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segunda-feira, 14 de abril de 2014

A internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio, diz Umberto Eco

Eu não irei colocar o texto todo com a entrevista dele pois é longo e o que achei interessante no texto foi mais a parte que toca num ponto crucial da internet. O Umberto Eco tocou num problema central da web: a internet é perigosa para pessoas que não possuem critérios sobre o que ler ou que não têm interesse em aprender. E há os que tem dificuldade inclusive em achar notícias.

Acho que foi isso que ele quis dizer com a frase ao usar o termo "ignorante" e "sábio". Infelizmente é uma verdade e uma triste constatação, ele conseguiu deduzir um problema corriqueiro (e sério) do uso da rede que muita gente tenta explicar e ele detalhou a questão em poucas linhas. Isso diz respeito não só à questão do "revisionismo" como de qualquer assunto referente à política e História.

Quem quiser ler a entrevista inteira pode conferir neste link. Como não achei edição dessa entrevista em algum site estrangeiro com algo similar a esta afirmação dele (a entrevista foi exclusiva pra revista), então o jeito foi colocar este texto da revista a contragosto.

Explico o motivo do "a contragosto": eu já comentei antes que ando evitando colocar coisas publicadas pela mídia brasileira sobre esses assuntos (extrema-direita, nazismo, Holocausto etc) por considerar que o nível de partidarismo da grande mídia do Brasil (salvo exceções) chegou a um patamar crítico que já beira o descrédito quase total da mesma, além de outras questões que não vou discutir neste post. A mídia brasileira (generalizando) vive numa "bolha", alheia à realidade, parece um personagem do Show de Truman (quem não assistiu o filme pode acessar o link anterior que tem um resumo do filme, mas vale a pena assistir pois só de ver o filme entenderão a analogia), onde ela acha que manipula todo mundo subestimando o senso crítico da população. É um mau hábito adquirido desde o tempo da ditadura (1964-1985) ou antes dela.

A mídia (generalizando) age assim por algumas razões óbvias, como por saber sobre o baixo grau de erudição do povo e de uma certa aversão de muita gente em discutir civilizadamente questões políticas pra aprender etc e chegar a um denominador comum, refiro-me as pessoas comuns e não a radicais políticos. Este comportamento "autista" da mídia não anula o fato de que esta mesma população esteja desenvolvendo um senso crítico do que leem e ouvem como noticiário (é o que está ocorrendo), de forma lenta, mas está, daí o descrédito cada vez aumentando diante de mídia manipulada.

Se eu conseguir achar alguma entrevista do U. Eco similar a essa em algum site estrangeiro, eu trocarei o texto, mas por considerar que essa informação é mais importante que minha "birra" (que não é birra, é opinião formada mesmo), abrirei mais esta exceção. Mas pretendo manter a política de evitar ao extremo textos da mídia brasileira, de forma indenida, até que (quem sabe) mudem de postura e deixem o partidarismo rasteiro e alienante de lado.

Mas alguém pode chegar e dizer: "Ah, você está sendo generoso ou ingênuo ao achar que irão mudar de postura", bom, primeiro que não se trata de ingenuidade e nem de generosidade adotar essa postura, da mesma forma que não mudarem, eu também não mudo de postura e mantenho essa política de evitar textos da mídia brasileira. Até que provem o contrário, as pessoas são livres no país pra ler e repassar o que quiserem, portanto... quem não gosta, paciência. O velho e bom "bateu, levou" muitas vezes costuma funcionar.

Mas sem delongas (só que infelizmente tenho que deixar registrado a opinião acima porque de fato estou colocando isso a contragosto), segue abaixo o trecho que destaco da entrevista do Eco com uma crítica ao uso da internet, e que cabe perfeitamente ao caso brasileiro (e de maioria dos países) e o quanto se vê gente lendo bobagem sem usar uma "peneira" (critério) pra filtrar informação, achando que estão aprendendo ao repetir como papagaios panfletos e informação distorcida.
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A internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio, diz Umberto Eco

Em 2011, aos 80 anos, Umberto Eco concedeu uma entrevista à revista Época onde comentou sobre os prós e contras da internet como ferramenta formadora de indivíduos leitores críticos e/ou analfabetos funcionais. E sobre a acessibilidade do conhecimento possibilitada pela mesma. Confira abaixo a reprodução desta entrevista e não deixe de compartilhar conosco a sua opinião sobre o assunto.

ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?

Eco - A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento.

ÉPOCA - Mas o conhecimento está se tornando cada vez mais acessível via computadores e internet. O senhor não acha que o acesso a bancos de dados de universidades e instituições confiáveis estão alterando nossa noção de cultura?

Eco - Sim, é verdade. Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.

ÉPOCA - Há uma solução para o problema do excesso de informação?

Eco - Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

[Pausa Musical] - Helene Fischer - Russian Medley (Russisches Medley)

O youtube é uma maravilha, o que a gente acha de música lá é algo fora de série. Vou "homenagear" novamente os "revis" na Pausa Musical com músicas que ele certamente irão odiar (rsrsrs).

Essa cantora alemã nasceu na Rússia, mais precisamente na Sibéria (de uma comunidade alemã que vivia por lá e emigrou pra Alemanha na reunificação da mesma ou nos anos oitenta, citando de memória), a cantora se chama Helene Fischer e muito provavelmente por ela falar russo, nos shows dela ela sempre canta um medley com músicas folclóricas da Rússia, várias delas conhecidas. Segue abaixo no vídeo um medley do show de 2011 dela com três músicas, Poluschko Pole/Lutsche Bulo/Dorogoj Dlinnoju. A última das três (Dorogoj Dlinnoju), apesar de assustar ao ler o nome, é bem conhecida no Brasil através de versões e se tornou mundialmente popular com a versão em inglês de Mary Hopkin com o título de Those were the days, no Brasil essa música costumava tocar muito num programa de auditório do SBT. Como curiosidade, Mary Hopkin na época que essa música estourou era um lançamento da Apple (empresa dos Beatles).

Mais um detalhe da terceira música do medley: aparentemente trata-se de uma música cigana russa, ou pelo menos é reclamada como tal, só que tem oficialmente compositor (Boris Fomin) e a letra é um poema de outro autor, por isso que disse (ironizando, pois a maioria deles nem iria saber se não citasse) que os "revis" não iriam gostar, rs.

Sobre a cantora, é uma beleza por completo (em todos os sentidos, se me entendem)... Vão entender o comentário quando assistirem o vídeo, (rs). Muita gente reclama que só passa porcaria (músicas) na TV brasileira (o que é verdade), então reclamem menos (gente pra gostar de "mimimi"), desliguem a TV e vão à caça de bandas/cantores e músicas pela internet.

Helene Fischer - Russisches Medley: Poluschko Pole/Lutsche Bulo/Dorogoj Dlinnoju

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Peça teatral questiona preservação de tradições por colônias alemãs

"BRASILIEN.13 caixas", da diretora alemã Karin Beier e em cartaz em São Paulo, toma como base colônias de descendentes de alemães no Brasil para forçar o debate sobre tradições, segregação e integração social.

Foi lendo sobre a história de Hamburgo, onde dirige a companhia de teatro Deutsches Schauspielhaus Hamburg, que a diretora Karin Beier entrou em contato pela primeira vez com a questão da imigração alemã no Brasil. Na Alemanha, integração de estrangeiros é ponto constante de debate – e analisar o comportamento dos imigrantes alemães no exterior é uma forma de jogar luz sobre o tema.

Beier foi então a Joinville, onde entrevistou diversos descentendes de alemães. Nas entrevistas, as pessoas contaram a história de suas vidas e de seus antepassados. O material serviu de base para o projeto teatral BRASILIEN.13 caixas, em cartaz em São Paulo e que aborda – sempre levantando questionamentos – temas como integração e segregação.

"Queria ver como os alemães se envolveram em outras sociedades", disse Beier à DW Brasil. "O que mais me impressionou é como [parte dessa] comunidade é fechada, mas de uma maneira negativa. Eles estão na sexta geração e não se misturam. Eles mantêm a cultura e a tradição alemã de uma maneira muito limitada. Esse é exatamente o comportamento oposto que nós, alemães, esperamos das pessoas que deixaram a Alemanha."
Elenco de "BRASILIEN.13 caixas" conta com atores brasileiros e alemães

Em meados do século 19, um grupo privado chamado Hamburger Kolonisations-Verein (associação de colonização de Hamburgo) tinha como objetivo ampliar seus negócios levando migrantes ao Brasil em navios que viajavam vazios em busca de matérias-primas.

O movimento migratório deu origem à colônia alemã Dona Francisca, atual Joinville, em Santa Catarina. Hoje, muitos dos descendentes dos fundadores da colônia ainda vivem na região e tentam manter vivas as tradições e crenças de seus antepassados – de forma questionável, na opinião da diretora.

"Chega um ponto em que temos que questionar o conceito de identidade nacional", diz Beier. "O que é interessante é que, em pequenos comentários, e não nas histórias em si, você percebe nuances de arrogância no comportamento dessas pessoas, quase como um sentimento de superioridade."

O espetáculo é construído como uma crítica à preservação – mesmo depois de seis gerações – de tradições que não pertencem mais aos dias de hoje. "Acredito que manter tradições de maneira tão forte em um país estrangeiro é uma atitude tipicamente alemã", opina.
No placo, atores se apresentam como peças de museu

"Conversei com muitos idosos em Joinville e tive a impressão de que eles eram como peças de museu e não pessoas que vivem hoje, no mundo real. Eles conservam algo que não pertence aos dias de hoje. Assim nasceu a ideia de criar uma 'exposição humana' no palco. Essas pessoas não estão apenas em uma vitrine, mas intocáveis em uma espécie de cápsula", explica.

O palco como museu

O espetáculo é dividido em duas partes. A primeira funciona como um museu. A diretora buscou inspiração nas exposições humanas que aconteciam na Europa no final do século 19, quando negros, índios e outras minorias eram exibidos como animais em um jardim zoológico.

O público pode andar entre as caixas e observar os atores. Eles recebem um fone de ouvido e podem escolher o número da caixa que querem ouvir. Os textos foram construídos com fragmentos das entrevistas feitas em Joinville.

"Em um primeiro momento, os atores estão apenas sentados, depois começam a bater no vidro para chamar a atenção dos espectadores. O público decide se quer ouvir diversas histórias de uma mesma pessoa ou passear entre diferentes histórias. Ninguém consegue ouvir tudo, pois as histórias não se repetem", conta.

Em certo momento, os "guardas" do museu pedem que as pessoas tomem seus lugares, dando início à segunda parte do espetáculo. Entre as caixas, uma atriz sobe ao palco e começa o monólogo escrito especialmente para a ocasião pela escritora austríaca Elfriede Jelinek, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2004.

A diretora enviou e-mails para a autora sobre as experiências que teve em Joinville e perguntou se ela estaria interessa em escrever um epílogo para o espetáculo.

"A segunda parte é muito importante porque o texto de Jelinek fala sobre a arrogância alemã. Ela está sempre muito interessada em criticar o comportamento alemão. Em alguns pontos, você percebe que o texto foi baseado nesses relatos, mas ela escreve de uma maneira muito livre. O texto é excelente", diz a diretora.

Durante o texto de Jelinek, em um dos momentos finais do espetáculo, crianças de diversas etnias entram no palco. Elas estão curiosas para ver as pessoas dentro das caixas. "Nesse momento, os alemães começam a cobrir os vidros com fotos tipicamente alemãs, fechando-se ainda mais em seu pequeno ninho", completa Beier.

"BRASILIEN.13 caixas" está em cartaz no Sesc Pompeia em São Paulo até 7 de julho. O espetáculo tem previsão de estreia em Hamburgo em janeiro de 2014.

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/pe%C3%A7a-teatral-questiona-preserva%C3%A7%C3%A3o-de-tradi%C3%A7%C3%B5es-por-col%C3%B4nias-alem%C3%A3s/a-16922266

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Pintor Anselm Kiefer recebe Prêmio da Paz por cultuar o livro

(Foto)Anselm Kiefer no seu ateliê em Barjac, no sul da França

O alemão Anselm Kiefer é o primeiro pintor e escultor a receber o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão. Ao valorizar a forma do livro em sua obra, o artista aponta sua permanência como forma de transmissão de saber.

Em suas obras de arte, ele desenvolveu uma linguagem "que transforma o observador em leitor". Por meio de instalações que aludem a textos, ele tornou o livro um "suporte decisivo da expressão".

(Foto)'Livro com Asas', 1992–94

"Contra o derrotismo que se atreve a negar o futuro do livro e da leitura, seus fólios monumentais de chumbo parecem verdadeiros escudos de proteção." Foi com esta justificativa que o comércio livreiro alemão conferiu ao artista plástico Anselm Kiefer o Prêmio da Paz de 2008.

Nascido em Donaueschingen em 1945, Anselm Kiefer – um aluno de Joseph Beuys – vive desde 1993 na França. Suas obras monumentais, que colocam em evidência a materialidade do objeto de arte, tiveram uma recepção entusiástica sobretudo nos EUA.

Em suas imagens, Kiefer resgata elementos simbólicos e míticos da história alemã. Ao estabelecer um vínculo entre arte e mensagem política, ele sempre desencadeou muita discussão com seu trabalho.

Alemão e universal

Anselm Kiefer é um artista que sempre questionou se ainda seria possível haver artistas alemães, após o holocausto e a assimilação da tradição cultural e artística da Alemanha pelos nazistas.

(Foto)Anselm Kiefer

Filho de um professor de desenho, ele primeiro estudou, a partir de 1965, Direito e Letras Neolatinas antes de fazer o curso superior de Artes Plásticas em Freiburg e Karlsruhe. No início dos anos 70, ele se transferiu para Düsseldorf, onde trabalhou como aluno de Beuys.

Ao produzir encenações de personalidades de acordo com modelos históricos, como Adolf Hitler ou o rei Luís 2° da Baviera, Kiefer questionou naquela época as formas de culto do herói. Posteriormente, ele se dedicou a pinturas sobre madeira, nas quais resgatou a mitologia e ideologia da história alemã.

Com suas primeiras exposições em Nova York, Kiefer se tornou um artista cobiçado no mercado de arte internacional. A revista Time chegou a designá-lo "o melhor artista da sua geração dos dois lados do Atlântico".

Peso da matéria contra a efemeridade

A biblioteca de pesados fólios de metal, representada numa obra de 1991 intitulada Censo, é um forte símbolo do futuro do livro e uma visão crítica da efemeridade da mídia, da aceleração do tempo e da simultaneidade dos acontecimentos.

(Foto)'Lilith', 1987-89

Numa pintura de 1987-89, intitulada Lilith, o artista se deixou inspirar por uma visita a São Paulo e projetou uma visão apocalíptica do caos urbano e do colapso da comunicação.

No início dos anos 90, Kiefer abandonou a Alemanha e se transferiu para a França. Em 2007, sua obra teve grande destaque numa grande exposição no White Cube de Londres, numa retrospectiva no Guggenheim de Bilbao e em sua contribuição para a Monumenta, no Grand Palais de Paris.

Anselm Kiefer foi o primeiro pintor e escultor a receber o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão. A justificativa da premiação destaca que Kiefer apareceu no momento certo, "para reverter o ditame do abstracionismo descompromissado do pós guerra".

Fonte: Deutsche Welle/Agências(sm)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3388664,00.html

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