Bustos do Führer expostos no Museu Histórico Alemão de Berlim. |
É a primeira exposição sobre Hitler organizada na Alemanha e está a dar brado. Inaugurada no dia 15 deste mês no Museu Histórico Alemão de Berlim, “Hitler e os alemães” apresenta várias centenas de objetos, fotografias e documentos que procuram explicar a relação entre o ditador nazi e o seu povo.
“É sobre nós ou sobre ele?”, interroga-se o Tagesspiegel. “Quem for à espera de análises psicológicas, abordagens biográficas, um modelo de explicação”, ou do retrato “de um monstro criminoso, um mito, um ícone pop ou um fantasma, sai desiludido”, considera o diário. Porque o que o visitante encontra é “um bom livro de história do nacional-socialismo”, uma maneira “de evitar a todo o custo a fixação diabolizada do pós-guerra”.
Uma exposição que insiste demasiado na manipulação dos espíritos
Para o Süddeutsche Zeitung, o nazismo coloca uma única questão: “Como foi isto possível?”. Desse ponto de vista, a exposição preocupa-se em “não esconder os crimes por trás da relação de Hitler com os alemães”. Uma intenção que se traduz logo à entrada, onde se apresenta três retratos de Hitler, por trás dos quais se veem imagens de crimes e de destruição.
Mas “o maior problema da exposição”, considera o diário, é que a relação entre Hitler e os alemães parece dominada “pelo carisma e pela propaganda”, esquecendo-se “as vantagens práticas” do nazismo para os seus adeptos. “O Terceiro Reich era uma grande máquina para fazer carreira em todos os domínios”, recorda o SZ. A exposição mostra como a propaganda se apoiava em brinquedos de criança e em jogos para adultos, mas insiste demasiado na manipulação dos espíritos.
No entanto, observa Die Welt, “a coleção de bustos ‘kitsch’, de cartas elogiosas e declarações de amor de crianças e de adultos” tem por objetivo sublinhar “a nostalgia de um personagem redentor, profundamente ancorada [na época] na sociedade alemã”. O diário considera assim que “Hitler e os alemães” “desmonta o mito do ‘carisma' do Führer” e reduz o personagem à sua verdadeira dimensão: “não um génio sulfuroso, mas um impostor medíocre impregnado de ‘kitsch’”.
O alemão mais conhecido, apesar de ser austríaco
E no entanto, Hitler “permanece o alemão mais conhecido, apesar de ser austríaco”, constata o Tagespiegel. “Goste-se ou não, Hitler continua a ser o nosso marco nacional mais importante”, insiste Die Welt, salientando que a imprensa internacional se lançou a ver a exposição antes mesmo da abertura, “de uma maneira impensável relativamente a qualquer outro assunto histórico”.
O diário explica este interesse “pela natureza das coisas, porque não haverá nunca resposta unívoca e definitiva para a questão de saber como um país tão civilizado como a Alemanha pôde deixar avolumar-se um regime tão monstruoso e deixá-lo contar até quase ao fim com um tão largo apoio do povo alemão”.
Mas, espera Die Welt, ao sair da exposição, talvez os visitantes, alemães e estrangeiros, se sintam incitados “a ter menos respeito e menos medo dos ditadores atuais e futuros”, e a percecionarem, “por trás das máscaras de grandes líderes, existências desprezíveis e falhadas”.
Fonte: Presseurop
http://www.presseurop.eu/pt/content/article/362541-hitler-desmontagem-de-um-mito-kitsch
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