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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Mostra em Bayreuth expõe destinos de músicos vítimas do antissemitismo

Cultura

Dos ressentimentos antissemitas do próprio Richard Wagner até o Holocausto nazista parece haver um contínuo. "Vozes silenciadas" explora de frente aspecto delicado na história do clã Wagner.

O reboco está se soltando da fachada em algumas partes do Teatro do Festival de Bayreuth. No parque, logo abaixo do prédio, atualmente sempre cercado de curiosos, flores brilham coloridas. Cercas vivas, podadas com esmero, circundam o gramado recentemente cortado. O vento sopra forte por entre as folhas das árvores. Um punhado de visitantes passeia pelo terreno bem cuidado.

À primeira vista, parece ser apenas mais um verão na chamada "Colina Verde". Mas, desta vez, algo está diferente. Logo ao lado do busto de Richard Wagner – feito pelo artista-modelo do nazismo Arno Breker – foram recentemente montados 40 painéis cinzentos.

Maestro Franz Allers, um dos primeiros judeus expulsos do Teatro de Wuppertal

De longe, eles fazem pensar em lápides modernas e esta primeira impressão não é de todo equivocada. As placas trazem impressas fotos em preto e branco e breves biografias de músicos mortos há muito tempo, que participaram do Festival Wagner em Bayreuth e foram proscritos devido a sua origem judaica.

Portanto, as vítimas do furor nazista durante o Terceiro Reich não foram apenas dois músicos da orquestra do teatro – como até agora tem se afirmando, minimizando o terror. Pesquisas recentes provam que 12 músicos foram deportados para os guetos e assassinatos nos campos de concentração e extermínio.

Porém, como documenta essa mostra ao ar livre, alguns membros do clã Wagner circulavam como antissemitas convictos muito antes da tomada de poder por Adolf Hitler. De certa maneira, eles prepararam o solo para a catástrofe nazi-fascista já durante Império Alemão (1871-1918).

Tema delicado para o clã

Vozes silenciosas – O Festival de Bayreuth e os "judeus" de 1876 a 1945 é o título da exposição que informa sem rodeios sobre os mais recentes dados desta questão – com o aval das duas diretoras do festival. Naturalmente a mostra ganha certo potencial explosivo no contexto do Festival Wagner deste ano. E mais ainda devido à dispensa do barítono russo Evgeny Nikitin, acusado de portar no peito a tatuagem de uma suástica.

Barítono Herman Horner cantou em Bayreuth em 1928, morto num campo de concentração em 1942

A exposição no local e a mostra complementar na Nova Prefeitura podem ser visitadas até 14 de outubro. Partindo dos primórdios do evento dedicado à obra de Wagner, o foco também é a chamada "limpeza" das casas de ópera alemãs de todo o pessoal artístico de origem judaica, durante o regime nazista.

Entretanto a Colina Verde da cidade da Alta Francônia, Baviera constitui um foco especial. Para os historiadores, que se basearam em jornais e fontes históricas – mas que não puderam examinar todos os arquivos para realizar seu trabalho – a iniciativa é o sinal de uma abordagem cautelosa de um tema extremamente delicado para o clã Wagner.

Cosima: pior ainda

"Com seu panfleto O judaísmo na música e com os escritos anti-semitas, sobretudo em seus últimos anos de vida, Wagner naturalmente forneceu um quadro ideológico sólido para todos os seus sucessores", declara Hannes Heer, curador da mostra histórica.

"Ele era radicalmente antissemita. Sua visão era a seguinte: deportar os judeus da Alemanha em 1879", afirma o curador. O compositor tolerava o maestro Hermann Levi, embora considerasse a "raça judaica" como "o inimigo nato da humanidade pura e de tudo o que é nobre".

Apesar disso, Levi pôde até reger a estreia de Parsifal em 1882, embora somente por pressão do rei da Baviera Ludovico II. "[Wagner] o torturava, o humilhava. Depois o chamou novamente porque era também fascinado pela capacidade [de Levi] como regente. Mas, pelo menos, o compositor não exercia "terror psicológico" contra o maestro", ressalva o curador Heer.

Já com Cosima Wagner, a esposa, a história era outra. De certo modo, ela praticava uma "política de apartheid". Ao assumir o leme na Colina Verde, após o falecimento do compositor, ela parecia ter prazer em atormentar Levi e outros judeus, da pior forma possível. Sistematicamente, excluía os músicos judeus da lista de elenco.

Tradição contínua

Soprano Bella Alten, uma das 44 "vozes silenciadas"

Na nova prefeitura de Bayreuth, onde se encontra a segunda parte da mostra sobre o destino de 44 astros perseguidos da cena operística alemã, é também possível escutar novamente algumas das "vozes silenciadas".

Entre elas encontra-se a do barítono judeu Friedrich Schorr. Siegfried Wagner, filho do compositor, seguiu o curso antissemita de Cosima, e só entregou a Schorr o papel de Wotan na tetralogia O Anel do Nibelungo a fim de esvaziar os argumentos dos que acusavam Bayreuth de ter se degenerado em um local de culto nacionalista com toque antissemita.

Após uma cerimônia de caráter nacional germânico, acompanhada por palavras de ordem antissemitas, diversos jornais de gabarito haviam zombado que os festivais foram cooptados para comício partidário.

A mostra em duas partes documenta de forma vívida o quão cedo regentes do festival e membros da família Wagner – como por exemplo a nora do compositor Winifred, diretora do evento até 1944 – já simpatizavam com a ideologia nacional-socialista.

Trata-se, portanto, de uma tradição contínua, indo desde os ressentimentos antissemitas de Richard Wagner até o extermínio dos judeus nos campos de concentração de Hitler.

Autoria: Thomas Senne (av)
Revisão: Marcio Pessôa

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/dw/article/0,,16124253,00.html

terça-feira, 25 de maio de 2010

Retrato humano de um monstro

MIRANDA SEYMOUR - O Estado de S.Paulo

Rainha da Colina é o título original, em alemão, da biografia da filha ilegítima de Liszt, amante e - mais tarde - mulher de Richard Wagner. A colina foi o lugar em que se construiu o teatro no qual, desde 1876, é realizado o Festival de Bayreuth, pago pelo rei Ludwig II e idealizado em Wahnfried, casa da família Wagner - onde, mais tarde, Hitler se tornaria hóspede querido e habitual.

Por mais que cause repugnância a política adotada em Wahnfried, é inegável a fascinação exercida pela casa de Wagner e, sobretudo, da obsessiva e implacavelmente manipuladora Cosima. Documentos importantes continuam guardados a sete chaves na escuridão para a qual a viúva de Wagner os enviou. Oliver Hilmes, no entanto, fez um trabalho magnífico de pesquisa, conseguindo desenterrar o suficiente para contar uma história tenebrosa - e deixar o restante implícito.

Cosima nasceu em 1837. Ainda estava viva em 1923 quando Hitler, um devoto de Wagner, fez sua primeira visita a Bayreuth. Se Cosima ainda estivesse mentalmente alerta, teria se deslumbrado. "Por meio de Wagner, Bayreuth tornou-se o centro ideal de todas as nações arianas", um autor declarou num livro publicado em Munique em 1911; sua recompensa foi uma rara, e longa, entrevista particular com Cosima Wagner. Em 1914, ela aprovou uma seleção muito bem organizada das últimas cartas do seu falecido marido num livro cuja capa foi adornada com uma suástica.

Cosima, como Hilmes deixa claro, na verdade somente pode ser reverenciada por uma realização importante. Sem o seu engajamento apaixonado e vigoroso, o Festival de Bayreuth não teria se transformado numa instituição social. Numa época em que a independência feminina não era cogitada, a viúva de Wagner mostrou suas qualidades como administradora astuta e uma autodenominada sacerdotisa de um culto poderoso.

Cosima foi um monstro. Contudo - graças a Hilmes -, sua vida narrada de um modo fascinante também é o retrato de uma mulher de charme irresistível. As descrições que ele faz da sua risada (que podia "fazer a terra balançar"), e a sua predileção por champanhe, charutos e uma garrafa de cerveja todas as noites ajuda a humanizar a imagem familiar da aterradora viúva de Wagner. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

MIRANDA SEYMOUR É JORNALISTA E ESCRITORA, AUTORA, ENTRE OUTROS, DE CHAPLIN"S GIRL (POCKET BOOKS)

Fonte: Estadão
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100522/not_imp555066,0.php

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Pesquisadores apontam proximidade inegável de Wagner com Hitler

(Foto)Richard Wagner: panfletos anti-semitas abriram caminho para o nazismo

Tema inesgotável para historiadores, cientistas políticos e musicólogos, a intensidade da ligação entre o compositor Richard Wagner e Adolf Hitler vem sendo esmiuçada há décadas.

Não são poucos os pesquisadores e cientistas na Alemanha e fora dela que dedicam trabalhos às ligações nem sempre claras entre política e cultura, que questionam os conceitos de poder e moral e apontam, dentro da obra do compositor Richard Wagner, preconceitos anti-semitas. "O jovem Hitler sempre esteve bem à frente em toda apresentação de Wagner que havia", diz a historiadora Brigitte Hamann, autora do livro Winifred Wagner e a Bayreuth de Hitler.

Fato é que as composições de Wagner estiveram presentes mais que quaisquer outras nos eventos organizados pelo governo de Hitler, que fazia, à vontade, uso das mesmas para os fins políticos que interessavam à propagação da ideologia nazista. A ópera Os Mestres Cantores de Nurembergue (Die Meistersinger von Nürnberg), por exemplo, foi executada com todas as pompas durante a Segunda Guerra Mundial na Festspielhaus de Bayreuth.

Panfleto incitando o anti-semitismo

(Foto)Hitler no Festival de Bayreuther, em 1938

Em 1850 e posteriormente mais uma vez em 1869, Wagner publicou o panfleto O Judaísmo na Música (Das Judentum in der Musik), no qual desprezava a produção musical de compositores judeus contemporâneos seus, como Felix Mendelssohn-Bartholdy ou Giacomo Meyerbeer, e defendia um combate à influência dos judeus na vida musical.

Tais declarações não eram, no contexto da época, raras. Ou seja, Wagner pertencia ao quadro de conservadores de direita intitulados "nacionalistas alemães" (Deutschnationaler). Dez anos depois da publicação destes panfletos, surgia um texto do historiador Heinrich von Treitschke, que, entre outros, continha os dizeres: "Os judeus são nosso azar". Tal frase desencadeou um enorme debate sobre a questão do anti-semitismo no século 19, tendo sido, décadas mais tarde, usada pelos nazistas em campanhas populares.

Contato estreito com Hitler

(Foto)Saul Friedländer: Wagner como precursor do anti-semitismo, mas não do genocídio

Hoje, boa parte dos especialistas acredita que Wagner defendia posições anti-semitas, tendo incluído em sua obra a idéia de um "germanismo ariano", embora, pessoalmente, nunca tenha demonstrado predileção pela exclusão ou extermínio dos judeus.

"O mestre de Bayreuth abriu, em parte, o caminho para o nazismo", escreveu o historiador Saul Friedländer. Segundo ele, o primeiro panfleto de teor anti-semita escrito por Wagner não pode, no entanto, ser interpretado como uma conclamação ao extermínio violento dos judeus, mas sim como um "apelo" contra a influência judaica na vida cultural da época.

Há de se notar, porém, que a família Wagner manteve, já desde 1923, um estreito contato com Adolf Hitler. "Eles convidavam Hitler para visitá-los e chegaram até a levá-lo ao túmulo de Richard. Mostraram tudo a ele. Assim, foi sendo construída uma relação íntima entre a família e o então futuro ditador nazista. A tradição nacionalista alemã já vinha de Richard. Quando Hitler visitou Bayreuth e os Wagner em 1923, todos entraram para seu partido. Eles se tornaram todos adeptos dos nazistas desde muito cedo", observa a historiadora Hamann.

"Winnie e Wolf"

(Foto)Winifred Wagner e Adolf Hitler a 6 de março de 1934 no Memorial a Wagner em Leipzig

Figura simbólica neste contexto é a de Winifred Wagner, nora de Richard, que, viúva precocemente, assumiu a direção do Festival de Bayreuth em 1930. Em 1923, ela já enviava ao jovem Hitler pelo correio presentes como meias e alimentos, tendo recebido, como agradecimento, um exemplar autografado de Minha Luta.

Eles não mantinham qualquer formalidade na comunicação, tratando-se mutuamente de você (du) e usando coloquialmente os apelidos de Winnie e Wolf. Depois do fim da Segunda Guerra, Winifred foi obrigada a abdicar da direção do Festival de Bayreuth, mas manteria suas reverências a Hitler até a morte, décadas mais tarde, em 1980.

Em 2007, Katharina, bisneta de Wagner, escolheria propositalmente a ópera Os Mestres Cantores de Nurembergue para sua estréia como diretora. "Claro que este local é carregado", afirmou Katharina na época.

Para a historiadora Hamann, "há tanto peso em função dessa herança nazista em Bayreuth, ainda hoje, que Katharina não tem mesmo outra saída exceto viver repetindo que se distancia [das posturas da família no passado]".

Cornelia Rabitz (sv)
Fonte: Deutsche Welle(28.07.2008, Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3512777,00.html

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