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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A memória viva de Stepan Bandera (o fascista antissemita "herói nacional" na Ucrânia)

A memória viva de Stepan Bandera
por Paulo Marcelino, p.marcelino@netcabo.pt

Imagem de Stepan Bandera.
Líder de grupo fascista ucraniano
Em Lvov, ou Lviv, no final de Janeiro foi realizada uma homenagem a Stepan Bandera, nacionalista ucraniano que liderou um movimento de guerrilha nas décadas de 1930 a 1950 pela independência da Ucrânia. O seu lema principal era "limpar" a Ucrânia de indivíduos de outras nacionalidades, em especial de russos e polacos, embora as suas atividades de "purificação" étnica se estendessem a ciganos, húngaros, checos e judeus. Colaborou na altura ativamente com o exército alemão na altura da ocupação nestas ações.

A região da Volynia-Galitsia é uma extensa região da Ucrânia ocidental, sul da Polônia e Lituânia. Foi aí que no século XIV Danilo Galitsi fundou um estado efêmero que perdurou cerca de 100 anos até ser dominado por polacos, lituanos e pelas invasões mongóis.

Será esta a gênese da atual Ucrânia, as origens históricas da sua nacionalidade, que se desenvolveu bem mais tarde em termos de literatura, língua e cultura autônoma.

Já a cidade de Lvov, ou Lviv em ucraniano foi fundada por um nobre polaco, Lev, em 1256 e significa literalmente "dos Leões" de lev, leão. Essa zona do país esteve grande parte sob influência polaca, mas também sob domínio letão e do império austro-húngaro.

Nota disso o teatro de Lviv, réplica do mesmo em Viena, magnificente e belo.

Pertança da Polônia até 1939, quando os russos invadiram a região ao encontro do exército alemão que em 1 de setembro de 1939 invadiu a Polônia, pensando Stalin que criara uma zona tampão para o futuro avanço do exército alemão na Rússia soviética, por mais obtusa que esta ideia se tenha provado.

Em 1933 Stepan Bandera cria um movimento revolucionário com vista à instauração de um estado ucraniano puro, onde não tinham lugar outras nacionalidades.

Criou pouco depois o Exército de Libertação da Ucrânia (bandeiras vermelho/negras visíveis nas manifestações transmitidas pela TV), que atuou ativamente a partir de então.

A missão era no fundo uma limpeza étnica, forçando fundamentalmente os polacos a saírem dessas zonas geográficas. Quando os alemães nazis invadiram a União Soviética, foi um ativo colaboracionista.

Foi nessa altura que as suas "limpezas" deram mais resultado. Estima-se que cerca de 70000 polacos foram exterminados, apesar de uma relação dúbia com os judeus, também participou na sua exterminação; às suas mãos "desapareceram" cerca de 200.000 judeus.

A colaboração cessou em 1943, pois foi entretanto preso pelos próprios alemães, mas em 1944 o exército soviético entrou e ele reiniciou as suas atividades bélicas na zona.

Aproveitando o esforço militar a ocidente, o seu movimento guerrilheiro cresceu em atividade e de fato no final dos anos 40 ocupou uma região de cerca de 160000 km2 na zona.

Progressivamente o novo poder soviético foi tomando conta da situação e o movimento decresceu em importância militar, confinou-se a pequenos grupos de guerrilha nas montanhas dos Cárpatos (de uma beleza digna de visita) e pereceu já na década de 50, Lviv esteve sob lei marcial até 1955.

Stepan Bandera foi assassinado pelos serviços secretos soviéticos no final de Janeiro de 1959 em Munique, efeméride que foi relembrada em Lviv.

O movimento "Svoboda" da atual contestação ucraniana não relega as ideias de limpeza étnica de Stepan Bandera. O seu líder foi a semana passada espancado algures na Ucrânia e prontamente assistido na Lituânia.

Os movimentos do ex-boxeur Klitshko (com o curioso nome de UDAR, que significa MURRO) e de Iatseniuk desmarcaram-se deste movimento mais extremista.

Mas observando com atualidade tudo isto, parece que a Europa revive os momentos de 1933, ano da chegada ao poder do partido de Adolf Hitler.

A aposta no nacionalismo e na pureza da raça, faz eco no crescendo de nacionalismos europeus estúpidos, materializados no recente referendo Suíço, mas também em Le Pen, no Sobbit (Jobikk) húngaro ou na Aurora Dourada grega.

A contestação ucraniana, não isenta de razão ou justificação, se entendida contra um poder de oligarcas com negócios florescentes no Ocidente, aproveita as diferenças seculares entre etnias e nacionalidades, que em vez de funcionarem com impulso para um mundo livre, multicultural e daí interessante, funciona como uma separação irreparável que só serve a desagregação, o conflito e a dependência externa.

Será a Ucrânia a próxima Iugoslávia? Sob o imparável impulso alemão que conquista territórios sem uso da força? Ou caminhamos para um impensável futuro próximo.

Que se recorde Stepan Bandera como europeu da década de 30 e 40, pré-guerra e que se tirem os devidos ensinamentos.

Que estes fatos não se esqueçam hoje, para que na nossa memória fiquem os momentos mais marcantes da nossa maior fragilidade e nossa maior fortaleza: que se preservem as diferenças em nome de uma Europa unida pela diferença e pela diversidade. E que estende de Lisboa a Vladivostok, como dizia De Gaule.

E aguardemos o fim das Olimpíadas de Sotshi, após o que tudo se esclarece e o verniz estala; para recordar a história daquela zona geográfica, tudo é escrito sobre muitos cadáveres...

Fonte: Diário de Notícias (Portugal)
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/jornalismocidadao.aspx?content_id=3693616&page=-1
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Correção: sobre a foto com um agrupamento nazista onde eu apontei (tacitamente) que o do centro seria o Bandera, agradeço a correção feita aqui que aponta que o nazi ao centro é Reinhard Gehlen.

Eu gosto de colocar fotos nos posts e muitas vezes na pressa não dá pra checar todas (se não é foto de um assunto muito específico como foto do genocídio, muitas vezes confiro pelo "tato"), encontrei a foto dos nazis acima numa página de um grupo que denuncia atrocidades deste grupo fascista do Bandera contra poloneses (étnicos) na Ucrânia na época da segunda guerra, só que não lembro o link (acha-se fácil no banco de imagens do Google pelo nome "Stepan Bandera"). De cara achei estranha a foto, apesar dos dois terem algumas semelhanças físicas, porque o fardamento do Gehlen é de oficial da Wehrmacht (exército), que tem aquela águia com a suástica aos pés no fardamento e outras insígnias de oficial de exército, o Bandera não usaria fardamento de oficial do exército alemão.

Como o Bandera era ucraniano, só poderia 'lutar' com os nazis, ou no próprio agrupamento fascista dele (UPA) ou pela Waffen-SS como voluntário estrangeiro, sendo que os voluntários estrangeiros da Waffen-ss não usavam este fardamento de oficial da Wehrmacht, e na gola, em vez do emblema da SS (que só alemães usavam) cada unidade com voluntários de vários países usava uma insígnia pra cada grupo étnico ou país. Só como exemplo, mirem a gola deste agrupamento croata da Waffen-SS, não consta o SS dos oficiais alemães.

Este é um voluntário sueco, mirem a gola com a insígnia da unidade sueca da Waffen-SS. Curiosamente achei um voluntário finlandês com uma insígnia da SS (não só essa foto, algumas), embora a unidade finlandesa possuísse sua insígnia, mas o normal seria usar a insígnia étnica do grupo ao qual ele pertence pela classificação racista nazista.

Este assunto do uniforme é um assunto a ser tratado depois pois. Apesar de aparentar ser banal, o assunto é relevante para identificar os diversos grupos nazis em fotos pois há uma campanha de "revisionistas" (negacionistas) tentando alegar que estrangeiros que eram vistos como inferiores pela doutrina racista nazista seriam "aceitos" pelo exército alemão e isso colocaria em "cheque" o racismo nazista. É algo tão ridículo que eles nem sequer comentam quais e como/de que forma esses grupos eram aceitos no esforço de guerra nazista. Leiam este texto que trata do assunto (ainda falta completar a tradução inteira dividida em partes):
O Fenômeno dos Voluntários (tropas multiétnicas do Terceiro Reich) - parte 01
O Fenômeno dos Voluntários (tropas multiétnicas do Terceiro Reich) - parte 02

A Waffen-SS era o braço militar (tropa) da SS (Schutzstaffel) que era a milícia do Partido Nazi, não eram parte do Exército alemão (Heer) embora tenham lutado juntos.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Demografia e assassinato em Volínia-Podólia - 2

Indo além da Parte 1, abaixo apresento oito fontes de evidências que convergem sobre a conclusão de que os alemães exterminaram os judeus restantes de Volínia-Podólia durante o período de agosto-outubro de 1942.

1) Havia 326.000 judeus na região de Volínia-Podólia em maio de 1942:
NAW RG 238, T- 1 75, lista 235 do relatório dos territórios ocupados do leste No. 5, 29 de maio de 1942 dá a estimativa de 326.000 judeus em Volínia-Podólia (Dean, p.195)
2) Puetz para o Aussenstellen der Sipo/SD, 31/8/42 [Browning, p.136]:
As ações estão sendo aceleradas, de modo que elas serão completadas em sua área dentro de cinco semanas. No encontro do Gebeitskommissaren em Luzk entre 29-31 de agosto de 1942, foi explicado em termos gerais que em princípio uma solução de 100% está sendo realizada.
3) Meldung 51:
c) judeus executados [Ago-Set-Out-Nov-Total] 31.246 165.282 95.735 70.948 363.211
Kruglov detalha completamente os 363.211 como se segue:
a) O total de novembro é de principalmente Bezirk Bialystok

b) Dos 292.263 mortos antes de Novembro, aproximadamente 70.000 estavam no atualmente em Belarus, parte da RKU, o resto estava atualmente na Ucrânia

A concentração de assassínios em setembro iniciou com a instrução de Puetz para conduzir as ações "em sua área dentro de cinco semanas."

4) Browning
O relatório mensal do comando militar de armamentos, Volínia-Podólia, Outubro de 1942, em: Bundesarchiv-Militärarchiv Freiburg, RW 30/15. (Im Oktober 1942 fanden nun in Wolhynien die grossen Judenevakuierungen statt, durch die aus allen Betrieben die Juden restlos entfernt wurden, sodass die Betriebe auf kürzere oder längere Zeit vollkommen zum Erliegen kamen, bezw. die Fertigung bis auf Bruchteile zusammenschrumpfte.)
Tradução:
Então, em outubro de 1942, havia evacuações de judeus em larga escala na Volínia como um resultado de que cada judeu foi removido de todas as fábricas, e as fábricas vieram a ficar paradas por um tempo mais curto ou mais longo, ou a produção diminuia a uma mera fração.
Isto indica que os estágios finais das ações de assassínio iniciadas por Puetz foram completados em Outubro.

5) Relatórios policiais alemães copiados de arquivos poloneses (Shmuel Spector, p.173; Dean, p.93)

6) Interrogatório do Sturmscharfuehrer Wilhelm Rasp 18 Dec 1961 (ZSL 204 AR-Z 393/59 Vol. II, pp. 173-94) confirmando detalhes das ações policiais (Dean, p.93).

7. As investigações de valas comuns no blog sobre valas comuns na Polésia do Nick

8. Browning mostra que assassínios foram ordenados por cima da administração civil, que protestou que eles ainda precisariam do trabalho judeu:
Informado do iminente "reassentamento do total dos judeus" (generelle Umsiedlung der Juden), o SS e o Polizeistandortführer em Brest-Litovsk, Friedrich Wilhelm Rohde, implorou: "Na medida em que a questão judaica é solucionada em Brest, eu antevejo dano econômico severo resultante da ausência do trabalho." Ele era apoiado pelo comissário local (Gebietskommissar) Franz Burat: "através do reassentamento total dos judeus do Kreisgebiet é desejável do ponto de vista político, do ponto de vista da mobilização de trabalho, que eu deva implorar incondicionalmente para deixar a maioria dos artesãos necessitados e a força de trabalho."53

Estes apelos eram em vão. Em 15-16 de outubro de 1942, os 20.000 judeus de Brest, incluindo os 9.000 trabalhadores, foram mortos.54 A guerra diária e os relatórios do Regimento de Polícia 15 mostram que os judeus trabalhando nos campos e em fazendas do estado na região também foram executados.
Assim, o aspecto da autonomia local do Holocausto tinha claros limites em Volínia-Podólia, como em outro lugar.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto(inglês): Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2009/02/demographics-and-killing-in-volhynia_25.html
Tradução(português): Roberto Lucena

sexta-feira, 6 de março de 2009

Demografia e assassinato em Volínia-Podólia (Parte 1: 1941)

Documentos listando assassinatos em massa no oeste da URSS, tais como os relatórios dos Einsatzgruppen, Meldung 51 e relatórios policiais, não tem valor isolando-os de um contexto demográfico. Eles devem ser lidos em conjunto com os relatórios demográficos que mostram isso, por exemplo, havia 326.000 judeus na região da Volínia-Podólia em maio de 1942 (Dean, p.195); e havia 18.000 judeus em uma daquelas cidades maiores da região, Brest, em 28 de fevereiro de 1942 [Bundesarchiv Berlin R 94/6 Ernauhrungsamt Brest-Litowsk, Statistischer Bericht 28/2/42, citado por Browning, p.124]. Similarmente, relatórios demográficos e de assassínios em Volínia-Podólia são apoiados por evidência de valas em massa, como Nick mostrou com grande profundidade por volta de 2006. Abaixo eu apresento mais algumas provas da convergência entre essas fontes, tiradas primeiramente do estudo de Browning sobre Brest (Capítulo cinco desta coleção).

Browning demonstrou uma correspondência próxima entre a redução na população de Brest (de 59.600 em setembro39 a 50.000 em novembro41) e o número total de assassinatos para Brest listados nos relatórios da Situação Operacional. Eu resumi as estimativas de Browning em duas tabelas em meu post aberto nesta discussão do RODOH.

A principal ação de assassinato em Brest em 1941 é resumida por Longerich:
2.6.4 O Batalha de Polícia 307 matou vários milhares de civis judeus em Brest-Litovsk próximo a 12 de julho; quase todos eles eram homens entre 16 e 60, era uma provável "medida de punição" (Vergeltungsmaßnahme). Imediatamente antes do massacre, Daluege, o Chefe do Centro de Regimento de Polícia, Montua, Bach-Zelewski e mais Altos líderes da SS tinham se reunido em Brest.
Browning afirma que a inspiração por detrás desses assassinatos não vinha nem totalmente de cima para baixo nem de baixo para cima. Ao contrário, Himmler e seus subordinados aprenderam com as medidas tomadas em fins de junho por PB 309 em Bialystok e Stapo Tilsit na Lituânia.

A relação entre o centro e a região podia então ser uma relação dinâmica. Entretanto, a narrativa de Browning também mostra que o centro ultimamente teria forças quando as decisões finais de assassínios fossem cumpridas até metade de 1942. Isto será tema da parte 2 desta série.

ADENDO: 6 de março de 2009.

Desde que escrevi o texto acima, eu tenho me tornado mais crítico da interpretação de Browning das fontes de Brest que ele cita, e sua omissão de outras importantes fontes. Minha revisão da interpretação da evidência para Brest é dada neste post no RODOH.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto(inglês): Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2009/02/demographics-and-killing-in-volhynia.html
Tradução(português): Roberto Lucena

Próximo>> Demografia e assassinato em Volínia-Podólia (Parte 2: 1942)

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