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terça-feira, 21 de maio de 2013

Dominique Venner - Ensaísta francês de extrema-direita mata-se na Notre-Dame de Paris

Ensaísta francês de extrema-direita mata-se na Notre-Dame de Paris
AFP e PÚBLICO. 21/05/2013 - 18:05. (atualizado às 23:15)

Dominique Venner tinha 78 anos. Justificou o suicídio com a necessidade de "despertar as consciências adormecidas", mostrando-se contra a imigração.

A catedral de Notre-Dame foi esvaziada pela polícia PATRICK KOVARIK/AFP

Europa. França

O ensaísta e historiador de extrema-direita Dominique Venner, antigo membro da Organização Secreta Armada, matou-se na tarde desta terça-feira na catedral de Notre-Dame, em Paris.

De acordo com os media franceses, Venner, que tinha 78 anos, entrou na igreja, colocou-se atrás do altar e disparou um tiro na boca. Eram 16h. A catedral, uma das principais atracções turisticas da cidade, foi esvaziada e a polícia entrou para encontrar uma carta junto ao corpo.

Mais tarde, um outro ativista de extrema-direita leu numa rádio francesa uma mensagem deixada por Venner: "Sinto o dever de agir, enquanto ainda tenho força. Creio ser necessário sacrificar-me para quebrar a letargia que nos oprime. Escolhi um lugar altamente simbólico, que respeito e admiro. O meu gesto encarna uma vontade ética. Dou-me à morte para despertar as consciências adormecidas. Embora defenda a identidade de todos os povos em casa deles, insurjo-me contra o crime que visa substituir os nossas populações".

Esta manifestação anti-imigração já tinha também ficado evidente no blogue de Dominique Venner. No seu último post, publicado nesta terça-feira, escreveu um texto chamado "A manif de 26 de Março e Heidegger" em que diz que "os manifestantes [contra o casamento homossexual em França] têm razão em apregoar a sua impaciência . "A grande substituição da população da França e da Europa, como denunciou o escritor Renaud Camus, é um perigo verdadeiramente catastrófico para o futuro".

O texto diz que a França corre o risco de "cair nas mãos dos islamistas" e acusa todos os partidos à excepção da Frente Nacional (extrema-direita) de serem responsáveis por isso. "Desde há 40 anos que os políticos e os governos de todos os partidos (menos da Frente Nacional), com o patrocinio da Igreja, trabalharam activamente nesse sentido, acelerando por todos os meios a imigração afro-magrebina".

"São certamente precisos gestos novos, espectaculares e simbólicos, para agitar as sonolências, sacudir as consciências anestesiadas e reavivar na memória as nossas origens", escreveu o ensaísta.

Inicialmente, o suicídio de Venner foi associado a um protesto contra o casamento gay, mas o editor do ensaísta, Pierre-Guillaume de Roux, questionou imediatamente essa ligação: "Não acredito que o seu suicídio possa ser ligado ao casamento gay, isto vai muito mais além", disse à AFP Roux, acrescentando ter falado com o ensaísta por telefone na segunda-feira à noite para discutir a próxima obra deste, prevista para sair em Junho. Na sua opinião, o suicídio na Nôtre-Dame revela "uma essência simbólica extremamente forte que o aproxima a Mishima". A referência é ao escritor japonês Yukio Mishima, ligado à extrema-direita e ao movimento nacionalista nipónico, que se suicidou em 1970.

Venner foi paraquedista na guerra com a Argélia e, em 1962, escreveu o ensaio Pour une critique positive, que, segundo o Libération, foi importante para uma parte da extrema-direita, ao expor o que chamava de necessidade de refundação intelectual após o fim da guerra.

Pouco conhecido do grande público em França, mas muito respeitado na extrema-direita, o ensaísta foi autor de várias obras sobre a história (política e militar), armas de fogo e caça, destaca o Le Monde, acrescentando que Venner chegou a ser sondado para liderar a Frente Nacional, logo a após a sua criação, em 1972, posto que seria ocupado por Jean-Marie Le Pen.

Marine Le Pen, filha de Jean-Marie e actual dirigente da Frente Nacional, já reagiu no Twitter, qualificando este suicídio como "um gesto, eminentemente político, que deve ter tido o objectivo de despertar o povo francês".

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/ensaista-frances-de-extremadireita-matase-na-notredame-de-paris-1595084

Ver mais:
Dominique Venner, le père de l’extrême droite moderne, s’est suicidé (Droites Extremes, Le Monde, França)
Man kills himself inside Notre-Dame cathedral in Paris (BBC)
Far-right French historian, 78-year-old Dominique Venner, commits suicide in Notre Dame in protest against gay marriage (The Independent, Reino Unido)
Notre Dame Cathedral suicide by French writer Dominique Venner a 'gay marriage protest' (news.com.au, Austrália)

sábado, 3 de março de 2012

"François Duprat," o livro referência sobre o homem que inventou a Frente Nacional

François Duprat, de Nicolas Lebourg
e Joseph Beauregard (Denoël)
Quem foi François Duprat? Personagem misterioso e fundamental da extrema-direita francesa, ele atravessou um quarto de século da política francesa e internacional. Sua morte misteriosa em um atentado de carro-bomba que explodiu em 18 março de 1978, antes do primeiro turno das eleições legislativas, deixou uma imagem de mártir da "causa nacional" na sua família política.

O historiador Nicolas Lebourg e o documentarista Joseph Beauregard tiveram uma árdua tarefa de reconstruir o itinerário político e pessoal de um homem que não parou de compartimentar sua vida e que não relutou em inventar quando parecia necessário. A tudo ele se prestou: policial, delator, o homem da KGB, do Mossad, da CIA, dos sírios, pagos por Gaddafi, Arafat e de outras hipóteses ainda.

Em abril de 2011, os autores realizaram em parceria com o Le Monde.fr, o INA e a 1+1 Production, a produção de um webdocumentário que também tentou explicar o percurso de Duprat e o papel essencial que desempenhou na extrema-direita.

Sua biografia retorna ao essencial - e de forma mais desenvolvida - desta trama. François Duprat, o homem que inventou a Frente Nacional (Denoël, 382 páginas, € 23,50), pode ser lido como um romance policial. E contém muitos detalhes e análises políticas fascinantes. Os autores encontraram todas as testemunhas-chaves, como a família de Duprat, seus companheiros, seus adversários, seus inimigos. Toda a informação é verificada, cruzada. Uma obra rara de investigação pode lançar luz sobre François Duprat. Porque, se ele foi esquecido pelo público em geral, Duprat teve um papel fundamental no nascimento e na ascensão final da Frente Nacional.

Intelectual orgânico

Duprat se alistou em primeiro lugar, quando da guerra da Argélia junto à Nação Jovem (Jeune Nation), um grupo de extrema-direita violenta fundado por Pierre Sidos, facção da galáxia da OAS. Duprat acabará por fazer parte de toda aventura de extrema-direita da FN no Ocidente, como, através da Federação dos Estudantes Nacionalistas e da Nova Ordem. Mas muitas vezes ele será excluído. Cada vez, ele irá imprimir a sua influência teórica nesses pequenos grupos, para se tornar o verdadeiro intelectual orgânico da extrema-cireita. Este professor de história, amado por seus alunos, também receberá uma série de apelidos da imprensa militante como irá usá-los como uma arma ideológica com sua família política.

Mas Duprat não era um simples ativista simples parisiense, que não relutou em lutar apesar de seu porte físico e apesar de sua forte miopia. Fascinado pelos serviços de inteligência e do dobro (ou triplo) de jogos, foi pessoalmente encarregado pela Central de Inteligência, onde informou seu agente sobre as vicissitudes de sua família política. Foi também para a Nigéria e Congo, em plena descolonização, para ajudar o campo anticomunista.

Para esta resistente criança, vindo de uma família de esquerda, ele era um anticomunista total. E um profundo antissemita. Ele foi o primeiro a publicar livros negacionistas na França. E a revitalizar o antissemitismo e a negação do Holocausto combinando negacionismo e antissionismo. Os autores escrevem: "A negação é aberta (...) sobre as novas mitologias do antissemitismo. Os judeus ganharam a Segunda Guerra Mundial, tanto para a causa sionista como para a destruição de outros Estados e 'raças', a fim de estabelecer sua dominação global." Foi ele quem conceituou a noção de "nacionalismo revolucionário", uma atualização do "movimento fascista".

No início da aventura da FN, são seus grupos nacionalistas revolucionários a ala mais radical do partido. Mas isso não impede que influencie fortemente a linha de discurso do partido. Ele é o exemplo que sopra para Jean-Marie Le Pen e que se tornou a marca de um partido social de extrema direita: o famoso "Um milhão de desempregados, é um milhão de imigrantes também."

O legado de Duprat, a FN é o maior. Muito azedo. No entanto, é de fato sempre presente. E, especialmente hoje. O posicionamento econômico e social defendido por Duprat pela FN, e do chamado "novo" discurso de Le Pen, há semelhanças.

Evidentemente, o assassinato de Duprat é metodicamente estudado. Um pouco como uma investigação policial, os autores descrevem com força de detalhes as circunstâncias da morte de Duprat. Eles analisam todos os pressupostos sobre a acusação de assassinato.

Ao longo de 382 páginas deste livro - somado, através do personagem de Duprat, emerge da trama pequenos toques impressionistas, retrato de uma época em que a política era o negócio da vida, e onde não renunciou a qualquer meio, incluindo a violência e assassinato, para alcançar seus objetivos.

Fonte: Le Monde, blog Droite(s) Extreme(s)François Duprat», le livre référence sur l’homme qui inventa le Front national)
http://droites-extremes.blog.lemonde.fr/2012/02/14/francois-duprat-le-livre-reference-sur-lhomme-qui-inventa-le-front-national/
Tradução: Roberto Lucena

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