De Kant a Nietzsche, de Alfred Bäumler a Kurt Huber, de Theodor Adorno a Walter Benjamin, todos esses filósofos debateram em torno das mesmas ideias que foram utilizadas pelo ditador alemão em seus propósitos. Um livro da pesquisadora Yvonne Sherratt aporta chaves no assunto.
O tema é espinhoso e escreveram não poucos livros a respeito. Qual foi o papel de determinados pensadores e filósofos no nazismo. Já em 1953, Habermas escreveu Heidegger contra Heidegger, um texto onde reprovava o filósofo – então seu professor - por ter negado sua corresponsabilidade na ascensão de Hitler. O tempo passa e as perguntas parecem seguir sendo as mesmas.
Assim demonstra a professora da Universidade de Oxford, Yvonne Sherratt, no livro 'Los filósofos de Hitler' (Os filósofos de Hitler), publicado originalmente pela Yale University Press e que agora chega à Espanha editado pela Cátedra. O livro faz um passeio pelos pensadores ao redor do nazismo antes, durante e depois do Holocausto. Incluem-se as influências involuntárias, os colaboradores e os adversários. "Os filósofos eram celebridades. O que eles fizeram, como atuaram e que ideias promoveram, exerceu uma poderosa influência no imaginário alemão", escreve Sherratt.
É bem conhecida a adoração que Hitler professou por Nietzsche e que também simpatizou com as interpretações de Darwin favoráveis a sua causa. Encontrou fios de antissemitismo e utilizou a ideia de raça, a força e a guerra para legitimar seu projeto. Assim assegura a autora: "Hitler teve o sonho de governar o mundo, não só pela força, também com suas ideias. Via-se a si mesmo como um filósofo líder e surpreendentemente ganhou o apoio de muitos intelectuais de seu tempo".
Neste livro, Yvonne Sherratt explora não só a relação de Hitler com os filósofos senão que escava na crueldade, na ambição, na violência e traição que brotou aí onde menos se esperava, "no coração da torre de marfim da Alemanha". Por que teve a colaboração de filósofos como Schmitt, redator da constituição legal dos nazis, ou do mesmo Heidegger?
Sherratt planta várias hipóteses. Provavelmente viram ali a oportunidade de ascensão dentro das universidades alemãs. Mas, quais foram suas histórias e por que aderiram o racismo e a guerra? Para responder essas perguntas, a autora mergulha em distintos arquivos e consegue inclusive provas que demonstram como, na década de 1920, Hitler coloca a mão em pensadores nobres do passado, incluindo Kant, Nietzsche e Darwin, para a formação de seu corpo de leitura.
Nos filósofos de Hitler, Yvonne Sherratt revela como os pensadores da década de 1930 foram entusiastas colaboradores do regime nazi e se prestaram para aportá-lo num manto de respeito: de Martin Heidegger ou Carl Schmitt até opositores como Kurt Huber, junto a muitos outros perseguidos ou assassinados, como foi o caso de Theodor Adorno e Hannah Arendt, que se viram obrigados a fugir como refugiados. O livro relata seus destinos, que se dispersaram pelo mundo. Conclui com os julgamentos de Nuremberg, examinando se alguns filósofos foram julgados e se as universidades alemãs foram purgadas/limpas de nazis depois de 1945.
Karina Sainz Borgo
Fonte: Vozpopuli (Espanha)
http://vozpopuli.com/ocio-y-cultura/54257-los-filosofos-de-hitler-los-pensadores-antes-y-despues-del-holocausto
Título original: Los filósofos de Hitler: los pensadores antes y después del Holocausto
Tradução: Roberto Lucena
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terça-feira, 16 de dezembro de 2014
domingo, 4 de dezembro de 2011
Males que nunca acabam
Colóquio internacional relembra os 50 anos do julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann em Jerusalém. Os debates gravitaram em torno da intolerância e violência dos tempos atuais.
Por: Luan Galani
Publicado em 28/11/2011 | Atualizado em 28/11/2011
Há 50 anos o tenente-coronel nazista Karl Adolf Eichmann (1906-1962) era levado ao banco de réus pelo Estado de Israel. Chefe da polícia secreta nazista responsável pela identificação e transporte de pessoas para campos de concentração, Eichmann entrou para a história como executor-chefe dos assassinatos em massa do terceiro Reich. Acusado de 15 crimes e considerado culpado por todos eles, foi sentenciado à forca.
A fim de manter viva a discussão sobre intolerância, o Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Paraná (UFPR) organizou, em meados desse mês, em Curitiba, o colóquio internacional ‘Eichmann em Jerusalém: 50 anos depois’.
“Não podemos relegar ao esquecimento esse momento histórico que marcou a humanidade e que nos impulsiona a refletir sobre as diferenças”, disse a historiadora e organizadora do evento, Marion Brepohl, da UFPR.
Arma de propaganda
Segundo Brepohl, o julgamento serviu aos interesses políticos daquele momento. “Há tempos os israelenses sabiam que Eichmann estava na Argentina, mas só o capturaram naquele ano porque os pagamentos das reparações feitas pelos alemães estavam chegando ao fim”, disse.
O primeiro ministro de Israel, David Ben-Gurion (1886-1973), e o chanceler da República Federal da Alemanha, Konrad Adenauer (1876-1967), acordaram em usar Eichmann como arma de propaganda, transformando o julgamento em espetáculo.
“O julgamento demonizou Eichmann para evitar expor o passado de alguns membros do governo alemão da época que haviam sido cúmplices do nazismo, como Hans Globke, conselheiro de Adenauer”, destacou Brepohl.
Em troca, a Alemanha forneceria equipamento militar a Israel. Foi o que aconteceu em 1962, quando Adenauer aprovou ajuda militar a Israel de 240 milhões de marcos.
Homem comum
Segundo a jurista Vera Karam de Chueri, da UFPR, durante o julgamento Eichmann não se mostrou o mais convicto dos nazistas. Era um homem comum, organizado e ávido por ascensão social. Ressentia-se do fato de ter sido tirado da escola pelo pai devido a seu baixo rendimento e quando foi demitido do emprego em 1932 aceitou ingressar no partido e depois na carreira militar.
Serviu como cabo no campo de concentração de Dachau e teria se destacado pelo espírito metódico e disciplinar. Apesar de responsável pela logística dos campos de concentração, sustentou que jamais matou um judeu.
“A burocracia e a tradição de acatar ordens cegamente o transformaram naquele homem que, com a mesma naturalidade, mandava empilhar corpos de manhã e, à tarde, jogava dominó com os filhos”, enfatizou Karam.
Com o fim da guerra, Eichmann foi preso por tropas norte-americanas. Mas conseguiu fugir e se instalar na Argentina a partir de 1950 sob o codinome Ricardo Clement.
Mais atual que nunca
Engana-se quem pensa que intolerância a diferenças é coisa do passado na Europa. Prova disso são o caso do político holandês Geert Wilders, que comparou o Alcorão ao Mein Kampf, de Adolf Hitler, e o recente relatório do governo alemão que revela a existência de antissemitismo latente em cerca de 20% da população da Alemanha.
E os contornos dessa situação – por si só embaraçosa – ganham traços assustadores com a descoberta pelo serviço de inteligência alemão de que grupos políticos da extrema direita são responsáveis por vários assassinatos de imigrantes durante os últimos 13 anos, principalmente no estado da Saxônia, no sudeste do país.
“Rememorar o julgamento de Eichmann – e consequentemente outras questões ligadas ao tema – faz parte dessa luta”, disse o sociólogo Sérgio Adorno, da Universidade de São Paulo, corroborando a tese de Haroche.
Segundo Adorno, que traçou um perfil da violência moderna e contemporânea, a tortura não foi erradicada de nossas sociedades, embora seja condenada desde o século 18. Como exemplos ele citou a prisão de Abu Ghraib, no Iraque, e a repressão aos protestos libertários no Bahrein e em outros países árabes, que desrespeitam vários acordos internacionais.
“Não há hoje intelectuais que defendam o emprego de meios violentos para garantir liberdade e justiça social”, disse Adorno. “Por outro lado”, ponderou, “são poucos os intelectuais que denunciam o emprego da tortura contra suspeitos de envolvimento em atos terroristas”.
Para o sociólogo da USP, essa anestesia moral era típica dos burocratas nazistas, como Eichmann. E recomendou: “Vigiemos constantemente nosso comportamento, para evitar que desenvolvamos o Eichmann que temos dentro de nós”.
Luan Galani
Especial para a CH On-line/ PR
Fonte: Ciência Hoje
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/11/males-que-nunca-se-acabam
Ver mais:
West Germany's Efforts to Influence the Eichmann Trial (Spiegel Online, Alemanha)
Por: Luan Galani
Publicado em 28/11/2011 | Atualizado em 28/11/2011
Tribunal de Jerusalém onde Karl Eichmann foi julgado e sentenciado à forca em 1961. (foto: Memorial Norte-americano do Holocausto/ Departamento de Imprensa do Governo de Israel) |
Há 50 anos o tenente-coronel nazista Karl Adolf Eichmann (1906-1962) era levado ao banco de réus pelo Estado de Israel. Chefe da polícia secreta nazista responsável pela identificação e transporte de pessoas para campos de concentração, Eichmann entrou para a história como executor-chefe dos assassinatos em massa do terceiro Reich. Acusado de 15 crimes e considerado culpado por todos eles, foi sentenciado à forca.
A fim de manter viva a discussão sobre intolerância, o Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Paraná (UFPR) organizou, em meados desse mês, em Curitiba, o colóquio internacional ‘Eichmann em Jerusalém: 50 anos depois’.
“Não podemos relegar ao esquecimento esse momento histórico que marcou a humanidade e que nos impulsiona a refletir sobre as diferenças”, disse a historiadora e organizadora do evento, Marion Brepohl, da UFPR.
Arma de propaganda
Segundo Brepohl, o julgamento serviu aos interesses políticos daquele momento. “Há tempos os israelenses sabiam que Eichmann estava na Argentina, mas só o capturaram naquele ano porque os pagamentos das reparações feitas pelos alemães estavam chegando ao fim”, disse.
O primeiro ministro de Israel, David Ben-Gurion (1886-1973), e o chanceler da República Federal da Alemanha, Konrad Adenauer (1876-1967), acordaram em usar Eichmann como arma de propaganda, transformando o julgamento em espetáculo.
“O julgamento demonizou Eichmann para evitar expor o passado de alguns membros do governo alemão da época que haviam sido cúmplices do nazismo, como Hans Globke, conselheiro de Adenauer”, destacou Brepohl.
Em troca, a Alemanha forneceria equipamento militar a Israel. Foi o que aconteceu em 1962, quando Adenauer aprovou ajuda militar a Israel de 240 milhões de marcos.
Homem comum
Segundo a jurista Vera Karam de Chueri, da UFPR, durante o julgamento Eichmann não se mostrou o mais convicto dos nazistas. Era um homem comum, organizado e ávido por ascensão social. Ressentia-se do fato de ter sido tirado da escola pelo pai devido a seu baixo rendimento e quando foi demitido do emprego em 1932 aceitou ingressar no partido e depois na carreira militar.
Serviu como cabo no campo de concentração de Dachau e teria se destacado pelo espírito metódico e disciplinar. Apesar de responsável pela logística dos campos de concentração, sustentou que jamais matou um judeu.
“A burocracia e a tradição de acatar ordens cegamente o transformaram naquele homem que, com a mesma naturalidade, mandava empilhar corpos de manhã e, à tarde, jogava dominó com os filhos”, enfatizou Karam.
Com o fim da guerra, Eichmann foi preso por tropas norte-americanas. Mas conseguiu fugir e se instalar na Argentina a partir de 1950 sob o codinome Ricardo Clement.
Karl Adolf Eichmann em prisão israelense de Jerusalém durante o período de seu julgamento. (foto: Tiergartenstrasse 4 Association) |
Mais atual que nunca
Engana-se quem pensa que intolerância a diferenças é coisa do passado na Europa. Prova disso são o caso do político holandês Geert Wilders, que comparou o Alcorão ao Mein Kampf, de Adolf Hitler, e o recente relatório do governo alemão que revela a existência de antissemitismo latente em cerca de 20% da população da Alemanha.
E os contornos dessa situação – por si só embaraçosa – ganham traços assustadores com a descoberta pelo serviço de inteligência alemão de que grupos políticos da extrema direita são responsáveis por vários assassinatos de imigrantes durante os últimos 13 anos, principalmente no estado da Saxônia, no sudeste do país.
Haroche: “Direitos humanos, liberdades e até o estado democrático, nada está garantido para sempre. Temos que lutar diariamente por tudo isso, sem tréguas”Diante disso, a socióloga francesa Claudine Haroche, do Centro Nacional de Pesquisa Científica, em Paris, afirmou que nenhuma de nossas conquistas está assegurada. “Direitos humanos, liberdades e até o estado democrático, nada está garantido para sempre”, ressaltou. “Temos que lutar diariamente por tudo isso, sem tréguas.”
“Rememorar o julgamento de Eichmann – e consequentemente outras questões ligadas ao tema – faz parte dessa luta”, disse o sociólogo Sérgio Adorno, da Universidade de São Paulo, corroborando a tese de Haroche.
Segundo Adorno, que traçou um perfil da violência moderna e contemporânea, a tortura não foi erradicada de nossas sociedades, embora seja condenada desde o século 18. Como exemplos ele citou a prisão de Abu Ghraib, no Iraque, e a repressão aos protestos libertários no Bahrein e em outros países árabes, que desrespeitam vários acordos internacionais.
“Não há hoje intelectuais que defendam o emprego de meios violentos para garantir liberdade e justiça social”, disse Adorno. “Por outro lado”, ponderou, “são poucos os intelectuais que denunciam o emprego da tortura contra suspeitos de envolvimento em atos terroristas”.
Para o sociólogo da USP, essa anestesia moral era típica dos burocratas nazistas, como Eichmann. E recomendou: “Vigiemos constantemente nosso comportamento, para evitar que desenvolvamos o Eichmann que temos dentro de nós”.
Luan Galani
Especial para a CH On-line/ PR
Fonte: Ciência Hoje
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/11/males-que-nunca-se-acabam
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West Germany's Efforts to Influence the Eichmann Trial (Spiegel Online, Alemanha)
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Entrevista com Norman Finkelstein, autor de "A Indústria do Holocausto"
Por Ricardo Besen (ricardobesen@ig.com)
iG Ler - Você rejeita a idéia da singularidade do holocausto. Não acha que esse é um assunto bastante complexo que é discutido de forma muito simplista em seu livro? Você poderia ter levado em consideração que historiadores e filósofos alemães discutiram o tema a sério e sem motivações políticas, como Theodor Adorno, por exemplo.
Finkelstein - Eu discuto o dogma de que o holocausto é CATEGORICAMENTE único. Como todos os temas de investigação histórica, ele deveria estar sujeito aos procedimentos fundamentais de contraste e comparação. Não há dúvida que alguns aspectos do holocausto nazista são significativamente únicos - cito inclusive o historiador Raul Hilberg quanto a esse ponto.
Aspectos da bomba atômica lançada sobre Hiroshima também são significativamente únicos. Mas será que um historiador japonês diria que não pode compará-la com o bombardeio convencional de Tóquio (onde provavelmente mais gente morreu)? O ponto de partida da indústria do holocausto é: "Não compare". O que quer que isso seja, não é história.
iG Ler - Você não exagera ao dizer que as pessoas eram indiferentes ao holocausto durante sua infância? Você menciona que seus pais sofreram privadamente. Deve-se admitir que o tema era de difícil tratamento, e não só por parte dos sobreviventes. Vários anos se passaram até que o livro de Primo Levi, "É isso um homem?" fosse publicado na Itália. Uma biógrafa de Levi, Sylvie Braibant, notou: "O mundo não estava preparado para isso". Não lhe parece que a hesitação em lidar com o assunto possa ter tido outras motivações que não as políticas?
Finkelstein - Em geral é difícil lidar com o sofrimento. Ainda ontem à noite assisti a um excelente - pois honesto - documentário sobre o Vietnã, "Regret to Inform....", ("Sinto informar..."). Foi terrivelmente doloroso rever o horror colossal infligido pelos EUA ao Vietnã.
A questão interessante é por que certos horrores são lembrados, enquanto outros são esquecidos. Essa é uma questão política e não "humana".
iG Ler - Uma das principais críticas a seu livro é que ele é movido por vingança pessoal pelos problemas que sua mãe teve para receber a indenização de guerra. De fato, você parece estar com pressa de chegar ao que considero a parte principal de seu livro, ou seja, a crítica à elite judaica americana. Você afirma que a posição dessa elite com relação a Israel mudou por razões políticas após a Guerra dos Seis Dias em 1967, mas trata o tema muito brevemente. Não lhe parece que o livro trata de questões complexas de forma muito rápida, tornando-o um alvo fácil para críticas (que, dado o tema, viriam mesmo que o livro fosse perfeito)?
Finkelstein - O subtítulo do livro é "Reflexões sobre a exploração do sofrimento dos judeus". É uma intervenção modesta. No entanto, acho que o livro levanta questões importantes. Raul Hilberg considerou minhas teses basicamente corretas. Ele sugere que talvez eu devesse expandi-las em um outro livro. É pouco provável que eu vá fazê-lo.
Considero o livro um acerto de contas com os "publicitários" do holocausto que corromperam e rebaixaram a memória do sofrimento do povo judeu. É uma desgraça, um crime até. A indústria do holocausto é uma das maiores fomentadoras do anti-semitismo e da negação do holocausto no mundo hoje. Ela deve ser exposta, repudiada e banida da vida pública.
Se - como Hilberg tem reiterado - esses "camelôs" do holocausto estiverem implicados em chantagem e extorsão contra a Suíça, eles devem ser processados criminalmente.
iG Ler - Você afirma que a maior parte das críticas que seu livro tem recebido nos EUA é composta de ataques pessoais e não às suas idéias. Houve alguma crítica preocupada em debater apenas idéias? Qual foi a reação do público norte-americano ao livro?
Finkelstein - A única resenha séria de meu livro nos EUA foi feita por William Rubinstein em "First Things" (que pode ser lida no site de Finkelstein). O "New York Times" liderou o ataque pessoal, logo seguido pelo "Washington Post".
O propósito desses ataques dos principais jornais foi impedir a discussão pública do livro e alertar as bibliotecas para que não o comprassem. Parece que a campanha de vilanização deu resultado. Não fui convidado a participar de nenhum programa importante no rádio ou na televisão. O número total de resenhas escritas pode ser contado nos dedos.
Em compensação, a maior autoridade mundial no holocausto nazista, Raul Hilberg, tem continuamente elogiado meu livro em entrevistas.
iG Ler - Qual é a dificuldade de debater nos EUA um tema como o holocausto, quando se vai contra a corrente?
Finkelstein - Os EUA são o quartel-general da indústria do holocausto. Não surpreende, portanto, que qualquer crítica a essa indústria, ou seja, à exploração do sofrimento dos judeus para obtenção de ganhos políticos e financeiros, seja suprimida. Um livro documentando que chocolate dá câncer provavelmente seria banido na Suíça.
iG Ler - Qual foi a recepção do livro na Alemanha e em Israel? Houve uma diferença muito grande com relação à recepção nos EUA?
Finkelstein - Na Alemanha o livro provocou um debate nacional. 130 mil cópias do livro foram vendidas em duas semanas. Ele está em primeiro ou segundo lugar na lista de best sellers lá, bem como na Suíça e na Áustria.
A reação oficial da mídia alemã foi quase que completamente negativa. Já há dois livros em processo de impressão denunciando o meu livro. Outras obras, que me atacam menos que essas duas, mas são também bastante críticas, serão publicadas pela minha editora alemã, a Piper.
A reação do público, pelo que posso julgar pelos e-mails que recebo, é mais positiva. A Alemanha está sufocada pelo "politicamente correto" no que se refere ao tema holocausto.
Acho que muitos alemães estão gratos que um judeu finalmente tenha publicado o que quase todo mundo pensa privadamente: o negócio do holocausto fugiu do controle.
Em Israel houve pouca repercussão.
iG Ler - Você cita múltiplas fontes em seu livro. Considerando que o assunto atrai um grande número de pessoas fora do ambiente acadêmico e que não terão acesso a essas fontes, a leitura não fica prejudicada? Que tipo de público você pretendeu atingir?
Finkelstein - Minha intenção foi escrever o livro para o grande público, daí sua brevidade e aparato acadêmico modesto. Escrevi muitos livros nos quais o espaço reservado às notas é maior que o corpo do texto. Evitei conscientemente fazer isso nesse livro.
As linhas gerais de meu argumento são claras e as fontes em que me apoio suficientes para meus propósitos. Aliás, ainda não li nenhuma resenha que tenha discutido realmente meus argumentos e fontes. Em vez disso, tudo que ouço são conversas sobre "teorias conspiratórias", "judeu que se odeia", "negador do holocausto" e por aí vai.
A primeira regra de um bom advogado é: se você não pode responder a uma questão, mude de assunto.
iG Ler - Embora não seja o tema direto do livro "A Indústria do Holocausto", tem-se afirmado que você compara a situação do povo palestino hoje com a dos judeus na Alemanha nazista. É verdade? Em caso positivo, como você justifica essa posição?
Finkelstein - Como notei acima, há alguns aspectos que são comparáveis, outros não. Algumas semelhanças são bastante significativas, como, por exemplo, a meta de criar em Israel um país etnicamente puro, o uso extensivo de prisões administrativas, tortura e assim por diante.
Por outro lado, não há câmaras de gás ou assassinatos em série. Nesse caso as duas situações contrastam significativamente.
Em um nível moral eu não comparo sofrimentos: sofrimento é sofrimento. Essa é a herança que meus pais me deixaram. É o que eu mais admirava neles. Não pretendo abandonar esse nobre princípio moral.
iG Ler - Você está a par da polêmica criada na Alemanha pelo discurso (veja matéria ao lado) proferido pelo escritor Martin Walser ao receber o "Prêmio da Paz dos Livreiros Alemães" em 1998, no qual ele externa uma opinião semelhante à sua sobre a instrumentalização do holocausto? Concorda com o ponto de vista dele?
Finkelstein - Sim, acho que ele está correto. De fato, acabei de receber um e-mail de um jovem alemão que afirma que aquilo que eu disse em minha recente visita à Alemanha ecoava o que Walser afirmou. A diferença é que eu sou judeu, de forma que posso me "livrar" do sentimento (da instrumentalização do holocausto).
A exploração do holocausto nazista e a coerção moral da Alemanha, são, francamente, um espetáculo nauseante. É tempo de todos os moralizadores "desses alemães" olharem para o espelho. A imagem não é bonita, se formos honestos conosco enquanto, digamos, norte-americanos.
iG Ler - Você afirma que há poucos historiadores do holocausto -Raul Hilberg seria um deles - com credibilidade. Você acredita que a polêmica gerada por seu livro possa mudar isso?
Finkelstein - Meu livro não pretende ser uma contribuição para o entendimento do holocausto nazista. Há excelentes historiadores trabalhando nesse campo. O propósito de meu livro é expor todas as bobagens que a "educação do holocausto" vem promovendo, que são, na verdade, propaganda pura - uma arma ideológica em uma ação política corrupta.
Fonte: IG
http://www.ig.com.br/paginas/igler/especiais/finkel/entrevista.html
iG Ler - Você rejeita a idéia da singularidade do holocausto. Não acha que esse é um assunto bastante complexo que é discutido de forma muito simplista em seu livro? Você poderia ter levado em consideração que historiadores e filósofos alemães discutiram o tema a sério e sem motivações políticas, como Theodor Adorno, por exemplo.
Finkelstein - Eu discuto o dogma de que o holocausto é CATEGORICAMENTE único. Como todos os temas de investigação histórica, ele deveria estar sujeito aos procedimentos fundamentais de contraste e comparação. Não há dúvida que alguns aspectos do holocausto nazista são significativamente únicos - cito inclusive o historiador Raul Hilberg quanto a esse ponto.
Aspectos da bomba atômica lançada sobre Hiroshima também são significativamente únicos. Mas será que um historiador japonês diria que não pode compará-la com o bombardeio convencional de Tóquio (onde provavelmente mais gente morreu)? O ponto de partida da indústria do holocausto é: "Não compare". O que quer que isso seja, não é história.
iG Ler - Você não exagera ao dizer que as pessoas eram indiferentes ao holocausto durante sua infância? Você menciona que seus pais sofreram privadamente. Deve-se admitir que o tema era de difícil tratamento, e não só por parte dos sobreviventes. Vários anos se passaram até que o livro de Primo Levi, "É isso um homem?" fosse publicado na Itália. Uma biógrafa de Levi, Sylvie Braibant, notou: "O mundo não estava preparado para isso". Não lhe parece que a hesitação em lidar com o assunto possa ter tido outras motivações que não as políticas?
Finkelstein - Em geral é difícil lidar com o sofrimento. Ainda ontem à noite assisti a um excelente - pois honesto - documentário sobre o Vietnã, "Regret to Inform....", ("Sinto informar..."). Foi terrivelmente doloroso rever o horror colossal infligido pelos EUA ao Vietnã.
A questão interessante é por que certos horrores são lembrados, enquanto outros são esquecidos. Essa é uma questão política e não "humana".
iG Ler - Uma das principais críticas a seu livro é que ele é movido por vingança pessoal pelos problemas que sua mãe teve para receber a indenização de guerra. De fato, você parece estar com pressa de chegar ao que considero a parte principal de seu livro, ou seja, a crítica à elite judaica americana. Você afirma que a posição dessa elite com relação a Israel mudou por razões políticas após a Guerra dos Seis Dias em 1967, mas trata o tema muito brevemente. Não lhe parece que o livro trata de questões complexas de forma muito rápida, tornando-o um alvo fácil para críticas (que, dado o tema, viriam mesmo que o livro fosse perfeito)?
Finkelstein - O subtítulo do livro é "Reflexões sobre a exploração do sofrimento dos judeus". É uma intervenção modesta. No entanto, acho que o livro levanta questões importantes. Raul Hilberg considerou minhas teses basicamente corretas. Ele sugere que talvez eu devesse expandi-las em um outro livro. É pouco provável que eu vá fazê-lo.
Considero o livro um acerto de contas com os "publicitários" do holocausto que corromperam e rebaixaram a memória do sofrimento do povo judeu. É uma desgraça, um crime até. A indústria do holocausto é uma das maiores fomentadoras do anti-semitismo e da negação do holocausto no mundo hoje. Ela deve ser exposta, repudiada e banida da vida pública.
Se - como Hilberg tem reiterado - esses "camelôs" do holocausto estiverem implicados em chantagem e extorsão contra a Suíça, eles devem ser processados criminalmente.
iG Ler - Você afirma que a maior parte das críticas que seu livro tem recebido nos EUA é composta de ataques pessoais e não às suas idéias. Houve alguma crítica preocupada em debater apenas idéias? Qual foi a reação do público norte-americano ao livro?
Finkelstein - A única resenha séria de meu livro nos EUA foi feita por William Rubinstein em "First Things" (que pode ser lida no site de Finkelstein). O "New York Times" liderou o ataque pessoal, logo seguido pelo "Washington Post".
O propósito desses ataques dos principais jornais foi impedir a discussão pública do livro e alertar as bibliotecas para que não o comprassem. Parece que a campanha de vilanização deu resultado. Não fui convidado a participar de nenhum programa importante no rádio ou na televisão. O número total de resenhas escritas pode ser contado nos dedos.
Em compensação, a maior autoridade mundial no holocausto nazista, Raul Hilberg, tem continuamente elogiado meu livro em entrevistas.
iG Ler - Qual é a dificuldade de debater nos EUA um tema como o holocausto, quando se vai contra a corrente?
Finkelstein - Os EUA são o quartel-general da indústria do holocausto. Não surpreende, portanto, que qualquer crítica a essa indústria, ou seja, à exploração do sofrimento dos judeus para obtenção de ganhos políticos e financeiros, seja suprimida. Um livro documentando que chocolate dá câncer provavelmente seria banido na Suíça.
iG Ler - Qual foi a recepção do livro na Alemanha e em Israel? Houve uma diferença muito grande com relação à recepção nos EUA?
Finkelstein - Na Alemanha o livro provocou um debate nacional. 130 mil cópias do livro foram vendidas em duas semanas. Ele está em primeiro ou segundo lugar na lista de best sellers lá, bem como na Suíça e na Áustria.
A reação oficial da mídia alemã foi quase que completamente negativa. Já há dois livros em processo de impressão denunciando o meu livro. Outras obras, que me atacam menos que essas duas, mas são também bastante críticas, serão publicadas pela minha editora alemã, a Piper.
A reação do público, pelo que posso julgar pelos e-mails que recebo, é mais positiva. A Alemanha está sufocada pelo "politicamente correto" no que se refere ao tema holocausto.
Acho que muitos alemães estão gratos que um judeu finalmente tenha publicado o que quase todo mundo pensa privadamente: o negócio do holocausto fugiu do controle.
Em Israel houve pouca repercussão.
iG Ler - Você cita múltiplas fontes em seu livro. Considerando que o assunto atrai um grande número de pessoas fora do ambiente acadêmico e que não terão acesso a essas fontes, a leitura não fica prejudicada? Que tipo de público você pretendeu atingir?
Finkelstein - Minha intenção foi escrever o livro para o grande público, daí sua brevidade e aparato acadêmico modesto. Escrevi muitos livros nos quais o espaço reservado às notas é maior que o corpo do texto. Evitei conscientemente fazer isso nesse livro.
As linhas gerais de meu argumento são claras e as fontes em que me apoio suficientes para meus propósitos. Aliás, ainda não li nenhuma resenha que tenha discutido realmente meus argumentos e fontes. Em vez disso, tudo que ouço são conversas sobre "teorias conspiratórias", "judeu que se odeia", "negador do holocausto" e por aí vai.
A primeira regra de um bom advogado é: se você não pode responder a uma questão, mude de assunto.
iG Ler - Embora não seja o tema direto do livro "A Indústria do Holocausto", tem-se afirmado que você compara a situação do povo palestino hoje com a dos judeus na Alemanha nazista. É verdade? Em caso positivo, como você justifica essa posição?
Finkelstein - Como notei acima, há alguns aspectos que são comparáveis, outros não. Algumas semelhanças são bastante significativas, como, por exemplo, a meta de criar em Israel um país etnicamente puro, o uso extensivo de prisões administrativas, tortura e assim por diante.
Por outro lado, não há câmaras de gás ou assassinatos em série. Nesse caso as duas situações contrastam significativamente.
Em um nível moral eu não comparo sofrimentos: sofrimento é sofrimento. Essa é a herança que meus pais me deixaram. É o que eu mais admirava neles. Não pretendo abandonar esse nobre princípio moral.
iG Ler - Você está a par da polêmica criada na Alemanha pelo discurso (veja matéria ao lado) proferido pelo escritor Martin Walser ao receber o "Prêmio da Paz dos Livreiros Alemães" em 1998, no qual ele externa uma opinião semelhante à sua sobre a instrumentalização do holocausto? Concorda com o ponto de vista dele?
Finkelstein - Sim, acho que ele está correto. De fato, acabei de receber um e-mail de um jovem alemão que afirma que aquilo que eu disse em minha recente visita à Alemanha ecoava o que Walser afirmou. A diferença é que eu sou judeu, de forma que posso me "livrar" do sentimento (da instrumentalização do holocausto).
A exploração do holocausto nazista e a coerção moral da Alemanha, são, francamente, um espetáculo nauseante. É tempo de todos os moralizadores "desses alemães" olharem para o espelho. A imagem não é bonita, se formos honestos conosco enquanto, digamos, norte-americanos.
iG Ler - Você afirma que há poucos historiadores do holocausto -Raul Hilberg seria um deles - com credibilidade. Você acredita que a polêmica gerada por seu livro possa mudar isso?
Finkelstein - Meu livro não pretende ser uma contribuição para o entendimento do holocausto nazista. Há excelentes historiadores trabalhando nesse campo. O propósito de meu livro é expor todas as bobagens que a "educação do holocausto" vem promovendo, que são, na verdade, propaganda pura - uma arma ideológica em uma ação política corrupta.
Fonte: IG
http://www.ig.com.br/paginas/igler/especiais/finkel/entrevista.html
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