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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

"Ninguém verdadeiramente perseguiu os nazis após a guerra". Livro sobre Mengele

Josef Mengele devorou-se a si próprio

La disparition de Josef Mengele é um brilhante mergulho na intimidade de um monstro nazi, nos seus anos de fuga na América do Sul. Ao entrar no quotidiano, inicialmente ostensivo depois sórdido, do “médico” de Auschwitz, o autor explica como ele escapou à justiça dos homens durante 40 anos mas como foi castigado: devorando-se.

Jan Le Bris de Kerne. 2 de Dezembro de 2017, 16:40

O crânio de Josef Mengele mostrado aos jornalista em 1985 em Embu, Brasil
Robert Nickelsberg/Liaison
O Anjo da Morte, como lhe chamam, exerceu um fascínio perturbante. Em Auschwitz, mais tarde quando conseguiu fugir e desaparecer e depois da sua morte, quando o mundo descobriu a ignomínia das suas actividades. O doutor Mengele, médico sinistro que inflingiu sem piedade os maiores sofrimentos a milhares de deportados nos campos da morte, em nome da experiência médica e do apuramento da raça ariana, era afinal um miserável e obscuro capitão das SS proveniente da burguesia bávara, cobarde, frio e obsessivo, e que se conseguiu esconder na América do Sul durante tantos anos depois do final da II Guerrra graças à acção conjunta do dinheiro da sua família, das cumplicidades locais, tanto na Baviera como nos países de acolhimento, da solidariedade dos exilados nazis e da complacência de governos como o de Perón na Argentina, mas também do Paraguai ou Brasil. Isso permitiu ao “médico” de Auschwitz viver alguns belos anos nas melhores condições, com estreias de ópera, jantares elegantes e soirées de deboche nos bordéis chiques de Buenos Aires.

O nome “Anjo da Morte”, o seu desaparecimento quase sobrenatural, as numerosas lendas que o rodeiam, hipnotizaram as pessoas e anestesiaram percepções. É elevado a encarnação maléfica demoníaca. Ou não. Olivier Guez recusa de forma vibrante esta transfiguração de Mengele, que segundo o autor é um homem como os outros, mais normal do que quereríamos que fosse, tragicamente humano, na verdade, que obedecia às ordens, que construía a sua pequena carreira, vaidoso e indiferente ao sofrimento que o rodeava. Até ao fim viu-se como executor de ordens, obediente e ao serviço da grandeza alemã.

PÚBLICO - Foto. Olivier Guez, 43 anos,
nascido em Estrasburgo, é escritor,
jornalista, ensaísta JF
O grande interesse do romance de Olivier Guez (porque é um romance de não ficção, ou seja, muito fiel à realidade e abundantemente documentado) é que relata com precisão os protagonistas e os fatos da fuga do criminoso de guerra como uma câmara de espionagem: o autor infiltra-se o mais possível perto de Mengele. Este vai meter-se, de forma inexorável, num longo caminho da cruz feito de solidão, de terror, de raiva e paranoia. Uma lenta queda começa nas várias quintas que o aceitaram esconder a troco de somas exorbitantes.

Doente e insone, afunda-se. A sua decadência mental e física, o isolamento e abandono, o seu fim longe do seu país, entregue aos seus demônios em condições materiais sórdidas: tudo isto foi o castigo terrestre, aquele que a justiça dos homens não soube dar-lhe. Mengele acabou por se devorar a si próprio.

Na altura em que o mundo ocidental assiste ao ressurgimento dos populismos e à dissolução dos ensinamentos da paz forjados sobre as cinzas de milhões de vítimas da barbárie, Olivier Guez conclui assim a sua obra: “A cada duas ou três gerações, quando a memória se esvai e quando as últimas testemunhas dos massacres precedentes desaparecem, a razão eclipsa-se e os homens recomeçam a espalhar o mal”.

Olivier Guez, 43 anos, nascido em Estrasburgo, é escritor, jornalista, ensaísta. Co-escreveu o filme “Fritz Bauer, un héros allemand” sobre o procurador que encontrou os traços Adolf Eichmann, o cérebro do Holocausto. Fascinado pelos períodos dos pós-guerras, expõe nesta conversa o seu método, a sua intenção literária. Este livro, de uma atmosfera cirúrgica e que soa como uma premonição, vinda do passado, acaba de receber o Prix Renaudot.

Como é que organizou o seu trabalho?

Há dez anos que trabalho sobre os pós-guerras, quer seja na Europa, na Alemanha ou na América do Sul, portanto não descobria todas estas questões trabalhando sobre Mengele. Tinha escrito “L’Impossible Retour, une histoire des juifs depuis 1945» [O Regresso Impossível, a história dos judeus desde 1945], onde contava a história dos judeus na Alemanha depois da guerra e, sempre em espelho, a relação dos alemães com o seu passado, seja a nível político ou simbólico, mas também de ponto de vista judicial. De seguida escrevi [com Lars Kraume] o argumento do filme “Fritz Bauer, un héros allemand” [Fritz Bauer, um herói alemão], onde se contava como esse grande procurador tinha colaborado com a Mossad, pois é ele que lhes dá a informação da presença de Eichmann na Argentina. E ao trabalhar na preparação do filme, li muito sobre a Argentina dos anos 50 e nesse momento “cruzei-me” várias vezes com Mengele. Disse a mim próprio que ainda havia alguma coisa para fazer relativamente aos nazis na Argentina. Toda a gente sabe que muitos nazis partiram para a América do Sul, mas não se sabe grande coisa, é pouco nítido. Nem tudo tinha ainda sido dito. Existe uma grande bibliografia, mas aqui não conhecemos muito bem o contexto sul-americano. Pensei que havia uma história para contar. Mengele não foi preso, não foi julgado, e morreu velho em 1979. Então existe este mistério: por que razão nunca foi ele preso? Depois há também todas as histórias que se contava sobre ele (por exemplo, as aldeias de gêmeos que teria criado), tudo isso é uma treta. Faltava-me separar o verdadeiro do falso. E depois há a questão mais filosófica: é verdade que ele não foi julgado, mas terá ele sido castigado em algum momento? O que é que a vida lhe reservou? Quem é o “Mengele após Mengele”?

Que tom quis dar ao texto? Como classifica o ambiente estilístico do livro?

Queria qualquer coisa seca, áspera, tensa, não era necessário que o livro fosse uma zona de conforto para o leitor. Nenhum desvio, nenhuma grande demanda onde o autor se coloque em cena, nada de metáforas, nada de grandes descrições. Realmente qualquer coisa muito seca, como a dissecação de Josef Mengele na América do Sul.

PÚBLICO - Foto. Josef Mengele, à esquerda, seguido de Rudolf Hoss,
comandante de Auschwitz, de Josef Kramer, comandante de Belsen,
e de um oficial alemão não identificado Universal History Archive/Getty Images
A cada duas ou três gerações, quando a memória se esvai e quando as últimas testemunhas dos massacres precedentes desaparecem, a razão eclipsa-se e os homens recomeçam a espalhar o mal
Olivier Guez

Encontrou, na bibliografia e nos relatórios de entrevistas, matéria suficiente para reconstituir com precisão as conversas, os estados de espírito, os acontecimentos do dia-a-dia? Ou teve que entrar no campo da ficção?
Não existe diálogo no livro, ou somente discurso indirecto. Não coloquei as personagens a dialogar. Não tinha vontade de as fazer viver dessa maneira. É talvez a minha paixão por Thomas Bernhard [dramaturgo austríaco] que me levou a ter vontade de usar esse tipo de narração. Depois, na bibliografia encontra-se mesmo assim muita coisa. Vou dar-lhe um exemplo. A ligação entre Mengele e Gita Stammer [mulher do casal húngaro que durante vários anos o albergou na sua fazenda no Brasil]. Pelo que pude ler, tiveram uma relação. Onde, quando, como, durante quanto tempo, em que condições, ninguém jamais o saberá. Pelo que a partir do momento em que tenho 95 por cento de certeza que existiu uma ligação confirmada por diversas fontes, aí o romancista apodera-se da matéria e vai “inventar”, entre aspas, as condições dessa ligação.

Ou seja, teve mesmo que entrar na ficção…

Sim, claro, porque a vida de Mengele na América do Sul é totalmente de romance, a sua comitiva é de romance, a sua família é incrivelmente de romance, e consegui recolher muitas informações. Depois há também uma formatação que é ainda romanesca.

Existia já uma quantidade de obras e de estudos “sobre a pista de Mengele”. O que acha que trouxe de novo? A forma de romance permite tapar lacunas ou abrir novas vias?

O meu modelo foi “A Sangue-Frio” de Truman Capote, onde, após ter acumulado enorme quantidade de informações, ele escreveu um objeto literário sublime que ninguém contesta que seja literatura. É um romance verídico ou um romance de não-ficção. Foi o que tentei fazer. Um romancista tem mais liberdade do que um historiador ou um ensaísta. Um historiador necessita de uma carta ou um arquivo que confirme cada uma das suas frases. Eu tenho a minha própria objetividade, depois de ter lido imenso, após ter passado tanto tempo com Mengele, tinha a minha própria opinião sobre o seu perfil psicológico, mas tudo isso suportado por fatos concretos. A partir do momento em que coloquei Mengele no título, tinha uma responsabilidade direta com os leitores. Senão teria que criar uma personagem de ficção completa ou contar uma outra história. Aí está a vantagem do romancista para desenhar o retrato do criminoso em fuga. Durante toda a segunda parte brasileira Mengele já não é de todo um ator da história, ele esconde-se, e isso fornece um cenário fechado que é uma matéria literária formidável.

Você recorre frequentemente ao facto histórico como trama ou objeto dos seus livros. Por quê?

Sou obcecado pelos pós-guerras. No plural: 1914-1945 forma um período completo que é o suicídio da Europa. Há 85 milhões de mortos na Europa nesse período. É alucinante. E creio que ainda hoje vivemos nesse após. Estamos talvez na fase 2 ou na fase 3, mas penso que a Europa não consegue recuperar rapidamente de um tal trauma. Basta ver a quantidade de produção literária, cinematográfica, audiovisual, etc., sobre a guerra e o que se seguiu a ela. Assim, considerando que estamos sempre aí dentro, a fronteira entre a História e o presente é extremamente ténue. E vê-se bem na história de Mengele que ele entra na nossa modernidade. Por exemplo, enquanto ele escuta as suas peças de música clássica no gira-discos no seu terraço – aí está o velho nazi que escuta a sua música clássica –, quando vira as costas e vai embora, os adolescentes vão para lá ouvir Beatles. Eis o encontro com a nossa época. Mengele morreu em 1979, os seus restos mortais são descobertos em 1986, quando estamos já no tempo presente. À escala da História é apenas um grão de areia. Sim, interesso-me pela História, mas não escrevo sobre a Idade Média. Creio que a nossa Europa contemporânea é em larga medida constituída pelo que se passou entre 1914 e 1945.

PÚBLICO - Foto. Wolfgang Gerhard, alegadamente Josef Mengele,
ao centro, entre amigos numa fotografia tirada em data desconhecida
nos anos 70 Bettmann
Um romancista tem mais liberdade do que um historiador ou um ensaísta. Um historiador necessita de uma carta ou um arquivo que confirme cada uma das suas frases. Eu tenho a minha própria objectividade, depois de ter lido imenso, após ter passado tanto tempo com Mengele
Olivier Guez

Por que razão pode Mengele ser uma personagem de romance? O tema é delicado. Não se corre o risco de se dissolver o Mengele histórico naquele do romance, de fornecer contornos da verdade tão frágil e cruel, mais nebulosa, menos tangível, tornando-a ficção no tempo de um livro?

Desde já, não ficciono o Mengele de Auschwitz. Depois, conto a sua vida na América do Sul à minha maneira mas não atraiçoo a verdade histórica. Em terceiro lugar, invento bastante menos do que tudo aquilo que foi escrito sobre Mengele durante muito tempo. Não é por ter a palavra “romance” por baixo que se transforma numa ficção completa. É uma técnica literária [o romance de não-ficção] para contar uma história verdadeira.

Será que os contornos do Mengele de romance são mais fluidos? Não tenho essa ideia, o retrato que faço do homem e da sua cobardia é importante: eu queria mostrar que Mengele era um homem. Detesto quando se apresenta os nazis como marcianos, ou monstros, “o Anjo da Morte”, essas expressões – isso é bastante mais fácil e não é olhar de frente a verdade. E Mengele é um excelente exemplo da mediocridade do mal, que vai ainda mais longe que a banalidade do mal. Era muito importante mostrar quem se escondia por trás dessa personagem do mítico “Anjo da Morte”. Não tenho a impressão de que os seus traços sejam muito mais fluidos, na medida em que respeito a verdade histórica, não faço dele um herói, não há a menor empatia com a personagem, não estou dentro da sua cabeça, ponho-me antes ao lado dele e persigo-o como um detetive para mostrar a sua ruína.

Diz-se que o «Anjo da Morte» exercia, e talvez ainda exerça, um fascínio sobre o público. Será que o escritor e também investigador que você é também se sentiu fascinado por ele? De que forma o mal pode fascinar o escritor? E o público?

Há um mistério Mengele: por que é que ele não foi apanhado e onde é que ele se escondeu durante todos esses anos? O livro responde a isso, existem outros livros, evidentemente, e não tenho a certeza de que muita gente tenha lido as biografias de Mengele publicadas nos anos 80, que são as melhores; digamos então que Mengele se tornou o símbolo da barbárie nazi. Apesar de não ser mais do que um médico entre centenas de médicos, é um simples capitão das SS, não é, por exemplo, um Heydrich [Reinhard Heydrich, conselheiro próximo de Hitler e um dos planificadores do Holocausto]. O que ele fez em Auschwitz enquanto médico é uma traição quádrupla: há as experiências, há a triagem no cais de chegada [dos comboios de prisioneiros], há a falência absoluta das elites alemãs, o horror do que foi feito em nome da Alemanha, e depois há a sua fuga, donde o mito que foi mantido por, entre outros, Simon Wiesenthal [“caçador de nazis”]. Pessoalmente não tenho nenhum fascínio por ele, pelo que não utilizo a expressão “Anjo da Morte” no livro, excepto quando há outras personagens que a usam. Recuso esse fascínio.

Trabalhar longas semanas neste contexto pesado teve influência no seu estado mental, e isso alterou-o? Ou, pelo contrário, você trabalhou com o mesmo distanciamento de um cientista (ia dizer de um médico…)?

Isso pesou no início, quando ataquei verdadeiramente a sua biografia e o médico nazi nos campos de concentração. A partir do momento em que compreendi como iria contar esta história, a sua derrota, e como este homem era tão pequenino, e talvez o facto de nunca ter sentido a menor empatia com ele, isso permitiu-me sentir-me como um marionetista. O nome de Mengele causa um sentimento de pavor, como uma aranha, ou qualquer coisa infecta nesse nome, naquilo que ele evoca. Mas a sua ruína, e a partir do momento em que compreendi quais eram os seus traços, permitiu-me tornar-me este marionetista.

PÚBLICO -Foto. Josef Mengele no Brasil na década de 70, o segundo à esquerda,
entre amigos não identificados e Elsa Gulpian de Oliveira, a empregada com
quem teve um romance Robert Nickelsberg/The LIFE Images Collection/Getty Images
Primeiro: que é evidente que o nazismo não morreu em 1945. Segundo: que sem dinheiro ele não teria ido muito longe. Terceiro: que, no fundo, ninguém verdadeiramente perseguiu os nazis após a guerra (Olivier Guez)
Qual é a sua opinião pessoal, na medida do conhecimento que tem sobre o assunto, sobre o que se descobriu graças a si: a família, o círculo mais íntimo, os amigos, os cúmplices de todo o gênero, a Argentina, etc.? A inacreditável facilidade com que todos aceitaram, anulando toda a empatia e toda a compaixão pelas vítimas de Mengele?

Primeiro: que é evidente que o nazismo não morreu em 1945. Segundo: que sem dinheiro ele não teria ido muito longe. Terceiro: que, no fundo, ninguém verdadeiramente perseguiu os nazis após a guerra.

O que iria fazer sofrer mais Mengele no fim da sua vida – e o cúmulo da ironia para quem trabalhava sobre genética, filiação, raça – é o seu próprio filho. E também o facto de ter tido como últimas companhias mulheres não-arianas (uma húngara e uma brasileira, ainda por cima ambas pouco submissas). E o facto de ter sido privado do seu trabalho. Acha que Mengele recebeu na América do Sul um castigo pelos seus crimes? Que de alguma forma pagou, como numa roda de karma, pelo mal que infligiu?

Estou convencido de que se tivesse sido preso e julgado pelos alemães ele safar-se-ia. Já tinha escapado à incerteza que o roía durante 20 anos. Com os meios da sua família ele teria tido os melhores advogados da Alemanha. Depois, teria adotado a linha de defesa de Eichmann, “uma ordem é uma ordem, e para além disso eu salvei vidas” (com efeito, ele não enviava diretamente toda a gente para as câmaras de gás), e que não passava de um simples capitão. A sua família poderia vê-lo, a sua segunda mulher... Penso que ele se teria safado muito melhor se tivesse sido preso pelos alemães. Ele não teria tido que viver com essa paranoia, essa angústia que o engolia todos os dias.

Já com os israelitas teria sido diferente. Muito diferente. Eles ter-lhe-iam feito pagar caro, muito caro, num processo como o de Eichmann. Teria certamente sido condenado à morte.

Em parte, sim, ele foi castigado. Mengele autodevorou-se. Talvez seja esse o tema do livro. Como Mengele se autodevorou. Corroeu-se, corroeu-se. Sozinho. Porque no final ele era muito pouco procurado. Ele só foi verdadeiramente procurado durante três ou quatro anos. Em 30 anos isso não é nada. Mas nos anos 50 ele persuadiu-se de que por trás de cada palmeira da savana brasileira se escondia um agente da Mossad. E isso constitui uma matéria literária fascinante.

O seja?... Os ataques de paranóia, de demência? Do monstro que se volta contra si próprio?

O espaço fechado. A loucura. É preciso compreender que Mengele não é um aventureiro, é o filho de grande burguês e depois da guerra ambicionava ser professor na universidade. Fui a todo o lado. Descobri uma das fazendas no Brasil, onde ele passou dez anos. A não ser para uma estadia em viagem, você percebe o inferno que isso é para um burguês europeu. É um inferno: a humidade, o calor, os bichos, os mosquitos, as cobras…

Fonte: Público (Portugal)
https://www.publico.pt/2017/12/02/culturaipsilon/entrevista/josef-mengele-devorouse-a-si-proprio-1794028

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Volks denunciada por colaborar com a ditadura militar

A quem quiser ler mais sobre o caso da Volkswagen colaborando com a ditadura (1964-1985) na prática de tortura e perseguição, colocarei o link da matéria da DW sobre o caso abaixo.

Mas pra adiantar algo do vídeo da TVT, que foi colocado no site Viomundo (o resto da matéria está no site em forma de print, não dá pra copiar texto), pois o caso não tem nada a ver com o escândalo com as denúncias que saíram recentemente da Volks nos EUA sobre fraude, e considero este caso muito mais grave que o que saiu sobre os EUA pois envolve até participação de criminoso nazista foragido, abrigado na Volks do Brasil, e que ajudou a montar o aparato de repressão na empresa (o caso Franz Stangl, link2, comandante de Sobibor e Treblinka), e o caso não foi escândalo fora; no vídeo há uma listagem de várias empresas envolvidas com a ditadura e que também deverão ser alvos de reparação, incluindo várias empresas brasileiras conhecidas (assistam o vídeo pra ver a lista, que não é definitiva, estão coletando provas sobre as empresas).

Aqui o vídeo:


Só não citaram no vídeo o caso conhecido do jornal Folha de São Paulo, e o fornecimento de carros pra caça a opositores, que tive dificuldade de localizar numa busca rápida, exceção do site DCM (Diário do Centro do Mundo).

Segue o trecho da matéria do DCM que relata resumidamente a participação ativa do jornal Folha de São Paulo com a ditadura (o mesmo jornal que já tentou relativizar a ditadura chamando-a de "ditabranda"), porque a verdade deve ser ressaltada: quem criou o clima de conspiração, tramoia e deu todo o aval às arbitrariedades do regime de 64 até a abertura e redemocratização do país, e atuam até hoje com uma cultura policialesca, grosseira, autoritária e golpista (bananeira), não foram os militares, mas sim boa parte da elite empresarial do país (principalmente os grandes grupos jornalísticos de SP e Rio) e sua visão antidemocrática de mundo (herança cultural ibérica), e esses grupos jogam toda a culpa do regime pro lado militar pra tirar o "deles" da reta (expressão brasileira).

Este grupo empresarial da mídia (elite) que vem desde 1964, ou antes, adora posar de "refinado", mas de refinados nunca tiveram nada, são a mais pura expressão do atraso cultural e político do país, subserviência a interesses externos em detrimento do desenvolvimento do país e aprofundamento do regime democrático etc, cujo representante maior é a Grande Mídia brasileira.

Por sinal, esta Comissão Nacional da Verdade (link oficial) foi falha com essa questão da mídia. Também foi falha na apuração da presença de nazistas no país e o possível envolvimento com a ditadura, cheguei a alertar e reclamar isso a eles no espaço que é dado pra comentários e sugestões sobre a mesma, mas pelo visto a sugestão (pedido) foi ignorado.

A Comissão também foi falha na apuração de crimes além dos crimes políticos (em sua parte já bastante conhecidos) pois o número oficial de vítimas da ditadura sempre foi baixo porque sempre usaram o número de mortos políticos como "número oficial", mas o número é muito maior. Pelo menos essa foi a impressão que tive.

Saiu matéria sobre a morte de indígenas na ditadura e a coisa sobe pra casa dos mais de 8 mil
Construção de rodovias no governo militar matou cerca de 8 mil índios
Como a Ditadura Militar matou 8 mil índios na Amazônia (Aí constam os links dos documentos da apuração)

O que já coloca a coisa no patamar das outras ditaduras sanguinárias da América do Sul, planejadas na Casa Branca (EUA). Eram regimes fantoches dos Estados Unidos, como era a ditadura antiga do Egito (e pode se considerar a atual) e outras.

Trecho sobre a Folha de São Paulo e a sua cooperação com a ditadura:
O apoio da mídia à ditadura se manteria enquanto os militares foram fortes para beneficiar seus donos.

A campanha da Folha pelas eleições diretas só veio quando a ditadura cambaleava: politicamente, a insatisfação galopava, e a economia era um caos insustentável.

Antes, Octavio Frias se comportara de maneira bem diferente. Cedera carros da Folha para a caça a opositores da ditadura, o que o levou a temer ser justiçado como outro empresário que fez o mesmo, Henning Albert Boilesen, da Ultragás.

Frias mostrou também sua combatividade seletiva quando, depois de uma crônica de Lourenço Diaféria que dizia que o povo mijava na estátua do Duque de Caxias, patrono do Exército, recebeu uma ordem de um general para afastar o diretor de redação Claudio Abramo.

Afastou – não um mês, uma semana, um dia depois. Afastou na hora. Covardemente, ainda mandou retirar seu próprio nome – dele, Frias — da primeira página do jornal como “diretor responsável”.

Pôs o de Boris Casoy, escolhido para substituir Claudio por causa de seus notórios vínculos com a ditadura. Boris foi integrante do Comando de Caça aos Comunistas, o CCC. Não sabia escrever, mas isso era um detalhe.

Depois, quando a ditadura desabava, Frias autorizou valentemente a campanha das Diretas Já, tão enaltecida como nascida da grandeza de Frias ainda hoje por jornalistas de renome como Clóvis Rossi.
Fonte: DCM
Título: A imprensa e o golpe de 64
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-imprensa-e-o-golpe-de-64/

A matéria da Volks na DW (Deutsche Welle, Alemanha):
Volkswagen é denunciada no Brasil por crimes da ditadura
http://www.dw.com/pt/volkswagen-%C3%A9-denunciada-no-brasil-por-crimes-da-ditadura/a-18731370

E um adendo: eu não tenho/tive parentes perseguidos pela ditadura.

Portanto, não adianta a turma do chorume, que vive delirando com coturno (fetiche?) e adora uma vassalagem com as arbitrariedades dos EUA encher meu saco com esse tipo de ataque, devaneios sobre Cuba etc. No fundo, essa turma do fetiche com coturno é quem ridiculariza a imagem das Forças Armadas (não é a esquerda que faz isso), além de criar um ambiente tenso e contaminado com as paranoias de guerra deles, num culto eterno à Guerra Fria (que acabou, a ordem mundial é outra faz tempo).

Eu diria que sou até mais intolerante, duro, com o que houve no passado (e filhotes da ditadura, mídia vendida do país alinhada aos EUA) do que o pessoal que foi perseguido, por uma questão de justiça e democracia.

Já vi gente que diz que foi perseguida tolerar/aturar cultuador de ditadura, comigo esse tipo de postura não aconteceria nunca, acho inclusive algo repulsivo. Não quero criticar ou condenar quem, no calor da época, acabou servindo o regime por não entender o que se passava (não saber o que se sabe hoje), tem militares críticos ao que houve etc, devem ser respeitados e ressaltados por essa postura. Mas quem tem fetiche com isso (um dos períodos mais obscuros do país e que tem reflexos negativos até hoje vide o oligopólio de mídia que há no país imbecilizando o povo), deveria procurar um analista.

Os golpistas civis da UDN derrubaram o governo legítimo João Goulart por safadeza, rapinagem, vassalagem (submissão aos EUA, venderam-se), burrice, uma confraria de canalhas liderada por aquele corvo vendilhão, desprovido de caráter e intelecto (Carlos Lacerda) conspirando contra o país, não são nem nunca foram patriotas esses filhotes da UDN.

Tem sempre algum imbecil que acha que toda pessoa que toma posição no país sobre essas questões tem vínculo com "isso ou aquilo", pois na cabeça doente dessas pessoas ninguém "teria" cabeça (consciência, entendimento) pra pensar por conta própria, projetam suas fraquezas de caráter e de intelecto nos outros. Por isso tenho um profundo desprezo deste tipo de pessoa, porque na melhor das hipóteses quem se porta assim seria no mínimo um idiota.

A apuração do passado podre do país é uma questão de justiça e memória, algo civilizatório, até pra aprimorar a consciência cívica do povo e consciência nacional (democrática), apesar da histeria e riso das hienas da barbárie (a turma liberaloide, boa parte dos ditos liberais do país sempre tramaram contra a democracia, o país e o povo) que ficam enchendo o saco atacando qualquer ação civilizatória no país como aquelas que saem em "micaretas" da extrema-direita, em turba, sem nem saber o que está por trás desses movimentos "apartidários". Quem tem medo de encarar o passado no mínimo tem rabo preso com a sujeira que houve. Se não tem, então não passa de cretinice adquirida, coisa que tem cura pois ninguém nasce cretino (é um comportamento, transitório ou não). Esse negócio de citar ditadura do leste europeu, URSS etc pra trivializar o que é feito (foi feito) no país já passou dos limites faz tempo.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Franz Stangl nas ratlines

O bispo entrou na sala onde eu esperava, deu-me ambas as mãos e disse: "você deve ser Franz Stangl. Estava lhe esperando".

- O que o bispo Hudal fez por você?

– Bem, primeiro me conseguiu em Roma um lugar onde ficar até que chegassem meus documentos. E me deu mais dinheiro; já quase não tinha. Depois, passadas duas semanas, chamou-me e entregou um passaporte novo: um passaporte da Cruz Vermelha.

- Era efetivamente um "Passaporte da Cruz Vermelha"?

- Sim. Era um folheto esbranquiçado e havia uma cruz vermelha na capa. Era o mesmo, já sabe, que os velhos passaportes Nansen - Stangl os havia visto quando estava na polícia, em Linz. Haviam invertido meu nome por erro; estava expedido no nome de Paul F. Stangl. Indiquei ao bispo. Disse: "Há um erro, isto está incorreto. Meu nome é Franz D. Paul Stangl". Mas me palmou no ombro e disse: "Melhor não remover o nome. Não se preocupe". Conseguiu-me um visto de entrada na Síria e um trabalho na fábrica têxtil em Damasco, e me entregou uma passagem para o barco. Assim eu parti para Síria. Passado um tempo, a família se uniu a mim e, três anos depois, em 1951, emigramos para o Brasil...".

Nota: é conhecido como "Linhas de ratos" (Ratlines) as vias de saída dos responsáveis e criminosos nazis nos primeiros meses do pós-guerra através da Europa Ocidental com destino a países como Argentina, EUA ou Canadá. Entre essas vias se encontra a Itália mediante a intermediação da Igreja Católica.

Trecho de: Gitta Sereny, Desde aquella oscuridad. Conversaciones con el verdugo: Franz Stangl, comandante de Treblinka, Edhasa, 2009, pag. 439 a 440)

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
https://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/11/28/desde-aquella-oscuridad-franz-stangl-en-la-ruta-de-las-ratas/
Título original: DESDE AQUELLA OSCURIDAD: FRANZ STANGL EN LA “RUTA DE LAS RATAS”
Livro: Gitta Sereny: Desde aquella oscuridad (título em inglês: Into That Darkness: An Examination of Conscience)
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 31 de março de 2014

A aventura de Josef Mengele na América do Sul (filme)

No terceiro e penúltimo dia da Mostra de Cinema Judaico (29/03), o argentino Wakolda ("O Médico Alemão"), de Lucia Puenzo, é um dos pontos altos. O filme, que passou pela A Certain Regard do Festival de Cannes em 2012, mostra as experiências desenvolvidas por um estranho médico na Patagônia nos anos 60.

O filme remete a um contexto histórico muito familiar aos sul-americanos: o refúgio de nazis foragidos dos aliados após o fim da 2ª Guerra Mundial. Alguns, como Adolf Eichmann, não tiveram sorte e, no caso deste ex-administrador de Auschwitz, foi sequestrado em plena Buenos Aires pela Mossad e executado em Israel. Já o sinistro Mengele deu-se melhor: acusado de experiências abomináveis com seres humanos durante a guerra, acabou por conseguir fugir sempre e terminou seus dias a viver pacificamente no litoral do Brasil, onde viria a morrer afogado em 1979.

A Wakolda do título original é uma menina que tem um problema: é muito mais pequena do que todas as outras pré-adolescentes da sua idade. Após infiltrar-se no seio da família dela, um misterioso médico vai tentando convencê-los a deixar submete-la a um método supostamente científico para ajudá-la a crescer.

A exibição do filme é precedida pela singular curta-metragem da Bielorrússia Shoes, que em poucos minutos, sem diálogos e sem mostrar rostos, filmando apenas os pés e as pernas dos "personagens", recria uma tragédia da 2ª Guerra.

Outro destaque na programação deste sábado é o documentário Os Judeus e o Dinheiro – Investigação de um Mito, que será seguido de um debate. Partindo de um homicídio que chocou a França em 2006, quando foi encontrado o cadáver de um jovem que havia sido sequestrado e torturado brutalmente durante vários dias, o realizador Lewis Cohen vai investigar um dos mais duradouros mitos relacionados com os judeus – a sua riqueza.


Ligando presente e passado, Cohen evita a superficialidade dos telejornais e dá ao crime, aparentemente cometido contra aquele jovem porque pensavam que ele, por ser judeu, "tinha dinheiro" (na verdade era o proprietário de uma pequena loja de telemóveis*), uma dimensão diferente. Para isso mergulha no passado para encontrar a origem deste mito – contando para isso com comentários de Jacques Le Goff, um dos maiores medievalistas de sempre, além de outros historiadores.

Já O Casamenteiro, de Avi Nesher, que teve no ano passado o seu trabalho mais recente exibido em Portugal, The Wonders, foi um grande sucesso em Israel, enquanto o alemão Os Vivos e os Mortos traz uma jovem em peregrinação por vários países em busca da sua identidade – o que a vai levar até a 2ª Guerra Mundial e o holocausto.

Fora do âmbito do cinema, a Judaica terá uma homenagem a Jan Karski, que contará com a presença do embaixador da Polônia. Karski foi um judeu polaco que durante a 2ª Guerra teve como missão de um grupo de resistência aos nazis um périplo por diversos países para alertar seus governos de que o holocausto estava a acontecer na Alemanha.

Fonte: c7nema.net (site)
http://www.c7nema.net/artigos/item/41263-judaica-a-aventura-de-josef-mengele-na-america-do-sul.html

*telemóvel: é como chamam telefone celular em Portugal

Observação: coloquei mais este texto por conta da citação do documentário do Lewis Cohen "Os judeus e o dinheiro" que desconhecia até ler o texto acima. Gosto de documentários que abordam a origem dos preconceitos mostrando como se formam os estereótipos e o que há de "verdades" nos mesmos, o rapaz morto era um vendedor de celular na França e foi sequestrado e morto porque a gangue que o fez achava que ele seria rico por ser judeu, seguindo à risca um estereótipo sem nem se questionarem que o mesmo poderia ser falso.

Esse tipo de documentário também geraria uma discussão de como combater o preconceito, via repressão simplesmente, como muitos defendem ignorando que não se desacredita uma ideia errada simplesmente por caneta, ou se desconstruindo o preconceito mostrando as falácias e erros neste tipo de discurso, que é o que eu acho que funciona de fato embora no país o combate a preconceitos praticamente inexiste como prática do Estado brasileiro, unidades da federação e instituições, principalmente Universidades.

Ver mais:
Resenha Crítica: "Os Judeus e o Dinheiro" (Jews & Money)
Os Judeus e o Dinheiro: Investigação de um Mito

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Morre em Roma o ex-comandante nazista Erich Priebke

Itália/nazismo - Artigo publicado em 11 de Outubro de 2013 - Atualizado em 11 de Outubro de 2013
Morre em Roma o ex-comandante nazista Erich Priebke. RFI

O ex-comandante nazista da SS Erich Priebke
Foto: Reprodução
Morreu hoje em Roma Erich Priebke, um dos últimos criminosos de guerra nazistas ainda vivos. Ex-comandante da SS, a polícia nazista, Priebke havia completado 100 anos no final de julho e vivia em prisão domiciliar.

O comandante nazista Erich Priebke havia sido condenado em 1998 na Itália à prisão perpétua pela sua participação no massacre das Fossas Ardeatinas, ocorrido em março de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. Priebke vivia há anos em prisão domiciliar em Roma, no apartamento de seu advogado.

Segundo a imprensa, Priebke deixou uma entrevista transcrita e um vídeo como "testamento humano e político."

O massacre custou a vida a 335 pessoas. Pelo menos 75 judeus foram mortos pelos policiais da SS com uma bala na nuca, em represália à morte de 33 soldados alemães.

Priebke foi o responsável pelo massacre, mas depois da guerra, conseguiu fugir para a Argentina.

Ele viveu tranquilamente na Patagônia durante 40 anos, até ser desmascarado pela justiça italiana depois da publicação do livro El pintor de la Suiza Argentina, do diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, Esteban Buch.

Nele, Buch denuncia os nazistas exilados que viviam em Bariloche, entre eles, Priebke, acobertado pela ditadura argentina. O ex-criminoso nazista foi extraditado para a Itália em 1995.

Em 1999, em razão de seu estado de saúde, ele obteve o direito de cumprir sua pena em casa, como autoriza a lei italiana.

Em 2004, o grupo o grupo de extrema-direita "Uomo e Libertá" (Homem e Liberdade) chegou a pedir um indulto presidencial para Priebke, gerando diversos protestos e manifestações de associações de defesa dos direitos humanos.

Fonte: RFI
http://www.portugues.rfi.fr/europa/20131011-morre-em-roma-o-ex-comandante-nazista-erich-priebke

sábado, 22 de setembro de 2012

Tribunal alemão arquiva caso do nazi mais procurado do mundo (Aribert Heim)

Aribert Heim é conhecido como o "Doutor Morte" e o "Carniceiro de Mauthausen"

Um tribunal de Baden Baden, na Alemanha, vai arquivar o caso do nazi mais procurado. Aribert Heim, o "Doutor Morte", é acusado de matar 300 judeus num campo de concentração, mas terá mudado de identidade assim que chegou ao Cairo .

O caso do nazi mais procurado vai ser arquivado, segundo noticia o jornal espanhol "El País", que garante a proveniência da informação de fontes próximas à investigação.

Aribert Heim, conhecido como o "Doutor Morte" ou o "Carniceiro de Mauthausen", é um médico nazi acusado de matar 300 judeus num campo de concentração durante a II Guerra Mundial.

A acusação foi feita por um tribunal criado pelos países Aliados especialmente para julgar os crimes relacionados com o Holocausto.

Na altura foi aplicada uma multa de elevado valor a Heim mas, em 50 anos de investigação, nunca foi conhecido o paradeiro do médico.

O filho do "Doutor Morte", Rudiger Heim, afirmou em tribunal que o pai tinha morrido em 1992 num hotel localizado no edifício 414 da rua Port Said, no Cairo, Egipto.

Rudiger disse ainda que esteve junto do pai quando este faleceu aos 78 anos devido a um cancro no cólon e que, a pedido de Heim, entregou o seu corpo para fins científicos.

No entanto, Rudiger confessou que, anos mais tarde quando voltou ao Cairo, verificou que o desejo do pai não tinha sido cumprido e que o corpo não tinha tido o fim pedido. Rudiger garantiu que não sabia em que cemitério o pai poderia estar sepultado.

Ainda assim, o advogado designado para defender Heim apresentou, há uns meses, uns documentos que negam esta versão da história.

Segundo a documentação reunida, Aribert Heim mudou de identidade quando chegou ao Cairo: passou a chamar-se Tarek Farid Hussein e converteu-se ao islamismo.

Para provar esta versão, foi apresentada uma carta de condução com a fotografia de Heim correspondente à sua nova identidade e uma certidão de óbito de Tarek Farid Hussein emitida pelas autoridades egípcias.

Para terminar a investigação, a justiça alemã pediu, há vários anos, às autoridades egípcias que fossem enviados os documentos a comprovar a morte de Aribert Heim, mas tal nunca aconteceu.

Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=2782035

domingo, 4 de dezembro de 2011

Males que nunca acabam

Colóquio internacional relembra os 50 anos do julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann em Jerusalém. Os debates gravitaram em torno da intolerância e violência dos tempos atuais.

Por: Luan Galani
Publicado em 28/11/2011 | Atualizado em 28/11/2011
Tribunal de Jerusalém onde Karl Eichmann foi julgado e sentenciado à forca em 1961.
(foto: Memorial Norte-americano do Holocausto/ Departamento de Imprensa do Governo de Israel)


Há 50 anos o tenente-coronel nazista Karl Adolf Eichmann (1906-1962) era levado ao banco de réus pelo Estado de Israel. Chefe da polícia secreta nazista responsável pela identificação e transporte de pessoas para campos de concentração, Eichmann entrou para a história como executor-chefe dos assassinatos em massa do terceiro Reich. Acusado de 15 crimes e considerado culpado por todos eles, foi sentenciado à forca.

A fim de manter viva a discussão sobre intolerância, o Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Paraná (UFPR) organizou, em meados desse mês, em Curitiba, o colóquio internacional ‘Eichmann em Jerusalém: 50 anos depois’.

“Não podemos relegar ao esquecimento esse momento histórico que marcou a humanidade e que nos impulsiona a refletir sobre as diferenças”, disse a historiadora e organizadora do evento, Marion Brepohl, da UFPR.

Arma de propaganda

Segundo Brepohl, o julgamento serviu aos interesses políticos daquele momento. “Há tempos os israelenses sabiam que Eichmann estava na Argentina, mas só o capturaram naquele ano porque os pagamentos das reparações feitas pelos alemães estavam chegando ao fim”, disse.

O primeiro ministro de Israel, David Ben-Gurion (1886-1973), e o chanceler da República Federal da Alemanha, Konrad Adenauer (1876-1967), acordaram em usar Eichmann como arma de propaganda, transformando o julgamento em espetáculo.

“O julgamento demonizou Eichmann para evitar expor o passado de alguns membros do governo alemão da época que haviam sido cúmplices do nazismo, como Hans Globke, conselheiro de Adenauer”, destacou Brepohl.
David Ben-Gurion (à esq.) e Konrad Adenauer se encontram em Nova Iorque
em março de 1960. Segundo historiadores, o julgamento de Eichmann serviu de instrumento
político para ambos os dirigentes. (foto: Centro de Pesquisas sobre a História Alemã)

Em troca, a Alemanha forneceria equipamento militar a Israel. Foi o que aconteceu em 1962, quando Adenauer aprovou ajuda militar a Israel de 240 milhões de marcos.

Homem comum

Segundo a jurista Vera Karam de Chueri, da UFPR, durante o julgamento Eichmann não se mostrou o mais convicto dos nazistas. Era um homem comum, organizado e ávido por ascensão social. Ressentia-se do fato de ter sido tirado da escola pelo pai devido a seu baixo rendimento e quando foi demitido do emprego em 1932 aceitou ingressar no partido e depois na carreira militar.

Serviu como cabo no campo de concentração de Dachau e teria se destacado pelo espírito metódico e disciplinar. Apesar de responsável pela logística dos campos de concentração, sustentou que jamais matou um judeu.

“A burocracia e a tradição de acatar ordens cegamente o transformaram naquele homem que, com a mesma naturalidade, mandava empilhar corpos de manhã e, à tarde, jogava dominó com os filhos”, enfatizou Karam.

Com o fim da guerra, Eichmann foi preso por tropas norte-americanas. Mas conseguiu fugir e se instalar na Argentina a partir de 1950 sob o codinome Ricardo Clement.

Karl Adolf Eichmann em prisão israelense de Jerusalém durante
o período de seu julgamento. (foto: Tiergartenstrasse 4 Association)

Mais atual que nunca

Engana-se quem pensa que intolerância a diferenças é coisa do passado na Europa. Prova disso são o caso do político holandês Geert Wilders, que comparou o Alcorão ao Mein Kampf, de Adolf Hitler, e o recente relatório do governo alemão que revela a existência de antissemitismo latente em cerca de 20% da população da Alemanha.

E os contornos dessa situação – por si só embaraçosa – ganham traços assustadores com a descoberta pelo serviço de inteligência alemão de que grupos políticos da extrema direita são responsáveis por vários assassinatos de imigrantes durante os últimos 13 anos, principalmente no estado da Saxônia, no sudeste do país.
Haroche: “Direitos humanos, liberdades e até o estado democrático, nada está garantido para sempre. Temos que lutar diariamente por tudo isso, sem tréguas
Diante disso, a socióloga francesa Claudine Haroche, do Centro Nacional de Pesquisa Científica, em Paris, afirmou que nenhuma de nossas conquistas está assegurada. “Direitos humanos, liberdades e até o estado democrático, nada está garantido para sempre”, ressaltou. “Temos que lutar diariamente por tudo isso, sem tréguas.”

“Rememorar o julgamento de Eichmann – e consequentemente outras questões ligadas ao tema – faz parte dessa luta”, disse o sociólogo Sérgio Adorno, da Universidade de São Paulo, corroborando a tese de Haroche.

Segundo Adorno, que traçou um perfil da violência moderna e contemporânea, a tortura não foi erradicada de nossas sociedades, embora seja condenada desde o século 18. Como exemplos ele citou a prisão de Abu Ghraib, no Iraque, e a repressão aos protestos libertários no Bahrein e em outros países árabes, que desrespeitam vários acordos internacionais.

“Não há hoje intelectuais que defendam o emprego de meios violentos para garantir liberdade e justiça social”, disse Adorno. “Por outro lado”, ponderou, “são poucos os intelectuais que denunciam o emprego da tortura contra suspeitos de envolvimento em atos terroristas”.

Para o sociólogo da USP, essa anestesia moral era típica dos burocratas nazistas, como Eichmann. E recomendou: “Vigiemos constantemente nosso comportamento, para evitar que desenvolvamos o Eichmann que temos dentro de nós”.

Luan Galani
Especial para a CH On-line/ PR

Fonte: Ciência Hoje
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/11/males-que-nunca-se-acabam

Ver mais:
West Germany's Efforts to Influence the Eichmann Trial (Spiegel Online, Alemanha)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Livro sobre manipulação genética revolta população da "Terra dos Gêmeos"

Porto Alegre - Um livro lançado em Janeiro cujo autor afirma que o médico nazi Josef Mengele provocou um aumento do nascimento de gémeos em Cândido Godói, no Brasil, está a revoltar a população local.

No livro "O Anjo da Morte na América do Sul", o jornalista argentino Jorge Camarasa afirma que a quantidade de gémeos na cidade gaúcha começou a aumentar após 1963, depois da suposta passagem do médico alemão pela região.

A população de Cândido de Godói, concelho com mais de 90 por cento de descendentes de alemães, situado no Estado do Rio Grande do Sul,junto à fronteira com a Argentina, está revoltada com a hipótese de manipulação genética levantada pelo jornalista.

Josef Mengele ficou conhecido pelas suas experiências médicas aterradoras em prisioneiros dos campos de concentração nazis (no complexo Auschwitz-Birkenau) durante a Segunda Guerra Mundial, inclusive com gémeos.

O município de Cândido Godói ganhou destaque na imprensa nos anos de 1990, quando geneticistas de Porto Alegre comprovaram que a taxa de nascimentos de gémeos na região era muito acima da média do resto do país.

Na época, não houve uma resposta definitiva da Ciência sobre os casos dos nascimentos dos gémeos em Cândido Godói e arredores.

Agora, o concelho, conhecido como "Terra dos Gémeos", volta à ribalta com o livro de Jorge Camarasa, que sugere a existência de experiências genéticas de Mengele na região.

O jornalista argentino visitou o concelho durante a preparação do livro e garante que conversou com pessoas que afirmam ter conhecido Josef Mengele.

O autarca do município gaúcho, Valdi Goldschmidt, alega que esta suposta ligação é "pejorativa", já que a população local é maioritariamente de origem alemã, o que pode denotar um certo preconceito.

Geneticistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) afirmam que, em 1960, a tecnologia disponível não era capaz de fazer inseminação artificial em humanos.

Segundo especialistas do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, a causa provável destes inúmeros nascimentos está na facilidade das famílias locais de terem gestações de sucesso.

Há vários anos que existem rumores sobre as experiências do médico nazi na região entre Brasil, Paraguai e Argentina, mas nunca foi comprovada oficialmente qualquer iniciativa deste género.

O livro de Jorge Camarasa descreve a fuga de Mengele para a Argentina nos anos 1950, as suas ligações com o presidente argentino Juan Perón e a sua estada em alguns países da América do Sul.

Conhecido como o "Anjo da Morte", Mengele também viveu no Paraguai e no Brasil, onde morreu em 1979, no município de Bertioga, litoral paulista.

Fonte: Angola Press
http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/internacional/Livro-sobre-manipulacao-genetica-revolta-populacao-Terra-dos-Gemeos,ad2088fb-77b3-45d5-84e4-59da383bef1d.html

Foto: nazista fugitivo Josef Mengele, o "Anjo da Morte" de Auschwitz

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Suposto corpo do 'Dr. Morte' nazista vai ser identificado, diz polícia

Aribert Heim teria se escondido no Cairo e morrido de câncer em 1992.
Ele é acusado de matar centenas em campo de concentração na Áustria.

Da AFP, em Berlim

O criminoso nazista Aribert Heim em foto de 1959. (Foto: AFP)

As autoridades alemãs afirmaram nesta quinta-feira (5) que vão procurar o corpo do nazista Aribert Heim para poder identificá-lo de forma segura. Elas também reconheceram ter "informações sérias" sobre sua provável morte no Egito, em 1992, confirmando assim as notícias divulgadas na véspera pela imprensa alemã e americana.

"Desde o início da semana dispomos de informações sérias procedentes de pessoas ligadas ao "Dr. Morte" (o apelido de Heim), disse nesta quinta-feira o porta-voz da polícia de Bade-Würtemberg (sudoeste de Alemanha), sede da unidade que investiga o nazismo.

A Justiça da Áustria também apura a morte do nazista, informou um porta-voz da promotoria de Linz (norte da Áustria), Rainer Schopper.

Aribert Heim, acusado de ser o 'Dr. Morte' nazista, um dos criminosos mais procurados do mundo e que estava desaparecido havia 50 anos, morreu em 1992, afirmaram na quarta-feira o 'New York Times' e a rede de televisão alemã ZDF.

Fachada do hotel onde Aribert Heim teria morado no Cairo. (Foto: The New York Times)

Heim teria morrido de câncer em 1992, segundo o filho do ex-nazista e amigos dele no Egito, onde morava sob disfarce. A rede de TV afirmou, inclusive, ter recebido uma cópia do atestado de óbito.

Nascido na Áustria, Heim, que também possuía nacionalidade alemã, é acusado de ser um dos mais sádicos criminosos de guerra nazistas, suspeito de ter assassinado e torturado centenas de detentos do campo de concentração de Mauthausen (norte da Áustria) com injeções de veneno no coração ou retirando as vísceras dos pacientes sem anestesia.

Ele era o segundo criminoso nazista mais procurado do mundo depois de Alois Brunner, principal assistente de Adolf Eischmann e que está atualmente considerado como morto.

De acordo com a ZDF, que conduziu uma investigação conjunta com o "New York Times", Heim vivia com a identidade falsa de Tarek Hussein Farid e tinha até se convertido ao Islã.

Fonte: AFP/G1
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL988331-5602,00-SUPOSTO+CORPO+DO+DR+MORTE+NAZISTA+VAI+SER+IDENTIFICADO+DIZ+POLICIA.html

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Caçada a nazistas fugitivos chega ao fim

"Dr. Morte" é declarado morto e caçada a nazistas termina

A última grande caçada a oficiais nazistas terminou. Segundo informações publicadas nesta quinta pelo jornal britânico The Times, o oficial da SS Aribert Heim, conhecido como "Dr. Morte" morreu no Cairo, Egito, em 1992, depois de ter se convertido ao islamismo. Acreditava-se que Heim pudesse ainda estar vivo, morando na Patagônia, no extremo sul da América do Sul, perto de onde sua filha vive, na cidade chilena de Puerto Montt.

Heim, que teria 94 anos se estivesse vivo, foi médico em campos de concentração e responsável pela morte de centenas de prisioneiros ao injetar veneno ou petróleo nos seus corações. Ele era o número dois da lista dos nazistas "mais procurados". O número um era Alois Brunner, o principal assistente de Adolf Eischmann, o qual também estaria morto, segundo Efraim Zuroff, líder da caçada por nazistas, do Centro Simon Wiesenthal, de Los Angeles.

Segundo a televisão alemã ZDF, Heim, que morreu de câncer, estava sob a identidade falsa de Tarek Farid Hussein. Uma pasta contendo documentos seus (como um passaporte egípcio, um formulário para permissão de residência, recibos bancários, cartas pessoais e documentos médicos) foi encontrada no quarto de hotel onde ele vivia. Um dos papéis informava que a data de nascimento de Tarek era a mesma de Heim, 28 de junho.

Os experimentos científicos de Heim foram comparados aos de Josef Mengele, o "Anjo da Morte" do campo de concentração de Auschwitz, que morreu no Brasil em 1979. O corpo do médico foi enterrado em um hospital pobre do Cairo, onde as covas são reutilizadas várias vezes com o passar dos anos, o que diminui as chances de os restos de Heim serem encontrados.

Fonte: Redação Terra
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI3494912-EI8142,00-Dr+Morte+e+declarado+morto+e+cacada+a+nazistas+termina.html

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