luterana ao Terceiro Reich, as paróquias se subordinaram à central alemã, cujo representante na América Latina foi o Primeiro Pastor Marczynski, em Buenos Aires [58]. Existiam vários sínodos, entre eles o sínodo do Chile com 8 pastores, o de La Plata com 20 pastores, e 3 sínodos no Brasil com 145 pastores no total. Além disso havia comunidades eclesiásticas independentes, como os batistas, e também o sínodo luterano do Missouri (EUA).
Não só se pode falar de uma alienação das igrejas luteranas no Chile, sendo que é necessário explicar que os pastores de fato desempenharam um papel ativo nela. Estes predicaron contra a crítica antinazi na cátedra com argumentos quase religiosos, e elogiaram a reorganização da vida social e nacional da Alemanha [59]. Seis dos oito pastores do sínodo cheleno eram membros do partido; por outro lado, o NSDAP participou das celebrações da igreja luterana com uniforme e bandeiras com suástica [60].
A alienação das igrejas alemãs na Argentina se desenvolveu da mesma maneira que no Chile [61], ainda que os pastores solían ser mais reservados em suas prédicas que seus colegas chilenos. Somente uns poucos foram membros do NSDAP [62], e só depois das pressões da igreja central em Berlim estes se mostraram dispostos a içar a bandeira nazi nos dias festivos [63].
Também no Brasil teve lugar uma alienação organizacional. O partido usou a ajuda financeira do Reich para eliminar pastores politicamente inseguros [64]. Existia, além disso, uma organiazação dos pastores nacional-socialistas que queriam introduzir um fundamento ideologico nazi na igreja alemã do Brasil [65]. Seus críticos recorriam à consabida argumentação segundo a qual surgiriam dificuldades com o governo brasileiro se a igreja estabelecesse vínculos demasiados estreitos com o NSDAP [66].
No começo, os católicos alemães na América Latina saudaram o governo de Hitler. Em fins de 1935, sobretudo depois das perseguições de curas na Alemanha, tomaram uma posição mais crítica frente ao Terceiro Reich. A primeira publicação católica em língua alemã que rechaçou o racismo, o antissemitismo e as agressões políticas e militares do Terceiro Reich foi o Deutscher Sonntagsbote no Chile. No Brasil, o Deutsches Volksblatt seguiu o exemplo do Sonntagsbote a partir de 1938 e não deixou lugar a dúvidas quanto a sua posição antinazi [67].
As associações alemãs e o nazismo
Apesar de que o NSDAP havia assegurado mais de uma vez que não queria conquistar para si a direção das associações, sua política deixou claro que esse era precisamente seu objetivo, o qual provocou diversos conflitos por cargos influentes e de prestígio [68]. O partido no Chile conseguiu concentrar as distintas associações em um 'comitê de colônia', dominado por ele [69]. Sem que isto supusesse ainda a dependência das diferentes associações do NSDAP> Por isso o partido tratou de obter a maioria nas instituições, ordenando a seus membros que se incorporassem a estas [70]. Normalmente o NSDAP não se via obrigado a usar esses métodos. Na maioria dos casos, as associações se alienavam por si mesmas [71]. O partido solicitou as associações que participaram nas festividades nazis e que oferessiam conferência sobre o nacional-socialismo, esperando, assim, difundir a ideologia nazi entre os chilenos de origem alemã.
Na Argentina, a maioria das associações aceitou a ideologia nacional-socialista sem que tivesse que exercer pressões visíveis. Em princípios de 1935, o NSDAP em Buenos Aires organizou protestos contra a obra do teatro antinazista As Raças (Las Razas), de Ferdinand Bruckner. O jornal La Plata Post informou que mais de "160 associações e comunidades alemães" haviam apoiado os protestos [72]. Inclusive o Argentinisches Tageblatt se viu forçado a reconhecer o sucesso absoluto do NSDAP [73]. Só um pequeno número de associações, menos de 10, conseguiram manter sua independência.
Diferentemente do Chile e Argentina, a maioria dos alemães no Brasil viviam dispersos, preferentemente em regiões rurais do sul do país. Este fato complicou consideravelmente o processo de alienação. Muitas associações não estavam ligadas à Alemanha. Enquanto que o NSDAP tinha sucesso em grandes cidades, muitas vezes lhe parecia que as colônias alemães mais isoladas do sul as declarações de lealdade da nova Alemanha cumpriam um falso ritual [74]. Alguns intentos de manipular as eleições de juntas diretivas através do ingresso massivo de membros do NSDAP terminaram em derrota [75]. Os esforços em afiliar várias associações às centrais na Alemanha fracassaram, já que aquelas não queriam se alienar totalmente com a central na Alemanha; para muitos brasileiros de descendência alemã, estes intentos pareciam uma "traição à pátria brasileira" [76].
Conclusões
Antes de 1933, os grupos do NSDAP na América Latina atuaram de acordo com uma tática política inapropriada frente às comunidades alemães, as quais resistiam a que traslandassem para a América Latina as duras lutas políticas da República de Weimar, porque isto ameaçaria a pretendida unidade dos alemães. O Chile foi o único país onde o partido foi aceito, devido a sua hábio e cautelosa propaganda.
Até o ano de 1937, o partido conseguiu alinhar a maioria das instituições alemães na Argentina, Brasil e Chile. Além das associações principais, o NSDAP preocupou-se com as escolas, porque lhe parecia importantes para a instrução ideológica. Neste campo, a alienação conseguida foi quase completa, pois a maioria destas instituições dependia da ajuda pecuniária e de pessoal docente do Reich. Somente em Buenos Aires se fundou uma escola que não aceitava o ensino nazista. No Brasil fracassou o intento de influir diretamente nas escolas, e não por rechaço da ideologia e política nazi, senão pela necessidade de aclamar as tendências nacionalistas das autoridades brasileiras [77].
A igreja alemã havia influído sempre no pensamento das comunidades, sobretudo nas regiões rurais. Os pastores luteranos, pertencentes à central na Alemanha não se limitaram à condução espiritual, senão que, desde o púlpito, justificaram e glorificaram a ideologia e política do Terceiro Reich. Por outro lado, a Igreja Católica não se pôs a serviço do nacional-socialismo, ainda que tenha saudado a renovação da Alemanha, nunca adotou ou propago a ideologia nazi [78]. Em meados dos anos trinta, a igreja católica alemã no Brasil começou a se distanciar de forma crescente do nazismo e se uniu aos poucos críticos dentro das comunidades alemães.
Ao alinhar as inumeráveis associações, o NSDAP teve grande sucesso no Chile, enquanto que na Argentina e no Brasil não foi capaz de organizar a comunidade alemã no mesmo nível, apesar de que contava com a benevolência das associações. A disposição cultural e ideológica da população alemã na América Latina facilitou a penetração nazista: todavia se sentiam parte do povo alemão por questões culturais, 'raciais' e de língua, o que havia provocado seu isolamento da população de origem hispânica e portuguesa. Em um terreno fértil como esse, a ideologia nazi podia prosperar. A ideia de manter puro o sangue alemão, que existia desde muito tempo, manifestou-se - por exemplo no Chile e no Brasil - em numerosas exigências de não se casar com não-alemães. O nacional-socialismo fez uso deste pensamento endogámico e o converteu em uma finalidade em si.
O antissemitismo nazi foi aceito até certo ponto, menos em um sentido estritamente 'racial', que como um 'argumento político' que se podia usar contra as supostas intenções dos judeus de 'dominar o mundo'. Em meados dos anos trinta, esta propaganda nazista tornou possível a colaboração dos nazis alemães com grupos de extrema-direita na América Latina contra a imigração de judeus para Argentina, Brasil e Chile [79].
Até meador dos trinta, as manifestações do NSDAP, sua atuação e seu desempenho político nos países referidos não eram de interesse das autoridades nacionais, nem equer quando a influência nazi se extendia aos chilenos, argentinos e brasileiros de origem alemã. No Chile, o governo de Alessandri mantinha as tradicionais boas relações com a Alemanha. O NSDAP podia atuar sem restrições das autoridades chilenas. Somente havia conflitos com a DJC, que francamente pretendia impedir a assimilação da juventude de origem alemã na pátria chilena [80]. Com o aumento do Movimento Nacional-Socialista do Chile (MNS) em meados dos anos trinta, despertou-se a suspeita de que este recebia ajuda do Terceiro Reich, o qual nunca se pode comprovar [81]. Nem sequer a ascensão ao poder da Frente Popular piorou as relações com a Alemanha, pois, entre seus dirigentes, havia velhos amigos desse país, como Carlos Ibáñez del Campo.
Também na Argentina houve uma certa indiferença quanto à atuação do NSDAP. A partir de 1934 o Terceiro Reich desenvolveu um intercâmbio comercial intensivo, tomando dos EUA do segundo lugar na balança comercial argentina. Contrariamente, grupos democráticos e de esquerda argentinos começaram a criticar as atividades do NSDAP. A Câmara de Deputados constituiu diversas 'comissões investigadoras das atividades antiargentinas'. A polícia vigiava o partido desde 1937 [82] e, apesar de uma comissão ter absolvido o partido do cargo de que a Alemanha tentou anexar o sul do país, o NSDAP teve que se dissolver em 1939 [83].
Ainda que o Brasil tivesse o mesmo interesse em manter boas relações econômicas, sua política frente a atuação do NSDAP foi mais restritiva. Devido à política de unidade nacional brasileira iniciada em 1930, a independência cultural dos brasileiros de origem estrangeira foi reprimida quase que por completo, e por conseguinte também o trabalho do NSDAP. O governo limitou as atividades das associações e exigiu uma adesão manifesta à pátria brasileira [84].
Com a proibição do partido no Brasil, em abril de 1938, mudaram também as condições na Argentina e no Chile. Os membros do NSDAP deviam se retirar das direções das instituições alemãs, e suas ações foram vigiadas pelas autoridades.
Ao começar a Segunda Guerra Mundial, os alemães se solidarizaram com o Terceiro Reich. Publicaram jornais em espanhol e português em defesa da propaganda hostil e buscaram a colaboração com grupos de direita, sobretudo militares da reserva e da ativa que conheciam e admiravam o sistema militar alemão [85]. Com a entrada na guerra dos Estados Unidos, e pouco depois do Brasil, a situação piorou. Os Aliados exigiram ações contra a chamada 'Quinta Coluna', quer dizer, uma vigilância mais forte dos alemães em geral. O NSDAP no Chile se dissolveu em fevereiro de 1942 e, em início de 1943 o Chile rompeu relações diplomáticas com a Alemanha.
Com o golpe de estado em 1943, a situação dos alemães na Argentina melhorou. Contugo, a Argentina teve de romper relações com o Terceiro Reich em janeiro de 1944 devido a pressões norte-americanas e britâncias.
Só um punhado de instituições alemãs sobreviveu ao fim da guerra sem maior dano. O NSDAP e seu Führer - que havia pretendido dominar a tudo e a todos - desacreditaram o nome alemão de tal modo que nunca mais se podia reestabelecer uma vida comum, social e cultural tão variada como a que havia existido durante mais de um século. Mas tampouco se pode absolver os alemães da Argentina, Brasil e Chile - tanto cúmplices como vítimas do sistema hitlerista - de uma certa culpa em seu próprio destino.
NOTAS
[58] Marczynski entrou no partido em maio de 1934. US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina.
[59] Der Missionsbote, 9/33, p. 12, 10/33, p. 6; Deutsch- Evangelisch in Chile, 3/34, p. 42, 3/37, pp. 39 e ss.
[60] WestkÜsten-Beobachter, 5.9.35, pp. 72 y ss.; Deutsche Monatshefte für Chile, 10/36, p. 1489.
[61] Evangelisches Gemeindeblatt, 15.5.34, p. 115, 1.10.34, p. 235.
[62] US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina; trata-se de seis dos vinte pastores do sínodo.
[63] MRE, Actas de la embajada alemana en Buenos Aires, punto 24, Flaggenfragen, embajada alemana en Buenos Aires al MRE, 4.12.35; ídem., Marczynski, Reglas para embanderar las iglesias de las parroquias protestantes en Argentina, 30.3.36.
[64] Evangelisches Zentralarchiv, Berlin (archivoquivo central da igreja protestante, daqui em diante EZA), 5/2487, direção da AO a Kirchliches Au6enamt, 22.9.37.
[65] Idem., 5/2264, Relatório sobre a situação atual do sínodo riograndense alemão, 9/34; Deutsche Evangelische BlÜtter für Brasilien, 3-5/34, p. 53; Hans-JÜrgen Prien, "Die 'Deutsch- Evangelische' Kirche in Brasilien im Spannungsbogen van nationaler Wende (1933) und Kirchenkampf", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesel1schaft Lateinamer- ikas, 25 (1988), pp. 511-534.
[66] EZA, 5/2055, Relatório sobre a conferência dos dirigentes da igreja alemã na América Latina, Santos, 11-14 julio 1935.
[67] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 464 e ss.
[68] EZA, 7/2759, Suplemento ao relatório anual da paróquia de Valparaíso, março 1934; idem., 5/2730, Pastor Otto Brien à igreja alemã no Reich, 31.12.33.
[69] MRE, Pol. Abt. III, Legación alemã em Santiago ao MRE, 7.2.35.
[70] Por exemplo, 70 membros do NSDAP ingressaram na Deutscher Verein, a associação mais importante de Santiago. Mitteilungsblatt der NSDAP - Landesgruppe Chile, 31.5.34, p. 23.
[71] Deutsche Zeitung fÜr Chile, 27.4.33, p. 5, 26.5.33, p. 5.
[72] La Plata Post, 10.1.35, pp. 12 e ss.
[73] Argentinisches Tageblatt, 30.1.35, p. 3.
[74] Deutscher Margen, 27.4.32, pp. 9 e ss.; Der Nationalsozialist, 8/33, pp. 8 e ss.
[75] Aktion, 17.7.35, p. 2.
[76] Die Serra-Post, 14.9.37, p. 1; Der Turnerbote, 8/37, p. 3; Alarm, 15.2.37, p. 15.
[77] A este respeito, ver César Augusto de Paiva, Die deutschsprachigen Schulen in Rio Grande do Sul und die Nationalisierungspolitik, Hamburg 1984.
[78] De Curitiba, o consul alemão informou que o Terceiro Reich não podia esperar um trabalho nazista dos padres alemães no Brasil, mas que sempre se podia contar com sua participação nas festividades nacionais e nacional-socialistas. A oposição dos franciscanos ao nazismo não excedia à crítica 'normal' do campo católico. MRE, R 62194, consulado alemão em Curitiba ao MRE, 9.5.35.
[79] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., pp. 257 y ss.
[80] No Chile, a DJC foi proibida por três meses na região de Valdivia, em setembro de 1937, por haver feito propaganda política. MRE, Pol IX, Pol Chile 2, consulado alemão em Valdivia à embaixada alemã em Santiago, 15.9.37; idem., 4.12.37.
[81] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit. (1994).
[82] Em Missões, Argentina, a polícia prendeu no mesmo ano uma casa do partido, porque argentinos de origem alemã haviam participado de reuniões políticas. MRE, R 104923, chefe do ponto de apoio em Eldorado ao chefe do NSDAP, 15.9.37; idem., embaixada alemã em Buenos Aires ao MRE, 13.10.37.
[83] Leslie B. Rout/John F. Bratzel, "Heinrich JÜrges and the Cult of Disinformation", The International History Review, 4 (nov. 1984), pp. 611-623.
[84] No Estado Novo do presidente Getúlio Vargas não havia lugar para partidos políticos. O NSDAP no Brasil foi proibido cinco meses depois de todos os partidos brasileiros. A partir de 1935, no Rio Grande do Sul e mais tarde em Santa Catarina e Paraná, as associações, escolas e publicações alemãs tinham que provar seu 'caráter brasileiro', quer dizer, seus diretores deviam ser cidadãos brasileiros nascidos no país. Nas escolas, o uso do português era obrigatório, e os diários em língua alemã tinham que publicar o editorial no idioma português. Ver Káte Harms-Baltzer, Die Nationalisierung der deutschen Einwanderer und ihrer Nachkommen in Brasilien als Problem der deutsch-brasilianischen Beziehungen 1930-1938, Berlin 1970, pp. 42 e ss.; René Ernaíni Gertz, Politische Auswirkungen der deutschen Einwanderung in SÜdbrasilien. Die Deutschstdmmigen und die Jaschistischen Stdmungen in den 30er Jahren, Berlim 1980, pp. 85 e ss. Em agosto de 1941, a imprensa de língua alemã morreu. O orgão do NSDAP em São Paulo, o Deutscher Morgen - agora sob o título de Aurora Allemd, escrito completamente en português - foi suspenso em dezembro de 1941, o último dos jornais de origem alemã. Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., p. 396.
[85] Ver, a este respeito, Juergen Schaefer, Deutsche Militdrhilfe an Sildamerika. Militdr - und Rüstungsinteressen in Argentinien, Bolivien und Chile vor 1914, Düsseldorf 1974; Robert A. Potash, The Army and Politics in Argentina 1928-1945. Yrigoyen to Perón, Stanford 1969; Patricio Quiroga Zamora/Carlos Maldonado Prieto, El Prusianismo en las Fuerzas Armadas chilenas. Un estudio histórico 1885-1945, Santiago de Chile 1988.
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Ver Parte 01 e Parte 02.
A igreja alemã na Argentina, Brasil e Chile, junto com as escolas, foi um foco de vida e cultura nas comunidades alemãs. Como na velha pátria, dois terços dos alemães praticavam o protestantismo e um terço o catolicismo. Os sacerdotes católicos estavam subordinados ao bispado local, independentes da igreja do Reich. Mas ao contrário, os pastores luteranos estavam incorporados às igrejas alemãs, e muitos deles foram enviados da Alemanha. Com a alienação da igreja luterana ao Terceiro Reich, as paróquias se subordinaram à central alemã, cujo representante na América Latina foi o Primeiro Pastor Marczynski, em Buenos Aires [58]. Existiam vários sínodos, entre eles o sínodo do Chile com 8 pastores, o de La Plata com 20 pastores, e 3 sínodos no Brasil com 145 pastores no total. Além disso havia comunidades eclesiásticas independentes, como os batistas, e também o sínodo luterano do Missouri (EUA).
Não só se pode falar de uma alienação das igrejas luteranas no Chile, sendo que é necessário explicar que os pastores de fato desempenharam um papel ativo nela. Estes predicaron contra a crítica antinazi na cátedra com argumentos quase religiosos, e elogiaram a reorganização da vida social e nacional da Alemanha [59]. Seis dos oito pastores do sínodo cheleno eram membros do partido; por outro lado, o NSDAP participou das celebrações da igreja luterana com uniforme e bandeiras com suástica [60].
A alienação das igrejas alemãs na Argentina se desenvolveu da mesma maneira que no Chile [61], ainda que os pastores solían ser mais reservados em suas prédicas que seus colegas chilenos. Somente uns poucos foram membros do NSDAP [62], e só depois das pressões da igreja central em Berlim estes se mostraram dispostos a içar a bandeira nazi nos dias festivos [63].
Também no Brasil teve lugar uma alienação organizacional. O partido usou a ajuda financeira do Reich para eliminar pastores politicamente inseguros [64]. Existia, além disso, uma organiazação dos pastores nacional-socialistas que queriam introduzir um fundamento ideologico nazi na igreja alemã do Brasil [65]. Seus críticos recorriam à consabida argumentação segundo a qual surgiriam dificuldades com o governo brasileiro se a igreja estabelecesse vínculos demasiados estreitos com o NSDAP [66].
No começo, os católicos alemães na América Latina saudaram o governo de Hitler. Em fins de 1935, sobretudo depois das perseguições de curas na Alemanha, tomaram uma posição mais crítica frente ao Terceiro Reich. A primeira publicação católica em língua alemã que rechaçou o racismo, o antissemitismo e as agressões políticas e militares do Terceiro Reich foi o Deutscher Sonntagsbote no Chile. No Brasil, o Deutsches Volksblatt seguiu o exemplo do Sonntagsbote a partir de 1938 e não deixou lugar a dúvidas quanto a sua posição antinazi [67].
As associações alemãs e o nazismo
Apesar de que o NSDAP havia assegurado mais de uma vez que não queria conquistar para si a direção das associações, sua política deixou claro que esse era precisamente seu objetivo, o qual provocou diversos conflitos por cargos influentes e de prestígio [68]. O partido no Chile conseguiu concentrar as distintas associações em um 'comitê de colônia', dominado por ele [69]. Sem que isto supusesse ainda a dependência das diferentes associações do NSDAP> Por isso o partido tratou de obter a maioria nas instituições, ordenando a seus membros que se incorporassem a estas [70]. Normalmente o NSDAP não se via obrigado a usar esses métodos. Na maioria dos casos, as associações se alienavam por si mesmas [71]. O partido solicitou as associações que participaram nas festividades nazis e que oferessiam conferência sobre o nacional-socialismo, esperando, assim, difundir a ideologia nazi entre os chilenos de origem alemã.
Na Argentina, a maioria das associações aceitou a ideologia nacional-socialista sem que tivesse que exercer pressões visíveis. Em princípios de 1935, o NSDAP em Buenos Aires organizou protestos contra a obra do teatro antinazista As Raças (Las Razas), de Ferdinand Bruckner. O jornal La Plata Post informou que mais de "160 associações e comunidades alemães" haviam apoiado os protestos [72]. Inclusive o Argentinisches Tageblatt se viu forçado a reconhecer o sucesso absoluto do NSDAP [73]. Só um pequeno número de associações, menos de 10, conseguiram manter sua independência.
Diferentemente do Chile e Argentina, a maioria dos alemães no Brasil viviam dispersos, preferentemente em regiões rurais do sul do país. Este fato complicou consideravelmente o processo de alienação. Muitas associações não estavam ligadas à Alemanha. Enquanto que o NSDAP tinha sucesso em grandes cidades, muitas vezes lhe parecia que as colônias alemães mais isoladas do sul as declarações de lealdade da nova Alemanha cumpriam um falso ritual [74]. Alguns intentos de manipular as eleições de juntas diretivas através do ingresso massivo de membros do NSDAP terminaram em derrota [75]. Os esforços em afiliar várias associações às centrais na Alemanha fracassaram, já que aquelas não queriam se alienar totalmente com a central na Alemanha; para muitos brasileiros de descendência alemã, estes intentos pareciam uma "traição à pátria brasileira" [76].
Conclusões
Antes de 1933, os grupos do NSDAP na América Latina atuaram de acordo com uma tática política inapropriada frente às comunidades alemães, as quais resistiam a que traslandassem para a América Latina as duras lutas políticas da República de Weimar, porque isto ameaçaria a pretendida unidade dos alemães. O Chile foi o único país onde o partido foi aceito, devido a sua hábio e cautelosa propaganda.
Até o ano de 1937, o partido conseguiu alinhar a maioria das instituições alemães na Argentina, Brasil e Chile. Além das associações principais, o NSDAP preocupou-se com as escolas, porque lhe parecia importantes para a instrução ideológica. Neste campo, a alienação conseguida foi quase completa, pois a maioria destas instituições dependia da ajuda pecuniária e de pessoal docente do Reich. Somente em Buenos Aires se fundou uma escola que não aceitava o ensino nazista. No Brasil fracassou o intento de influir diretamente nas escolas, e não por rechaço da ideologia e política nazi, senão pela necessidade de aclamar as tendências nacionalistas das autoridades brasileiras [77].
A igreja alemã havia influído sempre no pensamento das comunidades, sobretudo nas regiões rurais. Os pastores luteranos, pertencentes à central na Alemanha não se limitaram à condução espiritual, senão que, desde o púlpito, justificaram e glorificaram a ideologia e política do Terceiro Reich. Por outro lado, a Igreja Católica não se pôs a serviço do nacional-socialismo, ainda que tenha saudado a renovação da Alemanha, nunca adotou ou propago a ideologia nazi [78]. Em meados dos anos trinta, a igreja católica alemã no Brasil começou a se distanciar de forma crescente do nazismo e se uniu aos poucos críticos dentro das comunidades alemães.
Ao alinhar as inumeráveis associações, o NSDAP teve grande sucesso no Chile, enquanto que na Argentina e no Brasil não foi capaz de organizar a comunidade alemã no mesmo nível, apesar de que contava com a benevolência das associações. A disposição cultural e ideológica da população alemã na América Latina facilitou a penetração nazista: todavia se sentiam parte do povo alemão por questões culturais, 'raciais' e de língua, o que havia provocado seu isolamento da população de origem hispânica e portuguesa. Em um terreno fértil como esse, a ideologia nazi podia prosperar. A ideia de manter puro o sangue alemão, que existia desde muito tempo, manifestou-se - por exemplo no Chile e no Brasil - em numerosas exigências de não se casar com não-alemães. O nacional-socialismo fez uso deste pensamento endogámico e o converteu em uma finalidade em si.
O antissemitismo nazi foi aceito até certo ponto, menos em um sentido estritamente 'racial', que como um 'argumento político' que se podia usar contra as supostas intenções dos judeus de 'dominar o mundo'. Em meados dos anos trinta, esta propaganda nazista tornou possível a colaboração dos nazis alemães com grupos de extrema-direita na América Latina contra a imigração de judeus para Argentina, Brasil e Chile [79].
Até meador dos trinta, as manifestações do NSDAP, sua atuação e seu desempenho político nos países referidos não eram de interesse das autoridades nacionais, nem equer quando a influência nazi se extendia aos chilenos, argentinos e brasileiros de origem alemã. No Chile, o governo de Alessandri mantinha as tradicionais boas relações com a Alemanha. O NSDAP podia atuar sem restrições das autoridades chilenas. Somente havia conflitos com a DJC, que francamente pretendia impedir a assimilação da juventude de origem alemã na pátria chilena [80]. Com o aumento do Movimento Nacional-Socialista do Chile (MNS) em meados dos anos trinta, despertou-se a suspeita de que este recebia ajuda do Terceiro Reich, o qual nunca se pode comprovar [81]. Nem sequer a ascensão ao poder da Frente Popular piorou as relações com a Alemanha, pois, entre seus dirigentes, havia velhos amigos desse país, como Carlos Ibáñez del Campo.
Também na Argentina houve uma certa indiferença quanto à atuação do NSDAP. A partir de 1934 o Terceiro Reich desenvolveu um intercâmbio comercial intensivo, tomando dos EUA do segundo lugar na balança comercial argentina. Contrariamente, grupos democráticos e de esquerda argentinos começaram a criticar as atividades do NSDAP. A Câmara de Deputados constituiu diversas 'comissões investigadoras das atividades antiargentinas'. A polícia vigiava o partido desde 1937 [82] e, apesar de uma comissão ter absolvido o partido do cargo de que a Alemanha tentou anexar o sul do país, o NSDAP teve que se dissolver em 1939 [83].
Ainda que o Brasil tivesse o mesmo interesse em manter boas relações econômicas, sua política frente a atuação do NSDAP foi mais restritiva. Devido à política de unidade nacional brasileira iniciada em 1930, a independência cultural dos brasileiros de origem estrangeira foi reprimida quase que por completo, e por conseguinte também o trabalho do NSDAP. O governo limitou as atividades das associações e exigiu uma adesão manifesta à pátria brasileira [84].
Com a proibição do partido no Brasil, em abril de 1938, mudaram também as condições na Argentina e no Chile. Os membros do NSDAP deviam se retirar das direções das instituições alemãs, e suas ações foram vigiadas pelas autoridades.
Ao começar a Segunda Guerra Mundial, os alemães se solidarizaram com o Terceiro Reich. Publicaram jornais em espanhol e português em defesa da propaganda hostil e buscaram a colaboração com grupos de direita, sobretudo militares da reserva e da ativa que conheciam e admiravam o sistema militar alemão [85]. Com a entrada na guerra dos Estados Unidos, e pouco depois do Brasil, a situação piorou. Os Aliados exigiram ações contra a chamada 'Quinta Coluna', quer dizer, uma vigilância mais forte dos alemães em geral. O NSDAP no Chile se dissolveu em fevereiro de 1942 e, em início de 1943 o Chile rompeu relações diplomáticas com a Alemanha.
Com o golpe de estado em 1943, a situação dos alemães na Argentina melhorou. Contugo, a Argentina teve de romper relações com o Terceiro Reich em janeiro de 1944 devido a pressões norte-americanas e britâncias.
Só um punhado de instituições alemãs sobreviveu ao fim da guerra sem maior dano. O NSDAP e seu Führer - que havia pretendido dominar a tudo e a todos - desacreditaram o nome alemão de tal modo que nunca mais se podia reestabelecer uma vida comum, social e cultural tão variada como a que havia existido durante mais de um século. Mas tampouco se pode absolver os alemães da Argentina, Brasil e Chile - tanto cúmplices como vítimas do sistema hitlerista - de uma certa culpa em seu próprio destino.
NOTAS
[58] Marczynski entrou no partido em maio de 1934. US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina.
[59] Der Missionsbote, 9/33, p. 12, 10/33, p. 6; Deutsch- Evangelisch in Chile, 3/34, p. 42, 3/37, pp. 39 e ss.
[60] WestkÜsten-Beobachter, 5.9.35, pp. 72 y ss.; Deutsche Monatshefte für Chile, 10/36, p. 1489.
[61] Evangelisches Gemeindeblatt, 15.5.34, p. 115, 1.10.34, p. 235.
[62] US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina; trata-se de seis dos vinte pastores do sínodo.
[63] MRE, Actas de la embajada alemana en Buenos Aires, punto 24, Flaggenfragen, embajada alemana en Buenos Aires al MRE, 4.12.35; ídem., Marczynski, Reglas para embanderar las iglesias de las parroquias protestantes en Argentina, 30.3.36.
[64] Evangelisches Zentralarchiv, Berlin (archivoquivo central da igreja protestante, daqui em diante EZA), 5/2487, direção da AO a Kirchliches Au6enamt, 22.9.37.
[65] Idem., 5/2264, Relatório sobre a situação atual do sínodo riograndense alemão, 9/34; Deutsche Evangelische BlÜtter für Brasilien, 3-5/34, p. 53; Hans-JÜrgen Prien, "Die 'Deutsch- Evangelische' Kirche in Brasilien im Spannungsbogen van nationaler Wende (1933) und Kirchenkampf", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesel1schaft Lateinamer- ikas, 25 (1988), pp. 511-534.
[66] EZA, 5/2055, Relatório sobre a conferência dos dirigentes da igreja alemã na América Latina, Santos, 11-14 julio 1935.
[67] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 464 e ss.
[68] EZA, 7/2759, Suplemento ao relatório anual da paróquia de Valparaíso, março 1934; idem., 5/2730, Pastor Otto Brien à igreja alemã no Reich, 31.12.33.
[69] MRE, Pol. Abt. III, Legación alemã em Santiago ao MRE, 7.2.35.
[70] Por exemplo, 70 membros do NSDAP ingressaram na Deutscher Verein, a associação mais importante de Santiago. Mitteilungsblatt der NSDAP - Landesgruppe Chile, 31.5.34, p. 23.
[71] Deutsche Zeitung fÜr Chile, 27.4.33, p. 5, 26.5.33, p. 5.
[72] La Plata Post, 10.1.35, pp. 12 e ss.
[73] Argentinisches Tageblatt, 30.1.35, p. 3.
[74] Deutscher Margen, 27.4.32, pp. 9 e ss.; Der Nationalsozialist, 8/33, pp. 8 e ss.
[75] Aktion, 17.7.35, p. 2.
[76] Die Serra-Post, 14.9.37, p. 1; Der Turnerbote, 8/37, p. 3; Alarm, 15.2.37, p. 15.
[77] A este respeito, ver César Augusto de Paiva, Die deutschsprachigen Schulen in Rio Grande do Sul und die Nationalisierungspolitik, Hamburg 1984.
[78] De Curitiba, o consul alemão informou que o Terceiro Reich não podia esperar um trabalho nazista dos padres alemães no Brasil, mas que sempre se podia contar com sua participação nas festividades nacionais e nacional-socialistas. A oposição dos franciscanos ao nazismo não excedia à crítica 'normal' do campo católico. MRE, R 62194, consulado alemão em Curitiba ao MRE, 9.5.35.
[79] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., pp. 257 y ss.
[80] No Chile, a DJC foi proibida por três meses na região de Valdivia, em setembro de 1937, por haver feito propaganda política. MRE, Pol IX, Pol Chile 2, consulado alemão em Valdivia à embaixada alemã em Santiago, 15.9.37; idem., 4.12.37.
[81] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit. (1994).
[82] Em Missões, Argentina, a polícia prendeu no mesmo ano uma casa do partido, porque argentinos de origem alemã haviam participado de reuniões políticas. MRE, R 104923, chefe do ponto de apoio em Eldorado ao chefe do NSDAP, 15.9.37; idem., embaixada alemã em Buenos Aires ao MRE, 13.10.37.
[83] Leslie B. Rout/John F. Bratzel, "Heinrich JÜrges and the Cult of Disinformation", The International History Review, 4 (nov. 1984), pp. 611-623.
[84] No Estado Novo do presidente Getúlio Vargas não havia lugar para partidos políticos. O NSDAP no Brasil foi proibido cinco meses depois de todos os partidos brasileiros. A partir de 1935, no Rio Grande do Sul e mais tarde em Santa Catarina e Paraná, as associações, escolas e publicações alemãs tinham que provar seu 'caráter brasileiro', quer dizer, seus diretores deviam ser cidadãos brasileiros nascidos no país. Nas escolas, o uso do português era obrigatório, e os diários em língua alemã tinham que publicar o editorial no idioma português. Ver Káte Harms-Baltzer, Die Nationalisierung der deutschen Einwanderer und ihrer Nachkommen in Brasilien als Problem der deutsch-brasilianischen Beziehungen 1930-1938, Berlin 1970, pp. 42 e ss.; René Ernaíni Gertz, Politische Auswirkungen der deutschen Einwanderung in SÜdbrasilien. Die Deutschstdmmigen und die Jaschistischen Stdmungen in den 30er Jahren, Berlim 1980, pp. 85 e ss. Em agosto de 1941, a imprensa de língua alemã morreu. O orgão do NSDAP em São Paulo, o Deutscher Morgen - agora sob o título de Aurora Allemd, escrito completamente en português - foi suspenso em dezembro de 1941, o último dos jornais de origem alemã. Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., p. 396.
[85] Ver, a este respeito, Juergen Schaefer, Deutsche Militdrhilfe an Sildamerika. Militdr - und Rüstungsinteressen in Argentinien, Bolivien und Chile vor 1914, Düsseldorf 1974; Robert A. Potash, The Army and Politics in Argentina 1928-1945. Yrigoyen to Perón, Stanford 1969; Patricio Quiroga Zamora/Carlos Maldonado Prieto, El Prusianismo en las Fuerzas Armadas chilenas. Un estudio histórico 1885-1945, Santiago de Chile 1988.
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Ver Parte 01 e Parte 02.
domingo, 24 de junho de 2012
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 02
O NSDAP e o processo de alienação das comunidades alemãs
A partir de então, a tarefa mais importante do partido foi a total alienação ideológica das comunidades alemãs, sobretudo de suas associações, tal como havia declarado em maio, e mais uma vez em outubro de 1933, o chefe da Organização de Assuntos do Exterior do NSDAP (Auslandsor - ganisation, AO), Bohle [16]. Primeiramente, a AO queria penetrar nas organizações principais, quer dizer, na Liga Chileno-Alemã (Deutsch- Chilenischer Bund, DCB) e na Associação Alemã da Argentina (Deutscher Volksbund für Argentinien, DVfA) [17]. A AO confirmou:
"As escolas alemãs e as paróquias luteranas e católicas são o ponto de partida mais adequado para extender nossa ideologia nacional-socialista. Se pudermos realizar um trabalho cultural neste sentido, isto seria melhor que a simples alienação de associações. A colaboração com estas instituições é o dever absoluto de todos os membros do partido no exterior".
As associações tinham diferentes relações com a Alemanha. Algumas eram sociedades afiliadas, outras cooperavam com as associações principais no Reich, e muitas se mantinham independentes; mas todas elas se sentiam comprometidas com os 'valores alemães tradicionais' do passado. Os grupos do NSDAP no exterior exigiam de seus membros que participassem ativamente na vida dos círculos alemães, o que significava, por último, na infiltração destes. Além disso, muitas associações recebiam ajuda financeira e pessoal do Reich, sobretudo as escolas. A partir de 1933 chegaram à América Latina professores que, basicamente, eram membros do NSDAP.
O NSDAP e as associações principais
O grupo chileno do NSDAP encontrou resistência a princípio quando tratou de instalar um de seus membros como gerente da Deutsch-Chilenischer Bund, DCB. A DCB, a organização de chilenos de origem alemã, argumentou que, desta maneira, estaria tomando uma posição política [19]. Em fins de 1933, depois de outros conflitos, o chefe de propaganda do NSDAP no Chile reclamou por uma atitude clara da DCB e pediu que se adotasse por completo o nacional-socialismo [2]. Pela última vez a DCB rechaçou esta exigência e toda atuação política [21]. Pouco tempo depois, contudo, foi castigada com a eliminação de toda ajuda financeira do Reich, o que lhes obrigou a funcionar então com um grande déficit [22].
A Legación alemã também tentou influir sobre a DCB [23]. A pressão foi tão grande que o diretor da DCB teve que renunciar no início de março de 1935, segundo ele, por "intrigas nazistas" [24]. Depois de outros conflitos, assumiu este cargo um membro do NSDAP. Agora que a DCB aderiu à nova Alemanha, ele manifestou sua disposição em colaborar com o partido e começar a propagar o nacional-socialismo em suas publicações [25]. Em fins de 1935, a DCB havia perdido sua independência. Um ano mais tarde, em outubro de 1936, a AO caracterizou a colaboração com a DCB como "a melhor que se poderia imaginar" [26]. A fim de assegurar sua influência, a AO exigiu que "a eleição de diretor da DCB estivesse de acordo com o partido" e que "em todo caso fosse um homem orientado totalmente de acordo com a nova Alemanha" [27]. O ministério de Relações Exteriores alemão (Auswdr- tige Amt, AA) apoiou as exigências do NSDAP [28].
A DVFA na Argentina tinha a responsabilidade de se ocupar das escolas alemãs, apesar dos conflitos políticos e sociais [29]. Uma vez superados diversos conflitos pessoais, a DVFA rapidamente se mostrou disposta a se alienar com o Terceiro Reich. Por exemplo, organizou uns protestos de todas as associações alemãs contra a crítica da esquerda, especialmente contra os ataques do Argentinisches Tageblatt ao governo de Hitler. Ao diretor da DVfA, Martin Arndt, o partido lhe reprochó que não quisesse uma alienação nazista, por medo de causar conflitos internos na comunidade alemã [30]. Arndt se viu obrigado a renunciar [31]. O novo diretor, Wilhelm Róhmer, pediu a colaboração do partido e o ingresso de seus membros nos grupos da DVfA32. Em consequência disso, a DVFA perdeu um terço dos seus membros e só em 1937 pode recuperar o nível de membros com o qual contava em 1934 [33].
A cooptação das escolas e juventude das comunidades alemãs
O sistema educativo alemão na América Latina era muito bem avaliado. A grande maioria dos alunos era de origem alemã. Em meados dos anos trinta havia no Chile 52 escolas alemãs com mais de 5.000 alunos [34], na Argentina 203 com 15.000 alunos, e no Brasil 1.800 com cerca de 60.000 alunos[35]. Muitos dos professores eram emissários de escolas na Alemanha [36], e uma grande parte dos gastos era financiado pelo Reich. Em determinado momento, 96 dos 500 professores alemães no Chile pertenciam ao partido [37]. A alienação dos professores se levou a cabo sem dificuldades e já estava consumada em 1934. Por exemplo, o círculo de professores em Santiago solicitou sua incorporação na NSLB (Associação Nacional-Socialista de Professores), seguida pouco depois pela associação central [38]. Os professores chileno-alemães deviam permanecer na organização original, mas seu diretor era sempre o chefe da NSLB39. Consequentemente, os programas de ensino foram reorganizados segundo o modelo alemão [40].
As escolas alemãs na Argentina foram objeto de luta política entre nazis e antinazis alemães. Frente à alienação nazista, Ernesto Alemann, o editor do Argentinisches Tageblatt, propôs a fundação de uma escola independente [41]. A escola 'Pestalozzi' foi inaugurada no início de março de 1934. Excetuando a escola 'Cangallo' [42], todas as demais se submeteram neste tempo à influência nacional-socialsta. Em razão da ajuda financeira, as escolas alemã-argentinas aceitaram programas de ensino nazi [43].
O partido no Brasil teve que fazer mais concessões que os grupos nazis na Argentina e Chile, devido as experiências vividas na Primeira Guerra Mundial, quando em 1917 a administração brasileira fechou as escolas alemãs. Os responsáveis queriam salvar o sistema escolar tradicional, tanto brasileiro como o alemão [44]. O NSDAP no Brasil atuou discretamente, permitiu conservar a organização anterior e deixou que os professores decidissem livremente se eles se uniriam à NSLB [45]. Não obstante, era obrigatória, pelo menos as associações principais, a colaboração com a NSLB [46]. Também foi concedido ao NSDAP o direito de participar das sessões de várias organizações que se incorporaram à associação principal [47], contanto que na classe se lesse Minha Luta de Hitler e se tratasse do 'problema racial' [48].
Contudo, uma alienação tão completa como na Argentina e no Chile não foi possível ser feito no Brasil. O partido teria que levar em conta o temor dos brasileiros de descendência alemã, que haviam sofrido com o clima de crecentes tendências nacionalistas do governo brasileiro e que não queriam ser rotulados como suspeitos de deslealdade com o Estado [49].
Junto às escolas, a juventude foi o outro campo no qual o partido concentrou seus esforços para pôr em prática uma educação nacional-socialista, a fim de que os jovens não perdessem os laços com sua origem alemã [50]. Ainda antes de 1933, já existia no Chile uma organização juvenil orientada para o nazismo, a Deutsche Jugendbund für Chile (Liga Juvenil Alemã do Chile, DJC)51. Fundada em1931 por Karl Roth e Adolf Schwarzenberg[52], a Jugendbund perseguu fins eugênicos e "a doutrinação no sentido do movimento de Hitler' [53]. Sua propaganda estava determinada pela "crença incondicional na missão do povo alemão [54] e os jovens usavam uniformes muito semelhantes aos d Hitlerjugend (Juventude Hitlerista na Alemanha, HJ). Sua enérgica apresentação pública e sua franca determinação de ser a vanguarda na comunidade alemã provocaram críticas dos chileno-alemães [55].
Contudo, as tentativas do NSDAP na Argentina e Brasil de criar uma organização juvenil nazista não deram resultado. Devido à crítica das comunidades alemães ao partido, somente se pode fundar um grupo de escoteiros alemães, totalmente dependente da organização argentina [56]. No Brasil foi fundado, em maio de 1934, a Deutsch-Brasilianischer Jugendring (Círculo Juvenil Brasileiro-Alemão) uniformado, semelhante à DJC. Mas dado à sua evidente conexão com o partido e por medo de possíveis reações do governo brasileiro, os alemães não queriam ter contato com o círculo juvenil [57].
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Parte 01 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
Parte 03 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
A partir de então, a tarefa mais importante do partido foi a total alienação ideológica das comunidades alemãs, sobretudo de suas associações, tal como havia declarado em maio, e mais uma vez em outubro de 1933, o chefe da Organização de Assuntos do Exterior do NSDAP (Auslandsor - ganisation, AO), Bohle [16]. Primeiramente, a AO queria penetrar nas organizações principais, quer dizer, na Liga Chileno-Alemã (Deutsch- Chilenischer Bund, DCB) e na Associação Alemã da Argentina (Deutscher Volksbund für Argentinien, DVfA) [17]. A AO confirmou:
"As escolas alemãs e as paróquias luteranas e católicas são o ponto de partida mais adequado para extender nossa ideologia nacional-socialista. Se pudermos realizar um trabalho cultural neste sentido, isto seria melhor que a simples alienação de associações. A colaboração com estas instituições é o dever absoluto de todos os membros do partido no exterior".
As associações tinham diferentes relações com a Alemanha. Algumas eram sociedades afiliadas, outras cooperavam com as associações principais no Reich, e muitas se mantinham independentes; mas todas elas se sentiam comprometidas com os 'valores alemães tradicionais' do passado. Os grupos do NSDAP no exterior exigiam de seus membros que participassem ativamente na vida dos círculos alemães, o que significava, por último, na infiltração destes. Além disso, muitas associações recebiam ajuda financeira e pessoal do Reich, sobretudo as escolas. A partir de 1933 chegaram à América Latina professores que, basicamente, eram membros do NSDAP.
O NSDAP e as associações principais
O grupo chileno do NSDAP encontrou resistência a princípio quando tratou de instalar um de seus membros como gerente da Deutsch-Chilenischer Bund, DCB. A DCB, a organização de chilenos de origem alemã, argumentou que, desta maneira, estaria tomando uma posição política [19]. Em fins de 1933, depois de outros conflitos, o chefe de propaganda do NSDAP no Chile reclamou por uma atitude clara da DCB e pediu que se adotasse por completo o nacional-socialismo [2]. Pela última vez a DCB rechaçou esta exigência e toda atuação política [21]. Pouco tempo depois, contudo, foi castigada com a eliminação de toda ajuda financeira do Reich, o que lhes obrigou a funcionar então com um grande déficit [22].
A Legación alemã também tentou influir sobre a DCB [23]. A pressão foi tão grande que o diretor da DCB teve que renunciar no início de março de 1935, segundo ele, por "intrigas nazistas" [24]. Depois de outros conflitos, assumiu este cargo um membro do NSDAP. Agora que a DCB aderiu à nova Alemanha, ele manifestou sua disposição em colaborar com o partido e começar a propagar o nacional-socialismo em suas publicações [25]. Em fins de 1935, a DCB havia perdido sua independência. Um ano mais tarde, em outubro de 1936, a AO caracterizou a colaboração com a DCB como "a melhor que se poderia imaginar" [26]. A fim de assegurar sua influência, a AO exigiu que "a eleição de diretor da DCB estivesse de acordo com o partido" e que "em todo caso fosse um homem orientado totalmente de acordo com a nova Alemanha" [27]. O ministério de Relações Exteriores alemão (Auswdr- tige Amt, AA) apoiou as exigências do NSDAP [28].
A DVFA na Argentina tinha a responsabilidade de se ocupar das escolas alemãs, apesar dos conflitos políticos e sociais [29]. Uma vez superados diversos conflitos pessoais, a DVFA rapidamente se mostrou disposta a se alienar com o Terceiro Reich. Por exemplo, organizou uns protestos de todas as associações alemãs contra a crítica da esquerda, especialmente contra os ataques do Argentinisches Tageblatt ao governo de Hitler. Ao diretor da DVfA, Martin Arndt, o partido lhe reprochó que não quisesse uma alienação nazista, por medo de causar conflitos internos na comunidade alemã [30]. Arndt se viu obrigado a renunciar [31]. O novo diretor, Wilhelm Róhmer, pediu a colaboração do partido e o ingresso de seus membros nos grupos da DVfA32. Em consequência disso, a DVFA perdeu um terço dos seus membros e só em 1937 pode recuperar o nível de membros com o qual contava em 1934 [33].
A cooptação das escolas e juventude das comunidades alemãs
O sistema educativo alemão na América Latina era muito bem avaliado. A grande maioria dos alunos era de origem alemã. Em meados dos anos trinta havia no Chile 52 escolas alemãs com mais de 5.000 alunos [34], na Argentina 203 com 15.000 alunos, e no Brasil 1.800 com cerca de 60.000 alunos[35]. Muitos dos professores eram emissários de escolas na Alemanha [36], e uma grande parte dos gastos era financiado pelo Reich. Em determinado momento, 96 dos 500 professores alemães no Chile pertenciam ao partido [37]. A alienação dos professores se levou a cabo sem dificuldades e já estava consumada em 1934. Por exemplo, o círculo de professores em Santiago solicitou sua incorporação na NSLB (Associação Nacional-Socialista de Professores), seguida pouco depois pela associação central [38]. Os professores chileno-alemães deviam permanecer na organização original, mas seu diretor era sempre o chefe da NSLB39. Consequentemente, os programas de ensino foram reorganizados segundo o modelo alemão [40].
As escolas alemãs na Argentina foram objeto de luta política entre nazis e antinazis alemães. Frente à alienação nazista, Ernesto Alemann, o editor do Argentinisches Tageblatt, propôs a fundação de uma escola independente [41]. A escola 'Pestalozzi' foi inaugurada no início de março de 1934. Excetuando a escola 'Cangallo' [42], todas as demais se submeteram neste tempo à influência nacional-socialsta. Em razão da ajuda financeira, as escolas alemã-argentinas aceitaram programas de ensino nazi [43].
O partido no Brasil teve que fazer mais concessões que os grupos nazis na Argentina e Chile, devido as experiências vividas na Primeira Guerra Mundial, quando em 1917 a administração brasileira fechou as escolas alemãs. Os responsáveis queriam salvar o sistema escolar tradicional, tanto brasileiro como o alemão [44]. O NSDAP no Brasil atuou discretamente, permitiu conservar a organização anterior e deixou que os professores decidissem livremente se eles se uniriam à NSLB [45]. Não obstante, era obrigatória, pelo menos as associações principais, a colaboração com a NSLB [46]. Também foi concedido ao NSDAP o direito de participar das sessões de várias organizações que se incorporaram à associação principal [47], contanto que na classe se lesse Minha Luta de Hitler e se tratasse do 'problema racial' [48].
Contudo, uma alienação tão completa como na Argentina e no Chile não foi possível ser feito no Brasil. O partido teria que levar em conta o temor dos brasileiros de descendência alemã, que haviam sofrido com o clima de crecentes tendências nacionalistas do governo brasileiro e que não queriam ser rotulados como suspeitos de deslealdade com o Estado [49].
Junto às escolas, a juventude foi o outro campo no qual o partido concentrou seus esforços para pôr em prática uma educação nacional-socialista, a fim de que os jovens não perdessem os laços com sua origem alemã [50]. Ainda antes de 1933, já existia no Chile uma organização juvenil orientada para o nazismo, a Deutsche Jugendbund für Chile (Liga Juvenil Alemã do Chile, DJC)51. Fundada em1931 por Karl Roth e Adolf Schwarzenberg[52], a Jugendbund perseguu fins eugênicos e "a doutrinação no sentido do movimento de Hitler' [53]. Sua propaganda estava determinada pela "crença incondicional na missão do povo alemão [54] e os jovens usavam uniformes muito semelhantes aos d Hitlerjugend (Juventude Hitlerista na Alemanha, HJ). Sua enérgica apresentação pública e sua franca determinação de ser a vanguarda na comunidade alemã provocaram críticas dos chileno-alemães [55].
Contudo, as tentativas do NSDAP na Argentina e Brasil de criar uma organização juvenil nazista não deram resultado. Devido à crítica das comunidades alemães ao partido, somente se pode fundar um grupo de escoteiros alemães, totalmente dependente da organização argentina [56]. No Brasil foi fundado, em maio de 1934, a Deutsch-Brasilianischer Jugendring (Círculo Juvenil Brasileiro-Alemão) uniformado, semelhante à DJC. Mas dado à sua evidente conexão com o partido e por medo de possíveis reações do governo brasileiro, os alemães não queriam ter contato com o círculo juvenil [57].
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Parte 01 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
Parte 03 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
quinta-feira, 14 de junho de 2012
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01
A atração, sobretudo a atuação do nacional-socialismo em alguns países do Novo Mundo, tem sido objeto de investigação histórica há uns trinta anos. Existe muita literatura que se ocupa da dimensão política e ideológica do Terceiro Reich frente aos países latinoamericanos 1, sobretudo o mito da suposta 'Quinta Coluna' dos nazis, mas que se descuida da situação social, cultural e política da população de origem alemã na América Latina, e que só esta, ideologizada e alineada no sentido nazi, poderia constituir um perigo para a integridade estatal dos países em questão.
De fato, o continente latino não era objeto de interesse político ou militares por parte do Terceiro Reich. Embora se quisesse manter e ampliar as relações econômicas bilaterais, isto não era uma condição impressindível da política externa nazi. Todo o afã do Terceiro Reich se encontrava nos países da Europa oriental os quais se aspirava conquistar e dominar; a América Latina era considerada sob a esfera de influência dos Estados Unidos 2. Ao estourar da Segunda Guerra Mundial, a política alemã estava interessada em manter a neutralidade dos paíes latinoamericanos, sobretudo depois da entrada na guerra dos EUA em fins de 1941, mas isso foi conseguido somente no caso do Chile.
Tudo isto não implica que os nazis não tenham tentado formar uma 'Quinta Coluna', que poderia ser - menos em um sentido militar - um instrumento eficaz da política externa do Reich. Os nazis consideravam a população de origem alemã nos mais importantes países da América Latina como um importante fator econômico no sistema social desses países e, ao mesmo tempo, como um branco que deveria ser cooptado a fim de extender a soberania do nacional-socialismo sobre todos os alemães no mundo, aquele povo de 'cem milhões' que, devido a sua origem nacional e racial, obededeceria a uma 'vontade comum' encarnada no Partido Nacional-Socialista e na pessoa do Führer.
Nosso ensaio tentará mostrar a técnica e a dimensão da alienação nazista das comunidades alemãs da Argentina, Brasil e Chile. A historiografia existente, exceto no caso da Argentina, tende a retratar a população de descendência alemã como um bloco quase monolítico, político e ideologicamente alienado sob o comando do partido nazi; não trata dos conflitos entre o partido e as diversas instituições das colônias alemãs, que em muitos casos foram sucumbindo aos nazis muito gradualmente. As mais importantes fontes para nossa investigação são documentos oficiais de instituições governamentais na Alemanha e o variado material imprenso jornalístico em língua alemã na Argentina, Brasil e Chile, que refletiam os conflitos políticos e ideológicos causados pela conduta e atitude do Partido Nazi.
Os primeiros grupos nacional-socialistas
Desde a metade do século XIX, alemães imigraram para Argentina, Brasil e Chile [03] e, com a exceção da Argentina, estabeleceram-se em regiões apartadas no sul e criaram comunidades rurais, artesanais e industriais. Fundaram, além disso, inúmeras instituções culturais e sociais, entre elas muitas escolas, e publicaram também centenas de diários e periódicos. As comunidades estavam isoladas quase que por completo, sendo dois terços delas luteranas, de modo que esta população de origem alemã foi se distanciando cada vez mais da vida social, política, religiosa e cultural de suas novas pátrias. Seu isolamento, inevitável a princípio e por iniciativa própria depois, culminou com a incorporação dos territórios coloniais do século XIX e a consequente necessidade de se assimilar. Sempre respeitados por seu 'espírito e disciplina de trabalho' e sua exitosa posição econômica, os alemães, contudo, nunca tiveram uma destacada influência política; sua inevitável separação da cultura nacional aumentava sua ignorância em assuntos políticos locais. Contudo, apesar do isolamento, houve uma lenta aproximação da sociedade alemã, que foi interrompida pelo início da Primeira Guerra Mundial. Com os distúrbios políticos e econômicos na Alemanha do pós-guerra, a lealdade das comunidades alemãs à glória e grandeza do perdido império alemão se fortaleceu. A República de Weimar foi para eles um símbolo de ruptura, e em grande parte rejeitaram a nova bandeira alemã. Contudo, no final dos anos vinte, as comunidades alemãs aceitaram a nova realidade política na Alemanha mas não a suposta cultura e política decadente de Weimar: unidas e fieis ainda aos 'valores tradicionais do passado', as comunidades alemãs se consideravam assim mesmo 'melhores alemães' que aqueles em sua velha pátria.
Ainda que a opinião política da maior parte da população alemã fosse conservadora e nacionalista, a primeira aparição dos grupos nacional-socialistas foi recebida com indiferença e impugnação. Temia-se que a luta política interior no Reich se trasladasse às comunidades alemães no exterior. Os fundadores dos Stützpunkte (pontos de apoio) e os Ortsgruppen (grupos locais) do Partido dos Trabalhadores Alemães Nacional-Socialista (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, NSDAP) [04] haviam chegado à América Latina pouco depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Geralmente não tinham nenhum prestígio social nas colônias alemães dos países em questão e se encontravam marginalizados, pois ao NSDAP só podia pertencer a quem era do Reichsdeutscher (cidadão alemão) [05]. O partido tinha como objetivo a doutrinação ideológica e a alienação política uniforme de todos os alemães no exterior, tanto que sua propaganda se propunha a fortalecer consideravelmente a convicção antirrepublicana de seus compatriotas e a renovação dos 'verdadeiros valores alemães'. Fundamentalmente, a oposição das comunidades à toda política partidária foi sempre o maior obstáculo ao NSDAP, que só podia salvá-lo mediante uma propaganda hábil e moderada.
O partido encontrou resistência a seus ataques contra as associações e seus dirigentes, por exemplo na Argentina [06]. Os nazis exigiam que se mantivesse a pureza do sangue alemão e que se destacasse sua cultura própria acima da latina, enquanto que os argentinos de língua alemã rechaçavam essas pretensões. Além disso, a comunidade alemã se encontrava dividida em distintos grupos políticos: nacionalistas, liberais, social-democratas e socialistas [07]. O orgão dos liberais e da esquerda era a Argentinisches Tageblatt, que desde o início atacou os nazis [08]. A oposição incondicional do partido a seus adversários foi a causa pela qual não se aceitava o NSDAP. Deste modo, a maioria dos alemães se encontrou entre dois extremos: por um lado, eram por demais conservadores para adotar uma posição antinazista, mas por outra parte se sentiam tão ofendidos pelos ataques do partido que não podiam se juntar a ele.
No Brasil, o NSDAP se formou já no final dos anos vinte, ainda que a princípio dos trinta [09]. Desde o começo, o partido manifestou sua intenção de penetrar nas instituições alemãs com sua ideologia, quando achasse que era necessáro [10]. Segundo um diplomata alemão em 1931, os nazis procuraram impôr seus interesses políticos sem se preocupar com qualquer que fosse o eventual dano político [11]. Alguns alemães católicos no Brasil assumiram uma posição contrára aos nazis já desde 1932, sobretudo no orgão Deutsches Volksblatt de Porto Alegre [12]. No Rio de Janeiro, o grupo local do NSDAP atacou os dirigentes das instituições alemãs reprochándoles a 'desmoralização' e o 'espírito de classe e de camaradagem' [13]. De modo que, enfrentado pela oposição da maioria dos alemães e ante a impossibilidade de propagar plataformas programáticas e ideológicas na Argentina e no Brasil, o NSDAP se limitou a criticar o suposto 'caráter deficiente' dos valores nacionais. Aos chefes dos círculos alemães, o partido lhes repreendeu por uma 'falta de princípio nacionais' e o afã de obter cargos lucrativos.
O NSDAP no Chile fundou seu primeiro grupo local em Santiago no começo de 1932 14, e procedeu de maneira mais habil. Renunciou as agressões contra a comunidade alemã e seus dirigentes. Manipulou os temores da assimilação difundidos por chileno-alemães para seus fins políticos e tratou de aproveitar as antipatias da comunidade a respeito da República de Weimar. Graças a sua atitude moderada e sua colaboração nas instituições em "favor de todos os alemães", o NSDAP conseguiu reconhecimento. Não houve oposição ao partido até meados dos anos trinta. O Chile foi o único país da América Latina em que, inclusive antes de 1933, formou-se uma associação permeada pela ideologia nazi: a juventude chileno-alemã, a Deutscher Jugendbund für Chile (DJC)[15].
Ante a ascensão ao poder dos nazis em janeiro de 1933, os alemães na América Latina não os rejeitaram com regozijo; ao que mostraram interesse. Aprovaram o credo nacionalista alemão do novo regime, um ideal que sempre foi o seu, se bem que com um sentido menos radical. Aplaudiram as duras medidas adotadas contra os comunistas, os socialistas e os sindicatos, ainda que nem sempre aceitaram os métodos utilizados pelo regime. Só nos círculos antinazis houve crítica e resistência. A opinião das comunidades alemães mudaram depois das eleições de março de 1933, quando o NSDAP obteve a metade dos votos, de nacionalistas a nacional-socialistas. Mais tarde, os grupos nazis na América Latina exigiram assumir o controle nas colônias alemães. A 'promessa de adesão' do povo alemão que era cobrada pelos nazis a todos os alemães na América Latina era reclamada agora junto com a aceitação da ideologia e do programa nazi: não ser nazi significava ser traidor da pátria. Toda crítica e oposição era, para eles, uma expressão do pensamento 'judeu' ou comunista.
Enquanto que na Alemanha os nazis podiam usar todo o poder do Estado no processo de alienação dos cidadãos com o regime, os grupos do partido na América Latina tinham que se contentar no geral só com a propaganda. Por isso começaram a buscar a colaboração dos diplomatas alemães, agora representantes do Estado nazi, que sempre tiveram uma grande influência nos assuntos das comunidades alemãs.
NOTAS
[01] As publicações gerais mais importantes que se ocuparam do nazismo alemão na América Latina, baseando-se em documentos oficiais de instituições governamentais do Terceiro Reich, são: Louis de Jong, Die deutsche Fünfte Kolonne ¡ni Zweiten Weltkrieg, Stuttgart 1959; Hans-Adolf Jacobsen, Nationalsozialistische Aussenpolitik 1933-1938, Frankfurt/M., Berlin 1968; Reiner Pommerin, Das Dritte Reich und Lateinamerika. Die deutsche Politik gegenÜber SÜd- und Mittelamerika 1939-1942, DÜsseldorf 1977. Existe, além disso, muita literatura regida por interesses políticos, quer dizer, trabalhos dos anos trinta e quarenta, geralmente de autores norteamericanos, publicaos 'em defesa do hemisfério ocidental'; por exemplo: Carleton Beals, The Coming Struggle for Latín America, New York 1940; John Gunther, Inside Latin America, New York/London 1941; Hubert Herring, Good Neighbors. Argentina, Brazil, Chile and Seventeen Other Countries, New Haven 1941; Ernesto Giudici, Hitler conquista América, Buenos Aires 1938; Adolfo Tejera, Penetración nazi en América Latina, Montevideo 1938. Infelizmente, eles continuam esta mesma linha de erros, invenções e falsas valoraciones mais as monografias publicadas nos anos sessenta na República Democrática da Alemanha, sobretudo a coleção de Heinz Sanke (ed.), Der deutsche Faschismus in Lateinamerika 1933-1943, Berlin 1966; Manfred Kossok, Lateinamerika zwischen Emanzipation und Imperialismus. 1810-1960, Berlin 1961; e também o norteamericano Alton Frye, Nazi Germany and the American Hemisphere 1933-1941, New Haven/ London 1967.
Monografías dedicadas al `fascismo criollo' incluyen: Michael Potashnik, Nacismo. National Socialism in Chile 1932-1938, University of California, Los Angeles 1974; Gerardo Jorge Ojeda Ebert, "El Movimiento Nacional Socialista Chileno. Presentación de fuentes diplomáticas inéditas", Estudios Latinoamericanos, no. 9, 1982-1984, Wroclaw 1985, pp. 249-265; George F.W. Young, "Jorge González von Marées: Chief of Chilenn Nacism", Jahrbuch fÜr Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas, T. 11, Kbln/ Wien 1974, pp. 309-333; R. Alliende González, El Jefe. La vida de Jorge González von Marées, Santiago de Chile 1990; Hélgio Trindade, Integralismo (o fascismo no sul de Brasil. Germanismo - Nazismo - Fascismo, Porto Alegre 1987.
A respeito da atuação política do nazismo na América Latina, as publicações mais importantes são: Arnold Ebel, Das Dritte Reich und Argentinien. Die diplomatischen Beziehungen unter besonderer Berücksichúgung der Handelspolitik (1933-1939), Kóln/Wien 1971; Holger M. Meding (ed.), Nationalsozialismus und Argentinien, Frankfurt/M., Bern, New York, Paris, Wien 1995; Dawid Bartelt, " `Fünfte Kolonne ohne Plan'. Die Auslandsorganisation der NSDAP in Brasilien. 1931-1939", Ibero-Amerikanisches Archiv, no. 1-2 (1993), pp. 3-35; Jürgen Müller, Nationalsozialismus in Lateinamerika. Die Auslandsorganisation del NSDAP in Argentinien, Brasilien, Chile und Mexiko, 1931-1945, Heidelberg 1994 (tesis doctoral).
[02] Ver, a este respeito, Jürgen MÜller, "Hitler, Lateinamerika und die Weltherrschaft", Ibero- Amerikanisches Archiv, no. 1-2 (1992), pp. 67-101.
[03] Entre 1850 e 1919 imigraram cerca de 150.000 alemães para a América Latina; entre 1920 e 1931, quase 130.000. Ver Hermann Kellenbenz/Jürgen Schneider, "La emigración alemana a América Latina desde 1821 hasta 1930", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas, 13 (1976), pp. 394 e ss. Nos anos trinta havia na Argentina aproximadamente 300.000 descendentes de origem alemã, no Brasil 800.000 e no Chile 30.000; idem. A respeito da imigração alemã na América do Sul e a organização cultural e social das comunidades alemães, ver Olaf Gaudig/Peter Veit, Der Widerschein des Nazismus: Das Bild des Nationalsozialismus in der deutschsprachigen Presse Argentiniens, Brasiliens und Chiles 1933-1945, Berlin 1995 (tese de doutorado, em via de publicação), pp. 11-31.
[04] Os pontos de apoio tinham pelo menos 5 membros e os grupos locais 25 membros do NSDAP.
[05] Os outros, só de origem alemã, chamados de Volksdeutsche, não podiam se integrar ao NSDAP.
[06]Em setembro de 1932, o NSDAP na Argentina constava do grupo local de Buenos Aires e com sete pontos de apoio no país, com um total de 278 membros; Bundesarchiv Potsdam (Arquivo da República Federal da Alemanha, seção Potsdam; daqui em diante BA Potsdam), 62 Au 1, 59, p. 61, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], sept. 1932. Em 1937 o partido contava com 1.500 membros; ver Jürgen MÜller, op. cit. (1994), p. 111.
[07] Ver Ronald C. Newton, German Buenos Aires, 1900-1933. Social change and cultural crisis, Austin/London 1977; Ronald C. Newton, The 'Nazi Menace' in Argentina 1931-1947, Stanford 1992; Carlota Jackisch, El nazismo y los refugiados alemanes en la Argentina 1933- 1945, Buenos Aires 1989.
[08] Ver o artigo em Argentinisches Tageblatt, 30.7.31, p. 2. A respeito do Tageblatt, ver Sebastian Schoepp, Das Argentinische Tageblatt 1933-1945. Eine "bürgerliche Kampfzeitung" als Forum der antinationalsozialistischen Emigration, trabalho de exame de graduação, Miinchen 1991; Arnold Spitta, Die deutsche Emigration in Argentinien 1933-1945. Ihr publizistisches und literarisches Wirken, conferência, Bielefeld 1978.
[09] Em 1932 havia no Brasil 4 grupos locais e alguns pontos de apoio, com 507 membros do partido; ver BA Potsdam, 62 Au 1, 59, p. 64, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], set. 1932. Em 1937 havia 2903 membros; Jürgen Müller op. cit. (1994), p. 111.
[10] Ver Deutscher Morgen, 1.6.32, p. 4, 26.5.33, p. 5.
[11] Politisches Archiv des Auswdrtigen Amtes Bonn (Arquivo Político do Ministério das Relações Exteriores em Bonn; daqui em diante MRE), R 60028, consulado alemão em Porto Alegre ligado ao MRE, 20.8.31. A prática característica da política dos nazis obedecia a ordem da central do partido na Alemanha de espionar pessoas e dirigentes de associações alemães a fim de obter relatórios aproveitáveis sobre amigos e, principalmente, inimigos. Ver Aktion, 18.5.33, p. 1; Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 16; MRE, R 79001, consulado alemão em Porto Alegre ligado ao MRE, 20.5.33.
[12] Um resumo da oposição e da imprensa antinazista em língua alemã no Brasil, Argentina e Chile se encontra em Patrik von Zur Mühlen, Fluchtziel Lateinamerika. Die deutsche Emigration 1933- 1945: Politische Aktivitdten und soziokulturelle Integration, Bonn 1988; sobre o exemplo do Brasil, ver Izabela Maria Furtado Kestler, Die Exilliteratur und das Exil der deutschsprachigen Schriftsteller und Publizisten in Brasilien, Frankfurt a. M. 1992.
[13] Der Nationalsozialist, 1/33, pp. 17 e ss. O então chefe da AO (Auslandsorganisation, a organização do NSDAP para assuntos do exterior), Bohle, manifestou que não era objetivo do partido semear a discórdia dentro da colônia alemã. Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 149.
[14] Neste mesmo ano existiam no país 4 grupos locais e 6 pontos de apoio, no total 251 membros do partido; BA Potsdam, 62 Au 1, 59, p. 59, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], set. 1932. Em 1937 havia 985 membros; Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 111. Enquanto que no Chile havia uns 10% de cidadãos alemães que se afiliaram ao NSDAP, na Argentina e no Brasil esta porcentagem nem sequer ascendeu a 5%; idem., pp. 117 y ss.
[15] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 110 e ss.
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Parte 02 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
Parte 03 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
De fato, o continente latino não era objeto de interesse político ou militares por parte do Terceiro Reich. Embora se quisesse manter e ampliar as relações econômicas bilaterais, isto não era uma condição impressindível da política externa nazi. Todo o afã do Terceiro Reich se encontrava nos países da Europa oriental os quais se aspirava conquistar e dominar; a América Latina era considerada sob a esfera de influência dos Estados Unidos 2. Ao estourar da Segunda Guerra Mundial, a política alemã estava interessada em manter a neutralidade dos paíes latinoamericanos, sobretudo depois da entrada na guerra dos EUA em fins de 1941, mas isso foi conseguido somente no caso do Chile.
Tudo isto não implica que os nazis não tenham tentado formar uma 'Quinta Coluna', que poderia ser - menos em um sentido militar - um instrumento eficaz da política externa do Reich. Os nazis consideravam a população de origem alemã nos mais importantes países da América Latina como um importante fator econômico no sistema social desses países e, ao mesmo tempo, como um branco que deveria ser cooptado a fim de extender a soberania do nacional-socialismo sobre todos os alemães no mundo, aquele povo de 'cem milhões' que, devido a sua origem nacional e racial, obededeceria a uma 'vontade comum' encarnada no Partido Nacional-Socialista e na pessoa do Führer.
Nosso ensaio tentará mostrar a técnica e a dimensão da alienação nazista das comunidades alemãs da Argentina, Brasil e Chile. A historiografia existente, exceto no caso da Argentina, tende a retratar a população de descendência alemã como um bloco quase monolítico, político e ideologicamente alienado sob o comando do partido nazi; não trata dos conflitos entre o partido e as diversas instituições das colônias alemãs, que em muitos casos foram sucumbindo aos nazis muito gradualmente. As mais importantes fontes para nossa investigação são documentos oficiais de instituições governamentais na Alemanha e o variado material imprenso jornalístico em língua alemã na Argentina, Brasil e Chile, que refletiam os conflitos políticos e ideológicos causados pela conduta e atitude do Partido Nazi.
Os primeiros grupos nacional-socialistas
Desde a metade do século XIX, alemães imigraram para Argentina, Brasil e Chile [03] e, com a exceção da Argentina, estabeleceram-se em regiões apartadas no sul e criaram comunidades rurais, artesanais e industriais. Fundaram, além disso, inúmeras instituções culturais e sociais, entre elas muitas escolas, e publicaram também centenas de diários e periódicos. As comunidades estavam isoladas quase que por completo, sendo dois terços delas luteranas, de modo que esta população de origem alemã foi se distanciando cada vez mais da vida social, política, religiosa e cultural de suas novas pátrias. Seu isolamento, inevitável a princípio e por iniciativa própria depois, culminou com a incorporação dos territórios coloniais do século XIX e a consequente necessidade de se assimilar. Sempre respeitados por seu 'espírito e disciplina de trabalho' e sua exitosa posição econômica, os alemães, contudo, nunca tiveram uma destacada influência política; sua inevitável separação da cultura nacional aumentava sua ignorância em assuntos políticos locais. Contudo, apesar do isolamento, houve uma lenta aproximação da sociedade alemã, que foi interrompida pelo início da Primeira Guerra Mundial. Com os distúrbios políticos e econômicos na Alemanha do pós-guerra, a lealdade das comunidades alemãs à glória e grandeza do perdido império alemão se fortaleceu. A República de Weimar foi para eles um símbolo de ruptura, e em grande parte rejeitaram a nova bandeira alemã. Contudo, no final dos anos vinte, as comunidades alemãs aceitaram a nova realidade política na Alemanha mas não a suposta cultura e política decadente de Weimar: unidas e fieis ainda aos 'valores tradicionais do passado', as comunidades alemãs se consideravam assim mesmo 'melhores alemães' que aqueles em sua velha pátria.
Ainda que a opinião política da maior parte da população alemã fosse conservadora e nacionalista, a primeira aparição dos grupos nacional-socialistas foi recebida com indiferença e impugnação. Temia-se que a luta política interior no Reich se trasladasse às comunidades alemães no exterior. Os fundadores dos Stützpunkte (pontos de apoio) e os Ortsgruppen (grupos locais) do Partido dos Trabalhadores Alemães Nacional-Socialista (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, NSDAP) [04] haviam chegado à América Latina pouco depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Geralmente não tinham nenhum prestígio social nas colônias alemães dos países em questão e se encontravam marginalizados, pois ao NSDAP só podia pertencer a quem era do Reichsdeutscher (cidadão alemão) [05]. O partido tinha como objetivo a doutrinação ideológica e a alienação política uniforme de todos os alemães no exterior, tanto que sua propaganda se propunha a fortalecer consideravelmente a convicção antirrepublicana de seus compatriotas e a renovação dos 'verdadeiros valores alemães'. Fundamentalmente, a oposição das comunidades à toda política partidária foi sempre o maior obstáculo ao NSDAP, que só podia salvá-lo mediante uma propaganda hábil e moderada.
O partido encontrou resistência a seus ataques contra as associações e seus dirigentes, por exemplo na Argentina [06]. Os nazis exigiam que se mantivesse a pureza do sangue alemão e que se destacasse sua cultura própria acima da latina, enquanto que os argentinos de língua alemã rechaçavam essas pretensões. Além disso, a comunidade alemã se encontrava dividida em distintos grupos políticos: nacionalistas, liberais, social-democratas e socialistas [07]. O orgão dos liberais e da esquerda era a Argentinisches Tageblatt, que desde o início atacou os nazis [08]. A oposição incondicional do partido a seus adversários foi a causa pela qual não se aceitava o NSDAP. Deste modo, a maioria dos alemães se encontrou entre dois extremos: por um lado, eram por demais conservadores para adotar uma posição antinazista, mas por outra parte se sentiam tão ofendidos pelos ataques do partido que não podiam se juntar a ele.
No Brasil, o NSDAP se formou já no final dos anos vinte, ainda que a princípio dos trinta [09]. Desde o começo, o partido manifestou sua intenção de penetrar nas instituições alemãs com sua ideologia, quando achasse que era necessáro [10]. Segundo um diplomata alemão em 1931, os nazis procuraram impôr seus interesses políticos sem se preocupar com qualquer que fosse o eventual dano político [11]. Alguns alemães católicos no Brasil assumiram uma posição contrára aos nazis já desde 1932, sobretudo no orgão Deutsches Volksblatt de Porto Alegre [12]. No Rio de Janeiro, o grupo local do NSDAP atacou os dirigentes das instituições alemãs reprochándoles a 'desmoralização' e o 'espírito de classe e de camaradagem' [13]. De modo que, enfrentado pela oposição da maioria dos alemães e ante a impossibilidade de propagar plataformas programáticas e ideológicas na Argentina e no Brasil, o NSDAP se limitou a criticar o suposto 'caráter deficiente' dos valores nacionais. Aos chefes dos círculos alemães, o partido lhes repreendeu por uma 'falta de princípio nacionais' e o afã de obter cargos lucrativos.
O NSDAP no Chile fundou seu primeiro grupo local em Santiago no começo de 1932 14, e procedeu de maneira mais habil. Renunciou as agressões contra a comunidade alemã e seus dirigentes. Manipulou os temores da assimilação difundidos por chileno-alemães para seus fins políticos e tratou de aproveitar as antipatias da comunidade a respeito da República de Weimar. Graças a sua atitude moderada e sua colaboração nas instituições em "favor de todos os alemães", o NSDAP conseguiu reconhecimento. Não houve oposição ao partido até meados dos anos trinta. O Chile foi o único país da América Latina em que, inclusive antes de 1933, formou-se uma associação permeada pela ideologia nazi: a juventude chileno-alemã, a Deutscher Jugendbund für Chile (DJC)[15].
Ante a ascensão ao poder dos nazis em janeiro de 1933, os alemães na América Latina não os rejeitaram com regozijo; ao que mostraram interesse. Aprovaram o credo nacionalista alemão do novo regime, um ideal que sempre foi o seu, se bem que com um sentido menos radical. Aplaudiram as duras medidas adotadas contra os comunistas, os socialistas e os sindicatos, ainda que nem sempre aceitaram os métodos utilizados pelo regime. Só nos círculos antinazis houve crítica e resistência. A opinião das comunidades alemães mudaram depois das eleições de março de 1933, quando o NSDAP obteve a metade dos votos, de nacionalistas a nacional-socialistas. Mais tarde, os grupos nazis na América Latina exigiram assumir o controle nas colônias alemães. A 'promessa de adesão' do povo alemão que era cobrada pelos nazis a todos os alemães na América Latina era reclamada agora junto com a aceitação da ideologia e do programa nazi: não ser nazi significava ser traidor da pátria. Toda crítica e oposição era, para eles, uma expressão do pensamento 'judeu' ou comunista.
Enquanto que na Alemanha os nazis podiam usar todo o poder do Estado no processo de alienação dos cidadãos com o regime, os grupos do partido na América Latina tinham que se contentar no geral só com a propaganda. Por isso começaram a buscar a colaboração dos diplomatas alemães, agora representantes do Estado nazi, que sempre tiveram uma grande influência nos assuntos das comunidades alemãs.
NOTAS
[01] As publicações gerais mais importantes que se ocuparam do nazismo alemão na América Latina, baseando-se em documentos oficiais de instituições governamentais do Terceiro Reich, são: Louis de Jong, Die deutsche Fünfte Kolonne ¡ni Zweiten Weltkrieg, Stuttgart 1959; Hans-Adolf Jacobsen, Nationalsozialistische Aussenpolitik 1933-1938, Frankfurt/M., Berlin 1968; Reiner Pommerin, Das Dritte Reich und Lateinamerika. Die deutsche Politik gegenÜber SÜd- und Mittelamerika 1939-1942, DÜsseldorf 1977. Existe, além disso, muita literatura regida por interesses políticos, quer dizer, trabalhos dos anos trinta e quarenta, geralmente de autores norteamericanos, publicaos 'em defesa do hemisfério ocidental'; por exemplo: Carleton Beals, The Coming Struggle for Latín America, New York 1940; John Gunther, Inside Latin America, New York/London 1941; Hubert Herring, Good Neighbors. Argentina, Brazil, Chile and Seventeen Other Countries, New Haven 1941; Ernesto Giudici, Hitler conquista América, Buenos Aires 1938; Adolfo Tejera, Penetración nazi en América Latina, Montevideo 1938. Infelizmente, eles continuam esta mesma linha de erros, invenções e falsas valoraciones mais as monografias publicadas nos anos sessenta na República Democrática da Alemanha, sobretudo a coleção de Heinz Sanke (ed.), Der deutsche Faschismus in Lateinamerika 1933-1943, Berlin 1966; Manfred Kossok, Lateinamerika zwischen Emanzipation und Imperialismus. 1810-1960, Berlin 1961; e também o norteamericano Alton Frye, Nazi Germany and the American Hemisphere 1933-1941, New Haven/ London 1967.
Monografías dedicadas al `fascismo criollo' incluyen: Michael Potashnik, Nacismo. National Socialism in Chile 1932-1938, University of California, Los Angeles 1974; Gerardo Jorge Ojeda Ebert, "El Movimiento Nacional Socialista Chileno. Presentación de fuentes diplomáticas inéditas", Estudios Latinoamericanos, no. 9, 1982-1984, Wroclaw 1985, pp. 249-265; George F.W. Young, "Jorge González von Marées: Chief of Chilenn Nacism", Jahrbuch fÜr Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas, T. 11, Kbln/ Wien 1974, pp. 309-333; R. Alliende González, El Jefe. La vida de Jorge González von Marées, Santiago de Chile 1990; Hélgio Trindade, Integralismo (o fascismo no sul de Brasil. Germanismo - Nazismo - Fascismo, Porto Alegre 1987.
A respeito da atuação política do nazismo na América Latina, as publicações mais importantes são: Arnold Ebel, Das Dritte Reich und Argentinien. Die diplomatischen Beziehungen unter besonderer Berücksichúgung der Handelspolitik (1933-1939), Kóln/Wien 1971; Holger M. Meding (ed.), Nationalsozialismus und Argentinien, Frankfurt/M., Bern, New York, Paris, Wien 1995; Dawid Bartelt, " `Fünfte Kolonne ohne Plan'. Die Auslandsorganisation der NSDAP in Brasilien. 1931-1939", Ibero-Amerikanisches Archiv, no. 1-2 (1993), pp. 3-35; Jürgen Müller, Nationalsozialismus in Lateinamerika. Die Auslandsorganisation del NSDAP in Argentinien, Brasilien, Chile und Mexiko, 1931-1945, Heidelberg 1994 (tesis doctoral).
[02] Ver, a este respeito, Jürgen MÜller, "Hitler, Lateinamerika und die Weltherrschaft", Ibero- Amerikanisches Archiv, no. 1-2 (1992), pp. 67-101.
[03] Entre 1850 e 1919 imigraram cerca de 150.000 alemães para a América Latina; entre 1920 e 1931, quase 130.000. Ver Hermann Kellenbenz/Jürgen Schneider, "La emigración alemana a América Latina desde 1821 hasta 1930", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas, 13 (1976), pp. 394 e ss. Nos anos trinta havia na Argentina aproximadamente 300.000 descendentes de origem alemã, no Brasil 800.000 e no Chile 30.000; idem. A respeito da imigração alemã na América do Sul e a organização cultural e social das comunidades alemães, ver Olaf Gaudig/Peter Veit, Der Widerschein des Nazismus: Das Bild des Nationalsozialismus in der deutschsprachigen Presse Argentiniens, Brasiliens und Chiles 1933-1945, Berlin 1995 (tese de doutorado, em via de publicação), pp. 11-31.
[04] Os pontos de apoio tinham pelo menos 5 membros e os grupos locais 25 membros do NSDAP.
[05] Os outros, só de origem alemã, chamados de Volksdeutsche, não podiam se integrar ao NSDAP.
[06]Em setembro de 1932, o NSDAP na Argentina constava do grupo local de Buenos Aires e com sete pontos de apoio no país, com um total de 278 membros; Bundesarchiv Potsdam (Arquivo da República Federal da Alemanha, seção Potsdam; daqui em diante BA Potsdam), 62 Au 1, 59, p. 61, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], sept. 1932. Em 1937 o partido contava com 1.500 membros; ver Jürgen MÜller, op. cit. (1994), p. 111.
[07] Ver Ronald C. Newton, German Buenos Aires, 1900-1933. Social change and cultural crisis, Austin/London 1977; Ronald C. Newton, The 'Nazi Menace' in Argentina 1931-1947, Stanford 1992; Carlota Jackisch, El nazismo y los refugiados alemanes en la Argentina 1933- 1945, Buenos Aires 1989.
[08] Ver o artigo em Argentinisches Tageblatt, 30.7.31, p. 2. A respeito do Tageblatt, ver Sebastian Schoepp, Das Argentinische Tageblatt 1933-1945. Eine "bürgerliche Kampfzeitung" als Forum der antinationalsozialistischen Emigration, trabalho de exame de graduação, Miinchen 1991; Arnold Spitta, Die deutsche Emigration in Argentinien 1933-1945. Ihr publizistisches und literarisches Wirken, conferência, Bielefeld 1978.
[09] Em 1932 havia no Brasil 4 grupos locais e alguns pontos de apoio, com 507 membros do partido; ver BA Potsdam, 62 Au 1, 59, p. 64, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], set. 1932. Em 1937 havia 2903 membros; Jürgen Müller op. cit. (1994), p. 111.
[10] Ver Deutscher Morgen, 1.6.32, p. 4, 26.5.33, p. 5.
[11] Politisches Archiv des Auswdrtigen Amtes Bonn (Arquivo Político do Ministério das Relações Exteriores em Bonn; daqui em diante MRE), R 60028, consulado alemão em Porto Alegre ligado ao MRE, 20.8.31. A prática característica da política dos nazis obedecia a ordem da central do partido na Alemanha de espionar pessoas e dirigentes de associações alemães a fim de obter relatórios aproveitáveis sobre amigos e, principalmente, inimigos. Ver Aktion, 18.5.33, p. 1; Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 16; MRE, R 79001, consulado alemão em Porto Alegre ligado ao MRE, 20.5.33.
[12] Um resumo da oposição e da imprensa antinazista em língua alemã no Brasil, Argentina e Chile se encontra em Patrik von Zur Mühlen, Fluchtziel Lateinamerika. Die deutsche Emigration 1933- 1945: Politische Aktivitdten und soziokulturelle Integration, Bonn 1988; sobre o exemplo do Brasil, ver Izabela Maria Furtado Kestler, Die Exilliteratur und das Exil der deutschsprachigen Schriftsteller und Publizisten in Brasilien, Frankfurt a. M. 1992.
[13] Der Nationalsozialist, 1/33, pp. 17 e ss. O então chefe da AO (Auslandsorganisation, a organização do NSDAP para assuntos do exterior), Bohle, manifestou que não era objetivo do partido semear a discórdia dentro da colônia alemã. Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 149.
[14] Neste mesmo ano existiam no país 4 grupos locais e 6 pontos de apoio, no total 251 membros do partido; BA Potsdam, 62 Au 1, 59, p. 59, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], set. 1932. Em 1937 havia 985 membros; Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 111. Enquanto que no Chile havia uns 10% de cidadãos alemães que se afiliaram ao NSDAP, na Argentina e no Brasil esta porcentagem nem sequer ascendeu a 5%; idem., pp. 117 y ss.
[15] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 110 e ss.
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Parte 02 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
Parte 03 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
terça-feira, 5 de junho de 2012
À Espera de Turistas: a relação entre um alemão e um sobrevivente do Holocausto
O incômodo convívio entre as nações na região turística do campo de concentração de Auschwitz.
Léo Freitas
A Segunda Guerra já rendeu mais filmes do que se pode imaginar, mas, vez ou outra, um cineasta trata da questão por um ponto de vista peculiar. É o caso de “À Espera de Turistas”, do alemão Robert Thalheim, que esteve na seleção oficial Um Certo Olhar em 2007. Com atraso de cinco anos, a obra estreia em circuito nacional e preza pela simplicidade ao expor a relação entre um jovem alemão e um idoso polonês sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, um dos maiores e mais cruéis do regime nazista.
Quando decide prestar serviços sociais na região de Auschwitz em uma alternativa para fugir do serviço militar em seu país, o jovem Sven (Alexander Fehling) vê-se incumbido de realizar pequenos trabalhos para o sr. Krzeminski (Ryszard Ronczewski), um octogenário que se recusa a sair do campo, onde fica o museu em homenagem aos mortos pelo Holocausto.
Enquanto auxilia o polonês com atividades como compras de supermercados, reparos no dormitório e serviços de motorista para pequenas palestras ministradas aos turistas (com detalhes que só um sobrevivente é capaz de oferecer), Sven se sente descolado em uma região onde é visto como eterna persona non grata. A ironia de prestar serviços sociais a poloneses em nome do Exército Alemão faz com que o deboche dos poloneses que o rodeiam seja inevitável.
Com seu jeito carrancudo e introspectivo, Sr. Krzeminski nunca fala do assunto diante do rapaz que, de ajudante, assume o posto de, praticamente, um servo. Suas poucas palavras de ordem, regadas a cigarros e a um olhar perdido mirando o horizonte de sua janela, dão ainda maior desconforto em Sven, que sente que não há nada a ser feito, a não ser cumprir seu ano de serviço.
Para distrair-se nas suas horas de folga, vai a shows, passeia por pontos históricos que se dedicam, obviamente, à tragédia que assolou o local há mais de 70 anos. Em uma de suas saídas, conhece Ania (Barbara Wysocka), que dará margem a um envolvimento amoroso e uma relação não muito amistosa com o irmão dela, Krzysztof (Piotr Rogucki).
Deslocado por estar rodeado de poloneses, Sven vai morar com os dois irmãos e o envolvimento amoroso com Ania, mais do que previsível, esbarra nos projetos desencontrados de ambos. Surge, ainda, Zofia (Halina Kwiatkowska), a simpática irmã de Krzeminski, que, morando em uma região rural da Polônia, se esforça para levar o irmão consigo, cada dia mais consumido pelas lembranças de sua época como prisioneiro. Ele, porém, não consegue se imaginar longe daquele local, onde viveu grande parte de sua vida.
Além de expor o desconforto de duas nações separadas e unidas pela Segunda Guerra, “À Espera de Turistas” trata da questão com delicadeza e humanidade, embora não ofereça nada de novo com relação à direção. Esforça-se em seu roteiro, com frases pontuais, onde boa parte dos diálogos não se conclui. Seja para dar margem a interpretações do público ou, simplesmente, por explicitar ainda mais a questão difícil de conviver mesmo após sete décadas, o longa cativa, embora seja pouco para sua 1h20min de projeção. O distanciamento soa como proposital, justamente para não tomar lados e dividir opiniões em um contexto que soaria mais do que equivocado entre bons versus maus.
Afinal, as cicatrizes da guerra estão em seus protagonistas, seja em Krzeminski, que viveu diante do horror, seja em Sven, que carrega nas costas o peso de um passado da qual não fez parte mas tem de carregar nas costas o tempo todo. E assim, o filme reforça a questão de que o passado, por mais difícil que seja, deve ser lembrado para que não se repita.
Após “À Espera de Turistas”, outras obras – mais contundentes – também lidaram com temas semelhantes. No documentário para a TV “Hitlers Angriff – Wie der Zweite Weltkrieg Begann”, a mundialmente conhecida empresa de comunicação Deutsche Welle se uniu à TVP polonesa para tratar dos horrores cometidos por Hitler. Já“In Darkness”, indicado ao Oscar 2012 de Melhor Filme Estrangeiro e sem previsão de estreia no Brasil, mostra a saga de um oficial alemão que abriga judeus poloneses durante a Segunda Guerra.
Tomando o viés cara a cara da complicada relação humana dos personagens, é um exemplo tímido de redenção diante da grande mancha negra da Alemanha que, até os dias de hoje, assombra as nações envolvidas. Assim, sem explorar os horrores do conflito, “À Espera de Turistas” usa os silêncios e a interpretação de seu trio de atores (Alexander Fehlin recebeu, inclusive, o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cinema de Munique) em lembranças ocultas que perdurarão nas memórias de alemães e poloneses, independente do tempo e espaço que façam parte.
Filmado na região onde realmente esteve Auschwitz (hoje, rodeado de belas paisagens que nada lembram os horrores do enorme grupo de campos de concentração do conflito), “À Espera de Turistas” é um filme simples, porém delicado e sincero em sua proposta, e que surge para amenizar as cicatrizes de uma guerra que, mais do que “milhões de mortos”, tirou a vida até mesmo daqueles que sobreviveram.
____
Léo Freitas formou-se em Jornalismo em 2008 pela Universidade Anhembi Morumbi. Cinéfilo desde a adolescência e apaixonado por cinema europeu, escreve sobre cinema desde 2009. Atualmente é correspondente do CCR em São Paulo e desejaria que o dia tivesse 72 horas para consumir tudo que a capital paulista oferece culturalmente.
Fonte: Cinema Com Rapadura
http://cinemacomrapadura.com.br/criticas/267539/a-espera-de-turistas-a-relacao-entre-um-alemao-e-um-sobrevivente-do-holocausto/
Ver mais:
À Espera de Turistas reflete sobre as lembranças do holocausto (Pipoca Moderna)
Léo Freitas
A Segunda Guerra já rendeu mais filmes do que se pode imaginar, mas, vez ou outra, um cineasta trata da questão por um ponto de vista peculiar. É o caso de “À Espera de Turistas”, do alemão Robert Thalheim, que esteve na seleção oficial Um Certo Olhar em 2007. Com atraso de cinco anos, a obra estreia em circuito nacional e preza pela simplicidade ao expor a relação entre um jovem alemão e um idoso polonês sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, um dos maiores e mais cruéis do regime nazista.
Quando decide prestar serviços sociais na região de Auschwitz em uma alternativa para fugir do serviço militar em seu país, o jovem Sven (Alexander Fehling) vê-se incumbido de realizar pequenos trabalhos para o sr. Krzeminski (Ryszard Ronczewski), um octogenário que se recusa a sair do campo, onde fica o museu em homenagem aos mortos pelo Holocausto.
Enquanto auxilia o polonês com atividades como compras de supermercados, reparos no dormitório e serviços de motorista para pequenas palestras ministradas aos turistas (com detalhes que só um sobrevivente é capaz de oferecer), Sven se sente descolado em uma região onde é visto como eterna persona non grata. A ironia de prestar serviços sociais a poloneses em nome do Exército Alemão faz com que o deboche dos poloneses que o rodeiam seja inevitável.
Com seu jeito carrancudo e introspectivo, Sr. Krzeminski nunca fala do assunto diante do rapaz que, de ajudante, assume o posto de, praticamente, um servo. Suas poucas palavras de ordem, regadas a cigarros e a um olhar perdido mirando o horizonte de sua janela, dão ainda maior desconforto em Sven, que sente que não há nada a ser feito, a não ser cumprir seu ano de serviço.
Para distrair-se nas suas horas de folga, vai a shows, passeia por pontos históricos que se dedicam, obviamente, à tragédia que assolou o local há mais de 70 anos. Em uma de suas saídas, conhece Ania (Barbara Wysocka), que dará margem a um envolvimento amoroso e uma relação não muito amistosa com o irmão dela, Krzysztof (Piotr Rogucki).
Deslocado por estar rodeado de poloneses, Sven vai morar com os dois irmãos e o envolvimento amoroso com Ania, mais do que previsível, esbarra nos projetos desencontrados de ambos. Surge, ainda, Zofia (Halina Kwiatkowska), a simpática irmã de Krzeminski, que, morando em uma região rural da Polônia, se esforça para levar o irmão consigo, cada dia mais consumido pelas lembranças de sua época como prisioneiro. Ele, porém, não consegue se imaginar longe daquele local, onde viveu grande parte de sua vida.
Além de expor o desconforto de duas nações separadas e unidas pela Segunda Guerra, “À Espera de Turistas” trata da questão com delicadeza e humanidade, embora não ofereça nada de novo com relação à direção. Esforça-se em seu roteiro, com frases pontuais, onde boa parte dos diálogos não se conclui. Seja para dar margem a interpretações do público ou, simplesmente, por explicitar ainda mais a questão difícil de conviver mesmo após sete décadas, o longa cativa, embora seja pouco para sua 1h20min de projeção. O distanciamento soa como proposital, justamente para não tomar lados e dividir opiniões em um contexto que soaria mais do que equivocado entre bons versus maus.
Afinal, as cicatrizes da guerra estão em seus protagonistas, seja em Krzeminski, que viveu diante do horror, seja em Sven, que carrega nas costas o peso de um passado da qual não fez parte mas tem de carregar nas costas o tempo todo. E assim, o filme reforça a questão de que o passado, por mais difícil que seja, deve ser lembrado para que não se repita.
Após “À Espera de Turistas”, outras obras – mais contundentes – também lidaram com temas semelhantes. No documentário para a TV “Hitlers Angriff – Wie der Zweite Weltkrieg Begann”, a mundialmente conhecida empresa de comunicação Deutsche Welle se uniu à TVP polonesa para tratar dos horrores cometidos por Hitler. Já“In Darkness”, indicado ao Oscar 2012 de Melhor Filme Estrangeiro e sem previsão de estreia no Brasil, mostra a saga de um oficial alemão que abriga judeus poloneses durante a Segunda Guerra.
Tomando o viés cara a cara da complicada relação humana dos personagens, é um exemplo tímido de redenção diante da grande mancha negra da Alemanha que, até os dias de hoje, assombra as nações envolvidas. Assim, sem explorar os horrores do conflito, “À Espera de Turistas” usa os silêncios e a interpretação de seu trio de atores (Alexander Fehlin recebeu, inclusive, o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cinema de Munique) em lembranças ocultas que perdurarão nas memórias de alemães e poloneses, independente do tempo e espaço que façam parte.
Filmado na região onde realmente esteve Auschwitz (hoje, rodeado de belas paisagens que nada lembram os horrores do enorme grupo de campos de concentração do conflito), “À Espera de Turistas” é um filme simples, porém delicado e sincero em sua proposta, e que surge para amenizar as cicatrizes de uma guerra que, mais do que “milhões de mortos”, tirou a vida até mesmo daqueles que sobreviveram.
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Léo Freitas formou-se em Jornalismo em 2008 pela Universidade Anhembi Morumbi. Cinéfilo desde a adolescência e apaixonado por cinema europeu, escreve sobre cinema desde 2009. Atualmente é correspondente do CCR em São Paulo e desejaria que o dia tivesse 72 horas para consumir tudo que a capital paulista oferece culturalmente.
Fonte: Cinema Com Rapadura
http://cinemacomrapadura.com.br/criticas/267539/a-espera-de-turistas-a-relacao-entre-um-alemao-e-um-sobrevivente-do-holocausto/
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À Espera de Turistas reflete sobre as lembranças do holocausto (Pipoca Moderna)
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
As vítimas africanas de Hitler: os massacres do exército alemão a soldados franceses negros em 1940
Documento criado em: 20 de julho de '06
Air & Space Power Journal Book Review - Primavera de 2007
Hitler's African Victims: The German Army Massacres of Black French Soldiers in 1940(As vítimas africanas de Hitler: os massacres do exército alemão a soldados franceses negros em 1940) por Raffael Scheck. Cambridge University Press (http://www.cambridge.org/us), 32 Avenue of the Americas, New York, New York 10013-2473, 2006, 216 páginas, $65,00 (capa dura).
Em "A Preface to History" de Carl G. Gustavson, o autor afirma que ao visualizar qualquer evento histórico, deve-se examinar e tentar compreender quaisquer e todas as influências profundas que levaram à ocorrência de um específico episódio, porque nunca tais eventos ocorrem em um vácuo e simplesmente não "apenas ocorrem". Pelo contrário, as situações sempre vão em movimento na esteira de outros acontecimentos. Em seu excelente livro "Hitler's African Victims", Raffael Scheck faz isto com perfeição e com grande efeito.
Professor adjunto de História Moderna da Europa no Colby College e titular PhD da Universidade de Brandeis, Scheck é autor dos livros "Alfred von Tirpitz and German Right Wing Politics, 1914–1930"(Alfred von Tirpitz e as políticas alemãs de extrema-direita, 1914-1930) e "Mothers of the Nation: Right-Wing Women in Weimar Germany"(Mães da Nação: as mulheres de extrema-direita na República de Weimar), juntamente com vários artigos sobre políticas da extrema-direita alemã. Em Hitler’s African Victims, Scheck traz à luz uma área da história que até agora as pessoas, ou intencionalmente teriam ignorado ou, infelizmente, esquecido.
Durante o desesperado verão de 1940, as forças alemãs avançaram largamente, sem contenção, sobre a Europa Ocidental. Um dos muitos países a sentir a fúria do exército de Hitler foi a França. Ardendo com um intenso desejo de vingança pelas abominações impostas ao povo alemão - o Tratado de Versailles - Hitler e seus asseclas assumiram uma atitude especial para impôr uma rápida e humilhante rendição à França. As fileiras do exército francês alistaram mais de 100.000 soldados negros os quais os franceses haviam recrutado e mobilizado a partir de áreas da Mauritânia, Senegal e Níger, na África Ocidental Francesa, colocando-os em regimentos só negros ou mestiços e em seguida tornando-os parte das divisões da Infantaria Colonial. Durante a árdua batalha contra os alemães, estes soldados africanos - muitas vezes armados com os temidos coupe-coupe(facões) de lâmina longa, com os quais eles abriam caminho através dos soldados inimigos no combate corpo a corpo - viram-se confrontados com o melhor que os alemães poderiam reunir. Raramente se ouve a história das perdas que os africanos impuseram aos alemães.
Tragicamente, durante o período de luta mais difícil na campanha da França, acima de 3.000 desses prisioneiros Tirailleurs Senegalais foram evidentemente massacrados por soldados alemães. O assassinato de prisioneiros inimogos - por membros de ambos os lados - ocorreu durante a guerra, mas o grande número de perdas cometidas pelos Tirailleurs durante em um período relativamente curto de tempo levanta sérias questões. O autor faz um trabalho magistral de extraordinária e coerente informação do acontecimento para explicar as circunstâncias que cercam esses massacres.
Como parte de sua análise, Scheck discusses muitos aspectos da história do racismo na Alemanha que provavelmente levaram a atitudes predominantes dentro da sociedade nazista daquele tempo — por exemplo, o que ficou conhecido como "Terror Negro"(Black Horror), envolvendo o estacionamento de soldados negros na Renânia logo após a Primeira Guerra. Vários incidentes ocorreram entre estes soldados e a população nativa, especialmente os nascimentos de muitas crianças mestiças. Estarrecida, a liderança nazi pediu pela esterelização forçada destas crianças e a propaganda alemã trabalhava a exaustão para retratar negros como selvagens e "loucos pervertidos sexuais". Por conta destes esforços, uma forte fundação antinegra surgiu na nova Alemanha. Da mesma forma, como um poder colonial na África (1904–1907), a Alemanha eliminou mais de 150.000 negros durante uma série de levantes. Além disso, os alemães deram tratamento similar ao dos negros apanhados lutando pela União durante a Guerra Civil Norte-Americana, bem como o tratamento dos EUA a mexicanos, norte-americanos nativos e filipinos durante os conflitos com esses povos.
Todos esses fatores ajudaram a criar uma atmosfera propícia para cometer as atrocidades descritas neste livro. O autor explica eloqüentemente conceitos tais como o critério para o massacre sancionado e cinco fatores situacionais que conduziram ao assassínio de prisioneiros negros. Curiosamente, a pesquisa de Scheck revelou que quando tudo estiver dito e feito, aparentemente nenhuma diretiva do governo alemão ordenou que os soldados matassem esses prisioneiros. Muito provavelmente, a ferocidade da batalha, o racismo latente e os efeitos de terem visto colegas soldados mortos em combate - muitos cortados e separados por africanos ocidentais armados a faca - combinaram para motivar os alemães a agir como agiram. Na verdade, muitas unidades alemãs se recusaram a matar os prisioneiros negros absolutamente, e depois de agosto de 1940 - o período mais desesperador para alemães e franceses - pouco ou nenhum assassinato de prisioneiros ocorreu.
Apesar deu tecer louvores a este livro, eu tenho algumas discordâncias com o autor. Scheck afirma que os alemães iriam "atirar imediatamente nos negros dispersos sem lhes dar a oportunidade de se render. Isto era ilegal como um massacre, mas mais fácil para encobrir. . . . A prática de não dar alojamentos a soldados negros, embora ilegal, foi certamente facilitada pelo fato de que as disposições legais para se render poderiam ser difíceis de se aplicar no combate corpo a corpo"(páginas 61 e 66). De acordo com a Lei de Conflito Armado, no entanto, não é ilegal matar soldados em fuga ou dispersar os soldados. Só depois deles terem se rendido e o inimigo tomar o controle deles, eles se tornariam imunes de serem mortos. Da mesma forma, é legal dizimar toda formações de soldados inimigos - por não matá-los hoje, em vez de tê-los que enfrentar amanhã. Apesar de ser "descortês" poder matar soldados em fuga ou dizimar uma formação inteira inimiga, continua a ser perfeitamente aceitável e legal fazê-lo.
No geral, os pontos de menor importância em nada diminuem o grosso deste excelente livro. Não é sempre que se encontra um estudo da Segunda Guerra Mundial que revela uma página inteiramente nova da história. Completo com dez fotografias, quatro páginas de tabelas que descrevem os assassinatos e um mapa das áreas em questão, Hitler's African Victims deixa sua marca como uma importante contribuição para uma já desordenada história da guerra.
Tenente-Coronel Robert F. Tate, FAEUA(USAFR)
Base(AFB) de Maxwell, Alabama
Aviso
As conclusões e opiniões expressas neste documento são as que o autor manifesta de acordo com sua liberdade de expressão e no ambiente acadêmido da Academia da Força Aérea(Air University). Elas não refletem a posição oficial do Governo dos EUA, do Departamento de Defesa, da Força Aérea dos EUA ou da Academia da Força Aérea(Air University).
Fonte: Air & Space Power Journal Book Review(da Academia da Força Aérea dos EUA)
http://www.airpower.au.af.mil/airchronicles/bookrev/scheck.html
Tradução: Roberto Lucena
Ler também:
Crescendo negro na Alemanha nazista
Negros alemães vítimas do Holocausto
Mais apontamentos do racismo nazi
O racismo nazista nas palavras dos próprios nazistas
A Fazenda Nazista no Brasil e o emprego de trabalho escravo - rastros deixados pelos nazistas no país
Air & Space Power Journal Book Review - Primavera de 2007
Hitler's African Victims: The German Army Massacres of Black French Soldiers in 1940(As vítimas africanas de Hitler: os massacres do exército alemão a soldados franceses negros em 1940) por Raffael Scheck. Cambridge University Press (http://www.cambridge.org/us), 32 Avenue of the Americas, New York, New York 10013-2473, 2006, 216 páginas, $65,00 (capa dura).
Em "A Preface to History" de Carl G. Gustavson, o autor afirma que ao visualizar qualquer evento histórico, deve-se examinar e tentar compreender quaisquer e todas as influências profundas que levaram à ocorrência de um específico episódio, porque nunca tais eventos ocorrem em um vácuo e simplesmente não "apenas ocorrem". Pelo contrário, as situações sempre vão em movimento na esteira de outros acontecimentos. Em seu excelente livro "Hitler's African Victims", Raffael Scheck faz isto com perfeição e com grande efeito.
Professor adjunto de História Moderna da Europa no Colby College e titular PhD da Universidade de Brandeis, Scheck é autor dos livros "Alfred von Tirpitz and German Right Wing Politics, 1914–1930"(Alfred von Tirpitz e as políticas alemãs de extrema-direita, 1914-1930) e "Mothers of the Nation: Right-Wing Women in Weimar Germany"(Mães da Nação: as mulheres de extrema-direita na República de Weimar), juntamente com vários artigos sobre políticas da extrema-direita alemã. Em Hitler’s African Victims, Scheck traz à luz uma área da história que até agora as pessoas, ou intencionalmente teriam ignorado ou, infelizmente, esquecido.
Durante o desesperado verão de 1940, as forças alemãs avançaram largamente, sem contenção, sobre a Europa Ocidental. Um dos muitos países a sentir a fúria do exército de Hitler foi a França. Ardendo com um intenso desejo de vingança pelas abominações impostas ao povo alemão - o Tratado de Versailles - Hitler e seus asseclas assumiram uma atitude especial para impôr uma rápida e humilhante rendição à França. As fileiras do exército francês alistaram mais de 100.000 soldados negros os quais os franceses haviam recrutado e mobilizado a partir de áreas da Mauritânia, Senegal e Níger, na África Ocidental Francesa, colocando-os em regimentos só negros ou mestiços e em seguida tornando-os parte das divisões da Infantaria Colonial. Durante a árdua batalha contra os alemães, estes soldados africanos - muitas vezes armados com os temidos coupe-coupe(facões) de lâmina longa, com os quais eles abriam caminho através dos soldados inimigos no combate corpo a corpo - viram-se confrontados com o melhor que os alemães poderiam reunir. Raramente se ouve a história das perdas que os africanos impuseram aos alemães.
Tragicamente, durante o período de luta mais difícil na campanha da França, acima de 3.000 desses prisioneiros Tirailleurs Senegalais foram evidentemente massacrados por soldados alemães. O assassinato de prisioneiros inimogos - por membros de ambos os lados - ocorreu durante a guerra, mas o grande número de perdas cometidas pelos Tirailleurs durante em um período relativamente curto de tempo levanta sérias questões. O autor faz um trabalho magistral de extraordinária e coerente informação do acontecimento para explicar as circunstâncias que cercam esses massacres.
Como parte de sua análise, Scheck discusses muitos aspectos da história do racismo na Alemanha que provavelmente levaram a atitudes predominantes dentro da sociedade nazista daquele tempo — por exemplo, o que ficou conhecido como "Terror Negro"(Black Horror), envolvendo o estacionamento de soldados negros na Renânia logo após a Primeira Guerra. Vários incidentes ocorreram entre estes soldados e a população nativa, especialmente os nascimentos de muitas crianças mestiças. Estarrecida, a liderança nazi pediu pela esterelização forçada destas crianças e a propaganda alemã trabalhava a exaustão para retratar negros como selvagens e "loucos pervertidos sexuais". Por conta destes esforços, uma forte fundação antinegra surgiu na nova Alemanha. Da mesma forma, como um poder colonial na África (1904–1907), a Alemanha eliminou mais de 150.000 negros durante uma série de levantes. Além disso, os alemães deram tratamento similar ao dos negros apanhados lutando pela União durante a Guerra Civil Norte-Americana, bem como o tratamento dos EUA a mexicanos, norte-americanos nativos e filipinos durante os conflitos com esses povos.
Todos esses fatores ajudaram a criar uma atmosfera propícia para cometer as atrocidades descritas neste livro. O autor explica eloqüentemente conceitos tais como o critério para o massacre sancionado e cinco fatores situacionais que conduziram ao assassínio de prisioneiros negros. Curiosamente, a pesquisa de Scheck revelou que quando tudo estiver dito e feito, aparentemente nenhuma diretiva do governo alemão ordenou que os soldados matassem esses prisioneiros. Muito provavelmente, a ferocidade da batalha, o racismo latente e os efeitos de terem visto colegas soldados mortos em combate - muitos cortados e separados por africanos ocidentais armados a faca - combinaram para motivar os alemães a agir como agiram. Na verdade, muitas unidades alemãs se recusaram a matar os prisioneiros negros absolutamente, e depois de agosto de 1940 - o período mais desesperador para alemães e franceses - pouco ou nenhum assassinato de prisioneiros ocorreu.
Apesar deu tecer louvores a este livro, eu tenho algumas discordâncias com o autor. Scheck afirma que os alemães iriam "atirar imediatamente nos negros dispersos sem lhes dar a oportunidade de se render. Isto era ilegal como um massacre, mas mais fácil para encobrir. . . . A prática de não dar alojamentos a soldados negros, embora ilegal, foi certamente facilitada pelo fato de que as disposições legais para se render poderiam ser difíceis de se aplicar no combate corpo a corpo"(páginas 61 e 66). De acordo com a Lei de Conflito Armado, no entanto, não é ilegal matar soldados em fuga ou dispersar os soldados. Só depois deles terem se rendido e o inimigo tomar o controle deles, eles se tornariam imunes de serem mortos. Da mesma forma, é legal dizimar toda formações de soldados inimigos - por não matá-los hoje, em vez de tê-los que enfrentar amanhã. Apesar de ser "descortês" poder matar soldados em fuga ou dizimar uma formação inteira inimiga, continua a ser perfeitamente aceitável e legal fazê-lo.
No geral, os pontos de menor importância em nada diminuem o grosso deste excelente livro. Não é sempre que se encontra um estudo da Segunda Guerra Mundial que revela uma página inteiramente nova da história. Completo com dez fotografias, quatro páginas de tabelas que descrevem os assassinatos e um mapa das áreas em questão, Hitler's African Victims deixa sua marca como uma importante contribuição para uma já desordenada história da guerra.
Tenente-Coronel Robert F. Tate, FAEUA(USAFR)
Base(AFB) de Maxwell, Alabama
Aviso
As conclusões e opiniões expressas neste documento são as que o autor manifesta de acordo com sua liberdade de expressão e no ambiente acadêmido da Academia da Força Aérea(Air University). Elas não refletem a posição oficial do Governo dos EUA, do Departamento de Defesa, da Força Aérea dos EUA ou da Academia da Força Aérea(Air University).
Fonte: Air & Space Power Journal Book Review(da Academia da Força Aérea dos EUA)
http://www.airpower.au.af.mil/airchronicles/bookrev/scheck.html
Tradução: Roberto Lucena
Ler também:
Crescendo negro na Alemanha nazista
Negros alemães vítimas do Holocausto
Mais apontamentos do racismo nazi
O racismo nazista nas palavras dos próprios nazistas
A Fazenda Nazista no Brasil e o emprego de trabalho escravo - rastros deixados pelos nazistas no país
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terça-feira, 19 de outubro de 2010
Hitler, desmontagem de um mito “kitsch”
Bustos do Führer expostos no Museu Histórico Alemão de Berlim. |
É a primeira exposição sobre Hitler organizada na Alemanha e está a dar brado. Inaugurada no dia 15 deste mês no Museu Histórico Alemão de Berlim, “Hitler e os alemães” apresenta várias centenas de objetos, fotografias e documentos que procuram explicar a relação entre o ditador nazi e o seu povo.
“É sobre nós ou sobre ele?”, interroga-se o Tagesspiegel. “Quem for à espera de análises psicológicas, abordagens biográficas, um modelo de explicação”, ou do retrato “de um monstro criminoso, um mito, um ícone pop ou um fantasma, sai desiludido”, considera o diário. Porque o que o visitante encontra é “um bom livro de história do nacional-socialismo”, uma maneira “de evitar a todo o custo a fixação diabolizada do pós-guerra”.
Uma exposição que insiste demasiado na manipulação dos espíritos
Para o Süddeutsche Zeitung, o nazismo coloca uma única questão: “Como foi isto possível?”. Desse ponto de vista, a exposição preocupa-se em “não esconder os crimes por trás da relação de Hitler com os alemães”. Uma intenção que se traduz logo à entrada, onde se apresenta três retratos de Hitler, por trás dos quais se veem imagens de crimes e de destruição.
Mas “o maior problema da exposição”, considera o diário, é que a relação entre Hitler e os alemães parece dominada “pelo carisma e pela propaganda”, esquecendo-se “as vantagens práticas” do nazismo para os seus adeptos. “O Terceiro Reich era uma grande máquina para fazer carreira em todos os domínios”, recorda o SZ. A exposição mostra como a propaganda se apoiava em brinquedos de criança e em jogos para adultos, mas insiste demasiado na manipulação dos espíritos.
No entanto, observa Die Welt, “a coleção de bustos ‘kitsch’, de cartas elogiosas e declarações de amor de crianças e de adultos” tem por objetivo sublinhar “a nostalgia de um personagem redentor, profundamente ancorada [na época] na sociedade alemã”. O diário considera assim que “Hitler e os alemães” “desmonta o mito do ‘carisma' do Führer” e reduz o personagem à sua verdadeira dimensão: “não um génio sulfuroso, mas um impostor medíocre impregnado de ‘kitsch’”.
O alemão mais conhecido, apesar de ser austríaco
E no entanto, Hitler “permanece o alemão mais conhecido, apesar de ser austríaco”, constata o Tagespiegel. “Goste-se ou não, Hitler continua a ser o nosso marco nacional mais importante”, insiste Die Welt, salientando que a imprensa internacional se lançou a ver a exposição antes mesmo da abertura, “de uma maneira impensável relativamente a qualquer outro assunto histórico”.
O diário explica este interesse “pela natureza das coisas, porque não haverá nunca resposta unívoca e definitiva para a questão de saber como um país tão civilizado como a Alemanha pôde deixar avolumar-se um regime tão monstruoso e deixá-lo contar até quase ao fim com um tão largo apoio do povo alemão”.
Mas, espera Die Welt, ao sair da exposição, talvez os visitantes, alemães e estrangeiros, se sintam incitados “a ter menos respeito e menos medo dos ditadores atuais e futuros”, e a percecionarem, “por trás das máscaras de grandes líderes, existências desprezíveis e falhadas”.
Fonte: Presseurop
http://www.presseurop.eu/pt/content/article/362541-hitler-desmontagem-de-um-mito-kitsch
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domingo, 4 de abril de 2010
Adina Blady Szwajger no Gueto de Varsóvia
Adina Blady Szwajger era uma pediatra no Gueto de Varsóvia. Quando a grande ação para deportação em julho de 1942 chegou ao seu hospital, ela deu aos seus jovens pacientes doses fatais de morfina. Em suas memórias, publicadas em 1988, ela revelou que:
Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2010/03/adina-blady-szwajger-in-warsaw-ghetto.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena
"Eu despejei este último remédio dentro daquelas pequenas bocas. . . . e embaixo do prédio havia muita gritaria porque os . . . alemães já estavam lá, levando os doentes das enfermarias para os caminhões de gado."Negacionistas podem querer refletir no porquê dela ter confessado este ato, dado que ela simplesmente poderia ter afirmado que os alemães assassinaram as crianças. Eles também podem querer considerar o contexto no qual ela agiu em 1942. Mas por que ela tinha tanta certeza de que essas crianças iriam sofrer mortes terríveis durante a deportação? A resposta se encontra naqueles eventos que ela já havia presenciado: um hospital contendo muitos cadáveres, atestando o fato de que os judeus já haviam sido mortos alvejados ou por fome. A resposta se encontra também na certeza de que seria improvável seus pacientes sobreviverem a uma longa viagem num caminhão de gado, e que o 'reassentamento' daqueles pacientes naquele contexto significaria apenas morte.
Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2010/03/adina-blady-szwajger-in-warsaw-ghetto.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena
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terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Mais de 1 milhão visitaram Auschwitz em 2008
Varsóvia, 19 jan (EFE).- Mais de 1,1 milhões de pessoas visitaram em 2008 o campo de concentração de Auschwitz-Bierkenau, ao sul da Polônia, dos quais cerca de 700 mil foram jovens interessados conhecer o local onde a barbárie nazista assassinou cerca de 1 milhão de judeus na 2ª Guerra Mundial.
Apesar dos bons dados, o número de visitantes não foi tão alto quanto o registrado em 2007, quando superou todos os recordes, com mais de 1,2 milhões de entradas, segundo reconheceu hoje a direção do centro de Auschwitz.
A maioria dos visitantes foi de poloneses (mais de 400 mil), seguidos pelos britânicos (110 mil), americanos (75 mil), alemães (60 mil) e israelenses (45 mil).
O museu de Auschwitz-Birkenau foi aberto em 1947, no antigo campo de concentração, o maior do nazismo, onde entre 1940 e 1945 foram assassinados 1,1 milhões de pessoas, sendo 90% judeus.
O campo foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1979, passando a ser um dos principais símbolos do Holocausto no mundo todo. EFE
Fonte: EFE/G1
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL962137-5602,00-MAIS+DE+MILHAO+VISITARAM+AUSCHWITZ+EM.html
Foto: BBC
Um ex-prisioneiro, Michnol Jerzy, mostra fotos de seus parentes enquanto ele atravessa o campo.
http://news.bbc.co.uk/2/hi/in_pictures/5026046.stm#
Apesar dos bons dados, o número de visitantes não foi tão alto quanto o registrado em 2007, quando superou todos os recordes, com mais de 1,2 milhões de entradas, segundo reconheceu hoje a direção do centro de Auschwitz.
A maioria dos visitantes foi de poloneses (mais de 400 mil), seguidos pelos britânicos (110 mil), americanos (75 mil), alemães (60 mil) e israelenses (45 mil).
O museu de Auschwitz-Birkenau foi aberto em 1947, no antigo campo de concentração, o maior do nazismo, onde entre 1940 e 1945 foram assassinados 1,1 milhões de pessoas, sendo 90% judeus.
O campo foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1979, passando a ser um dos principais símbolos do Holocausto no mundo todo. EFE
Fonte: EFE/G1
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL962137-5602,00-MAIS+DE+MILHAO+VISITARAM+AUSCHWITZ+EM.html
Foto: BBC
Um ex-prisioneiro, Michnol Jerzy, mostra fotos de seus parentes enquanto ele atravessa o campo.
http://news.bbc.co.uk/2/hi/in_pictures/5026046.stm#
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domingo, 23 de novembro de 2008
Evidência fotográfica de fuzilamentos em massa: 3. Liepaja
Liepaja é um excelente exemplo de como fotografias podem fazer parte de uma convergência de evidências ao lado destes fenômenos, como diários, testemunhos e estudos demográficos. Isto é discutido aqui, e aqui. Perceba novamente que unidades de não-alemães tomaram parte nos massacres, neste caso da Letônia.
Fonte: Holocaust Controversies
Por Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2008/10/photographic-evidence-of-mass-shootings_7387.html
Tradução(português): Roberto Lucena
Fonte: Holocaust Controversies
Por Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2008/10/photographic-evidence-of-mass-shootings_7387.html
Tradução(português): Roberto Lucena
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segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Alemães que protegiam judeus ganham memorial em Berlim
Berlim, 27 out (EFE).- Os civis alemães que deram refúgio aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial e arriscaram com isso suas vidas ganharam hoje o chamado Memorial aos Heróis Silenciosos, em Berlim.
No centro inaugurado hoje são documentadas as vidas de 250 alemães que esconderam judeus perseguidos pelo Terceiro Reich, para evitar, portanto, que fossem deportados a campos de concentração e fossem vítimas do Holocausto.
O número de vidas salvas por esses heróis se estima em cinco mil, das quais 1.700 viviam em Berlim, informou hoje o diretor do Memorial da Resistência Alemã, o analista político Johannes Uchel.
Em 2004, a Fundação Resistência Alemã adquiriu o edifício na Rua Rosenthaler, onde o industriário Otto Weidt tinha uma oficina, na qual trabalharam pessoas cegas sob sua proteção durante o Nazismo.
Tuchel explicou hoje que muitos dos chamados heróis silenciosos se mantiveram no anonimato até agora "por modéstia".
De fato, quase 65 anos depois da capitulação nazista que pôs fim à Segunda Guerra Mundial, fica mais difícil localizar os protagonistas do capítulo mais negro da história alemã.
A exposição será ampliada nos próximos anos com os destinos de outros heróis europeus.
Fonte: EFE/G1
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL838559-5602,00.html
Ver também: Salvadores Alemães
http://holocausto-doc.blogspot.com/search?q=salvadores+alem%C3%A3es
No centro inaugurado hoje são documentadas as vidas de 250 alemães que esconderam judeus perseguidos pelo Terceiro Reich, para evitar, portanto, que fossem deportados a campos de concentração e fossem vítimas do Holocausto.
O número de vidas salvas por esses heróis se estima em cinco mil, das quais 1.700 viviam em Berlim, informou hoje o diretor do Memorial da Resistência Alemã, o analista político Johannes Uchel.
Em 2004, a Fundação Resistência Alemã adquiriu o edifício na Rua Rosenthaler, onde o industriário Otto Weidt tinha uma oficina, na qual trabalharam pessoas cegas sob sua proteção durante o Nazismo.
Tuchel explicou hoje que muitos dos chamados heróis silenciosos se mantiveram no anonimato até agora "por modéstia".
De fato, quase 65 anos depois da capitulação nazista que pôs fim à Segunda Guerra Mundial, fica mais difícil localizar os protagonistas do capítulo mais negro da história alemã.
A exposição será ampliada nos próximos anos com os destinos de outros heróis europeus.
Fonte: EFE/G1
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL838559-5602,00.html
Ver também: Salvadores Alemães
http://holocausto-doc.blogspot.com/search?q=salvadores+alem%C3%A3es
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Homem é preso por grafitar memorial do Holocausto
BERLIM - A polícia de Berlim afirmou que um homem foi preso depois de grafitar mensagens anti-semitas no Memorial do Holocausto em Berlim.
A declaração da polícia afirma que um segurança deteve um jovem de 28 anos intoxicado, originário da Alemanha oriental, na noite de terça-feira, quando ele grafitava quatro dos blocos do enorme memorial.
O segurança chamou a polícia.
Segundo a declaração emitida nessa quarta-feira, o homem grafitou "palavras e imagens, algumas das quais continham mensagens anti-semitas" nos blocos de concreto.
O memorial às mais de 6 milhões de vítimas judias do holocausto contêm mais de 2,700 blocos de concreto cinza e fica perto do Portal de Brandenburgo.
O memorial foi aberto ao público em 2005 e é facilmente acessível a qualquer horário.
Vandalismo foi documentado inúmeras vezes no memorial.
Fonte: AP/Último Segundo
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2008/07/09/homem_e_preso_por_grafitar_memorial_do_holocausto_em_berlim_1428429.html
A declaração da polícia afirma que um segurança deteve um jovem de 28 anos intoxicado, originário da Alemanha oriental, na noite de terça-feira, quando ele grafitava quatro dos blocos do enorme memorial.
O segurança chamou a polícia.
Segundo a declaração emitida nessa quarta-feira, o homem grafitou "palavras e imagens, algumas das quais continham mensagens anti-semitas" nos blocos de concreto.
O memorial às mais de 6 milhões de vítimas judias do holocausto contêm mais de 2,700 blocos de concreto cinza e fica perto do Portal de Brandenburgo.
O memorial foi aberto ao público em 2005 e é facilmente acessível a qualquer horário.
Vandalismo foi documentado inúmeras vezes no memorial.
Fonte: AP/Último Segundo
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2008/07/09/homem_e_preso_por_grafitar_memorial_do_holocausto_em_berlim_1428429.html
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Teoria Ariana de Hitler é desmentida pela ciência
Uma nova pesquisa científica provou que a teoria da pureza racial escandinava, sustentada por Hitler e os nazistas, é totalmente falsa. O conceito de um único tipo genético escandinavo, de uma raça que andou pela Dinamarca e se estabeleceu lá, isolada do mundo, é uma falácia.
O estudo mostrou que corpos de cemitérios de 2 mil anos deidade no leste da Dinamarca continham tanta variação genética em seus restos quanto a quantia esperada a ser encontrada em indivíduos dos dias atuais. Os achados, analisados pela Universidade de Copenhagen, destroem o conceito de "superioridade" da raça nórdica.
Hitler usou pesquisas pseudo-científicas para apoiar suas idéias de que os europeus do norte poderiam formar uma raça impecável, que comandariam a sociedade humana. A teoria racista, que coloca a raça "superior" no topo da hierarquia humana e judeus em baixo, desenvolveu papel central no Holocausto.
Línea Melchior, que analisou o DNA de diversos corpos, tem certeza que dinamarqueses sempre mantiveram contato com pessoas do mundo todo. Em um dos terrenos, inclusive, foram encontrados restos de um homem que pareceu ter origem árabe. Longe de demonstrar isolamento e "genética pura", o estudo provou que os dinamarqueses se misturaram com pessoas do mundo todo.
Fonte: Redação SRZD (Brasil, 15.06.2008)
http://www.sidneyrezende.com/noticia/13604
Texto original: Telegraph (Reino Unido, 16.06.2008)
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/denmark/2124105/Adolf-Hitler's-Aryan-theory-rubbished-by-science.html (link acima expirou)
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/denmark/2124105/Adolf-Hitlers-Aryan-theory-rubbished-by-science.html
O estudo mostrou que corpos de cemitérios de 2 mil anos deidade no leste da Dinamarca continham tanta variação genética em seus restos quanto a quantia esperada a ser encontrada em indivíduos dos dias atuais. Os achados, analisados pela Universidade de Copenhagen, destroem o conceito de "superioridade" da raça nórdica.
Hitler usou pesquisas pseudo-científicas para apoiar suas idéias de que os europeus do norte poderiam formar uma raça impecável, que comandariam a sociedade humana. A teoria racista, que coloca a raça "superior" no topo da hierarquia humana e judeus em baixo, desenvolveu papel central no Holocausto.
Línea Melchior, que analisou o DNA de diversos corpos, tem certeza que dinamarqueses sempre mantiveram contato com pessoas do mundo todo. Em um dos terrenos, inclusive, foram encontrados restos de um homem que pareceu ter origem árabe. Longe de demonstrar isolamento e "genética pura", o estudo provou que os dinamarqueses se misturaram com pessoas do mundo todo.
Fonte: Redação SRZD (Brasil, 15.06.2008)
http://www.sidneyrezende.com/noticia/13604
Texto original: Telegraph (Reino Unido, 16.06.2008)
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/denmark/2124105/Adolf-Hitler's-Aryan-theory-rubbished-by-science.html (link acima expirou)
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/denmark/2124105/Adolf-Hitlers-Aryan-theory-rubbished-by-science.html
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