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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Enfermeiras de dia, nazis e assassinas à noite (livro de Wendy Lower)

'As harpias de Hitler' mostra os crimes das mulheres alemãs. Enfermeiras de dia, nazis e assassinas à noite
Javier Zurro. 07/10/2013 (06:00)

Enfermeiras da Cruz Vermelha reunidas em
Berlim para fazer juramento (As harpias de Hitler)
Apesar dos julgamentos realizados depois da Segunda Guerra Mundial contra os criminosos que ajudaram a executar o genocídio contra os judeus, muitos deles conseguiram escapar e evitar sua condenação. Não só aqueles que fugiram para outros países e adotaram novas identidades para fugir da justiça. Também todos os que tiveram um papel secundário no mesmo, ou tendo participado ativamente ninguém foi capaz de identificar ou dar nomes. Especialmente relevante é o caso das mulheres nazis, já que poucas delas foram julgadas, o que faz dar pouca importância ao papel fundamental que exerceram na execução de um grande número de crimes.

Treze milhões de mulheres militaram ativamente no partido nazi, e mais de meio milhão compareceram em países como Ucrânia, Polônia ou Bielorrússia excedendo as funções para as quais foram enviadas, mas elas tomaram partido nas matanças contra judeus? Isso é o que afirma Wendy Lower em "As harpias de Hitler" (Editado por Memoria Crítica), título original em inglês: Hitler's Furies: German Women in the Nazi Killing Fields. Graças a um árduo trabalho de documentação e busca de dados e testemunhos, Lower conseguiu dar um pouco de luz acerca deste tema.

Ainda que os julgamentos de mulheres nazistas não fossem especialmente numerosos, As harpias de Hitler relembra que muitos dos sobreviventes do Holocausto identificaram as pessoas que os acossaram, violaram e os torturaram como senhoras alemães que nunca puderam encontrar por desconhecer seus nomes. Além disso, os estudos realizados posteriormente advertiu que o genocídio não teria sido possível sem uma ampla colaboração da sociedade. Quem foram essas mulheres que sujaram suas mãos com sangue dos prisioneiros?

Cozinheiras, enfermeiras, secretárias e esposas

Membros da Liga de Jovens Alemãs
disparando como parte de seu treinamento (1936)
A crença mais ampla é que as únicas que cometeram crimes foram as guardas dos campos de concentração, enquanto que o resto teve um papel secundário na história do nazismo. Contudo, a realidade é bem outra. Quando os alemães avançaram para o leste, meio milhão de mulheres lhes acompanharam e alcançaram um poder sem precedentes que lhes deu liberdade para fazer com os prisioneiros o que bem quiserem. Maestras, enfermeiras, secretárias e esposas, essas eram as funções que originalmente teriam que realizar todas aquelas que compareciam junto ao exército. Finalmente, muitas delas decidiram, voluntariamente, colaborar diretamente com a SS.

As harpias de Hitler incide constantemente num dado fundamental: nenhuma das mulheres descritas tinha a obrigação de matar. Negar-se a assassinar judeus não teria lhes acarretado nenhum castigo. E mais, o regime não formava as mulheres para se converter em assassinas, senão em cúmplices. Portanto, as que finalmente decidiram realizar tais crimes os cometeram ou por satisfação pessoal ou para obter um benefício daquelas ações.

De fato, as primeiras matanças cometidas pelos nazis foram protagonizadas pelas enfermeiras dos hospitais, que exterminaram milhares de crianças por desnutrição, ou inclusive com injeções letais, ainda que a maioria delas nunca tenha pago por seus delitos.

Este é o caso de Pauline Kneissler, cuja tarefa consistia em portar uma lista de pacientes que posteriormente deveriam ser mortos. Em um só ano (1940) a equipe na qual Kneissler trabalhava em Grafeneck assassinou 9.389 pessoas. Ela foi testemunha direta de como lhes gaseavam e prestou sua ajuda na hora de administrar injeção letal a muitos pacientes durante cinco anos. Pauline foi uma das mulheres que, posteriormente, se mudou para o leste para continuar sua onda de crimes.

Entretanto, não foram as enfermeiras as que cometeram os assassinatos mais sádicos, senão as secretárias e esposas dos membros do partido nazi. Entre as primeiras se destaca o nome de Johanna Altvater, que ocupava seu posto em Minden, Vestfália, antes de ser transferida para a Ucrânia. Ali, em 1942, Altvater começou sua queda aos infernos, chegando inclusive a assassinar um garoto judeu de dois anos golpeando sua cabeça contra um muro para jogá-lo sem vida aos pés de seu pai. Este posteriormente chegou a declarar que nunca havia visto tal sadismo em uma mulher, uma imagem que nunca pode apagar de sua mente.

Comício do Partido Nazi em Berlim (Agosto de 1935)
Crimes ante seres indefesos, mulheres e inclusive crianças. A mulher nazi tampouco teve piedade, como não a tinham seus companheiros masculinos. Aprenderam bem a lição de que havia que fazer e não duvidaram disso um só momento. Assim também fez Erna Kürbs Petri, filha e esposa de granjeiro que junto com seu marido Horst (membro da SS) era encarregada de dirigir uma finca agrícola. Um dia, Erna Petri vislumbrou algo próximo da estação de Saschkow. Quando seu vagão se aproximou se deu conta de que eram várias crianças judias escondidas que haviam conseguido fugir.

Petri pediu que eles eles se aproximassem e os levou para sua casa. Lá ela lhes deu de comer e os tranquilizou. Mas tudo isto só foi parte de seu sinistro plano. Ao ver que seu marido não regressava para casa, ela decidiu terminar o trabalho que ele havia começado. Levou as crianças até uma fossa onde já se havia assassinado antes e os colocou em fila, de costa. Pegou a pistola que seu pai lhe havia presenteado e um a um os matou a sangue frio. Nem sequer os gritos desconsolados dos que viram como caia o primeiro abrandaram o coração de Erna.

Estes são só três dos muitos casos que Wendy Lower apresenta em As harpias de Hitler. Relatos que encolhem o coração e mostram até onde é capaz de chegar o ser humano. Como a própria autora disse ao finalizar seu livro, nunca saberemos tudo sobre o nazismo e o Holocausto, isto é só uma história a mais em um quebra-cabeças com infinitas peças de crueldade.

Fonte: El Confidencial (Espanha)
http://www.elconfidencial.com/cultura/2013-10-07/enfermeras-de-dia-nazis-y-asesinas-de-noche_37151/
Tradução: Roberto Lucena

Ver a outra resenha do livro:
O exército de mulheres de Hitler (livro)

Mais resenhas:
Nazism’s Feminine Side, Brutal and Murderous (New York Times)
The Nazi women who were every bit as evil as the men: From the mother who shot Jewish children in cold blood to the nurses who gave lethal injections in death camps (Mail Online)

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O exército de mulheres de Hitler (livro)

Um livro documenta a participação ativa e frequentemente entusiasta das alemãs no maquinário assassino do regime nazi
07.10.13 - 00:57 - ANTONIO PANIAGUA | MADRID.
Erna Petri matou seis garotos judias com entre 6 e 12 anos com disparos na nuca na Polônia
A maioria das nazis levaram uma vida
normal uma vez acabada a guerra. /E. C.
Durante o Terceiro Reich as mulheres não se limitaram a servir como conforto para os soldados alemães. Seu papel no maquinário de destruição de Hitler não é muito menos anedótico. Algumas delas empunharam pistolas para aniquilar judeus. A fronteira entre o lar e a frente de batalha era mais que difusa. Consentiram com o genocídio e foram parte ativa do extermínio.

A historiadora estadunidense Wendy Lower revela, sem pôr panos quentes nas atrocidades, a complexidade de grande parte da população feminina nos crimes dos nazis e sua cooperação na hora de enviar às câmaras de gás jovens "racialmente degenerados". No livro 'Arpías de Hitler' (Harpias de Hitler, tradução livre do título em espanhol, título em inglês: Hitler's Furies: German Women in the Nazi Killing Fields (Crítica), a pesquisadora do Holocausto sublinha que as primeiras matanças massivas foram protagonizadas pelas enfermeiras nos hospitais assassinando crianças por inanição (fome), com drogas ou injeções letais.

Durante a guerra, as alemãs romperam o cerco que as confinava a sustentar lares sem pai, granjas e negócios familiares. Pouco a pouco sua presença foi mais além dos trabalhos administrativos e trabalhos agrícolas. À medida que a engrenagem do terror ia se estendendo, foram dados as mulheres trabalhos de vigilância nos campos de concentração. Nos territórios do Leste do Terceiro Reich, onde foram deportados um número sem-fim de judeus para ser gaseados e onde ocorreram os crimes mais execráveis, as alemãs encontraram novas ocupações. "Para as jovens ambiciosas, as possibilidades de ascensão social se multiplicavam com a emergência do novo império nazi", afirma Lower.

Parteiras infanticidas

Obviamente que não se pode fazer generalizações. Contudo, a historiadora maneja um argumento irrebatível: um terço da população feminina, ou seja, treze milhões de mulheres, militaram na organização do Partido Nazi. Por acréscimo, em fins da guerra, uma décima parte do pessoal dos campos de concentração era formado por mulheres. Ao menos 35.000 delas foram instruídas para ser guardas de campos da morte, sobretudo em Ravensbrück, de onde foram destinadas a outros como Stutthof, Auschwitz-Birkenau e Majdanek.

Hitler havia proclamado que o lugar da mulher se encontrava no lar e também no movimento. Arguia que uma mãe de cinco filhos sãos e bem educados fazia mais pelo regime que uma advogada. Não é estranho que nessa época o ofício de parteira gozou de um prestígio e auge até então desconhecidos.

Não menos importante era a profissão de enfermeira, curiosamente a ocupação mais letal com diferencia. Os barbitúricos, a morfina e a agulha hipodérmica foram postas a serviço da eugenia, par a desgraça de crianças com malformações e adolescentes com taras. O programa de 'eutanásia' do Reich empregou as parteiras e o pessoal sanitário feminino. "Com o tempo, essas profissionais chegariam a matar mais de duzentas mil pessoas na Alemanha, Áustria e nos territórios fronteiriços com a Polônia ocupada e anexada ao Reich, assim como na Tchecoslováquia", aponta Lower.

Em que pese a sua implicação no sistema, a maioria das mulheres que participaram do Holocausto seguiram tranquilamente com suas vidas uma vez acabada a guerra. Uma das poucas que desfrutou do cumprimento de seu caso foi Erna Petri. Esta mulher, casada com um alto oficial da SS, liquidou seis garotos judeus entre seis e doze anos com disparos na nuca na Polônia e foi condenada a prisão perpétua. Nem reabilitada e nem indultada, ela saiu da prisão em 1992 por motivos de saúde.

Depois da guerra, a atitude que adotaram as mulheres foi o silêncio, fruto da dor e do medo. Contudo, as cúmplices do nazismo não podiam invocar ignorância dos acontecimentos. A proporção de mulheres que chegaram a trabalhas em escritórios da Gestapo em Viena e Berlim chegou a 40% em fins da guerra. Poucas mulheres sentaram no banco dos réus. Há exceções como a doutora Herta Oberheuser, que mesmo condenada a 22 anos por seus cruéis experimentos médicos, cumpriu só sete anos e se reincorporou à medicina como pediatra.

Fonte: El Correo
http://www.elcorreo.com/alava/v/20131007/cultura/ejercito-mujeres-hitler-20131007.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver a outra resenha do livro:
Enfermeiras de dia, nazis e assassinas à noite (livro de Wendy Lower)

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