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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

As entrevistas de Nuremberg: Kurt Daluege

Kurt Daluege, que foi chefe da polícia regular uniformizada da Alemanha, está em prisão sem comunicação. É um tipo alto, de quarenta e tantos anos, nariz aguileña, olhos pequenos, sombrio, e com uma expressão de ressentimento na cara. É educado e comedido, fala com facilidade mas quase não diz nada que tenha um conteúdo emocional ou que revele fatos objetivos. Tem uma aparência remilgada e mantém sua celda em uma ordem gélida, descrição que poderia ser aplicada a sua cara. (…)

Disse tudo com o mínimo de entusiasmo e uma expressão, tanto facial como oral, carente de sentimentos.

Kurt Daluege junto a Himmler na Ucrânia

Sim, disse, foi general da SS durante a guerra, mas foi algo automático, porque como chefe da Polícia comum, deram-lhe esse cargo. Ou seja, inquiri - através do doutor Gilbert, que estava traduzindo - que a policia formava parte da SS. Não, suas polícias não eram militares, não eram parte da SS. Contudo, Himmler era seu superior. Suas forças da Polícia tinham relação com a Gestapo?

- Não, não tinham nada a ver com a Gestapo. E sim, Himmler era o chefe da Gestapo e ele era subordinado de Himmler. 

Perguntei-lhe diretamente se sua polícia protegia os judeus e suas propriedades quando eram atacados por toda Alemanha; ele disse que não sabia nada desses ataques, ninguém lhe falou deles. (…)

Sua relação com Himmler? Não era muito boa porque Himmler lhe considerava um rival. Inclusive uma vez viu que Himmler iria lhe prender. Mas nunca aconteceu. (…)
-Sente-se culpado de algo?

-Não

Ele estava a cargo das forças policiais da Alemanha e tudo foi bem até onde ele sabia.
A impressão geral que deixa é a de ser um homem insensível, sem piedade, capaz das maiores crueldades, amoral e sem consciência. (…) 

Declara ser um simples funcionário, filho de um funcionário: não sabe nada das atrocidades e todas essas coisas. Está claro que devia ser o tipo de chefe ao qual sabia informar com todo detalhe e de maneira obsessiva de tudo o que fazia o pessoal em seu posto, e de fato seguramente exercia um controle muito estrito sobre seus subordinados.

Estou convencido de que é pouco provável conseguir uma resposta emocional deste homem. Ficou endurecido com os anos e a coraça que usou durante tanto tempo fez com que não fique nada debaixo. Depois de ter contato direto com a força, a violência e de haver descartado com tranquilidade a vida de vários outros, cabe questionar o que valoriza a vida em geral, incluindo a sua em particular.

 (Leon Goldensohn, Las Entrevistas de Núremberg, Taurus, 2008, págs. 344 a 346)
LAS ENTREVISTAS DE NÚREMBERG: KURT DALUEGE
26 de janeiro de 1946 

Fonte: blog "El viento en la Noche"; livro: "As entrevistas de Nuremberg", de Leon Goldensohn
https://universoconcentracionario.wordpress.com/2020/04/15/las-entrevistas-de-nuremberg-kurt-daluege/ 

Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Nota sobre o envolvimento do OSS (ASE) na localização dos documentos PS-501 das vans de gaseamento

A seguinte informação foi obtida das páginas 179-182 do livro de Michael Salter a respeito de quatro documentos que pertencem ao PS-501 exibido em Nuremberg, discutidas nesta série por Hans. A primeira participação da OSS (ASE)* era de localizar os documentos entre os detidos pela inteligência britânica em Londres. Um cabo de Donovan para Jackson, datado de 01 de junho de 1945, detalhou o papel do Coronel Amen na obtenção de "documentos (originais) que contêm detalhes do gás pela "van da morte" equipada por esse propósito [Salter pág.180, citando cabo 18124 , 6/1/45, Jackson Papers, Box 101, Reel 7, grifo meu].

Estes foram colocados em um dossiê preparado pelo bando X-2 da OSS (ASE) e, eventualmente, pego por Whitney Harris, que discute aqui (págs. 198-199) como ele os usou no interrogatório de Ohlendorf enquanto preparava-se para o caso contra Kaltenbrunner. Os documentos também foram autenticados por Rauff (link2) em Ancona, como Hans mostra aqui. Embora o documento Becker-Rauff tenha se tornado parte do PS-501, ele foi inicialmente apresentado pela OSS (ASE) como Feldpostnummer S2704/ SECRETO. Rauff deu uma confirmação ainda muito mais detalhada do documento no Chile, em 1972, mostrada aqui.

Na lamentação de Weckert e outros sobre as origens desses documentos, remeto os leitores à citação de Zimmerman no post do Roberto (Muehlenkamp) aqui.

*OSS (ASE): Office of Strategic Services, abreviação "OSS" (Agência de Serviços Estratégicos), precursora da CIA.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2016/05/note-on-involvement-of-oss-in-locating.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: Note on Involvement of OSS in Locating Gas Van Documents PS-501
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A mente de Rosenberg, ideólogo do Holocausto, exposta. "Alfred Rosenberg. Diarios (1934-1944)" [livro]

Madrid, 7 set (EFE).- Pela primeira vez serão publicados mais de 400 páginas do diário de cabeceira do nazista Alfred Rosenberg com o título de "Alfred Rosenberg. Diarios (1934-1944)", o testemunho inédito em primeira pessoa de uma dos ideólogos do Holocausto, a quem foi apelidado por Hitler como "o pai da Igreja nacional-socialista".

Assim, esses diários, que saem amanhã em castelhano, num volume publicado pela Crítica (editora), completam-se com um amplo prólogo e 23 documentos com os discursos e artigos do nazi e os comentários dos editores do livro, os alemães Jürgen Matthäus e Frank Bajohr.

Além disso, o volume, que ocupa mais de 700 páginas, inclui também outros arquivos que ajudam a completar esta radiografia de uma das mentes mais influentes do Partido Nacional-Socialista da Alemanha.

E é um desses documentos, precisamente, onde se recolhe a proposta de Rosenberg (Talim, 1893 - Nuremberg, 1946) de levar a cabo o "extermínio biológico de todo o povo judeu na Europa".

Contudo, chama a atenção a sutileza desses "Diários" na hora de se referir ao Holocausto por parte de Rosenberg, a quem se cuidou de não incluir em suas memórias comentários explícitos sobre o extermínio judeu.

Mas isto não é algo novo nas memórias que se conhecem dos dirigentes nazistas, pois o mesmo cuidado se pode observar nos diários de Josef Goebbels, competidor, de fato, de Rosenberg, a quem mostra sua aversão pelo ministro da Propaganda de Adolf Hitler, referindo-se a ele, por exemplo, como "foco de pus".

Para a publicação desses "Diários", seus editores elaboraram uma primeira parte de moto que a introdução aporta pequenas pinceladas sobre a vida de Rosenberg e de seu papel num dos episódios mais terríveis da História do século XX.

Neste sentido, também abarca a história do paradeiro dos diários, que foram encontrados em 2003 depois de ter estado até 1993 em poder de Robert M.W. Kempner, um dos assessores legais estadunidenses durante os julgamentos no Tribunal Militar de Nuremberg e promotor no procedimento conhecido como "o caso dos ministérios".

Depois da morte de Kempner, em 93, o Museu do Holocausto estive mais de uma década buscando os documentos que faltavam, entre eles este diário, que o promotor havia retido ilegalmente, foi encontrado completo em 2013 e passou a fazer parte do Museu do Holocausto.

Depois desta introdução, as páginas dão passo ao conteúdo "reproduzido" dos diários de Rosenberg. Inclusive conservam seus "erros de ortografia, abreviaturas, rasuras, sublinhados e incoerências", segundo indicam os editores.

As anotações daquele que foi ministro para Assuntos do Leste do Führer se interrompem em 3 de dezembro de 1944, última data na qual Rosenberg escreve, a partir de seu refúgio em Berlim.

Alfred Rosenberg nasceu em Talim (Estônia) no seio de uma família germano-báltica e posteriormente cursou Arquitetura em Riga e Moscou e chegou à Alemanha em 1918, onde não tardou para se introduzir nos círculos nacionalistas alcançando certo renome como autor de textos políticos de orientação antissemita e anticomunista, antes de se unir ao regime nazista.

Ao fim de seus dias, foi acusado em Nuremberg de crimes contra a humanidade, crimes de guerra, participação na preparação de uma guerra de agressão e crimes contra a paz, acusações das quais foi declarado culpado e condenado à pena de morte. Foi executado na forca, em 16 de outubro de 1946.

Os editores do livro foram Frank Bajohr, desde 2013 diretor de pesquisa do Centro de Estudos do Holocausto no Institut für Zeitgeschichte em Munique, e Jürgen Matthäus, que desenvolve seu trabalho profissional no Museu Memorial do Holocausto em Washington DC.

eca/crs/ram
Cultura | 07/09/2015 - 16:38h
Elena Cortés.

Fonte: La Vanguardia (Espanha)
http://www.lavanguardia.com/cultura/20150907/54436319188/la-mente-de-rosenberg-ideologo-del-holocausto-al-descubierto.html
Título original: La mente de Rosenberg, ideólogo del Holocausto, al descubierto
Tradução: Roberto Lucena

Observação: este diário havia sido divulgado, online, pelo USHMM, anos atrás. Só que pelo tamanho do livro o material exibido pelo museu na época não foi integral (suponho).

Esta edição em espanhol saiu primeiro que a edição em inglês do livro, pelo menos no site de uma loja de vendas grande dos EUA o título em inglês ainda está em reserva. Tanto que já saíram algumas matérias do lançamento do livro todas em jornais da Espanha. Redundante dizer, mas... (tem gente que só entende com a menção), não saiu o título traduzido no Brasil e nem indicação de que irá sair.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

O misterioso arquivo de Rudolf Hess, segundo na hierarquia nazista

Selo com as iniciais de Rudolf Hess
está nos documentos
Durante a Segunda Guerra Mundial, Rudolf Hess viajou para a Escócia, levando consigo uma proposta de paz aos britânicos. Agora, um rascunho do que seria esse acordo está em leilão.

A história poderia ser o começo de um filme de James Bond: um homem recebe um telefonema anônimo. Um arquivo, que pode ser útil aos seus "projetos", é oferecido a ele, que deve procurar os documentos no dia seguinte, num determinado local. Ele vai ao local e, de fato, lá está o arquivo de um oficial do alto escalão nazista.

Isso aconteceu há 20 anos. O sinistro arquivo contém protocolos, anotações e cartas de Rudolf Hess, o segundo homem na hierarquia nazista. Os documentos são, provavelmente, da época em que Hess estava numa prisão britânica. Entre eles está um rascunho de um tratado de paz que Hess queria apresentar aos britânicos em maio de 1941, pouco antes do ataque dos alemães à União Soviética.

A história, que soa como a de um filme de espionagem, estava no site da casa de leilões Alexander Historical Auctions, especializada em artigos históricos. No entanto, ela não foi o suficiente para incentivar possíveis interessados a adquirir os documentos históricos, que foram a leilão na semana passada. A razão principal foi, provavelmente, o salgado preço, entre 500 mil e 700 mil dólares.
Arquivo contém cartas, transcrições e um rascunho do acordo de paz

Não um nazista qualquer

A importância desses documentos está em Rudolf Hess, que não era um nazista qualquer, mas um dos mais próximos colaboradores de Hitler, por muito tempo seu vice em caráter oficial. Em 1941, em meio à Segunda Guerra e pouco antes da invasão da União Soviética pela Alemanha, ele voou para a Escócia para negociar um acordo de paz bilateral com a Grã-Bretanha. O plano previa que a Europa ficasse com os nazistas, e os britânicos poderiam manter seu império em outras partes do mundo – somente as antigas colônias alemãs teriam de ser devolvidas.

Os britânicos, como se poderia esperar, não aceitaram a proposta. Hess foi imediatamente preso e permaneceu no país até 1946, quando foi julgado em Nurembergue por crimes de guerra e condenado à prisão perpétua. Em 1987, aos 93 anos, ele se suicidou na prisão para criminosos de guerra de Berlim-Spandau.

Esses são os fatos conhecidos. Mas ainda existem muitas incertezas: Hess levava mesmo a sério o seu plano de paz? Qual era o papel exato dele no regime nazista? Hitler estava ciente do plano? Ainda durante a guerra, Hess foi considerado mentalmente doente. Em cima disso ele baseou a sua estratégia de defesa em Nurembergue. Até hoje, é considerado por neonazistas um herói de guerra capturado pelos britânicos.
Rudolf Hess (segundo na primeira fila) no banco dos réus em Nurembergue

Os arquivos de Hess poderiam oferecer novas informações? "A História, de qualquer maneira, não será reescrita por eles. Mas talvez esses arquivos tragam uma nova perspectiva em relação a Rudolf Hess", comenta Achim Baumgarten, chefe da unidade para registro de coleções de origem privada do Arquivo Federal da Alemanha, em Koblenz. Há quase um ano, o arquivo recebeu uma cópia de uma pequena parte desses arquivos.

Provavelmente não foi um roubo

Baumgarten diz que os valores pedidos no leilão eram completamente exagerados, embora ele considere possível que os documentos realmente tenham sido escritos por Rudolf Hess. "Pelo menos, eu ainda não posso provar que o arquivo é falso", diz.

Há um ano, a casa de leilão Beck Militaria consultou Baumgarten sobre a veracidade do arquivo. A consulta fazia todo o sentido, já que o arquivo onde Baumgarten trabalha reúne inúmeros documentos sobre Rudolf Hess. "O que logo me chamou a atenção foi o carimbo em inglês 'most secret'", diz Baumgarten. Ele pensou que os documentos poderiam mesmo ser verdadeiros, possivelmente roubados do Arquivo Nacional Britânico. Mas este negou um possível roubo.

Baumgarten especula que Hess poderia ter feito cópias na prisão de sua carta ao rei britânico e de seu plano de paz – esses seriam os documentos que agora foram a leilão. Eles poderiam ter sido levados para fora da prisão por algum funcionário da penitenciária. Tudo isso é especulação. Os documentos originais, entregues por Hess aos oficiais britânicos, estão guardados na Grã-Bretanha. Ao menos até 2018, não estarão disponíveis ao público.

Falso ou original?

Ainda não se pode comprovar a autenticidade do arquivo

Baumgartem comparou a caligrafia das poucas páginas a que teve acesso com os documentos de Hess que se encontram no Arquivo Federal. A escrita é em linha reta, assim como a do vice de Hitler. "Certas letras, certos comprimentos de letra são os mesmos." O carimbo com o qual os documentos foram selados continha as iniciais RH.

Mas isso ainda não é suficiente para provar que o arquivo é mesmo verdadeiro, ressalta Baumgarten. "Para provar a autenticidade, o Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA) precisaria fazer uma análise da tinta e do papel. Mas nunca tive os originais em mãos", completa. Sem essa análise, nada pode ser provado. Ainda assim, o Arquivo Federal gostaria de comprar esses documentos. "Mas não a esse preço", descarta Baumgarten.

Mas por que o Arquivo Federal não tem boas chances em leilões? "Muitas vezes saímos de mãos vazias, especialmente quando se trata de documentos de líderes nazistas", lamenta Baumgarten. Recentemente, o livro contábil privado de Hitler foi a leilão. "Esse documentos conseguem lances no mercado americano que são impossíveis para nós", afirma. Nos Estados Unidos, documentos são oferecidos no mercado privado por preços muito superiores "ao que nos parece ser apropriado e que poderíamos pagar", completa Baumgarten.

Muitas peças únicas surgem nos Estados Unidos. Elas foram levadas pelos soldados americanos estacionados na Alemanha. "As gerações seguintes encontram essas peças, não têm nenhum interesse por elas e as colocam em leilão." Por causa do tempo que já se passou, não é mais possível reclamar roubo, e o Arquivo Federal participa dos leilões como qualquer outra parte interessada.

O novo proprietário do livro contábil de Hitler vendeu uma cópia ao Arquivo Federal por 1.000 euros. Baumgarten espera que isso também aconteça com os arquivos de Hess.
DW.DE

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/o-misterioso-arquivo-de-rudolf-hess-segundo-na-hierarquia-nazista/a-17080699

sexta-feira, 9 de março de 2012

Casa Izieu. Memorial das crianças assassinadas na França pelo Carniceiro de Lyon, Klaus Barbie

Entre 1940 e 1941, o povo francês se encontrava sobrecogido pela derrota de seu país e preocupado com problemas materiais de sua vida diária, de forma que não reagiu à perseguição contra os judeus. Só organizações de caridade deram seu apoio aos judeus. Entre estas organizações, a Oeuvre de Secours aux Enfants (OSE), uma associação para crianças judias criada na Rússia em 1912, dedicava-se a ajudar os jovens.

Desde 1941, as crianças foram alojadas na casa da OSE em Palavas-les-Flots, por iniciativa de Sabine Zlatin. Isto foi possível graças ao apoio do prefeito do departamento de Hérault, Bénédetti, e seus assistentes. Quando a situação do departamento de Hérault se deteriorou, o prefeito perguntou à Sabine e Miron Zlatin se se podiam se mudar para a vila de Izieu. Em poucas semanas, a vida se reorganizou, apesar de que muitas crianças haviam sido repentinamente separadas de suas famílias e haviam sofrido com as condições de internamento durante meses etc. A ideia era tentar chegar à zona controlada por tropas italianas.

Mas a capitulação italiana, em setembro de 1943, provocou a ocupação da Wehrmacht das zonas anteriormente sob controle italiano. Em fevereiro de 1944, alguns colaboradores da OSE foram detidos pela Gestapo, pelo que a organização decidiu enclausurar todas suas casas para as crianças, quanto antes possível. Sabine Zlatin fez tudo o que estava a seu alcance para ocultar as crianças de Izieu.

Muitas crianças judias e seus responsáveis encontraram refúgio entre 1943 e 1944 no povoado de Izieu, não muito longe de Lyon.

Com a exceção do cuidador Leon Reifman, que conseguiu escapar saltando por uma janela, as 44 crianças e 7 cuidadores foram presos em 6 de abril de 1944, durante uma ação em Izieu. 42 crianças e 5 adultos foram enviados em diferentes transportes desde o campo de trânsito de Drancy até Auschwitz-Birkenau, onde foram assassinados.

Em 6 de abril, a Gestapo, sob a direção do "Carniceiro de Lyon", Klaus Barbie, entrou no orfanato e prendeu as crianças e os cuidadores, introduzindo-os em caminhões.

A professora Lea Feldblum foi a única sobrevivente de Auschwitz, porque foi empregada no campo. Dois jovens foram deportados para a Estônia, junto com o diretor do orfanato, Miron Zlatin, onde foram assassinados no verão de 1944.

Depois da guerra, Barbie conseguiu escapar, apesar de ser procurado pelas autoridades francesas, e conseguiu chegar à América do Sul, sob a proteção do serviço de inteligência norte-americano. Em 1952 e 1954, o Tribunal Militar de Lyon o condenou à morte em sua ausência.

Em junho de 1971, o escritório da Promotoria de Munique decidiu encerrar o caso, baseando-se que era impossível provar que Barbie conhecia o destino que esperava as pessoas que prendia. Mas Beate Klarsfeld mobilizou os membros da comunidade judaica e da Resistência para lutar contra esta setença, e conseguiu as testemunhas necessárias para que prosseguissem a investigação em Munique. Conseguiram estabelecer a verdadeira identidade de Barbie na América do Sul. Anos depois, a campanha levada a cabo por Beate e Serge Klarsfeld consiguiu que ele perdesse sua nacionalidade boliviana e fosse extraditado da Bolívia.

Em maio de 1987, depois de quatro anos de trabalhos preparatórios em Lyon, o julgamento contra Klaus Barbie foi aberto. Era o primeiro caso de crimes contra a humanidade julgado na França, e Barbie era acusado da liquidação do Comitê da União Geral dos Judeus da França em Lyon (UGIF), da prisão das crianças de Izieu, do internamento de 650 pessoas em campos de concentração, da tortura e morte de Marcel Gompel, um membro judeu da resistência, da prisão e internamento em campos de concentração de diferentes membros da Resistência.

Em dezembro de 1985, uma decisão do Tribunal de Cassação havia estipulado que a deportação dessas pessoas para campos de concentração não estava diretamente relacionada com o conflito bélico, pelo que ia mais além com os crimes contra a humanidade.

Barbie declarou que não sabia nada dos crimes os quais era acusado. Em 3 de julho de 1987, estabeleceu-se o veredito de culpabilidade, sem circunstâncias atenuantes, e foi setenciado à prisão perpétua. Em 25 de setembro de 1991, Klaus Barbie morreu de câncer na prisão.

A criação do memorial

Durante o julgamento contra Klaus Barbie em Lyon, em 1987, uma organização sem fins lucrativos foi criada por Sabine Zlatin, que havia fundado o orfanato com seu marido, em 1943. Em 24 de abril de 1994, o então Presidente da República francesa François Mitterand dedicou o memorial, que é visitado por um grande número de alunos e professores.

Dois edifícios estão abertos ao público. A casa que serviu de lar para as crianças de Izieu e dos cuidadores a cargo, está destinado a perpetuar sua memória. Na granja adjacente reconvertida, está presente o trasfondo histórico dos fatos daquele dia.

Em sua exposição se traça o itinerário das crianças judias, desde sua chegada à França, durante o período entreguerras e sua deportação para os campos de concentração. Através das fotografias e dos desenhos audiovisuais, os visitantes podem entender o horror do destino destas 44 crianças, e das 11.000 crianças judias deportadas da França para os campos de concentração e extermínio. Uma das salas é dedicada ao tema dos crimes contra a humanidade; também se mostra uma montagem com imagens do julgamento contra Barbie que fazem referência à redada de Izieu.

A história das crianças de Izieu é particularmente interessante para as crianças e jovens, porque faz referência a pessoas de sua mesma idade. O departamento educativo do museu sempre está disposto a ajudar professores a preparar visitas à escola. O trabalho educativo se centra nas políticas antissemitas do governo de Vichy que colaborou com as tropas de ocupação alemãs, os crimes contra a humanidade e a perseguição depois da guerra.

O memorial também tem uma exposição permanente de fotografias, que fazem referência a diferentes temas relacionados com a casa Izieu: a história das famílias de muitas das crianças, os campos de concentração de Drancy e Auschwitz, os julgamentos de Nuremberg, a carrera de Klaus Barbie e seu julgamento, a colaboração francesa etc.

A história da casa Izieu é particularmente interessante para crianças e jovens, porque faz referência a pessoas de sua idade. Por isso, uma grande parte do material e dos documentos expostos são diretamente dirigidos a este tipo de visitantes. Além disso, o departamento educativo do museu está a disposição dos professores para preparar as visitas dos colégios.

Para este fim, o memorial tem programas de visitas de um ou vários dias, nos quais os alunos podem trabalhar depois de visitar a instalação sobre estes temas do passado e refletir as questões que tenham surgido durante a visita. As visitas de vários dias permitem que os alunos absorvam a atmosfera deste lugar especial, aproximando-se do destino das crianças e de seus familiares, e compreender essa história desde seu próprio ponto de vista.

Contato:

Maison d’Izieu
01300 Izieu
http://www.izieu.alma.fr

Fonte: topografía de la memoria (memoriales históricos de los campos de concentración nacionasocialistas 1933-1945)
http://www.memoriales.net/topographie/francia/izieu.htm
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Alemanha abre processo contra ex-criminoso nazista

BERLIM — A Promotoria alemã informou nesta quarta-feira que iniciou um processo contra o ex-guardião de um campo de extermínio nazista de 90 anos, acusado de participar do assassinato de 430.000 judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Samuel Kunz, que reconheceu ter trabalhado no campo de extermínio de Belzec, situado na Polônia sob ocupação alemã, entre 1942 e 1943, foi informado na semana passada das acusações contra ele, informou à AFP um porta-voz da Procuradoria da cidade de Dortmund (oeste).

Kunz também é acusado da morte de outros dez judeus em dois incidentes diferentes, que também ocorreram em Belzec, indicou o porta-voz, Christoph Goeke.

Kunz negou envolvimento nos assassinatos.

Depois dos julgamentos de Nuremberg depois da guerra, quando os principais líderes nazistas foram condenados à morte, as autoridades alemãs examinaram mais de 25.000 casos, mas a imensa maioria não gerou processos.

Fonte: AFP
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5gAS6QIwqs4n9dJG51b7mFHPWnRaw

Matérias:
Testemunha no julgamento de Demjanjuk acusada de cumplicidade na morte de 430 mil judeus (Lusa, Portugal)
German Nazi suspect charged over 430,000 deaths (BBC)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Testemunho de Rudolf Hoess em Nuremberg 15-Abr-1946 (Parte 1)

Traduzido por Leo Gott à partir do link:
http://www.yale.edu/lawweb/avalon/imt/proc/04-15-46.htm

Dr.Kauffmann era o Advogado de Defesa do acusado Ernst Kaltenbrunner. Hoess foi ao Tribunal como Testemunha de Defesa de Kaltenbrunner.
DR.KAUFFMANN: De acordo com o Tribunal, eu chamo agora a Testemunha Hoess.
PRESIDENTE: De pé. Você pode dizer seu nome?
RUDOLF HOESS: Rudolf Franz Ferdinand Hoess
PRESIDENTE: Repita este juramento depois de mim: Eu juro por Deus Todo-Poderoso e Onisciente que irei falar a mais pura verdade, sem ocultar ou adicionar nada.
[A Testemunha repetiu o juramento em alemão]

PRESIDENTE: Quer se sentar?

DR.KAUFFMANN: Testemunha, suas declarações serão de grande significância. Talvez você seja o único que possa lançar uma luz sobre determinados aspectos ocultos, e poderemos dizer que são as pessoas que deram a ordem para a destruição dos judeus europeus, e possa ainda indicar o modo como foi feito este fim, e o grau de segredo para esta execução.
PRESIDENTE: Dr. Kauffmann, por gentileza faça perguntas à testemunha.
DR.KAUFFMANN: Sim. [voltando à testemunha] De 1940 à 1943 o senhor foi Comandante do campo de Auschwitz. É verdade?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: E durante esse tempo centenas de milhares de pessoas foram enviadas para a morte lá. Isso está correto?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: É verdade que você, você mesmo, não anotou sobre o número exato de vítimas, porque isto lhe foi proibido de fazer?
HOESS: Sim. Isso está correto.
DR.KAUFFMANN: Além do mais é correto dizer que exclusivamente um homem de nome Eichmann tinha notas sobre isso, e este homem tinha as funções de organizar e se reunir com essas pessoas?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: É verdade que Eichmann afirmou que mais de 2 milhões de judeus haviam sido destruídos em Auschwitz?
HOESS: Sim
DR.KAUFFMANN: Homens, mulheres e crianças?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: Você foi participante da Guerra Mundial?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: E em 1922 você entrou para o Partido?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: Você foi um membro da SS?
HOESS: Desde 1934.
DR.KAUFFMANN: É verdade que você, no ano de 1924, foi condenado a um longo período de trabalhos forçados por ter participado dos chamados assassinatos políticos.
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: E no fim de 1934 você foi para o Campo de Concentração de Dachau?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: Qual a tarefa que você recebeu?
HOESS: No início, eu era líder de um bloco de prisioneiros, depois me tornei escriturário, e finalmente administrador da propriedade e dos prisioneiros.
DR.KAUFMANN: E quanto tempo você ficou lá?
HOESS: Até 1938.
DR.KAUFFMANN: À partir de 1938 você trabalhou onde e o que fez?
HOESS: Em 1938 eu fui para o campo de concentração de Sachsenhausen, onde no início eu fui Ajudante do Comandante, depois me tornei Chefe de proteção da guarda do campo.
DR.KAUFFMANN: Quando você foi comandante de Auschwitz?
HOESS: Eu fui comandante de Auschwitz de Maio de 1940 à Dezembro de 1943.
DR.KAUFFMANN: Qual foi o maior número de pessoas, presos que teve em algum momento em Auschwitz?
HOESS: O maior número de internos que estiveram em Auschwitz de uma vez foi em torno de 140.000 homens e mulheres.
DR.KAUFFMANN: É verdade que em 1941 foi ordenado a você ir a Berlim para ver Himmler? Por favor, cite resumidamente o que foi discutido.
HOESS: Sim. No verão de 1941 fui convocado para ir a Berlim receber ordens pessoais do Reichsführer SS Himmler. Ele me disse alguma coisa que não me lembro exatamente as palavras, que o Fuhrer tinha dado a ordem para a solução final da questão judaica. Nós SS, deveríamos levar esta ordem adiante. Se não fosse realizado agora, mais tarde os judeus iriam destruir o povo alemão. Ele tinha escolhido Auschwitz por causa do fácil acesso por via férrea, e também por causa do amplo espaço do lugar que asseguravam o isolamento.
DR.KAUFFMANN: Durante esta conferência com Himmler, ele disse que o planejamento desta ação deveria ser tratado como assunto secreto do Reich?
HOESS: Sim. Ele salientou este ponto. Ele me disse que não era permitido eu dizer sobre este assunto até mesmo para o meu superior hierárquico Gruppenfuehrer Glucks. Essa conferência foi tratada somente com nós dois e eu observei o mais estrito sigilo.
DR.KAUFFMANN: Qual era a posição de Glucks para ele não ter sido mencionado?
HOESS: O Gruppenfuehrer Glucks, era assim por dizer, o inspetor dos campos, a partir dali ele era imediatamente subordinado do Reichsfuehrer.
DR.KAUFFMANN: Será que a expressão “assunto secreto do Reich” significa que ninguém estaria autorizado a fazer uma pequena alusão às pessoas de fora, sem por em risco sua própria vida?
HOESS: Sim, “assunto secreto do Reich” significava que ninguém estava autorizado a falar desse assunto com qualquer pessoa, e cada um prometia com sua própria vida a manter sigilo.
DR.KAUFFMANN: Você sabe se esta promessa foi quebrada?
HOESS: Não, não até o fim de 1942.
DR.KAUFFMANN: Porque você mencionou esta data? Você falou com pessoas de fora depois desta data?
HOESS: No final de 1942 a curiosidade da minha esposa foi despertada pelas observações feitas pelo então Gauleiter da Alta Silésia, quanto aos acontecimentos no meu campo. Ela me perguntou se era verdade e eu admiti que era. Essa foi a única violação da minha promessa que fiz ao Reichsfuehrer. Fora isso, não falei com mais ninguém.
DR.KAUFFMANN: Quando você se encontrou com Eichmann?
HOESS: Eu me encontrei com Eichmann 4 semanas depois de receber as ordens do Reichsfuhrer. Ele chegou a Auschwitz para discutir comigo o cumprimento das ordens. Como o Reichsfuehrer me disse durante a nossa conversa, ele tinha instruído Eichmann a discutir o cumprimento das ordens e eu iria receber todas as novas ordens dele.
DR.KAUFFMANN: Você irá me dizer brevemente se o campo de Auschwitz estava completamente isolado, descrevendo as medidas tomadas para assegurar, na medida do possível, o segredo da realização da tarefa atribuída a você.
HOESS: O campo de Auschwitz estava a cerca de 3km de distância da cidade. Cerca de 20.000 acres ao redor da região estava limpa de todos os antigos habitantes, em toda a área só poderia entrar homens da SS e trabalhadores civis que tinham passes especiais. O campo atual chamado “Birkenau”, onde mais tarde foram construídos os campos de extermínio, estava situado a 2km do campo de Auschwitz. As próprias instalações do campo, ou seja, as instalações provisórias que foram usadas primeiro, se adentravam para dentro da floresta e não poderiam ser detectada por olhos. Além disso, essa área foi declarada como área proibida até mesmo para os membros da SS, quem não tinha passe especial não poderiam entrar. Assim posso julgar que, era impossível para qualquer pessoa, exceto para as pessoas autorizadas a entrar nessa área.
DR.KAUFFMANN: E depois quando o transporte ferroviário chegou? Durante o período dos transportes, que chegavam muitas pessoas, em linhas gerais, era desse tal transporte?
HOESS: Durante todo o período até 1944 determinadas operações foram realizadas em intervalos irregulares em diversos países, de modo que não pode se falar de um fluxo contínuo de chegada de transporte. Foi sempre uma questão de 4 a 6 semanas. Durante essas 4 ou 6 semanas 2 ou 3 trens chegavam, cada um com cerca de 2.000 pessoas em cada, chegava diariamente. Os guardas que acompanhavam os transportes deixavam a área de uma vez e as pessoas que eram levadas para lá eram escoltadas por guardas do campo. Eles eram examinados por 2 oficiais médicos da SS para a aptidão ao trabalho. Os internos que eram considerados aptos para o trabalho marchavam para Auschwitz ou para o campo de Birkenau e os que eram inaptos para o trabalho eram levados primeiro para as instalações provisórias e mais tarde, para os recém-construídos crematórios.
DR.KAUFFMANN: Durante um interrogatório que tive com você no outro dia você me disse que cerca de 60 homens foram designados para receber esses transportes, e que estas 60 pessoas, também, teriam sido obrigadas a manter o mesmo sigilo descrito anteriormente. Você ainda mantém isso hoje?
HOESS: Sim, esses 60 homens sempre estavam prontos para assumir os internos não capazes de trabalhar para essas instalações provisórias e, mais tarde, para os outros. Este grupo consistia de cerca de 10 líderes e sub-líderes, bem como médicos e pessoal médico, tinham sido repetidamente dito, tanto por escrito e verbalmente, de que eles eram obrigados ao mais estrito sigilo quanto a todos os que passaram nos campos.
DR.KAUFFMANN: Havia qualquer sinal que poderia mostrar a uma pessoa de fora que viu estas transportes chegarem, de que eles seriam destruídos ou que a possibilidade era tão pequena, pois em Auschwitz foi um número invulgarmente elevado de transportes, as remessas de mercadorias e assim por diante?
HOESS: Sim, um observador que não fez notas especiais não poderia obter nenhuma idéia sobre isso porque começava a chegar não só transportes para os quais foram destinados a ser destruídos, mas também outros transportes chegavam de forma contínua, contendo novos internos que eram necessários, no campo. Além disso, transportes também deixavam o campo em um número suficientemente elevado com internos aptos para o trabalho ou em troca de prisioneiros. Os trens eram fechados, ou seja, as portas dos transportes foram fechadas de forma a que não era possível, a partir do exterior, obter um vislumbre das pessoas no interior. Além de que até 100 veículos com materiais, rações, etc, davam entrada no campo ou constantemente deixavam as oficinas do campo militar que estava sendo feito.
DR.KAUFFMANN: E após a chegada dos transportes as vítimas eram destituídas de tudo que tinham? Eles tinham que despir-se totalmente e entregar todos os seus objetos de valor? Insto é verdade?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: Então eles eram enviados diretamente para a morte?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: Eu te pergunto, de acordo com seus conhecimentos, essas pessoas sabiam que estavam guardando para elas?
HOESS: A maioria delas não, foram tomadas medidas para que elas ficassem na dúvida e que não suspeitassem que estavam se dirigindo para a morte. Por exemplo, todas as portas e muros tinham a inscrições no sentido de que eles estavam indo para o “despiolhamento” ou para tomar uma ducha. Isto era divulgado em vários idiomas para os internos e pelos outros internos que chegavam com a informação que vinha da tripulação dos transportes.
DR.KAUFFMANN: E então, você me disse outro dia, que a morte por gaseamento acontecia entre 3 e 15 minutos. É correto isso?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: Você também me disse que antes da morte as pessoas caíam em estado de inconsciência?
HOESS: Sim. De onde eu fui capaz de descobrir e de onde os oficiais médicos me diziam, o tempo necessário para se chegar à inconsciência variava de acordo com a temperatura e com a quantidade de pessoas nas câmaras. A perda de consciência aconteceia em alguns minutos ou segundos.
DR.KAUFFMANN: Você alguma vez sentiu piedade para com suas vítimas, pensando em sua família e crianças?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: Como foi possível para você levar a cabo estas ações apesar disto?
HOESS: Tendo em conta todas estas dúvidas que eu tinha, o único e decisivo argumento foi a ordem estrita ordem e a razão dada por ele para o Reichsfuehrer Himmler.
DR.KAUFFMANN: Pergunto-lhe se Himmler inspecionou o campo e convenceu-se de si próprio, também, do processo de extermínio?
HOESS: Sim, Himmler visitou o campo em 1942 e viu em detalhes o processo do início ao fim.
DR.KAUFFMANN: O mesmo se aplica a Eichmann?
HOESS: Eichmann foi repetidas vezes a Auschwitz e intimamente familiarizou-se com o processo.
DR.KAUFFMANN: O acusado Kaltenbrunner esteve no campo alguma vez?
HOESS: Não.
DR.KAUFFMANN: Você falou a Kaltenbrunner alguma vez sobre a sua tarefa?
HOESS: Não, nunca. Eu estive com o Obergruppenfuehrer Kaltenbrunner uma única vez.
DR.KAUFFMANN: E foi quando?
HOESS: Foi um dia após o seu aniversário no ano de 1944.
DR.KAUFFMANN: Qual a posição que você tinha no ano de 1944?
HOESS: No ano de 1944 eu era o Chefe do Departamento E1 do Escritório Central de Administração Econômica em Berlim. Meu escritório era responsável por inspecionar o campo de Oranienburg.
DR.KAUFFMANN: E qual foi o tema da conferência que você se referiu?
HOESS: Referia-se sobre um relatório do campo de Mauthausen, também chamado de sem nome, sobre o envolvimento de internos na indústria de armas. A decisão para este assunto seria tomada pelo Obergruppenfuehrer Kaltenbrunner. Por isso eu levei até ele o relatório do comandante de Mauthausen, mas ele não tomou nenhuma decisão, disse-me que faria isso depois.
DR.KAUFFMANN: No que se refere à localização de Mauthausen, por favor me diga, onde o distrito de Mauthausen se localiza? Na Alta Silésia ou no Governo Geral?
HOESS: Mauthausen...
DR.KAUFFMANN: Auschwitz, peço perdão, cometi um erro. Quero dizer Auschwitz.
HOESS: Auschwitz está situado na Polônia, após 1939 foi incorporada à província da Alta Silésia.
DR.KAUFFMANN: É correto eu assumir que a alimentação e a administração dos campos de concentração eram de responsabilidade do Escritório Central de Administração Econômica?
HOESS: Sim.
DR.KAUFFMANN: Era um departamento que era completamente separado do RSHA?
HOESS: Está correto.
DR.KAUFFMANN: E de 1943 até o fim da guerra, você era um dos Inspetores-Chefes do Escritório Central de Eonomia e Administração?
HOESS: Sim, disse corretamente.
DR.KAUFFMANN: Quer dizer que você era particularmente bem informado de tudo que acontecia nos campos de concentração relativamente ao tratamento e métodos aplicados?
HOESS: Sim

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Bombas Atômicas Nazis - Parte 2

Parte 2 de 2
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Em qualquer caso, a linha do interrogatório realizado pelo Sr. Jackson era: "Exageraram-se os relatórios sobre uma nova arma secreta para que o povo alemão seguisse decidido a continuar a guerra?"

Contudo, quando os negadores do Holocausto citam esta secção do sumário do julgamento de Nuremberg, sempre se omite este fato. Cita-se fora de contexto para tratar de fazer ver que Jackson estava acusando aos nazis de matar judeus com armas nucleares!

Por exemplo, uma página web que esteve tanto no website de Greg Raven como no de Bradley Smith até início de 1996 dizia a seus leitores que "muitas das afirmações documentadas em Nuremberg já não são aceitas por nenhum historiador razonable. Muitas destas 'atrocidades' simplesmente tem sido esquecidas". A continuação do juiz Jackson é citada da seguinte maneira:
E também se realizaram certos experimentos e pesquisas sobre a energia atômica... Um experimento... realizou-se próximo a Auschwitz... A finalidade do experimento era encontrar uma maneira rápida e total de eliminar pessoas sem as demoras e moléstias das execuções, os gaseamentos e as incinerações, como se fez, e este é o experimento segundo o qual foi descoberto. Construiu-se uma vila, uma pequena vila com estruturas temporárias, e se instalou nela uns 20.000 judeus. Por meio desta nova arma de destruição, estas 20.000 pessoas foram erradicadas quase que instantaneamente, e de uma maneira tal que não sobrou nenhum resto delas.

http://www.nizkor.org/ftp.cgi/orgs/american/oregon/banished.cpu/martin.exposed

"George Martin," princípios de 1992:

Uma citação do Sr. Juiz Jackson: "Tenho certa informação que chegou em minhas mãos sobre um experimento realizado próximo a Auschwitz, e queria lhe perguntar se você o conhecia ou ouviu falar dele. A finalidade do experimento era encontrar uma maneira rápida e total de eliminar pessoas sem as demoras e moléstias das execuções, os gaseamentos e as incinerações, como se fez, e este é o experimento segundo o qual foi descoberto. Construiu-se uma vila, uma pequena vila com estruturas temporárias, e se instalou nela uns 20.000 judeus. Por meio desta nova arma de destruição, estas 20.000 pessoas foram erradicas quase que instantaneamente, e de uma maneira tal que não sobrou nenhum resto delas; desenvolvido, o explosivo alcançou temperaturas entre 400 e 500 ºC e destruiu a todos sem deixar nenhum vestígio." Isto foi mencionado depois de falar dos experimentos nazis no campo da energia atômica. A intenção era fazer ver que os nazis os haviam mandado para eternidade com bombas atômicas. [7]

É interesante voltar à página anterior e ver que ocultam as omissões.
(Continuará...)

Engano e Tergiversação; Técnicas de Negação do Holocausto
Bombas Atômicas Nazis


Fonte: Nizkor
Tradução: Roberto Lucena
http://www.nizkor.org/features/techniques-of-denial/atomic-02-sp.html
http://www.nizkor.org/features/techniques-of-denial/atomic-02.html

domingo, 27 de abril de 2008

Bombas Atômicas Nazis - Parte 1

Parte 1 de 2
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O juiz Robert H. Jackson, que dirigia a acusação americana do Tribunal de Nuremberg, interrogou Albert Speer em 21 de junho de 1946. O Sr. Jackson estava tratando de aclarar quem tomou e como a decisão de chegar à "guerra total", a decisão dos líderes nazis de combater até que a Alemanha fosse total e definitivamente derrotada. Isto se relacionava com uma das acusações contra os réus, o de "crimes contra a paz". (Speer, casualmente, foi absolvido desta acusação na sentença, três meses depois [1]).

Este contexto - tratar de establecer os fatos da "guerra total" - converte-se em algo muito importante na página 529 da transcrição do julgamento, assim que o leitor terá que desculpar várias citações ds páginas que tratam deste ponto.

Por exemplo, Jackson perguntou acerca da proposta de retirar-se da Convenção de Genebra quando se aproximava o final da guerra. Speer comentou:

Speer: Esta proposta, como já declarei ontem, foi feita pelo Dr. Goebbels. Feita depois do bombardeio de Dresden [15 de fevereiro de 1945], mas antes disto, desde o outono de 1944, Goebbels e Ley falaram com freqüência de itensificar o esforço de guerra em todo o possível, já que me restou a impressão de que Goebbels estava tratando de usar o ataque à Dresden e a irritação que ele causou como uma desculpa para sair da Convenção de Genebra. [2]

A seguinte pergunta do Sr. Jackson tratava do desejo dos nazis de usar gás nervoso no campo de batalha:

Jackson: Bem, fez-se então uma proposta para empregar armamento químico?

Speer: não me foi possível, através de minha observação direta, saber se estava sendo preparando o emprego de armas químicas, mas soube através de pessoas que trabalhavam com Ley e Goebbels que estavam discutindo o uso dos novos gases de combate, o tabun e o sarín.[3]

As seguintes perguntas trataram da campanha de bombardeios com foguetes contra a Inglaterra, que não foi eficiente desde uma perspectiva militar, mas (se supõe) manteve a moral alemã, e então o Sr. Jackson voltou a fazer algumas perguntas sobre os gases nervosos.

Na página 529 da transcrição, o Sr. Jackson perguntou por uma história da propaganda nazi destinada a elevar a moral do povo alemão. Começamos citando uma pergunta e sua resposta anterior à história de propaganda, para que o leitor veja que não foi tirada de contexto a citação:
Jackson: Quem se encarregava dos experimentos com gases?

Speer: Pelo que eu sei, o departamento de pesquisa da O.K.H. no laboratório do Exército. Não posso dizer com segurança.

Jackson: E também se realizaram certos experimentos e pesquisas sobre a energia atômica, não?

Speer: Não haviamos chegado tão longe, por infortúnio, porque nossos melhores especialistas em pesquisa atômica haviam emigrado para América, fazendo-nos retroceder em nossas pesquisas, pelo que ainda necessitaríamos de um ou dois anos para alcançar algum resultado na fissão atômica.

O Sr. Jackson faz um comentário irônico:
Jackson: A política de expulsar da Alemanha todo aquele que não estivessem de acordo com vocês não produziu bons resultados, verdade?

Speer: Especialmente nesta área se supôs uma grande desvantagem para nós.

Então voltou à linha seguida no interrogatório:
Jackson: Tenho certa informação que chegou em minhas mãos sobre um experimento realizado próximo a Auschwitz, e queria lhe perguntar se você o conhecia ou ouviu falar dele. A finalidade do experimento era encontrar uma maneira rápida e total de eliminar pessoas sem as demoras e moléstias das execuções, os gaseamentos e as incinerações, como se fez, e este é o experimento segundo o qual foi descoberto. Construiu-se uma vila, uma pequena vila com estruturas temporárias, e se instalou nela uns 20.000 judeus. Por meio desta nova arma de destruição, estas 20.000 pessoas foram erradicas quase que instantaneamente, e de uma maneira tal que não sobrou nenhum resto delas; desenvolvido, o explosivo alcançou temperaturas entre 400 e 500 ºC e destruiu a todos sem deixar nenhum vestígio.

Você sabe algo deste experimento?

Speer: Não, e o considero improvável. Se houvêssemos estado preparando uma arma assim, eu teria sabido. Mas não tínhamos uma arma assim. Está claro que no campo da guerra química, ambos os grupos realizaram pesquisas sobre todas as armas que se possa imaginar, porque não se sabia que grupo poderia começar a empregar armamento químico.

Com sua pergunta seguinte, o Sr. Jackson aclarou porque havia perguntado por esta história, esta "informação que havia chegado em suas mãos".
Jackson: Assim, pois, exageraram os relatórios sobre uma nova arma secreta com a finalidade de que o povo alemão seguisse apoiando a guerra?

Speer: Isso foi o que foi feito, sobretudo durante a última fase da guerra. Desde agosto, ou mais ou menos junho ou julho de 1944, visitei com freqüência a frente. Visitei umas 40 divisões de primeira linha em seus setores, e não fiz mais que ver que as tropas, em igual com o povo alemão, depositavam suas esperanças em uma nova arma, armas novas e superarmas que, sem requerer o uso de soldados, sem forças armadas, outorgariam a vitória. Esta crença é o segredo que conseguiu que tanta gente da Alemanha oferecesse suas vidas, ainda que um sentimento em comum lhes dissesse que a guerra não tinha solução. Acreditavam que em um futuro próximo, essa arma iria aparecer.

Neste ponto, está claro que Jackson e Speer estavam de acordo no que os "relatórios... sobre uma nova arma secreta" tinham fins propagandísticos. Contudo, de novo para que o leitor esteja seguro das intenções de Jackson, aqui está o testemunho por completo. Speer segue dizendo:
Escrevi a Hitler sobre isto, e também intentei em vários discursos, inclusive ante os líderes de propaganda de Goebbels, combater esta crença. Tanto Hitler como Goebbels me disseram, contudo, que isto não era propaganda deles, senão que era um sentimento que estava crescendo entre as pessoas. Só aqui, quando é chegado ao banco dos réus em Nuremberg, Fritzsche me diz que esta propaganda era distribuída sistematicamente entra as pessoas através de diversos canais, e que o SS Standartenführer (Coronel das SS) Berg era o responsável. Ficaram claras muitas coisas desde então, porque este homem, Berg, era um representante do Ministério de Propaganda e com freqüência comparecia a encontros, grandes sessões de meu Ministério, dado que estava escrevendo artigos sobre estas sessões. Ali se ouviu nossos planos futuros, e se usou estes conhecimento para falar às pessoas com mais imaginação(credulidade)que verdade.

Jackson: Quando se observou que a guerra estava perdida? Tenho a impressão que você sentia que em parte era sua responsabilidade tirar o povo alemão da guerra sofrendo a menor destruição possível. Isto descreve bem sua atitude?

Speer: Sim, mas não só tinha este sentimento em face do povo alemão. Sabia de sobra que igualmente tinha que evitar a destruição que estava ocorrendo nos países ocupados. Isto era tão importante para mim desde o ponto de vista realista, que disse a mim mesmo que depois da guerra, a responsabilidade desta destruição não recairia em nós, senão no seguinte governo alemão, e nas futuras gerações alemãs.

Jackson: Você começou a ser contra as pessoas que queriam continuar a guerra até as últimas conseqüências, porque você queria que a Alemanha tivesse a oportunidade de regenerar sua vida. Não é isso? Enquanto que Hitler adotou a postura de que se ele não podia sobreviver, não lhe importava que a Alemanha sobrevivesse ou não.

Speer: É correto, e nunca antes tive a coragem de dizer isto, até que se chegou neste Tribunal não me havia sido possível prová-lo com a ajuda de alguns documentos, porque essa frase de Hitler é monstruosa. Mas a carta que lhe escrevi em 29 de março, na que confirmo isto, demonstra que ele disse isso.

Jackson: Bem, se me permite o comentário, não é novidade para nós que esse fora seu ponto de vista. Creio que se viu na maioria dos países que esse era seu ponto de vista.

Sigamos. Estava você com Hitler no momento em que ele recebeu o telegrama de Göring, no que este o sugeria que se lhe cedesse o poder? [4]

Neste momento, Jackson havia conseguido o que buscava: deixar claro que Hitler e os outros líderes nazis estavam decididos a levar adiante a guerra total.

Uma página mais adiante, Jackson descreveria a situação assim: "Você tem 80 milhões de pessoas lúcidas e sensatas que se enfrentam até a destruição; e tem uma dezena de pessoas que as levam até a destruição, e você é incapaz de lhes deter". E na página seguinte: "Bem, agora- Hitler está morto; Eu assumo que você aceita isso- já que agora só resta ao Diabo fazer seu trabalho. [...] Passemos ao Número 2, que nos é dito que estava a favor de lutar até o final". [5]

Hitler, por estar morto, não estava presente para responder as acusações pelos crimes contra a paz e por provocar uma guerra de agressão destrutiva. Mas o Número 2, Göring, sim estava. Göring foi declarado culpado de todas as acusações. [6]

Autor: Jamie McCarthy

Engano e Tergiversaçao; Técnicas de Negação do Holocausto
Bombas Atômicas Nazis


Fonte: Nizkor
Tradução: Roberto Lucena
http://www.nizkor.org/features/techniques-of-denial/atomic-01-sp.html
http://www.nizkor.org/features/techniques-of-denial/atomic-01.html

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

66 Perguntas e Respostas sobre o Holocausto - Pergunta 49

Trivialização das Leis Anti-judaicas

49. Quais eram as princípais disposições das "leis de Nuremberg" alemães de 1935?

O IHR diz:

Leis contra os matrimônios mistos e as reações sexuais entre alemães e judeus, similares as leis que existem atualmente em Israel.

Nizkor responde:

Mais mentiras anti-semitas e mais relativismo moral. Não existem leis deste tipo em Israel (ainda que o número de matrimônios mistos seja pequeno).

As leis de Nuremberg não só proibiam as relações sexuais entre alemães e judeus, castigavam-nos com a pena de morte. (Ainda que a pena estabelecida era de cárcere ou trabalhos forçados - ou ambas as coisas - alguns judeus foram executados por manter relações sexuais com alemães. Inclusive ao ser surpreendido beijando ou acariciando era razão suficiente para aplicar a pena de morte).

As Leis de Nuremberg de 1935 alteraram muitas coisas, à parte das relações pessoais. Mais adiante, nesse mesmo ano, promulgou-se um decreto baseado em uma das leis de Nuremberg (ver Hilberg, "Documents of Destruction", 1971, p. 20):

Com base no artigo 3 da Lei de Cidadania do Reich de 15 de setembro de 1935 (Gaceta Legal del Reich I, 1146), ordena-se o seguinte: ...
Artigo 4

1. Um judeu não pode ser considerado cidadão do Reich. Não pode votar em eleiçõs políticas; não pode ostentar um cargo público.

2. Todos os funcionários públicos judeus devem abandonar seu cargo no máximo em 31 de dezembro de 1935...


As leis posteriores foram muito menos sutis.

Fonte: Nizkor
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Após 60 anos, legado do Tribunal de Nuremberg permanece

Por Alan Elsner

WASHINGTON (Reuters) - Transcorridos 60 anos do início dos julgamentos de nazistas pelo Tribunal de Nuremberg, seu legado ainda reverbera em alto e bom som no direito internacional e no julgamento do ex-presidente iraquiano Saddam Hussein.

O primeiro julgamento envolveu 22 nazistas -- entre eles Hermann Goering, Rudolf Hesse e Joachim von Ribbentrop -- a partir de 20 de novembro de 1945. Três dos réus foram totalmente absolvidos e 11 outros foram absolvidos de algumas das acusações. Houve 12 condenados à morte e algumas condenações a longas penas de prisão. Goering foi condenado, mas cometeu suicídio.

"Nuremberg introduziu o conceito de que indivíduos e Estados estão sujeitos à lei internacional, inclusive com limites à soberania", disse Henry King, um dos promotores de Nuremberg. Aos 86 anos, ele continua ativo como professor de Direito na Universidade Case Western Reserve, em Cleveland (EUA).

"Em certo sentido, marcou a chegada do direito internacional como uma força a ser reconhecida no nosso planeta", afirmou.

Um recente seminário na Universidade Georgetown (Washington) explorou outros legados duradouros de Nuremberg. O tribunal rejeitou de uma vez por todas os argumentos de que os réus estavam "apenas cumprindo ordens".

Estabeleceu o genocídio como um crime organizado e também definiu como crime o planejamento, preparação, início e desenrolar das guerras de agressão -- embora sem definir agressão.

"Nuremberg modernizou as leis da guerra e criou um denominador sob o qual todos os cidadãos do mundo deveriam viver e serem julgados. Ao fazê-lo, Nuremberg lançou o movimento internacional de direitos humanos", disse King.

Ben Ferencz, 85, que foi o chefe da promotoria no julgamento seguinte, em 1947, de 24 líderes dos "Einstatzgruppen" (unidades móveis de extermínio nazistas), lembra-se de ter perguntado ao réu Otto Ohlendorf, que comandou uma operação de extermínio na Criméia, como ele justificava a morte de 90 mil civis desarmados.

"Ohlendorf disse que foi em legítima defesa. Ele disse: 'Nós sabíamos que eles planejavam nos atacar e, portanto, era prudente para nós prevenir e atacá-los"', disse Ferencz, usando palavras que têm uma estranha ressonância nos dias de hoje.

E como Ohlendorf justificava a morte de bebês? "Ele disse que, um dia, eles iriam crescer e se tornariam uma ameaça. Era portanto necessário matá-los antes que o fizessem. Mas esta idéia de matar as pessoas em legítima defesa antecipada -- os juízes disseram que isso não era defesa", afirmou Ferencz.

O CASO SADDAM

Acadêmicos vêem no tribunal de Nuremberg o embrião de todos os demais julgamentos de direitos humanos, como o do ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic, dos acusados de atrocidades em Serra Leoa, Ruanda e Timor Leste ou do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, iniciado formalmente em outubro.

Na verdade, Saddam foi a primeira pessoa desde Nuremberg a ser indiciada pelo crime de agressão, segundo Michael Scharf, também da Case Western Reserve, que participou do treinamento dos juízes no caso Saddam.

"Saddam terá direitos que nenhuma das suas vítimas teve, graças ao precedente de Nuremberg", disse Scharf. Ainda assim, esse julgamento continua sendo altamente problemático, pois dois advogados que defendiam outros réus do processo foram assassinados nas últimas semanas.

Saddam, a exemplo do que fizeram os réus de Nuremberg, contestou a legitimidade do tribunal, por se tratar de uma "justiça dos vencedores". A maioria dos alemães levou décadas para se convencer da legitimidade e imparcialidade do tribunal de Nuremberg. Segundo pesquisas anuais realizadas a partir da década de 1950 pelo governo, mas só divulgadas em 2002, até 1958 cerca de 90 por cento dos alemães achavam que os julgamentos tinham sido injustos. Foi apenas na década de 1970 a opinião popular mudou de maneira decisiva.

David Crane, ex-promotor-chefe do tribunal especial para Serra Leoa, onde nove indivíduos estão sendo julgados por atrocidades na guerra civil daquele país africano na década passada, disse que estava bastante ciente do legado de Nuremberg ao iniciar seu trabalho em Freetown, a capital, em 2002.

"Como Nuremberg e Freetown eram parecidas quando cheguei", disse ele, referindo-se à destruição física das duas cidades. "O cheiro da morte estava literalmente no ar, e foi assim nos três anos em que estive lá."

O julgamento de Serra Leoa incorporou ao léxico mais dois crimes contra a humanidade: o recrutamento obrigatório de crianças menores de 13 anos no conflito e o casamento forçado de mulheres.

Talvez a consequência mais importante de Nuremberg tenha sido a criação, em 1998, do Tribunal Penal Internacional, destinado a promover a justiça internacional e punir os responsáveis pelos crimes mais graves do mundo.

"Nuremberg criou o tribunal da Iugoslávia, que criou o tribunal de Ruanda, que criou a corte especial para Serra Leoa e Timor Leste, e agora o Tribunal Penal Internacional permanente", disse Scharf.

Ironicamente, os Estados Unidos, que insistiram na criação de Nuremberg, se opuseram veementemente ao Tribunal Penal Internacional, por verem nele uma afronta à sua soberania e independência.

Apesar da oposição norte-americana, o México tornou-se em 28 de outubro a centésima nação a ratificar o tratado que criou o tribunal.

"Essa corte não vai embora. Veio para ficar", disse David Scheffer, ex-embaixador especial dos EUA para questões de crimes de guerra. Seu conselho ao governo Bush: "Acostume-se ao tratado, supere isso e conviva com ele."

Fonte: Reuters/UOL(16.11.2005)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2005/11/16/ult729u52025.jhtm

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Depoimento de Paul Blobel em Nuremberg

Depoimento de Paul Blobel em Nuremberg - Einsatzgruppen
http://www.einsatzgruppenarchives.com/pblobel.html

Um depoimento de Paul Blobel sobre a queima de corpos e destruição dos traços dos corpos de judeu mortos pelas Einsatzgruppen:

"Eu, Paul Blobel, juro, declaro e afirmo em evidência:

1. Eu nasci em Potsdam em 13 de Agosto de 1894. De junho de 1941 a janeiro de 1942, eu fui comandante do Sonderkommando 4A.

2. Depois de eu ter sido dispensado deste comando, eu deveria reportar a Berlim ao SS Obergruppenführer Heydrich e Gruppenführer Müller, e em junho de 1942 foi-me confiada pelo Gruppenführer Müller a tarefa de destruir traços de execuções levadas a cabo pelas Einsatzgruppen no Leste. Minhas ordens eram de que eu deveria me reportar pessoalmente aos comandantes da Polícia de Segurança e SD, comunicar as ordens de Müller verbalmente e super-visionar sua implementação. Esta ordem era altamente secreta e o Gruppenführer Müller havia dado ordens de que devido à necessidade do mais alto sigilo, não deveria haver correspondência em conexão com esta tarefa. Em setembro de 1942, eu me reportei ao Dr. Thomas em Kiev e comuniquei a ordem a ele. A ordem não poderia ser executada imediatamente em parte porque o Dr. Thomas não estava disposto a executá-la, e também porque os materiais exigidos para a queima dos corpos não estavam disponíveis. Em maio e junho de 1943, eu fiz viagens adicionais para Kiev para tratar desse assunto e então, depois de conversas com o Dr. Thomas e com o líder da SS e da Polícia Hennecke, as ordens foram executadas.

3. Durante minhas visitas em agosto, eu mesmo observei a queima de corpos numa sepultura em massa próxima a Kiev. Esta sepultura tinha cerca de 55 m de compri-mento, 3 m de largura e 2-1/2 m de profundidade. Depois que a cobertura havia sido removida, os corpos foram cobertos com material inflamável e incendiados. Levou cerca de dois dias até que a sepultura queimasse até o fundo. Eu mesmo observei que o fogo havia iluminado lá no fundo. Depois disso a sepultura foi preenchida e os traços praticamente destruídos.

4. Devido ao levantamento das linhas de frente, não foi possível destruir as sepul-turas em massa mais distantes ao sul e ao leste, que haviam resultado de execuções pelas Einsatzgruppen. Eu viajei para Berlim em conexão com esse relatório, e foi enviado para a Estônia pelo Gruppenführer Müller. Eu comuniquei as mesmas ordens ao Oberführer Achammer-Pierader em Riga, e também ao Obergruppenführer Jeckeln. Eu retornei para Berlim a fim de obter combustível. A queima dos corpos começou somente em maio ou junho de 1944. Eu lembro que as incinerações ocorreram na área de Riga e Reval. Eu estive presente em tais incinerações próximas a Reval, mas as sepulturas eram menores ali e continham somente cerca de vinte a trinta corpos. As sepulturas na área de Reval estavam a 20 ou 30 km a leste da cidade, num distrito pantanoso e eu acho que quatro ou cinco sepulturas foram abertas e os corpos queimados.

5. De acordo com as minhas ordens, eu deveria ter ampliado minhas obrigações pela área inteira ocupada pelas Einsatzgruppen, mas devido à retirada da Rússia, eu não pude executar minhas ordens completamente...

Nuremberg, 18 de junho de 1947
//assinado// Paul Blobel

Fonte: Berenbaum, Michael, editor. Witness to the Holocaust. New York: HarperCollins. 1997. pp. 143-144
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Holocaust/blobel1.html
Tradução: Marcelo Oliveira
http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/6262

domingo, 5 de agosto de 2007

Testemunho de Albert Speer e Holocausto

Testemunho de Albert Speer
Tópico: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=295037&tid=2438044408984177223

Albert Speer,(1) um dos confidentes mais próximos de Hitler e Ministro de Armamentos do Terceiro Reich, o qual foi condenado a 20 anos de prisão no Julgamento de Nuremberg pelos maiores crimes de guerra alemães, numa declaração, jurada e assinada em Munique no dia 15 de Junho de 1977, depôs como se segue: (2)================================================

"O ódio aos judeus era o motor e ponto central de Hitler talvez até o mesmo elemento que o motivou. O povo alemão, a grandeza alemã, o Império, todos eles não significavam nada para ele em última análise. Por esta razão, ele desejava na sentença final de seu testamento, fixar para nós alemães, até depois da queda apocalíptica um miserável ódio aos judeus.

Eu estava presente na sessão do Reichstag(Parlamento Alemão)de 30 de Janeiro de 1939, quando Hitler nos assegurou que em caso de guerra, não os alemães, mas os judeus seriam aniquilados. Esta sentença foi pronunciada com tal certeza com a qual não eu não senti permissão de questionar sua itenção de levar isso adiante. Ele repetiu este aviso de suas intenções em 30 de Janeiro de 1942, num discurso que também conheço: A guerra não terminará, como os judeus imaginariam, pela extinção dos povos arianos europeus, e sim que isso resultaria na aniquilação dos judeus. Esta repetição de suas palavras de 30 de Janeiro de 1939 não era a única. Ele recordaria com freqüencia em sua jornada desta sua sentença.

Quando o discurso das vítimas dos bombardeios, particularmente depois dos ataques massivos a Hamburgo no Verão de 1943, ele reiterou diversas vezes que se vingaria dessas vítimas sobre os judeus; apenas como se o terror-aéreo contra a população civil simplesmente o satisfizesse daquilo no qual tratou como uma motivação substituta tardia para um crime decidido bem antes e emancipado sob diferentes camadas de sua personalidade. Apenas como se ele procurasse justificar seus próprios assassinatos em massa com essas observações.

Sempre e quando Hitler tinha surtos de ódio, havia ainda esperança para uma mudança para direções moderados. No entanto, era a firmeza e a frieza que faziam que seus rompantes contra os judeus que então convencessem. Em outras áreas quando ele anunciava decisões terríveis com uma voz fria e calma, aqueles ao redor dele, e eu mesmo sabíamos que as coisas haviam se tornado sérias agora(irreversíveis). E com apenas esta superiodade fria ele declarava também, quando almoçávamos ocasionalmente juntos, que ele havia acertado a destruição dos judeus da Europa.

No verão de 1944, o Distrito Líder da Baixa Silesia, Karl Hanke, fêz-me uma visita. Hanke havia se distinguido por seu valor nas campanhas Poloca e Francesa. Ele não era certamente uma pessoa de se assustar facilmente. No entanto era um momento particular, quando, naquela época, ele me contou de uma maneira chocante, que coisas monstruosas estavam acontecendo em campos de concentração de seu distrito vizinho, Alta Silesia. Ele disse que estava lá e nunca seria capaz de esquecer que atrocidades ele tinha presenciado ali. Obviamente, ele não mencionou qualquer nome, mas ele quis mencionar Auschwitz na Alta Silesia. Da agitação deste soldado de batalha experiente, eu pude concluir que algo não declarado se sucedia ali, e que isso podia fazer este velho líder do partido de Hitler a perder sua calma.

"O método de trabalho de Hitler era que ele dava inclusive importantes comandos a seus confidentes verbalmente. Também nas gravações de membros de minhas entrevistas com Hitler completamente perservados no Arquivo Federal Alemão(German Federal Archives) - havia numerosos comandos até em importantes áreas aos quais Hitler claramente deu por palavra oral apenas. No entanto isso se conforma com seu método de trabalho e não deve ser encarado como um descuido, de que não existe uma ordem escrita para o extermínio de judeus."

Aqueles internos judeus dos campos de extermínio que foram assassinados foi estabelecido na Corte(IMT), por testemunhos e documentação, e de fato o feito não é seriamente contestado por qualquer dos acusados. O discurso de Himmler antes dos líderes das SS de 4 de Outubro de 1943, ao qual claramente ilustraram os êxitos nos campos de extermínio, não foram desacreditados como falsificados pela defesa, como sucedeucom o Protocolo Hossbach.

Frank nunca disputou a genuidade de seu diário que por sua própria admissão, ele se entregou aos americanos na ocasião de sua detenção. O diário contém observações provando que os judeus que na Polônia estavam, a exceção de um restante de 100 mil, foram aniquilados. O acusado também aceitou aquelas declarações de Frank e a crítica foi limitada a estupidez da entrega deste diário de incriminação aos oponentes.

Schirach confirmou numa conversa confidencial já durante o julgamento, que ele estava presente no discurso que Himmler deu aos líderes de distrito em Posen(em 6 de Outubro de 1943), no qual Himmler claramente e inequivocadamente anunciou que a matança projetada dos judeus havia sido realizada em grande parte. Ele retornou a este tema, que pesou em sua mente também durante seu encarceiramento em Spandau.

Em seu endereçamento final a Corte, Goering falou dos sérios crimes os quais haviam sido revelados durante o julgamento e condenou as atrocidades dos assassinatos em massa que segundo ele escapava a sua compreensão. Streicher também condenou os assassinatos em massa de judeus em seu direcionamento final. Para Fritzche, também em seu pronunciamento final, o assassinato de cinco milhões era um terrível alerta para o futuro. Estas palavras do acusado apoiou minha contenção no Julgamento de Nuremberg de que tanto os acusados como também a defesa reconheceram como fato que assassinatos em massa de judeus haviam ocorrido.

Todavia o Julgamento de Nuremberg para mim hoje está parado como uma tentativa de romper-se a um mundo melhor. Todavia reconheço hoje como genericamente corretas as razões de minha sentença pelo Tribunal Militar Internacional. Por outra parte, eu ainda hoje considero como justo aquilo que assumi a responsabilidade e assim a culpa por tudo aquilo foi perpetrado daquela forma, falando genericamente, crime, depois de minha estrada no Governo de Hitler em 8 de Fevereiro de 1942. Não os erros individuais, sepulcro como eles podem ser, pois estão carregando minha consciência, mas por minha atuação na direção. No entanto, eu para minha pessoa, tenho no Julgamento de Nuremberg, confessado a responsabilidade coletiva e também estou mantendo isto até hoje. Todavia vejo que minha culpa principal reside na minha aprovação da persecução dos judeus e do assassinato de milhões deles."

(assinado)ALBERT SPEER

Munique,
15 de Junho, 1977

1 Speer is the author of his memoirs, Inside the Third Reich. NY: Touchstone Books, 1997.
1 Speer é o autor de suas memórias, 'Inside the Third Reich'(Por dentro do 3o Reich). NY: Touchstone Books, 1997.

2 This affidavit is in German and what follows is a duly certified translation. A facsimile of the original affidavit in German is included here as Appendix III.
2 Esta declaração está em alemão e o que segue é uma tradução(pro inglês)devidamente certificada. Uma cópia da declaração original em alemão está incluída aqui como Appendix III.

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Fonte: Suzman, Arthur e Denis Diamond. 'Six million Did Die'(Seis milhões Morreram). Johannesburg, 1978.

http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Holocaust/speer.html
Tradução: Roberto Lucena

Observação: no tópico original no final é digitado 'assassinato de milhares deles' ao invés de 'assassinato de milhões deles'(forma correta)por erro de revisão da tradução do original na época.

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