terça-feira, 19 de outubro de 2010

Exposição em Berlim aborda popularidade de Hitler durante o nazismo

Edição de 'Minha Luta',
livro escrito por Adolf Hitler
Com a mostra "Hitler e os Alemães", o Museu Histórico de Berlim investiga como o ditador nazista conquistou a população e conseguiu contar com seu apoio por tanto tempo.

Esta é a primeira vez que uma exposição na Alemanha tenta decifrar o enigma da popularidade de Adolf Hitler durante o Terceiro Reich. A mostra intitulada Hitler e os Alemães – Nação e Crime exibe até 6 de fevereiro 600 objetos e cerca de 400 fotografias e cartazes.

O fio condutor da mostra é o ditador que, segundo o curador Hans-Ulrich Thamer, não teria na realidade nenhum outro atributo a não ser o de orador e agitador. "A aura carismática que se criou em torno da sua figura se deve às expectativas que a população depositou nele em um momento em que a Alemanha atravessava uma profunda crise econômica no período entreguerras", assinalou.

O poder que Hitler atingiu não se explica por suas qualidades pessoais, mas sim pelas condições políticas e sociais e pelo impacto psicológico dessas circunstâncias sobre a população alemã. "A população estava buscando um bode expiatório a ser culpado por sua miséria, algo que Hitler também ofereceu, estigmatizando judeus, esquerdistas, ciganos, homossexuais e outros grupos considerados estranhos à sociedade", explicou o curador.
Retrato de Adolf Hitler
Sem relíquias de Hitler

A mostra exibe diferentes tipos de objetos, desde os uniformes da Gestapo e da SS até a escrivaninha de madeira com uma suástica incrustada, que Hitler usava na Chancelaria. Também se podem ver espadas, punhais de ferro, cassetetes e botas militares que demonstram o potencial de violência de objetos considerados viris. Além disso, a exposição inclui estandartes nazistas que insinuavam a proximidade entre as camadas mais pobres da população e as elites.

Um dos uniformes expostos no Museu Histórico de Berlim foi fabricado pela marca Hugo Boss, que naquela época tinha unidades em Stuttgart e Tübingen, no sul da Alemanha. Por meio de documentos, fotografias e testemunhos, a mostra aborda as diferentes etapas do nazismo e explica como Hitler usou o poder para reprimir adversários e sindicatos. A exposição também demonstra que muitos inicialmente subestimaram o ditador, até a escalada do nacional-socialismo e o impacto extremamente destrutivo que ele teve sobre a Europa.

A mostra não tem nenhum objeto que tenha pertencido ao ditador. "Não queríamos relíquias, mas sim analisar a estilização da política através de sua propaganda", assinalou Thamer.

Exposição exibe objetos de época
A marca do regime no cotidiano

"O carisma de Hitler durou muito tempo e isso se deve à disposição da população em participar de sua luta. As pessoas diziam que tinham que trabalhar para o Führer", constata o curador, mostrando como exemplo uma grande tapeçaria com uma suástica no centro, confeccionada por uma pequena comunidade luterana. "Gestos como esses se constataram em inúmeros grupos sociais, o que revela as grandes expectativas que o ditador despertou entre a população, grupos empresariais, agricultores e jovens", disse Thamer.

A exposição no Museu Histórico de Berlim não fez nenhuma publicidade com cartazes, cumprindo a lei que proíbe mostrar símbolos nazistas. Mas, ao adentrar no espaço subterrâneo, o visitante submerge no mundo nazista, que inclui desde maços de cigarro com a suástica, o carrinho de mão usado pelos vendedores do jornal do partido, Voelkischer Beobachter, bonecos reproduzindo a imagem de Hitler, até o protótipo do modelo Volkswagen projetado pelo fabricante Ferdinand Porsche como presente de aniversário ao ditador.

O contágio das massas pelo nazismo

Além de documentar a expansão do Estado nazista com sua indústria, suas rodovias e manifestações públicas, a exposição também mostra o crescente ódio racista e a discriminação. Em um cartaz, vê-se um menino deficiente mental ao lado de um atleta musculoso e abaixo se lê uma advertência sobre "os perigos demográficos caso os deficientes tenham quatro filhos e os normais, somente dois".

Curador Hans-Ulrich Thamer
"Todos os dias, os jornais propagavam manchetes como ‘os judeus são a nossa desgraça'. A partir de sua posição de poder, o partido radicalizou gradativamente a perseguição aos judeus até iniciar sua deportação em 1942, com amplo apoio da população", lembra o curador.

Hans-Ulrich Thamer explica o mecanismo que transformou em assassinos os funcionários de campos de concentração, por exemplo. "Eles tinham uma base ideológica que fora criada pelo partido, que também se respaldava na pressão do grupo. Temos a informação que um comandante ordenou a um batalhão policial que fuzilasse um grupo de judeus russos. O comandante acrescentou que quem não quisesse participar poderia ficar em casa e descascar batatas. Qual homem que crescera sob os ideais masculinos do período entreguerras poderia optar voluntariamente por ficar na cozinha?", indaga Thamer. "Depois se davam conta do que haviam feito e se refugiavam no álcool", explica o curador.

Autora: Eva Usi (sl)
Revisão: Roselaine Wandscheer

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6115899,00.html

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