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terça-feira, 20 de outubro de 2015

Sobre a UGIF (Union générale des israélites de France) e o filme "Amor e ódio" (La Rafle)

A quem perdeu a discussão, confiram na parte de comentários do post:
Filme: La Rafle (Amor e Ódio), com Mélanie Laurent e Jean Reno. França de Vichy

A discussão que o João Lima traz à tona é sobre a UGIF (Union générale des israélites de France, em tradução livre: União Geral dos Judeus da França), que não é citada no filme "La Rafle" que saiu com o título no Brasil de "Amor e ódio" (bem distante do título original que é mais próximo de "A prisão", algo assim) e o livro do Maurice Rajsfus, historiador francês, com o nome de "Des Juifs dans la collaboration, L'U.G.I.F. 1941-1944" (Ebook aqui, em PDF e outros formatos), com prefácio de Pierre Vidal-Naquet, prestigiado historiador francês.

Este filme, "La Rafle" (Amor e ódio) só saiu em DVD/Blu Ray e não foi lançado nos cinemas, não sei por qual razão.

A discussão se dá porque eu comento que, mesmo com a omissão da UGIF no filme, quem quiser ter uma ideia sobre a perseguição e deportação dos judeus na França, o filme é um dos mais recentes sobre o assunto e há versão dele dublado em português, com legenda em português etc (pra todos os gostos). O filme não é muito conhecido, justamente porque não foi exibido nos cinemas com divulgação.

Outro filme lançado recentemente (e já se vão quase 4 anos...) foi o "A chave de Sarah" feito em cima do livro homônimo (com mesmo nome), também sobre a França e judeus na segunda guerra, só que esse segundo filme eu não assisti. Não faço ideia do conteúdo do filme exceto esse comentário superficial.

Mas como dizia, eu ia fazer um post melhor sobre a UGIF (União Geral dos Judeus da França), mas ela já foi citada no blog pelo menos duas vezes. Acabei resgatando esses posts abaixo que a citam:
Judeus: questões sobre Vichy (Livro de Laurent Joly)
Casa Izieu. Memorial das crianças assassinadas na França pelo Carniceiro de Lyon, Klaus Barbie

O segundo post, dos dois acima, foi uma indicação que traduzi "meio" a contragosto porque não há menção bibliográfica no texto, e é um texto genérico. Mas ambos citam a UGIF.

Pra situar a coisa, a UGIF foi um órgão criado em 1941 pelo regime de Vichy, a pedido e em concordância com as políticas nazistas de perseguição a judeus. Foi um órgão coordenado por judeus que ajudou na espoliação e colaboracionismo com o regime fantoche de Vichy, algo próximo de um "Judenrat"(uma espécie de Conselho judeu dos guetos pra colaborar com os nazistas e organizar os judeus nos guetos seguindo as diretrizes nazis).

O João Lima cita o historiador Maurice Rajsfus (já mencionado acima), que de fato escreveu um livro sobre esses judeus colaboracionistas da UGIF, como também um livro sobre a prisão do Velódromo de Inverno (Link2) que é o tema do filme "La Rafle". E há mais livros dele (fico devendo colocar os links aqui). A razão da demora pra elaborar o post é justamente o fato deu não lembrar de memória da UGIF, tanto que não citei os posts que citam ela no comentário que fiz meses atrás. E o livro dele só se encontra em francês, sem tradução pro espanhol ou inglês, o que dificulta a leitura pois eu consigo traduzir texto em francês com ajuda do tradutor do Google, mas não leio com facilidade em francês (está melhorando, mas longe de ser algo fluente, chegaremos lá um dia...).

Só que como havia comentado na caixa de comentários do post do filme, temendo ser repetitivo (estou escrevendo o post rápido, senão acabaria não saindo mais), apesar da não citação do episódio da UGIF (União Geral dos Judeus da França), continua válido assistir o filme "Amor e ódio" (La Rafle), que é estrelado pela Mélanie Laurent (a protagonista francesa do filme "Bastardos Inglórios") e pelo Jean Reno, ator famoso da França, que vendo agora, o cara nasceu no Marrocos (Casablanca) e é filho de pais espanhóis, Jean Reno é nome artístico.

O Jean Reno ficou conhecido, mundialmente eu acho, com o filme "O Profissional" (Léon), que contracena com a Natalie Portman ainda criança, e também com a participação no filme "Missão Impossível" (o primeiro).

Só complementando: na verdade a "curiosidade" sobre esses temas 'desconhecidos' da maioria das pessoas ocorre porque entidades e alguns grupos ligados à memória desses eventos, continuam com uma postura datada que adotavam durante a Guerra Fria com o tema Holocausto, tratando esse tipo de assunto (dos colaboracionistas) como "tabu", porque se aborda um lado não "muito glorioso" de grupos judeus colaborando com o inimigo a perseguir outros judeus. Quando você cria um tabu por não querer tocar no assunto, dá margem pra terceiros propagandearem a coisa como "olhem só, eles escondem o assunto", o que acaba dando margem pra propaganda "revisionista" (negacionista) de citar esses episódios com ares de "descoberta" porque acabam os grupos de memória empurram o assunto pra debaixo do tapete em vez de citá-los normalmente (que é o correto), vide a não tradução do livro citado pra outros idiomas. Essa postura "melindre" já deveria estar superada neste século, mas a postura datada continua, mesmo com a internet escancarando tudo. Digo isso porque já veio gente encher o saco com discurso moralista sobre essas questões "cabeludas" e não tenho a menor pretensão em esconder esse tipo de assunto. Não se combate "revisionismo" empurrando essas questões pra debaixo do tapete.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Judeus: questões sobre Vichy (Livro de Laurent Joly)

Judeus: questões sobre (Juifs: questions sur Vichy)

Por Jacques Duquesne (L'Express), publicado em 15/06/2006

Altamente documentada, a tese de Laurent Joly sobre o Comissariado Geral imposto pelo país ocupante. Daí a aceitar sua conclusão...

Os nazis mandavam, Vichy fazia. A partir do verão de 1940, o SS Dannecker queria criar na França um escritório central para assuntos judaicos. Os homens de Vichy, já haviam desenvolvido sua própria legislação antissemita, tardiamente. Substituindo a Pierre Laval como chefe de governo, o almirante Darlan não demora muito para satisfazer o ocupante. Assim cria o Comissariado Geral para Assuntos Judaicos (CGQJ, sigla em francês).

Estranhamente, ela não fez um livro real sobre o CGAJ. E aqui está, um bloco de 1.000 páginas da tese. Laurent Joly trabalhou todos os arquivos disponíveis. Ele dá a esta triste instituição, seus líderes, a ideologia por trás deles, a sua pequena equipe, uma imagem detalhada. Necessariamente mais sutil do que o sentido usual, porque qualquer investigação aprofundada revela brigas pessoais, as diferenças de interesse ou táticas.

A "arianização" das propriedades judaicas

Alguns leitores vão descobrir um assunto pouco tratado, com o foco definido, logicamente, sobre as deportações: o roubo e a "arianização" das propriedades dos judeus que interessava ​​- no sentido material - muitos dirigentes. Lamentamos que este estudo, de uma riqueza rara, dedica apenas nove páginas de relatórios complexos à CGAJ com o Presbitério e com a União Geral dos Judeus na França (UGIF), instituição dita representativa criada por uma lei de 1941. E não vamos aceitar a conclusão de que "depois da Romênia, a França de Vichy é, certamente, dos países satélites que, por si só, desempenhou o papel mais criminoso nas políticas genocidas dos nazistas." Há quase 40 anos no livro La Destruction des juifs d'Europe (A destruição dos judeus europeus), Raul Hilberg, disse essencialmente: "Na Holanda, os alemães deportaram mais de três quartos dos judeus, na França, as estatísticas eram exatamente o oposto, impedidos com os esforços para deportar todos os judeus franceses, os alemães foram atrás da propriedade da comunidade judaica ".

Fonte: L'Express (França)
http://www.lexpress.fr/culture/livre/vichy-dans-la-solution-finale-histoire-du-commissariat-general-aux-questions-juives_821365.html
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Filme: La Rafle (Amor e Ódio), com Mélanie Laurent e Jean Reno. França de Vichy

Crítica do filme. O 'aprisionamento de judeus' na França
'La rafle' (Amor e Ódio), com Mélanie Laurent e Jean Reno
Menemsha Films

(Foto) Mélanie Laurent como enfermeira em um campo de internamento em "La rafle".
Por Jeannette CATSOULIS. Publicado: 15 de novembro de 2012

Um 'monte de lágrimas' relembra a contribuição da França com o Holocausto (não reconhecida pelo governo francês até 1995), "La rafle" ("Amor e Ódio") é um conto bem-intencionado mas dramatizado com pouca habilidade, sobre o aprisionamento de 13.000 judeus parisienses no no verão de 1942.

Abordar o tema a partir de vários pontos de vista - incluindo os de uma enfermeira protestante horrorizada (Mélanie Laurent), um médico judeu cansado (Jean Reno) e os membros de duas famílias judias - a escritora e diretora, Rose Bosch, provoca atuações comprometidas com o roteiro ao longo de muitas das fissuras do filme. Entre esses, os episódios que mostram a negociação entre funcionários corruptos franceses e seus ocupantes nazistas são especialmente cortantes, e a passagem de cena de fome dos prisioneiros judeus para a festa de aniversário do pródigo Hitler, comandada por uma Eva Braun bêbada, é embaraçosamente pesada.

No entanto, a Sra. Bosch retorce o puro terror do aprisionamento e o subsequente sofrimento dos judeus. Em uma escala épica e minuciosa em detalhes (o roteiro foi baseado em extensa pesquisa feita pela Sra. Bosch e o historiador do Holocausto Serge Klarsfeld), o filme inclui cenas de multidão que se agitam com uma miséria não forçada.

É desnecessário, portanto, retornar tantas vezes ao destino de uma criança de cabelos encaracolados - uma indulgência sentimental que só enfraquece o todo do filme. Seria melhor ter seguido a adolescente judia corajosa (Adèle Exarchopoulos) que trafega através da rede nazista: sua coragem e ação são muito mais atraentes do que uma sala cheia de crianças levadas.

Uma versão desta crítica apareceu na versão impressa em 16 de novembro de 2012, na página C12 da edição do New York Times com a manchete: La Rafle.

Fonte: NY Times
http://movies.nytimes.com/2012/11/16/movies/la-rafle-with-melanie-laurent-and-jean-reno.html
Tradução: Roberto Lucena

Observação: eu assisti o filme e não concordo com o teor da crítica acima, o filme tem uma visão francesa do ocorrido e não uma visão norte-americana, por isso talvez essa crítica ácida acima ao filme por não se enquadrar "facilmente" ao que "críticos" dos EUA esperam desse tipo de filme. Mas por não ter encontrado outra crítica que li sobre o filme pra traduzir, acabei traduzindo essa pra informar sobre o filme "Amor e ódio" (La Rafle) que vale a pena ser assistido. A observação se dá porque muita gente tem acessado o link pra ler algo sobre o filme e não concordo com a crítica acima e não foi possível colocar outra no lugar.

Trailer:

sexta-feira, 9 de março de 2012

Casa Izieu. Memorial das crianças assassinadas na França pelo Carniceiro de Lyon, Klaus Barbie

Entre 1940 e 1941, o povo francês se encontrava sobrecogido pela derrota de seu país e preocupado com problemas materiais de sua vida diária, de forma que não reagiu à perseguição contra os judeus. Só organizações de caridade deram seu apoio aos judeus. Entre estas organizações, a Oeuvre de Secours aux Enfants (OSE), uma associação para crianças judias criada na Rússia em 1912, dedicava-se a ajudar os jovens.

Desde 1941, as crianças foram alojadas na casa da OSE em Palavas-les-Flots, por iniciativa de Sabine Zlatin. Isto foi possível graças ao apoio do prefeito do departamento de Hérault, Bénédetti, e seus assistentes. Quando a situação do departamento de Hérault se deteriorou, o prefeito perguntou à Sabine e Miron Zlatin se se podiam se mudar para a vila de Izieu. Em poucas semanas, a vida se reorganizou, apesar de que muitas crianças haviam sido repentinamente separadas de suas famílias e haviam sofrido com as condições de internamento durante meses etc. A ideia era tentar chegar à zona controlada por tropas italianas.

Mas a capitulação italiana, em setembro de 1943, provocou a ocupação da Wehrmacht das zonas anteriormente sob controle italiano. Em fevereiro de 1944, alguns colaboradores da OSE foram detidos pela Gestapo, pelo que a organização decidiu enclausurar todas suas casas para as crianças, quanto antes possível. Sabine Zlatin fez tudo o que estava a seu alcance para ocultar as crianças de Izieu.

Muitas crianças judias e seus responsáveis encontraram refúgio entre 1943 e 1944 no povoado de Izieu, não muito longe de Lyon.

Com a exceção do cuidador Leon Reifman, que conseguiu escapar saltando por uma janela, as 44 crianças e 7 cuidadores foram presos em 6 de abril de 1944, durante uma ação em Izieu. 42 crianças e 5 adultos foram enviados em diferentes transportes desde o campo de trânsito de Drancy até Auschwitz-Birkenau, onde foram assassinados.

Em 6 de abril, a Gestapo, sob a direção do "Carniceiro de Lyon", Klaus Barbie, entrou no orfanato e prendeu as crianças e os cuidadores, introduzindo-os em caminhões.

A professora Lea Feldblum foi a única sobrevivente de Auschwitz, porque foi empregada no campo. Dois jovens foram deportados para a Estônia, junto com o diretor do orfanato, Miron Zlatin, onde foram assassinados no verão de 1944.

Depois da guerra, Barbie conseguiu escapar, apesar de ser procurado pelas autoridades francesas, e conseguiu chegar à América do Sul, sob a proteção do serviço de inteligência norte-americano. Em 1952 e 1954, o Tribunal Militar de Lyon o condenou à morte em sua ausência.

Em junho de 1971, o escritório da Promotoria de Munique decidiu encerrar o caso, baseando-se que era impossível provar que Barbie conhecia o destino que esperava as pessoas que prendia. Mas Beate Klarsfeld mobilizou os membros da comunidade judaica e da Resistência para lutar contra esta setença, e conseguiu as testemunhas necessárias para que prosseguissem a investigação em Munique. Conseguiram estabelecer a verdadeira identidade de Barbie na América do Sul. Anos depois, a campanha levada a cabo por Beate e Serge Klarsfeld consiguiu que ele perdesse sua nacionalidade boliviana e fosse extraditado da Bolívia.

Em maio de 1987, depois de quatro anos de trabalhos preparatórios em Lyon, o julgamento contra Klaus Barbie foi aberto. Era o primeiro caso de crimes contra a humanidade julgado na França, e Barbie era acusado da liquidação do Comitê da União Geral dos Judeus da França em Lyon (UGIF), da prisão das crianças de Izieu, do internamento de 650 pessoas em campos de concentração, da tortura e morte de Marcel Gompel, um membro judeu da resistência, da prisão e internamento em campos de concentração de diferentes membros da Resistência.

Em dezembro de 1985, uma decisão do Tribunal de Cassação havia estipulado que a deportação dessas pessoas para campos de concentração não estava diretamente relacionada com o conflito bélico, pelo que ia mais além com os crimes contra a humanidade.

Barbie declarou que não sabia nada dos crimes os quais era acusado. Em 3 de julho de 1987, estabeleceu-se o veredito de culpabilidade, sem circunstâncias atenuantes, e foi setenciado à prisão perpétua. Em 25 de setembro de 1991, Klaus Barbie morreu de câncer na prisão.

A criação do memorial

Durante o julgamento contra Klaus Barbie em Lyon, em 1987, uma organização sem fins lucrativos foi criada por Sabine Zlatin, que havia fundado o orfanato com seu marido, em 1943. Em 24 de abril de 1994, o então Presidente da República francesa François Mitterand dedicou o memorial, que é visitado por um grande número de alunos e professores.

Dois edifícios estão abertos ao público. A casa que serviu de lar para as crianças de Izieu e dos cuidadores a cargo, está destinado a perpetuar sua memória. Na granja adjacente reconvertida, está presente o trasfondo histórico dos fatos daquele dia.

Em sua exposição se traça o itinerário das crianças judias, desde sua chegada à França, durante o período entreguerras e sua deportação para os campos de concentração. Através das fotografias e dos desenhos audiovisuais, os visitantes podem entender o horror do destino destas 44 crianças, e das 11.000 crianças judias deportadas da França para os campos de concentração e extermínio. Uma das salas é dedicada ao tema dos crimes contra a humanidade; também se mostra uma montagem com imagens do julgamento contra Barbie que fazem referência à redada de Izieu.

A história das crianças de Izieu é particularmente interessante para as crianças e jovens, porque faz referência a pessoas de sua mesma idade. O departamento educativo do museu sempre está disposto a ajudar professores a preparar visitas à escola. O trabalho educativo se centra nas políticas antissemitas do governo de Vichy que colaborou com as tropas de ocupação alemãs, os crimes contra a humanidade e a perseguição depois da guerra.

O memorial também tem uma exposição permanente de fotografias, que fazem referência a diferentes temas relacionados com a casa Izieu: a história das famílias de muitas das crianças, os campos de concentração de Drancy e Auschwitz, os julgamentos de Nuremberg, a carrera de Klaus Barbie e seu julgamento, a colaboração francesa etc.

A história da casa Izieu é particularmente interessante para crianças e jovens, porque faz referência a pessoas de sua idade. Por isso, uma grande parte do material e dos documentos expostos são diretamente dirigidos a este tipo de visitantes. Além disso, o departamento educativo do museu está a disposição dos professores para preparar as visitas dos colégios.

Para este fim, o memorial tem programas de visitas de um ou vários dias, nos quais os alunos podem trabalhar depois de visitar a instalação sobre estes temas do passado e refletir as questões que tenham surgido durante a visita. As visitas de vários dias permitem que os alunos absorvam a atmosfera deste lugar especial, aproximando-se do destino das crianças e de seus familiares, e compreender essa história desde seu próprio ponto de vista.

Contato:

Maison d’Izieu
01300 Izieu
http://www.izieu.alma.fr

Fonte: topografía de la memoria (memoriales históricos de los campos de concentración nacionasocialistas 1933-1945)
http://www.memoriales.net/topographie/francia/izieu.htm
Tradução: Roberto Lucena

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