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quinta-feira, 2 de julho de 2015

Redes sociais deram voz a legião de imbecis, diz Umberto Eco

Escritor italiano Umberto Eco
Foto: Reuters
Segundo escritor, 'idiotas' têm o mesmo espaço de Prêmios Nobel

Crítico do papel das novas tecnologias no processo de disseminação de informação, o escritor e filólogo italiano Umberto Eco afirmou que as redes sociais dão o direito à palavra a uma "legião de imbecis" que antes falavam apenas "em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade".

A declaração foi dada na última quarta-feira (10), durante o evento em que ele recebeu o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura na Universidade de Turim, norte da Itália.

"Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel", disse o intelectual.

Segundo Eco, a TV já havia colocado o "idiota da aldeia" em um patamar no qual ele se sentia superior. "O drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade", acrescentou.

O escritor ainda aconselhou os jornais a filtrarem com uma "equipe de especialistas" as informações da web porque ninguém é capaz de saber se um site é "confiável ou não".

Fonte: Terra
http://noticias.terra.com.br/educacao/redes-sociais-deram-voz-a-legiao-de-imbecis-diz-umberto-eco,6fc187c948a383255d784b70cab16129m6t0RCRD.html

Observação: caso alguém queira comentar a opinião do Umberto Eco, fiquem à vontade, eu não vou emitir opinião pra não 'influenciar' os comentários caso alguém queira fazer (porque quando a gente emite alguma opinião as pessoas tendem a querer rebater o que foi dito ou dizer que concorda, ignorando o texto).

segunda-feira, 14 de abril de 2014

A internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio, diz Umberto Eco

Eu não irei colocar o texto todo com a entrevista dele pois é longo e o que achei interessante no texto foi mais a parte que toca num ponto crucial da internet. O Umberto Eco tocou num problema central da web: a internet é perigosa para pessoas que não possuem critérios sobre o que ler ou que não têm interesse em aprender. E há os que tem dificuldade inclusive em achar notícias.

Acho que foi isso que ele quis dizer com a frase ao usar o termo "ignorante" e "sábio". Infelizmente é uma verdade e uma triste constatação, ele conseguiu deduzir um problema corriqueiro (e sério) do uso da rede que muita gente tenta explicar e ele detalhou a questão em poucas linhas. Isso diz respeito não só à questão do "revisionismo" como de qualquer assunto referente à política e História.

Quem quiser ler a entrevista inteira pode conferir neste link. Como não achei edição dessa entrevista em algum site estrangeiro com algo similar a esta afirmação dele (a entrevista foi exclusiva pra revista), então o jeito foi colocar este texto da revista a contragosto.

Explico o motivo do "a contragosto": eu já comentei antes que ando evitando colocar coisas publicadas pela mídia brasileira sobre esses assuntos (extrema-direita, nazismo, Holocausto etc) por considerar que o nível de partidarismo da grande mídia do Brasil (salvo exceções) chegou a um patamar crítico que já beira o descrédito quase total da mesma, além de outras questões que não vou discutir neste post. A mídia brasileira (generalizando) vive numa "bolha", alheia à realidade, parece um personagem do Show de Truman (quem não assistiu o filme pode acessar o link anterior que tem um resumo do filme, mas vale a pena assistir pois só de ver o filme entenderão a analogia), onde ela acha que manipula todo mundo subestimando o senso crítico da população. É um mau hábito adquirido desde o tempo da ditadura (1964-1985) ou antes dela.

A mídia (generalizando) age assim por algumas razões óbvias, como por saber sobre o baixo grau de erudição do povo e de uma certa aversão de muita gente em discutir civilizadamente questões políticas pra aprender etc e chegar a um denominador comum, refiro-me as pessoas comuns e não a radicais políticos. Este comportamento "autista" da mídia não anula o fato de que esta mesma população esteja desenvolvendo um senso crítico do que leem e ouvem como noticiário (é o que está ocorrendo), de forma lenta, mas está, daí o descrédito cada vez aumentando diante de mídia manipulada.

Se eu conseguir achar alguma entrevista do U. Eco similar a essa em algum site estrangeiro, eu trocarei o texto, mas por considerar que essa informação é mais importante que minha "birra" (que não é birra, é opinião formada mesmo), abrirei mais esta exceção. Mas pretendo manter a política de evitar ao extremo textos da mídia brasileira, de forma indenida, até que (quem sabe) mudem de postura e deixem o partidarismo rasteiro e alienante de lado.

Mas alguém pode chegar e dizer: "Ah, você está sendo generoso ou ingênuo ao achar que irão mudar de postura", bom, primeiro que não se trata de ingenuidade e nem de generosidade adotar essa postura, da mesma forma que não mudarem, eu também não mudo de postura e mantenho essa política de evitar textos da mídia brasileira. Até que provem o contrário, as pessoas são livres no país pra ler e repassar o que quiserem, portanto... quem não gosta, paciência. O velho e bom "bateu, levou" muitas vezes costuma funcionar.

Mas sem delongas (só que infelizmente tenho que deixar registrado a opinião acima porque de fato estou colocando isso a contragosto), segue abaixo o trecho que destaco da entrevista do Eco com uma crítica ao uso da internet, e que cabe perfeitamente ao caso brasileiro (e de maioria dos países) e o quanto se vê gente lendo bobagem sem usar uma "peneira" (critério) pra filtrar informação, achando que estão aprendendo ao repetir como papagaios panfletos e informação distorcida.
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A internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio, diz Umberto Eco

Em 2011, aos 80 anos, Umberto Eco concedeu uma entrevista à revista Época onde comentou sobre os prós e contras da internet como ferramenta formadora de indivíduos leitores críticos e/ou analfabetos funcionais. E sobre a acessibilidade do conhecimento possibilitada pela mesma. Confira abaixo a reprodução desta entrevista e não deixe de compartilhar conosco a sua opinião sobre o assunto.

ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?

Eco - A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento.

ÉPOCA - Mas o conhecimento está se tornando cada vez mais acessível via computadores e internet. O senhor não acha que o acesso a bancos de dados de universidades e instituições confiáveis estão alterando nossa noção de cultura?

Eco - Sim, é verdade. Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.

ÉPOCA - Há uma solução para o problema do excesso de informação?

Eco - Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.

sábado, 12 de novembro de 2011

A História iluminada por Umberto Eco (O Cemitério de Praga)

Pode a eloquência fascinar, formar e entreter? Sim. Umberto Eco demonstra-o com o seu novo romance, O Cemitério de Praga. E é por isso que a sua leitura é tão viciante, como comprovou Rui Lagartinho.

Num mundo perfeito, O Cemitério de Praga, o sexto romance de Umberto Eco, teria um impacto superior ao da publicação do famigerado Código da Vinci de Dan Brown. Mas, já se sabe, o mundo não é perfeito, e neste caso é pena. Mesmo assim, à medida que o livro foi sendo vertido para outros idiomas, começaram a ver-se alguns indivíduos nos aeroportos e gares da Europa a dar tanta atenção ao livro que levavam debaixo do braço como à bagagem de mão.

Não há aqui nenhuma teoria da conspiração. É apenas vício e saudades que se matam da escrita romanesca daquele que é considerado um dos maiores pensadores europeus. De hoje como de há 30 anos. A ele se pode aplicar o sofisma de Lênin: “Aprender, aprender, sempre.” Estamos em Paris, quase na dobragem do século XIX para o século XX. A cidade foi esventrada para que um monstro de ferro e aço percorra a cidade debaixo da terra. Cá em cima, na margem esquerda do Sena, não longe da Sorbonne e entre escombros, becos e sombras, Simonini avança para casa com o cérebro gourmet que comanda o estômago satisfeito.

Falsificador de documentos com créditos firmados, pode dar-se a esse luxo. Está a ponto de começar um diário, mas à cautela avisa: “…o próprio Narrador não sabe ainda quem será o misterioso escrevente, propondo-se vir a descobri-lo (a par com o Leitor) à medida que ambos espreitam, intrusivos, e seguem os signos que a pena daquele está a verter naqueles papéis.” É por isso que, quando o padre DallaPiccola se intromete na narrativa de Simonini, não nos surpreendemos. Estamos num reino de segredos, espionagem, golpes e contra-golpes. Na ficção como na realidade.

Ao princípio, o diário recua 40 anos, tempo suficiente para mergulharmos, através das raízes e origens de Simonini, nas movimentações nacionalistas que deram origem ao nascimento de um país chamado Itália. Pouco depois, através do maior feito do falsificador, tomamos conhecimento das atas e cadernos de intenções dos rabinos que um dia, reunidos no cemitério de Praga, juram tomar o mundo. Foi por causa da evocação do Priorado do Sião que nos lembramos de Dan Brown, mas essa evocação nasce e morre aqui. O Cemitério de Praga pertence a outro planeta: o da eloquência e da subsequente partilha do saber em forma de romance de capa, espada e aventuras.

A sombra dos folhetins e de Alexandre Dumas marcam, e ainda bem que assim é, a estrutura do romance, onde não faltam excelentes gravuras que sarapintam o livro com a sua galeria de heróis e vilões em cena. Mas para além do domínio dos códigos do espectáculo que um romance deve ter sempre, Umberto Eco domina os códigos da eficácia histórica ao confrontar-nos com um mundo em convulsão há cem anos, que mudou sem na realidade mudar.

A besta negra que atravessa o romance é o ódio aos judeus corporizados no protagonista e naqueles para quem vai trabalhar. À sua volta gravitam seitas mais ou menos satânicas, lojas maçônicas, conspiradores, psicanalistas em início de carreira, políticos em desespero de sobrevivência. Só um caldo destes permitiria um episódio como o “Caso Dreyfus” que, de caso de espionagem a libelo antissemita, permitiu o nascimento do intelectual moderno e conseguiu mostrar a facilidade e rapidez com que se propagam ódios e fundamentalismos. Quando recordamos o melindre que as questões judaicas suscitam na sociedade francesa atual, a eficácia de Umberto Eco fica plenamente demonstrada. É mesmo verdade que a história, tomada aqui como realidade, supera a ficção: quando alguém tem dúvidas ou está esquecido, um único personagem de ficção, como uma espécie de pavio curto e bem aceso, encarrega-se do resto. É o que acontece em O Cemitério de Praga.

Livro: O Cemitério de Praga
Autor: Umberto Eco

Fonte: Time Out Lisboa
http://timeout.sapo.pt/news.asp?id_news=6813

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Umberto Eco: O novo anti-semitismo

Sábado, 28 de fevereiro de 2009, 09h44
O novo anti-semitismo

Umberto Eco
Do The New York Times

(Foto)O pianista Daniel Barenboim convoca mediação para conflito

No mês passado, em resposta à guerra em Gaza entre Israel e o Hamas, o pianista Daniel Barenboim pediu que intelectuais ao redor do mundo assinassem um manifesto divulgando uma nova iniciativa para resolver o conflito (publicado recentemente pelo The New York Review of Books). A princípio, a intenção é quase ridiculamente óbvia: O objetivo principal é juntar todos os recursos possíveis para propor uma mediação vigorosa. Mas o mais significativo é que um grande artista israelense é o responsável pela iniciativa.

É um sinal de que as mentes mais lúcidas e os pensadores mais profundos de Israel estão pedindo que as pessoas parem de se perguntar que lado é o certo ou o errado e trabalhem para a coexistência dos dois povos. Sendo assim, os protestos contra o governo israelense são compreensíveis, não fosse pelo fato de que estes protestos possuem normalmente um tom anti-semita.

Se os protestantes não demonstram uma postura anti-semita explícita, a imprensa o está fazendo nos dias de hoje. Já vi artigos que mencionam - como se fosse a coisa mais óbvia do mundo - "protestos anti-semitas em Amsterdam" e coisas do gênero. É algo que já ficou tão banalizado que o anormal agora é pensar que seja algo anormal. Mas vamos refletir se seria correto definir um protesto contra a administração Markel na Alemanha como antiariano, ou um protesto contra Berlusconi na Itália como antilatino.

Neste curto espaço é impossível resumir os problemas centenários do anti-semitismo, suas ressurgências ocasionais, suas várias raízes. Quando uma postura sobrevive por 2.000 anos, já está impregnada de fé religiosa - de crenças fundamentalistas. O anti-semitismo pode ser definido como uma das muitas formas de fanatismo que envenenaram o mundo através dos tempos. Se muitas pessoas acreditam na existência de um diabo que conspira para nos levar à ruína, por que não poderiam acreditar também numa conspiração judaica para dominar o mundo?

O anti-semitismo, como qualquer atitude irracional orientada pela fé cega, é cheio de contradições; seus adeptos não as percebem, mas as repetem sem qualquer constrangimento. Por exemplo, nas ocorrências clássicas do anti-semitismo no século XIX, dois lugares comuns eram utilizados sempre que a ocasião assim pedisse. Um era que os judeus, que viviam em lugares apertados e escuros, eram mais suscetíveis do que os cristãos a infecções e doenças (e, portanto, eram perigosos). Por razões misteriosas, o segundo argumento era justamente que os judeus eram mais resistentes a pragas e epidemias, além de serem sensuais e assustadoramente fecundos, o que fazia deles invasores em potencial do mundo cristão.

Outro lugar comum foi amplamente utilizado tanto pela esquerda quando pela direita, e para exemplificar, eu cito um clássico do anti-semitismo socialista (Alphonse Toussenel, "Les Juifs, Rois de l'Epoque," 1847) e um clássico do anti-semitismo católico legitimista (Henri Gougenot des Mousseaux, "Le Juif, le Judaisme et la Judaisation des Peoples Chretiens," 1869). As duas obras sustentam o argumento de que os judeus não praticavam a agricultura e, portanto, eram distantes da vida produtiva dos países em que residiam. Por outro lado, eles eram também completamente dedicados às finanças, ou seja, a posse do ouro. Portanto, sendo nômades por natureza, e impulsionados por suas esperanças messiânicas, eles poderiam prontamente abandonar os estados que os acolheram e facilmente levar toda a riqueza com eles. Não vou comentar o fato de que outra ocorrência anti-semita daquele período, incluindo o notório "Os Protocolos dos Sábios de Sião", acusava os judeus de tentar se apoderar de propriedades para tomar seus campos. Como já foi dito, o anti-semitismo é cheio de contradições.

Uma característica proeminente dos israelenses é que eles utilizaram métodos ultramodernos para cultivar a terra, criando fazendas modelo e afins. Então, se eles lutassem, seria precisamente para defender o território em que eles se estabeleceram de forma estável. Este, acima de todos os argumentos, é o que os árabes anti-semitas usam contra eles, sendo que na realidade o objetivo principal deste tipo de árabe é destruir o Estado de Israel.

Em suma, os anti-semitas não gostam quando os judeus vivem em um país que não seja Israel. Mas, se um judeu decide morar em Israel, os anti-semitas também não gostam. Claro, eu sei muito bem da objeção de que o território onde hoje é Israel foi um dia palestino. Mesmo assim, ele não foi conquistado com violência aviltante ou com nativos dizimados, como no caso da América do Norte, ou mesmo pela destruição de estados governados por seus monarcas de direito, como na América do Sul, mas através migrações graduais e assentamentos que foram inicialmente aceitos.

De qualquer forma, enquanto algumas pessoas ficam irritadas quando aqueles que criticam as políticas de Israel são chamados de anti-semitas, aqueles que traduzem imediatamente qualquer criticismo às políticas israelenses com termos anti-semitas me deixam ainda mais preocupado.

Umberto Eco é filósofo e escritor. É autor de "A Misteriosa Chama Da Rainha Loana", "Baudolino", "O Nome da Rosa" e "O Pêndulo de Foucault". Artigo distribuído pelo The New York Times Sybdicate.

Fonte: New York Times/Terra Magazine
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3603669-EI12929,00-O+novo+antisemitismo.html

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