Estou transcrevendo pra cá o comentário extra que fiz no post sobre o chute da repórter húngara do Jobbik. Sobre comentários xenófobos na DW Brasil proferidos principalmente por brasileiros, alguns inclusive vivendo na Alemanha. Há que separar o joio do trigo pois há vários brasileiros vivendo na Alemanha que não têm nada a ver com a postura dessa minoria de imbecis, justamente por isso serve o alerta já que na versão em inglês dessa publicação ela costuma fazer uma limpa dos comentários desse tipo ou chamar atenção, fora que há órgãos alemães monitorando as verões dessas publicações em inglês e alemão, resta saber se verificam também as em português.
Os ataques xenófobos são variados. Quando há publicação sobre nazismo e Holocausto aparecem os germanófilos pró-nazi com antissemitismo e afins. Quando há publicação sobre refugiados da Síria, a xenofobia é direcionada a muçulmanos e tudo o que se possa imaginar, coisa pesada mesmo, fora os comentários dos que sofrem complexo de vira-lata agudo atacando tudo do país com uma idealização (de Cinderela) que beira o ridículo de outros países, algo sem propósito que torna a convivência com essas pessoas insuportável (impossível), fora que, é desagradável ler uma publicação e já estar entupida de porcaria xenófoba de cima abaixo. A revista não está tratando como deve o país. E por favor (a quem queira vir chiar), eu não sofro de "vira-latice", comigo esse papo de "Brasil é uma merda" não causa comoção alguma a não ser desprezo profundo. Sim, eu sei que o país tem problemas, todos os países do mundo têm, mas não é com lamúrias que vocês irão mudar isso, não é torrando a paciência alheia atacando e menosprezando o país que irão mudar coisa alguma, se é que querem pois o vira-lata convicto quer mesmo a piedade alheia e isso eu jamais darei porque é falta de vergonha na cara. Sempre houve uma diferença entre críticas (sérias) ao país e choradeira de gente com complexo de vira-lata comentando idiotice, não são coisas iguais.
Como disse acima, espero que os órgãos alemães que leem estas publicações verifiquem o conteúdo xenófobo dessa brasileirada sem noção, pois sem noção ou não, estão incitando ódio de outro país e isso é crime na Alemanha, e no Brasil, mas aqui o Ministro Soneca (o Ministro da Justiça, Eduardo Cardozo) nunca fez nada, nem os ministros anteriores a ele sobre esse tipo de problema, tratam o problema com descaso até acontecer algo mais sério e serem cobrados por isso.
Sem mais delongas, transcrevo o comentário que fiz no outro post abaixo, pois acho melhor colocar comentários longos como posts à parte, facilita de ler o post original. Publicado originalmente aqui:
O ataque da repórter do Jobbik (extrema-direita) na Hungria aos refugiados
_____________________________________________________________
2. Vou fazer outro relato de problema referente à xenofobia, agora vindo de brasileiros, mas se for melhor colocar num post à parte depois eu transfiro, que é sobre a presença de comentários xenófobos e racistas na edição da DW (Deutsche Welle) em português ou DW Brasil, comentários de brasileiros que fariam o cabo Adolfo (Hitler) corar de inveja com o conteúdo dos comentários. Eu acho que este segundo relato será removido depois e ficará em um post só pra retratar a DW, mas o antecipo aqui.
Não vou nem ressaltar a ignorância e estupidez da maioria dos que proferem os ataques, embora isso não "limpe a barra" deles (a intenção é a que conta), pois são muito, mas muito ignorantes. Não sabem absolutamente nada sobre o que se passa e se metem e emitir opinião cheia de preconceito pra querer "mostrar que existe". Que forma de inclusão esdrúxula esse pessoal "pratica", a pior possível, são orgulhosos da própria ignorância e falam com uma petulância fora do comum quando antes gente estúpida costumavhttps://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=936216226993954018#allpostsa ter medo de dizer algo pra não passar por burro em público.
É uma enxurrada de comentários agressivos (xenófobos, preconceituosos etc), não são poucos. Alguns estão na Alemanha inclusive e poderiam (e deveriam) ser enquadrados em leis antirracismo naquele país, pra tomarem no mínimo vergonha na cara e não acharem que podem defecar imundície por alguma brecha que dão pois na frente dos outros devem posar de "anjinhos". Eles atacam longe dos olhos do pessoal daquele país se valendo da arena "vale-tudo" de extremismo que virou o país (Brasil) com esse Ministro da Justiça omisso (pra não usar outro termo), o Zé Cardozo ou Zé da "Justiça", o "petista" querido da mídia oligopolizada e seu "republicanismo" seletivo, uma nova "noção" de "justiça" (entre aspas).
Caso algum órgão alemão que trate dessas questões leia o blog, a DW precisa tomar uma chamada pois adota dois pesos e duas medidas no tratamento do problema. Na edição em inglês ela é cheia de dedos e corta os ataques aparentemente ou chama atenção, pra parecer zelosa, na versão do Brasil ela deixa a selvageria (racismo e xenofobia) rolar solta. Estão de "brincadeira", mas isso tem que ter fim.
Como já frisei, boa parte dos ataques xenófobos, racistas e sectários (tem ataque religioso no meio vindo de fanáticos) são feitos por brasileiros, ataques com viés de extrema-direita (o conteúdo), mas não é de gente ligada a agremiações fascistas, aparentemente (fascista no sentido literal do termo, tema tratado no blog), esse pessoal aparenta ser gente "comum", fazendo ataques e todo tipo de cretinice possíveis por estarem longe dos olhos do pessoal na Alemanha, teoricamente. Alguns residem na Alemanha o que permite o Estado alemão processá-los por crimes de ódio já que estão usando território alheio pra praticar patifaria e sujar a imagem do país, embora achem que estão "abafando", má educação e canalhice (preconceito) agora virou sinônimo de "status" pra esse pessoal.
Segue a tradução da matéria abaixo da jornalista fascista húngara pois evito, quando dá, colocar links de jornal do país justamente pela questão do oligopólio de mídia. Restou poucas mídias no Brasil pra se usar.
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quarta-feira, 23 de setembro de 2015
sábado, 16 de outubro de 2010
Estudo aponta que extremismo é gerado mais por questões sociais e menos por ideologia
Extremistas de todas as colorações – desde os anarquistas munidos de coquetéis molotov, passando por terroristas islâmicos até skinheads neonazistas – têm algo em comum, diz estudo.
Para os jovens radicais, fatores de ordem social são mais determinantes do que convicções políticas: isso é o que afirma o recente estudo "Extremistas sob a Perspectiva Biográfica", idealizado pelo Departamento Federal de Investigações na Alemanha e realizado em cooperação com o Instituto de Pesquisa Social e Consultoria Política (RISP) da Universidade de Duisburg-Essen.
Os pesquisadores responsáveis entrevistaram 39 extremistas políticos entre dezembro de 2004 e dezembro de 2008 e detectaram diversas semelhanças entre suas biografias. A maioria dos entrevistados encontra-se hoje na prisão.
Aparentemente, diz o estudo, as ideologias dos entrevistados não poderiam ser mais díspares. No entanto, a convicção política acaba sendo um fator de segunda ordem no processo de radicalização, analisam os pesquisadores.
Desejo de inclusão
Os jovens, de acordo como o estudo, são mais atraídos pelo sentimento de pertencimento a um grupo do que por pontos de vista políticos, diz Thomas Kliche, pesquisador na área de Psicologia e Política da Universidade de Hamburgo.
"A ideologia ocupa um lugar muito secundário nas biografias desses extremistas. Nessa idade, eles nem ao menos compreenderam o alcance dessas ideias. Eles apenas sentem que o grupo os elogia, dizendo que são bons e fortes", descreve Kliche.
No entanto, acentua o pesquisador, nem todo jovem é suscetível ao fascínio da identidade grupal. Entre os entrevistados para o estudo do BKA, praticamente todos vinham de famílias com problemas e, por isso, desenvolveram um interesse exacerbado pelo grupo social nos quais circulam.
"Muitos infratores vêm de lares destruídos ou suas famílias não estão em condições de dar a eles o sentimento de segurança, calor humano, a sensação de serem bem-vindos. É aí que entra o grupo na jogada", afirmou o pesquisador à Deutsche Welle.
Extremismo por acaso?
O estudo detectou que muitos dos entrevistados, além de terem famílias com sérios distúrbios emocionais, tentam se integrar à sociedade por outros caminhos. Na maioria dos casos, eles interromperam a vida escolar ou a formação profissional ou foram mal-sucedidos nesses âmbitos, o que faz com que tenham necessidade de compensar suas deficiências.
De acordo com o estudo, a identificação de uma pessoa com uma ideologia extremista em particular depende mais do acaso do que de sua tendência para determinada convicção política. Religião e política são, para os entrevistados, irrelevantes, ao contrário de aspectos sociais como solidariedade ou apoio emocional.
Não raras vezes, a ânsia de pertencimento ou integração a determinado grupo leva à violência e ao abuso de drogas. A maioria dos entrevistados já havia demonstrado comportamento delinquente antes de se aliar à cena radical em questão, levando o autor da pesquisa a concluir que os chamados "crimes politicamente motivados" muitas vezes não têm, de fato, uma motivação ideológica real.
Autora: Sarah Harman/dpa (sv)
Revisão: Simone Lopes
Fonte: Deutsche Welle(Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6046901,00.html
Extremistas: mais coisas em comum que coturnos |
Para os jovens radicais, fatores de ordem social são mais determinantes do que convicções políticas: isso é o que afirma o recente estudo "Extremistas sob a Perspectiva Biográfica", idealizado pelo Departamento Federal de Investigações na Alemanha e realizado em cooperação com o Instituto de Pesquisa Social e Consultoria Política (RISP) da Universidade de Duisburg-Essen.
Os pesquisadores responsáveis entrevistaram 39 extremistas políticos entre dezembro de 2004 e dezembro de 2008 e detectaram diversas semelhanças entre suas biografias. A maioria dos entrevistados encontra-se hoje na prisão.
Aparentemente, diz o estudo, as ideologias dos entrevistados não poderiam ser mais díspares. No entanto, a convicção política acaba sendo um fator de segunda ordem no processo de radicalização, analisam os pesquisadores.
Desejo de inclusão
Os jovens, de acordo como o estudo, são mais atraídos pelo sentimento de pertencimento a um grupo do que por pontos de vista políticos, diz Thomas Kliche, pesquisador na área de Psicologia e Política da Universidade de Hamburgo.
"A ideologia ocupa um lugar muito secundário nas biografias desses extremistas. Nessa idade, eles nem ao menos compreenderam o alcance dessas ideias. Eles apenas sentem que o grupo os elogia, dizendo que são bons e fortes", descreve Kliche.
Jovens radicais são detidos com frequência |
"Muitos infratores vêm de lares destruídos ou suas famílias não estão em condições de dar a eles o sentimento de segurança, calor humano, a sensação de serem bem-vindos. É aí que entra o grupo na jogada", afirmou o pesquisador à Deutsche Welle.
Extremismo por acaso?
O estudo detectou que muitos dos entrevistados, além de terem famílias com sérios distúrbios emocionais, tentam se integrar à sociedade por outros caminhos. Na maioria dos casos, eles interromperam a vida escolar ou a formação profissional ou foram mal-sucedidos nesses âmbitos, o que faz com que tenham necessidade de compensar suas deficiências.
De acordo com o estudo, a identificação de uma pessoa com uma ideologia extremista em particular depende mais do acaso do que de sua tendência para determinada convicção política. Religião e política são, para os entrevistados, irrelevantes, ao contrário de aspectos sociais como solidariedade ou apoio emocional.
Não raras vezes, a ânsia de pertencimento ou integração a determinado grupo leva à violência e ao abuso de drogas. A maioria dos entrevistados já havia demonstrado comportamento delinquente antes de se aliar à cena radical em questão, levando o autor da pesquisa a concluir que os chamados "crimes politicamente motivados" muitas vezes não têm, de fato, uma motivação ideológica real.
Autora: Sarah Harman/dpa (sv)
Revisão: Simone Lopes
Fonte: Deutsche Welle(Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6046901,00.html
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Museu em Gdansk lembra invasão da Polônia pelas tropas de Hitler
Há quase 70 anos, o Exército alemão invadia a Polônia. Pawel Machcewicz, diretor do novo Museu da Segunda Guerra Mundial, a ser inaugurado na polonesa Gdansk, fala sobre o sofrimento do povo de seu país no conflito.
(Foto)Soldados alemães invadiram a Polônia em 1939
Deutsche Welle: Em Gdansk, o lugar onde começou a invasão da Polônia pela Alemanha de Hitler, deverá ser erigido, sob uma perspectiva europeia, um Museu da Segunda Guerra Mundial. O que poderá ser visto nesse novo museu?
Pawel Machcewicz: Não queremos mostrar a guerra do ponto de vista militar, mas sim sob a perspectiva da população civil. Queremos mostrar o sofrimento das pessoas, mas também a resistência, que nem sempre foi militar. O Estado polonês clandestino era, em grande parte, uma instituição civil, com escolas funcionando secretamente e até mesmo tribunais secretos.
Queremos mostrar também o caminho que levou a essa guerra, resultado da ideologia criminosa do Terceiro Reich, sem a qual não podemos compreender nem a radicalização da guerra nem a política alemã de ocupação. Queremos mostrar que esta guerra foi, desde o início, uma guerra de extermínio. Com isso, corrigimos a interpretação formulada com frequência de que a brutalidade da guerra teria começado somente com a invasão alemã da União Soviética.
(Foto)Westerplatte, em Gdansk: emblema da resistência polonesa
Não foi assim e é o que queremos mostrar. E pretendemos expor também as consequências da guerra, que foram muito diferentes para a Europa Ocidental e para o Leste Europeu. Para a Europa Ocidental, o fim da guerra foi uma libertação. Não estou falando aqui da Alemanha, onde a situação era mais complicada, mas, por exemplo, dos franceses ou holandeses.
Para a Polônia, ao contrário, o fim da guerra foi somente o fim da ocupação alemã, mas liberdade não obtivemos. No Ocidente, esse paradoxo parece pouco compreensível, mas, para a Polônia, e também para vários outros países do Leste Europeu, a Segunda Guerra Mundial só acabou realmente em 1989.
DW: Sua ideia já foi criticada várias vezes na Polônia. Jornalistas da imprensa nacionalista e conservadora, mas também políticos conservadores ligados ao presidente Lech Kaczyński, e seu irmão Jaroslaw, o acusam de ter, com a perspectiva europeia do museu, negligenciado o sofrimento do povo polonês e também a resistência heróica contra a ocupação alemã.
Essas acusações não têm nada a ver com a realidade, nem com a nossa proposta. Houve protestos até mesmo contra a ideia de que fôssemos além da perspectiva polonesa. Mas a Segunda Guerra não foi uma experiência apenas polonesa e sim europeia. Estou convencido de que destinos especificamente poloneses até ganham importância quando apresentados em comparação com outros países.
Só podemos, por exemplo, compreender o significado do Estado polonês clandestino e das grandes conspirações contra a Alemanha de Hitler, e também contra a União Soviética, quando comparamos esses episódios com outras formas de resistência na Europa Ocidental. Os ataques ao nosso projeto tinham objetivos muito políticos. A oposição nacional-conservadora acreditava ter descoberto aqui uma possibilidade cômoda de atacar o premiê Donald Tusk, que apoia o projeto.
Somente o fato de trabalharmos junto com outros historiadores europeus – Ulrich Herbert da Alemanha, Norman Davies do Reino Unido e Henry Rousso, da França – já era, para alguns grupos na Polônia, razão suficiente para repudiar o projeto como um todo.
DW: Na Alemanha, entre as associações de desterrados, a ideia do museu vem sendo também observada e em parte criticada. Essas associações pleiteiam uma apreciação mais crítica da história polonesa anterior à guerra. Um período no qual partidos nacionalistas já cogitavam, antes da eclosão da guerra, a expulsão dos alemães, enquanto o governo do país mantinha as melhores relações com o regime de Hitler. Houve até mesmo um tratado de amizade entre os dois lados.
Isso é um equívoco. Não se trata de um museu da história teuto-polonesa. Se fosse o caso, poderíamos voltar até os tempos das ordens de cavaleiros. Trata-se, porém, de um Museu da Segunda Guerra Mundial, e a razão desta guerra está, acima de tudo, na expansão ideológica, territorial e militar do Terceiro Reich. Isso precisa ser exposto como a razão principal da guerra.
(Foto)200 mil poloneses morreram na luta pela libertação
Mostrar as exigências territoriais da Polônia à Alemanha naquele momento só iria distorcer a imagem da guerra. Antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, não havia na Polônia nenhum grupo político sério, que tenha exigido a expulsão dos alemães ou que tenha feito valer demandas territoriais à custa da Alemanha. A Polônia é que foi invadida. Neste contexto, é preciso fazer valer, acima de tudo, a razão. E avaliar as proporções do que ocorreu.
DW: Como será a inauguração do museu, no dia 1° de setembro de 2009, em Gdansk?
Haverá um encontro de chefes de governo e Estado de diversos países europeus na Westerplatte [península de Gdansk, palco do início da Segunda Guerra Mundial]. A premiê alemã, Angela Merkel, e o presidente russo, Vladimir Putin já confirmaram que virão. Contamos também com a presença dos líderes dos principais países da então aliança anti-Hitler, ou seja, da França e do Reino Unido.
A Westerplatte simboliza a heróica resistência polonesa contra o ataque de Hitler. Ali esteve estacionada uma pequena unidade polonesa, que defendeu o país do 1° ao 9 de setembro. Ali foi assinado o documento de fundação do museu.
Pawel Machcewicz, nascido em 1966, é historiador e diretor fundador do Museu da Segunda Guerra Mundial, em Gdansk. Ele atuou anteriormente no Instituto de Estudos Políticos da Academia Polonesa das Ciências (ISP PAN) e foi diretor do Escritório para Educação e Pesquisa do Instituto para a Memória Nacional, em Varsóvia.
Autor: Martin Sander
Revisão: Augusto Valente
Fonte: Deutsche Welle(01.06.2009, Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4292562,00.html
(Foto)Soldados alemães invadiram a Polônia em 1939
Deutsche Welle: Em Gdansk, o lugar onde começou a invasão da Polônia pela Alemanha de Hitler, deverá ser erigido, sob uma perspectiva europeia, um Museu da Segunda Guerra Mundial. O que poderá ser visto nesse novo museu?
Pawel Machcewicz: Não queremos mostrar a guerra do ponto de vista militar, mas sim sob a perspectiva da população civil. Queremos mostrar o sofrimento das pessoas, mas também a resistência, que nem sempre foi militar. O Estado polonês clandestino era, em grande parte, uma instituição civil, com escolas funcionando secretamente e até mesmo tribunais secretos.
Queremos mostrar também o caminho que levou a essa guerra, resultado da ideologia criminosa do Terceiro Reich, sem a qual não podemos compreender nem a radicalização da guerra nem a política alemã de ocupação. Queremos mostrar que esta guerra foi, desde o início, uma guerra de extermínio. Com isso, corrigimos a interpretação formulada com frequência de que a brutalidade da guerra teria começado somente com a invasão alemã da União Soviética.
(Foto)Westerplatte, em Gdansk: emblema da resistência polonesa
Não foi assim e é o que queremos mostrar. E pretendemos expor também as consequências da guerra, que foram muito diferentes para a Europa Ocidental e para o Leste Europeu. Para a Europa Ocidental, o fim da guerra foi uma libertação. Não estou falando aqui da Alemanha, onde a situação era mais complicada, mas, por exemplo, dos franceses ou holandeses.
Para a Polônia, ao contrário, o fim da guerra foi somente o fim da ocupação alemã, mas liberdade não obtivemos. No Ocidente, esse paradoxo parece pouco compreensível, mas, para a Polônia, e também para vários outros países do Leste Europeu, a Segunda Guerra Mundial só acabou realmente em 1989.
DW: Sua ideia já foi criticada várias vezes na Polônia. Jornalistas da imprensa nacionalista e conservadora, mas também políticos conservadores ligados ao presidente Lech Kaczyński, e seu irmão Jaroslaw, o acusam de ter, com a perspectiva europeia do museu, negligenciado o sofrimento do povo polonês e também a resistência heróica contra a ocupação alemã.
Essas acusações não têm nada a ver com a realidade, nem com a nossa proposta. Houve protestos até mesmo contra a ideia de que fôssemos além da perspectiva polonesa. Mas a Segunda Guerra não foi uma experiência apenas polonesa e sim europeia. Estou convencido de que destinos especificamente poloneses até ganham importância quando apresentados em comparação com outros países.
Só podemos, por exemplo, compreender o significado do Estado polonês clandestino e das grandes conspirações contra a Alemanha de Hitler, e também contra a União Soviética, quando comparamos esses episódios com outras formas de resistência na Europa Ocidental. Os ataques ao nosso projeto tinham objetivos muito políticos. A oposição nacional-conservadora acreditava ter descoberto aqui uma possibilidade cômoda de atacar o premiê Donald Tusk, que apoia o projeto.
Somente o fato de trabalharmos junto com outros historiadores europeus – Ulrich Herbert da Alemanha, Norman Davies do Reino Unido e Henry Rousso, da França – já era, para alguns grupos na Polônia, razão suficiente para repudiar o projeto como um todo.
DW: Na Alemanha, entre as associações de desterrados, a ideia do museu vem sendo também observada e em parte criticada. Essas associações pleiteiam uma apreciação mais crítica da história polonesa anterior à guerra. Um período no qual partidos nacionalistas já cogitavam, antes da eclosão da guerra, a expulsão dos alemães, enquanto o governo do país mantinha as melhores relações com o regime de Hitler. Houve até mesmo um tratado de amizade entre os dois lados.
Isso é um equívoco. Não se trata de um museu da história teuto-polonesa. Se fosse o caso, poderíamos voltar até os tempos das ordens de cavaleiros. Trata-se, porém, de um Museu da Segunda Guerra Mundial, e a razão desta guerra está, acima de tudo, na expansão ideológica, territorial e militar do Terceiro Reich. Isso precisa ser exposto como a razão principal da guerra.
(Foto)200 mil poloneses morreram na luta pela libertação
Mostrar as exigências territoriais da Polônia à Alemanha naquele momento só iria distorcer a imagem da guerra. Antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, não havia na Polônia nenhum grupo político sério, que tenha exigido a expulsão dos alemães ou que tenha feito valer demandas territoriais à custa da Alemanha. A Polônia é que foi invadida. Neste contexto, é preciso fazer valer, acima de tudo, a razão. E avaliar as proporções do que ocorreu.
DW: Como será a inauguração do museu, no dia 1° de setembro de 2009, em Gdansk?
Haverá um encontro de chefes de governo e Estado de diversos países europeus na Westerplatte [península de Gdansk, palco do início da Segunda Guerra Mundial]. A premiê alemã, Angela Merkel, e o presidente russo, Vladimir Putin já confirmaram que virão. Contamos também com a presença dos líderes dos principais países da então aliança anti-Hitler, ou seja, da França e do Reino Unido.
A Westerplatte simboliza a heróica resistência polonesa contra o ataque de Hitler. Ali esteve estacionada uma pequena unidade polonesa, que defendeu o país do 1° ao 9 de setembro. Ali foi assinado o documento de fundação do museu.
Pawel Machcewicz, nascido em 1966, é historiador e diretor fundador do Museu da Segunda Guerra Mundial, em Gdansk. Ele atuou anteriormente no Instituto de Estudos Políticos da Academia Polonesa das Ciências (ISP PAN) e foi diretor do Escritório para Educação e Pesquisa do Instituto para a Memória Nacional, em Varsóvia.
Autor: Martin Sander
Revisão: Augusto Valente
Fonte: Deutsche Welle(01.06.2009, Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4292562,00.html
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
"Ninguém pode imaginar o que é um campo de concentração"
David Moyano: no lenço, as cores da bandeira republicana espanhola
David Moyano lutou contra Franco na Guerra Civil Espanhola, combateu os nazistas com o exército francês na Segunda Guerra e sobreviveu a um campo de concentração alemão. Aos 86 anos, ele recebeu DW-WORLD.DE em Bruxelas.
"Vou usar um distintivo para que você saiba que sou espanhol", dissera David Moyano ao telefone, quando combinávamos um ponto de encontro na estação de trem de Bruxelas. "Não se preocupe, você vai logo ver que sou espanhol", assegurou, quando tentei obter mais detalhes.
Eis que me encontrava na abarrotada estação de Bruxelas, tentando identificar um espanhol no meio da massa de gente. O que distingue um espanhol dos outros? Nos campos de concentração nazistas, era o triângulo azul com um "S" que portavam sobre a camisa do uniforme. "S" de "Spanier", "espanhol" em alemão.
O espanhol ainda tem o lenço azul com o 'S' que indicava sua nacionalidade no campo de concentração de Mauthausen
No campo de concentração de Mauthausen, na Áustria, onde Moyano ficou entre 1941 e 1945, o emblema salvou sua vida. Acusado de um furto tão insignificante quanto improvável, ele foi espancado pelos SS alemães até ser dado por morto. Inconsciente, foi largado às portas do crematório, um corpo na neve. Alguém viu o "S" em seu uniforme e, percebendo que estava vivo, avisou outros espanhóis. Os compatriotas o resgataram.
David Moyano sobreviveu a Mauthausen. Eu o encontrei, andando pela estação central de Bruxelas, com um lenço no pescoço. Era um triângulo azul com um "S" estampado. Reconheci-o imediatamente.
"Não sou um desertor"
Hoje, David Moyano tem 86 anos e vive em um residência belga para idosos que lhe custa toda a sua pensão, comenta indignado. Da França, ele ainda recebe uma pequena renda pelos tempos que lutou ao lado do Exército na Segunda Guerra Mundial, "e esta é toda para mim". Ele tira do bolso um saquinho de plástico para mostrar seu documento de ex-combatente e sua identidade de deportado político, herança de sua militância durante a Guerra Civil Espanhola. "Não preciso de passaporte. Quando vou à França, mostro isso e basta. Não me fazem mais perguntas", diz, orgulhoso.
Moyano sempre carrega seu documento francês de ex-combatente e deportado político
Moyano e os demais republicanos espanhóis são curiosos heróis que perderam todas as batalhas. Eles foram derrotados na Guerra Civil. Na Segunda Guerra Mundial, ainda que os melhores tenham vencido, a permanência do ditador Francisco Franco no poder fez o gosto de fracasso prevalecer. A Espanha de Franco os despiu de sua nacionalidade por terem lutado contra as tropas nacionalistas. E, no entanto, a convicção de haver arriscado a vida pelo justo e o correto lhes concede a aura de quem triunfou em cada batalha.
"Eu tinha acabado de completar 14 anos quando me alistei no exército republicano. Foi na 118ª bateria, e nos mandaram para o Campo da Bota." Lá deveriam estar forças da União Soviética, que havia se engajado no apoio às tropas republicanas no combate às forças nacionalistas de Franco. Mas os soviéticos já haviam recuado, e a bateria de Moyano foi substituí-los. Os aviões que vinham bombardeá-los tampouco eram espanhóis: eram alemães ou italianos, aliados da guerra de Franco.
A Guerra Civil Espanhola durou três anos, de 1936 a 1939. O apoio que o chamado "Movimiento Nacional" obteve dos regimes fascistas da Alemanha e da Itália era o dobro do apoio oferecido aos republicanos pela União Soviética. Este não foi o único nem o principal motivo, mas os republicanos não puderam defender suas posições. "Eu tinha um tio no governo, e um dia ele me disse que naquela noite eles fugiriam, que eu não deveria voltar à bateria porque os falangistas estavam chegando. Mas eu não sou um desertor."
Da pátria perdida para a luta contra Hitler
O encontro com ex-companheiros na luta republicana foi registrado nesta foto
Mas a guerra estava perdida. David Moyano acabou atravessando a fronteira e se refugiando na França, como tantos outros. "Na França nos disseram: 'os que quiserem juntar-se a Franco, fiquem à direita; os que quiserem ficar aqui, à esquerda.' Os que foram para a direita foram mandados para a Espanha. Já nós ficamos, com a República."
A Segunda Guerra Mundial acabara de começar e o exército francês pediu voluntários para lutar contra a Alemanha nazista. Moyano e seus companheiros ingressaram no Batalhão Alpino. "Fomos para a montanha construir uma estrada militar e tínhamos que ir até a fronteira com a Itália. Ha ha ha! Aquilo era o máximo! Éramos todos jovens e valia a pena fazer tudo aquilo."
Após a queda da Linha Maginot, os nazistas ocuparam a França
"Mas então nos mandaram para a Linha Maginot." A Linha Maginot deveria proteger as fronteiras francesas, mas quando foi quebrada pelos nazistas, em 1940, o caminho para Paris ficou escancarado. "Estávamos rodeados. Nosso capitão disse 'salve-se quem puder', e nós, que éramos só algumas dúzias, fugimos para a montanha. Acho que eu me tremia dos pés à cabeça de medo dos alemães."
Na Linha Maginot, Moyano e seus companheiros foram aprisionados. No dia 25 de janeiro de 1941, eles foram deportados para o campo de concentração Mauthausen, perto da cidade de Linz, na Áustria. "Eu me lembro bem, porque o dia que nos fizeram ir à estação e disseram que não tínhamos que levar nada porque nos dariam roupas no lugar para onde iríamos, era meu aniversário."
Em casa, o passado do campo de concentração nas paredes
David Moyano entre as recordações do passado que guarda em casa
"Rendezvous", escreveu Moyano no calendário, marcando o dia para o qual nosso encontro estava marcado. O "rendezvous" era eu. Custa-lhe lembrar as coisas atuais; a memória, ele a guarda para não se esquecer do passado. No presente, Moyano vive com sua mulher num asilo, num pequeno apartamento. Um banheiro, uma pequena cozinha, uma sala e um quarto de dormir. A porta que dá para o corredor está sempre aberta, e por lá circula sem cessar um exército de enfermeiras.
A casa de Moyano parece um museu de Mauthausen. Em cada canto há uma foto, um recorte de jornal, um livro sobre o campo de concentração. Ele passou quatro anos em Mauthausen, que ficou conhecido como "o campo dos espanhóis". Sete mil de seus compatriotas foram deportados para lá. Mais de 4.300 morreram. "Ninguém pode imaginar o que é isso", diz, e conta histórias que mostram o quão dramáticos podem se tornar o frio e a fome.
A escada da morte: os prisioneiros carregavam blocos de pedra por seus 186 degraus e 31 metros
Os nazistas escolheram aquela região para construir Mauthausen, conta ele, porque "a pedra lá era boa". Os presos extraíam granito de uma pedreira, e a rocha era então usada para recobrir ruas de Viena e de cidades alemãs. Com os blocos de pedra nas costas, eles subiam a escada da morte: 31 metros e 186 degraus. Os SS se divertiam ao fazê-los cair.
"Eu sobrevivi ao campo porque era jovem, e porque não passei todo aquele tempo na pedreira", diz Moyano. Quando as tropas norte-americanas libertaram Mauthausen, em 5 de maio de 1945, ele já não trabalhava no campo. Alguns presos eram enviados a fábricas vizinhas para servir de mão-de-obra gratuita.
"Estou morto para a Espanha"
Heinrich Himmler, comandante-chefe das SS, em visita a Mauthausen
"Depois da guerra, fomos obrigados a ir para a França", lembra Moyano. "Lá nos trataram bem, fomos atendidos por médicos. Eu tinha perdido alguns dentes nas derrotas e tinha sido operado de uma úlcera em Mauthausen. O médico me perguntou onde eu tinha sido operado, e eu respondi que no campo de concentração. Ele já não disse mais nada."
O médico certamente terá pensado no mau hábito nazista de fazer experimentos médicos com presos no campo de concentração. Mauthausen ficou especialmente conhecido por esta prática.
Moyano guarda livros e fotos sobre Mauthausen; na foto, um preso sendo levado para a execução
Depois da Segunda Guerra Mundial, a França se encarregou da maior parte das vítimas espanholas do nazismo. A Espanha, que não havia feito nada para impedir o envio de seus cidadãos para campos nazistas, aprovou, em 1951, um decreto que os despia definitivamente de sua nacionalidade espanhola. Os afetados foram todos aqueles que haviam sido deportados, ou os que haviam lutado com os exércitos aliados na Segunda Guerra e as chamadas "crianças da guerra" – os menores que a República havia mandado para fora do país durante a Guerra Civil Espanhola para que permanecessem a salvo.
Recuperado de seus anos no campo de concentração, Moyano se mudou para a Bélgica, onde enfim teve tempo para aprender a ler e a escrever. Hoje, é eletricista aposentado e cidadão belga. Na Espanha, as leis que anularam sua nacionalidade permanecem vigentes. "Da Espanha, não espero nada", diz. "Estou morto para eles."
Luna Bolívar Manaut (jc)
Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3649025,00.html
David Moyano lutou contra Franco na Guerra Civil Espanhola, combateu os nazistas com o exército francês na Segunda Guerra e sobreviveu a um campo de concentração alemão. Aos 86 anos, ele recebeu DW-WORLD.DE em Bruxelas.
"Vou usar um distintivo para que você saiba que sou espanhol", dissera David Moyano ao telefone, quando combinávamos um ponto de encontro na estação de trem de Bruxelas. "Não se preocupe, você vai logo ver que sou espanhol", assegurou, quando tentei obter mais detalhes.
Eis que me encontrava na abarrotada estação de Bruxelas, tentando identificar um espanhol no meio da massa de gente. O que distingue um espanhol dos outros? Nos campos de concentração nazistas, era o triângulo azul com um "S" que portavam sobre a camisa do uniforme. "S" de "Spanier", "espanhol" em alemão.
O espanhol ainda tem o lenço azul com o 'S' que indicava sua nacionalidade no campo de concentração de Mauthausen
No campo de concentração de Mauthausen, na Áustria, onde Moyano ficou entre 1941 e 1945, o emblema salvou sua vida. Acusado de um furto tão insignificante quanto improvável, ele foi espancado pelos SS alemães até ser dado por morto. Inconsciente, foi largado às portas do crematório, um corpo na neve. Alguém viu o "S" em seu uniforme e, percebendo que estava vivo, avisou outros espanhóis. Os compatriotas o resgataram.
David Moyano sobreviveu a Mauthausen. Eu o encontrei, andando pela estação central de Bruxelas, com um lenço no pescoço. Era um triângulo azul com um "S" estampado. Reconheci-o imediatamente.
"Não sou um desertor"
Hoje, David Moyano tem 86 anos e vive em um residência belga para idosos que lhe custa toda a sua pensão, comenta indignado. Da França, ele ainda recebe uma pequena renda pelos tempos que lutou ao lado do Exército na Segunda Guerra Mundial, "e esta é toda para mim". Ele tira do bolso um saquinho de plástico para mostrar seu documento de ex-combatente e sua identidade de deportado político, herança de sua militância durante a Guerra Civil Espanhola. "Não preciso de passaporte. Quando vou à França, mostro isso e basta. Não me fazem mais perguntas", diz, orgulhoso.
Moyano sempre carrega seu documento francês de ex-combatente e deportado político
Moyano e os demais republicanos espanhóis são curiosos heróis que perderam todas as batalhas. Eles foram derrotados na Guerra Civil. Na Segunda Guerra Mundial, ainda que os melhores tenham vencido, a permanência do ditador Francisco Franco no poder fez o gosto de fracasso prevalecer. A Espanha de Franco os despiu de sua nacionalidade por terem lutado contra as tropas nacionalistas. E, no entanto, a convicção de haver arriscado a vida pelo justo e o correto lhes concede a aura de quem triunfou em cada batalha.
"Eu tinha acabado de completar 14 anos quando me alistei no exército republicano. Foi na 118ª bateria, e nos mandaram para o Campo da Bota." Lá deveriam estar forças da União Soviética, que havia se engajado no apoio às tropas republicanas no combate às forças nacionalistas de Franco. Mas os soviéticos já haviam recuado, e a bateria de Moyano foi substituí-los. Os aviões que vinham bombardeá-los tampouco eram espanhóis: eram alemães ou italianos, aliados da guerra de Franco.
A Guerra Civil Espanhola durou três anos, de 1936 a 1939. O apoio que o chamado "Movimiento Nacional" obteve dos regimes fascistas da Alemanha e da Itália era o dobro do apoio oferecido aos republicanos pela União Soviética. Este não foi o único nem o principal motivo, mas os republicanos não puderam defender suas posições. "Eu tinha um tio no governo, e um dia ele me disse que naquela noite eles fugiriam, que eu não deveria voltar à bateria porque os falangistas estavam chegando. Mas eu não sou um desertor."
Da pátria perdida para a luta contra Hitler
O encontro com ex-companheiros na luta republicana foi registrado nesta foto
Mas a guerra estava perdida. David Moyano acabou atravessando a fronteira e se refugiando na França, como tantos outros. "Na França nos disseram: 'os que quiserem juntar-se a Franco, fiquem à direita; os que quiserem ficar aqui, à esquerda.' Os que foram para a direita foram mandados para a Espanha. Já nós ficamos, com a República."
A Segunda Guerra Mundial acabara de começar e o exército francês pediu voluntários para lutar contra a Alemanha nazista. Moyano e seus companheiros ingressaram no Batalhão Alpino. "Fomos para a montanha construir uma estrada militar e tínhamos que ir até a fronteira com a Itália. Ha ha ha! Aquilo era o máximo! Éramos todos jovens e valia a pena fazer tudo aquilo."
Após a queda da Linha Maginot, os nazistas ocuparam a França
"Mas então nos mandaram para a Linha Maginot." A Linha Maginot deveria proteger as fronteiras francesas, mas quando foi quebrada pelos nazistas, em 1940, o caminho para Paris ficou escancarado. "Estávamos rodeados. Nosso capitão disse 'salve-se quem puder', e nós, que éramos só algumas dúzias, fugimos para a montanha. Acho que eu me tremia dos pés à cabeça de medo dos alemães."
Na Linha Maginot, Moyano e seus companheiros foram aprisionados. No dia 25 de janeiro de 1941, eles foram deportados para o campo de concentração Mauthausen, perto da cidade de Linz, na Áustria. "Eu me lembro bem, porque o dia que nos fizeram ir à estação e disseram que não tínhamos que levar nada porque nos dariam roupas no lugar para onde iríamos, era meu aniversário."
Em casa, o passado do campo de concentração nas paredes
David Moyano entre as recordações do passado que guarda em casa
"Rendezvous", escreveu Moyano no calendário, marcando o dia para o qual nosso encontro estava marcado. O "rendezvous" era eu. Custa-lhe lembrar as coisas atuais; a memória, ele a guarda para não se esquecer do passado. No presente, Moyano vive com sua mulher num asilo, num pequeno apartamento. Um banheiro, uma pequena cozinha, uma sala e um quarto de dormir. A porta que dá para o corredor está sempre aberta, e por lá circula sem cessar um exército de enfermeiras.
A casa de Moyano parece um museu de Mauthausen. Em cada canto há uma foto, um recorte de jornal, um livro sobre o campo de concentração. Ele passou quatro anos em Mauthausen, que ficou conhecido como "o campo dos espanhóis". Sete mil de seus compatriotas foram deportados para lá. Mais de 4.300 morreram. "Ninguém pode imaginar o que é isso", diz, e conta histórias que mostram o quão dramáticos podem se tornar o frio e a fome.
A escada da morte: os prisioneiros carregavam blocos de pedra por seus 186 degraus e 31 metros
Os nazistas escolheram aquela região para construir Mauthausen, conta ele, porque "a pedra lá era boa". Os presos extraíam granito de uma pedreira, e a rocha era então usada para recobrir ruas de Viena e de cidades alemãs. Com os blocos de pedra nas costas, eles subiam a escada da morte: 31 metros e 186 degraus. Os SS se divertiam ao fazê-los cair.
"Eu sobrevivi ao campo porque era jovem, e porque não passei todo aquele tempo na pedreira", diz Moyano. Quando as tropas norte-americanas libertaram Mauthausen, em 5 de maio de 1945, ele já não trabalhava no campo. Alguns presos eram enviados a fábricas vizinhas para servir de mão-de-obra gratuita.
"Estou morto para a Espanha"
Heinrich Himmler, comandante-chefe das SS, em visita a Mauthausen
"Depois da guerra, fomos obrigados a ir para a França", lembra Moyano. "Lá nos trataram bem, fomos atendidos por médicos. Eu tinha perdido alguns dentes nas derrotas e tinha sido operado de uma úlcera em Mauthausen. O médico me perguntou onde eu tinha sido operado, e eu respondi que no campo de concentração. Ele já não disse mais nada."
O médico certamente terá pensado no mau hábito nazista de fazer experimentos médicos com presos no campo de concentração. Mauthausen ficou especialmente conhecido por esta prática.
Moyano guarda livros e fotos sobre Mauthausen; na foto, um preso sendo levado para a execução
Depois da Segunda Guerra Mundial, a França se encarregou da maior parte das vítimas espanholas do nazismo. A Espanha, que não havia feito nada para impedir o envio de seus cidadãos para campos nazistas, aprovou, em 1951, um decreto que os despia definitivamente de sua nacionalidade espanhola. Os afetados foram todos aqueles que haviam sido deportados, ou os que haviam lutado com os exércitos aliados na Segunda Guerra e as chamadas "crianças da guerra" – os menores que a República havia mandado para fora do país durante a Guerra Civil Espanhola para que permanecessem a salvo.
Recuperado de seus anos no campo de concentração, Moyano se mudou para a Bélgica, onde enfim teve tempo para aprender a ler e a escrever. Hoje, é eletricista aposentado e cidadão belga. Na Espanha, as leis que anularam sua nacionalidade permanecem vigentes. "Da Espanha, não espero nada", diz. "Estou morto para eles."
Luna Bolívar Manaut (jc)
Fonte: Deutsche Welle
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quarta-feira, 30 de julho de 2008
Pesquisadores apontam proximidade inegável de Wagner com Hitler
(Foto)Richard Wagner: panfletos anti-semitas abriram caminho para o nazismo
Tema inesgotável para historiadores, cientistas políticos e musicólogos, a intensidade da ligação entre o compositor Richard Wagner e Adolf Hitler vem sendo esmiuçada há décadas.
Não são poucos os pesquisadores e cientistas na Alemanha e fora dela que dedicam trabalhos às ligações nem sempre claras entre política e cultura, que questionam os conceitos de poder e moral e apontam, dentro da obra do compositor Richard Wagner, preconceitos anti-semitas. "O jovem Hitler sempre esteve bem à frente em toda apresentação de Wagner que havia", diz a historiadora Brigitte Hamann, autora do livro Winifred Wagner e a Bayreuth de Hitler.
Fato é que as composições de Wagner estiveram presentes mais que quaisquer outras nos eventos organizados pelo governo de Hitler, que fazia, à vontade, uso das mesmas para os fins políticos que interessavam à propagação da ideologia nazista. A ópera Os Mestres Cantores de Nurembergue (Die Meistersinger von Nürnberg), por exemplo, foi executada com todas as pompas durante a Segunda Guerra Mundial na Festspielhaus de Bayreuth.
Panfleto incitando o anti-semitismo
(Foto)Hitler no Festival de Bayreuther, em 1938
Em 1850 e posteriormente mais uma vez em 1869, Wagner publicou o panfleto O Judaísmo na Música (Das Judentum in der Musik), no qual desprezava a produção musical de compositores judeus contemporâneos seus, como Felix Mendelssohn-Bartholdy ou Giacomo Meyerbeer, e defendia um combate à influência dos judeus na vida musical.
Tais declarações não eram, no contexto da época, raras. Ou seja, Wagner pertencia ao quadro de conservadores de direita intitulados "nacionalistas alemães" (Deutschnationaler). Dez anos depois da publicação destes panfletos, surgia um texto do historiador Heinrich von Treitschke, que, entre outros, continha os dizeres: "Os judeus são nosso azar". Tal frase desencadeou um enorme debate sobre a questão do anti-semitismo no século 19, tendo sido, décadas mais tarde, usada pelos nazistas em campanhas populares.
Contato estreito com Hitler
(Foto)Saul Friedländer: Wagner como precursor do anti-semitismo, mas não do genocídio
Hoje, boa parte dos especialistas acredita que Wagner defendia posições anti-semitas, tendo incluído em sua obra a idéia de um "germanismo ariano", embora, pessoalmente, nunca tenha demonstrado predileção pela exclusão ou extermínio dos judeus.
"O mestre de Bayreuth abriu, em parte, o caminho para o nazismo", escreveu o historiador Saul Friedländer. Segundo ele, o primeiro panfleto de teor anti-semita escrito por Wagner não pode, no entanto, ser interpretado como uma conclamação ao extermínio violento dos judeus, mas sim como um "apelo" contra a influência judaica na vida cultural da época.
Há de se notar, porém, que a família Wagner manteve, já desde 1923, um estreito contato com Adolf Hitler. "Eles convidavam Hitler para visitá-los e chegaram até a levá-lo ao túmulo de Richard. Mostraram tudo a ele. Assim, foi sendo construída uma relação íntima entre a família e o então futuro ditador nazista. A tradição nacionalista alemã já vinha de Richard. Quando Hitler visitou Bayreuth e os Wagner em 1923, todos entraram para seu partido. Eles se tornaram todos adeptos dos nazistas desde muito cedo", observa a historiadora Hamann.
"Winnie e Wolf"
(Foto)Winifred Wagner e Adolf Hitler a 6 de março de 1934 no Memorial a Wagner em Leipzig
Figura simbólica neste contexto é a de Winifred Wagner, nora de Richard, que, viúva precocemente, assumiu a direção do Festival de Bayreuth em 1930. Em 1923, ela já enviava ao jovem Hitler pelo correio presentes como meias e alimentos, tendo recebido, como agradecimento, um exemplar autografado de Minha Luta.
Eles não mantinham qualquer formalidade na comunicação, tratando-se mutuamente de você (du) e usando coloquialmente os apelidos de Winnie e Wolf. Depois do fim da Segunda Guerra, Winifred foi obrigada a abdicar da direção do Festival de Bayreuth, mas manteria suas reverências a Hitler até a morte, décadas mais tarde, em 1980.
Em 2007, Katharina, bisneta de Wagner, escolheria propositalmente a ópera Os Mestres Cantores de Nurembergue para sua estréia como diretora. "Claro que este local é carregado", afirmou Katharina na época.
Para a historiadora Hamann, "há tanto peso em função dessa herança nazista em Bayreuth, ainda hoje, que Katharina não tem mesmo outra saída exceto viver repetindo que se distancia [das posturas da família no passado]".
Cornelia Rabitz (sv)
Fonte: Deutsche Welle(28.07.2008, Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3512777,00.html
Tema inesgotável para historiadores, cientistas políticos e musicólogos, a intensidade da ligação entre o compositor Richard Wagner e Adolf Hitler vem sendo esmiuçada há décadas.
Não são poucos os pesquisadores e cientistas na Alemanha e fora dela que dedicam trabalhos às ligações nem sempre claras entre política e cultura, que questionam os conceitos de poder e moral e apontam, dentro da obra do compositor Richard Wagner, preconceitos anti-semitas. "O jovem Hitler sempre esteve bem à frente em toda apresentação de Wagner que havia", diz a historiadora Brigitte Hamann, autora do livro Winifred Wagner e a Bayreuth de Hitler.
Fato é que as composições de Wagner estiveram presentes mais que quaisquer outras nos eventos organizados pelo governo de Hitler, que fazia, à vontade, uso das mesmas para os fins políticos que interessavam à propagação da ideologia nazista. A ópera Os Mestres Cantores de Nurembergue (Die Meistersinger von Nürnberg), por exemplo, foi executada com todas as pompas durante a Segunda Guerra Mundial na Festspielhaus de Bayreuth.
Panfleto incitando o anti-semitismo
(Foto)Hitler no Festival de Bayreuther, em 1938
Em 1850 e posteriormente mais uma vez em 1869, Wagner publicou o panfleto O Judaísmo na Música (Das Judentum in der Musik), no qual desprezava a produção musical de compositores judeus contemporâneos seus, como Felix Mendelssohn-Bartholdy ou Giacomo Meyerbeer, e defendia um combate à influência dos judeus na vida musical.
Tais declarações não eram, no contexto da época, raras. Ou seja, Wagner pertencia ao quadro de conservadores de direita intitulados "nacionalistas alemães" (Deutschnationaler). Dez anos depois da publicação destes panfletos, surgia um texto do historiador Heinrich von Treitschke, que, entre outros, continha os dizeres: "Os judeus são nosso azar". Tal frase desencadeou um enorme debate sobre a questão do anti-semitismo no século 19, tendo sido, décadas mais tarde, usada pelos nazistas em campanhas populares.
Contato estreito com Hitler
(Foto)Saul Friedländer: Wagner como precursor do anti-semitismo, mas não do genocídio
Hoje, boa parte dos especialistas acredita que Wagner defendia posições anti-semitas, tendo incluído em sua obra a idéia de um "germanismo ariano", embora, pessoalmente, nunca tenha demonstrado predileção pela exclusão ou extermínio dos judeus.
"O mestre de Bayreuth abriu, em parte, o caminho para o nazismo", escreveu o historiador Saul Friedländer. Segundo ele, o primeiro panfleto de teor anti-semita escrito por Wagner não pode, no entanto, ser interpretado como uma conclamação ao extermínio violento dos judeus, mas sim como um "apelo" contra a influência judaica na vida cultural da época.
Há de se notar, porém, que a família Wagner manteve, já desde 1923, um estreito contato com Adolf Hitler. "Eles convidavam Hitler para visitá-los e chegaram até a levá-lo ao túmulo de Richard. Mostraram tudo a ele. Assim, foi sendo construída uma relação íntima entre a família e o então futuro ditador nazista. A tradição nacionalista alemã já vinha de Richard. Quando Hitler visitou Bayreuth e os Wagner em 1923, todos entraram para seu partido. Eles se tornaram todos adeptos dos nazistas desde muito cedo", observa a historiadora Hamann.
"Winnie e Wolf"
(Foto)Winifred Wagner e Adolf Hitler a 6 de março de 1934 no Memorial a Wagner em Leipzig
Figura simbólica neste contexto é a de Winifred Wagner, nora de Richard, que, viúva precocemente, assumiu a direção do Festival de Bayreuth em 1930. Em 1923, ela já enviava ao jovem Hitler pelo correio presentes como meias e alimentos, tendo recebido, como agradecimento, um exemplar autografado de Minha Luta.
Eles não mantinham qualquer formalidade na comunicação, tratando-se mutuamente de você (du) e usando coloquialmente os apelidos de Winnie e Wolf. Depois do fim da Segunda Guerra, Winifred foi obrigada a abdicar da direção do Festival de Bayreuth, mas manteria suas reverências a Hitler até a morte, décadas mais tarde, em 1980.
Em 2007, Katharina, bisneta de Wagner, escolheria propositalmente a ópera Os Mestres Cantores de Nurembergue para sua estréia como diretora. "Claro que este local é carregado", afirmou Katharina na época.
Para a historiadora Hamann, "há tanto peso em função dessa herança nazista em Bayreuth, ainda hoje, que Katharina não tem mesmo outra saída exceto viver repetindo que se distancia [das posturas da família no passado]".
Cornelia Rabitz (sv)
Fonte: Deutsche Welle(28.07.2008, Alemanha)
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Saul Friedländer,
Winifried Wagner
domingo, 6 de abril de 2008
O que é o NPD?
O partido de extrema direita, que poderá vir a ser a terceira agrupação política proibida da Alemanha, tem quase 40 anos de existência.
Fundado em 1964, o Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD) é o único grupo político de extrema direita do país. Ele se autodefine como um agrupação "socialista", acreditando que "o nacional-socialismo é a mais elevada forma de comunidade de um povo". Na década de 60, ocupou cadeiras em diversas assembléias estaduais. Em 1968, alcançou seu melhor resultado (9,8% dos votos), no estado de Baden-Württemberg, porém no ano seguinte não conseguiu alcançar os 5% mínimos para manter representação na assembléia legislativa.
O NPD tem sede em Berlim e há seis anos seu presidente é Udo Voigt. Entre 1996 e 2001, seu número de filiados quase dobrou, de 3500 para 6500. Além disso, acredita-se que a organização Jovens Nacional-Democratas (JN), com 400 membros, funcione como ligação ente o NPD e outros grupos de extrema direita e neonazistas.
Com suas numerosas manifestações e passeatas, o NPD tem criado celeuma e indignação pública. Um relatório do Departamento de Defesa da Constituição (BfV) de 2001 aponta um "parentesco essencial" entre este partido e os neonazistas, além de "xenofobia motivada pelo racismo". Além disso, o NPD praticaria agitação anti-semita e minimizaria os crimes dos nazistas sob Adolf Hitler. Mesmo depois de aberto o processo de proibição, o partido haveria mantido sua "hostilidade pública contra a livre ordem democrática", concluiu o BfV, que é o serviço secreto interno da Alemanha.
A crônica de uma proibição difícil
Em agosto de 2000, após atos de violência de extrema direita na Turíngia, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Brandemburgo e Baviera, o secretário do Interior bávaro, Günther Beckstein, exigiu a proibição do NPD, assim como maior rigor contra os agressores politicamente radicais. De início, o Ministério do Interior é contra uma petição de proibição junto ao Tribunal Federal Constitucional.
Somente em 10 de novembro o Bundesrat (câmara alta do Legislativo) aprovou entrar com um processo de proibição, e logo o Bundestag (Parlamento) seguiu seu exemplo. Em 30 de janeiro, o governo federal entrou com sua própria petição, e dois meses mais tarde as duas câmaras do Legislativo faziam o mesmo: é a primeira vez na história da República Federal das Alemanha que os três organismos constitucionais competentes se empenham pelo veto a um partido.
Em 22 de janeiro de 2002, o processo foi sustado, devido à presença de informantes do serviço secreto na cúpula do NPD, e o Tribunal Constitucional cancelou cinco audiências já programadas. Somente após uma série de justificativas e desculpas por parte do Ministério do Interior e de uma tomada de posição por parte dos três postulantes, uma nova audiência foi marcada para 8 de outubro: de seu resultado depende a retomada do processo.
(av)
Fonte: Deutsche Welle(08.10.2002)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,651885,00.html
Fundado em 1964, o Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD) é o único grupo político de extrema direita do país. Ele se autodefine como um agrupação "socialista", acreditando que "o nacional-socialismo é a mais elevada forma de comunidade de um povo". Na década de 60, ocupou cadeiras em diversas assembléias estaduais. Em 1968, alcançou seu melhor resultado (9,8% dos votos), no estado de Baden-Württemberg, porém no ano seguinte não conseguiu alcançar os 5% mínimos para manter representação na assembléia legislativa.
O NPD tem sede em Berlim e há seis anos seu presidente é Udo Voigt. Entre 1996 e 2001, seu número de filiados quase dobrou, de 3500 para 6500. Além disso, acredita-se que a organização Jovens Nacional-Democratas (JN), com 400 membros, funcione como ligação ente o NPD e outros grupos de extrema direita e neonazistas.
Com suas numerosas manifestações e passeatas, o NPD tem criado celeuma e indignação pública. Um relatório do Departamento de Defesa da Constituição (BfV) de 2001 aponta um "parentesco essencial" entre este partido e os neonazistas, além de "xenofobia motivada pelo racismo". Além disso, o NPD praticaria agitação anti-semita e minimizaria os crimes dos nazistas sob Adolf Hitler. Mesmo depois de aberto o processo de proibição, o partido haveria mantido sua "hostilidade pública contra a livre ordem democrática", concluiu o BfV, que é o serviço secreto interno da Alemanha.
A crônica de uma proibição difícil
Em agosto de 2000, após atos de violência de extrema direita na Turíngia, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Brandemburgo e Baviera, o secretário do Interior bávaro, Günther Beckstein, exigiu a proibição do NPD, assim como maior rigor contra os agressores politicamente radicais. De início, o Ministério do Interior é contra uma petição de proibição junto ao Tribunal Federal Constitucional.
Somente em 10 de novembro o Bundesrat (câmara alta do Legislativo) aprovou entrar com um processo de proibição, e logo o Bundestag (Parlamento) seguiu seu exemplo. Em 30 de janeiro, o governo federal entrou com sua própria petição, e dois meses mais tarde as duas câmaras do Legislativo faziam o mesmo: é a primeira vez na história da República Federal das Alemanha que os três organismos constitucionais competentes se empenham pelo veto a um partido.
Em 22 de janeiro de 2002, o processo foi sustado, devido à presença de informantes do serviço secreto na cúpula do NPD, e o Tribunal Constitucional cancelou cinco audiências já programadas. Somente após uma série de justificativas e desculpas por parte do Ministério do Interior e de uma tomada de posição por parte dos três postulantes, uma nova audiência foi marcada para 8 de outubro: de seu resultado depende a retomada do processo.
(av)
Fonte: Deutsche Welle(08.10.2002)
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