A derrota política do "Jour de colère" (Dia de Fúria)
Com 17 mil participantes registrados pela polícia pelo período da tarde, a manifestação do "Dia da Raiva" (jour de colère), domingo, 26 de janeiro, em Paris, marcou os espíritos. Esta é a primeira vez em muitos anos que um grupo de extrema-direita estoura e mobiliza a todos. Esta é ainda a primeira vez em muitos anos que os slogans antissemitas e negacionistas são cantados de maneira totalmente explícita em um desfile dessa magnitude. Além das palavras de ordem violentas visando jornalistas e homossexuais.
Esta é a primeira vez, finalmente, que a ultradireita com seus elementos mais radicais e mais racistas, coabitam sem choque o mesmo cortejo (manifestação) com uma maioria de ativistas mistos, a partir da "Dieudosphère" (caso Dieudonné) sob a bandeira e palavra de ordem da "liberdade de expressão". No entanto, o que à primeira vista pode parecer como um sucesso desse movimento, assemelha-se mais a uma derrota política. O que é que essa mobilização? Devemos vê-la como uma mutação da extrema-direita?
A manifestação foi organizada pelo "Primavera Francesa", 'rótulo' sob o qual se reuniram, por quase um ano, os elementos anti-casamento (gay) mais radicais entre todos. O objetivo era "coagular a raiva" contra o poder, dizem eles: "que não escuta o povo, que bombardeia os contribuintes, que enterra nosso exército, libera delinquentes, desorientando nossos filhos, perverte nosso sistema escolar, reduz a nossa liberdade, assassina a nossa identidade, destruindo nossas famílias".
A "Primavera Francesa" é, de fato, estruturada pela Action Française (Ação Francesa) (AF, Maurrasianos), que garante toda a logística e cujas instalações são utilizadas como base de retaguarda. Antirrepublicana e antiparlamentarista assumida, a AF depois de ano de todas as ações, esta é a mais intensa/violenta e que vai de vento em popa.
O desfile foi apoiado por uma miríade de associações, por uma parte fantasmagórica ou diretamente ligada à Primavera francesa como o coletivo "Holanda liberta" de David van Helmerick, por um dos responsáveis da PF, o coletivo 'Advogados livres' de Frédéric Pichon ou o Acampamento para todos. Mas também formada por vários micro-grupos anti-impostos.
Um desfile politicamente marcado
"Quando há um incêndio em casa, você não chama pelo bombeiro?", disse Beatrice Bourges algum tempo antes do desfile, porta-voz do Primavera Francesa e figura central deste "dia de fúria". Na verdade, esta famosa manifestação tornou-se um ponto de encontro e de junção de todo movimento extremista. E só.
Poucas famílias, quase sem crianças, uma atmosfera agressiva, tensa e pesado. E o desejo desses ativistas, alguns dos quais não hesitaram em referir-se a Ucrânia, para a batalha, como fizeram em 2013 durante a procissão para o Palácio dos Inválidos (Place des Invalides).
Os católicos fundamentalistas (integristas) de Civitas trouxeram com eles, a partir de Lyon, ativistas do Gud Lyon (próximos do movimento "filo-nazista" 'Terra e Povo') e hooligans. A Renovação Francesa, o Gud Paris, os anciãos das Juventudes nacionalistas e o Ouvre Française (Trabalho francês) - duas organizações dissolvidas neste verão - também estavam presentes.
Se o FN (Front National) não fez parte deste evento e nenhum dos seus diretores esteve lá, alguém próximo de Marine Le Pen, Axel Loustau, fez parte, como foi observado pelo Mediapart.
Dieudonné conclamou seus apoiadores a participar do desfile. E é de se entender. Seu ajudante, o polemista Alain Soral, chefe do "Igualdade e reconciliação", que agora se afirma como "nacional-socialista", também fez a viagem com um grupo de cerca de 200 pessoas. Alguns deles acenaram com abacaxis - um sinal de apoio a Dieudonné e sua sua canção "Shoahnanas".
O nascimento de um "Black Brown" (Black Blocs)?
Em sua edição de 23 de janeiro, o semana de extrema-direita 'Minuto', previu para este "dia de fúria" a formação de um "Block Bloc de direita", composto "de hooligan, de patriotas e de conservadores chateados" que têm em comum "a idéia de que não podem ser ouvidos por serem sábios e criticarem a política 'rosa' do 'Movimento para todos". Aparentemente, o Minuto estava bem informado porque no final da procissão havia várias dezenas de pessoas, com capuz, rosto coberto com lenços e formando um bloco. Devo dizer que os nacionalistas autônomos chamaram suas tropas para participar do desfile.
Vídeo difundido em redes sociais
Na Praça Vauban, após a dispersão, eles entraram em confronto com forças de segurança com o apoio de jovens pró-Dieudonné. Ao todo, cerca de trezentas pessoas. Algo inédito pois ambos os grupos não eram sociologicamente ou politicamente similares. Havia poucos pontos de concordância entre eles: a "luta" e o ódio aos judeus.
A fuga dos "moderados", o resultado (e fracasso) político do "dia de fúria"
À face deste acontecimento, a violência da noite após o fato teve um efeito relevante. Quem em 2013 criticou a "repressão" no final do "Manifestação para todos", hoje não tem palavras para condenar o "dia da ira". Isto é bem dito por Ivan Rioufol, colunista do 'Figaro' (jornal francês), que resume bem este estado de espírito. O "Dia da Ira" revelou a cara feia de uma França fascista. Ele é um exemplo a não ser seguido", escreve notavelmente o jornalista em uma nota.
Pois não é bem a derrota política do "dia de fúria". Ele apareceu para o que sempre foi: um desfile barato da extrema-direita radical e não o chamado movimento apolítico e independente que ele alegava encarnar.
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Nota: Cerca de 250 detenções.
Cerca de 250 pessoas foram presas na noite de domingo após a dispersão, 224 por "participação de grupo armado" e "violência contra agentes depositários da polícia." A Ação francesa (Action Française) disse em um comunicado que teve 15 militantes presos.
Fonte: Droite(s) extrême(s) (Blog do Le Monde, França)
http://droites-extremes.blog.lemonde.fr/2014/01/27/la-defaite-politique-de-jour-de-colere/#xtor=RSS-32280322
Título original: La défaite politique de « Jour de colère »
Tradução: Roberto Lucena
Observação: o post não foi publicado com o título original que consta logo no início do post (a tradução, obviamente) pra ressaltar a conotação autoritária, antidemocrática e fascista desses grupos denominados Black Blocs que ainda ficam com essa conversa mole de dizerem que são "táticas" querendo dissuadir a crítica sobre o componente autoritário e sem rumo do grupo.
A observação é referente aos grupos no Brasil, traduzi o post pra mostrar o tipo de ligação que vários deles possuem em outros países e no Brasil não é diferente, o quebra-quebra intencional "niilista" é um componente da extrema-direita, o discurso deles é falacioso e com objetivo claro de ataque à democracia não consolidada do país por conta da profunda ignorância (mentalidade) e comportamento autoritário da cultura ibérica que sempre norteou o país, apesar de que as manifestações mais significativas desses bandos sempre ocorrem em duas cidades praticamente pra mídia usar como "espetáculo" e passar a ideia de "caos" manipulando imagens, Rio (capital) e São Paulo.
Na maioria dos estados e cidades do país esse "movimento" é inexpressivo ou insignificante, ou seja, não se trata de um "movimento nacional" como a grande mídia anda matraqueando e sim local/regional que a mídia está tratando como "fenômeno nacional" pra tentar 'inflar' ânimos em todo o país. Politicagem em seu mais baixo nível e grau de fanatismo.
Há outra bandeira reclamada por esses "Black Blocs" (até o nome é ridículo) no Brasil que é o de se dizerem "anarquista", basicamente debochando da inteligência alheia. Um grupo aparece do nada pegando carona nas manifestações de junho de 2013, sem pauta política clara, sem formação anterior, e querem que acredite que não se trata de algo armado com interesses escusos e duvidosos? ...
O anarquismo praticado por esses bandos, se de fato há algum, é de um "niilismo" (sem sentido) atroz. Querem derrubar o Estado e pôr o que no lugar? Acham que vão derrubar o estado com máscaras e ações de teatro pra mídia pautar politicamente? É algo tão primitivo e infantil que espanta o grau de estupidez desses bandos (se de fato pensam isso, eu particularmente não acredito). O que pode acontecer é provocarem o acionamento do aparato de repressão do Estado que, além de força pra conter isso, vai agir com brutalidade. Ou seja ,no fundo o que esses caras querem é provocar uma situação grotesca no país tentando empurrar a população pras ruas. Atitude canalha e repulsiva.
Já fiz um post aqui antes sobre o problema das manifestações quando grupos de extrema-direita com "slogan" nacionalista (com um discurso vazio e ufanista herdeiro da ditadura civil-militar brasileira) de ódio quebrando e tocando o terror no Rio, as coisas só vão confirmando o que muita gente suspeitava, que há interesses obscuros desses bandos que podem ter uma articulação estrangeira pra desestabilizar a democracia no país, como fizeram no período anterior a 1964. E quem costuma fazer isso são serviços de inteligência de potências mais as elites sorrateiras locais que nunca deram a mínima pra democracia até porque não gostam disso apesar de dizerem que "gostam".
Porque afirmo que a mídia está incitando isso: porque não consigo conceber que emissoras de TV, jornais e portais de notícias não tenham análise crítica (ou conhecimento) suficiente pra saber do que se passa, se não possuem é atestado cabal de que são um bando de ignorantes, mas não acredito nessa hipótese, a omissão ou vista grossa aos detalhes por trás desses bandos é um ato político calculado (que pode degringolar), intencional. Se se deforma a informação é porque está ocorrendo manipulação de informação.
Com a internet hoje é muito difícil, e com boa informação (trouxe o texto pra isso, embora a tradução não seja fácil pois não domino o idioma do texto, mas consigo traduzir como mais línguas neolatinas), mas muito difícil mesmo distorcer a realidade e os fatos.
Não se trata de Teoria da Conspiração o assunto aqui citado pois isso não é algo incomum, nunca foi, antecipo-me a qualquer distorção e manipulação de "revis" sobre o comentário pois eles têm o costume de fazer isso como já vi algumas vezes. O fato descrito já ocorreu em outros períodos e muitos países, infiltração de "baderneiros" pra estimular o caos, só que muitas vezes os ditos "revis" (revimanés) delirando no antissemitismo comum deles e crentes em teorias esdrúxulas e racistas, ficam falando de coisas absurdas e conspirações surreais (Illuminati, Nova Ordem Mundial, ETs, OVNIS, reptlianos, rs), movidos por crenças e pensamentos turvos, obviamente sempre pondo "judeus" em tudo (porque é o objeto da obsessão racista e doente deles) e um pensamento mágico atroz.
Isso acaba tornando o assunto delicado quando não deveria ser. Inflar grupos opositores em países com regimes democráticos não sólidos/consolidados é um gesto não incomum de superpotências, que operam com elites golpistas locais pra colocar governos alinhados a suas políticas contra a população do país (a maioria). E há uma certa omissão do Estado brasileiro em desbaratar esses bandos, expor quem está por trás deles, pois deveriam fazê-lo e não estão agindo como deveria (se antecipando aos atos que acabam por provocar terrorismo psicológico na população ou "sensação de caos", mesmo que seja só um "espetáculo" sem rumo).
Meios pra isso o governo federal possui, então está na hora de agir e dar o nome aos bois (checar e dizer quem está por trás disso e enquadrá-los criminalmente por atentado).
A quem achar que o assunto não é tema do blog, o blog é sobre Holocausto mas também sobre extrema-direita, basta ler os posts, portanto o assunto está totalmente no escopo do blog, e mais ainda pelo fato de que como cidadão não deixarei que um bando de imbecis ou de udenistas salafrários (com interesses obscuros) destruam o que foi conquistado a duras penas, a democracia brasileira, que mesmo imperfeita é melhor que não ter nenhuma. Não há diálogo com fascistas e golpistas.
P.S. eu lerei mais tarde o texto da observação e posso editar e reduzir o texto (aliás, já fiz isso mas posso fazer novamente). É que de fato fico irritado com essa passividade da sociedade civil em relação a este tipo de ataque por conta do sectarismo e fanatismo fomentado por parte da mídia do país, e a gente acaba desabafando e aumentando o texto com xingamentos a esses grupos. Não costumo colocar ou citar discussões sobre polarização política no país, mas sinceramente não dá pra simplesmente fazer "vista grossa" ao fato ou se omitir, ultrapassaram a "linha vermelha" (da tolerância) nesse último "protesto" (com o mote de "Copa do Mundo", sendo que o alvo não é esse, esse discurso moralista treslouco e jeca já passou dos limites) com violência contra cidadãos comuns nas ruas. Ou seja, basta.