"Estudou e comparou a extrema-direita da Argentina, Brasil e Chile e comprovou que a nossa foi a que mais influência teve. Sua maior criação foi o revisionismo histórico, "que foi até muito pouco tempo o mais aceito".
SANDRA MCGEE DEUTSCH, HISTORIADORA
"O nacionalismo argentino foi o mais forte"
Por Sergio Kiernan
Pequena, vivaz, dona de um excelente castelhano, McGee Deutsch estuda nosso país há mais de vinte anos. Professora de história latinoamericana, titular dessa cátedra na Universidade do Texas em El Paso, especializou-se na extrema-direita argentina. Sobre nossos fascistas, aliancistas e nazis, e sobre os nazis (nacis) chilenos e os integralistas brasileiros escreveu vários artigos acadêmicos e dois livros: um sobre a história da Liga Patriótica e outro sobre as direitas dos três países entre 1890 e 1939. Novamente estudando arquivos argentinos para um novo livro sobre sua outra paixão, a história das mulheres na política, falou para o Página/12 sobre o passado, a influência e, o mais inquietante, o possível futuro de nossa direita.
–Por que Argentina?
–Escolhi a Argentina porque é claro que teve a extrema-direita mais proeminente da América Latina. E, como piada pessoal, porque o primeiro livro de história argentino escrito por um argentino que li foram as memórias de Carlos Ibarguren. E isso me fez interessar sobre o tema.
–Você visitou este país pela primeira vez em 1977... toda uma introdução à direita argentina.
–Realmente, e assustadora. Cheguei a me perguntar se ia poder fazer minha pesquisa, mas não tive problemas porque meu trabalho ia até 1930.
–Por que a Argentina desenvolveu uma extrema-direita tão forte?
–Há vários fatores. Um é que, em contraste com os outros países que estudei, Brasil e Chile, aqui houve uma próspera economia exportadora que controlou bem sua demanda interna. Isto fez com que as críticas ao desenvolvimento econômico argentino não fossem contra o capitalismo como um todo senão contra a conexão britânica, a banca internacional. No Chile, a crítica à influência e o controle estrangeiros se fez em conexão com o capitalismo como sistema. Aqui, ao estar dissociados os dois elementos, a crítica jogou a favor da direita.
-Por que?
–Porque a crítica do capitalismo ficou nas mãos da esquerda e a direita ficou com a crítica detalhada ao domínio estrangeiro. Outro fator especialmente importante foi a debilidade dos conservadores argentinos. Economicamente tinham muito poder, mas politicamente não podiam ganhar eleições por isso recorriam à fraude, como ocorreu depois de 1916. E a debilidade dos conservadores sempre deixa mais espaço para a direita extremista. Os mesmos conservadores trabalharam às vezes com a extrema-direita, para ganhar o poder ou para conservá-lo. Se tivessem sido fortes, não teriam necessidade deles. No Brasil e no Chile, os conservadores eram muito mais fortes e raramente usaram ou trataram com os extremistas. Outro fator é que os nacionalistas argentinos, por várias razões, puderam forçar uma aliança muito forte com a Igreja e as Forças Armadas. Novamente, no Brasil e no Chile a tendência existiu, mas nunca chegou ao nível que chegou aqui, e que lhe deram apoio institucional ao nacionalismo.
–Com essas experiências tão diferentes, havia grandes diferenças ideológicas entre os nacionalismos desses três países?
–Não realmente, nada terrível, exceto que os aspectos mais radicalizados e extremos da ideologia foram enfatizados fora da Argentina, em particular no Chile. Nos anos 30, o Chile tinha um movimento de esquerda tão forte que para competir com a esquerda - e isto é algo que a direita extremista sempre faz, competir com e combater a esquerda - os nacistas tiveram que plantar ideias mais radicalizadas e realizar ações muito radicais. Enfatizaram os aspectos mais revolucionários de sua ideologia, a necessidade de mudanças sociais, de reforma. Esses aspectos foram mais proeminentes aqui, mas certamente estiveram presentes, coisas que muito historiadores abordam superficialmente.
–Que nível de violência geraram os nacionalistas?
–Muita, os anos 30 foram muito violentos na Argentina, com muitos incidentes na rua entre nacionalistas, esquerdistas e sindicatos. Os nacionalistas iam aos bairros operários e atacavam socialistas e sindicalistas. Até assassinaram um legislador socialista em Córdoba. Também atacaram sinagogas, atiraram petardos em cinemas que exibiam filmes antinazis. O que houve foi uma batalha pelo espaço. Os nacionalistas chegaram tarde à cena e trataram de fazer um espaço nos bairros operários pra cima da esquerda. Houve grupos mais radicalizados como a Alianza de la Juventud Nacionalista, que trataram de atrair os operários, trataram de tirar por cima a imagem aristocrática do nacionalismo e militaram nos bairros de trabalhadores. Isso gerou violência.
–Como fizeram uma aliança com os militares e a Igreja?
–Tinham prioridades em comum. Opunham-se contra a esquerda, o que era muito importante, queriam ordem e tinha muito da agenda social da Igreja. O padre Menvielle foi muito influente entre os nacionalistas quando falava da ordem corporativa, da justiça social e de uma concepção cristã da economia, sem usura. Os setores da Igreja que acreditam nesta agenda eram mais poderosos aqui que em outros países. Em relação ao exército, ele também compartilhava boa parte das ideias, mas o desacordo estava em que nenhuma força armada oficial gostaria de compartilhar o monopólio da violência, por isso que ele não gostava dos uniformes e das milícias dos nacionalistas.
–Mas essas instituições, que são profundamente conservadoras, como aceitavam o lado revolucionário do nacionalismo?
–Era um ponto de conflito, mas não muito grave. Tomar a agenda social da Igreja significa dizer que a direita também pode propor, como a esquerda, uma ordem social mais justa. E isso é algo que os conservadores não sonham falar. O mesmo com o assunto de fundar movimentos onde o povo que usa uniforme e segue ordens, a militarização da política: enquanto não se usasse armas, o Exército poderia tolerá-lo.
–Você fala da influência do nacionalismo argentino. Isso se traduziu em poder? Em nomeações?
–Não tanto como na Itália ou Alemanha, obviamente, mas a maioria dos movimentos fascistas europeus - e chamar de fascista o nacionalismo é um tema que se debate - tampouco conseguiram tanto poder. Os nacionalistas que rodearam a Uriburu no golpe de 1930 ganharam cargos: alguns interventores provinciais, como Carlos Ibarguren, foram nacionalistas e houve uns 30 funcionários que provinham dessa corrente. Depois, esteve o governo bonaerense (buenairense) do conservador Federico Martínez de Hoz, que evoluiu até o nacionalismo e nomeou vários deles em postos chaves, mas durou pouco; o presidente Justo interveio na província. O governo militar de 1943 foi nacionalista em muitos aspectos e teve ministros como Hugo Wast, Gustavo Martínez Zuviría. E tomaram medidas da plataforma nacionalista, como a educação católica em escolas públicas. Também exerceram certo poder de modo informal, como colaborando com o Estado na repressão da esquerda, informando sobre judeus e supostos subversivos...
–Já o faziam nos anos trinta...
–Sim, já nesses tempos.
–Este relativo poder que os nacionalistas argentinos conseguiram se compara com o que conseguiram no Chile e no Brasil?
–Não, no mais mínimo. No Chile o máximo que conseguiram foi eleger três deputados. Em 1938, os nacis - com "c", como eles escreviam - trataram de tomar o poder pela força e foram duramente reprimidos, com muitos mortos. Curiosamente, pouco depois houve eleições e os nacis apoiaram a Frente Popular, que ganhou. Deve ser o único caso na história de um grupo fascista que seja parte de uma Frente Popular. No Brasil, os nacionalistas estiveram um pouco melhor que no Chile, mas menos que na Argentina. Eles foram úteis a Getúlio Vargas quando tratava de consolidar sua ditadura e quando em 1935 reprimiu duramente a esquerda. Mas em 1938 os havia repudiado e os liquidado.
–E Perón?
–Perón adotou muitas ideias nacionalistas, mas não lhes deu espaço nem poder, não se aproximou deles. Os via por demais aristocráticos e sabia que o viam como bastante populista e que eles não gostavam de Evita. Como dizem amargamente muitos nacionalistas, ele lhes roubou consignas como a da soberania econômica. E há algo a dizer de Perón: ainda que tenha recebido os nazis europeus, também lhes deu um lugar proeminente e inovador de reconhecimento aos judeus argentinos e entendo que foi o primeiro presidente a ir a uma sinagoga.
–Que influência tiveram na cultura?
–No Chile e no Brasil tiveram alguns intelectuais proeminentes, mas quase nada de influência. Nem sequer se vê esse costume de pôr interventores nacionalistas nas universidades a cada golpe que faziam os militares argentinos. O grande êxito dos nacionalistas aqui foi criar e impor o revisionismo histórico, algo que nenhum outro nacionalismo pode fazer, criar sua própria escola histórica e fazer com que até muito pouco tempo fosse a interpretação mais popular da história argentina. É extremamente importante.
–É possível falar como algo do passado os nacionalistas?
–Sob risco de ser míopes. Muitas vezes ressurgem, depende de como anda a economia, do espaço que tenham no cenário político e do poder que podem exercer os conservadores. Se se sentem representados, como com Carlos Menem, não há problema. Se não, podem começar a manobrar até a direita radicalizada.
Fonte: Página 12 (Argentina)
http://www.pagina12.com.ar/2000/00-09/00-09-10/pag14.htm
Tradução: Roberto Lucena
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quinta-feira, 6 de novembro de 2014
"O nacionalismo argentino foi o mais forte" - Sandra McGee Deutsch
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domingo, 19 de janeiro de 2014
Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina - parte 03
FATOS E NÚMEROS SOBRE A DITADURA MILITAR ARGENTINA:
- Entre 1976 e 1983 os militares assassinaram ao redor de 30 mil civis, entre eles, crianças e idosos, segundo estimativas de ONGs argentinas e organismos internacionais de defesa dos Direitos Humanos.
- Os militares afirmam que mataram “somente” 8 mil civis (segundo declarações do próprio general e ex-ditador Reynaldo Bignone, à TV francesa na virada do século, outros colegas seus dizem que não mataram pessoa alguma)
- O Estado argentino, com a volta da Democracia, recebeu pedidos para indenizações da parte de parentes de 10 mil desaparecidos.
- A Ditadura teria sido responsável pelo sequestro de 500 bebês, filhos das desaparecidas. Desde o final dos anos 70 as avós da Praça de Mayo localizaram e recuperaram a identidade de 109 dessas crianças, atualmente adultos.
- Em 1983 nos últimos meses da Ditadura, um relatório das próprias forças armadas argentinas indicou que a guerrilha e grupos terroristas de esquerda e cristãos nacionalistas teriam assassinado 900 pessoas. Diversos historiadores afirmaram ao longo dos anos que esse número está ligeiramente inflacionado, já que diversos dos mortos da lista militar teriam sido assassinados pelos próprios militares, na miríade de brigas internas (e, convenientemente, teriam colocado a culpa nos terroristas).
FRACASSOS ECONÔMICOS E MILITARES: Além de ter sido a mais sanguinária Ditadura foi um fracasso tanto na área militar como na esfera econômica.
Fiascos Militares:
- Entre 1976 e 1978 a Ditadura colocou quase a totalidade das Forças Armadas para perseguir uma guerrilha que já estava praticamente desmantelada desde antes do golpe, em 1975. Analistas militares destacam que este desvio das Forças Armadas argentinas (que havia iniciado no final dos anos 60 mas intensificou-se a partir do golpe) reduziu drasticamente o profissionalismo dos militares.
- Em 1978, a Junta Militar argentina levou o país a uma escalada armamentista contra o Chile. Em dezembro daquele ano, a invasão argentina do território chileno foi detida graças à intermediação papal. O custo da corrida armamentista colocou o país em graves problemas financeiros.
- Em 1982, perante uma crise social, perda de sustentabilidade política e problemas econômicos, o então ditador Leopoldo Fortunato Galtieri – famoso por seu intenso approach ao scotch – decidiu invadir as ilhas Malvinas para distrair a atenção da população. Resultado: após um breve período de combate, os oficiais do ditador renderam-se às tropas britânicas.
Desastres econômicos:
- Em sete anos de Ditadura, a dívida externa subiu de US$ 8 bilhões para US$ 45 bilhões.
- A inflação do governo civil derrubado pela Ditadura, que era considerada um índice “absurdo alto” pelos militares havia sido de 182% anual. Mas, este índice foi superado pela política econômica caótica da Ditadura, que encerrou sua administração com 343% anual.
- A pobreza disparou de 5% da população argentina para 28%
- A participação da indústria no PIB caiu de 37,5% para 25%, o que equivaleu a um retrocesso dos níveis dos anos 60.
- Além disso, a Ditadura criou uma ciranda financeira, conhecida como “la plata dulce”, ou, “o doce dinheiro”.
- Ao mesmo tempo em que tomavam medidas neoliberais, como a abertura irrestrita das importações, os militares continuavam mantendo imensas estruturas nas empresas estatais, que transformaram-se em cabides de emprego de generais, coronéis e seus parentes.
- Os militares também estatizaram US$ 15 bilhões de dívidas das principais empresas privadas do país (além das filiais argentinas de empresas estrangeiras).
- No meio desse caos econômico, os militares provocaram um déficit fiscal de 15% do PIB.
- A repressão provocou um êxodo de centenas de milhares de profissionais do país. Os militares, em cargos burocráticos, exacerbaram a corrupção na máquina estatal.
MILITARES E ESPORTE - Apesar das denúncias de graves violações aos Direitos Humanos a FIFA não cancelou a realização da Copa de 1978. Para a Ditadura, a vitória nesse evento esportivo foi um trunfo político, que lhe garantiu alta popularidade. Os argentinos exilados discutiam no exterior se deveriam torcer a favor ou contra a seleção. Alguns argumentavam que a vitória na Copa não favoreceria a Ditadura, e que esporte e política nunca se misturam. Outros destacavam que esporte e política misturam-se, e muito.
NEGOCIATAS DE 1978 – O Orçamento inicial da Copa de 1978 era de US$ 70 milhões. Custo final da Copa: US$ 700 milhões (o valor supera amplamente o custo da Copa realizada na Espanha, em 1982, que foi de US$ 520 milhões).
GUERRA CIVIL OU GUERRILHA LOCALIZADA?
Os militares deram o golpe e instauraram a ditadura mais sanguinária da História da América do Sul (América do Sul, não América Latina) com o argumento (um dos vários) de que a guerrilha controlava grande parte do país.
Delírio. A pequena guerrilha argentina, mais especificamente o ERP, dominava às duras penas uma pequena porcentagem da província de Tucumán, a menor província da Argentina.
A magnificação da guerrilha foi útil para os militares e também para o prestígio dos guerrilheiros. A nenhum dos dois lados era conveniente admitir a realidade, de que a área controlada pela guerrilha era ínfima.
Os militares e os setores civis que apoiaram o golpe (e os saudosistas daqueles tempos) afirmavam (e ainda afirmam) que o país estava em guerra civil nos nos 70.
Mas, “guerra civil”, rigorosamente, seriam conflitos de proporções mais substanciais, tais como a Guerra da Secessão dos EUA, a Guerra Civil Espanhola, a Guerra Civil Russa logo após a proclamação do Estado Soviético, a Guerra das Duas Rosas (Lancasters versus Yorks, na Inglaterra) ou a Guerra Civil da Grécia após o fim da Segunda Guerra Mundial. Ainda: a Guerra Civil da Nicarágua, e a de El Salvador. Isto é: bombardeios de cidades, grandes êxodos de refugiados, centenas de milhares de mortos, uma boa parte de um país controlado por um dos lados, e outra parte controlada por outro lado. Isso não ocorreu na Argentina nos anos 70.
POLÍTICA EXTERNA ESQUIZOFRÊNICA
Na política externa a Ditadura também mostrou um comportamento peculiar:
- Acreditou que os EUA ficariam de seu lado na Guerra das Malvinas, já que a Ditadura havia sido um bastião anticomunista na América do Sul e até havia colaborado na guerrilha dos ‘contras’ na América Central.
Os militares argentinos não levaram em conta que pesaria mais a velha aliança EUA-Grã Bretanha por motivos históricos e pela participação na OTAN.
- A Ditadura tinha um discurso anticomunista mas continuou vendendo trigo para a URSS e não aderiu ao boicote americano contra as Olimpíadas de Moscou em 1980.
Fonte: Blog do Ariel Palacios
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/ha-30-anos-encerrava-se-a-ditadura-argentina-pequeno-manual-sobre-o-modus-operandi-do-regime/
Parte 02: Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina
Parte01: Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina (Tortura e voos da morte, Estado proto-nazista)
- Entre 1976 e 1983 os militares assassinaram ao redor de 30 mil civis, entre eles, crianças e idosos, segundo estimativas de ONGs argentinas e organismos internacionais de defesa dos Direitos Humanos.
- Os militares afirmam que mataram “somente” 8 mil civis (segundo declarações do próprio general e ex-ditador Reynaldo Bignone, à TV francesa na virada do século, outros colegas seus dizem que não mataram pessoa alguma)
- O Estado argentino, com a volta da Democracia, recebeu pedidos para indenizações da parte de parentes de 10 mil desaparecidos.
- A Ditadura teria sido responsável pelo sequestro de 500 bebês, filhos das desaparecidas. Desde o final dos anos 70 as avós da Praça de Mayo localizaram e recuperaram a identidade de 109 dessas crianças, atualmente adultos.
- Em 1983 nos últimos meses da Ditadura, um relatório das próprias forças armadas argentinas indicou que a guerrilha e grupos terroristas de esquerda e cristãos nacionalistas teriam assassinado 900 pessoas. Diversos historiadores afirmaram ao longo dos anos que esse número está ligeiramente inflacionado, já que diversos dos mortos da lista militar teriam sido assassinados pelos próprios militares, na miríade de brigas internas (e, convenientemente, teriam colocado a culpa nos terroristas).
FRACASSOS ECONÔMICOS E MILITARES: Além de ter sido a mais sanguinária Ditadura foi um fracasso tanto na área militar como na esfera econômica.
Fiascos Militares:
- Entre 1976 e 1978 a Ditadura colocou quase a totalidade das Forças Armadas para perseguir uma guerrilha que já estava praticamente desmantelada desde antes do golpe, em 1975. Analistas militares destacam que este desvio das Forças Armadas argentinas (que havia iniciado no final dos anos 60 mas intensificou-se a partir do golpe) reduziu drasticamente o profissionalismo dos militares.
- Em 1978, a Junta Militar argentina levou o país a uma escalada armamentista contra o Chile. Em dezembro daquele ano, a invasão argentina do território chileno foi detida graças à intermediação papal. O custo da corrida armamentista colocou o país em graves problemas financeiros.
- Em 1982, perante uma crise social, perda de sustentabilidade política e problemas econômicos, o então ditador Leopoldo Fortunato Galtieri – famoso por seu intenso approach ao scotch – decidiu invadir as ilhas Malvinas para distrair a atenção da população. Resultado: após um breve período de combate, os oficiais do ditador renderam-se às tropas britânicas.
Desastres econômicos:
- Em sete anos de Ditadura, a dívida externa subiu de US$ 8 bilhões para US$ 45 bilhões.
- A inflação do governo civil derrubado pela Ditadura, que era considerada um índice “absurdo alto” pelos militares havia sido de 182% anual. Mas, este índice foi superado pela política econômica caótica da Ditadura, que encerrou sua administração com 343% anual.
- A pobreza disparou de 5% da população argentina para 28%
- A participação da indústria no PIB caiu de 37,5% para 25%, o que equivaleu a um retrocesso dos níveis dos anos 60.
- Além disso, a Ditadura criou uma ciranda financeira, conhecida como “la plata dulce”, ou, “o doce dinheiro”.
- Ao mesmo tempo em que tomavam medidas neoliberais, como a abertura irrestrita das importações, os militares continuavam mantendo imensas estruturas nas empresas estatais, que transformaram-se em cabides de emprego de generais, coronéis e seus parentes.
- Os militares também estatizaram US$ 15 bilhões de dívidas das principais empresas privadas do país (além das filiais argentinas de empresas estrangeiras).
- No meio desse caos econômico, os militares provocaram um déficit fiscal de 15% do PIB.
- A repressão provocou um êxodo de centenas de milhares de profissionais do país. Os militares, em cargos burocráticos, exacerbaram a corrupção na máquina estatal.
MILITARES E ESPORTE - Apesar das denúncias de graves violações aos Direitos Humanos a FIFA não cancelou a realização da Copa de 1978. Para a Ditadura, a vitória nesse evento esportivo foi um trunfo político, que lhe garantiu alta popularidade. Os argentinos exilados discutiam no exterior se deveriam torcer a favor ou contra a seleção. Alguns argumentavam que a vitória na Copa não favoreceria a Ditadura, e que esporte e política nunca se misturam. Outros destacavam que esporte e política misturam-se, e muito.
NEGOCIATAS DE 1978 – O Orçamento inicial da Copa de 1978 era de US$ 70 milhões. Custo final da Copa: US$ 700 milhões (o valor supera amplamente o custo da Copa realizada na Espanha, em 1982, que foi de US$ 520 milhões).
GUERRA CIVIL OU GUERRILHA LOCALIZADA?
Os militares deram o golpe e instauraram a ditadura mais sanguinária da História da América do Sul (América do Sul, não América Latina) com o argumento (um dos vários) de que a guerrilha controlava grande parte do país.
Delírio. A pequena guerrilha argentina, mais especificamente o ERP, dominava às duras penas uma pequena porcentagem da província de Tucumán, a menor província da Argentina.
A magnificação da guerrilha foi útil para os militares e também para o prestígio dos guerrilheiros. A nenhum dos dois lados era conveniente admitir a realidade, de que a área controlada pela guerrilha era ínfima.
Os militares e os setores civis que apoiaram o golpe (e os saudosistas daqueles tempos) afirmavam (e ainda afirmam) que o país estava em guerra civil nos nos 70.
Mas, “guerra civil”, rigorosamente, seriam conflitos de proporções mais substanciais, tais como a Guerra da Secessão dos EUA, a Guerra Civil Espanhola, a Guerra Civil Russa logo após a proclamação do Estado Soviético, a Guerra das Duas Rosas (Lancasters versus Yorks, na Inglaterra) ou a Guerra Civil da Grécia após o fim da Segunda Guerra Mundial. Ainda: a Guerra Civil da Nicarágua, e a de El Salvador. Isto é: bombardeios de cidades, grandes êxodos de refugiados, centenas de milhares de mortos, uma boa parte de um país controlado por um dos lados, e outra parte controlada por outro lado. Isso não ocorreu na Argentina nos anos 70.
POLÍTICA EXTERNA ESQUIZOFRÊNICA
Na política externa a Ditadura também mostrou um comportamento peculiar:
- Acreditou que os EUA ficariam de seu lado na Guerra das Malvinas, já que a Ditadura havia sido um bastião anticomunista na América do Sul e até havia colaborado na guerrilha dos ‘contras’ na América Central.
Os militares argentinos não levaram em conta que pesaria mais a velha aliança EUA-Grã Bretanha por motivos históricos e pela participação na OTAN.
- A Ditadura tinha um discurso anticomunista mas continuou vendendo trigo para a URSS e não aderiu ao boicote americano contra as Olimpíadas de Moscou em 1980.
Fonte: Blog do Ariel Palacios
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/ha-30-anos-encerrava-se-a-ditadura-argentina-pequeno-manual-sobre-o-modus-operandi-do-regime/
Parte 02: Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina
Parte01: Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina (Tortura e voos da morte, Estado proto-nazista)
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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina - parte 02
Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina (pequeno manual sobre o modus operandi do regime) - parte 02
GALERIA DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS TORTURADORES
O “Tigre” Acosta - Um dos criadores dos “voos da morte” foi o capitão de corveta Jorge “Tigre” Acosta, uma das “estrelas” da Escola de Mecânica da Armada (ESMA). O oficial, que falava sozinho à noite, em delírio místico explicava aos colegas e prisioneiros que mantinha longas conversas noturnas com “Jesucito” (O pequeno Jesus), ao qual perguntava qual dos prisioneiros deveria torturar no dia seguinte e jogar dos aviões. Famoso pelos requintes de crueldade que aplicava aos detidos, Acosta também foi um dos principais sequestradores dos bebês de prisioneiras da ESMA.
O “Anjo Loiro” Astiz – “É o mais sinistro paradigma do terrorismo de Estado”. Com esta frase, o escritor e jornalista Jorge Camarasa, define a personalidade do ex-capitão Alfredo Astiz apelidado de “O anjo loiro da morte”. Garoto mimado da ditadura, entre seus assassinatos mais famosos estão os das freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet, além de três fundadoras das Mães da Praça de Mayo, entre elas, Azucena Villaflor. Astiz foi recompensado por seus serviços com o cargo de comando nas ilhas Geórgias durante a Guerra das Malvinas, em 1982. No entanto, essas ilhas foram o primeiro ponto recuperado pelos britânicos durante o conflito. Após um único tiro de bazuca disparado pelos britânicos, Astiz desistiu de resistir “até a morte”, como havia prometido. Com com um copo cheio de whisky em uma das mãos, assinou a rendição incondicional.
Donda Tigel - Alfredo Donda Tigel tornou-se famoso por sequestrar seu próprio irmão e a cunhada – militantes da esquerda. Depois de assassiná-los, ficou com suas filhas, que eram bebês.
Ernesto Weber – Oficial da Polícia Federal, era apelidado de “220” pelos colegas militares pelo prazer que sentia em aplicar essa voltagem nas torturas. Foi professor de torturas dos oficiais de Marinha.
Febres - O ex-Chefe da Guarda Costeira Héctor Febres ficou notório por seu extremo sadismo, que o levou a torturar bebês e crianças para arrancar confissões dos pais, presos políticos. A primeira surpresa ocorreu poucos dias após sua morte, no dia 10 de dezembro – o Dia internacional dos Direitos Humanos, que também coincidiu com a posse da nova presidente, Cristina Fernández de Kirchner – quando a Justiça anunciou que o ex-torturador havia falecido por uma dose cavalar de cianureto. A segunda surpresa surgiu dias depois, quando as autoridades indicaram que a autópsia também registrou a presença de sêmen no reto do ex-torturador. Ele era famoso por seu desenfrado sadismo. Sobreviventes relatam que, quando aplicava choques elétricos nos prisioneiros, ficava “alucinado” e gargalhava enquanto ouvia os gritos dos torturados. Um dos sobreviventes relatou como Febres lhe pediu gentilmente que consertasse o aparelho de choques elétricos, que logo depois utilizaria no próprio prisioneiro. Na ESMA os torturadores costumavam ter apelidos referentes a animais. Esse era o caso do capitão Jorge “Tigre” Acosta e do tenente Alfredo “Corvo” Astiz. Mas, Febres era chamado de “Selva”, já que “era o conjunto de todos os animais”
Enfardador - Luis Porcio, chefe de segurança da Side, conhecido pelo apelido de “Enfardador”, já que apreciava amarrar os prisioneiros com arames, como se fossem fardos, para posteriormente queimá-los. Ele operava no Automotores Orletti, um centro clandestino de detenção e tortura localizado no bairro portenho de Floresta
El Turco Julián - Diversas testemunhas indicam que os torturadores argentinos ouviam marchas militares do Terceiro Reich e discursos de Adolf Hitler enquanto torturavam. Esse era o caso Julio Simón, chefe dos interrogadores do centro de detenção “El Olimpo”, cujo nome de guerra era “O Turco Julián”. Ele divertia-se jogando água fervendo em cima de seus prisioneiros políticos. Deleitava-se em torturar os deficientes físicos, jogando-os do alto de uma escada. Além disso, saboreava cada minuto no qual estuprava a esposa de um prisioneiro na sua frente.
Segundo o depoimento da ex-prisioneira (uma das poucas pessoas detidas que sobreviveram nesse centro onde imperava Julián) Susana Caride o lugar era uma espécie de “circo romano” no qual os policiais “se divertiam”. Caride relatou que os prisioneiros eram obrigados a lutar boxe um contra o outro, sob ameaças de torturas. Ela também relembrou como, no dia de Natal, os prisioneiros foram convidados para um banquete, no qual puderam comer peru, maionese e panettone. Mas, à meia-noite, na hora do brinde, Simón interrompeu a festa que ele próprio havia organizado para iniciar uma sessão de violentas torturas com os presentes. Juan Agustín Guillén, outro dos sobreviventes, contou como Simón – que ostentava uma suástica no uniforme, tinha especial sanha com José Poblete, um jovem militante peronista que havia perdido ambas pernas em um acidente. Simón lhe havia retirado a cadeira de rodas e as pernas ortopédicas, e divertia-se – às gargalhadas – jogando-o para cima ou obrigando-o a desfilar na frente dos outros policiais arrastando-se sobre os tocos de seus membros.
O ex-policial foi condenado pelo sequestro e torturas infligidas ao casal Gertrudis Hlaczik e José Poblete Roa em 1978. Ele também foi considerado culpado do sequestro de Claudia, o bebê de apenas oito meses do casal, e do ocultamento de sua identidade. Ele fazia Gertrudis andar nua pelos corredores, enquanto que José, sem as pernas, devia se arrastar com as mãos pelo chão. Simón e os outros guardas o chamavam de “cortito” (curtinho), por causa da ausência dos membros inferiores. O torturador também costumava jogar Poblete desde o alto de uma escada. Em um vídeo, o ex-policial admitiu que torturou com choques elétricos, com o objetivo de “acelerar” os interrogatórios. No vídeo, confessa que “o critério geral era o de matar todo mundo”.
Rebaneyra - Outro notório torturador era o carcereiro Raúl Rebaynera, uma dos principais figuras da prisão de La Plata, onde estiveram vários prisioneiros políticos, entre eles, o Adolfo Pérez Esquivel, que em 1980 tornou-se Prêmio Nobel da Paz. Segundo o ex-prisioneiro Julio Modorgoy, cada vez que chovia Rebaynera colocava música clássica, de preferência Beethoven ou Bach – e saía “de caça”, isto é, passava pelas celas espancando os prisioneiros. “Se te dou 15 socos e você não gritar, te levo de novo para a cela. Se gritar, fica aqui na sala de torturas 15 dias”, ameaçava.
ESTUPROS – Em 2011 a Justiça argentina começou a investigar os delitos sexuais cometidos por militares e policiais durante a ditadura contra mulheres e homens detidos nos centros clandestinos. Até esse ano, a Justiça havia considerado os delitos sexuais dentro da categoria ampla de “abusos”. Desta forma, com a mudança de enfoque, diversos ex-integrantes da Ditadura puderam ser processados por estupros e violações.
Os casos de delitos sexuais transcorreram nos campos de detenção de “Club Atlético”, “El Olimpo” e “Banco”.
Os envolvidos estupraram – segundo as denúncias – dezenas de mulheres detidas nos centros de tortura. Geralmente elas eram amarradas, nuas, a camas nas celas. Primeiro eram torturadas com choques elétricos nos mamilos e nos órgãos genitais. Posteriormente eram violadas por um ou mais policiais e militares. Ocasionalmente, um dos repressores reclamava exclusividade sobre a mulher estuprada. Os militares e policiais costumavam preferir as estudantes universitárias jovens. Frequentemente, quando um casal era detido, os sequestradores violavam a esposa na frente do marido.
Os militares também costumavam introduzir ratos vivos – e famintos – nas vaginas das mulheres.
O CASO MARIE MARIE ANNE ERIZE
Filha de franceses que instalaram-se na Argentina, Marie Anne Erize foi “Miss Siete Días” (concurso realizado pela revista semanal de maior tiragem da época) e protagonizou diversas campanhas publicitárias da primeira metade dos anos 70 na Argentina.
De forma paralela a seu trabalho nas passarelas Marie Anne Erize fazia militância política na faculdade de filosofia, além de colaborar com o padre Carlos Mujica – referência do clero de esquerda na Argentina – na alfabetização de crianças nas favelas portenhas. A jovem mudou-se para a província de San Juan pouco após o golpe militar. No entanto, em outubro de 1976, ao sair de uma loja de bicicletas, onde havia ido trocar um pneu furado, foi sequestrada e levada para o centro clandestino de torturas “La Marquesita”.
Marie Anne, de 22 anos, que também tinha a cidadania francesa, foi levada à força pelo então tenente Jorge Antonio Olivera (que posteriormente chegaria a major), chefe de inteligência da Infantaria de San Juan, que a estuprou em diversas ocasiões, antes de matá-la. Olivera ufanava-se perante os outros militares de ter penetrado a famosa modelo.
Esta história tem outro lado sinistro: Olivera, que tinha apenas dois anos mais do que ela e era tenente na época da ditadura, havia morado durante sua infância e adolescência em Wanda, Misiones, a mesma cidadezinha de Marie Anne, a apenas um quarteirão de distância um do outro.
Fonte: Blog do Ariel Palacios
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/ha-30-anos-encerrava-se-a-ditadura-argentina-pequeno-manual-sobre-o-modus-operandi-do-regime/
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GALERIA DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS TORTURADORES
O “Tigre” Acosta - Um dos criadores dos “voos da morte” foi o capitão de corveta Jorge “Tigre” Acosta, uma das “estrelas” da Escola de Mecânica da Armada (ESMA). O oficial, que falava sozinho à noite, em delírio místico explicava aos colegas e prisioneiros que mantinha longas conversas noturnas com “Jesucito” (O pequeno Jesus), ao qual perguntava qual dos prisioneiros deveria torturar no dia seguinte e jogar dos aviões. Famoso pelos requintes de crueldade que aplicava aos detidos, Acosta também foi um dos principais sequestradores dos bebês de prisioneiras da ESMA.
O “Anjo Loiro” Astiz – “É o mais sinistro paradigma do terrorismo de Estado”. Com esta frase, o escritor e jornalista Jorge Camarasa, define a personalidade do ex-capitão Alfredo Astiz apelidado de “O anjo loiro da morte”. Garoto mimado da ditadura, entre seus assassinatos mais famosos estão os das freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet, além de três fundadoras das Mães da Praça de Mayo, entre elas, Azucena Villaflor. Astiz foi recompensado por seus serviços com o cargo de comando nas ilhas Geórgias durante a Guerra das Malvinas, em 1982. No entanto, essas ilhas foram o primeiro ponto recuperado pelos britânicos durante o conflito. Após um único tiro de bazuca disparado pelos britânicos, Astiz desistiu de resistir “até a morte”, como havia prometido. Com com um copo cheio de whisky em uma das mãos, assinou a rendição incondicional.
Donda Tigel - Alfredo Donda Tigel tornou-se famoso por sequestrar seu próprio irmão e a cunhada – militantes da esquerda. Depois de assassiná-los, ficou com suas filhas, que eram bebês.
Ernesto Weber – Oficial da Polícia Federal, era apelidado de “220” pelos colegas militares pelo prazer que sentia em aplicar essa voltagem nas torturas. Foi professor de torturas dos oficiais de Marinha.
Febres - O ex-Chefe da Guarda Costeira Héctor Febres ficou notório por seu extremo sadismo, que o levou a torturar bebês e crianças para arrancar confissões dos pais, presos políticos. A primeira surpresa ocorreu poucos dias após sua morte, no dia 10 de dezembro – o Dia internacional dos Direitos Humanos, que também coincidiu com a posse da nova presidente, Cristina Fernández de Kirchner – quando a Justiça anunciou que o ex-torturador havia falecido por uma dose cavalar de cianureto. A segunda surpresa surgiu dias depois, quando as autoridades indicaram que a autópsia também registrou a presença de sêmen no reto do ex-torturador. Ele era famoso por seu desenfrado sadismo. Sobreviventes relatam que, quando aplicava choques elétricos nos prisioneiros, ficava “alucinado” e gargalhava enquanto ouvia os gritos dos torturados. Um dos sobreviventes relatou como Febres lhe pediu gentilmente que consertasse o aparelho de choques elétricos, que logo depois utilizaria no próprio prisioneiro. Na ESMA os torturadores costumavam ter apelidos referentes a animais. Esse era o caso do capitão Jorge “Tigre” Acosta e do tenente Alfredo “Corvo” Astiz. Mas, Febres era chamado de “Selva”, já que “era o conjunto de todos os animais”
Enfardador - Luis Porcio, chefe de segurança da Side, conhecido pelo apelido de “Enfardador”, já que apreciava amarrar os prisioneiros com arames, como se fossem fardos, para posteriormente queimá-los. Ele operava no Automotores Orletti, um centro clandestino de detenção e tortura localizado no bairro portenho de Floresta
El Turco Julián - Diversas testemunhas indicam que os torturadores argentinos ouviam marchas militares do Terceiro Reich e discursos de Adolf Hitler enquanto torturavam. Esse era o caso Julio Simón, chefe dos interrogadores do centro de detenção “El Olimpo”, cujo nome de guerra era “O Turco Julián”. Ele divertia-se jogando água fervendo em cima de seus prisioneiros políticos. Deleitava-se em torturar os deficientes físicos, jogando-os do alto de uma escada. Além disso, saboreava cada minuto no qual estuprava a esposa de um prisioneiro na sua frente.
Segundo o depoimento da ex-prisioneira (uma das poucas pessoas detidas que sobreviveram nesse centro onde imperava Julián) Susana Caride o lugar era uma espécie de “circo romano” no qual os policiais “se divertiam”. Caride relatou que os prisioneiros eram obrigados a lutar boxe um contra o outro, sob ameaças de torturas. Ela também relembrou como, no dia de Natal, os prisioneiros foram convidados para um banquete, no qual puderam comer peru, maionese e panettone. Mas, à meia-noite, na hora do brinde, Simón interrompeu a festa que ele próprio havia organizado para iniciar uma sessão de violentas torturas com os presentes. Juan Agustín Guillén, outro dos sobreviventes, contou como Simón – que ostentava uma suástica no uniforme, tinha especial sanha com José Poblete, um jovem militante peronista que havia perdido ambas pernas em um acidente. Simón lhe havia retirado a cadeira de rodas e as pernas ortopédicas, e divertia-se – às gargalhadas – jogando-o para cima ou obrigando-o a desfilar na frente dos outros policiais arrastando-se sobre os tocos de seus membros.
O ex-policial foi condenado pelo sequestro e torturas infligidas ao casal Gertrudis Hlaczik e José Poblete Roa em 1978. Ele também foi considerado culpado do sequestro de Claudia, o bebê de apenas oito meses do casal, e do ocultamento de sua identidade. Ele fazia Gertrudis andar nua pelos corredores, enquanto que José, sem as pernas, devia se arrastar com as mãos pelo chão. Simón e os outros guardas o chamavam de “cortito” (curtinho), por causa da ausência dos membros inferiores. O torturador também costumava jogar Poblete desde o alto de uma escada. Em um vídeo, o ex-policial admitiu que torturou com choques elétricos, com o objetivo de “acelerar” os interrogatórios. No vídeo, confessa que “o critério geral era o de matar todo mundo”.
Rebaneyra - Outro notório torturador era o carcereiro Raúl Rebaynera, uma dos principais figuras da prisão de La Plata, onde estiveram vários prisioneiros políticos, entre eles, o Adolfo Pérez Esquivel, que em 1980 tornou-se Prêmio Nobel da Paz. Segundo o ex-prisioneiro Julio Modorgoy, cada vez que chovia Rebaynera colocava música clássica, de preferência Beethoven ou Bach – e saía “de caça”, isto é, passava pelas celas espancando os prisioneiros. “Se te dou 15 socos e você não gritar, te levo de novo para a cela. Se gritar, fica aqui na sala de torturas 15 dias”, ameaçava.
A modelo Marie Anne Erize, estuprada pelos militares por alfabetizar crianças pobres |
Os casos de delitos sexuais transcorreram nos campos de detenção de “Club Atlético”, “El Olimpo” e “Banco”.
Os envolvidos estupraram – segundo as denúncias – dezenas de mulheres detidas nos centros de tortura. Geralmente elas eram amarradas, nuas, a camas nas celas. Primeiro eram torturadas com choques elétricos nos mamilos e nos órgãos genitais. Posteriormente eram violadas por um ou mais policiais e militares. Ocasionalmente, um dos repressores reclamava exclusividade sobre a mulher estuprada. Os militares e policiais costumavam preferir as estudantes universitárias jovens. Frequentemente, quando um casal era detido, os sequestradores violavam a esposa na frente do marido.
Os militares também costumavam introduzir ratos vivos – e famintos – nas vaginas das mulheres.
O CASO MARIE MARIE ANNE ERIZE
Filha de franceses que instalaram-se na Argentina, Marie Anne Erize foi “Miss Siete Días” (concurso realizado pela revista semanal de maior tiragem da época) e protagonizou diversas campanhas publicitárias da primeira metade dos anos 70 na Argentina.
De forma paralela a seu trabalho nas passarelas Marie Anne Erize fazia militância política na faculdade de filosofia, além de colaborar com o padre Carlos Mujica – referência do clero de esquerda na Argentina – na alfabetização de crianças nas favelas portenhas. A jovem mudou-se para a província de San Juan pouco após o golpe militar. No entanto, em outubro de 1976, ao sair de uma loja de bicicletas, onde havia ido trocar um pneu furado, foi sequestrada e levada para o centro clandestino de torturas “La Marquesita”.
Marie Anne, de 22 anos, que também tinha a cidadania francesa, foi levada à força pelo então tenente Jorge Antonio Olivera (que posteriormente chegaria a major), chefe de inteligência da Infantaria de San Juan, que a estuprou em diversas ocasiões, antes de matá-la. Olivera ufanava-se perante os outros militares de ter penetrado a famosa modelo.
Esta história tem outro lado sinistro: Olivera, que tinha apenas dois anos mais do que ela e era tenente na época da ditadura, havia morado durante sua infância e adolescência em Wanda, Misiones, a mesma cidadezinha de Marie Anne, a apenas um quarteirão de distância um do outro.
Fonte: Blog do Ariel Palacios
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sábado, 20 de fevereiro de 2010
A Serpente na rede: extrema-direita, neofascismo e internet na Argentina
Como não é possível saber se é permitido reproduzir na íntegra o conteúdo do site, fica aqui a indicação do link de um texto sobre neofascismo/nazismo na Argentina e sua ação na internet nos dias de hoje:
Título: A Serpente na rede: extrema-direita, neofascismo e internet na Argentina
de Fábio Chang de Almeida
Palavras-chave: Neofascismo; Internet; Argentina.
Link pro texto: Vestígios do Passado
Resumo: O aumento no número de incidentes violentos relacionados com a extrema-direita é uma realidade mundial. Diretamente relacionado com este panorama, está o avanço na utilização da internet por grupos neofascistas. Na América Latina, a Argentina é o país que hospeda o maior número de sites desta natureza. A compreensão deste fenômeno deve passar pela análise da longa trajetória do pensamento da extrema-direita naquele país.
E sobre a situação do neofascismo/nazismo(extrema-direita) e negacionismo do Holocausto no Brasil, fica a indicação do link contido no seguinte post:
Título: Intolerância e Negacionismo: Sérgio Oliveira e Revisão Editora
de Odilon Neto
Título: A Serpente na rede: extrema-direita, neofascismo e internet na Argentina
de Fábio Chang de Almeida
Palavras-chave: Neofascismo; Internet; Argentina.
Link pro texto: Vestígios do Passado
Resumo: O aumento no número de incidentes violentos relacionados com a extrema-direita é uma realidade mundial. Diretamente relacionado com este panorama, está o avanço na utilização da internet por grupos neofascistas. Na América Latina, a Argentina é o país que hospeda o maior número de sites desta natureza. A compreensão deste fenômeno deve passar pela análise da longa trajetória do pensamento da extrema-direita naquele país.
E sobre a situação do neofascismo/nazismo(extrema-direita) e negacionismo do Holocausto no Brasil, fica a indicação do link contido no seguinte post:
Título: Intolerância e Negacionismo: Sérgio Oliveira e Revisão Editora
de Odilon Neto
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