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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Murray Rothbard, Lew Rockwell e o "Racismo científico" (Complemento)

Comentário do post:
Murray Rothbard, Lew Rockwell e o "Racismo científico" (Libertários/Liberais)

Como o comentário do outro post ficou longo, então segue num post à parte (texto abaixo).
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Observação: a quem não está familiarizado com termos como "libertários" (que são na prática liberais radicais, ou a extrema-direita liberal-conservadora, apesar deles negarem tudo que é dito deles como já vi no Orkut, portavam-se como "acima do bem e do mal" e com um pedantismo e petulância insuportáveis), é bom se acostumar.

Muito se tem dito de "revisionistas"/negacionistas em relação ao fenômeno do extremismo de direita no Brasil, que no caso se refere mais a fascistas (grupos tradicionais ultranacionalistas etc), mas esta outra facção com mais poder (poder de fato, pois eles têm espaço aberto em revistas, TV pra propagar essas ideias evitando citar os autores) acaba passando ao largo da discussão quando nos EUA as coisas são mais claras em relação à ligação política entre esses grupos radicais de direita (fascistas e liberais radicais, os ditos "libertários"), em que pese algumas divergências entre eles e os falseamentos como quando esses liberais radicais (e desonestos) tentam empurrar o nazismo (fascismo alemão) como sendo um "movimento de esquerda", algo panfletário e distorção ideológica visando demonização de quem se opõe a eles ou "santificarem-se" como "posição política acima do bem e do mal". A demonização deles atinge à esquerda ou mesmo democratas (centristas) que combatem esses extremistas já que eles generalizam a todos.

A quem ainda não notou a ligação entre os fenômenos do extremismo, o que ocorre no Brasil (e isto será mais detalhado num post parte 2 sobre a extrema-direita brasileira) é que esses grupos, mais ideologicamente organizados ultraliberais (se organizam como Think Tanks) formulam/traduzem a agenda/repertório ideológico desse liberalismo radical e discurso radical antiesquerda no Brasil (que ocasionaram marchas pedindo volta da ditadura como esta do link), repertório/agenda que depois é metralhada/passada adiante pelos meios de comunicação (revistas como a Veja, jornalões conhecidos, TVs como a Globo e a Bandeirantes) pro grande público e defendidos com fervor por reacionários que não se assumem como tal pela internet, com defesas de Estado mínimo, com teorias da conspiração de todo tipo e chamando quem se opõe a eles de "bolivarianos" e outras mitomanias que 'venham a calhar'. Muitos que pregam isso só são papagaios sem compreensão do fenômeno, mas a petulância entre eles é característica.

Por que me oponho a esses grupos? E porque todas as pessoas que se identificam como democratas (centristas, nacionalistas democratas e afins) deveriam se posicionar contra eles?

Pelo simples fato de que eles projetam pro Brasil um projeto neocolonialista (econômico, cultural e ideológico) através de um liberalismo radical (neoliberalismo) que colocou o país de joelhos no desgoverno FHC (1994-2002), sucateando o Brasil e toda a América Latina e outras partes do mundo, incompatível com o Bem-estar dos países pois só produz desestruturação e desigualdade social aguda podendo provocar crises políticas profundas e a própria ruptura da democracia. Em 2002 a crise no Brasil foi tão profunda que aniquilou o poder desses grupos com a mídia e possibilitou finalmente a vitória da coligação PT/PL (Lula e José Alencar) resgatando o país da destruição que esses liberais causaram ao Brasil.

Foi graças a este tipo de ideologia liberal radical e a degradação social que o liberalismo radical provoca através do aumento da desigualdade e arrocho econômico, que o nazismo triunfou na Alemanha em 1933 como "solução nacionalista" à degradação social econômica provocada pelos liberais. Ao contrário do que muita gente pensa, o maior cabo eleitoral do nazismo na Alemanha foram as políticas liberais dos capitalistas e a crise social que isto gerou abrindo espaço pra partidos aventureiros como o de Hitler.

Até hoje o país ainda enfrenta problemas provocados nos 8 anos de FHC porque há uma direita udenista liberal forte que apoia a manutenção da desigualdade extrema no país, social, regional e é contra quase todo projeto de cunho social e nacional dos governos ou mesmo que a população proponha/defenda isso. De forma democrática. Esses grupos liberais, que são representados pela mídia oligopolizada, atacam qualquer projeto nacional democrático, popular e de soberania do Brasil.

Esses grupos liberais procuram demonizar a política e partidos com um discurso moralista e de "superioridade moral", "salvacionista", principalmente demonizando os grupos de esquerda (democráticos) ou de centro-esquerda que foram e são importantes pra consolidação da democracia no país.

Não se iludam com o discurso de "liberdade" desse pessoal, isso é falso, a única liberdade desse extremismo liberalóide é a defesa das corporações estrangeiras (e algumas nacionais como a mídia) e grande capital, posando de "salvadores". Esses "libertários" do Brasil são os antigos udenistas, Lacerdistas, que jogaram o país em 1964 numa ditadura de 21 anos, a mesma ditadura que entregou o país com inflação recorde, dívida externa recorde por endividamento, desemprego etc e toda a estrutura social do país comprometida como a saúde e educação públicas destruídas que conta com forte oposição de grupos privados pra haver uma universalização pública desses serviços com qualidade.

Esses grupos que matracam seu arsenal através da mídia partidarizada do país (a do oligopólio) apostam na despolitização do país e na demonização dos partidos como se viu na recente eleição do país com uma radicalização imbecilizada protagonizada pela direita do país e pelos despolitizados raivosos guiados pela mídia oligopolizada (que não são poucos), aproveitando-se do fator irracional desencadeado pela morte de Eduardo Campos durante a eleição e a ascensão da figura obscura e rancorosa chamada Marina Silva, a candidata das ONGs estrangeiras no Brasil, do Itaú e de George Soros, testa de ferro do governo dos EUA. Você verá alguns desses liberais radicais atacarem esses mesmos grupos ligados à Marina Silva, por repetirem o discurso radical Republicano sobre ONGs e verdes propagado nos EUA, mas são tudo farinha do mesmo saco, um de cariz norte-americano e outro europeu (Greenpeace, WWF), ou no caso os verdes também são próximos dos Democratas dos EUA como o Al Gore e o lobbysmo da internacionalização dos recursos do Brasil, outro nome pra "saque" (roubo).

Não me alongarei mais aqui pois tem muita coisa a ser dita desses bandos e as ideias estéreis que pregam no país, e este comentário extra pode vir a ser colocado num post pra não desviar a atenção do texto traduzido, mas o assunto mencionado fica pra outro post, mas quem quiser ler todos os textos sobre a extrema-direita liberal basta clicar (provisoriamente, vou arrumar um nome definitivo pra essa série) na tag liberalismo que aparecerão todos os textos sobre eles.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Tão liberal e tão amigo de Salazar (Complemento)

Vou colocar em um post à parte, como comentei, o comentário/observação de alguns posts se ficarem muito longos, pois acabam dispersando a atenção do post original.

Este post reproduz o comentário feito ao texto do post:
Tão liberal e tão amigo de Salazar. O lado obscuro e "oculto" da relação entre Fascismo e Liberalismo

Que trata da ligação "curiosa" (ou nem tanto assim) de liberais e fascistas (ou nacionalistas de direita), que costuma ser omitido com frequência na mídia. No caso, o post original tratava do contato de Salazar (ditador de Portugal) com o liberal, idolatrado por essa extrema-direita liberal do Brasil e nos EUA, Hayek.

Fiz uns comentários sobre darwinismo social, da mutação do liberalismo pro fascismo (na Itália) e coisas afins que comentei que serão colocadas em outros posts quando e se for possível traduzir.

Existe um texto de um professor israelense que trata desse assunto e não tem tradução por português, como também existem livros sobre o liberalismo e fascismo na Itália (do programa liberal dos fascistas) como das privatizações no nazismo, já que existe uma mitificação de que esses regimes de extrema-direita 'totalitários' eram a favor da estatização quando não é propriamente verdade, vide o caso alemão no nazismo onde a maior parte das empresas/indústrias eram todas privadas.

Frequentemente há essa associação feita por má fé ou ignorância de que a economia nesses países de maior destaque onde o fascismo reinou era "estatal" e não era bem assim. Muito disso por conta do termo "liberal" que remete à palavra "liberdade", só que liberal quando é usado no sentido político é mais restrito à economia, apesar de existir o "liberalismo político" mais destacado no século XX, como haviam regimes liberais autoritários com restrições a liberdades e economia capitalista liberal.

Essa mitificação de que o nazifascismo era "estatal" cria justamente um prejuízo ao entendimento de como esses regimes se formaram ou ascenderam.

Segue abaixo a reprodução do comentário.
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Atualização e revisão: 04.09.2014

Sobre o texto: alguns ou muitos poderão chiar com o texto (já que por conta da quase ausência de feedback/retorno nos comentários eu não sei o perfil exato/médio da maioria que lê o blog, exceto quando trazem briga com "revis" em outros sites/fóruns tentando envolver o pessoal do blog nisto, algo que já disse que dispenso, além de não gostar do que leio nessas brigas), porque a parcela majoritária da direita brasileira (que é neoliberal) se identifica com nomes citados como o Hayek acima, Mises e outros. Mas não se deve ocultar fatos só porque esse pessoal que não gosta, e é truculento discutindo, simplesmente quer que se oculte ou omita, isso quando eles sabem.

Encontra-se fácil textos em português dessas figuras citadas acima espalhados na web em sites brasileiros de grupos ligados a figuras que foram parte do governo do PSDB na década de 90 (governo FHC), como Armínio Fraga, governo este que quebrou o estado brasileiro e o sucateou com esse ideário econômico e político (neoliberalismo) que até hoje tem sequelas no país, apesar do pessoal "cabeça de vento" de agora achar que o país está no caos por não ter interesse em saber como era o país décadas atrás.

Esses mesmos sites nunca comentam as ligações dos liberais ou liberalismo com o racismo nazista e grupos radicais de direita dos EUA e Europa. Fazem de conta que não possuem nada em comum com os fascistas e nazistas, mas defendem o "pai do nazismo" (entre tantos pais este é o principal) através do liberalismo que é o darwinismo social. Darwinismo social é uma ideologia/teoria que apareceu no século XIX e que persiste até hoje.

A quem não está familiarizado com o termo, e já que o verbete em português da Wikipedia está incompleto e cheio de falhas, segue abaixo uma tradução rápida minha do começo do verbete em inglês:
O darwinismo social é um nome moderno dado a várias teorias da sociedade que surgiram nos Estados Unidos e na Europa na década de 1870, e que procurou aplicar os conceitos biológicos da seleção natural e sobrevivência do mais apto para a sociologia e política. Darwinistas sociais defendem geralmente que o mais forte deve ter sua riqueza e poder aumentados enquanto o mais fraco deve ter menos riqueza e menos poder. Diferentes darwinistas sociais têm opiniões diferentes sobre quais grupos de pessoas são os fortes e os fracos, e eles também têm diferentes opiniões sobre o mecanismo exato que deve ser usado para promover a força e punir a fraqueza. Muitas dessas visões salientam a competição entre os indivíduos no laissez-faire capitalista, enquanto outros motivam ideias de eugenia, racismo, imperialismo, fascismo, nazismo e luta entre grupos nacionais ou raciais.
Social Darwinism

Eu coloquei os links nos nomes de termos políticos brasileiros no texto (partidos políticos), pra quem for de fora entender o significado deles, já que isso só costuma ter significado pra brasileiros, ou pra quem estuda o Brasil fora ou quem tem interesse pelo país.

E um adendo político pois não tenho paciência pra discutir com tucanos. Quem desconhece, eu sinceramente não morro de amores por tucanos (quem é de fora do Brasil, tucano é o bicho adotado como mascote pelo PSDB e é como são formalmente chamados e conhecidos os membros e apoiadores deste partido), pra não dizer de imediato que detesto tucanos e o PSDB. Não é algo retórico, eu detesto mesmo, até mais que os "revisionistas".

Sempre procurei evitar trazer discussões políticas deste tipo pra cá, mas como vieram trazer estes assuntos sem perguntar ao pessoal aqui o que acha disso, é melhor deixar a coisa aberta. Portanto, a quem quiser vir aqui doutrinar com baboseira tucana e não discutir assuntos sobre segunda guerra, favor evitar ou pensar duas vezes, eu posso não gostar, e sim, eu irei rebater. Sou tolerante, só que, quando eu fico intolerante (quando as pessoas passam dos limites), não costumo ser amistoso. E pra coisa chegar a este ponto é porque as pessoas extrapolaram pra valer, por não respeitarem a opinião dos outros. E não me refiro a "revisionistas".

Numa democracia, é normal a convivência entre correntes políticas diferentes, no Brasil isso também era comum, até a mídia começar um radicalismo paranoide. O nível de radicalismo e agressividade reproduzidos pela grande mídia brasileira desde 2002 (eu citei o assunto no texto da Copa do Mundo), satanizando partidos e quem pensa diferente deles, levou-nos a uma situação de polarização e radicalização pesada, por isso que fiz estas considerações sobre o cenário brasileiro, que numa situação normal não seria necessária.

Acho curioso que muita gente que critica os "revis" não tenha se dado conta do que é que tem impulsionado esses grupos no Brasil: são justamente essas publicações radicais de direita, liberais ou não, e a postura da mídia que têm incentivado esta escalada do ódio no país, como uma certa revista bem conhecida de uma editora de São Paulo. Por isso chega a ser curioso quando a mídia faz alarde de "grupos neonazistas" no país (na verdade a maioria disso são imitações ridículas de gangues neonazi europeias) e nunca tocam em certos grupos radicais que ficam em alguns estados do país ou mesmo fazem uma crítica a estes grupos ultraliberais radicais que ressuscitam discurso de ódio anticomunista da Guerra Fria, que é um dos pilares dessas gangues. "Chavismo, bolivarianismo", são os novos nomes pra termos velhos, pra requentar o ódio paranoide do passado pra justificar radicalismo contra inimigos fantasmas no país e distorcer a realidade pra fins políticos com a massa de manobra que assiste bovinamente a TV aberta e sites de notícia.

E com todo respeito ao Lula, eu não sou adepto dessa postura "paz e amor" que ele vem adotando há tempo diante dessa escalada de ódio político, eu prefiro mais esta postura aqui do Requião (link do vídeo), político paranaense ou a deste gaúcho aqui. Educação é uma coisa, aturar desacato e besteira de imbecis e gente cínica se achando "esperta" é outra coisa completamente diferente, e eu não aturo.

O "jeitinho português" conciliador (que o Brasil em grande parte herdou) comigo não funciona. Pelo contrário, se você vier com este tipo de conduta pra mim a única coisa que você conseguirá é que eu te deteste/odeie profundamente. Talvez seja por isso que eu entre tão facilmente em atrito com as pessoas que são adeptas desse "jeitinho luso-brasileiro", e não são poucas. E não estou nem um pouco comovido a mudar de postura sobre este tipo de conduta.

Não se deve ser tolerante com intolerantes sob risco dos intolerantes destruírem tudo (a democracia, a soberania econômica do país, por exemplo) e levar todo mundo pro buraco.

Na América Latina* a direita, principalmente e historicamente, é aversa à democracia, por sua origem ibérica e católica (estas elites e parte da classe média são chegadas a um governo autoritário), além de sua falta de patriotismo (de grande parte dela) e estupidez histórica também, não conseguem ver o Brasil como nação. Apesar de que na Argentina existia/existe uma direita nacionalista (peronista). A maioria das democracias que surgiram na região (este é o período mais longo democrático no país) foram fruto da maturidade das sociedades civis desses países combatendo ditaduras, e isto está sendo minado e corroído pela mídia, historicamente oligárquica e alinhada com os Estados Unidos, na América Latina. Os EUA sempre tiveram um papel preponderante de desestabilização política e econômica da região, e não mudaram de postura, principalmente em governos Democratas.

*Isto é um assunto pra outro post, mas América Latina é outra expressão problemática como o "Nordeste" (região), é uma generalização e ideia que só existe como retórica, não na realidade (não existe América "Latina" unida alguma como propagam, tampouco culturalmente homogênea).

Voltando à discussão, eu evitava entrar nestes assuntos aqui porque o blog era pra ser só sobre segunda guerra, embora o assunto em questão acima (liberalismo e darwinismo social) tem a ver e muito com a própria segunda guerra já que foi o liberalismo radical que levou o mundo ao caos na grande depressão e crise na Alemanha (e mesmo antes disso o mundo vivia em miséria e concentração de renda de ricos na parte mais industrializada que era a Europa e depois os EUA) e influenciou ideologicamente todos os grupos racistas do século XIX, XX e atualidade, ao contrário do que liberais atualmente pregam, omitindo ou negando que liberalismo antigamente convivia muito bem com e em estados autoritários.Além de estar levando o mundo de novo a uma crise histórica que pode culminar em guerras.

Eu evitava trazer o assunto porque não queria e não quero me desgastar com gente que geralmente é intelectualmente desonesta ou ignorante nesses assuntos, mas que são petulantes o suficiente pra vir te desacatar xingando, pior que "revis". É o tipo de discussão que você não ganha nada além de aborrecimento já que não está discutindo com quem quer aprender algo e sim com gente que quer doutrinar repetindo bobagens, subestimando o conhecimento de cada um. Mas já que quiseram cutucar a onça com vara curta, agora vão ter que aguentar.

Eu não costumo pegar "muito leve" quando sou provocado, até porque, considero bastante ofensivo esse tipo de panfletagem cínica, como se ninguém soubesse aqui que 99% do que é propagado nestes sites e na grande mídia do país sobre "liberalismo", ou é distorção ou conteúdo raso, fruto do sectarismo e fanatismo político que se alojou na direita brasileira (se é que alguma vez esta direita quis de fato democracia e soberania, já que não são muito afeitos à democracia, ou toca nas sequelas do neoliberalismo no Brasil e no mundo). A maioria dos que se proclamam "liberais" do Brasil na verdade não são liberais e democratas, no sentido moderno do termo, são em sua maioria proto-fascistas e gente autoritária com uma psicose e ignorância fora do comum, apesar de se declararem "democratas". Já passou da hora de mistificar fatos como esse (da conduta autoritária da direita) e dizer abertamente o que se passa no país.

Este texto pode abrir uma série de posts pra mostrar como o liberalismo e o fascismo (nazismo) estão mais ligados historicamente do que o que os liberais negam e que muita gente acha que não tem ligação por conta do discurso "anticapitalista" do fascismo e do nazismo e ocultamento por parte dos liberais e imprensa.

É comum as pessoas citarem a comparação Stalinismo x Alemanha nazi e omitir a questão do liberalismo com o nazifascismo. O liberalismo antigo e radical é muito mais ligado ao nazifascismo que aquela comparação clássica que fazem entre União Soviética e Alemanha nazi, mas muita gente nega estes detalhes, ou por desconhecimento ou por panfletagem política, como já ocorreu aqui em que uma pessoa veio fazer pregação liberal num post sobre a crise na Ucrânia e ao invés de comentar o texto começou a fazer pregação de "liberalismo" com um monte de citações confusas e sem lastro. Fui rebater e apontar os erros e tomei como resposta o termo "burro", por falta de educação do interlocutor e também porque não tinham mais o que dizer. Não me senti ofendido, mas acho um desaforo ler uma porcaria dessas.

Como disse lá no começo, o darwinismo social (cliquem no link pra ler a definição, mas aviso novamente que o verbete em português é falho e incompleto) é o pai ideológico de fato da "biologia" nazista, que é o pilar central da doutrina nazi junto do ultranacionalismo, um racismo eugênico levado às últimas consequências. É esta obsessão no racismo que distingue facilmente o fascismo alemão (nazismo) dos demais fascismos, embora os outros fascismos também fossem chegados numa "teoria racial".

Pra adiantar, o darwinismo social surge e cresce com o liberalismo inglês com destaque pro teórico Herbert Spencer, sendo que o liberalismo inglês era atrelado ao nacionalismo com o partido Whigs. Pra mostrar que estes sites ultraliberais distorcem tudo no país, vejam a propaganda que lançam negando que o Spencer era o pai do Darwinismo Social e quase "canonizando" a figura.

Não vejo muitas diferenças entre darwinismo social/racismo do liberalismo pro que foi aplicado no fascismo principalmente, a diferença consiste em que aplicam a coisa noutro formato e matam ou destroem de forma mais lenta (de fome, miséria), destruindo o Estado e suas instituições sucateando por crise econômica, de forma "legal" sob a vista grossa dos agentes que defendem e propagam este tipo de doutrina que abunda na imprensa brasileira, embora a mesma costuma evitar de se rotular de (neo) liberal, mesmo sendo.

O fascismo e o nazismo são frutos diretos do colapso econômico na Europa e demais países do mundo com o liberalismo radical propagado e pregado por esses grupos ultraliberais. Se você que está lendo este texto (longo) quer atacar "revisionistas" defendendo este ideário, é como apagar incêndio com gasolina. Uma coisa está atrelada a outra, não adianta criar um mundo "paralelo" pra se esconer e isolar isto porque simpatiza com este tipo de liberalismo radical.

O fascismo italiano veio de liberais, ou foi apoiado por eles, sem problema de "consciência" algum, por isso acho engraçado quando alguém que se diz de direita "liberal" no Brasil falar que nazismo é de esquerda sem nem saber os conceitos e históricos dessas doutrinas, e ficarem irritados quando a gente mostra historiadores de direita da Europa dizerem que nazismo e fascismo são de direita, de que há direita na Europa que defende intervenção estatal ou Estado forte, porque pra esses historiadores europeus não é um problema assumir isso por serem intelectualmente honestos e democratas de fato, uma vez que há direita democrática na Europa ou direitistas/liberais democráticos por lá e liberais sérios nos EUA.

Fico admirado que ninguém no Brasil (pois nunca li texto fazendo essa conexão no país, se houver e alguém souber, eu agradeço a quem achar e passar) tenha tido a curiosidade de observar estas questões e ligações ideológica, principalmente o pessoal de esquerda que quase todas as vezes ficam à deriva sem saber responder/rebater afirmações como "nazismo de esquerda". E não adianta vir algum dizer que sabem porque já vi vários ficarem girando em círculos sem saber rebater a afirmação.

Eu não quero ser chato, e isso é uma generalização (pois há muita coisa boa em pesquisa de História sobre integralismo sendo feita no país), mas... quando o assunto é nazismo, francamente, o que eu leio no país é de dar desgosto, principalmente quando saem em revistas e com sensacionalismo barato, basta o povo ver uma suástica na capa de algo assim que já fica "delirando" em cima do assunto porque só formam opinião sobre isto através de filmes, muitos deles de ficção como "Bastardos Inglórios".

Pelo fato da gente ler muita coisa de fora, fatalmente compara o nível do que lê com o que a gente lê sobre o assunto no país, e a diferença de nível é considerável. É triste dizer isso. Vendo mais a fundo esses assuntos, a gente nota o quanto rola de clichê em textos sobre nazismo no Brasil. Há uma recorrência quase frequente e insuportável à Hannah Arendt, como se ela fosse a maior referência em nazismo quando nunca foi, e o termo totalitarismo que ela usa é problemático (é mais rótulo).

No Brasil, graças a pocilga que virou o Orkut (que está pra acabar em 30 de setembro, ainda bem), que foi o berço/laboratório de tudo quanto é porcaria de extremismo de direita no país (que agora se propaga no Facebook, só que em menor escala ou mais dispersa), propagou-se todo tipo de porcaria intelectual possível na rede e essas ideias difusas e distorções já se espalharam pelas ruas com um público com senso crítico pra lá de questionável.

A gente ficava assustado com a quantidade de brasileiros bitolados, fanáticos, que não gostam de ler nada ou não têm critério ao ler (procuram só reforçar suas crenças e preconceitos e não aprender de fato, lendo besteira), repetindo essas asneiras radicais de jornais, revistas e sites neoliberais radicais (ou conservadores) como verdades absolutas. E o pior, quando eram/são rebatidos, ao invés de agradecer a correção, os caras ficam irados por conta do grau de fanatismo, alienação e recalque, e falta de compromisso com a verdade.

A negação de que o nazismo seja de direita é uma panfletagem  comumente usada pela direita radical liberal dos Estados Unidos.E a mesma direita liberal radical dos EUA anda próxima a grupos racistas como a Klan e ideias de darwinismo social. Todo fanático mente pra parecer "bonzinho".

A questão do darwinismo social, liberalismo e fascismo serão tratados posteriormente (espero postar, mas não prometo, pois como disse acima, o feedback/retorno deste blog é muito baixo e não gosto da postura de alguns comentários que leio). O assunto em questão a ser tratado são: a outra extrema-direita norte-americana, a origem do darwinismo social com o liberalismo, a incorporação disso ao nazifascismo, a Nova Direita, a direita radical neoliberal e suas ligações com grupos de extrema-direita racistas, negacionistas e darwinismo social.

Fica prum próximo post mais detalhes, mas tem muito material separado com coisa que nem em sonho sairá no país na chamada imprensa ou mídia brasileira. Vai que leem aqui e resolvem passar a investigar o assunto, embora duvido que deem créditos que leram aqui. Também espero que alguém que se interesse por esses assuntos e tenha lido isso aqui primeiro, tenha a hombridade/dignidade de citar o blog em algum texto mais aprofundado ou mais detalhado que venham a fazer, pois é o mínimo que se espera. Nós sempre citamos a origem/fonte dos textos publicados no blog porque eles têm autores que merecem todo o crédito de serem citados.

Pra finalizar este complemento (infelizmente longo, não sei se muita gente lerá) ao texto do jornal português que aborda esta questão do liberalismo não ver problemas em se aproximar de regimes ditatoriais, apesar de negar que o faça, a diferença de tratamento em cada país com blogs chama atenção. Nos EUA já citaram o blog do pessoal do Holocaust Controversies (do Roberto Muehlenkamp, J. Harrison e demais) em sites de universidades, em sites com o The Holocaust History Project, e citaram porque os caras realmente publicam coisas excepcionais, e também porque o povo não têm preconceito com blogs. No Brasil até no verbete da Wikipedia já apagaram coisas que coloquei link do blog em virtude da tradução estar aqui. Quem perde com isto? Quem lê um verbete ruim em português, obviamente. A cabeça estreita/fechada do povo no Brasil com isso realmente me espanta (estou generalizando, não é todo mundo obviamente que pensa desta forma, mas muita gente pensa assim a ponto de chamar atenção).

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Murray Rothbard, Lew Rockwell e o "Racismo científico" (Libertários/Liberais)

Em sua crítica de 'The Bell Curve' de Herrnstein e Murray, Murray Rothbard elogiou o livro por "expressar em detalhes maciços e de forma acadêmica o que todo mundo sempre soube mas não se atreve a dizer, sobre raça, inteligência e hereditariedade". Rothbard chegou à seguinte conclusão:
ENTÃO: POR QUE FALAR AINDA SOBRE RAÇA?

Se, então, a questão da raça é realmente um problema para estatísticos e não para Paleos (Paleoconservadores), por que ainda deveríamos falar sobre a relevância disso (raça)? Por que a questão da raça é uma preocupação política para nós; por que não deixar a questão inteiramente para os cientistas?

Duas razões já mencionadas; para comemorar a vitória da liberdade de pesquisa e da verdade por si; e também pela bala no coração do projeto igualitário-socialista. Mas há uma terceira razão também: de que é uma poderosa defesa dos resultados do mercado livre. Se e quando nós, como populistas e libertários, abolirmos o Estado de bem-estar em todos os seus aspectos, e os direitos de propriedade e do livre mercado forem triunfantes uma vez mais, muitas pessoas e grupos previsivelmente não gostarão do resultado final.

Neste caso, os grupos étnicos e outros grupos que possam estar concentrados na baixa renda ou nas ocupações de menor prestígio, guiados por seus mentores socialistas, previsivelmente levantarão o grito de que o capitalismo de livre mercado é mau e "discriminatório" e que, portanto, o coletivismo é necessário para restabelecer o equilíbrio. Neste caso, o argumento de inteligência se tornará útil para defender a economia de mercado e a livre sociedade de ataques ignorantes ou de autopreservação. Em resumo; a ciência racialista não é propriamente um ato de agressão ou uma cobertura para a opressão de um grupo sobre outro, mas, ao contrário, uma operação na defesa da propriedade privada contra assaltos de agressores.
Rothbard estava orgulhoso de ser um "racista" ("racialista") porque o racialismo expôs a "verdadeira" fonte de desigualdade em um mercado livre, ou seja, a genética. A crença na desigualdade racial biológica era, para Rothbard, parte do projeto libertário, porque a desigualdade racial era simplesmente como os mercados refletiam a natureza. Além disso, esta não era uma súbita conversão: Rothbard promoveu o mesmo ponto de vista já em 1973, aqui.

O artigo de Rothbard foi publicado no Relatório Rothbard Rockwell. Seu parceiro nesse jornal, Lew Rockwell, é o fundador e presidente do Instituto Ludwig von Mises. Rothbard e Rockwell se envolveram em 1988 na campanha eleitoral presidencial de Ron Paul. No início de 2008, este artigo revelou que "uma meia dúzia de ativistas libertários de longa data, incluindo alguns ainda próximos a R. Paul" tinham identificado Rockwell como o "chefe e escritor fantasma" das newwletters (boletins informativos) de Ron Paul publicadas a partir de "próximo de 1989 até 1994." Alguns desses artigos tinham um tema racista e podem ser vistos aqui.

Rothbard defendeu apoio ao ex-membro da Klan, David Duke:
É fascinante que não havia nada no atual programa de Duke ou na campanha que não poderia também ser abraçado por neoconservadores ou paleolibertários; impostos mais baixos, o desmantelamento da burocracia, o corte do sistema de bem-estar, atacar a ação afirmativa e as reservas raciais de terra, pedir direitos iguais a todos os norte-americanos, incluindo os brancos: o que há de errado com isso? E, claro, a coalizão poderosa anti-Duke não escolheu se opor a Duke em qualquer uma dessas questões.
Isto levou um desafeto libertário a escrever:
A ideia de que não há problema em ser [amigo] de racistas explícitos só porque eles são a favor de um governo limitado é ridículo. É esta a ideia de que com sua ajuda haverá um pequeno governo racista?
Um racista usando o pseudônimo de Peter Bradley postou uma homenagem a Rothbard, reproduzida aqui:
Murray Rothbard foi o fundador do moderno libertarianismo e também foi um defensor da separação racial voluntária. Eu nunca conheci Rothbard, mas conheci Sam Francis e vários outros que me disseram que ele estava como parte da onda da Renascença Americana sobre as questões raciais. Michael Levin foi um colaborador frequente da RRR por quatro anos e eu subscrevo isso. Ele escreveu muito honestamente sobre coisas como crime negro, raça e QI, e a cal sobre o fracasso negro. Hans Hoppe, que é favorável à imigração, escreveu que os EUA poderiam manter a sua identidade racial e ainda ter imigração, selecionando os imigrantes com base no QI e na raça. O livro de ensaios de Jared Taylor, The Real American Dilemma (O real dilema norte-americano), recebeu uma crítica favorável de Paul Gottfried na edição da RRR de 1998. A sinceridade da RRR sobre raça foi criticada por David Frum, em 1994, seu livro "Dead Right" (Direita Morta). Frum foi particularmente desfavorável a um ensaio que não faz jus sobre o caráter moral de Martin Luther King.
Em 1993, Rothbard escreveu sobre Malcolm X e discutiu a possibilidade de um Estado separado para negros, mas concluiu que isto "exigiria" uma enorme ajuda externa "dos EUA". Ele também descreveu o nacionalismo negro como "um nacionalismo falso" que estava "começando a se parecer com uma unidade de uma forma agravada de parasitismo coagido sobre a população branca." A impressão geral criada pelo artigo era que Rothbard estava usando o nacionalismo negro como um espantalho com o qual se queixava do "parasitismo" negro e da suposta incapacidade dos negros em formar comunidades independentes, auto-suficientes sem o apoio do Bem-estar dos brancos.

Rothbard afirmou que "não há dúvida de que o nacionalismo negro é muito mais libertário do que a integração obrigatória empurrado pelo rei, a NAACP, e os liberais brancos." Isso diz mais sobre Rothbard do que o que ele diz sobre o nacionalismo negro. Um estado separatista, com a migração restrito aos "EUA", não parece ser algo livre, nem o nacionalismo negro em sua forma muçulmana ofereceriam às mulheres a gama de liberdades que Rothbard tomaram como certa no caso de homens brancos.

Rothbard também defendeu que durante este período os "policiais devem ser liberados, com permissão para aplicar punição imediata, sem prejuízo de responsabilidade quando eles cometessem um erro." A implicação clara disso era de que os policiais seriam brancos e os destinatários negros. Estes últimos não teriam, assim, o direito, de acordo com Rothbard, ao devido processo legal sob a lei. A ironia que um libertário deveria acreditar que funcionários públicos deveriam ter tais poderes draconianos foi perdida em Rothbard. Como Matt Welch observou, "Delegar à polícia para fazer justiça na rua sobre a juventude de pele escura não combina com qualquer noção de governo limitado que eu esteja familiarizado."

Além disso, a origem judaica de Rothbard não o impediu de tomar posições dúbias relacionadas a questões judaicas. Ele fixou aqui os papéis de 'judias' e de 'financistas de ponta judeus' na ascensão do Estado de Bem-estar social, sem explicar porque a sua origem "étnica" [termo seu] deveria ser relevante. Sua referência a um "bando" de 1860 dessas mulheres não estabelecia uma explicação para a existência desse grupo. Ele parecia estar convidando os leitores a tirar suas próprias conclusões.

As posições públicas de Rothbard sobre o antissemitismo constitui uma estratégia de minimização. Ele insistiu aqui em uma definição estreita de antissemitismo e que Pat Buchanan não poderia ser um antissemita, embora Rothbard tenha citado este artigo que discute as visões de Buchanan sobre o campo de extermínio de Treblinka. Apesar do 'ceticismo' sobre Treblinka não ser prova de antissemitismo, é indicativo de uma vontade de acreditar de que as testemunhas judaicas participaram de uma fabricação monstruosa. No mínimo, o artigo mostrava que Buchanan fora "companheiro de viagem" de antissemitas: "Grande parte do material sobre o qual Buchanan baseia suas colunas é enviado a ele por pró-nazistas e antissemitas doentes". Portanto, é revelador que Rothbard tenha omitido qualquer discussão dos pontos de vista de Buchanan sobre o Holocausto a partir de um artigo em que Rothbard supostamente provou que Buchanan não era um antissemita. Isto sugere que Rothbard foi desonesto e que suas suspeitas reais relativas às opiniões de Buchanan sobre os judeus diferiam das conclusões que ele expressa no artigo. Ele ocultou essas suspeitas erigindo uma definição de espantalho do antissemitismo e excluindo crenças que mostrariam que a definição seria inadequada.

O trabalho de Rothbard sobre raça e política, elogiado e promovido por Rockwell, portanto, representa grandes problemas para seus apoiadores atuais e potenciais novos seguidores. Mesmo Ron Paul reconheceu este problema, tardiamente, quando ele afirmou que "os libertários são incapazes de serem racistas, porque o racismo é uma ideia coletivista". Se esta afirmação é verdadeira, isso significaria que Rothbard não era um verdadeiro libertário. Se a afirmação é falsa, isso significaria que pelo menos uma facção/parcela do libertarianismo era racista, e que os atuais e futuros apoiadores de Rothbard teriam que decidir se desejariam usar essa marca.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2010/07/murray-rothbard-lew-rockwell-and.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: Murray Rothbard, Lew Rockwell and Scientific Racism
Tradução: Roberto Lucena
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Ler o comentário deste post aqui:
Murray Rothbard, Lew Rockwell e o "Racismo científico" (Complemento)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Tão liberal e tão amigo de Salazar. (Hayek, Liberalismo)

Tão liberal e tão amigo de Salazar.
O lado obscuro e "oculto" da relação entre Fascismo e Liberalismo


Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, é um liberal, dizem os jornais de todo o mundo. Prova de liberalismo, além da não irrelevante ação como primeiro-ministro da Polônia: escreveu, nos seus anos de formação, ensaios a incensar o liberal Friedrich Hayek. Como o mundo é pequeno…

Esta genealogia de Tusk convida a que estudemos os pergaminhos do liberalismo moderno para o perceber. E Hayek é, de facto, Tusk tem razão, um dos mais qualificados guias para esse percurso: foi uma das figuras marcantes do renascimento de uma estirpe especial do neoliberalismo do século XX, muito marcada pela Guerra Fria, e aliás muito pouco liberal no que diz respeito às liberdades.

Que o liberalismo é ou pode ser pouco liberal, é um facto bem conhecido dos historiadores. Um saboroso episódio pouco conhecido em Portugal revela essa ambiguidade essencial: Friedrich Hayek, esse guru do liberalismo moderno, escreveu em 1962 uma carta a Salazar, explicando a motivação para o envio anexo do seu livro The Constitution of Liberty, que o devia ajudar “na sua tarefa de desenhar uma Constituição que previna os abusos da democracia”. Mesmo considerando o prestígio a que Hayek se veio a alcandorar mais tarde, em particular depois de ter recebido o Prêmio Nobel da Economia (em 1974, ex-aequo com Gunnar Myrdal, por um óbvio efeito de balanceamento político), este episódio revela uma atitude perante a liberdade e o Estado, incluindo uma ditadura, que é mais expressiva do que qualquer distinção honorífica.

Hayek voltou a este tema numa carta ao diário The Times em 1978, registrando que, na sua opinião, tem havido “muitas instâncias de governos autoritários em que a liberdade pessoal está mais segura do que em muitas democracias. Nunca ouvi nada em contrário quanto aos primeiros anos do governo do Dr. Salazar em Portugal e duvido que haja hoje em qualquer democracia da Europa Oriental ou nos continentes da África, América do Sul e Ásia (com a exceção de Israel, Singapura e Hong Kong) uma liberdade pessoal tão bem protegida como acontecia então em Portugal”. Estas relações entre várias ditaduras e Hayek, incluindo a de Salazar, foram estudadas por autores como o economista Brad DeLong ou o cientista político Cory Robin.

Das demonstrações desta virtude, há no entanto um episódio ainda mais conhecido, a relação entre Hayek e Pinochet. Tendo visitado o Chile quando a ditadura estava bem estabelecida – e os seus desmandos estavam demonstrados e eram públicos e notórios – Hayek expressou a sua adesão à nova ordem numa entrevista ao principal jornal do regime, o El Mercurio, a 19 de abril de 1981 (em que volta a falar de Salazar, para lamentar que ele não tenha prosseguido o que fora um “bom começo”). Nela declarava sem ambiguidades que “a democracia precisa de uma boa limpeza por um governo forte”. Uma boa limpeza. A sua atitude não deixou dúvidas e as palavras foram cuidadosamente escolhidas: “Como compreenderão, é possível a um ditador governar de modo liberal. E também é possível a uma democracia governar com total falta de liberalismo. Pessoalmente, eu prefiro um ditador liberal a um governo democrático a que falte liberalismo.”

Estive no Chile pouco tempo depois desta entrevista e os resistentes com quem trabalhei sabiam bem o que queria dizer Hayek: “uma boa limpeza por um governo forte” começava na tortura no Estádio Nacional e nas masmorras da Marinha. A preferência era indiscutivelmente elegante, Hayek gostava de uma “boa limpeza” à Pinochet. Nos mesmos anos, isso não impediu Margaret Thatcher, chefe do governo britânico, de considerar Hayek o seu guia espiritual (e ela governou quando o homem ainda vivia e visitou Pinochet).

Passaram décadas e, tudo esquecido, temos Tusk, homem do mundo, que começou por Hayek e agora preside ao Conselho Europeu. Merkel tem os seus peões no sítio e, sabendo que nada a liga a este passado hayekiano a não ser a ideologia econômica, não deixa de ser revelador tal facilidade de identificação com quem teve sempre tanto desinteresse pelas liberdade.

Fonte: Público (Portugal)
http://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2014/09/02/tao-liberal-e-tao-amigo-de-salazar/
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Atualização e revisão: 04.09.2014

Ler o comentário aqui:
Tão liberal e tão amigo de Salazar (Complemento)

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