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quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Crimes de guerra na Bielorrússia (Belarus), meados de 1943

A exposição NO-3028 de Nuremberg é uma série de relatórios que suscitam preocupações sobre as atrocidades cometidas em operações anti-partisans na Rutênia Branca (Bielorrússia). Esses documentos foram publicados aqui por David Thompson em 2004. O mais pertinente é talvez aquele do "membro do partido", Lange:

Estou enviando a seguinte comunicação privada para sua informação. Dr. Walkewitsch, o chefe de ação da WSW veio até mim.

Ele foi informado pelo Sr. Sakowitsch, ex-chefe do território [Gebietsvorsitzender] do WSW no condado de Minsk que, em 27 de maio de 1943, às 14h00, a SS e/ou os ucranianos conduziram os habitantes de Krjvsk juntos para duas casas e para depois incendiar as casas para que aqueles dentro delas queimassem até a morte.

O mesmo aconteceu com a aldeia de Krashyn em 24 de maio de 1943. Ambas as aldeias estão localizadas no distrito de Woloshin, no território de Vilijka.

Normalmente, o escritório de Himmler rejeitou tais preocupações. No último documento da exposição, Brandt afirma que "[Himmler] solicita que o Ministro do Reich para o Leste seja informado de que a campanha contra os partisans andará conforme o cronograma e que Volhynia e Podolia serão as próximas da lista." O subtexto aconselhava Rosenberg a dizer aos seus subordinados que abandonassem suas queixas. Veja a excelente análise de Leo Alexander sobre esta troca, publicada aqui em 1948.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2016/01/war-crimes-in-belorussia-mid-1943.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: War Crimes in Belorussia, mid-1943
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Filmes e fotos de crimes nazistas no Youtube

Semana passada topei com este trailer de um documentário do History Channel chamado "O Holocausto nunca visto" (tradução livre), que anuncia "uma sequência de imagens recém-descobertas" mostrando assassinatos em massa nazistas "no Front Oriental", ou seja, nas áreas da antiga União Soviética ocupada pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

O documentário completo em inglês não está disponível no Youtube, mas existe uma versão, que parece estar em húngaro, que permite a visualização de algumas dessas "sequências recém-descobertas".

A maioria das imagens visualizáveis dificilmente merece a designação de "recém-descobertas", pois são obviamente sequências que foram incluídas no documentário "As atrocidades cometidas pelos Fascistas alemães na URSS" (The Atrocities committed by German Fascists in the USSR), que foi exibido no Julgamento de Nuremberg dos criminosos de guerra ante o Tribunal Militar Internacional em 19 de fevereiro de 1946 e é assunto de uma série anterior neste blog (parte 1, parte 2, parte 3).

Subi para o Youtube um slideshow (sequência de slides) correspondente à cada parte da série do blog acima mencionada (ver aqui, aqui e aqui).

Também subi uma apresentação de slides com as imagens vinculadas no blog do post "June 22, 1941 ("Nazi Crimes in the USSR (Graphic images!)")" [22 de Junho de 1941, Crimes Nazistas na URSS]* (Atenção: imagens com conteúdo chocante/violento!).

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2015/09/films-and-photos-of-nazi-crimes-on.html
Texto e fotos: Roberto Muehlenkamp
Título original: Films and photos of Nazi crimes on Youtube
Tradução: Roberto Lucena
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Observação 1:

*O post traduzido de "June 22, 1941" se encontra dividido em três partes em português, clique abaixo:
22 de junho de 1941(fotos do genocídio nazi na União Soviética) - parte 1
22 de junho de 1941(fotos do genocídio nazi na União Soviética) - parte 2
22 de junho de 1941(fotos do genocídio nazi na União Soviética) - parte 3

Resolvi dividir em três partes pois o público brasileiro (e muitas vezes até o de fora) prefere ver as imagens e textos divididos em posts menores, como "sequências", do que um post longo único. Mas isto é opcional (uma escolha), não modifica em nada o conteúdo do post original. Se a pessoa quiser ver logo tudo de uma vez pode ver a versão em inglês pois consta o link original nas sequências.

O público anglófono e de outros países vai até o fim em posts longos (mas pode ser uma impressão equivocada minha) e o público lusófono corre de textos longos como o "diabo foge da cruz" (sobre a postura desse último público eu tenho certeza absoluta sobre isso, só lê até o fim os textos quem tem interesse de fato e gosta do tema), então, quando dá, eu sempre faço este tipo de modificação (adaptação) criando uma sequência, na expectativa que acabem vendo tudo.

Observação 2:

Eu achei que os posts do Holocaust Controversies com o título de "The Atrocities committed by German-Fascists in the USSR", post de fotos (mais de um post), já haviam sido publicados no blog, só que não encontrei qualquer um deles.

Vou dar uma olhada com calma depois pra ver se não se encontram com outro título pois tem posts similares como este aqui, até pra não se fazer uma duplicata de posts e organizar melhor os marcadores (tags) de fotos. Eu tinha certeza que isso já havia sido publicado aqui só que não encontrei nada por isto constam os links originais do Holocaust Controversies no texto principal deste post.

sábado, 15 de agosto de 2015

A difícil reconciliação do Japão com o passado

Setenta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, país ainda convive com posições divergentes sobre o papel que desempenhou no conflito. E, ao contrário da Alemanha, tem dificuldades em aceitar sua culpa.

Capitulação japonesa é assinada no navio americana USS Missouri, em 2 de setembro de 1945
Em março de 2015, durante uma visita ao Japão, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, lembrou que a Alemanha reconheceu sua culpa pela Segunda Guerra Mundial e se mostrou disposta a estender a mão para a França. "O processo de retrabalhar o passado é pré-requisito para alcançar a reconciliação", afirmou Merkel, pedindo indiretamente ao Japão para que seja mais ativo e autocrítico no seu processo de reinterpretação do seu próprio papel na guerra.

A resposta veio dentro da tradicional cordialidade japonesa, mas mesmo assim foi clara. O ministro do Exterior, Fumio Kishida, disse que é inapropriado comparar Japão e Alemanha na maneira como lidam com o seu passado na Guerra. Há diferenças em relação ao que aconteceu com os dois países. Além disso, acrescentou, Japão e Alemanha são cercados por vizinhos diferentes.

Será que o Japão, ao contrário da Alemanha, não aprendeu nada com a derrota e o sofrimento sem sentido de milhões de pessoas? Diante do nacionalismo e do revisionismo histórico que voltaram a florescer nos últimos anos no país, essa é uma hipótese a ser considerada.

Essa impressão é reforçada pelas ações e declarações do primeiro-ministro Shinzo Abe. Cada vez mais, ele se distancia dos pedidos de desculpas apresentados por seus antecessores, que reconheceram a responsabilidade do Japão por seus ataques com milhões de vítimas e pelo destino das mulheres obrigadas a se prostituir.

E, como alguns de seus antecessores, Abe também visitou o controverso Santuário Yasukuni, um monumento em memória aos japoneses mortos no conflito – incluindo alguns condenados por crimes de guerra.

Contudo, o pronunciado nacionalismo do primeiro-ministro e de alguns de seus assessores e adeptos não é uma representação fiel da complexa relação dos japoneses com o passado de guerra. Dela faz parte, como destacam analistas, a distância entre a "política de memória" do governo e o discurso social.

"No Japão, o processo de recordar esse passado de guerra é muito disputado, com vários interesses e intenções", explica o historiador Sebastian Conrad, da Universidade Livre de Berlim. Ao contrário da Alemanha, onde não há grandes diferenças entre o discurso do governo, do parlamento, de historiadores e da maioria da população, o tema é altamente explosivo no país asiático.

General Douglas MacArthur e imperador Hirohito em foto
tirada em outubro de 1945, logo após a rendição japonesa
Dois lados

Os governos do Japão no pós-Guerra têm defendido a posição de que o país assumiu as responsabilidades por crimes de guerra e espoliações, seja por meio de indenizações bilaterais, seja por meio de auxílios econômicos aos atingidos.

É verdade que houve várias iniciativas para promover o entendimento entre as nações – na publicação de livros escolares em parceria com a Coreia do Sul, por exemplo. "No entanto, iniciativas com essa não partiram dos políticos", afirma Gesine Foljanty-Jost, especialista em Japão da Universidade de Halle-Wittenberg, na Alemanha.

O especialista em assuntos asiáticos Ian Buruma acrescenta que no Japão também há iniciativas como programas de intercâmbio e projetos de cooperação com cidades de países vizinhos, mesmo que em menor escala se comparados a projetos similares na Europa. "Ambos os lados precisam colaborar para que essas ações tenham sucesso. Chineses e coreanos têm de ser receptivos, mas nem sempre é assim", afirma.

Além disso, Buruma diz que não é fácil ter um diálogo aberto com a China, onde a formação de opinião, tanto sobre temas históricos quanto políticos, é rigidamente controlada. "Talvez o Japão devesse se esforçar mais para a reconciliação, mas não há como fazer isso sozinho."

Dualismo

Em 1949, quando a Lei Fundamental (Constituição alemã) foi adotada, Theodor Heuss, membro do Partido Liberal Democrático (FDP) e futuro presidente da Alemanha, afirmou que, em 8 de maio de 1945, o país havia sido libertado e destruído ao mesmo tempo pelos Aliados. A declaração mostra que a visão dual sobre a derrota militar na Segunda Guerra já existia na Alemanha muito antes do famoso discurso de outro presidente, Richard von Weizsäcker, que em 1985 se referiu à data como "dia da libertação".

Proferido em 1985, o discurso de Weizsäcker
teve repercussão no Japão
Segundo Conrad, a fala de Weizsäcker também teve grande repercussão no Japão, onde foi traduzida e publicada e acabou tendo uma ampla circulação. "O discurso foi citado várias vezes, especialmente por intelectuais e ativistas de direitos civis, na tentativa de motivar o governo japonês a adotar gestos públicos de maior impacto", diz o historiador.

Ainda assim, Buruma observa que era difícil esperar do Japão uma visão dual, de derrota e libertação, semelhante à que houve na Alemanha. "Não existiu um Hitler japonês nem um partido nazista no Japão. O Império Japonês lutou – conforme sua autopercepção – na Ásia contra grandes potências ocidentais."

Influência americana

Para os Estados Unidos, o Japão se redimiu do passado de guerra com a condenação, no Julgamento de Tóquio, dos principais líderes políticos e militares que participaram do conflito mundial. Assim como no caso da Alemanha após os julgamentos de Nurembergue, os americanos estavam interessados sobretudo em ter parceiros confiáveis na Guerra Fria contra a China e a União Soviética.

Contudo, observa Conrad, nesse ponto existe uma importante diferença entre Japão e Alemanha, que explica, em parte, a maneira diferente de lidar com o passado de guerra. "Apesar de o Japão também ter sido integrado no sistema de aliança ocidental, quase toda a política japonesa do pós-Guerra se orientou pela política dos Estados Unidos, o que fez com que o Japão se desmembrasse do contexto regional." A Alemanha, por sua vez, esteve desde o início envolvida no "projeto europeu", tendo a amizade com a França como motor.

Críticas vindas da China, da Coreia do Sul e de Taiwan só começaram a ser percebidas no Japão depois do fim da Guerra Fria. "A sensação de responsabilidade ou de ser alvo das críticas de outros países asiáticos simplesmente não existia por lá", diz Conrad.

Mudança de atitude

Abe evitou pedido de desculpas e disse que gerações
futuras não devem carregar o peso de algo que não fizeram
Como resultado, o governo japonês começou a demonstrar que estava disposto a alguma forma de autocrítica ou de pedido público de desculpas na segunda metade da década de 1990. Especialmente em 1995, nos 50 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, e em 1998, na questão da prostituição forçada, houve gesto públicos de desculpas por parte de primeiros-ministros japoneses, mesmo que esses não tivessem o mesmo conteúdo simbólico que a queda de joelhos de Willy Brandt em Varsóvia e tampouco a mesma espontaneidade e, portanto, o mesmo efeito.

Mas o historiador afirma que, desde então, o Japão tem passado por mudanças. Segundo Conrad, grupos nacionalistas presentes no parlamento – e, nos últimos anos, também no governo – estão novamente se apoderando da interpretação do passado de guerra do país. Também no aguardado discurso de Abe em alusão ao 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a influência dessas correntes nacionalistas é visível. O primeiro-ministro não se referiu, por exemplo, aos países "atacados pelo Japão", mas aos países "que lutaram contra o Japão".

Abe reconheceu os pedidos de desculpa feitos por seus antecessores, mas não acrescentou um pedido dele próprio. E foi além: disse que as gerações futuras não devem ser sobrecarregadas com contínuos apelos para se desculparem. O debate sobre o passado de guerra do Japão ainda está longe de acabar.

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.com/pt/a-dif%C3%ADcil-reconcilia%C3%A7%C3%A3o-do-jap%C3%A3o-com-o-passado/a-18649804

sábado, 15 de março de 2014

Himmler e a Waffen-SS: suas ideias claras sobre crimes de guerra

Na hora de desculpar ou dissimular os crimes de guerra da Waffen-SS desde o começo da segunda guerra mundial costuma-se tirar dos tópicos: que isto ocorreu devido ao calor do combate, devido à inexperiência dos soldados, quando se contesta outros crimes semelhantes dos adversários... mas todos eles estavam implícitos na concepção nacional-socialista da guerra, e não só contra os "subumanos" eslavos. Himmler tinha muito claro como deveriam se portar os nacional-socialistas muito antes da guerra. Estas foram suas palavras em um discurso dos chefes de grupo (rango da SS equivalente a general de divisão), celebrado em Munique em 8 de novembro de 1938:
Ele disse ao comandante do estandarte "Alemanha" [a segunda grande unidade das embrionárias Waffen-SS, equivalente a um regimento mecanizado] que considero correto - e isto vale também para qualquer guerra vindoura - que nunca deve haver um prisioneiro SS. Antes têm que acabar com sua vida. No nosso bando tampouco haverá prisioneiros. As guerras do futuro não serão um escarcéu, senão uma confrontação de povos, numa luta de vida ou morte [...] Por outra parte — e por muito bondoso e decente que queiramos ser em cada caso individual - seríamos absolutamente impiedosos quando tratarmos de salvar um povo da morte. Então não importaria que tivéssemos que tombar (matar) mil pessoas numa cidade. Eu o faria, e esperaria também que vocês o fizessem.
Longerich, Peter: Heinrich Himmler. Biografía. (Heinrich Himmler. Biographie, 2008)
Tradução de Richard Gross. RBA Libros, Barcelona 2009. pág. 234.

Fonte: blog antirrevisionismo (Espanha)
http://antirrevisionismo.wordpress.com/2011/01/07/himmler-waffen-ss-crimenes-guerra-1938/
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Enfermeiras de dia, nazis e assassinas à noite (livro de Wendy Lower)

'As harpias de Hitler' mostra os crimes das mulheres alemãs. Enfermeiras de dia, nazis e assassinas à noite
Javier Zurro. 07/10/2013 (06:00)

Enfermeiras da Cruz Vermelha reunidas em
Berlim para fazer juramento (As harpias de Hitler)
Apesar dos julgamentos realizados depois da Segunda Guerra Mundial contra os criminosos que ajudaram a executar o genocídio contra os judeus, muitos deles conseguiram escapar e evitar sua condenação. Não só aqueles que fugiram para outros países e adotaram novas identidades para fugir da justiça. Também todos os que tiveram um papel secundário no mesmo, ou tendo participado ativamente ninguém foi capaz de identificar ou dar nomes. Especialmente relevante é o caso das mulheres nazis, já que poucas delas foram julgadas, o que faz dar pouca importância ao papel fundamental que exerceram na execução de um grande número de crimes.

Treze milhões de mulheres militaram ativamente no partido nazi, e mais de meio milhão compareceram em países como Ucrânia, Polônia ou Bielorrússia excedendo as funções para as quais foram enviadas, mas elas tomaram partido nas matanças contra judeus? Isso é o que afirma Wendy Lower em "As harpias de Hitler" (Editado por Memoria Crítica), título original em inglês: Hitler's Furies: German Women in the Nazi Killing Fields. Graças a um árduo trabalho de documentação e busca de dados e testemunhos, Lower conseguiu dar um pouco de luz acerca deste tema.

Ainda que os julgamentos de mulheres nazistas não fossem especialmente numerosos, As harpias de Hitler relembra que muitos dos sobreviventes do Holocausto identificaram as pessoas que os acossaram, violaram e os torturaram como senhoras alemães que nunca puderam encontrar por desconhecer seus nomes. Além disso, os estudos realizados posteriormente advertiu que o genocídio não teria sido possível sem uma ampla colaboração da sociedade. Quem foram essas mulheres que sujaram suas mãos com sangue dos prisioneiros?

Cozinheiras, enfermeiras, secretárias e esposas

Membros da Liga de Jovens Alemãs
disparando como parte de seu treinamento (1936)
A crença mais ampla é que as únicas que cometeram crimes foram as guardas dos campos de concentração, enquanto que o resto teve um papel secundário na história do nazismo. Contudo, a realidade é bem outra. Quando os alemães avançaram para o leste, meio milhão de mulheres lhes acompanharam e alcançaram um poder sem precedentes que lhes deu liberdade para fazer com os prisioneiros o que bem quiserem. Maestras, enfermeiras, secretárias e esposas, essas eram as funções que originalmente teriam que realizar todas aquelas que compareciam junto ao exército. Finalmente, muitas delas decidiram, voluntariamente, colaborar diretamente com a SS.

As harpias de Hitler incide constantemente num dado fundamental: nenhuma das mulheres descritas tinha a obrigação de matar. Negar-se a assassinar judeus não teria lhes acarretado nenhum castigo. E mais, o regime não formava as mulheres para se converter em assassinas, senão em cúmplices. Portanto, as que finalmente decidiram realizar tais crimes os cometeram ou por satisfação pessoal ou para obter um benefício daquelas ações.

De fato, as primeiras matanças cometidas pelos nazis foram protagonizadas pelas enfermeiras dos hospitais, que exterminaram milhares de crianças por desnutrição, ou inclusive com injeções letais, ainda que a maioria delas nunca tenha pago por seus delitos.

Este é o caso de Pauline Kneissler, cuja tarefa consistia em portar uma lista de pacientes que posteriormente deveriam ser mortos. Em um só ano (1940) a equipe na qual Kneissler trabalhava em Grafeneck assassinou 9.389 pessoas. Ela foi testemunha direta de como lhes gaseavam e prestou sua ajuda na hora de administrar injeção letal a muitos pacientes durante cinco anos. Pauline foi uma das mulheres que, posteriormente, se mudou para o leste para continuar sua onda de crimes.

Entretanto, não foram as enfermeiras as que cometeram os assassinatos mais sádicos, senão as secretárias e esposas dos membros do partido nazi. Entre as primeiras se destaca o nome de Johanna Altvater, que ocupava seu posto em Minden, Vestfália, antes de ser transferida para a Ucrânia. Ali, em 1942, Altvater começou sua queda aos infernos, chegando inclusive a assassinar um garoto judeu de dois anos golpeando sua cabeça contra um muro para jogá-lo sem vida aos pés de seu pai. Este posteriormente chegou a declarar que nunca havia visto tal sadismo em uma mulher, uma imagem que nunca pode apagar de sua mente.

Comício do Partido Nazi em Berlim (Agosto de 1935)
Crimes ante seres indefesos, mulheres e inclusive crianças. A mulher nazi tampouco teve piedade, como não a tinham seus companheiros masculinos. Aprenderam bem a lição de que havia que fazer e não duvidaram disso um só momento. Assim também fez Erna Kürbs Petri, filha e esposa de granjeiro que junto com seu marido Horst (membro da SS) era encarregada de dirigir uma finca agrícola. Um dia, Erna Petri vislumbrou algo próximo da estação de Saschkow. Quando seu vagão se aproximou se deu conta de que eram várias crianças judias escondidas que haviam conseguido fugir.

Petri pediu que eles eles se aproximassem e os levou para sua casa. Lá ela lhes deu de comer e os tranquilizou. Mas tudo isto só foi parte de seu sinistro plano. Ao ver que seu marido não regressava para casa, ela decidiu terminar o trabalho que ele havia começado. Levou as crianças até uma fossa onde já se havia assassinado antes e os colocou em fila, de costa. Pegou a pistola que seu pai lhe havia presenteado e um a um os matou a sangue frio. Nem sequer os gritos desconsolados dos que viram como caia o primeiro abrandaram o coração de Erna.

Estes são só três dos muitos casos que Wendy Lower apresenta em As harpias de Hitler. Relatos que encolhem o coração e mostram até onde é capaz de chegar o ser humano. Como a própria autora disse ao finalizar seu livro, nunca saberemos tudo sobre o nazismo e o Holocausto, isto é só uma história a mais em um quebra-cabeças com infinitas peças de crueldade.

Fonte: El Confidencial (Espanha)
http://www.elconfidencial.com/cultura/2013-10-07/enfermeras-de-dia-nazis-y-asesinas-de-noche_37151/
Tradução: Roberto Lucena

Ver a outra resenha do livro:
O exército de mulheres de Hitler (livro)

Mais resenhas:
Nazism’s Feminine Side, Brutal and Murderous (New York Times)
The Nazi women who were every bit as evil as the men: From the mother who shot Jewish children in cold blood to the nurses who gave lethal injections in death camps (Mail Online)

terça-feira, 20 de agosto de 2013

"Advogado do terror" Jacques Vergès morre aos 88 anos na França

O advogado francês Jacques Vergès, conhecido como "advogado do terror" devido a clientes que incluem um ex-chefe da Gestapo e o militante marxista Carlos, o Chacal, morreu de um ataque cardíaco, aos 88 anos.

Considerado por muitos como um dos advogados mais brilhantes e provocativos da França, Vergès ganhou notoriedade ao aceitar representar clientes considerados por outros como impossíveis de defender.

O advogado morreu na quinta-feira em sua casa parisiense do século 18, onde o filósofo Voltaire viveu, de acordo com seu editor Pierre-Guillaume de Roux.

Vergès nasceu na Tailândia, em 1925, filho de pai francês e mãe vietnamita, e cresceu na ilha governada pela França no oceano Índico de La Réunion, para onde a família mudou-se depois que seu pai perdeu o emprego como cônsul por se casar com uma estrangeira, algo proibido na época.

Na década de 1960, Vergès defendeu argelinos que lutaram pela independência num momento em que o fim do domínio francês na colônia do norte africano foi violentamente contestada por alguns setores da sociedade francesa.

Como líder estudantil comunista, Vèrges ficou amigo de Pol Pot, líder do Khmer Vermelho, responsável pelo genocídio no Camboja em que 2,2 milhões de pessoas morreram.

Vèrges deixou perplexos seus compatriotas ao concordar em defender Klaus Barbie, chefe da Gestapo na cidade de Lyon, que foi duas vezes condenado à morte à revelia por crimes de guerra.

Quando Barbie fugiu da França em 1944, Vèrges estava marchando para libertar Paris com as forças francesas de De Gaulle.

Outros clientes foram o militante libanês Georges Ibrahim Abdallah e o ex-vice-premiê iraquiano Tariq Aziz, e ele também deu assessoria jurídica ao ex-líder iugoslavo Slobodan Milosevic.

Para alguns de seus críticos, a lista de clientes de Vergès significa que suas mãos ficaram tão sujas quanto as das pessoas que ele defendia. Em 2007, um documentário francês sobre a vida dele o apelidou de "advogado do terror", um apelido que pegou.

(Por John Irish)

Fonte: Reuters/Terra
http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/advogado-do-terror-jacques-verges-morre-aos-88-anos-na-franca,0a634fac1bf70410VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html

Observação: notícia da semana passada. Pra quem tiver curiosidade, vale a pena assistir o documentário 'O Advogado do Terror'. É difícil definir a motivação desse Vergès com a defesa desses criminosos porque o documentário acaba deixando isso em aberto, tanto poderia ser uma ação pra chocar, "contestar o poder", ou possivelmente a atitude de um indivíduo atrás da fama (e dinheiro) já que esse tipo de defesa de causas perdidas com criminosos de guerra como Klaus Barbie (Gestapo) acaba trazendo os holofotes pra junto da pessoa. Klaus Barbie é retratado neste documentário de Kevin Macdonald chamado "O inimigo do meu inimigo" no link ao lado (link) que mostra cenas do julgamento na França e a captura dele na Bolívia a pedido do governo francês, como uma crítica pesada à vista grossa dos governos ocidentais com criminosos de guerra nazistas durante a Guerra Fria. Há imagens do julgamento de Barbie no youtube.

Trailer do documentário "O Adovgado do Terror" (L'Avocat de la Terreur)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ex-nazista é condenado à prisão perpétua por crimes de guerra

Nesta terça-feira, Josef Scheungraber, ex-comandante de infantaria do exército nazista de Hitler, agora com 90 anos, foi sentenciado a prisão perpétua. A pena é referente a participação de Scheungraber no assassinato de dez civis em um vilarejo em Toscana, na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.

Apesar do ex-militar negar as acusações, e alegar ter passado a guarda dos tais civis para outros militares alemãs, e não saber o que se deu com eles depois, um tribunal em Munique, condenou o idoso. O julgamento durou cerca de onze meses e aconteceu em um tribunal especial de guerras.

O crime aconteceu em 26 de junho de 1944, quando Scheungraber tinha 25 anos. Apenas uma testemunha prestou depoimento. Gino Massetti, que tinha apenas 15 anos na época, contou que soldados nazistas fuzilaram uma senhora de 74 anos e mais três homens. Ele aformou que mais onze pessoas foram presas.

O condenado, que vive há muitos anos em Ottobrunn, Munique, era tenente comandante de uma tropa de engenheiros de infantaria e chegou a receber homenagens de autoridades locais por seus feitos na segunda Guerra.

Fonte: Redação SRZD
http://www.sidneyrezende.com/noticia/50740+ex+nazista+e+condenado+a+prisao+perpetua+por+crimes+de+guerra

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Germar Rudolf e os crimes nazistas

Tradução do artigo do Dr.Jonathan Harrison publicado em http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2007/09/germar-rudolf-on-nazi-crimes.html

Na sua introdução de Dissecting the Holocaust [Dissecando o Holocausto], Germar Rudolf afirma que "É preciso dizer aqui e agora que nenhum dos autores que contribuíram para o presente trabalho consideram-se ideologicamente com ligações ao Nacional Socialismo". As evidências apresentadas abaixo sugerem que esta declaração de Rudolf é falsa. Seus trabalhos publicados, são facilmente acessíveis on-line, são uma tentativa sistemática de desculpar o regime nazista usando um conjunto de técnicas que alternam entre negação, ofuscação, minimização e equivalência de falsa moral. É inconcebível que um projeto como este poderia ter sido realizado por alguém que não tenha alguma simpatia pelo regime nazista.

O repertório de retóricas e dispositivos de linguagem utilizados por Rudolf não está limitado à “Negação do Holocausto”; ele também bate em uma vasta literatura da política nazista, interna e externa. Por exemplo, Rudolf inclina-se fortemente para o trabalho de Ernst Nolte, que argumenta que a política genocida nazista foi um Überschießende Reaktion (ultrapassagem de reação) para ascensão do Bolchevismo soviético. Thomas Sheehan tem resumido com precisão esta posição:

Mr.Nolte diz de fato que a “a alegada aniquilação dos judeus” (como ele chama o Holocausto) pode ser justificada aos olhos de Hitler como “guerra preventiva”. Por um lado, Nolte alega que à partir do slide que passou pela cabeça de Hitler e alguns de seus alcólitos de “comunistas nos ameaçando” e “judeus nos ameaçando” não é totalmente irracional. Por outro lado ele pensa na declaração de Chaim Weizmann de 1939 sobre judeus e palestinos e o apoio da Grã-Bretanha a Hitler de “boas razões para não estar convencido da determinação de seus inimigos [judaísmo internacional, assim como os Bolsheviks] para aniquilá-los.

Rudolf endossa a citação de Nolte de que o anti-semitismo nazista surgiu dos “judeus que intimamente estavam emaranhados no comunismo”. Em seguida, ele cita uma observação de Jerry Z. Muller na passagem em que cita Nolte (fora de contexto), "Os Trotskies fazem as revoluções [ou seja, o Gulag], e os Bronsteins pagam as contas [do Holocausto]. Ele conclui que:

Assim parece compreensível que, o nacional-socialismo e os povos orientais lutando lado a lado por sua liberdade, equacionados os judeus, em geral, com o terror bolchevista e as atividades dos comissários, embora esse tipo de identificação, como radical e coletivo, foi injusto. No entanto, é plausível, pois, mais se tratava de judeus acima de tudo, que foram feitos para pagar a guerra com os partisans e outros crimes de guerra soviéticos. Qualquer um que (com razão) critica esta, no entanto, também não deve deixar de considerar que a culpa por este tipo de escalada de guerra no Oriente estava para acontecer. E claro que era para ser com Stalin, que, como um aparte, os judeus tinham tratado na sua esfera de influência, pelo menos, tão impiedosamente quando a guerra teve início, com Hitler.

Rudolf também cita Nolte nesta nauseante tentativa de equivalência moral entre a T4 [Operation T4, Eutanásia] e aborto:

Como Nolte[90], no entanto, não posso deixar de observar o espanto das pessoas que hoje ficam moralmente indignadas com o assassinato de 100.000 pessoas, geralmente com deficiência grave, talvez por razões de duvidosa "genética do bem-estar público" durante os 12 anos da ditadura Nacional Socialista, essas pessoas não ficam chocadas com o assassinato premeditado de fetos, um número de 4 milhões de pessoas nos últimos 12 anos, somente na Alemanha – assassinatos motivados apenas pelo materialismo e considerações egoístas. É evidente que a moral que julgamos hoje é completamente diferente de 55 anos atrás. Duvido que eles são melhores.

Esta falsa equivalência moral foi construída sob uma mentira. Contrariamente à falsa afirmação de Rudolf, o Programa T4 não só matava as crianças que eram “geralmente muito deficientes”. Além disso, Rudolf não pode sequer aproximar-se para condenar os assassinatos: ele afirma que eles eram “talvez duvidosos”.

É óbvio portanto que Rudolf está tentando minimizar a repugnância moral do T4. Além disso, é provável que Rudolf admita que o T4 existiu porque existe uma ordem escrita de Hitler e ele não pode pintá-la como uma falsificação. Isto é evidente a partir do fato de que ele está disposto a mentir sobre a documentação de apoio a outras atrocidades nazistas.
Por exemplo, Rudolf afirma que:

... foi irrefutavelmente comprovado que o alegado massacre de Babi Yar foi uma mentira atroz e sem substâncias[57], isto reconhecidamente joga a autenticidade, ou pelo menos, a confiabilidade de toda a série de documentos do IMT "URSS – Relatórios de Eventos" e todos os outros documentos em dúvida, e, consequentemente, todas as Unidades de assassinato em massa por si.[...] Ainda hoje, quando centenas de milhares de valas das vítimas de Stálin, estão sendo descobertas, muitas vezes por acidente, mesmo sendo 50 ou 60 anos após o fato, ainda estão sem vestígios de valas alemãs e locais de cremação, e, de fato, qualquer especulação pública se os métodos modernos podem ou não ajudar a localizar são evitados – afinal, nenhum desses lugares desapareceu sem deixar rastros, graças ao maravilhoso método, apenas os alemães sabiam...


Quando Rudolf não admite o assassinato em massa pelos nazistas, ele recorre a duas defesas fraudulentas. Em primeiro lugar conforme acima, ele usa o argumento infame de Nolte de que as mortes foram atos de guerra preventiva contra o bolchevismo. Em segundo lugar, Rudolf apresenta uma falsa imagem de partisan, e mentiras sobre a legalidade das ações anti-partisan nazistas. Se é verdade que as leis internacionais no período de 1939-1945 não proibiam represálias contra partisans, e colocaram limitações claras sobre essas represálias. Rudolf conhece estas limitações, mas deliberadamente escolheu não citá-las. Ele por isso, passa a enganosa impressão e que os nazistas ostentaram e agiram dentro da lei. Em particular, Rudolf mente sobre o princípio da proporcionalidade nesta discussão:

... Nós podemos terminar por dizer que não havia fixado direito comum no que diz respeito à proporcionalidade, muito menos no que diz respeito à proporção de 1:1. E assim temos que concordar com Lanternser, [111]que no caso italiano das Fossas Ardeatinas em 24 de março de 1944, dadas as circunstâncias particulares em Roma (apenas 20km do front de Nettuno), a execução ordenada de 330 italianos em represália pela morte de 33 policiais alemães[112] não excedeu a ordem militar, justificado pela necessidade.

Na realidade, o “Manual Britânico de Direito Militar” [The British Manual of Military Law], um documento que o próprio Rudolf cita em seu link, tinha tornado claro que a proporcionalidade não se aplicava no momento. Parágrafo 459, diz:


Os atos praticados por meio de represálias não devem, no entanto, serem excessivos, e não devem exceder o grau de infração cometida pelo inimigo.


Além disso, a discussão de Rudolf sobre a Ordem dos Comissários[Kommissar Order] mostra que a sua discussão sobre direito internacional foi uma deliberada ofuscação. Ele reconhece que a Ordem dos Comissários era "juridicamente insustentável", mas afirma que era "moralmente adequada." Ele alega também que o decreto não foi realmente posto em prática e que por fim foi revogado:

Seidler [11] publicou recentemente um estudo atualizado e equilibrado acerca da luta partisan da Wehrmacht, mostrando não só os desastrosos e provavelmente decisivos efeitos dos ataques partisans contra as unidades alemãs e, especialmente as suas provisões, mas ele também comprova que a maioria das reações alemães foram totalmente abrangidas pelo direito internacional, embora nem sempre a longo prazo. Além disso, ele mostra que ordens superiores quebraram as leis internacionais, (por exemplo, a infame "Kommissar order", que pode ser considerada moralmente adequada, mas politicamente estúpida e judicialmente insustentável) foram, na maioria dos casos sabotados pelas unidades no front, e essas ordens, depois de longa duração e maciços protestos, foram finalmente revogadas.

Concluindo, portanto não hà nenhuma atrocidade nazista que Rudolf condena inequivocadamente. Represálias contra civis, eutanásia e assassinatos do T4 e assassinatos de membros do Partido Comunista Soviético são todos defendidos nos escritos de Rudolf. Sua recusa de ser um simpatizante nazista pode, portanto, ser rejeitada por uma transparente tentativa de esconder o conteúdo pró-nazista de sua própria escrita. (grifos do tradutor)

domingo, 23 de novembro de 2008

Projeto de Lei-987/2007, sobre a criminalização da negação do Holocausto e crimes contra a humanidade

Assunto que precisa ser divulgado à sociedade civil, assunto sobre o Projeto de Lei que criminaliza a negação do Holocausto e crimes contra a humanidade.

Na prática o projeto criminalizaria atividades neonazistas camufladas de falsa(pseudo) revisão histórica que visam sobretudo a negação de crimes de guerra com intuitos propagandísticos de reabilitação do nazismo. A proibição da negação do Holocausto já é algo concreto na Alemanha e em outros países. O caráter da proibição visa coibir que movimentos nazi-fascistas consigam se arregimentar e que tentem com isso "reescrever" a história negando os crimes nazistas incitando e reabilitando práticas de discriminação ideológica racial/étnica e se possível, institucional(esta seria a última finalidade da negação do Holocausto, caso algum grupo deste tipo assumisse o poder e instaurassem novamente ditaduras mundo afora, é preciso deixar claro quais são os propósitos finais dos negadores pois eles não assumem isto abertamente).

Se alguma entidade civil, governamental, acessar o blog, pederia-se a mobilização(individual ou coletiva)para que aprovem com mais rapidez esta lei para se cortar em definitivo a proliferação de racismo ideológico disseminado por grupos de extrema-direita(neonazis, fascistas)no Brasil. Um dos principais meios de disseminação, ou o principal meio, de doutrina nazi-fascista e de negação do Holocausto no Brasil, hoje, é a internet.

Para quem quiser saber detalhes do PL(Projeto de Lei), seguem abaixo informações tiradas diretamente do site da Câmara de Deputados em Brasília:

Consulta Tramitação das Proposições

Proposição: PL-987/2007 -> Íntegra disponível em formato pdf
Autor: Marcelo Itagiba - PMDB /RJ

Data de Apresentação: 08/05/2007
Apreciação: Proposição Sujeita à Apreciação do Plenário
Regime de tramitação: Prioridade
Apensado(a) ao(a): PL-6418/2005
Situação: CDHM: Tramitando em Conjunto.

Ementa: Altera a redação do art. 20 da Lei nº 7.716, de 05 de janeiro de 1989.

Explicação da Ementa: Penaliza quem negar ocorrência do Holocausto ou de outros crimes contra a humanidade, com a finalidade de incentivar ou induzir a prática de atos discriminatórios ou de segregação racial.

Indexação: Alteração, Lei do Racismo, penalidade, crime, negação, existência, crime contra a humanidade, incentivo, indução, segregação, discriminação racial.

Despacho:
17/5/2007 - Apense-se à(ao) PL-6418/2005. Proposição Sujeita à Apreciação do Plenário Regime de Tramitação: Prioridade

Última Ação:
21/5/2007 - Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) - Recebimento pela CDHM.

Em pdf: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/458520.pdf

Em resumo o PL altera a Lei 7716 no artigo 20 dela, pra quem quiser ler a Lei na íntegra(como está atualmente):

LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989.
Mensagem de veto Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7716.htm

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;

II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas.

§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pra quem quiser acompanhar a tramitação do PL, tem que se cadastrar no site. O link do PL no site da câmara federal é esse:
http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=350660

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Gray Matter(Massa Cinzenta) - documentário

Arquivado como: Crítica
Gray Matter(Massa Cinzenta)
Dirigido por: Joe Berlinger

Mas quando você pensa que todos os horrores do Holocausto foram expostos, em 2002 os cérebros de cerca de setecentas crianças foram finalmente entregues para um enterro adequado em Viena. Como resultou, os cérebros vieram de crianças deficientes que não se deram contas de estar envolvidas num inacreditável experimento Nazi para determinar a causa das deformidades e de cortá-las na raiz. Onde está Indiana Jones quando você precisa dele? Documentário aclamado do diretor Joe Berlinger que viajou até Viena em 2002 para documentar o grande enterro e fazer alguma investigação dentro daquilo que é uma das mais alarmantes histórias vindas do Holocausto.

Neste ponto, Berlinger é provavelmente melhor conhecido por seu criticamente aclamado documentário Paradise Lost(Paraíso Perdido), no qual sua investigação em cima da convicção de três adolescentes que levantaram algumas sérias questões sobre a falta de evidência que puseram suspeitos de assassinos de crianças atrás das grades. E mais recentemente, "Metallica: Some Kind of Monster" dirigido para entretenimento até de não-fãs do Metallica. Entretanto Gray Matter foi feito para TV e ajustado para ser apresentado em menos de uma hora, trata do objeto do tema com muito respeito e além disso, como o roteiro do Metallica e a gravação de St.Anger, é uma bom trabalho a propósito.

Berlinger põe seu talento investigativo no trabalho em sua procura por Heinrich Gross, o mentor e doutor do Nazi experimento no Hospital Mental Spiegelgrund no qual estes experimentos tomaram lugar. Como resultado, Gross não está apenas ainda vivo como bem, mas aparentemente vive confortavelmente sem apoio financeiro do governo austríaco. Enquanto procurava o doutor prova-se mais difícil que o experado, Berlinger tenta se conduzir para adquirir algum accesso excepcional ao agora reformado Hospital Spiegelgrund, incluindo as salas nas quais os atuais cérebros foram mantidos. Uma série de entrevistas e análise de evidência conduziu a crença de que a experimentação com os cérebros proseguiu até fins de 1998.

A diferença entre este e o trabalho anterior de Berlinger é que ele atua por um período de tempo muito maior no filme, aparecendo com a câmara na maior parte do filme. Acompanhamos ele como um diretor em sua jornada para confrontar Dr.Gross. Suponho que você poderia dizer que é um estilo Michael Moore de investigação, entretanto a diferença é que não havia realmente dois lados da história. Não havia nenhuma dúvida de que Gross teve parte na horrível atrocidade e permanece sem punição pelo que fez, além do fato de que o governo não apenas o apoiou mas ocasionalmente o usa como um expert(especialista)forense em julgamentos da suprema corte, é algo igualmente muito chocante.

Eu acho que é difícil de dizer que filmes sobre o Holocausto são requentados. É uma parte da história, e os filmes produzidos deveriam ser vistos mais como documentação do que como formas de entretenimento. Enquanto histórias como esta continuarem a aparecer, haverá sempre espaço para filmes como Gray Matter(Massa Cinzenta)nos lembrar do que pessoas são capazes de fazer. — Jay C.

Fonte: The Documentary Blog(in english)
http://www.thedocumentaryblog.com/index.php/2005/07/01/gray-matter/
Publicado por Jay C em 1 de Julho, 2005
Tradução(português): Roberto Lucena

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

5 milhões de vítimas não judias? (2ª Parte)

1ª Parte

Nesta segunda parte tentarei fazer uma compilação, país por país, dos não judeus que sucumbiram à violência criminal da Alemanha nazi e dos seus aliados durante a Segunda Guerra Mundial, i.e. dos não judeus que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi conforme definida na 1ª Parte .

Esta compilação, que não pretende ser científica e está aberta a qualquer crítica construtiva que possa melhorar a suas exactidão, e baseada em dados obtidos de várias fontes, bem como as minhas próprias estimativas. Onde não tenho dados de outras fontes ao meu dispor, utilizo a página detalhada da Wikipedia sobre as perdas humanas na Segunda Guerra Mundial, e outra informação fornecida pela Wikipedia.

1. União Soviética

Entre 2,53 e 3,3 milhões de prisioneiros de guerra soviéticos pereceram no cativeiro alemão devido a brutal tratamento a que foram submetidos, incluindo chacina em massa a tiro ou através da fome. Vide o meu artigo One might think that … (versão portuguesa: Até parece que ...) e o tópico do fórum RODOH The Fate of Soviet prisoners of War.

O sítio de Leninegrado, mencionado no mesmo artigo como um empreendimento criminal porque o seu objectivo era não a rendição da cidade mas sim a sua despopularização (i.e. um genocídio, em vez de um objectivo militar), cobrou cerca de um milhão de vidas civis (vide o artigo atrás referido e o tópico The Siege of Leningrad do fórum RODOH).

No que respeita aos cidadãos soviéticos abatidos a tiro, gaseados, enforcados ou queimados vivos pelas forças de ocupação alemãs e romenas, a Comissão Extraordinária soviética (vide a mensagem de Nick Terry de 26 Feb 2006 22:42 no Axis History Fórum) indicou um número de cerca de 6 milhões, dos quais cerca de 2,8 milhões de judeus e 3,2 milhões de não judeus. Enquanto o número de judeus parece mais ou menos acertado se comparado com dados mais recentes (vide a mensagem após o meu artigo acima referido), considero demasiado alto o número de não judeus. Este número provavelmente inclui também vítimas civis colaterais de operações militares, e não apenas civis deliberadamente executados a tiro, gaseados, enforcados ou queimados vivos. O número destes últimos no decurso das operações contra-guerrilha (a brutalidade das quais é descrita em detalhe, no que respeita ao território da Belorússia, no livro Kalkulierte Morde ("Assassinatos Calculados") de Christian Gerlach, vide os extractos traduzidos para inglês no tópico Major Antipartisan Operations in Belorussia do fórum RODOH) tem sido estimado em cerca de um milhão (Richard Overy, Russia’s War, página 151). Um milhão de civis mortos pela Wehrmacht na luta contra-guerrilha são referidos numa entrevista do magazine de notícias alemão SPIEGEL com o historiador alemão Rolf-Dieter Müller, feita em 1999. O USHMM fornece a seguinte informação no que respeita à luta contra as guerrilhas nos territórios soviéticos ocupados pelos nazis (minha tradução):

Algumas das chamadas operações contra-guerrilha, especialmente nos territórios ocupados da União Soviética, eram de facto esforços por despopularizar as áreas rurais soviéticas. Os alemães massacraram centenas de milhares, talvez milhões, de civis soviéticos nas suas aldeias. A vasta maioria destas vítimas tinha pouca uma nenhuma ligação com os guerrilheiros.


Quantos civis morreram de inanição, doenças relacionadas e exposição aos elementos em território ocupado pelos nazis, devido as políticas de exploração nazi incluindo a requisição sem contemplações de géneros alimentícios, expulsão/deportação e trabalho forçado? Na nota de rodapé 21 do seu artigo Soviet Deaths in the Great Patriotic War: A Note ("Mortes soviéticas na Grande Guerra Patriótica: Anotação"), Michael Ellman e S. Maksudov referem "cálculos preliminares" feitos por um deles, segundo os quais (minha tradução) "as mortes devidas à ocupação alemã (matança de judeus, mortes no sítio de Leninegrado, mortes em combate, mortes em excesso nos territórios ocupados devido à deterioração das condições de vida) foram cerca de 7 milhões. Destes, cerca de um 1 milhão morreram no sítio de Leninegrado e 3 milhões eram judeus. Dos últimos, cerca de 2 milhões eram judeus dos territórios novamente anexados e 1 milhão eram judeus do antigo território soviético". Estas "grossas estimativas preliminares sobre um tópico que ainda aguarda pesquisa séria" incluem, portanto, 3 milhões de civis não judeus em território ocupado pelos nazis que morreram como vítimas colaterais dos combates, foram massacrados em operações contra-guerrilha ou morreram devido à deterioração das condições de vida. Se for atribuída igual probabilidade a cada uma destas 3 possibilidades (perdas colaterais, vítimas de operações contra – guerrilha, mortes por deterioração das condições de vida), obtêm-se um milhão de mortes civis colaterais (não incluídas nesta compilação), um milhão de vítimas de operações contra – guerrilha e um milhão de vítimas da deterioração das condições de vida. As mortes nestas duas últimas categorias podem ser principalmente atribuídas às políticas e acções dos ocupadores nazis e dos seus aliados, incluindo a implementação do mortífero "Plano de Fome" abordado neste artigo (versão portuguesa). No entanto, estimarei conservadoramente que apenas metade das cerca de 3 milhões de mortes civis soviéticas não judias em território ocupado pelos nazis foi directamente atribuível à implementação das políticas criminais de ocupação e exploração dos nazis, sendo o resto vítimas colaterais dos combates na frente, mortes por inanição devido a política soviética de terra queimada durante as retiradas em 1941/42 (que já por razões de tempo não pode ter causados tantos estragos e tanta mortandade como as políticas de exploração nazis e a devastação de terra queimada provocada pelas forças alemãs em retirada) e vítimas civis mortas por forças irregulares que combatiam as forças de ocupação.

A soma total de não combatentes não judeus soviéticos mortos pela violência criminal dos nazis situar-se-ia, portanto, entre 5,03 milhões e 5,8 milhões, que se subdividem como segue:

2,53 milhões a 3,3 milhões de prisioneiros de guerra
1 milhão de vítimas civis do sítio de Leninegrado
1,5 milhões de vítimas civis de operações contra-guerrilha e outras brutalidades nazis em território ocupado, incluindo exploração de trabalho forçado e inanição induzida por políticas de exploração nazis.

Só o número de soviéticos não judeus vítimas de crimes nazis iguala ou excede o total de cinco milhões de vítimas não judias "inventado" por Wiesenthal. Também se aproxima do total de vítimas judias de perseguição e chacina em massa pelos nazis em toda a Europa. Relativamente aos últimos vide o tópico de referência de Nick Terry no Axis History Fórum, Number of Victims of the Holocaust.

2. Polónia

O artigo do USHMM Poles: Victims of the Nazi Era ("Polacos: Vítimas da era nazi") contém a seguinte informação sobre o número de vítimas não judias da ocupação nazi na Polónia (minha tradução):

No passado, muitas estimativas de perdas foram baseadas num relatório polaco de 1947 solicitando reparações dos alemães; este documento, frequentemente citado, computou perdas populacionais de 6 milhões para todos os "nacionais" da Polónia (polacos, judeus e outras minorias). Subtraindo 3 milhões de vítimas judias polacas, o relatório alegava 3 milhões de vítimas não judias do terror nazi, incluindo vítimas civis e militares da guerra.

A documentação continua fragmentária, mas hoje em dia estudiosos da Polónia independente acreditam que 1,8 a 1,9 milhões de civis polacos (não judeus) foram vítimas das políticas de ocupação alemãs e da guerra. Este total aproximado inclui polacos mortos em execuções ou que morreram em prisões, trabalho forçado, e campos de concentração. Inclui também cerca de 225.000 vítimas civis da Revolta de Varsóvia em 1944, mas de 50.000 civis que morreram durante a invasão em 1939 e o sítio de Varsóvia, e um número relativamente pequeno mas desconhecido de civis mortos durante a campanha militar dos aliados em 1944—45 para libertar a Polónia.


É portanto claramente incorrecta a alegação, que desafortunadamente continua sendo repetida em sites como os referidos na 1ª Parte deste artigo, de que 3 milhões de polacos não judeus foram mortos naquilo que estes sites designam como o "Holocausto".

As actuais estimativas de estudiosos polacos também incluem vítimas civis colaterais da guerra, pelo que o número de civis polacos que foram vítima das políticas de ocupação nazis deve ser algo inferior do que 1,8 a 1,9 milhões. Estimando um total de 300,000 vítimas civis da invasão nazi em 1939, da Revolta de Varsóvia e da campanha militar de 1944/45, e partindo do princípio de que dois terços destas foram vítimas colaterais dos combates e não vítimas de execuções e massacres nazis, o número de polacos não judeus que pereceram devido às políticas de ocupação nazis seria de 1,6 a 1,7 milhões, sendo o número inferior próximo de uma estimativa de 1,55 milhões pelo historiador polaco Bogdan Musial, mencionada numa mensagem de Steve Paulsson no fórum H-Holocaust. Não se indica nesta mensagem se a estimativa de Musial inclui ou não vítimas colaterais da guerra, ou se é relativa ao território da Polónia em 1939 (incluindo áreas que posteriormente passaram a ser parte da União Soviética) ou ao território polaco depois da guerra. No primeiro caso, e partindo do princípio de que Musial contou não apenas pessoas de etnia polaca mas também bielorussos e ucranianos étnicos, existe uma sobreposição parcial entre o número de Musial e as estimativas sobre vítimas civis soviéticas no ponto 1 supra. Para estar do lado seguro considerando estas incertezas, reduzo o número de Musial em um terço (o que é, desde logo, uma mera conjectura) e presumo que o número de civis polacos não judeus mortos pela ocupação nazi no território da presente República Polaca foi de cerca de um milhão.

Se acrescentarmos este milhão aos 5,03 a 5,8 milhões de não combatentes soviéticos mortos pela violência criminal nazi, temos 6,03 a 6,8 milhões de vítimas não judias desta violência só na União Soviética e na Polónia, i.e. uma ordem de grandeza que está próxima de ou até excede mesmo as estimativas mais elevadas sobre o número de vítimas judias da perseguição e chacina em massa nazis em toda a Europa.

3. Checoslováquia

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial refere 43.000 civis não judeus mortos da Checoslováquia. A nota de rodapé 11 refere 26.500 vítimas não judias da represálias nazis, 10.000 civis mortos em operações militares e 7.500 vítimas do genocídio dos romani. Estes números somam um total de 44.000. Para os efeitos da minha contagem considero 33.000 vítimas não judias de repressão ou extermínio pelos nazis na Checoslováquia.

4. Jugoslávia

O defunto economista e especialista da Nações Unidas croata, Vladimir Žerjavić, publicou um estudo detalhado sobre as perdas da Jugoslávia durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns dos seus números se encontram disponíveis neste site. Do total de 1.027.000 mortes, segundo Žerjavić, 947.000 ocorreram em território jugoslavo e 80.000 no estrangeiro (Tabela 3). O primeiro número inclui 237.000 combatentes da resistência, 209.000 "colaboracionistas e quislings" e 501.000 "vítimas", das quais 216.000 em campos e 285.000 "em locais" (Tabela 5). Presumo que a categoria "colaboracionistas e quislings" se refere a étnicos croatas, eslovenos, alemães e outros mortos em combate ou de outra forma por forças do Exército da Libertação do Povo, enquanto as 501.000 "vítimas" incluem pessoas mortas ou pelos ocupadores alemães, italianos ou húngaros, os chetniks monarquistas ou as forças do Estado Independente da Croácia (NDH), aliado da Alemanha nazi. As perdas civis sérvias no território do NDH, segundo Žerjavić, somaram 197.000; destes 45.000 foram mortos por forças alemãs, 15.000 por forças italianas, 28.000 em "prisões, valas e outros campos", e 50.000 foram mortos no campo Jasenovac-Gradina, enquanto 25.000 morreram de tifo e 34.000 foram mortos "em batalhas entre ustashas, chetniks e guerrilheiros". O total de civis sérvios vítimas de matanças criminais por forças do eixo, portanto, seria de 138.000, de um total de vítimas civis de 197.000, ou seja cerca de 70 %. Aplicando esta relação ao total acima referido de 501.000 vítimas civis em território jugoslavo, temos cerca de 350.000 vítimas de matanças criminais contra 150.000 mortes por doença ou vítimas colaterais dos combates. Chacinas em massa não as houve apenas no território do NDH, mas também em outras partes da antiga Jugoslávia. Acções de represália por forças alemãs na Sérvia até 1 de Dezembro de 1941 mataram 15.000 pessoas, das quais aproximadamente 4.500 a 5.000 eram judeus e ciganos. Na região sérvia da Vojvodina, reporta-se que as forças do eixo mataram um total de 55.285 pessoas entre 1941 e 1944. Estes números parciais, bem como o facto de que as forças do Eixo (principalmente alemães, italianos, húngaros e croatas) eram mais numerosas e melhor organizadas do que os chetniks, também no que respeita às suas operações de matança, faz com que seja razoável presumir que pelo menos três em quatro mortes criminais em território jugoslavo, i.e. cerca de 260.000 de 350.000, foram causadas pelas forças do eixo. Incluem-se neste número cerca de 33.000 judeus mortos em território jugoslavo segundo a Tabela 3 de Žerjavić, sendo os restantes 227.000 vítimas não judeus incluindo sérvios, ciganos romani e membros de outras etnias.

Žerjavić também menciona um total de 80.000 habitantes da Jugoslávia que foram mortos fora do país, dos quais 24.000 judeus, 33.000 sérvios, 14.000 croatas, 6.000 eslovenos e 3.000 muçulmanos. Os sérvios provavelmente eram prisioneiros de guerra da campanha dos Balcãs ou trabalhadores forçados civis. Segundo um artigo sobre prisioneiros de guerra no site do Museu da História alemã, que eu uma vez traduzi para inglês (vide a mensagem de "witness" de 24 Sep 2003 00:26 no Axis History Fórum), cerca de 100.000 prisioneiros sérvios capturados durante a Campanha dos Balcãs alemã, chamados "Südostgefangene" (prisioneiros do sudeste) foram utilizados como mão de obra na economia alemã sob as piores condições. O historiador alemão Hellmuth Auerbach, num artigo sobre as vítimas da violência nacional-socialista e a Segunda Guerra Mundial incluído no livro de Wolfgang Benz e outros, Legenden, Lügen, Vorurteile - "Lendas, mentiras e preconceitos" (o artigo também está disponível online), mencionou (minha tradução) "pelo menos 500.000 jugoslavos que morreram em campos de trabalho e campos de concentração alemães". Enquanto este número (incompatível com os cálculos de Žerjavić) parece-me ser demasiado alto, é provável que as condições para prisioneiros de guerra e prisioneiros civis sérvios em campos de concentração e de trabalho nazis não fossem muito melhores do que no campo de concentração de Sajmište perto de Belgrado. Considero justificado, portanto, acrescentar as 33.000 mortes sérvias fora da Jugoslávia, referidas por Žerjavić, à estimativa de 227.000 não judeus mortos por forças do Eixo em território jugoslavo, obtendo assim um total de 260.000 vítimas jugoslavas não judias dos crimes do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial.

5. Finlândia

No conheço dados sobre vítimas não combatentes devido à actuação de forças do Eixo.

6. Roménia

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 15.000 romenos que morreram em cativeiro alemão e 36.000 vítimas do genocídio do povo romani. Não conheço detalhes sobre o tratamento de prisioneiros de guerra romenos pelos alemães, i.e. se foram tratados tão brutalmente como os prisioneiros de guerra soviéticos, sérvios ou italianos (vide os pontos 1 e 4 supra e 10 em baixo), mas uma vez que estas mortes devem ter ocorrido no período entre Agosto de 1944, quando a Roménia passou para o lado dos aliados, e o fim da guerra, e dado que o número de prisioneiros de guerra capturados pelos alemães de entre os 538.000 soldados romanos que combateram contra o Eixo em 1944-45 não pode ter sido muito alto, parece justificado partir do princípio de que os prisioneiros de guerra romenos não foram tratados de forma diferente do que os soviéticos, também face aos prováveis ressentimentos alemães pelo facto de a Roménia ter mudado para o lado inimigo. Portanto, acrescento os prisioneiros de guerra romenos que pereceram em cativeiro alemão às vítimas do genocídio dos romani na Roménia, o que dá um total de 51,000 vítimas romenas não judias de crimes do Eixo.

7. Hungria

Segundo a página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial , houve 28.000 vítimas do genocídio do povo romani na Hungria.

8. Bulgária

Os dados disponíveis mencionam um "número desconhecido" de civis incluídos nas cerca de 10.000 mortes da guerrilha anti-fascista. Uma vez que desconheço as particularidades da luta contra-guerrilha do Eixo na Bulgária, abstenho-me de conjecturas sobre qual poderá ter sido o número de civis mortos em operações contra-guerrilha.

9. Grécia

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial refere (minha tradução) "60.000 civis não judeus, 20.000 deportados não judeus, e 140.000 mortes por fome durante a ocupação da Grécia pelo Eixo na Segunda Guerra Mundial". O total destes números é 220.000. No entanto, a fome não pode ser inteiramente atribuída às forças do Eixo que, segundo parece, não implementaram aqui uma política deliberada de inanição como fizeram na União Soviética (vide o ponto 1 supra). Segundo a página Wikipedia sobre a ocupação da Grécia pelo Eixo durante a Segunda Guerra Mundial (minha tradução), "requisições, junto com o bloqueio aliado da Grécia, o estado arruinado da infra-estrutura do país e o surgimento de um mercado negro poderoso e bem conectado, resultaram na Grande Fome durante o Inverno de 1941-42 (em grego: Μεγάλος Λιμός), em que cerca de 300.000 pessoas pereceram.". Tomo o número mais baixo de mortes por inanição (140.000) e considero que as políticas de requisição do Eixo causaram metade destas mortes. O número total de vítimas gregas não judias de crimes do Eixo seria, portanto, de 60.000 + 20.000 + 70.000 = 150.000.

10. Itália

No seu artigo sobre crimes de guerra alemães contra italianos, o historiador alemão Gerhard Schreiber escreve o seguinte (minha tradução):

Não existe crime de guerra ou crime contra a humanidade que não tenha sido cometido por membros da Wehrmacht, das SS e da polícia alemãs contra homens, mulheres e crianças italianos depois de a Itália ter saído da guerra em 8 de Setembro de 1943.(1) No seguinte, contudo, apenas são tidas em conta as matanças legitimadas pelo estado, i.e. ordenadas pela liderança política e militar nacional-socialista. Tais malfeitorias cobraram 16.600 vítimas civis, das quais cerca de 7.400 judeus. Juntam-se 37.000 deportados políticos e milhares de membros das forças armadas italianas abatidos enquanto depunham as armas ou depois de as terem deposto, bem como muitos do 46.000 internados militares que pereceram em campos de prisioneiros e de trabalho, durante o transporte ou o trabalho forçado. De facto estes eram soldados leais ao rei capturados depois do armistício entre a Itália e os Aliados, a quem o lado alemão negou os direitos estipulados na Convenção de Genebra sobre o tratamento de prisioneiros de guerra datado de 27 de Julho de 1929.(2)


Uma vez que Schreiber não atribui todas as mortes entre os internados militares a "malfeitorias", considero que 30.000 dos internados militares foram vítimas de comportamento criminal por parte dos seus captores. Este número condiz com o indicado na página Wikipedia sobre as perdas humanas na Segunda Guerra Mundial . Não é claro se este último número inclui os "milhares de membros das forças armadas italianas abatidos enquanto depunham as armas ou depois de as terem deposto", que são mencionados por Schreiber. Considero que estão incluídos e somo 30.000 prisioneiros de guerra, 37.000 deportados políticos e 16.600 menos 7.400 = 9.200 vítimas civis não judias de "malfeitorias" alemãs para um total de 76.200 vítimas italianas não judias de crimes do Eixo.

11. Albânia

Não conheço dados sobre vítimas não combatentes.

12. França

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 40.000 prisioneiros de guerra franceses que morreram na Alemanha. Este número deve ser visto em relação ao total de prisioneiros de guerra franceses capturados pelos alemães – 1,9 milhões só durante a campanha de 1940 (vide a minha tradução para inglês de um extracto do livro Krieg, Ernährung, Völkermord ("Guerra, alimentação, genocídio") de Christian Gerlach, em que Gerlach compara o tratamento dos prisioneiros de guerra soviéticos com o que receberam os prisioneiros franceses da campanha de 1940). Uma cifra menor de mortes é dada por Christian Streit na página 244 do seu livro Keine Kameraden. Die Wehrmacht und die sowjetischen Kriegsgefangenen 1941-1945 ("Não eram camaradas. A Wehrmacht e os prisioneiros de guerra soviéticos 1941-1945"), 2ª edição 1997, da qual traduzi o seguinte extracto:

Deduzindo do número total de prisioneiros soviéticos que caíram nas mãos dos alemães os que ainda se encontravam em cativeiro em 1 de Janeiro de 1945 – 930.287 –, o número estimado de libertados – 1.000.000 – e o número estimado de prisioneiros que voltaram para o lado soviético mediante fuga ou durante as retiradas – 500.000 –, resulta um número de cerca de 3.300.000 prisioneiros que pereceram no cativeiro alemão ou foram assassinados pelos Einsatzkommandos, i.e. 57,8 por cento do número total de prisioneiros.
O significado completo deste número resulta claro quando se lhe compara com a mortalidade de outros prisioneiros em cativeiro alemão. Até 31 de Janeiro de 1945 tinham morrido 14.147 dos prisioneiros franceses, 1.851 dos britânicos e 136 dos americanos. Em relação ao respectivo número total estas mortes montam a 1,58 % para os franceses, 1,15 % para os britânicos e 0,3 por cento para os americanos. [Nota de rodapé: Baseado no número de prisioneiros existentes em 1.11.1944, segundo uma listagem da Escritório de Informação da Wehrmacht: franceses 893.672, britânicos 161.386, americanos 45.576. O número de prisioneiros franceses tinha sido muito mais alto originalmente, mas muitos tinham sido libertos. Dos prisioneiros polacos 67.055 ainda se encontravam registados em 1.11.1944, pelo que a mortalidade (com 3.299 mortes) seria de 4,92 por cento. Deve ser tido em contra a este respeito que também no caso destes prisioneiros a grande maioria tinha sido liberta, embora tivessem sido tratados consideravelmente pior do que os prisioneiros de guerra franceses libertos. Se no caso dos franceses forem também tidos em conta os prisioneiros libertos, a distância em relação à mortalidade dos prisioneiros de guerra soviéticos seria ainda maior.]


Considerando a taxa de mortalidade comparativamente baixa (seja qual for a contagem) dos prisioneiros de guerra franceses, e o facto de que as convenções relativas ao tratamento de prisioneiros de guerra foram amplamente obedecidas pelos alemães nas frentes de guerra ocidentais (vide a mensagem de "witness" de 24 Sep 2003 00:26 no Axis History Fórum), não parece justificado contar os prisioneiros de guerra franceses que morreram no cativeiro alemão como vítimas de crimes do Eixo.

No que respeita às vítimas civis na França, a página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial refere (minha tradução) "230.000 vitimas de represálias e genocídio nazis (incluindo 83.000 judeus)". Nas 147.000 vítimas não judias incluem-se 15.000 vítimas do genocídio do povo romani e (minha tradução) "20.000 refugiados anti-fascistas espanhóis residentes em França que foram deportados para campos nazis".

13. Bélgica

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona (minha tradução) "16.900 vítimas não judias de represálias e repressão nazis". Não estão incluídas neste número 500 vítimas do genocídio do povo romani na Bélgica, que elevam o total de vítimas belgas não judias de crimes do eixo para 17.400.

14. Holanda

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 58.050 vítimas não judias de represálias e repressão nazis e 16.000 mortes na fome de 1944 na Holanda, mais 500 vítimas do genocídio nazi do povo romani não incluídas nestes números. Considero a fome de 1944 na Holanda como tendo sido inteiramente da responsabilidade dos ocupadores alemães, na medida em que foi causada por um embargo de alimentos retaliatório decretado pelos ocupadores e piorado por, entre outros factores, a destruição de barragens e pontes pelos alemães em retirada para inundar o país e impedir o avanço aliado. O total de vítimas holandesas não judias de crimes nazis seria, portanto, de 74.550.

15. Luxemburgo

As únicas vítimas não judias de crimes do Eixo mencionadas na página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial são 200 vítimas do genocídio do povo romani. Informação nesta página mostra que também houve vítimas não combatentes da ocupação entre os Luxemburgueses que não eram nem judeus nem ciganos, mas não conheço fonte que permita a sua quantificação.

16. Noruega

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 658 prisioneiros políticos e membros da resistência que morreram dentro do país e 1.433 que morreram fora, um total de 2.091 mortes. Parece que não estão incluídos neste número combatentes armados da resistência, uma vez que estes se encontram listados junto com membros das forças regulares como perdas militares (considero vítimas de crimes do Eixo os membros não violentos da resistência que foram mortos pelos alemães ou morreram em cativeiro alemão, mas não os guerrilheiros armados uma vez que é controverso se e em que condições estes eram combatentes legais. As perdas das forças guerrilheiras armadas são, portanto, tratadas como perdas militares em combate para efeitos da minha contagem, i.e. não são incluídas nesta, mesmo onde se trata de guerrilheiros executados após a sua captura.)

17. Dinamarca

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 628 vítimas civis não judias de represálias alemãs.

18. Áustria

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 10.000 vítimas de perseguição política pelos nazis entre 1939 e 1945 e 6.500 vítimas do genocídio do povo romani. O número total de vítimas austríacas não judias de crimes do Eixo seria, portanto, de 16.500.

19. Alemanha

Segundo a página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial , a repressão e o genocídio nazis na própria Alemanha cobraram 762.000 vítimas, incluindo (minha tradução) "300.000 prisioneiros políticos, vítimas do programa de eutanásia Acção T4, homens homossexuais e 160.000 judeus alemães". Enquanto a cifra para judeus alemães é correcta, o remanescente de 602.000 vítimas não judias parece ser grandemente exagerado, especialmente dado que 302.000 destes supostamente eram outros do que prisioneiros políticos, vítimas do programa de eutanásia Acção T4 e homossexuais. Refere-se que o genocídio do povo romani cobrou 15.000 vítimas na Alemanha. Ora, quem se supõe que eram os restantes 287.000?

A adição dos números de vítimas das várias categorias conduz a um total bastante inferior:

"Eutanásia": segundo o USHMM, o programa de eutanásia Acção T4 e as suas sequelas não oficiais cobraram um total de 200.000 vítimas, incluindo (minha tradução) "pacientes idosos, vítimas de bombardeamentos, e trabalhadores forçados estrangeiros". No seu artigo referido no ponto 4 supra, Hellmuth Auerbach mencionou (minha tradução) "cerca de 100.000 pacientes mentais e pessoas deficientes, principalmente de nacionalidade alemã (chamadas vítimas da eutanásia)". Opto pelo número inferior, também considerando que o superior é indicado como incluindo não alemães, os quais já teriam sido contados sob os pontos referentes aos seus países de origem.

Homossexuais: A página Wikipedia History of gay men in Nazi Germany and the Holocaust ("História dos homens homossexuais na Alemanha e o Holocausto") menciona uma estimativa de "5.000 a 15.000" que foram presos em campos de concentração, e informa que um dos principais estudiosos da matéria (minha tradução) "acredita que a taxa de mortalidade nos campos de concentração de prisioneiros homossexuais poderá ter chegado aos 60%". Tomando como base o número mais baixo de prisioneiros nos campos de concentração, esta taxa significaria 3.000 mortes.

Testemunhas de Jeová: Segundo o USHMM (minha tradução),

O número de Testemunhas de Jeová que morreram em campos de concentração e prisões durante a era nazi é estimado em 1.000 alemães e 400 de outros países, incluindo 90 austríacos e 120 holandeses. (…) Adicionalmente, cerca de 250 Testemunhas de Jeová alemães foram executados – na maior parte dos casos depois de terem sido julgados e sentenciados por tribunais militares – por terem-se recusado a prestar o serviço militar alemão.
.

Isto significa que cerca de 1.250 Testemunhas de Jeová alemães foram vítimas mortais da repressão nazi.

Prisioneiros políticos: Auerbach mencionou (minha tradução) "cerca de 130.000 pessoas não judias de nacionalidade alemã que activamente ou passivamente opuseram resistência ao regime por motivos políticos ou religiosos". Deduzindo 1.250 Testemunhas de Jeová, restam 128.750 alemães que teriam sido executados ou perecido em campos de concentração devido à sua oposição política. Este número parece-me alto, considerando que apenas uma minoria dos prisioneiros dos campos de concentração e dos mortos nestes campos eram cidadãos alemães, como salientou Richard Overy nas páginas 611 e seguintes do seu livro The Dictators (minha tradução):

Os campos de concentração alemães foram predominantemente povoados por não alemães durante mais do que metade da sua existência. Durante os anos da guerra cerca de 90-95 por cento dos prisioneiros dos campos provinham do resto da Europa. A grande maioria dos que morreram ou foram mortos em todos os campos provinha das populações não alemãs. Os sub-campos das SS em Gusen continham apenas 4,9 por cento de alemães étnicos em 1942 (metade dos prisioneiros eram espanhóis republicanos, mas do que um quarto russos). Em Natzweiler apenas 4 por cento dos prisioneiros políticos em 1944 eram alemães; em Buchenwald só 11 por cento eram alemães em Maio de 1944. Em 1944 havia mais cidadãos soviéticos em cativeiro na Alemanha do que na União Soviética.


Por outro lado, o terror nazi contra a população alemã era exercido não apenas através do aprisionamento em campos de concentração, mas também através do sistema judicial e, no que respeita às forças armadas, das cortes marciais militares. No seu estudo Furchtbare Juristen ("Juristas terríveis"), sobre o sistema judicial alemão antes, durante e depois da era nazi, o jurista alemão Ingo Müller estima um total de 80.000 vítimas da brutalidade judicial nazi, incluindo os tribunais nos territórios ocupados que emitiam sentenças de morte "de uma forma inflacionária" contra nacionais não alemães. Uma parte significativa destas vítimas da assassínio judicial eram alemães, incluindo soldados condenados à morte por cortes marciais improvisadas sob fundamento de deserção ou suspeita de deserção (cerca de 15.000 soldados alemães foram executados por deserção durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto apenas 48 sentenças de morte foram executadas pelo exército alemão entre 1914 e 1918) e civis executados por ofensas tão insignificantes como fazer comentários desfavoráveis sobre o regime nazi ou ficar com uma salsicha e uma garrafa de perfume enquanto ajudavam a remover grandes quantidades destes bens de um prédio em chamas depois de um bombardeamento (entre outros casos descritos no livro de Müller).

Tendo em conta os assassínios judiciais, e também por falta de uma alternativa suportada por fontes, aceito o número de 130.000 de Auerbach como sendo o total de todas as vítimas não judias alemãs de crimes nazis além das vítimas do genocídio dos romani e dos deficientes que foram vítimas do programa de "eutanásia", incluindo opositores por motivos políticos e religiosos bem como "associais" e criminosos detidos em campos de concentração, soldados executados por deserção e vítimas civis de assassínio judicial, e também pessoas mortas por nazis fanáticos nos últimos meses da guerra porque penduraram uma bandeira branca, desarmaram membros adolescentes da Juventude Hitleriana e lhes disseram que fossem para casa ou simplesmente não se juntaram ao Volkssturm em esforços de defesa de última instância.

O número total de vítimas não judias alemãs de repressão e genocídio nazis seria, portanto, de 245.000 (15.000 romani alemães, 100.000 deficientes e 130.000 outros).

20. Soma total

Segundo as estimativas supra (arredondadas para cima ou para baixo até ao milhar mais próximo), o número total de não judeus que pereceram devido à violência criminal da Alemanha nazi e dos seus aliados durante a Segunda Guerra Mundial, i.e. de não judeus que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi conforme definida na 1ª Parte deste artigo, é o seguinte:

União Soviética: 5.030.000 a 5.800.000
Polónia: 1.000.000
Checoslováquia: 33.000
Jugoslávia: 260.000
Roménia: 51.000
Hungria: 28.000
Grécia: 150.000
Itália: 76.000
França: 147.000
Bélgica: 17.000
Holanda 75.000
Noruega 2.000
Dinamarca 1.000
Áustria 16.000
Alemanha 245.000
Total 7.131.000 a 7.901.000

Até o mais baixo destes totais (7.131.000) excede largamente não só o número de 5 milhões de vítimas não judias "inventado" por Simon Wiesenthal, mas também as estimativas mais altas (à volta de 6 milhões) do número de judeus que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi. Se tivermos em conta a estimativa mínima de Nick Terry , de cerca de 5.364.000 vítimas judias da perseguição nazi, o número total mínimo de pessoas que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi seria de 5.364.000 + 7.131.000 = 12.495.000, dos quais 43 % judeus e 57 % não judeus.

Apenas uma minoria das vítimas não judias dos crimes do Eixo pertence às categorias incluídas nos "Five Milion Forgotten" da Sra. Schwartz (vide a 1ª Parte). Segundo o ponto 2 supra, o número por ela apresentado de 3 milhões de "cristãos e católicos polacos" tem que se dividido por dois ou por três, dependendo de se abrange ou não o território da Polónia nas suas fronteiras anteriores à guerra, i.e. incluindo áreas que posteriormente passaram a fazer parte da União Soviética. O seu número de mortos romani na secção "Who Were the Five Million Non-Jewish Holocaust Victims?" do seu site (meio milhão) corresponde à banda alta de estimativas sobre as vítimas do genocídio dos romani; estimativas mais conservadoras (incluindo, segundo este artigo, as de Donald Kendrick e Grattan Puxon, em cujo livro se baseiam os números por cada país mencionados na página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial) indicam à volta de 200.000 ciganos assassinados pelos nazis. No que respeita aos deficientes, a estimativa mais elevada referida no ponto 19 supra é a do USHMM (cerca de 200.000), que inclui vítimas não alemãs. Os números da Sra. Schwartz relativos a homossexuais mortos em campos de concentração nazis (5.000 a 15.000) referem-se de facto ao número estimado de homossexuais detidos em campos de concentração; se 60 % destes morreram, conforme um dos principais estudiosos desta matéria considera possível (vide o ponto 19 supra), o número de mortos seria entre 3.000 e 9.000. O número total de Testemunhas de Jeová alemães e não alemães que morreram às mãos dos nazis, segundo o USHMM, é de 1.650. No que respeita às outras categorias da Sra. Schwartz, "homens e mulheres corajosos de todas as nações" e "padres e pastores", o triste facto é que comparativamente poucas das vítimas civis da repressão do Eixo se tinham virado contra os nazis escondendo judeus, ajudando aos guerrilheiros, dando sermões na sua paróquia ou de qualquer outra forma não violenta (combatentes de resistência armados não são incluídos na minha contagem, vide o ponto 16 supra). A maior parte das vítimas foram apanhadas em represálias ou operações contra guerrilha independentemente de qualquer acção própria.

Conclusão

Segundo o acima exposto, o número de vítimas não judias da "maquinaria assassina nazi", conforme definida na 1ª Parte deste artigo, é consideravelmente mais elevado do que as 5 milhões de vítimas não judias "inventadas" por Simon Wiesenthal, enquanto por outro lado o número combinado de cristãos polacos, ciganos, deficientes, homossexuais, Testemunhas de Jeová e opositores dos nazis por motivos políticos ou religiosos, i.e. as categorias salientadas no site "Five Million Forgotten", perfazem apenas cerca de 20 % do meu total inferior de mais de 7 milhões de vítimas de violência criminal pelos nazis e os seus aliados (a grosso modo 1 ½ milhões).

Ora, qual é o objectivo deste exercício, que alguns poderão considerar uma rude e despropositada redução de incomensurável sofrimento humano a números frios e crus?

Penso ser importante, dada a ampla falta de conhecimento sobre as vítimas não judias dos crimes nazis, as noções falsas que a este respeito são transmitidas por sites como "Five Million Forgotten" e a incidental, embora provavelmente não intencional, ofuscação do sofrimento e morte de não judeus às mãos da "maquinaria assassina nazi", com a falta de conteúdo dos "cinco milhões" de Wiesenthal com argumento chave, que é praticada por Michael Berenbaum , Walter Reich e outros, fornecer uma ideia tão detalhada e exacta quanto possível da magnitude total das matanças criminais de não judeus pelos nazis.

O presente artigo não pretende ser mais do que uma primeira tentativa neste sentido, que espero encorajará pesquisadores com um acesso a fontes mais amplo do que o meu a estudar e desenvolver mais profundamente esta matéria.

[Tradução adaptada do meu artigo 5 million non-Jewish victims? (Part 2) no blog Holocaust Controversies.]

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