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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Alguns heróis ciganos

O povo romani reivindica referências como o boxeador Johan Trollmann, o ilustrador Helios Gómez ou o líder anarquista Mariano Rodríguez Vázquez

Da esquerda para a direita, o líder da CNT Mariano Rodríguez Vázquez,
o grafista Helios Gómez, e o boxeador Johan Trollmann.
Jóvenes gitanos plantan cara al antigitanismo
HELENA LÓPEZ / BARCELONA

Quinta-feira, 8 de dezembro de 2016 - 17:18 CET

Johan Trollmann (1907-1944), conhecido como Rukeli, foi campeão nacional de boxe na Alemanha de 1933, ano em que Hitler ascendeu ao poder. Não é estranho dizer, pois, que oito dias depois, os nazis retiraram o título alegando "falta de nível". O Terceiro Reich não podia aceitar exaltar a um cigano. Um jovem como Rukeli, nas antípodas do modelo ariano que o nazismo pretendia impor. Não só por sua tez morena e sua frondosa mata de cabelo azeviche, senão também por seu característico estilo dançarino sobre o quadrilátero, muito longe do duro 'estilo alemão'. Saltos ágeis e muito efetivos que, contam, tiravam os nazis do sério. Assim que, não sendo bastante lhe retirar o título de campeão, ameaçaram-no em lhe negar também a licença para seguir competindo a nível profissional se não deixasse de "dançar" enquanto lutava.

A seguinte peleja que ele participou acudiu depois de terem tirado seu título, Rukeli, desafiante, subiu ao ringue com o cabelo tingindo de ruivo e o rosto polvilhado de branco (algumas versões dizem que com farinha, outras, que com pó de talco). Com a rebeldia própria de sua condição cigana, Rukeli fez caso e, por uma vez, não dançou. Ficou no centro do ringue coberto em pó branco sem mover as pernas até que foi nocauteado no quinto assalto; tudo dignamente. Ali terminou sua carreira, mas esse gesto de galhardia lhe converteu em um herói para o povo cigano. Um gesto simples mas estoico com o qual ridicularizou a todo um regime racista, que acabou o encarcerando em um campo de trabalho forçado.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL HELIOS GÓMEZ
Os anjos negros da 'Capela cigana' da Modelo,
pintados por Helios Gómez na prisão
Histórias como a de Rukeli, ainda referência, são as que os jovens ciganos não só daqui, senão de meia Europa, reivindicam, fazendo pressão tanto a seus governos locais como através das poderosas redes sociais para lhes fazer justiça.

ARTISTA INTERNACIONAL

Em Barcelona também há heróis ciganos com histórias muito desconhecidas, pese o impacto que deixam em quem as descobre (algo que se sente difícil, já que a história do povo cigano não é estudada nos colégios). É o caso de Helios Gómez (1905-1956), autor da 'Capela cigana' (Link2) de 'La Modelo', ainda tapada sob uma capa de cal em uma habitação fechada. Rebelde como Rukeli, Gómez foi anarquista, comunista e de novo anarquista, segundo desencadeou em decepções. Preso em incontáveis ocasiões por sua ideologia, o ilustrador foi 'convidado' pelo cura do cárcere pra que desenhasse em uma das paredes da cela um fresco da Virgem das Mercês (Barcelona). Também ao melhor estilo Rukeli, Gómez - que fora proibido de pintar entre grades - concordou, mas o fez, como não, a sua maneira. Pintou uma Virgem e um menino Jesus rasgos inequivocamente ciganos, acompanhados por uns anjos negros de Machín que acabaram se convertendo em um apelo contra o regime.

O filho de Helios, Gabriel, passa anos trabalhando na associação cultural que leva o nome de seu pai para restituir a memória do ilustrador, grafista e poeta e de "todos os que, como ele, lutaram pela liberdade".

Outra figura cigana muito reivindica, também rebelde e anarquista, é Mariano Rodríguez Vázquez, 'Marianet'. Secretário Regional da Catalunha e da CNT entre novembro de 1936 e junho de 1939, "desempenhou um papel decisivo no futuro anarcosindicalista e na vida política e social da guerra civil espanhola", segundo a Wikipedia. Urge que as petições do coletivo de que se estude e documente a fundo sua história sejam escutadas para poder ir mais além da enciclopédia livre.

Fonte: El Periódico, Barcelona (Espanha)
http://www.elperiodico.com/es/noticias/barcelona/algunos-heroes-gitanos-5674253
Título original: Algunos héroes gitanos
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Observações do post "Sobre a Ordem dos Comissários: instruções da guerra de aniquilação nazista na União Soviética"

Antes de repassar as observações do post que também dá título parcial a este post (separarei o texto original com um traço), irei transcrever, quando for possível, algumas observações de outros posts pra não alongar os posts originais, já que algumas observações acabam saindo do tema do post e citando questões políticas atuais no país ou no mundo.

Mas por quê, às vezes (ou muitas vezes), estas observações "saem pela tangente" do tema original do post? (a quem quiser pular esta observação extra, as observações originais do post estão após o traço abaixo e tem informação sobre segunda guerra)

Porque não é possível, por mais esforço que se faça, ignorar a realidade ao redor (do que se passa no país e no mundo) num ambiente de polarização política extrema.

Desde o "Vem pra rua" de 2013 (a "revolução colorida" que não se concretizou, mas faz estrago até hoje) a radicalização política no Brasil, que já era grande, degringolou de vez com grupos reacionários (que se autodenominam como "liberais" ou "liberais-conservadores", e alguns usam o termo "libertários", mas são todos uma coisa só: autoritários, vira-latas, estúpidos e anacrônicos) atacando tudo que consideram "inimigo". E se querem radicalizar, vão ter obviamente um contraponto ou resposta.

Essa polarização política pesada (radicalização) não ocorre só no Brasil, em praticamente quase todo mundo está ocorrendo radicalização política, alguns mais outros menos, mas ocorre em todo mundo.

Só que a polarização no Brasil é agravada ainda mais pela atuação partidarizada da "grande mídia" (o oligopólio de mídia, com destaque pra Rede Globo ou Organizações Globo) e principalmente pelo fato da vulnerabilidade da maior parte da população por aceitar passivamente o que esta grande mídia (que ascendeu na ditadura de 21 anos do país) repassa como "verdade" em questões atuais do país.

Esse não é um "problema" pequeno, é algo extremamente sério e não dá pra ignorar ou deixar de lado.

Evitei ao extremo não sair do tema segunda guerra, mas... uma vez que muita gente não mantém distância dos temas atuais (tentam misturá-los) e uma outra parte fica "calada" (quieta) pra não tomar posição, por covardia (mesmo quando deve), então não sou obrigado a respeitar qualquer um desses lados (não levarei em conta qualquer um desses dois lados pra tomar posições).

Quando pessoas começam a "cercar", enchendo a paciência com temas atuais porque querem usar A, B ou C como "escudos" pra algum fim político (no Orkut isso ocorreu), a tentativa de distanciamento de questões atuais (pra evitar trazer gente tosca, fanática e ignorante panfletando besteira pra junto) vai literalmente pro ralo.

E ninguém se iluda, eu não faço questão alguma de agradar A, B ou C porque alguém aparenta ser "educado" ao mesmo tempo que defende extremismo, ou porque comunidade A ou B tem posição "x" em relação ao Oriente Médio e coisas afins.

Sou humano (porque questões nacionais não devem ficar acima da condição humana), mas sou cidadão brasileiro, e minha visão política de mundo é de cidadão brasileiro (carregada do nativismo de minha terra natal, nativismo que também ocorre em todos os estados do país, uns mais outros menos), mesmo que eu saiba qual é o ponto de vista de outros países.

Não abro mão disso em hipótese alguma discutindo com outros brasileiros. Porque há brasileiros com crise de identidade nacional aguda (tanto brasileiros fora do Brasil como dentro do país), mas isso é problema dessas pessoas, não meu. Não sou "clínica de autoajuda" pra gente com esse tipo de problema.

Que fique claro que quando faço as observações acima, estou me referindo estritamente a discussões em português, principalmente com brasileiros, porque eu não percebo esse tipo de crise de identidade ou "grilo" (de grilado) que sempre remete a um complexo, ou mesmo preconceito agudo porque "fulano" é de tal país, estado, região, cidade (tirando o antissemitismo característico dos "revis") nas discussões em inglês como no blog Holocaust Controversies, no Rodoh etc.

Observações do post "Sobre a Ordem dos Comissários: instruções da guerra de aniquilação nazista na União Soviética" logo abaixo.
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Observação 1: quem quiser ler mais sobre a diretiva de Hitler, conferir o link do blog Avidanofront:
Ordem do führer sobre a administração das regiões do leste novamente ocupadas
Quem quiser ver o documento em inglês:
Himmler’s Memorandum on the Treatment of Alien Peoples in the East, 25 May 1940

E se alguém achar que isso é o texto mais pesado sobre a questão, tem coisas piores, que envolvem o nazi Erhard Wetzel (figura pouco citada e conhecida) sobre o Generalplan Ost. É curioso o cinismo dos ditos "revis" com a dimensão da guerra de extermínio praticada pelos nazistas, eles praticamente evitar citar essa questão do extermínio no leste europeu.

Cinismo e muitas vezes ignorância e estupidez também já que o conhecimento de boa parte deles do evento é precário ou totalmente distorcido, o que não apaga a ideia asquerosa por detrás desse apego desmedido deles com o que eles visualizam ou identificam como 'nazismo'.

Antes de ser algo caricato como a gente costuma ironizar a cretinice de alguns deles, no fundo esse pessoal é adepto do darwinismo social, como também o é alguns grupos que se denominam "liberais", mas que evitam a citação do termo "darwinismo" explicitamente por motivos óbvios (seriam facilmente rotulados de racistas), embora tenham uma aversão cínica e profunda com a questão do combate ao preconceito e racismo no Brasil e um ódio de classe profundo contra pobres (é essa uma das raízes do darwinismo social).

Ao contrário do que muita gente pensa, esse tipo de ideia de exclusão e racista é bem difundida em algumas cidades brasileiras. A "aparição" de grupos denominados "neonazis" no Brasil, ao contrário do que a mídia propaga como sendo "algo absurdo", infelizmente não é. O que ocorre é que esta mesma mídia e governos não têm interesse de esclarecer nada do assunto e nem de se aprofundar no problema da origem do racismo moderno no Brasil (que tem ligação direta com o evento da imigração pro Brasil no século XIX e começo do século XX), assunto que nem sequer é citado em colégios quando deveria ser obrigatório a discussão disso. E um adendo, refiro-me tanto à mídia de direita e de esquerda. Só vi uma vez citarem algo relativo a isso no site Viomundo, mas era só sobre São Paulo. Ou seja, o assunto sobre branqueamento no Brasil (que é o que dá base a esse racismo atual no país, as crenças racistas, além da herança racista colonial) sequer é discutido por conveniência, pra manter esses preconceitos regionais (preconceitos com conotação racista) inalterados.

Mas como dizia, a aparição desses bandos ditos "neonazis" no Brasil não é algo tão "absurdo" assim, apesar da adoção de símbolos do fascismo alemão por eles sempre soar ridículo pois o Brasil é um país com predominância da cultura portuguesa, indígena e negra, não excluindo as contribuições dos outros povos que pra cá migraram, mas essa também é a base étnica da maior parte do país, inclusive em regiões que a mídia propagam como "brancas" ou sem ligação com essas três culturas e povos (apesar de falarem português o tempo todo... vejam só...) porque há um sentimento de aversão dessas cidades com Portugal, negros e indígenas.

A mídia brasileira, de uns tempos pra cá, andar querendo "escandinavizar" o Brasil, talvez pra suprir seus complexos e sentimentos obscuros (que não tem coragem de externar), embora mantenha pro público externo a imagem do Brasil "tropical" formulada no Estado Novo do país (com contribuição da Disney) que perdura até hoje.

Como já deu pra notar, minha opinião sobre a mídia brasileira não é lá muito boa (e também de boa parte da mídia estrangeira). Digamos que, fizeram por onde ter essa imagem negativa, a "birra" não surgiu do nada. Em geral, a imagem da mídia hoje no mundo não é muito boa, pra não dizer que é terrível.
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Observação 2: Quem quiser baixar o livro (PDF), vá ao link do site do Centro de História Militar do Exército dos EUA.

Fiz questão de frisar a fonte pra servir como uma amostra pros fanáticos de direita do Brasil, com uma obsessão em repetir discurso da guerra fria.

A quem assistiu a abertura da Copa e leu o texto que coloquei aqui sobre ela (eu não profetizei...), viram uma demonstração desse fanatismo e radicalização imbecil nos xingamentos que esses fanáticos bitolados (e sem qualquer pingo de educação), na parte mais cara do estádio (com ingressos mais caros, setor "VIP" da baixaria e da elite Zé Povinho, o populacho medonho, a gentalha abastada brasileira), proferiram contra a presidente do país, quando não caberia numa cerimônia de abertura se comportarem tão grotescamente daquela forma achando que estavam "abafando", independente de divergência política.

Seria igualmente errado se o fato ocorresse com um presidente com outro retrospecto ideológico, eleito democraticamente. Há que se saber separar divergências de fanatismo e sectarismo, que é o que esse pessoal está fazendo há bastante tempo insuflados por certa mídia irresponsável, inconsequente e corporativa do país. Queimaram-se lindamente pro mundo inteiro ver.

Nem a principal potência rival da URSS (que não existe mais) possui um sectarismo e fanatismo tão estreitos com esses assuntos como o que se verifica na direita brasileira e latinoamericana (e ibérica), ou na maior parte dela. Sectarismo que mistura uma dose de paranoia, idiotice, má educação, prepotência e fanatismo religioso (obscurantismo).
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Observação 3: tem uma parte do texto (nas notas 45 e 46) que diz o seguinte:
"A ocupação era para ser permanente. Este era o objetivo final do que Hitler queria fazer, e nada nem ninguém estava autorizado a interferir com a realização deste empreendimento.45 Esta foi uma luta de ideologias, não de nações."
Pois bem, essa era também minha opinião anterior sobre o evento, mas analisando a coisa hoje eu discordo da minha opinião anterior. Esta foi uma guerra ideológica sim, entre o fascismo (nazismo) e o socialismo da URSS, mas também uma guerra entre nações e de aniquilação.

A própria ideia racista de ocupação e aniquilação de povos no leste (por estes serem inferiores ou descartáveis por ideias racistas, na concepção nazista) não é propriamente algo original da guerra anticomunista da segunda guerra, esta guerra também foi uma guerra de colonização, uma guerra "racial" (étnica) de aniquilação, só que dessa vez na Europa, como as ocorridas nas colonizações feitas na África e nas Américas.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Foi o Holocausto um fenômeno marginal nos países neutros?

O Holocausto não foi, de forma alguma, um mero capítulo da II Guerra Mundial. Foi, na verdade, um acontecimento determinante na história europeia.

Entre os dias 24 e 26 de Novembro teve lugar, em Madrid, o Colóquio Internacional “Bystanders, Recuers or Perpetrators. The Neutral Countries and the Shoah”. Organizado pelo Centro Sefarad, pelo Centro de Estudos do Holocausto e Genocídio (Universidade do Minnesota), pelo Memorial da Shoah (Paris), pelo Departamento Federal dos Negócios Estrangeiros da Suíça, pela Fundação da Topografia do Terror (Berlim), foi o primeiro encontro em que se debateu o papel dos países neutros relativamente ao tema, numa perspectiva comparada. A par de investigadores da Suécia, Suíça, Turquia e Espanha, estiveram presentes três historiadores que se têm debruçado sobre a problemática dos refugiados judeus em Portugal e do relacionamento do Estado Novo com o III Reich.

Portugal esteve representado, pela primeira vez, num fórum acadêmico internacional que debateu um dos episódios mais trágicos da história contemporânea – a atitude dos países europeus neutros face ao massacre dos judeus pelos nazis. Este encontro refletiu, na verdade, uma mudança ocorrida nas últimas décadas na própria historiografia, cujo paradigma se estendeu do “epicentro” do Holocausto para a “periferia”, isto é, para aqueles países que durante muito tempo foram vistos como meros “espectadores”. Um dos oradores questionou mesmo se foi possível ser-se neutro perante um genocídio (Paul Levine).

As palavras “similaridade”, apesar das diferenças, e “ambiguidade” foram, talvez, as mais utilizadas ao longo dos três dias. Uma das principais conclusões a que se chegou foi o facto de a resposta à perseguição movida pelo regime Nacional-Socialista ter sido similar em todos estes países. Todos optaram por adotar medidas restritivas, fechando as fronteiras aos que tentavam salvar-se, sob o pretexto de que os refugiados poderiam perturbar o mercado de trabalho interno ou, até, pôr em perigo a homogeneidade nacional. E até os documentos oficiais refletem esta semelhança ao utilizarem termos como “indesejáveis” para classificar os judeus. Análoga foi, ainda, a resposta ao ultimato alemão de repatriamento dos judeus, em 1943/1944, e o ajustamento da política fronteiriça de acordo com a evolução da guerra.

Terá sido o grau de conhecimento e de compreensão dos fatos fatores que condicionaram a resposta e posição dos países neutros? De fato, não era possível prever o que iria acontecer depois da invasão da União Soviética, em Junho de 1941, dado que o chamado Holocausto – ou Shoah – se tratou, como o historiador Yehuda Bauer demonstrou, de um genocídio não planeado, que evoluiu por etapas e teve a sua expressão máxima, no Leste europeu, a partir de final de 1941. Se até então a discriminação, emigração/expulsão dos judeus (e “arianização” da sua propriedade) eram centrais na política nazi, e era uma solução possível, embora cada vez mais difícil devido aos entraves colocados pelos nazis e à própria guerra, a partir de final de 1942 e ao longo de 1943, tornou-se cada vez mais claro o que estava a acontecer no Leste da Europa. No entanto, o mesmo Yehuda Bauer chamou a atenção para o facto de o genocídio nazi dos judeus não ter tido precedente e de que, apesar de os países aliados e neutros terem obtido algumas informações sobre o que se passava na Europa de Leste ocupada, se tem de fazer uma distinção entre informação e conhecimento, sendo este último fundamental para a tomada de uma ação.

Outros fatores equacionados pelo investigadores presentes foram o regime político (democracia/ditadura) dos países neutros, a proximidade/distanciamento ideológico face ao Nacional-Socialismo, o peso da opinião pública, a existência de antissemitismo individual e/ou estatal, a questão da soberania nacional ou, entre outros, o desfecho da guerra.

Ficou claro que o Holocausto não foi, de forma alguma, um mero capítulo da II Guerra Mundial. Foi, na verdade, um acontecimento determinante na história europeia. Para alguns países, como a Suécia, tornou-se numa memória essencial para a própria integração na Europa. Mas, além de ser um facto da história europeia, foi ainda um facto da história da Humanidade e uma questão ética da humanidade. Isto explica a necessidade de apostar no seu ensino, que é tanto mais premente quando se assiste na Europa à ascensão de uma nova extrema-direita, ao recrudescimento da xenofobia e do antissemitismo, bem como à banalização do Holocausto devido ao conflito israelo-palestiniano. A abordagem do tema no ensino básico e secundário ajudará – como foi sublinhado num dos últimos painéis sobre a sua memória e educação nos países neutros – a uma reflexão mais ampla sobre racismo, democracia – tão frágil –, direitos humanos ou sobre o papel da história e da memória na construção de uma educação para a cidadania.

Que obstáculos enfrentam os professores nos países neutros? Um dos desafios consiste no fato de se estar a ensinar sobre algo que não teve lugar no interior das suas fronteiras, não existindo mesmo “lugares de memória”, como os campos. Outros países, onde a transição pacífica para a democracia – como foi o caso de Espanha – não conduziu a uma confrontação com a memória, é ainda necessário lidar com o legado da ditadura e enfrentar, com honestidade, o passado (Marta Simó). Este é o caso da Espanha, onde o regime Franquista apostou na construção da sua própria memória histórica em torno do envolvimento do país na II Guerra Mundial.

No final da conferência houve ainda oportunidade para refletir sobre o futuro da investigação sobre o Holocausto, realçando-se a necessidade de incorporar na agenda historiográfica destes países uma abordagem comparativa, promovendo-se projetos conjuntos, bilaterais, especialmente entre Portugal e Espanha. Esta necessidade traduz-se, no caso português, num continuado esforço por parte da historiografia nacional em trilhar o seu caminho, contando com o apoio das instituições científicas nacionais e da própria sociedade civil. Finalmente, observou-se que, se a Historiografia sobre o tema em Portugal já é assinalável, o País ainda só tem um estatuto de observador, a par da Bulgária, Macedônia e Turquia, na Aliança Internacional de Memória do Holocausto (International Holocaust Remembrance Alliance- IHRA), que teve o seu segundo plenário semi-anual, entre 1 e 4 de Dezembro de 2014, em Manchester.

Cláudia Ninhos e Irene Flunser Pimentel
Historiadoras e autoras de Portugal, Salazar e o Holocausto, 2013

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/foi-o-holocausto-um-fenomeno-marginal-nos-paises-neutros-1678689?page=-1

terça-feira, 17 de junho de 2014

Sobre a Ordem dos Comissários: instruções da guerra de aniquilação nazista na União Soviética

Extrato do livro The Soviet Partisan Movement 1941-1944, de Edgar M Howell. Páginas 18-19

A forma da estrutura política final era levar não ficou totalmente clara. Como Rosenberg viu, a Rússia Branca era pra ser transformada em um protetorado alemão com laços muito estreitos progressivamente com a Alemanha; os países bálticos também se tornariam um protetorado, transformado-se em uma parte do Grande Reich alemão pela germanização dos elementos racialmente aceitáveis, pela colonização dos alemães ali, e pela deportação de todos aqueles racialmente indesejáveis; a Ucrânia deveria ser transformada em um Estado independente, em aliança com a Alemanha; e o Cáucaso, seus territórios do norte contíguos se tornariam uma federação de Estados do Cáucaso com um plenipotenciário alemão, bases militares e navais alemãs, e os direitos extraterritoriais militares para a proteção dos campos de petróleo que seriam explorados pelo Reich. [41]

As visões de Hitler eram a mesma coisa: em geral, a Crimeia se tornaria território do Reich, evacuada de todos os estrangeiros e colonizada apenas por alemães; os Estados Bálticos e a área de Don-Volga seriam absorvidos pela Grande Alemanha; enquanto o Cáucaso se tornaria uma colônia militar. O futuro estatuto da Ucrânia e da Rússia Branca permaneceu vago, entretanto, as formas das estruturas nunca foram feitas em detalhes. [42]

Exceto para as operações da administração econômica e das funções de polícia de Himmler (Himmler exerceu tanta autoridade na Rússia tanto quanto exerceu na Alemanha propriamente dita), Rosenberg teria a jurisdição de todo o território a oeste da zona de operações e seria o responsável por toda a administração lá. [43] De seu Ministério para os Territórios Ocupados do Leste, na parte superior, o controle desceria através do Reichskommissare em suas áreas político-étnicas, de modo geral, principalmente no distrito Kommissare. Um líder da SS e da polícia deveria ser colocado em cada Reichskommissariat. [44]

Tomados em conjunto pela "preparação" de Himmler, não havia nada de benevolente acerca desta administração. O que o povo russo sentia ou pensava não tinha importância, e não era pra ser nenhuma tentativa real de atrai-los para o campo alemão. A ocupação era para ser permanente. Este era o objetivo final do que Hitler queria fazer, e nada nem ninguém estava autorizado a interferir com a realização deste empreendimento. [45] Esta foi uma luta de ideologias, não de nações. [46] A intelligentsia "judeu-bolchevique" deveria ser exterminada. Na Grande Rússia vigoraria a lei da força a ser usada "em sua forma mais brutal." [47] Moscou e Leningrado seriam niveladas e tornadas inabitáveis, de modo a evitar a necessidade de alimentar as populações por conta do inverno. [48] A terra seria a primeira a ser dominada, e em seguida administrado e explorada. [49]

A lei marcial deveria ser estabelecida e todos os procedimentos legais para delitos cometidos por civis inimigos, eles deveriam ser eliminados. Guerrilhas seriam brutalmente aniquiladas a qualquer momento. Os civis que atacassem membros da Wehrmacht seriam tratados da mesma maneira (mortos) e no local. Nos casos em que não se pudesse facilmente identificar indivíduos que atacassem as forças armadas, medidas punitivas coletivas deveriam ser efetuadas imediatamente após ordens de um oficial com a patente de comandante de batalhão ou superior. Suspeitos não seriam para ser mantidos sob custódia para o julgamento em uma data posterior. Para as infrações cometidas por membros da Wehrmacht contra a população indígena (nativa), o julgamento não seria compulsório, mesmo quando tais atos constituíssem crimes ou delitos sob a lei militar alemã. Tais atos deveriam ser julgados somente por conta da manutenção da disciplina necessária. [50] Todos os funcionários do Partido Comunista e comissários do Exército Vermelho, incluindo aqueles de pequenas unidades de baixa patente, seriam eliminados como guerrilheiros, não tão depois daqueles prisioneiros de guerra transitando em campos. Esta foi a bem conhecida "Ordem dos Comissários" (tradução livre, em alemão Kommissarbefehl) [51]

Notas:

40 Aktenuermerk, Fuehrerhauptquartier 16. VII.41., memorando de registro, notas sobre a conferência do Fuehrer, 16 Jul 41,in I.M.T. op. cit., XXXVIII, págs. 86-94. (nota 40 começa na página anterior, trecho não traduzido)

41 Instruktion fuer einen Reichskomrnissar im Kaukasien, 7.V.41. Doc. 1027-PS. Arquivos do Gabinete do Chefe do Conselho para crimes de guerra. DRB, TAG: Znstruktion fuer einen Reichskommissar im der Ukraine, 7.V.41 in Z.M.T., op. cit., XXVI, págs. 567-73; Instruktion fuer einen Reichskommissar im Ostland, 8.V.41 in ibid., pp. 573-76; Allgemeine Instruktion fuer alle Reichskommissare in den besetzten Ostgebieten, 8.V.41 in ibid., págs. 576--80.

42 Ver: Aktenvermerk, Fuehrerhauptquartier, 16.VII.41. in Z.M.T., op. cit. XXVIII. págs. 86-94.

43 Abschriftzu Rk. 10714 B. Erlass des Fuehrers ueber die Verwaltung der neu besetzten Ostgebiete, Vom 17.VII.41. in I.M.T. op. cit., XXIX, págs. 235-37.

44 Erster Abschnitt: Die Organization der Verwaltung in den besetzten Ostgebieten, um documento sem data, sem assinatura encontrado nos documentos de Rosenberg que define a organização e administração dos territórios orientais ocupados, em I.M.T.,op. cit., XXVI, págs.592-609. De acordo com Rosenberg, "[Este documento] não é uma instrução direta do Ministério para os Territórios Ocupados do Leste, mas foi o resultado de discussões com diversos orgãos do governo do Reich oficialmente interessado no leste. Este documento contém instruções para o próprio Ministério do Leste." (Ver: I.M.T., op. cit., XXXVIII, págs. 86-94.

45 Aktenvermerk, Fuehrerhauptquartier, 16.VII.41. I.M.T., op. cit., XXXVIII, págs. 86-94.

46 Greiner, "Draft Entries in the War Diary of Def Br of Wehrmacht Operations (Dec 40-Mar 41)," op. cit., pág. 202.

47 "Halder's Journal," op. cit., VI, p. 29.

48 Ibid., p. 212.

49 Aktenvermerk, Fuehrerhauptquartier, 16.VII.41., in I.M.T., op. cit. XXXVIII, págs. 86-94.

50 Ordem sobre leis marciais na área da Operação Barbarossa e medidas especiais para as tropas," Fuehrer HQ, 13.V.41., Em "Fuehrer Directives," (Diretivas do Führer) op. cit., I, págs. 173-74.

Fonte: livro The Soviet Partisan Movement 1941-1944, de Edgar M Howell
Foto: Hitler orders all Soviet Commissars to be shot (site World War II Today)
Tradução: Roberto Lucena
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Se você quiser ler as observações originais completas deste post, acesse o post:
Observações do post "Sobre a Ordem dos Comissários: instruções da guerra de aniquilação nazista na União Soviética"

Abaixo só consta um resumo pra não interferir no conteúdo do post, que poderá ser cortado depois, por isto o link acima.
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Observação 1: quem quiser ler mais sobre a diretiva de Hitler, conferir o link do blog Avidanofront:
Ordem do führer sobre a administração das regiões do leste novamente ocupadas
Quem quiser ver o documento em inglês:
Himmler’s Memorandum on the Treatment of Alien Peoples in the East, 25 May 1940

E se alguém achar que isso é o texto mais pesado sobre a questão, tem coisas piores, que envolvem o nazi Erhard Wetzel (figura pouco citada e conhecida) sobre o Generalplan Ost. É curioso o cinismo dos ditos "revis" com a dimensão da guerra de extermínio praticada pelos nazistas, eles praticamente evitar citar essa questão do extermínio no leste europeu.
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Observação 2: Quem quiser baixar o livro (PDF), vá ao link do site do Centro de História Militar do Exército dos EUA.
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Observação 3: tem uma parte do texto (nas notas 45 e 46) que diz o seguinte:
"A ocupação era para ser permanente. Este era o objetivo final do que Hitler queria fazer, e nada nem ninguém estava autorizado a interferir com a realização deste empreendimento.45 Esta foi uma luta de ideologias, não de nações."
Pois bem, essa era também minha opinião anterior sobre o evento, mas analisando a coisa hoje eu discordo da minha opinião anterior. Esta foi uma guerra ideológica sim, entre o fascismo (nazismo) e o socialismo da URSS, mas também uma guerra entre nações e de aniquilação.

A própria ideia racista de ocupação e aniquilação de povos no leste (por estes serem inferiores ou descartáveis por ideias racistas, na concepção nazista) não é propriamente algo original da guerra anticomunista da segunda guerra, esta guerra também foi uma guerra de colonização, uma guerra "racial" (étnica) de aniquilação, só que dessa vez na Europa, como as ocorridas nas colonizações feitas na África e nas Américas.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina - parte 03

FATOS E NÚMEROS SOBRE A DITADURA MILITAR ARGENTINA:

- Entre 1976 e 1983 os militares assassinaram ao redor de 30 mil civis, entre eles, crianças e idosos, segundo estimativas de ONGs argentinas e organismos internacionais de defesa dos Direitos Humanos.

- Os militares afirmam que mataram “somente” 8 mil civis (segundo declarações do próprio general e ex-ditador Reynaldo Bignone, à TV francesa na virada do século, outros colegas seus dizem que não mataram pessoa alguma)

- O Estado argentino, com a volta da Democracia, recebeu pedidos para indenizações da parte de parentes de 10 mil desaparecidos.

- A Ditadura teria sido responsável pelo sequestro de 500 bebês, filhos das desaparecidas. Desde o final dos anos 70 as avós da Praça de Mayo localizaram e recuperaram a identidade de 109 dessas crianças, atualmente adultos.

- Em 1983 nos últimos meses da Ditadura, um relatório das próprias forças armadas argentinas indicou que a guerrilha e grupos terroristas de esquerda e cristãos nacionalistas teriam assassinado 900 pessoas. Diversos historiadores afirmaram ao longo dos anos que esse número está ligeiramente inflacionado, já que diversos dos mortos da lista militar teriam sido assassinados pelos próprios militares, na miríade de brigas internas (e, convenientemente, teriam colocado a culpa nos terroristas).

FRACASSOS ECONÔMICOS E MILITARES: Além de ter sido a mais sanguinária Ditadura foi um fracasso tanto na área militar como na esfera econômica.

Fiascos Militares:

- Entre 1976 e 1978 a Ditadura colocou quase a totalidade das Forças Armadas para perseguir uma guerrilha que já estava praticamente desmantelada desde antes do golpe, em 1975. Analistas militares destacam que este desvio das Forças Armadas argentinas (que havia iniciado no final dos anos 60 mas intensificou-se a partir do golpe) reduziu drasticamente o profissionalismo dos militares.

- Em 1978, a Junta Militar argentina levou o país a uma escalada armamentista contra o Chile. Em dezembro daquele ano, a invasão argentina do território chileno foi detida graças à intermediação papal. O custo da corrida armamentista colocou o país em graves problemas financeiros.

- Em 1982, perante uma crise social, perda de sustentabilidade política e problemas econômicos, o então ditador Leopoldo Fortunato Galtieri – famoso por seu intenso approach ao scotch – decidiu invadir as ilhas Malvinas para distrair a atenção da população. Resultado: após um breve período de combate, os oficiais do ditador renderam-se às tropas britânicas.

Desastres econômicos:

- Em sete anos de Ditadura, a dívida externa subiu de US$ 8 bilhões para US$ 45 bilhões.

- A inflação do governo civil derrubado pela Ditadura, que era considerada um índice “absurdo alto” pelos militares havia sido de 182% anual. Mas, este índice foi superado pela política econômica caótica da Ditadura, que encerrou sua administração com 343% anual.

- A pobreza disparou de 5% da população argentina para 28%

- A participação da indústria no PIB caiu de 37,5% para 25%, o que equivaleu a um retrocesso dos níveis dos anos 60.

- Além disso, a Ditadura criou uma ciranda financeira, conhecida como “la plata dulce”, ou, “o doce dinheiro”.

- Ao mesmo tempo em que tomavam medidas neoliberais, como a abertura irrestrita das importações, os militares continuavam mantendo imensas estruturas nas empresas estatais, que transformaram-se em cabides de emprego de generais, coronéis e seus parentes.

- Os militares também estatizaram US$ 15 bilhões de dívidas das principais empresas privadas do país (além das filiais argentinas de empresas estrangeiras).

- No meio desse caos econômico, os militares provocaram um déficit fiscal de 15% do PIB.

- A repressão provocou um êxodo de centenas de milhares de profissionais do país. Os militares, em cargos burocráticos, exacerbaram a corrupção na máquina estatal.

MILITARES E ESPORTE - Apesar das denúncias de graves violações aos Direitos Humanos a FIFA não cancelou a realização da Copa de 1978. Para a Ditadura, a vitória nesse evento esportivo foi um trunfo político, que lhe garantiu alta popularidade. Os argentinos exilados discutiam no exterior se deveriam torcer a favor ou contra a seleção. Alguns argumentavam que a vitória na Copa não favoreceria a Ditadura, e que esporte e política nunca se misturam. Outros destacavam que esporte e política misturam-se, e muito.

NEGOCIATAS DE 1978 – O Orçamento inicial da Copa de 1978 era de US$ 70 milhões. Custo final da Copa: US$ 700 milhões (o valor supera amplamente o custo da Copa realizada na Espanha, em 1982, que foi de US$ 520 milhões).

GUERRA CIVIL OU GUERRILHA LOCALIZADA?

Os militares deram o golpe e instauraram a ditadura mais sanguinária da História da América do Sul (América do Sul, não América Latina) com o argumento (um dos vários) de que a guerrilha controlava grande parte do país.

Delírio. A pequena guerrilha argentina, mais especificamente o ERP, dominava às duras penas uma pequena porcentagem da província de Tucumán, a menor província da Argentina.

A magnificação da guerrilha foi útil para os militares e também para o prestígio dos guerrilheiros. A nenhum dos dois lados era conveniente admitir a realidade, de que a área controlada pela guerrilha era ínfima.

Os militares e os setores civis que apoiaram o golpe (e os saudosistas daqueles tempos) afirmavam (e ainda afirmam) que o país estava em guerra civil nos nos 70.

Mas, “guerra civil”, rigorosamente, seriam conflitos de proporções mais substanciais, tais como a Guerra da Secessão dos EUA, a Guerra Civil Espanhola, a Guerra Civil Russa logo após a proclamação do Estado Soviético, a Guerra das Duas Rosas (Lancasters versus Yorks, na Inglaterra) ou a Guerra Civil da Grécia após o fim da Segunda Guerra Mundial. Ainda: a Guerra Civil da Nicarágua, e a de El Salvador. Isto é: bombardeios de cidades, grandes êxodos de refugiados, centenas de milhares de mortos, uma boa parte de um país controlado por um dos lados, e outra parte controlada por outro lado. Isso não ocorreu na Argentina nos anos 70.

POLÍTICA EXTERNA ESQUIZOFRÊNICA

Na política externa a Ditadura também mostrou um comportamento peculiar:

- Acreditou que os EUA ficariam de seu lado na Guerra das Malvinas, já que a Ditadura havia sido um bastião anticomunista na América do Sul e até havia colaborado na guerrilha dos ‘contras’ na América Central.

Os militares argentinos não levaram em conta que pesaria mais a velha aliança EUA-Grã Bretanha por motivos históricos e pela participação na OTAN.

- A Ditadura tinha um discurso anticomunista mas continuou vendendo trigo para a URSS e não aderiu ao boicote americano contra as Olimpíadas de Moscou em 1980.

Fonte: Blog do Ariel Palacios
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/ha-30-anos-encerrava-se-a-ditadura-argentina-pequeno-manual-sobre-o-modus-operandi-do-regime/

Parte 02: Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina
Parte01: Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina (Tortura e voos da morte, Estado proto-nazista)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina - parte 02

Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina (pequeno manual sobre o modus operandi do regime) - parte 02

GALERIA DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS TORTURADORES

O “Tigre” Acosta - Um dos criadores dos “voos da morte” foi o capitão de corveta Jorge “Tigre” Acosta, uma das “estrelas” da Escola de Mecânica da Armada (ESMA). O oficial, que falava sozinho à noite, em delírio místico explicava aos colegas e prisioneiros que mantinha longas conversas noturnas com “Jesucito” (O pequeno Jesus), ao qual perguntava qual dos prisioneiros deveria torturar no dia seguinte e jogar dos aviões. Famoso pelos requintes de crueldade que aplicava aos detidos, Acosta também foi um dos principais sequestradores dos bebês de prisioneiras da ESMA.

O “Anjo Loiro” Astiz – “É o mais sinistro paradigma do terrorismo de Estado”. Com esta frase, o escritor e jornalista Jorge Camarasa, define a personalidade do ex-capitão Alfredo Astiz apelidado de “O anjo loiro da morte”. Garoto mimado da ditadura, entre seus assassinatos mais famosos estão os das freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet, além de três fundadoras das Mães da Praça de Mayo, entre elas, Azucena Villaflor. Astiz foi recompensado por seus serviços com o cargo de comando nas ilhas Geórgias durante a Guerra das Malvinas, em 1982. No entanto, essas ilhas foram o primeiro ponto recuperado pelos britânicos durante o conflito. Após um único tiro de bazuca disparado pelos britânicos, Astiz desistiu de resistir “até a morte”, como havia prometido. Com com um copo cheio de whisky em uma das mãos, assinou a rendição incondicional.

Donda Tigel - Alfredo Donda Tigel tornou-se famoso por sequestrar seu próprio irmão e a cunhada – militantes da esquerda. Depois de assassiná-los, ficou com suas filhas, que eram bebês.

Ernesto Weber – Oficial da Polícia Federal, era apelidado de “220” pelos colegas militares pelo prazer que sentia em aplicar essa voltagem nas torturas. Foi professor de torturas dos oficiais de Marinha.

Febres - O ex-Chefe da Guarda Costeira Héctor Febres ficou notório por seu extremo sadismo, que o levou a torturar bebês e crianças para arrancar confissões dos pais, presos políticos. A primeira surpresa ocorreu poucos dias após sua morte, no dia 10 de dezembro – o Dia internacional dos Direitos Humanos, que também coincidiu com a posse da nova presidente, Cristina Fernández de Kirchner – quando a Justiça anunciou que o ex-torturador havia falecido por uma dose cavalar de cianureto. A segunda surpresa surgiu dias depois, quando as autoridades indicaram que a autópsia também registrou a presença de sêmen no reto do ex-torturador. Ele era famoso por seu desenfrado sadismo. Sobreviventes relatam que, quando aplicava choques elétricos nos prisioneiros, ficava “alucinado” e gargalhava enquanto ouvia os gritos dos torturados. Um dos sobreviventes relatou como Febres lhe pediu gentilmente que consertasse o aparelho de choques elétricos, que logo depois utilizaria no próprio prisioneiro. Na ESMA os torturadores costumavam ter apelidos referentes a animais. Esse era o caso do capitão Jorge “Tigre” Acosta e do tenente Alfredo “Corvo” Astiz. Mas, Febres era chamado de “Selva”, já que “era o conjunto de todos os animais”

Enfardador - Luis Porcio, chefe de segurança da Side, conhecido pelo apelido de “Enfardador”, já que apreciava amarrar os prisioneiros com arames, como se fossem fardos, para posteriormente queimá-los. Ele operava no Automotores Orletti, um centro clandestino de detenção e tortura localizado no bairro portenho de Floresta

El Turco Julián - Diversas testemunhas indicam que os torturadores argentinos ouviam marchas militares do Terceiro Reich e discursos de Adolf Hitler enquanto torturavam. Esse era o caso Julio Simón, chefe dos interrogadores do centro de detenção “El Olimpo”, cujo nome de guerra era “O Turco Julián”. Ele divertia-se jogando água fervendo em cima de seus prisioneiros políticos. Deleitava-se em torturar os deficientes físicos, jogando-os do alto de uma escada. Além disso, saboreava cada minuto no qual estuprava a esposa de um prisioneiro na sua frente.

Segundo o depoimento da ex-prisioneira (uma das poucas pessoas detidas que sobreviveram nesse centro onde imperava Julián) Susana Caride o lugar era uma espécie de “circo romano” no qual os policiais “se divertiam”. Caride relatou que os prisioneiros eram obrigados a lutar boxe um contra o outro, sob ameaças de torturas. Ela também relembrou como, no dia de Natal, os prisioneiros foram convidados para um banquete, no qual puderam comer peru, maionese e panettone. Mas, à meia-noite, na hora do brinde, Simón interrompeu a festa que ele próprio havia organizado para iniciar uma sessão de violentas torturas com os presentes. Juan Agustín Guillén, outro dos sobreviventes, contou como Simón – que ostentava uma suástica no uniforme, tinha especial sanha com José Poblete, um jovem militante peronista que havia perdido ambas pernas em um acidente. Simón lhe havia retirado a cadeira de rodas e as pernas ortopédicas, e divertia-se – às gargalhadas – jogando-o para cima ou obrigando-o a desfilar na frente dos outros policiais arrastando-se sobre os tocos de seus membros.

O ex-policial foi condenado pelo sequestro e torturas infligidas ao casal Gertrudis Hlaczik e José Poblete Roa em 1978. Ele também foi considerado culpado do sequestro de Claudia, o bebê de apenas oito meses do casal, e do ocultamento de sua identidade. Ele fazia Gertrudis andar nua pelos corredores, enquanto que José, sem as pernas, devia se arrastar com as mãos pelo chão. Simón e os outros guardas o chamavam de “cortito” (curtinho), por causa da ausência dos membros inferiores. O torturador também costumava jogar Poblete desde o alto de uma escada. Em um vídeo, o ex-policial admitiu que torturou com choques elétricos, com o objetivo de “acelerar” os interrogatórios. No vídeo, confessa que “o critério geral era o de matar todo mundo”.

Rebaneyra - Outro notório torturador era o carcereiro Raúl Rebaynera, uma dos principais figuras da prisão de La Plata, onde estiveram vários prisioneiros políticos, entre eles, o Adolfo Pérez Esquivel, que em 1980 tornou-se Prêmio Nobel da Paz. Segundo o ex-prisioneiro Julio Modorgoy, cada vez que chovia Rebaynera colocava música clássica, de preferência Beethoven ou Bach – e saía “de caça”, isto é, passava pelas celas espancando os prisioneiros. “Se te dou 15 socos e você não gritar, te levo de novo para a cela. Se gritar, fica aqui na sala de torturas 15 dias”, ameaçava.

A modelo Marie Anne Erize, estuprada pelos
militares por alfabetizar crianças pobres
ESTUPROS – Em 2011 a Justiça argentina começou a investigar os delitos sexuais cometidos por militares e policiais durante a ditadura contra mulheres e homens detidos nos centros clandestinos. Até esse ano, a Justiça havia considerado os delitos sexuais dentro da categoria ampla de “abusos”. Desta forma, com a mudança de enfoque, diversos ex-integrantes da Ditadura puderam ser processados por estupros e violações.

Os casos de delitos sexuais transcorreram nos campos de detenção de “Club Atlético”, “El Olimpo” e “Banco”.

Os envolvidos estupraram – segundo as denúncias – dezenas de mulheres detidas nos centros de tortura. Geralmente elas eram amarradas, nuas, a camas nas celas. Primeiro eram torturadas com choques elétricos nos mamilos e nos órgãos genitais. Posteriormente eram violadas por um ou mais policiais e militares. Ocasionalmente, um dos repressores reclamava exclusividade sobre a mulher estuprada. Os militares e policiais costumavam preferir as estudantes universitárias jovens. Frequentemente, quando um casal era detido, os sequestradores violavam a esposa na frente do marido.

Os militares também costumavam introduzir ratos vivos – e famintos – nas vaginas das mulheres.

O CASO MARIE MARIE ANNE ERIZE

Filha de franceses que instalaram-se na Argentina, Marie Anne Erize foi “Miss Siete Días” (concurso realizado pela revista semanal de maior tiragem da época) e protagonizou diversas campanhas publicitárias da primeira metade dos anos 70 na Argentina.

De forma paralela a seu trabalho nas passarelas Marie Anne Erize fazia militância política na faculdade de filosofia, além de colaborar com o padre Carlos Mujica – referência do clero de esquerda na Argentina – na alfabetização de crianças nas favelas portenhas. A jovem mudou-se para a província de San Juan pouco após o golpe militar. No entanto, em outubro de 1976, ao sair de uma loja de bicicletas, onde havia ido trocar um pneu furado, foi sequestrada e levada para o centro clandestino de torturas “La Marquesita”.

Marie Anne, de 22 anos, que também tinha a cidadania francesa, foi levada à força pelo então tenente Jorge Antonio Olivera (que posteriormente chegaria a major), chefe de inteligência da Infantaria de San Juan, que a estuprou em diversas ocasiões, antes de matá-la. Olivera ufanava-se perante os outros militares de ter penetrado a famosa modelo.

Esta história tem outro lado sinistro: Olivera, que tinha apenas dois anos mais do que ela e era tenente na época da ditadura, havia morado durante sua infância e adolescência em Wanda, Misiones, a mesma cidadezinha de Marie Anne, a apenas um quarteirão de distância um do outro.

Fonte: Blog do Ariel Palacios
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/ha-30-anos-encerrava-se-a-ditadura-argentina-pequeno-manual-sobre-o-modus-operandi-do-regime/

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sábado, 7 de setembro de 2013

Morre Rochus Misch, ex guarda-costas de Hitler

Capa do livro com o testemunho de Rochus Misch,
ex-guarda costas de Hitler
Foto: Reprodução RFI
Morreu nesta sexta-feira em Berlim Rochus Misch, 96 anos, guarda-costas de Adolf Hitler, e uma das únicas testemunhas vivas dos últimos momentos que antecederam o suicídio do Führer no fim da guerra.

Misch, oficial adjunto da SS, a polícia nazista, morreu de um ataque cardíaco em sua casa em Berlim, segundo sua família. Poucos dias antes do fim da guerra, ele estava encarregado do atendimento telefônico na chancelaria.

Em seus depoimentos, que deram origem a um livro e a um DVD, ele contesta as versões de jornalistas e historiadores sobre os últimos momentos antes da queda de Hitler.

"Era menos 'teatral' do que normalmente é descrito. O pior, era o silêncio. Todo mundo falava em voz baixa e ninguém sabia o porquê. Para mim era o bunker da morte", declarou.

Questionado, sobre os melhores momentos de sua vida, Misch costumava mostrar fotos da residência de Hitler na Bavária. "Sim, foi o melhor período da minha vida. Maravilhoso, como estar de férias. O chefe sempre estava relaxado neste lugar", conta.

"No fim da guerra, se alguém queria falar com Hitler, seja Goebbels, Göring ou algum outro, era preciso passar por mim. Eu que atendia os telefonemas", descreve.

Michus conta ter visto no dia 30 de abril de 1945 os corpos de Hitler e Eva Braun depois do suícidio serem levados para jardim da Chancelaria para serem incinerados.

Preso em 1945, Misch passou nove anos nos campos soviéticos. O ex-capitão da SS Günther Schwägermann, que hoje tem 98 anos, ex-auxiliar de Goebbels, é o último sobrevivente do bunker.

Fonte: RFI (Portugal)
http://www.portugues.rfi.fr/europa/20130906-morre-rochus-misch-ex-guarda-costas-de-hitler

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Fenômeno dos Voluntários (tropas multiétnicas do Terceiro Reich) - parte 01

O Fenômeno dos Voluntários

Soldados árabes em fins de 1943 na Grécia
1. A participação de estrangeiros no serviço das forças armadas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial provocou curiosidade e consternação. Muitos alemães viram a sua presença como prova da legitimidade da guerra contra a Rússia bolchevique e como prova de uma medida tranqüilizadora de aceitação da "Nova Ordem na Europa", a estrutura política imaginada pelo Reich alemão na Europa ocupada. Para os movimentos de resistência e os governos libertados no pós-guerra, esses voluntários representaram uma colaboração e traição da mais vil ordem.

Para que os cidadãos estrangeiros se voluntariavam para o serviço nas forças alemãs? Para que fins eles servem e por quê? Quantos serviram, e em que medida eles contribuíram para alemães fortunas militares? Este estudo pretende analisar a experiência dos voluntários europeus ocidentais no Exército alemão e na Waffen-SS, a fim de discutir o caráter de sua colaboração militar, suas motivações, e os efeitos de seu serviço no esforço de guerra alemão. Ao fazer isso, o estudo se concentrará nos esforços alemães para integrar cidadãos não-alemães na Wehrmacht alemã (Forças Armadas), como bem sucedido foi esta participação, e que medidas tomaram para alcançar seus objetivos.

Apesar de cidadãos estrangeiros, provenientes de praticamente todas as nações europeias, terem servido em um ou mais ramos das forças armadas alemãs, os militares que serviram nas forças terrestres levavam desvantagem àqueles que serviram no ar e no mar, mas também tiveram um papel mais direto no combate que os outros . Dos grupos nacionais em questão, os voluntários ocidentais europeus - especialmente aqueles racialmente classificadas como "nórdicos" pelo regime nazista - serviram por mais tempo na guerra e chegaram mais perto de alcançar a integração com as forças alemãs. Este estudo de voluntários estrangeiros nas forças armadas alemãs incidirá sobre os contigentes do Exército e das Waffen-SS, na forma e nas circunstâncias de sua formação, e o método e a razão de seu emprego. Ao estudar o caráter de participação voluntária e emprego numa perspectiva comparativa transnacional e político-militar, vários fatores interessantes emergem: a natureza da colaboração, atitudes militares alemães para com nacionalidades estrangeiras, as ações da burocracia militar alemã e a verdade sobre o desempenho militar.

O único estudo integral do fenômeno dos voluntários é o trabalho apologista de um ex-comandante da SS, o general Felix Steiner, intitulado Die Freiwilligen: Idee und Opfergang. [1] Com base em grande parte em notas pessoais, memória e literatura contemporânea, este livro enfatiza demais a noção da SS como um exército europeu antibolchevique pré-OTAN e exagera os números de participantes. George Stein, em seu clássico estudo, The Waffen-SS, abriu um capítulo sobre os voluntários europeus ocidentais da SS com a observação de que "nenhum estudo sério da mobilização de mão de obra não-alemã para as forças armadas alemãs apareceu ainda .... " [2] Ele expôs a noção de SS como um euro-exército como um mito e estabeleceu os fatos essenciais da sua organização, composição e funcionamento, mas não desenvolveu nennhum dos assuntos. A dissertação de doutorado inédita de Robert Gelwick sobre políticas de pessoal da SS é enciclopédico, mas não analítico, embora inclua um capítulo sobre a política de voluntariado. A dissertação de doutorado não publicada de Edgar Knoebel sobre a política de recursos humanos da SS na Bélgica cobre os voluntários belgas em alguns detalhes contra o contexto de política nativa e a política de ocupação. David Littlejohn, um bibliotecário britânico, publicou The Patriotic Traitors (Os traidores patriótas), um estudo enciclopédico da colaboração europeia em geral. Ele usou um conjunto notável de literatura contemporânea para ilustrar as fontes básicas e secundárias e delinear a história dos voluntários militares, bem como das milícias nativas, quadros de ação paramilitares e políticos, todos como extensões da política colaboracionista. Finalmente, François Duprat deixou as águas turvas em vários estudos da Waffen-SS, aceitando muito do apologia da época dos anos 1950, compilando inúmeros erros e fracassando ao não fornecer uma documentação adequada. [3]

A historiografia das guerras freqüentemente demonstra que um período vital de espera deve acontecer antes da análise histórica parecer que começou a suplantar a "guerra como eu conheci" marcada de memórias e dos tipos de polêmicas mais tendenciosos e politicamente contaminados. Assim, os anos 1980 trouxeram uma melhoria considerável para o campo. O ensaio de Jurgen Förster e de R. Gert Überschär no Volume IV da série German Military History Research Office (Escritório de Pesquisa Histórica Militar Alemã) sobre a Alemanha na Segunda Guerra Mundial, forneceu o desenvolvimento essencial de temas relevantes, e o livro de Bernd Wegner sobre os componentes organizacionais e ideológicos da Waffen-SS tornou-se um complemento necessário para as pesquisas de Stein e Robert Koehl. No entanto, a linha da apologia lamentavelmente tem ganho nova força sob o pretexto de "revisionismo", e até mesmo o mito da Waffen-SS como um progenitor da OTAN ressurgiu novamente com novo fervor. A melhor delas continua a ser a obra de Hans Werner Neulen, que, frequentemente, fornece detalhes mais interessantes, mas sem documentação satisfatória, mais na linha do trabalho anterior de Duprat. Na última década, uma série de estudos realizados por historiadores nacionais detalhou as atividades de contingentes de voluntários da França, Espanha, Noruega, Dinamarca e Bélgica de uma forma que estimula as minhas esperanças de que possamos finalmente nos libertar da linha apologista. [4]

O que eu espero contribuir usando material de fonte original e nova, bem como explorando plenamente as fontes conhecidas, é de esclarecer os eventos essenciais, fatores e as estatísticas do fenômeno voluntário na Europa Ocidental e para estabelecer a diversidade da experiência de voluntariado em termos de variáveis ​​desenvolvidas por meio das políticas de ocupação alemãs, noções raciais e valores ideológicos. Além disso, vou procurar responder à questão da real utilidade militar e política do movimento de voluntários para o esforço de guerra alemão da mesma maneira que Alan Milward avaliou o valor econômico para a Alemanha de Europa ocupada. [5]

Com esta contribuição material para a história dos grupos de voluntários e colaboracionistas militares na Europa, eu também espero colocar um obstáculo para os futuros escritores. Quaisquer tentativas de glorificar ou exagerar as realizações desses voluntários têm de lidar com minhas descobertas em primeiro lugar. Caso contrário, que os leitores desses autores tenham cuidado com eles!

Havia quatro questões essenciais que determinaram o curso e o caráter do serviço dos voluntários ocidentais europeus nas forças alemãs: a política de recursos humanos, a ideologia nazista, a Nova Ordem e a Guerra Russo-Alemã. A política de recursos humanos militar nas forças armadas alemãs desempenhou um papel crucial na luta da Waffen-SS de Himmler para obter o direito de status pleno como um segundo exército e como quarto serviço militar. Mais tarde, a SS iria cumprir os piores pesadelos do Exército alemão e se conceber como o única porta-bandeira militar do Terceiro Reich no pós-guerra. A Ideologia nazista e as doutrinas raciais, como esporádicas e desequilibradas se tornaram na prática, influciaram o recrutamento de voluntários. Noções da superioridade racial germânica foram inicialmente limitadas aos termos de serviço oferecidos aos voluntários estrangeiros pelas forças alemãs, mas ao mesmo tempo os mitos raciais germânicas possuíam uma poderosa influência entre a direita política nos territórios ocupados "nórdicos". A extensão política do Reich germânico, a Nova Ordem na Europa, tiveram sua própria influência sobre potenciais voluntários e burocratas alemães também. Propagandistas alemães apontariam para os voluntários ocidentais como prova de uma irmandade pan-europeia nascente, e os veteranos alegariam eles mesmos, ex post facto, que eles tinham feito tudo para a Europa. Por fim, o evento épico da Guerra Russo-Alemã de 1941-1945 mostrou-se catalítico (assim como catastrófico) para os destinos de cidadãos estrangeiros nas forças alemãs. Inicialmente, a chegada da guerra contra a União Soviética apresentou grandes oportunidades para a propaganda alemã nos estados ocupados e neutros da Europa. A guerra contra a Rússia foi qualificada nesta visão extrema como uma cruzada empreendida pela mais forte potência europeia - em nome do resto da Europa - para livrar a civilização da "ameaça bolchevique", que em alguns trechos foi ainda mais perversamente referida como "o inimigo mundial judaico-bolchevique". Estas tendências trabalharam mais decisivamente na evolução da Waffen-SS, que procurou vantagens particulares no recrutamento de cidadãos não-alemães.

Notas:

Nota 1: Felix Steiner, Die Freiwilligen: Idee und Opfergang (Göttingen: Plesse Verlag, 1958).

Nota 2: George H. Stein, The Waffen-SS: Hitler's Elite Guard at War 1939-1945 (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1966), 137.

Nota 3: Robert A. Gelwick, "Personnel Policies and Procedures of the Waffen-SS" (Ph.D. diss., University of Nebraska, 1971); Edgar E. Knoebel, "Racial Illusion and Military Necessity" (Ph.D. diss., University of Colorado, 1965). David Littlejohn, The Patriotic Traitors (New York: Doubleday, 1972); François Duprat, Histoire des SS (Paris: Les Sept Couleurs, 1968). Back.

Nota 4: Jurgen Förster and Gert R. Überschär, "Freiwillige für die 'Kreuzzug Europas gegen den Bolschewismus,'" in Das Deutsche Reich und der Zweite Weltkrieg, Vol 4, Der Angriff auf die Sowjetunion (Stuttgart: Deutsche Verlags-Anstalt, 1983); English edition, The Attack on the Soviet Union (New York: Oxford University Press, 1998). Bernd Wegner, Hitler's Politische Soldaten: Die Waffen-SS 1933-45 (Paderborn: Ferdinand Schöninger, 1982; English edition, The Waffen-SS: Organization, Ideology and Function (Oxford; Basil Blackwell, 1990). Robert Koehl, The Black Corps (Madison: University of Wisconsin Press, 1983); Hans Werner Neulen, An deutscher Seite: Internationale Freiwillige von Wehrmacht und Waffen-SS (Munich: Universitas, 1985).

Nota 5: Alan S. Milward, War, Economy and Society (Berkeley: University of California Press, 1977).

Fonte: A European Anabasis — Western European Volunteers in the German Army and SS, 1940-1945; Gutenberg-e (Columbia University Press)
Autor: Kenneth W. Estes
http://www.gutenberg-e.org/esk01/frames/fesk01.html
Tradução: Roberto Lucena

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Comentário: a escolha da foto do post foi intencional pois a mesma costuma aparecer em sites "revis" (e similares de extrema-direita, neonazis etc) espalhando informações distorcidas intencionalmente sobre o assunto como propaganda para insinuar que o regime nazi não era racista por conta do uso destas tropas de voluntários da Waffen-SS, sem qualquer explicação do contexto de como essas tropas foram montadas (como é explicado na tradução acima e no site com o texto completo de Kenneth W. Estes).

Já vi "revi" alegar que este assunto é "escondido", afirmação esta que beira a comédia e pura má fé, pois como podem ver acima, o que não falta na web (e fora da web) são informações sobre o assunto. Basta a pessoa saber procurar e não cair no comodismo e preguiça (ou devido a uma certa credulidade no credo revimané) de sair repetindo como papagaio o primeiro texto distorcido que lê em sites "revis".

A foto do post foi tirada do site Axis History Factbook da seção sobre os voluntários estrangeiros da subsseção Deutsche-Arabische Bataillon Nr 845. A bibliografia está no site.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Livro fala sobre a infiltração e influência de Hitler no Brasil

Mais uma obra do jornalista Roberto Lopes promete polêmica e discussão em torno de um dos temas mais temidos, o nazismo. Ele acaba de lançar “Diplomatas e Espiões”, que desvenda a infiltração hitlerista na democracia brasileira. Considerado um livro-bomba, ele traz as influências nazistas sobre dezenas de personalidades brasileiras durante a Segunda Guerra Mundial (1941-1945).

Os materiais que resultaram no livro foram emitidos pelo FBI e pelo Departamento de Estado americano, descobertos pelo jornalista, e autor da obra, em Washington. Os documentos contêm advertências dos militantes brasileiros às autoridades norte-americanas em relação ao encantamento dos oficiais sul-americanos com a máquina hitlerista. Havia também uma manobra de emergência dos militantes americanos no Rio para evitar que grande parte do exército brasileiro passasse para o lado alemão.

A obra também revela servidores do Itamaraty fascinados com o nazismo, defensores públicos e até colaboradores do nazismo. Também há um cônsul que se ofereceu para espionar Berlim de seu apartamento no Rio de Janeiro, porém o governo americano interceptou as negociações. O livro também revela que o general Euclides Gaspar Dutra também não escondia sua simpatia pelo nazismo.

Um fato inacreditável é narrado no livro. Um diplomata, descoberto pelo staff do Palácio do Catete como informante alemão, em vez de ser demitido por Getúlio Vargas, fora promovido e sua nomeação para um período de “descanso” em algum lugar longe da zona de guerra.

Lopes reúne fatos e documentos sobre a realidade e os bastidores da real história no início dos anos de 1940. Ele não só destrói a ideia “Panamericanismo” imposto por Roosevelt, ex-presidente dos EUA, como também afirma de Hitler foi considerado a grande ameaça sobre a Democracia nas Américas.

“Diplomatas e Espiões” contém 160 páginas e custa em torno de R$ 29,90.

Fonte: O Regional
http://www.oregional.com.br/portal/detalhe-noticia.asp?Not=291180

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pode um memorial acabar com o preconceito contra os sinti e roma?

Durante décadas os sinti e roma alemães lutaram por um memorial, por terem sido vítimas de um genocídio e por serem discriminados até hoje em várias regiões da Europa. Agora ele foi inaugurado em Berlim.

"O trágico no fato de o memorial ser inaugurado hoje é que muitos dos sobreviventes não podem mais vivenciar esse reconhecimento", declarou Silvio Peritore, membro da direção do Conselho Central dos Sinti e Roma da Alemanha.

O Estado alemão levou muito tempo para reconhecer o genocídio dos sinti e roma – para muitos, tempo demais. Por exemplo para Franz Rosenbach. Ele foi obrigado a prestar trabalhos forçados, sobreviveu a Auschwitz e foi a escolas alemãs relatar tudo o que viveu. Ele foi um dos maiores defensores do memorial. Há poucos dias, Rosenbach faleceu, aos 85 anos.

Uma exposição em Heidelberg retrata o genocídio dos sinti e roma no período nazista. Ela foi inaugurada em 1997. Um ano depois, Peritore passou a fazer parte do grupo do centro cultural e de documentação. "Em muitos memoriais, o genocídio dos sinti e roma era apenas uma nota de rodapé na história do Holocausto judeu, porque, durante décadas, pesquisadores em parte esqueceram esse tema, em parte o ignoraram conscientemente", afirma.

Não se trata de opor o número de vítimas: seis milhões de judeus europeus contra 500 mil sinti e roma, argumenta. "O que um memorial representa? O reconhecimento das vítimas, a responsabilidade para com a história que resultou do Holocausto."

Aparentemente, os sinti e roma são, até hoje, uma minoria indesejada. Por isso, o reconhecimento de que foram vítimas, a memória do genocídio foi por muito tempo recusada para eles. Ao menos essa é a impressão que pessoas como Franz Rosenbach têm. "As pessoas se perguntam: por que eles não querem isso?" Eles são os outros, o que inclui a maioria da sociedade alemã.

Preconceito e exclusão seculares

Família sinti e roma alemã
Cerca de 15 mil pessoas por ano visitam a exposição sobre o genocídio dos sinti e roma alemães em Heidelberg: turmas de escolas, universitários e também policiais, que na sua profissão têm de lidar com os "ciganos", frequentemente tachados de criminosos. Como diz Armin Ulm, pesquisador no centro de documentação, esses clichês existem há séculos.

"Esse é um fenômeno que existe na Europa desde a chegada dos sinti e roma, nos séculos 14 e 15. Havia também atribuições positivas, como o clichê romântico representado na figura de Carmen (a 'cigana' apaixonada da ópera de Georg Bizet), mas a maioria são atribuições negativas: o 'cigano' ladrão, a 'cigana' que lê a mão."

Essas ideias se perpetuaram com o passar do tempo. A expressão 'cigano' pode ser encontrada já nas crônicas da Idade Média: "A palavra aparece, por exemplo, na crônica da cidade de Hildesheim." Em diversos documentos é possível encontrar diferentes formas de escrita, porém não é claro sobre quem se está falando, pois nem os sinti nem os roma se descreviam como ciganos. A maioria rejeita esse termo por considerá-lo discriminatório.

"Como é possível que a tradição dos clichês "ciganos" se perpetue até hoje numa sociedade esclarecida?", pergunta Peritore. A pergunta não é retórica. Há 12 milhões de sinti e roma vivendo na Europa, e em muitos países eles continuam sendo excluídos, também em países da União Europeia.

"Em países como Hungria, Romênia, República Tcheca e Eslováquia, os sinti e roma são privados de direitos humanos elementares. Eles não possuem o mesmo direito de acesso a fatores essenciais para a vida, como emprego, serviço de saúde pública e moradia digna", diz Peritore.

Membros da etnia sinti e roma são discriminados, criminalizados e estilizados com inimigos em muitos países do sul e do centro da Europa. Em vez de investimentos em infraestrutura, o que tornaria a vida dos sinti e roma mais fácil em suas terras natais, o dinheiro da União Europeia some por caminhos obscuros, denuncia Peritore.

Deportação de sinti e roma em
Colônia na época nazista
Ele não economiza críticas aos políticos e à sociedade da Europa Ocidental. "Se ouvimos falar aqui na Alemanha sobre o 'problema dos roma', então trata-se de pessoas que vêm para cá procurando uma vida mais segura e melhores oportunidades de emprego. Essa é um desejo legítimo." Mas também aqui ele são considerados um risco para a segurança e frequentemente criminalizados, como aconteceu na França em 2010, quando o então presidente Nicolas Sarkozy afrontou a lei francesa e europeia e deportou os sinti e roma.

Peritore denuncia também a prática alemã de deportar sinti e roma de volta para o Kosovo, mesmo que lá eles corram o risco de ser perseguidos e na Alemanha já tenha há muito se integrado na sociedade. Onde os sinti e roma tiveram chances iguais, argumenta, seguiram os mesmos caminhos que seguem os outros integrantes da sociedade.

"Isso contradiz principalmente as afirmações generalizadas daqueles que são contra os sinti e roma e dizem que de nada adiantam todos os programas e projetos, pois supostamente eles são contrários à cultura desses povos. Isso mostra que essas afirmações são mentiras, pois podemos ver que é possível quando as pessoas recebem chances iguais e justas."

Um memorial em Berlim

Estas duas meninas foram
deportadas para a Polônia
A exposição sobre o genocídio dos sinti e roma mostra também fotos de sinti e roma alemães antes de 1933. São cenas da vida familiar, bons civis, quase caretas. Elas mostram que essas pessoas faziam parte da sociedade. Isso não as salvou da perseguição e da morte.

"Pesquisadores sérios já mostraram há muito tempo que houve um segundo Holocausto: eram as mesmas motivações político-raciais, o mesmo aparelho criminoso, os mesmos métodos de extermínio nos mesmos locais, executados de forma sistemática e eficiente." Contudo, somente o chanceler federal alemão Helmut Schmidt reconheceu esse fato, em 1982.

Após a decisão parlamentar de que não haveria um memorial único para todas as vítimas do Holocausto, o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) autorizou em 1992 a construção de um memorial para os sinti e roma. O que se seguiu foi uma longa discussão: governo, historiadores e também os representantes dos sinti e roma não conseguiram chegar a um acordo sobre os detalhes.

Para o Conselho Central dos Sinti e Roma da Alemanha não se trata somente de um reconhecimento tardio, mas também de responsabilidade com o presente e o futuro, para evitar a discriminação e a exclusão. "Se for para aprender algo, então que seja isso. Mas talvez essa seja uma pretensão muito grande", diz Peritore, e na sua voz é possível reconhecer um tom de tristeza.

Autora: Birgit Görtz (cn)
Revisão: Alexandre Schossler

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/pode-um-memorial-acabar-com-o-preconceito-contra-os-sinti-e-roma/a-16328944

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Merkel inaugura memorial para ciganos vítimas do Holocausto

BERLIM — A chanceler alemã, Angela Merkel, inaugurou nesta quarta-feira um memorial em homenagem aos cerca de meio milhão de ciganos assassinados pelo regime nazista e alertou para a enorme discriminação ainda existente contra essa minoria.

O monumento, que sofreu muitos atrasos para ficar pronto, consiste em uma piscina redonda com um monólito triangular no centro no qual repousará a cada dia uma flor recém-colhida, e se localiza em frente ao Reichstag, o edifício do Parlamento, no centro de Berlim.

Uma linha do tempo sobre o extermínio nazista fica ao lado do memorial, que após 20 anos de atrasos foi finalmente construído com um subsídio do governo federal de 2,8 milhões de euros (3,6 milhões de dólares).

"Auschwitz", do poeta e compositor italiano Santino Spinelli, está gravado na borda da piscina em inglês e alemão, contando o sofrimento e a dor causados aos Sinti e Roma, dois grupos ciganos muito presentes na Alemanha.

O monumento foi projetado pelo artista israelense Dani Karavan, de 81 anos, e está localizado próximo a outros dois memoriais para as vítimas da barbárie nazista, um campo repleto de pilares para os seis milhões de judeus assassinados e um monumento menor para os homossexuais vítimas de Hitler.

Merkel, que estava visivelmente comovida durante a cerimônia de inauguração, afirmou que este capítulo terrível da história da Alemanha a enchia "de tristeza e vergonha". Ela saudou a obra de Karavan, ao dizer que seu design "fala tanto para o coração quanto para a mente".

"Este memorial lembra um grupo de vítimas que foi ignorado por muito tempo", afirmou, lembrando que o governo da Alemanha Ocidental só reconheceu o genocídio em 1982.

"Recorda a injustiça indescritível que foi infligida a vocês", afirmou à plateia, que incluía muitos sobreviventes idosos. Organizadores forneceram cobertores azuis para protegê-los do frio do mês de outubro.

"Os Sinti e Roma ainda sofrem de ostracismo e condenação", afirmou. "Proteger as minorias é nosso dever, hoje e amanhã".

"A sociedade não aprendeu nada"

O alemão Zoni Weisz, de 75 anos, lutou para conter as lágrimas ao relembrar sua fuga angustiante da deportação com a ajuda de um corajoso policial enquanto a maior parte de sua família foi enviada para um campo de concentração.

Ele disse que a Europa não estava vivendo à altura das responsabilidades competentes a ela após o assassinato dos Sinti e Roma sete décadas atrás.

"A sociedade não aprendeu nada, quase nada", afirmou. "Do contrário eles iriam nos tratar de forma diferente".

Os pais de Weisz, as irmãs e o irmão mais novo foram mortos em Auschwitz, enquanto ele sobreviveu escondido.

Os nazistas consideravam os Roma e Sinti racialmente inferiores, como os judeus, e realizaram uma campanha sistemática de opressão contra eles.

Em 1938, o chefe nazista Heinrich Himmler ordenou a "solução final da questão cigana".

Aqueles capturados na varredura foram confinados a guetos, deportados para campos de concentração e mortos. Muitos foram utilizados em experimentos médicos grotescos e esterilização forçada.

Historiadores estimam que cerca de 500.000 homens, mulheres e crianças ciganos de toda a Europa foram mortos entre 1933 e 1945, dizimando uma população com raízes na Alemanha que datam de seis séculos.

O líder do Conselho Central de Sinti e Roma na Alemanha, Romani Rose, que lidera uma comunidade de cerca de 70 mil pessoas, contestou ferozmente a referência utilizada no memorial aos "ciganos", um termo comumente usado no passado, mas agora visto como depreciativo.

Cerca de 11 milhões de ciganos vivem na Europa, sete milhões dos quais na União Europeia, assumindo o posto da maior minoria étnica do continente. Mas eles sofrem com uma pobreza desproporcional e com enorme discriminação.

A queda da Cortina de Ferro em 1989 e a expansão do Leste Europeu provocaram a migração de alguns dos ciganos para o oeste, mais rico, e países como França e Itália implementaram medidas de segurança, que incluem a destruição de acampamentos considerados ilegais.

Recentemente, Berlim manifestou seu desejo de deter essas migrações, desejando que fosse retirada a isenção de visto para os cidadãos sérvios e macedônios, muitos dos quais são ciganos.

Após o discurso de Merkel na cerimônia, um desordeiro protestou perguntando à chanceler: "O que você diz sobre os deportados? Eles também querem ficar aqui!".

De Deborah Cole (AFP)

Vídeos: Bluchannel TV e AFP


Fonte: AFP/Google
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5iwie8AZmXk-piI7yPX13CE6XUOyg?docId=CNG.ed0cb0e81492b44ee019fd55ee283104.491

Ver mais:
Alemanha cria memorial para ciganos vítimas do Holocausto (BBC Brasil/Terra)
Merkel homenageia vítimas ciganas do Holocausto (Diário de Notícias, Portugal)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Memorial aos ciganos vítimas do Holocausto será inaugurado em Berlim

De Céline LE PRIOUX (AFP) – Há 6 horas

BERLIM — Mais de 65 anos depois do Holocausto, a chanceler alemã, Angela Merkel, irá inaugurar nesta quarta-feira, em Berlim, um memorial aos ciganos vítimas do nazismo, no momento em que esta comunidade ainda enfrenta casos de racismo e discriminação na Europa.

Quase 500 mil sinti e roms da Europa, dois grupos ciganos muito presentes na Alemanha e considerados "racialmente inferiores", foram assassinados pelo III Reich, segundo estimativas oficiais.

Situado em frente ao Parlamento alemão, o memorial aos sinti e roms, criado pela artista israelense Dani Karavan, consiste em um eixo com um pilar central no qual repousará a cada dia uma flor recém-colhida. Ele está localizado perto de um outro dedicado às vítimas do Holocausto e um dedicado aos homossexuais mortos pelos nazistas.

"O Holocausto contra os ciganos - ou "Porajmos", que significa literalmente devorar - tem sido por muito tempo negado e não tem sido objeto de pesquisas históricas, não só na Alemanha, mas também em outros países como a França de Vichy ou países do Leste Europeu que participaram da perseguição", considerou o historiador Wolfgang Wippermann, da Universidade Livre de Berlim.

"Ao contrário dos judeus, que os nazistas perseguiam pela sua religião, os ciganos, católicos em sua maioria, não eram necessariamente identificáveis entre outros cidadãos", explica Romani Rose, presidente do Conselho Central alemão dos sinti e roms.

Para remediar esta situação, os "pesquisadores raciais" da Alemanha nazista gravaram uma série de características e estabeleceram genealogias que às vezes remontavam ao século XVI, para detectar um "ancestral cigano", a fim de enviar para os campos de extermínio os "de sangue misturado". Em Auschwitz e em Ravensbrück, eles serviram como cobaias para experiências médicas.

A RFA reconheceu oficialmente este genocídio em 1982, com um gesto do chanceler Helmut Schmidt. E em 1997, o presidente Roman Herzog ressaltou pela primeira vez que ele teve a mesma motivação racista e que havia sido praticado pelos nazistas com a mesma resolução e o mesmo desejo que o extermínio dos judeus.

Atualmente, 11 milhões de ciganos vivem no continente europeu, entre eles sete milhões na União Europeia, principalmente na Europa Central e do Sudeste, na Romênia, Bulgária, Hungria e Eslováquia.

A maior minoria étnica na Europa é também a mais pobre, que sofre com a discriminação e o racismo. Rose denuncia principalmente a situação na Romênia, onde foram libertados da escravidão em 1856, na Bulgária, Hungria, Eslováquia, mas também na França e Itália.

A queda da Cortina de Ferro em 1989 e a expansão do Leste Europeu provocou a migração de alguns para o oeste mais rico, e países como França e Itália implementaram medidas de segurança, que incluem a destruição de acampamentos considerados ilegais.

Atualmente vivem na Alemanha cerca de 70 mil ciganos de nacionalidade alemã. "Eles não são nômades e suas famílias estão, por vezes, instaladas há 600 anos em nosso país", indica Wippermann.

Eles fazem parte desde 1997 das quatro minorias protegidas na Alemanha, como os dinamarqueses e os frísios instalados no norte, e os sorbs que vivem no leste.

Nas últimas duas décadas, várias dezenas de milhares de ciganos originários do Leste Europeu também tentaram uma chance na Alemanha. Mas não existem campos selvagens, com dizia o presidente Nicolas Sarkozy há dois anos, afirmando que Angela Merkel procederia com evacuações.

Recentemente, Berlim manifestou seu desejo de fazer parar essas migrações, desejando que fosse retirada a isenção de visto para os cidadãos sérvios e macedônios, muitos dos quais são ciganos.

Fonte: AFP
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5jcaxA9djip7D5zxIC3LV5EhX9knw?docId=CNG.33a5fe2e73c231d7d6abac75c4abd70b.41

Ver mais:
El Holocausto gitano, por fin reconocido (Deutsche Welle, Alemanha)
Berlín inaugura su monumento en memoria de los gitanos víctimas del Holocausto (AFP, em espanhol)

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