"Estudou e comparou a extrema-direita da Argentina, Brasil e Chile e comprovou que a nossa foi a que mais influência teve. Sua maior criação foi o revisionismo histórico, "que foi até muito pouco tempo o mais aceito".
SANDRA MCGEE DEUTSCH, HISTORIADORA
"O nacionalismo argentino foi o mais forte"
Por Sergio Kiernan
Pequena, vivaz, dona de um excelente castelhano, McGee Deutsch estuda nosso país há mais de vinte anos. Professora de história latinoamericana, titular dessa cátedra na Universidade do Texas em El Paso, especializou-se na extrema-direita argentina. Sobre nossos fascistas, aliancistas e nazis, e sobre os nazis (nacis) chilenos e os integralistas brasileiros escreveu vários artigos acadêmicos e dois livros: um sobre a história da Liga Patriótica e outro sobre as direitas dos três países entre 1890 e 1939. Novamente estudando arquivos argentinos para um novo livro sobre sua outra paixão, a história das mulheres na política, falou para o Página/12 sobre o passado, a influência e, o mais inquietante, o possível futuro de nossa direita.
–Por que Argentina?
–Escolhi a Argentina porque é claro que teve a extrema-direita mais proeminente da América Latina. E, como piada pessoal, porque o primeiro livro de história argentino escrito por um argentino que li foram as memórias de Carlos Ibarguren. E isso me fez interessar sobre o tema.
–Você visitou este país pela primeira vez em 1977... toda uma introdução à direita argentina.
–Realmente, e assustadora. Cheguei a me perguntar se ia poder fazer minha pesquisa, mas não tive problemas porque meu trabalho ia até 1930.
–Por que a Argentina desenvolveu uma extrema-direita tão forte?
–Há vários fatores. Um é que, em contraste com os outros países que estudei, Brasil e Chile, aqui houve uma próspera economia exportadora que controlou bem sua demanda interna. Isto fez com que as críticas ao desenvolvimento econômico argentino não fossem contra o capitalismo como um todo senão contra a conexão britânica, a banca internacional. No Chile, a crítica à influência e o controle estrangeiros se fez em conexão com o capitalismo como sistema. Aqui, ao estar dissociados os dois elementos, a crítica jogou a favor da direita.
-Por que?
–Porque a crítica do capitalismo ficou nas mãos da esquerda e a direita ficou com a crítica detalhada ao domínio estrangeiro. Outro fator especialmente importante foi a debilidade dos conservadores argentinos. Economicamente tinham muito poder, mas politicamente não podiam ganhar eleições por isso recorriam à fraude, como ocorreu depois de 1916. E a debilidade dos conservadores sempre deixa mais espaço para a direita extremista. Os mesmos conservadores trabalharam às vezes com a extrema-direita, para ganhar o poder ou para conservá-lo. Se tivessem sido fortes, não teriam necessidade deles. No Brasil e no Chile, os conservadores eram muito mais fortes e raramente usaram ou trataram com os extremistas. Outro fator é que os nacionalistas argentinos, por várias razões, puderam forçar uma aliança muito forte com a Igreja e as Forças Armadas. Novamente, no Brasil e no Chile a tendência existiu, mas nunca chegou ao nível que chegou aqui, e que lhe deram apoio institucional ao nacionalismo.
–Com essas experiências tão diferentes, havia grandes diferenças ideológicas entre os nacionalismos desses três países?
–Não realmente, nada terrível, exceto que os aspectos mais radicalizados e extremos da ideologia foram enfatizados fora da Argentina, em particular no Chile. Nos anos 30, o Chile tinha um movimento de esquerda tão forte que para competir com a esquerda - e isto é algo que a direita extremista sempre faz, competir com e combater a esquerda - os nacistas tiveram que plantar ideias mais radicalizadas e realizar ações muito radicais. Enfatizaram os aspectos mais revolucionários de sua ideologia, a necessidade de mudanças sociais, de reforma. Esses aspectos foram mais proeminentes aqui, mas certamente estiveram presentes, coisas que muito historiadores abordam superficialmente.
–Que nível de violência geraram os nacionalistas?
–Muita, os anos 30 foram muito violentos na Argentina, com muitos incidentes na rua entre nacionalistas, esquerdistas e sindicatos. Os nacionalistas iam aos bairros operários e atacavam socialistas e sindicalistas. Até assassinaram um legislador socialista em Córdoba. Também atacaram sinagogas, atiraram petardos em cinemas que exibiam filmes antinazis. O que houve foi uma batalha pelo espaço. Os nacionalistas chegaram tarde à cena e trataram de fazer um espaço nos bairros operários pra cima da esquerda. Houve grupos mais radicalizados como a Alianza de la Juventud Nacionalista, que trataram de atrair os operários, trataram de tirar por cima a imagem aristocrática do nacionalismo e militaram nos bairros de trabalhadores. Isso gerou violência.
–Como fizeram uma aliança com os militares e a Igreja?
–Tinham prioridades em comum. Opunham-se contra a esquerda, o que era muito importante, queriam ordem e tinha muito da agenda social da Igreja. O padre Menvielle foi muito influente entre os nacionalistas quando falava da ordem corporativa, da justiça social e de uma concepção cristã da economia, sem usura. Os setores da Igreja que acreditam nesta agenda eram mais poderosos aqui que em outros países. Em relação ao exército, ele também compartilhava boa parte das ideias, mas o desacordo estava em que nenhuma força armada oficial gostaria de compartilhar o monopólio da violência, por isso que ele não gostava dos uniformes e das milícias dos nacionalistas.
–Mas essas instituições, que são profundamente conservadoras, como aceitavam o lado revolucionário do nacionalismo?
–Era um ponto de conflito, mas não muito grave. Tomar a agenda social da Igreja significa dizer que a direita também pode propor, como a esquerda, uma ordem social mais justa. E isso é algo que os conservadores não sonham falar. O mesmo com o assunto de fundar movimentos onde o povo que usa uniforme e segue ordens, a militarização da política: enquanto não se usasse armas, o Exército poderia tolerá-lo.
–Você fala da influência do nacionalismo argentino. Isso se traduziu em poder? Em nomeações?
–Não tanto como na Itália ou Alemanha, obviamente, mas a maioria dos movimentos fascistas europeus - e chamar de fascista o nacionalismo é um tema que se debate - tampouco conseguiram tanto poder. Os nacionalistas que rodearam a Uriburu no golpe de 1930 ganharam cargos: alguns interventores provinciais, como Carlos Ibarguren, foram nacionalistas e houve uns 30 funcionários que provinham dessa corrente. Depois, esteve o governo bonaerense (buenairense) do conservador Federico Martínez de Hoz, que evoluiu até o nacionalismo e nomeou vários deles em postos chaves, mas durou pouco; o presidente Justo interveio na província. O governo militar de 1943 foi nacionalista em muitos aspectos e teve ministros como Hugo Wast, Gustavo Martínez Zuviría. E tomaram medidas da plataforma nacionalista, como a educação católica em escolas públicas. Também exerceram certo poder de modo informal, como colaborando com o Estado na repressão da esquerda, informando sobre judeus e supostos subversivos...
–Já o faziam nos anos trinta...
–Sim, já nesses tempos.
–Este relativo poder que os nacionalistas argentinos conseguiram se compara com o que conseguiram no Chile e no Brasil?
–Não, no mais mínimo. No Chile o máximo que conseguiram foi eleger três deputados. Em 1938, os nacis - com "c", como eles escreviam - trataram de tomar o poder pela força e foram duramente reprimidos, com muitos mortos. Curiosamente, pouco depois houve eleições e os nacis apoiaram a Frente Popular, que ganhou. Deve ser o único caso na história de um grupo fascista que seja parte de uma Frente Popular. No Brasil, os nacionalistas estiveram um pouco melhor que no Chile, mas menos que na Argentina. Eles foram úteis a Getúlio Vargas quando tratava de consolidar sua ditadura e quando em 1935 reprimiu duramente a esquerda. Mas em 1938 os havia repudiado e os liquidado.
–E Perón?
–Perón adotou muitas ideias nacionalistas, mas não lhes deu espaço nem poder, não se aproximou deles. Os via por demais aristocráticos e sabia que o viam como bastante populista e que eles não gostavam de Evita. Como dizem amargamente muitos nacionalistas, ele lhes roubou consignas como a da soberania econômica. E há algo a dizer de Perón: ainda que tenha recebido os nazis europeus, também lhes deu um lugar proeminente e inovador de reconhecimento aos judeus argentinos e entendo que foi o primeiro presidente a ir a uma sinagoga.
–Que influência tiveram na cultura?
–No Chile e no Brasil tiveram alguns intelectuais proeminentes, mas quase nada de influência. Nem sequer se vê esse costume de pôr interventores nacionalistas nas universidades a cada golpe que faziam os militares argentinos. O grande êxito dos nacionalistas aqui foi criar e impor o revisionismo histórico, algo que nenhum outro nacionalismo pode fazer, criar sua própria escola histórica e fazer com que até muito pouco tempo fosse a interpretação mais popular da história argentina. É extremamente importante.
–É possível falar como algo do passado os nacionalistas?
–Sob risco de ser míopes. Muitas vezes ressurgem, depende de como anda a economia, do espaço que tenham no cenário político e do poder que podem exercer os conservadores. Se se sentem representados, como com Carlos Menem, não há problema. Se não, podem começar a manobrar até a direita radicalizada.
Fonte: Página 12 (Argentina)
http://www.pagina12.com.ar/2000/00-09/00-09-10/pag14.htm
Tradução: Roberto Lucena
Mostrando postagens com marcador Chile. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Chile. Mostrar todas as postagens
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
"O nacionalismo argentino foi o mais forte" - Sandra McGee Deutsch
Marcadores:
antissemitismo,
Argentina,
Chile,
ditaduras latinoamericanas,
Extrema-Direita,
Fascismo,
Getúlio Vargas,
Igreja Católica,
Integralismo,
livro,
nacismo,
Nazismo,
Perón,
peronismo,
ultranacionalismo
quarta-feira, 11 de julho de 2012
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 03
As igrejas alemãs ante Hitler
A igreja alemã na Argentina, Brasil e Chile, junto com as escolas, foi um foco de vida e cultura nas comunidades alemãs. Como na velha pátria, dois terços dos alemães praticavam o protestantismo e um terço o catolicismo. Os sacerdotes católicos estavam subordinados ao bispado local, independentes da igreja do Reich. Mas ao contrário, os pastores luteranos estavam incorporados às igrejas alemãs, e muitos deles foram enviados da Alemanha. Com a alienação da igreja luterana ao Terceiro Reich, as paróquias se subordinaram à central alemã, cujo representante na América Latina foi o Primeiro Pastor Marczynski, em Buenos Aires [58]. Existiam vários sínodos, entre eles o sínodo do Chile com 8 pastores, o de La Plata com 20 pastores, e 3 sínodos no Brasil com 145 pastores no total. Além disso havia comunidades eclesiásticas independentes, como os batistas, e também o sínodo luterano do Missouri (EUA).
Não só se pode falar de uma alienação das igrejas luteranas no Chile, sendo que é necessário explicar que os pastores de fato desempenharam um papel ativo nela. Estes predicaron contra a crítica antinazi na cátedra com argumentos quase religiosos, e elogiaram a reorganização da vida social e nacional da Alemanha [59]. Seis dos oito pastores do sínodo cheleno eram membros do partido; por outro lado, o NSDAP participou das celebrações da igreja luterana com uniforme e bandeiras com suástica [60].
A alienação das igrejas alemãs na Argentina se desenvolveu da mesma maneira que no Chile [61], ainda que os pastores solían ser mais reservados em suas prédicas que seus colegas chilenos. Somente uns poucos foram membros do NSDAP [62], e só depois das pressões da igreja central em Berlim estes se mostraram dispostos a içar a bandeira nazi nos dias festivos [63].
Também no Brasil teve lugar uma alienação organizacional. O partido usou a ajuda financeira do Reich para eliminar pastores politicamente inseguros [64]. Existia, além disso, uma organiazação dos pastores nacional-socialistas que queriam introduzir um fundamento ideologico nazi na igreja alemã do Brasil [65]. Seus críticos recorriam à consabida argumentação segundo a qual surgiriam dificuldades com o governo brasileiro se a igreja estabelecesse vínculos demasiados estreitos com o NSDAP [66].
No começo, os católicos alemães na América Latina saudaram o governo de Hitler. Em fins de 1935, sobretudo depois das perseguições de curas na Alemanha, tomaram uma posição mais crítica frente ao Terceiro Reich. A primeira publicação católica em língua alemã que rechaçou o racismo, o antissemitismo e as agressões políticas e militares do Terceiro Reich foi o Deutscher Sonntagsbote no Chile. No Brasil, o Deutsches Volksblatt seguiu o exemplo do Sonntagsbote a partir de 1938 e não deixou lugar a dúvidas quanto a sua posição antinazi [67].
As associações alemãs e o nazismo
Apesar de que o NSDAP havia assegurado mais de uma vez que não queria conquistar para si a direção das associações, sua política deixou claro que esse era precisamente seu objetivo, o qual provocou diversos conflitos por cargos influentes e de prestígio [68]. O partido no Chile conseguiu concentrar as distintas associações em um 'comitê de colônia', dominado por ele [69]. Sem que isto supusesse ainda a dependência das diferentes associações do NSDAP> Por isso o partido tratou de obter a maioria nas instituições, ordenando a seus membros que se incorporassem a estas [70]. Normalmente o NSDAP não se via obrigado a usar esses métodos. Na maioria dos casos, as associações se alienavam por si mesmas [71]. O partido solicitou as associações que participaram nas festividades nazis e que oferessiam conferência sobre o nacional-socialismo, esperando, assim, difundir a ideologia nazi entre os chilenos de origem alemã.
Na Argentina, a maioria das associações aceitou a ideologia nacional-socialista sem que tivesse que exercer pressões visíveis. Em princípios de 1935, o NSDAP em Buenos Aires organizou protestos contra a obra do teatro antinazista As Raças (Las Razas), de Ferdinand Bruckner. O jornal La Plata Post informou que mais de "160 associações e comunidades alemães" haviam apoiado os protestos [72]. Inclusive o Argentinisches Tageblatt se viu forçado a reconhecer o sucesso absoluto do NSDAP [73]. Só um pequeno número de associações, menos de 10, conseguiram manter sua independência.
Diferentemente do Chile e Argentina, a maioria dos alemães no Brasil viviam dispersos, preferentemente em regiões rurais do sul do país. Este fato complicou consideravelmente o processo de alienação. Muitas associações não estavam ligadas à Alemanha. Enquanto que o NSDAP tinha sucesso em grandes cidades, muitas vezes lhe parecia que as colônias alemães mais isoladas do sul as declarações de lealdade da nova Alemanha cumpriam um falso ritual [74]. Alguns intentos de manipular as eleições de juntas diretivas através do ingresso massivo de membros do NSDAP terminaram em derrota [75]. Os esforços em afiliar várias associações às centrais na Alemanha fracassaram, já que aquelas não queriam se alienar totalmente com a central na Alemanha; para muitos brasileiros de descendência alemã, estes intentos pareciam uma "traição à pátria brasileira" [76].
Conclusões
Antes de 1933, os grupos do NSDAP na América Latina atuaram de acordo com uma tática política inapropriada frente às comunidades alemães, as quais resistiam a que traslandassem para a América Latina as duras lutas políticas da República de Weimar, porque isto ameaçaria a pretendida unidade dos alemães. O Chile foi o único país onde o partido foi aceito, devido a sua hábio e cautelosa propaganda.
Até o ano de 1937, o partido conseguiu alinhar a maioria das instituições alemães na Argentina, Brasil e Chile. Além das associações principais, o NSDAP preocupou-se com as escolas, porque lhe parecia importantes para a instrução ideológica. Neste campo, a alienação conseguida foi quase completa, pois a maioria destas instituições dependia da ajuda pecuniária e de pessoal docente do Reich. Somente em Buenos Aires se fundou uma escola que não aceitava o ensino nazista. No Brasil fracassou o intento de influir diretamente nas escolas, e não por rechaço da ideologia e política nazi, senão pela necessidade de aclamar as tendências nacionalistas das autoridades brasileiras [77].
A igreja alemã havia influído sempre no pensamento das comunidades, sobretudo nas regiões rurais. Os pastores luteranos, pertencentes à central na Alemanha não se limitaram à condução espiritual, senão que, desde o púlpito, justificaram e glorificaram a ideologia e política do Terceiro Reich. Por outro lado, a Igreja Católica não se pôs a serviço do nacional-socialismo, ainda que tenha saudado a renovação da Alemanha, nunca adotou ou propago a ideologia nazi [78]. Em meados dos anos trinta, a igreja católica alemã no Brasil começou a se distanciar de forma crescente do nazismo e se uniu aos poucos críticos dentro das comunidades alemães.
Ao alinhar as inumeráveis associações, o NSDAP teve grande sucesso no Chile, enquanto que na Argentina e no Brasil não foi capaz de organizar a comunidade alemã no mesmo nível, apesar de que contava com a benevolência das associações. A disposição cultural e ideológica da população alemã na América Latina facilitou a penetração nazista: todavia se sentiam parte do povo alemão por questões culturais, 'raciais' e de língua, o que havia provocado seu isolamento da população de origem hispânica e portuguesa. Em um terreno fértil como esse, a ideologia nazi podia prosperar. A ideia de manter puro o sangue alemão, que existia desde muito tempo, manifestou-se - por exemplo no Chile e no Brasil - em numerosas exigências de não se casar com não-alemães. O nacional-socialismo fez uso deste pensamento endogámico e o converteu em uma finalidade em si.
O antissemitismo nazi foi aceito até certo ponto, menos em um sentido estritamente 'racial', que como um 'argumento político' que se podia usar contra as supostas intenções dos judeus de 'dominar o mundo'. Em meados dos anos trinta, esta propaganda nazista tornou possível a colaboração dos nazis alemães com grupos de extrema-direita na América Latina contra a imigração de judeus para Argentina, Brasil e Chile [79].
Até meador dos trinta, as manifestações do NSDAP, sua atuação e seu desempenho político nos países referidos não eram de interesse das autoridades nacionais, nem equer quando a influência nazi se extendia aos chilenos, argentinos e brasileiros de origem alemã. No Chile, o governo de Alessandri mantinha as tradicionais boas relações com a Alemanha. O NSDAP podia atuar sem restrições das autoridades chilenas. Somente havia conflitos com a DJC, que francamente pretendia impedir a assimilação da juventude de origem alemã na pátria chilena [80]. Com o aumento do Movimento Nacional-Socialista do Chile (MNS) em meados dos anos trinta, despertou-se a suspeita de que este recebia ajuda do Terceiro Reich, o qual nunca se pode comprovar [81]. Nem sequer a ascensão ao poder da Frente Popular piorou as relações com a Alemanha, pois, entre seus dirigentes, havia velhos amigos desse país, como Carlos Ibáñez del Campo.
Também na Argentina houve uma certa indiferença quanto à atuação do NSDAP. A partir de 1934 o Terceiro Reich desenvolveu um intercâmbio comercial intensivo, tomando dos EUA do segundo lugar na balança comercial argentina. Contrariamente, grupos democráticos e de esquerda argentinos começaram a criticar as atividades do NSDAP. A Câmara de Deputados constituiu diversas 'comissões investigadoras das atividades antiargentinas'. A polícia vigiava o partido desde 1937 [82] e, apesar de uma comissão ter absolvido o partido do cargo de que a Alemanha tentou anexar o sul do país, o NSDAP teve que se dissolver em 1939 [83].
Ainda que o Brasil tivesse o mesmo interesse em manter boas relações econômicas, sua política frente a atuação do NSDAP foi mais restritiva. Devido à política de unidade nacional brasileira iniciada em 1930, a independência cultural dos brasileiros de origem estrangeira foi reprimida quase que por completo, e por conseguinte também o trabalho do NSDAP. O governo limitou as atividades das associações e exigiu uma adesão manifesta à pátria brasileira [84].
Com a proibição do partido no Brasil, em abril de 1938, mudaram também as condições na Argentina e no Chile. Os membros do NSDAP deviam se retirar das direções das instituições alemãs, e suas ações foram vigiadas pelas autoridades.
Ao começar a Segunda Guerra Mundial, os alemães se solidarizaram com o Terceiro Reich. Publicaram jornais em espanhol e português em defesa da propaganda hostil e buscaram a colaboração com grupos de direita, sobretudo militares da reserva e da ativa que conheciam e admiravam o sistema militar alemão [85]. Com a entrada na guerra dos Estados Unidos, e pouco depois do Brasil, a situação piorou. Os Aliados exigiram ações contra a chamada 'Quinta Coluna', quer dizer, uma vigilância mais forte dos alemães em geral. O NSDAP no Chile se dissolveu em fevereiro de 1942 e, em início de 1943 o Chile rompeu relações diplomáticas com a Alemanha.
Com o golpe de estado em 1943, a situação dos alemães na Argentina melhorou. Contugo, a Argentina teve de romper relações com o Terceiro Reich em janeiro de 1944 devido a pressões norte-americanas e britâncias.
Só um punhado de instituições alemãs sobreviveu ao fim da guerra sem maior dano. O NSDAP e seu Führer - que havia pretendido dominar a tudo e a todos - desacreditaram o nome alemão de tal modo que nunca mais se podia reestabelecer uma vida comum, social e cultural tão variada como a que havia existido durante mais de um século. Mas tampouco se pode absolver os alemães da Argentina, Brasil e Chile - tanto cúmplices como vítimas do sistema hitlerista - de uma certa culpa em seu próprio destino.
NOTAS
[58] Marczynski entrou no partido em maio de 1934. US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina.
[59] Der Missionsbote, 9/33, p. 12, 10/33, p. 6; Deutsch- Evangelisch in Chile, 3/34, p. 42, 3/37, pp. 39 e ss.
[60] WestkÜsten-Beobachter, 5.9.35, pp. 72 y ss.; Deutsche Monatshefte für Chile, 10/36, p. 1489.
[61] Evangelisches Gemeindeblatt, 15.5.34, p. 115, 1.10.34, p. 235.
[62] US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina; trata-se de seis dos vinte pastores do sínodo.
[63] MRE, Actas de la embajada alemana en Buenos Aires, punto 24, Flaggenfragen, embajada alemana en Buenos Aires al MRE, 4.12.35; ídem., Marczynski, Reglas para embanderar las iglesias de las parroquias protestantes en Argentina, 30.3.36.
[64] Evangelisches Zentralarchiv, Berlin (archivoquivo central da igreja protestante, daqui em diante EZA), 5/2487, direção da AO a Kirchliches Au6enamt, 22.9.37.
[65] Idem., 5/2264, Relatório sobre a situação atual do sínodo riograndense alemão, 9/34; Deutsche Evangelische BlÜtter für Brasilien, 3-5/34, p. 53; Hans-JÜrgen Prien, "Die 'Deutsch- Evangelische' Kirche in Brasilien im Spannungsbogen van nationaler Wende (1933) und Kirchenkampf", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesel1schaft Lateinamer- ikas, 25 (1988), pp. 511-534.
[66] EZA, 5/2055, Relatório sobre a conferência dos dirigentes da igreja alemã na América Latina, Santos, 11-14 julio 1935.
[67] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 464 e ss.
[68] EZA, 7/2759, Suplemento ao relatório anual da paróquia de Valparaíso, março 1934; idem., 5/2730, Pastor Otto Brien à igreja alemã no Reich, 31.12.33.
[69] MRE, Pol. Abt. III, Legación alemã em Santiago ao MRE, 7.2.35.
[70] Por exemplo, 70 membros do NSDAP ingressaram na Deutscher Verein, a associação mais importante de Santiago. Mitteilungsblatt der NSDAP - Landesgruppe Chile, 31.5.34, p. 23.
[71] Deutsche Zeitung fÜr Chile, 27.4.33, p. 5, 26.5.33, p. 5.
[72] La Plata Post, 10.1.35, pp. 12 e ss.
[73] Argentinisches Tageblatt, 30.1.35, p. 3.
[74] Deutscher Margen, 27.4.32, pp. 9 e ss.; Der Nationalsozialist, 8/33, pp. 8 e ss.
[75] Aktion, 17.7.35, p. 2.
[76] Die Serra-Post, 14.9.37, p. 1; Der Turnerbote, 8/37, p. 3; Alarm, 15.2.37, p. 15.
[77] A este respeito, ver César Augusto de Paiva, Die deutschsprachigen Schulen in Rio Grande do Sul und die Nationalisierungspolitik, Hamburg 1984.
[78] De Curitiba, o consul alemão informou que o Terceiro Reich não podia esperar um trabalho nazista dos padres alemães no Brasil, mas que sempre se podia contar com sua participação nas festividades nacionais e nacional-socialistas. A oposição dos franciscanos ao nazismo não excedia à crítica 'normal' do campo católico. MRE, R 62194, consulado alemão em Curitiba ao MRE, 9.5.35.
[79] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., pp. 257 y ss.
[80] No Chile, a DJC foi proibida por três meses na região de Valdivia, em setembro de 1937, por haver feito propaganda política. MRE, Pol IX, Pol Chile 2, consulado alemão em Valdivia à embaixada alemã em Santiago, 15.9.37; idem., 4.12.37.
[81] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit. (1994).
[82] Em Missões, Argentina, a polícia prendeu no mesmo ano uma casa do partido, porque argentinos de origem alemã haviam participado de reuniões políticas. MRE, R 104923, chefe do ponto de apoio em Eldorado ao chefe do NSDAP, 15.9.37; idem., embaixada alemã em Buenos Aires ao MRE, 13.10.37.
[83] Leslie B. Rout/John F. Bratzel, "Heinrich JÜrges and the Cult of Disinformation", The International History Review, 4 (nov. 1984), pp. 611-623.
[84] No Estado Novo do presidente Getúlio Vargas não havia lugar para partidos políticos. O NSDAP no Brasil foi proibido cinco meses depois de todos os partidos brasileiros. A partir de 1935, no Rio Grande do Sul e mais tarde em Santa Catarina e Paraná, as associações, escolas e publicações alemãs tinham que provar seu 'caráter brasileiro', quer dizer, seus diretores deviam ser cidadãos brasileiros nascidos no país. Nas escolas, o uso do português era obrigatório, e os diários em língua alemã tinham que publicar o editorial no idioma português. Ver Káte Harms-Baltzer, Die Nationalisierung der deutschen Einwanderer und ihrer Nachkommen in Brasilien als Problem der deutsch-brasilianischen Beziehungen 1930-1938, Berlin 1970, pp. 42 e ss.; René Ernaíni Gertz, Politische Auswirkungen der deutschen Einwanderung in SÜdbrasilien. Die Deutschstdmmigen und die Jaschistischen Stdmungen in den 30er Jahren, Berlim 1980, pp. 85 e ss. Em agosto de 1941, a imprensa de língua alemã morreu. O orgão do NSDAP em São Paulo, o Deutscher Morgen - agora sob o título de Aurora Allemd, escrito completamente en português - foi suspenso em dezembro de 1941, o último dos jornais de origem alemã. Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., p. 396.
[85] Ver, a este respeito, Juergen Schaefer, Deutsche Militdrhilfe an Sildamerika. Militdr - und Rüstungsinteressen in Argentinien, Bolivien und Chile vor 1914, Düsseldorf 1974; Robert A. Potash, The Army and Politics in Argentina 1928-1945. Yrigoyen to Perón, Stanford 1969; Patricio Quiroga Zamora/Carlos Maldonado Prieto, El Prusianismo en las Fuerzas Armadas chilenas. Un estudio histórico 1885-1945, Santiago de Chile 1988.
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Ver Parte 01 e Parte 02.
A igreja alemã na Argentina, Brasil e Chile, junto com as escolas, foi um foco de vida e cultura nas comunidades alemãs. Como na velha pátria, dois terços dos alemães praticavam o protestantismo e um terço o catolicismo. Os sacerdotes católicos estavam subordinados ao bispado local, independentes da igreja do Reich. Mas ao contrário, os pastores luteranos estavam incorporados às igrejas alemãs, e muitos deles foram enviados da Alemanha. Com a alienação da igreja luterana ao Terceiro Reich, as paróquias se subordinaram à central alemã, cujo representante na América Latina foi o Primeiro Pastor Marczynski, em Buenos Aires [58]. Existiam vários sínodos, entre eles o sínodo do Chile com 8 pastores, o de La Plata com 20 pastores, e 3 sínodos no Brasil com 145 pastores no total. Além disso havia comunidades eclesiásticas independentes, como os batistas, e também o sínodo luterano do Missouri (EUA).
Não só se pode falar de uma alienação das igrejas luteranas no Chile, sendo que é necessário explicar que os pastores de fato desempenharam um papel ativo nela. Estes predicaron contra a crítica antinazi na cátedra com argumentos quase religiosos, e elogiaram a reorganização da vida social e nacional da Alemanha [59]. Seis dos oito pastores do sínodo cheleno eram membros do partido; por outro lado, o NSDAP participou das celebrações da igreja luterana com uniforme e bandeiras com suástica [60].
A alienação das igrejas alemãs na Argentina se desenvolveu da mesma maneira que no Chile [61], ainda que os pastores solían ser mais reservados em suas prédicas que seus colegas chilenos. Somente uns poucos foram membros do NSDAP [62], e só depois das pressões da igreja central em Berlim estes se mostraram dispostos a içar a bandeira nazi nos dias festivos [63].
Também no Brasil teve lugar uma alienação organizacional. O partido usou a ajuda financeira do Reich para eliminar pastores politicamente inseguros [64]. Existia, além disso, uma organiazação dos pastores nacional-socialistas que queriam introduzir um fundamento ideologico nazi na igreja alemã do Brasil [65]. Seus críticos recorriam à consabida argumentação segundo a qual surgiriam dificuldades com o governo brasileiro se a igreja estabelecesse vínculos demasiados estreitos com o NSDAP [66].
No começo, os católicos alemães na América Latina saudaram o governo de Hitler. Em fins de 1935, sobretudo depois das perseguições de curas na Alemanha, tomaram uma posição mais crítica frente ao Terceiro Reich. A primeira publicação católica em língua alemã que rechaçou o racismo, o antissemitismo e as agressões políticas e militares do Terceiro Reich foi o Deutscher Sonntagsbote no Chile. No Brasil, o Deutsches Volksblatt seguiu o exemplo do Sonntagsbote a partir de 1938 e não deixou lugar a dúvidas quanto a sua posição antinazi [67].
As associações alemãs e o nazismo
Apesar de que o NSDAP havia assegurado mais de uma vez que não queria conquistar para si a direção das associações, sua política deixou claro que esse era precisamente seu objetivo, o qual provocou diversos conflitos por cargos influentes e de prestígio [68]. O partido no Chile conseguiu concentrar as distintas associações em um 'comitê de colônia', dominado por ele [69]. Sem que isto supusesse ainda a dependência das diferentes associações do NSDAP> Por isso o partido tratou de obter a maioria nas instituições, ordenando a seus membros que se incorporassem a estas [70]. Normalmente o NSDAP não se via obrigado a usar esses métodos. Na maioria dos casos, as associações se alienavam por si mesmas [71]. O partido solicitou as associações que participaram nas festividades nazis e que oferessiam conferência sobre o nacional-socialismo, esperando, assim, difundir a ideologia nazi entre os chilenos de origem alemã.
Na Argentina, a maioria das associações aceitou a ideologia nacional-socialista sem que tivesse que exercer pressões visíveis. Em princípios de 1935, o NSDAP em Buenos Aires organizou protestos contra a obra do teatro antinazista As Raças (Las Razas), de Ferdinand Bruckner. O jornal La Plata Post informou que mais de "160 associações e comunidades alemães" haviam apoiado os protestos [72]. Inclusive o Argentinisches Tageblatt se viu forçado a reconhecer o sucesso absoluto do NSDAP [73]. Só um pequeno número de associações, menos de 10, conseguiram manter sua independência.
Diferentemente do Chile e Argentina, a maioria dos alemães no Brasil viviam dispersos, preferentemente em regiões rurais do sul do país. Este fato complicou consideravelmente o processo de alienação. Muitas associações não estavam ligadas à Alemanha. Enquanto que o NSDAP tinha sucesso em grandes cidades, muitas vezes lhe parecia que as colônias alemães mais isoladas do sul as declarações de lealdade da nova Alemanha cumpriam um falso ritual [74]. Alguns intentos de manipular as eleições de juntas diretivas através do ingresso massivo de membros do NSDAP terminaram em derrota [75]. Os esforços em afiliar várias associações às centrais na Alemanha fracassaram, já que aquelas não queriam se alienar totalmente com a central na Alemanha; para muitos brasileiros de descendência alemã, estes intentos pareciam uma "traição à pátria brasileira" [76].
Conclusões
Antes de 1933, os grupos do NSDAP na América Latina atuaram de acordo com uma tática política inapropriada frente às comunidades alemães, as quais resistiam a que traslandassem para a América Latina as duras lutas políticas da República de Weimar, porque isto ameaçaria a pretendida unidade dos alemães. O Chile foi o único país onde o partido foi aceito, devido a sua hábio e cautelosa propaganda.
Até o ano de 1937, o partido conseguiu alinhar a maioria das instituições alemães na Argentina, Brasil e Chile. Além das associações principais, o NSDAP preocupou-se com as escolas, porque lhe parecia importantes para a instrução ideológica. Neste campo, a alienação conseguida foi quase completa, pois a maioria destas instituições dependia da ajuda pecuniária e de pessoal docente do Reich. Somente em Buenos Aires se fundou uma escola que não aceitava o ensino nazista. No Brasil fracassou o intento de influir diretamente nas escolas, e não por rechaço da ideologia e política nazi, senão pela necessidade de aclamar as tendências nacionalistas das autoridades brasileiras [77].
A igreja alemã havia influído sempre no pensamento das comunidades, sobretudo nas regiões rurais. Os pastores luteranos, pertencentes à central na Alemanha não se limitaram à condução espiritual, senão que, desde o púlpito, justificaram e glorificaram a ideologia e política do Terceiro Reich. Por outro lado, a Igreja Católica não se pôs a serviço do nacional-socialismo, ainda que tenha saudado a renovação da Alemanha, nunca adotou ou propago a ideologia nazi [78]. Em meados dos anos trinta, a igreja católica alemã no Brasil começou a se distanciar de forma crescente do nazismo e se uniu aos poucos críticos dentro das comunidades alemães.
Ao alinhar as inumeráveis associações, o NSDAP teve grande sucesso no Chile, enquanto que na Argentina e no Brasil não foi capaz de organizar a comunidade alemã no mesmo nível, apesar de que contava com a benevolência das associações. A disposição cultural e ideológica da população alemã na América Latina facilitou a penetração nazista: todavia se sentiam parte do povo alemão por questões culturais, 'raciais' e de língua, o que havia provocado seu isolamento da população de origem hispânica e portuguesa. Em um terreno fértil como esse, a ideologia nazi podia prosperar. A ideia de manter puro o sangue alemão, que existia desde muito tempo, manifestou-se - por exemplo no Chile e no Brasil - em numerosas exigências de não se casar com não-alemães. O nacional-socialismo fez uso deste pensamento endogámico e o converteu em uma finalidade em si.
O antissemitismo nazi foi aceito até certo ponto, menos em um sentido estritamente 'racial', que como um 'argumento político' que se podia usar contra as supostas intenções dos judeus de 'dominar o mundo'. Em meados dos anos trinta, esta propaganda nazista tornou possível a colaboração dos nazis alemães com grupos de extrema-direita na América Latina contra a imigração de judeus para Argentina, Brasil e Chile [79].
Até meador dos trinta, as manifestações do NSDAP, sua atuação e seu desempenho político nos países referidos não eram de interesse das autoridades nacionais, nem equer quando a influência nazi se extendia aos chilenos, argentinos e brasileiros de origem alemã. No Chile, o governo de Alessandri mantinha as tradicionais boas relações com a Alemanha. O NSDAP podia atuar sem restrições das autoridades chilenas. Somente havia conflitos com a DJC, que francamente pretendia impedir a assimilação da juventude de origem alemã na pátria chilena [80]. Com o aumento do Movimento Nacional-Socialista do Chile (MNS) em meados dos anos trinta, despertou-se a suspeita de que este recebia ajuda do Terceiro Reich, o qual nunca se pode comprovar [81]. Nem sequer a ascensão ao poder da Frente Popular piorou as relações com a Alemanha, pois, entre seus dirigentes, havia velhos amigos desse país, como Carlos Ibáñez del Campo.
Também na Argentina houve uma certa indiferença quanto à atuação do NSDAP. A partir de 1934 o Terceiro Reich desenvolveu um intercâmbio comercial intensivo, tomando dos EUA do segundo lugar na balança comercial argentina. Contrariamente, grupos democráticos e de esquerda argentinos começaram a criticar as atividades do NSDAP. A Câmara de Deputados constituiu diversas 'comissões investigadoras das atividades antiargentinas'. A polícia vigiava o partido desde 1937 [82] e, apesar de uma comissão ter absolvido o partido do cargo de que a Alemanha tentou anexar o sul do país, o NSDAP teve que se dissolver em 1939 [83].
Ainda que o Brasil tivesse o mesmo interesse em manter boas relações econômicas, sua política frente a atuação do NSDAP foi mais restritiva. Devido à política de unidade nacional brasileira iniciada em 1930, a independência cultural dos brasileiros de origem estrangeira foi reprimida quase que por completo, e por conseguinte também o trabalho do NSDAP. O governo limitou as atividades das associações e exigiu uma adesão manifesta à pátria brasileira [84].
Com a proibição do partido no Brasil, em abril de 1938, mudaram também as condições na Argentina e no Chile. Os membros do NSDAP deviam se retirar das direções das instituições alemãs, e suas ações foram vigiadas pelas autoridades.
Ao começar a Segunda Guerra Mundial, os alemães se solidarizaram com o Terceiro Reich. Publicaram jornais em espanhol e português em defesa da propaganda hostil e buscaram a colaboração com grupos de direita, sobretudo militares da reserva e da ativa que conheciam e admiravam o sistema militar alemão [85]. Com a entrada na guerra dos Estados Unidos, e pouco depois do Brasil, a situação piorou. Os Aliados exigiram ações contra a chamada 'Quinta Coluna', quer dizer, uma vigilância mais forte dos alemães em geral. O NSDAP no Chile se dissolveu em fevereiro de 1942 e, em início de 1943 o Chile rompeu relações diplomáticas com a Alemanha.
Com o golpe de estado em 1943, a situação dos alemães na Argentina melhorou. Contugo, a Argentina teve de romper relações com o Terceiro Reich em janeiro de 1944 devido a pressões norte-americanas e britâncias.
Só um punhado de instituições alemãs sobreviveu ao fim da guerra sem maior dano. O NSDAP e seu Führer - que havia pretendido dominar a tudo e a todos - desacreditaram o nome alemão de tal modo que nunca mais se podia reestabelecer uma vida comum, social e cultural tão variada como a que havia existido durante mais de um século. Mas tampouco se pode absolver os alemães da Argentina, Brasil e Chile - tanto cúmplices como vítimas do sistema hitlerista - de uma certa culpa em seu próprio destino.
NOTAS
[58] Marczynski entrou no partido em maio de 1934. US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina.
[59] Der Missionsbote, 9/33, p. 12, 10/33, p. 6; Deutsch- Evangelisch in Chile, 3/34, p. 42, 3/37, pp. 39 e ss.
[60] WestkÜsten-Beobachter, 5.9.35, pp. 72 y ss.; Deutsche Monatshefte für Chile, 10/36, p. 1489.
[61] Evangelisches Gemeindeblatt, 15.5.34, p. 115, 1.10.34, p. 235.
[62] US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina; trata-se de seis dos vinte pastores do sínodo.
[63] MRE, Actas de la embajada alemana en Buenos Aires, punto 24, Flaggenfragen, embajada alemana en Buenos Aires al MRE, 4.12.35; ídem., Marczynski, Reglas para embanderar las iglesias de las parroquias protestantes en Argentina, 30.3.36.
[64] Evangelisches Zentralarchiv, Berlin (archivoquivo central da igreja protestante, daqui em diante EZA), 5/2487, direção da AO a Kirchliches Au6enamt, 22.9.37.
[65] Idem., 5/2264, Relatório sobre a situação atual do sínodo riograndense alemão, 9/34; Deutsche Evangelische BlÜtter für Brasilien, 3-5/34, p. 53; Hans-JÜrgen Prien, "Die 'Deutsch- Evangelische' Kirche in Brasilien im Spannungsbogen van nationaler Wende (1933) und Kirchenkampf", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesel1schaft Lateinamer- ikas, 25 (1988), pp. 511-534.
[66] EZA, 5/2055, Relatório sobre a conferência dos dirigentes da igreja alemã na América Latina, Santos, 11-14 julio 1935.
[67] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 464 e ss.
[68] EZA, 7/2759, Suplemento ao relatório anual da paróquia de Valparaíso, março 1934; idem., 5/2730, Pastor Otto Brien à igreja alemã no Reich, 31.12.33.
[69] MRE, Pol. Abt. III, Legación alemã em Santiago ao MRE, 7.2.35.
[70] Por exemplo, 70 membros do NSDAP ingressaram na Deutscher Verein, a associação mais importante de Santiago. Mitteilungsblatt der NSDAP - Landesgruppe Chile, 31.5.34, p. 23.
[71] Deutsche Zeitung fÜr Chile, 27.4.33, p. 5, 26.5.33, p. 5.
[72] La Plata Post, 10.1.35, pp. 12 e ss.
[73] Argentinisches Tageblatt, 30.1.35, p. 3.
[74] Deutscher Margen, 27.4.32, pp. 9 e ss.; Der Nationalsozialist, 8/33, pp. 8 e ss.
[75] Aktion, 17.7.35, p. 2.
[76] Die Serra-Post, 14.9.37, p. 1; Der Turnerbote, 8/37, p. 3; Alarm, 15.2.37, p. 15.
[77] A este respeito, ver César Augusto de Paiva, Die deutschsprachigen Schulen in Rio Grande do Sul und die Nationalisierungspolitik, Hamburg 1984.
[78] De Curitiba, o consul alemão informou que o Terceiro Reich não podia esperar um trabalho nazista dos padres alemães no Brasil, mas que sempre se podia contar com sua participação nas festividades nacionais e nacional-socialistas. A oposição dos franciscanos ao nazismo não excedia à crítica 'normal' do campo católico. MRE, R 62194, consulado alemão em Curitiba ao MRE, 9.5.35.
[79] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., pp. 257 y ss.
[80] No Chile, a DJC foi proibida por três meses na região de Valdivia, em setembro de 1937, por haver feito propaganda política. MRE, Pol IX, Pol Chile 2, consulado alemão em Valdivia à embaixada alemã em Santiago, 15.9.37; idem., 4.12.37.
[81] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit. (1994).
[82] Em Missões, Argentina, a polícia prendeu no mesmo ano uma casa do partido, porque argentinos de origem alemã haviam participado de reuniões políticas. MRE, R 104923, chefe do ponto de apoio em Eldorado ao chefe do NSDAP, 15.9.37; idem., embaixada alemã em Buenos Aires ao MRE, 13.10.37.
[83] Leslie B. Rout/John F. Bratzel, "Heinrich JÜrges and the Cult of Disinformation", The International History Review, 4 (nov. 1984), pp. 611-623.
[84] No Estado Novo do presidente Getúlio Vargas não havia lugar para partidos políticos. O NSDAP no Brasil foi proibido cinco meses depois de todos os partidos brasileiros. A partir de 1935, no Rio Grande do Sul e mais tarde em Santa Catarina e Paraná, as associações, escolas e publicações alemãs tinham que provar seu 'caráter brasileiro', quer dizer, seus diretores deviam ser cidadãos brasileiros nascidos no país. Nas escolas, o uso do português era obrigatório, e os diários em língua alemã tinham que publicar o editorial no idioma português. Ver Káte Harms-Baltzer, Die Nationalisierung der deutschen Einwanderer und ihrer Nachkommen in Brasilien als Problem der deutsch-brasilianischen Beziehungen 1930-1938, Berlin 1970, pp. 42 e ss.; René Ernaíni Gertz, Politische Auswirkungen der deutschen Einwanderung in SÜdbrasilien. Die Deutschstdmmigen und die Jaschistischen Stdmungen in den 30er Jahren, Berlim 1980, pp. 85 e ss. Em agosto de 1941, a imprensa de língua alemã morreu. O orgão do NSDAP em São Paulo, o Deutscher Morgen - agora sob o título de Aurora Allemd, escrito completamente en português - foi suspenso em dezembro de 1941, o último dos jornais de origem alemã. Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., p. 396.
[85] Ver, a este respeito, Juergen Schaefer, Deutsche Militdrhilfe an Sildamerika. Militdr - und Rüstungsinteressen in Argentinien, Bolivien und Chile vor 1914, Düsseldorf 1974; Robert A. Potash, The Army and Politics in Argentina 1928-1945. Yrigoyen to Perón, Stanford 1969; Patricio Quiroga Zamora/Carlos Maldonado Prieto, El Prusianismo en las Fuerzas Armadas chilenas. Un estudio histórico 1885-1945, Santiago de Chile 1988.
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Ver Parte 01 e Parte 02.
domingo, 24 de junho de 2012
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 02
O NSDAP e o processo de alienação das comunidades alemãs
A partir de então, a tarefa mais importante do partido foi a total alienação ideológica das comunidades alemãs, sobretudo de suas associações, tal como havia declarado em maio, e mais uma vez em outubro de 1933, o chefe da Organização de Assuntos do Exterior do NSDAP (Auslandsor - ganisation, AO), Bohle [16]. Primeiramente, a AO queria penetrar nas organizações principais, quer dizer, na Liga Chileno-Alemã (Deutsch- Chilenischer Bund, DCB) e na Associação Alemã da Argentina (Deutscher Volksbund für Argentinien, DVfA) [17]. A AO confirmou:
"As escolas alemãs e as paróquias luteranas e católicas são o ponto de partida mais adequado para extender nossa ideologia nacional-socialista. Se pudermos realizar um trabalho cultural neste sentido, isto seria melhor que a simples alienação de associações. A colaboração com estas instituições é o dever absoluto de todos os membros do partido no exterior".
As associações tinham diferentes relações com a Alemanha. Algumas eram sociedades afiliadas, outras cooperavam com as associações principais no Reich, e muitas se mantinham independentes; mas todas elas se sentiam comprometidas com os 'valores alemães tradicionais' do passado. Os grupos do NSDAP no exterior exigiam de seus membros que participassem ativamente na vida dos círculos alemães, o que significava, por último, na infiltração destes. Além disso, muitas associações recebiam ajuda financeira e pessoal do Reich, sobretudo as escolas. A partir de 1933 chegaram à América Latina professores que, basicamente, eram membros do NSDAP.
O NSDAP e as associações principais
O grupo chileno do NSDAP encontrou resistência a princípio quando tratou de instalar um de seus membros como gerente da Deutsch-Chilenischer Bund, DCB. A DCB, a organização de chilenos de origem alemã, argumentou que, desta maneira, estaria tomando uma posição política [19]. Em fins de 1933, depois de outros conflitos, o chefe de propaganda do NSDAP no Chile reclamou por uma atitude clara da DCB e pediu que se adotasse por completo o nacional-socialismo [2]. Pela última vez a DCB rechaçou esta exigência e toda atuação política [21]. Pouco tempo depois, contudo, foi castigada com a eliminação de toda ajuda financeira do Reich, o que lhes obrigou a funcionar então com um grande déficit [22].
A Legación alemã também tentou influir sobre a DCB [23]. A pressão foi tão grande que o diretor da DCB teve que renunciar no início de março de 1935, segundo ele, por "intrigas nazistas" [24]. Depois de outros conflitos, assumiu este cargo um membro do NSDAP. Agora que a DCB aderiu à nova Alemanha, ele manifestou sua disposição em colaborar com o partido e começar a propagar o nacional-socialismo em suas publicações [25]. Em fins de 1935, a DCB havia perdido sua independência. Um ano mais tarde, em outubro de 1936, a AO caracterizou a colaboração com a DCB como "a melhor que se poderia imaginar" [26]. A fim de assegurar sua influência, a AO exigiu que "a eleição de diretor da DCB estivesse de acordo com o partido" e que "em todo caso fosse um homem orientado totalmente de acordo com a nova Alemanha" [27]. O ministério de Relações Exteriores alemão (Auswdr- tige Amt, AA) apoiou as exigências do NSDAP [28].
A DVFA na Argentina tinha a responsabilidade de se ocupar das escolas alemãs, apesar dos conflitos políticos e sociais [29]. Uma vez superados diversos conflitos pessoais, a DVFA rapidamente se mostrou disposta a se alienar com o Terceiro Reich. Por exemplo, organizou uns protestos de todas as associações alemãs contra a crítica da esquerda, especialmente contra os ataques do Argentinisches Tageblatt ao governo de Hitler. Ao diretor da DVfA, Martin Arndt, o partido lhe reprochó que não quisesse uma alienação nazista, por medo de causar conflitos internos na comunidade alemã [30]. Arndt se viu obrigado a renunciar [31]. O novo diretor, Wilhelm Róhmer, pediu a colaboração do partido e o ingresso de seus membros nos grupos da DVfA32. Em consequência disso, a DVFA perdeu um terço dos seus membros e só em 1937 pode recuperar o nível de membros com o qual contava em 1934 [33].
A cooptação das escolas e juventude das comunidades alemãs
O sistema educativo alemão na América Latina era muito bem avaliado. A grande maioria dos alunos era de origem alemã. Em meados dos anos trinta havia no Chile 52 escolas alemãs com mais de 5.000 alunos [34], na Argentina 203 com 15.000 alunos, e no Brasil 1.800 com cerca de 60.000 alunos[35]. Muitos dos professores eram emissários de escolas na Alemanha [36], e uma grande parte dos gastos era financiado pelo Reich. Em determinado momento, 96 dos 500 professores alemães no Chile pertenciam ao partido [37]. A alienação dos professores se levou a cabo sem dificuldades e já estava consumada em 1934. Por exemplo, o círculo de professores em Santiago solicitou sua incorporação na NSLB (Associação Nacional-Socialista de Professores), seguida pouco depois pela associação central [38]. Os professores chileno-alemães deviam permanecer na organização original, mas seu diretor era sempre o chefe da NSLB39. Consequentemente, os programas de ensino foram reorganizados segundo o modelo alemão [40].
As escolas alemãs na Argentina foram objeto de luta política entre nazis e antinazis alemães. Frente à alienação nazista, Ernesto Alemann, o editor do Argentinisches Tageblatt, propôs a fundação de uma escola independente [41]. A escola 'Pestalozzi' foi inaugurada no início de março de 1934. Excetuando a escola 'Cangallo' [42], todas as demais se submeteram neste tempo à influência nacional-socialsta. Em razão da ajuda financeira, as escolas alemã-argentinas aceitaram programas de ensino nazi [43].
O partido no Brasil teve que fazer mais concessões que os grupos nazis na Argentina e Chile, devido as experiências vividas na Primeira Guerra Mundial, quando em 1917 a administração brasileira fechou as escolas alemãs. Os responsáveis queriam salvar o sistema escolar tradicional, tanto brasileiro como o alemão [44]. O NSDAP no Brasil atuou discretamente, permitiu conservar a organização anterior e deixou que os professores decidissem livremente se eles se uniriam à NSLB [45]. Não obstante, era obrigatória, pelo menos as associações principais, a colaboração com a NSLB [46]. Também foi concedido ao NSDAP o direito de participar das sessões de várias organizações que se incorporaram à associação principal [47], contanto que na classe se lesse Minha Luta de Hitler e se tratasse do 'problema racial' [48].
Contudo, uma alienação tão completa como na Argentina e no Chile não foi possível ser feito no Brasil. O partido teria que levar em conta o temor dos brasileiros de descendência alemã, que haviam sofrido com o clima de crecentes tendências nacionalistas do governo brasileiro e que não queriam ser rotulados como suspeitos de deslealdade com o Estado [49].
Junto às escolas, a juventude foi o outro campo no qual o partido concentrou seus esforços para pôr em prática uma educação nacional-socialista, a fim de que os jovens não perdessem os laços com sua origem alemã [50]. Ainda antes de 1933, já existia no Chile uma organização juvenil orientada para o nazismo, a Deutsche Jugendbund für Chile (Liga Juvenil Alemã do Chile, DJC)51. Fundada em1931 por Karl Roth e Adolf Schwarzenberg[52], a Jugendbund perseguu fins eugênicos e "a doutrinação no sentido do movimento de Hitler' [53]. Sua propaganda estava determinada pela "crença incondicional na missão do povo alemão [54] e os jovens usavam uniformes muito semelhantes aos d Hitlerjugend (Juventude Hitlerista na Alemanha, HJ). Sua enérgica apresentação pública e sua franca determinação de ser a vanguarda na comunidade alemã provocaram críticas dos chileno-alemães [55].
Contudo, as tentativas do NSDAP na Argentina e Brasil de criar uma organização juvenil nazista não deram resultado. Devido à crítica das comunidades alemães ao partido, somente se pode fundar um grupo de escoteiros alemães, totalmente dependente da organização argentina [56]. No Brasil foi fundado, em maio de 1934, a Deutsch-Brasilianischer Jugendring (Círculo Juvenil Brasileiro-Alemão) uniformado, semelhante à DJC. Mas dado à sua evidente conexão com o partido e por medo de possíveis reações do governo brasileiro, os alemães não queriam ter contato com o círculo juvenil [57].
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Parte 01 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
Parte 03 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
A partir de então, a tarefa mais importante do partido foi a total alienação ideológica das comunidades alemãs, sobretudo de suas associações, tal como havia declarado em maio, e mais uma vez em outubro de 1933, o chefe da Organização de Assuntos do Exterior do NSDAP (Auslandsor - ganisation, AO), Bohle [16]. Primeiramente, a AO queria penetrar nas organizações principais, quer dizer, na Liga Chileno-Alemã (Deutsch- Chilenischer Bund, DCB) e na Associação Alemã da Argentina (Deutscher Volksbund für Argentinien, DVfA) [17]. A AO confirmou:
"As escolas alemãs e as paróquias luteranas e católicas são o ponto de partida mais adequado para extender nossa ideologia nacional-socialista. Se pudermos realizar um trabalho cultural neste sentido, isto seria melhor que a simples alienação de associações. A colaboração com estas instituições é o dever absoluto de todos os membros do partido no exterior".
As associações tinham diferentes relações com a Alemanha. Algumas eram sociedades afiliadas, outras cooperavam com as associações principais no Reich, e muitas se mantinham independentes; mas todas elas se sentiam comprometidas com os 'valores alemães tradicionais' do passado. Os grupos do NSDAP no exterior exigiam de seus membros que participassem ativamente na vida dos círculos alemães, o que significava, por último, na infiltração destes. Além disso, muitas associações recebiam ajuda financeira e pessoal do Reich, sobretudo as escolas. A partir de 1933 chegaram à América Latina professores que, basicamente, eram membros do NSDAP.
O NSDAP e as associações principais
O grupo chileno do NSDAP encontrou resistência a princípio quando tratou de instalar um de seus membros como gerente da Deutsch-Chilenischer Bund, DCB. A DCB, a organização de chilenos de origem alemã, argumentou que, desta maneira, estaria tomando uma posição política [19]. Em fins de 1933, depois de outros conflitos, o chefe de propaganda do NSDAP no Chile reclamou por uma atitude clara da DCB e pediu que se adotasse por completo o nacional-socialismo [2]. Pela última vez a DCB rechaçou esta exigência e toda atuação política [21]. Pouco tempo depois, contudo, foi castigada com a eliminação de toda ajuda financeira do Reich, o que lhes obrigou a funcionar então com um grande déficit [22].
A Legación alemã também tentou influir sobre a DCB [23]. A pressão foi tão grande que o diretor da DCB teve que renunciar no início de março de 1935, segundo ele, por "intrigas nazistas" [24]. Depois de outros conflitos, assumiu este cargo um membro do NSDAP. Agora que a DCB aderiu à nova Alemanha, ele manifestou sua disposição em colaborar com o partido e começar a propagar o nacional-socialismo em suas publicações [25]. Em fins de 1935, a DCB havia perdido sua independência. Um ano mais tarde, em outubro de 1936, a AO caracterizou a colaboração com a DCB como "a melhor que se poderia imaginar" [26]. A fim de assegurar sua influência, a AO exigiu que "a eleição de diretor da DCB estivesse de acordo com o partido" e que "em todo caso fosse um homem orientado totalmente de acordo com a nova Alemanha" [27]. O ministério de Relações Exteriores alemão (Auswdr- tige Amt, AA) apoiou as exigências do NSDAP [28].
A DVFA na Argentina tinha a responsabilidade de se ocupar das escolas alemãs, apesar dos conflitos políticos e sociais [29]. Uma vez superados diversos conflitos pessoais, a DVFA rapidamente se mostrou disposta a se alienar com o Terceiro Reich. Por exemplo, organizou uns protestos de todas as associações alemãs contra a crítica da esquerda, especialmente contra os ataques do Argentinisches Tageblatt ao governo de Hitler. Ao diretor da DVfA, Martin Arndt, o partido lhe reprochó que não quisesse uma alienação nazista, por medo de causar conflitos internos na comunidade alemã [30]. Arndt se viu obrigado a renunciar [31]. O novo diretor, Wilhelm Róhmer, pediu a colaboração do partido e o ingresso de seus membros nos grupos da DVfA32. Em consequência disso, a DVFA perdeu um terço dos seus membros e só em 1937 pode recuperar o nível de membros com o qual contava em 1934 [33].
A cooptação das escolas e juventude das comunidades alemãs
O sistema educativo alemão na América Latina era muito bem avaliado. A grande maioria dos alunos era de origem alemã. Em meados dos anos trinta havia no Chile 52 escolas alemãs com mais de 5.000 alunos [34], na Argentina 203 com 15.000 alunos, e no Brasil 1.800 com cerca de 60.000 alunos[35]. Muitos dos professores eram emissários de escolas na Alemanha [36], e uma grande parte dos gastos era financiado pelo Reich. Em determinado momento, 96 dos 500 professores alemães no Chile pertenciam ao partido [37]. A alienação dos professores se levou a cabo sem dificuldades e já estava consumada em 1934. Por exemplo, o círculo de professores em Santiago solicitou sua incorporação na NSLB (Associação Nacional-Socialista de Professores), seguida pouco depois pela associação central [38]. Os professores chileno-alemães deviam permanecer na organização original, mas seu diretor era sempre o chefe da NSLB39. Consequentemente, os programas de ensino foram reorganizados segundo o modelo alemão [40].
As escolas alemãs na Argentina foram objeto de luta política entre nazis e antinazis alemães. Frente à alienação nazista, Ernesto Alemann, o editor do Argentinisches Tageblatt, propôs a fundação de uma escola independente [41]. A escola 'Pestalozzi' foi inaugurada no início de março de 1934. Excetuando a escola 'Cangallo' [42], todas as demais se submeteram neste tempo à influência nacional-socialsta. Em razão da ajuda financeira, as escolas alemã-argentinas aceitaram programas de ensino nazi [43].
O partido no Brasil teve que fazer mais concessões que os grupos nazis na Argentina e Chile, devido as experiências vividas na Primeira Guerra Mundial, quando em 1917 a administração brasileira fechou as escolas alemãs. Os responsáveis queriam salvar o sistema escolar tradicional, tanto brasileiro como o alemão [44]. O NSDAP no Brasil atuou discretamente, permitiu conservar a organização anterior e deixou que os professores decidissem livremente se eles se uniriam à NSLB [45]. Não obstante, era obrigatória, pelo menos as associações principais, a colaboração com a NSLB [46]. Também foi concedido ao NSDAP o direito de participar das sessões de várias organizações que se incorporaram à associação principal [47], contanto que na classe se lesse Minha Luta de Hitler e se tratasse do 'problema racial' [48].
Contudo, uma alienação tão completa como na Argentina e no Chile não foi possível ser feito no Brasil. O partido teria que levar em conta o temor dos brasileiros de descendência alemã, que haviam sofrido com o clima de crecentes tendências nacionalistas do governo brasileiro e que não queriam ser rotulados como suspeitos de deslealdade com o Estado [49].
Junto às escolas, a juventude foi o outro campo no qual o partido concentrou seus esforços para pôr em prática uma educação nacional-socialista, a fim de que os jovens não perdessem os laços com sua origem alemã [50]. Ainda antes de 1933, já existia no Chile uma organização juvenil orientada para o nazismo, a Deutsche Jugendbund für Chile (Liga Juvenil Alemã do Chile, DJC)51. Fundada em1931 por Karl Roth e Adolf Schwarzenberg[52], a Jugendbund perseguu fins eugênicos e "a doutrinação no sentido do movimento de Hitler' [53]. Sua propaganda estava determinada pela "crença incondicional na missão do povo alemão [54] e os jovens usavam uniformes muito semelhantes aos d Hitlerjugend (Juventude Hitlerista na Alemanha, HJ). Sua enérgica apresentação pública e sua franca determinação de ser a vanguarda na comunidade alemã provocaram críticas dos chileno-alemães [55].
Contudo, as tentativas do NSDAP na Argentina e Brasil de criar uma organização juvenil nazista não deram resultado. Devido à crítica das comunidades alemães ao partido, somente se pode fundar um grupo de escoteiros alemães, totalmente dependente da organização argentina [56]. No Brasil foi fundado, em maio de 1934, a Deutsch-Brasilianischer Jugendring (Círculo Juvenil Brasileiro-Alemão) uniformado, semelhante à DJC. Mas dado à sua evidente conexão com o partido e por medo de possíveis reações do governo brasileiro, os alemães não queriam ter contato com o círculo juvenil [57].
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Parte 01 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
Parte 03 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
quinta-feira, 14 de junho de 2012
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01
A atração, sobretudo a atuação do nacional-socialismo em alguns países do Novo Mundo, tem sido objeto de investigação histórica há uns trinta anos. Existe muita literatura que se ocupa da dimensão política e ideológica do Terceiro Reich frente aos países latinoamericanos 1, sobretudo o mito da suposta 'Quinta Coluna' dos nazis, mas que se descuida da situação social, cultural e política da população de origem alemã na América Latina, e que só esta, ideologizada e alineada no sentido nazi, poderia constituir um perigo para a integridade estatal dos países em questão.
De fato, o continente latino não era objeto de interesse político ou militares por parte do Terceiro Reich. Embora se quisesse manter e ampliar as relações econômicas bilaterais, isto não era uma condição impressindível da política externa nazi. Todo o afã do Terceiro Reich se encontrava nos países da Europa oriental os quais se aspirava conquistar e dominar; a América Latina era considerada sob a esfera de influência dos Estados Unidos 2. Ao estourar da Segunda Guerra Mundial, a política alemã estava interessada em manter a neutralidade dos paíes latinoamericanos, sobretudo depois da entrada na guerra dos EUA em fins de 1941, mas isso foi conseguido somente no caso do Chile.
Tudo isto não implica que os nazis não tenham tentado formar uma 'Quinta Coluna', que poderia ser - menos em um sentido militar - um instrumento eficaz da política externa do Reich. Os nazis consideravam a população de origem alemã nos mais importantes países da América Latina como um importante fator econômico no sistema social desses países e, ao mesmo tempo, como um branco que deveria ser cooptado a fim de extender a soberania do nacional-socialismo sobre todos os alemães no mundo, aquele povo de 'cem milhões' que, devido a sua origem nacional e racial, obededeceria a uma 'vontade comum' encarnada no Partido Nacional-Socialista e na pessoa do Führer.
Nosso ensaio tentará mostrar a técnica e a dimensão da alienação nazista das comunidades alemãs da Argentina, Brasil e Chile. A historiografia existente, exceto no caso da Argentina, tende a retratar a população de descendência alemã como um bloco quase monolítico, político e ideologicamente alienado sob o comando do partido nazi; não trata dos conflitos entre o partido e as diversas instituições das colônias alemãs, que em muitos casos foram sucumbindo aos nazis muito gradualmente. As mais importantes fontes para nossa investigação são documentos oficiais de instituições governamentais na Alemanha e o variado material imprenso jornalístico em língua alemã na Argentina, Brasil e Chile, que refletiam os conflitos políticos e ideológicos causados pela conduta e atitude do Partido Nazi.
Os primeiros grupos nacional-socialistas
Desde a metade do século XIX, alemães imigraram para Argentina, Brasil e Chile [03] e, com a exceção da Argentina, estabeleceram-se em regiões apartadas no sul e criaram comunidades rurais, artesanais e industriais. Fundaram, além disso, inúmeras instituções culturais e sociais, entre elas muitas escolas, e publicaram também centenas de diários e periódicos. As comunidades estavam isoladas quase que por completo, sendo dois terços delas luteranas, de modo que esta população de origem alemã foi se distanciando cada vez mais da vida social, política, religiosa e cultural de suas novas pátrias. Seu isolamento, inevitável a princípio e por iniciativa própria depois, culminou com a incorporação dos territórios coloniais do século XIX e a consequente necessidade de se assimilar. Sempre respeitados por seu 'espírito e disciplina de trabalho' e sua exitosa posição econômica, os alemães, contudo, nunca tiveram uma destacada influência política; sua inevitável separação da cultura nacional aumentava sua ignorância em assuntos políticos locais. Contudo, apesar do isolamento, houve uma lenta aproximação da sociedade alemã, que foi interrompida pelo início da Primeira Guerra Mundial. Com os distúrbios políticos e econômicos na Alemanha do pós-guerra, a lealdade das comunidades alemãs à glória e grandeza do perdido império alemão se fortaleceu. A República de Weimar foi para eles um símbolo de ruptura, e em grande parte rejeitaram a nova bandeira alemã. Contudo, no final dos anos vinte, as comunidades alemãs aceitaram a nova realidade política na Alemanha mas não a suposta cultura e política decadente de Weimar: unidas e fieis ainda aos 'valores tradicionais do passado', as comunidades alemãs se consideravam assim mesmo 'melhores alemães' que aqueles em sua velha pátria.
Ainda que a opinião política da maior parte da população alemã fosse conservadora e nacionalista, a primeira aparição dos grupos nacional-socialistas foi recebida com indiferença e impugnação. Temia-se que a luta política interior no Reich se trasladasse às comunidades alemães no exterior. Os fundadores dos Stützpunkte (pontos de apoio) e os Ortsgruppen (grupos locais) do Partido dos Trabalhadores Alemães Nacional-Socialista (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, NSDAP) [04] haviam chegado à América Latina pouco depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Geralmente não tinham nenhum prestígio social nas colônias alemães dos países em questão e se encontravam marginalizados, pois ao NSDAP só podia pertencer a quem era do Reichsdeutscher (cidadão alemão) [05]. O partido tinha como objetivo a doutrinação ideológica e a alienação política uniforme de todos os alemães no exterior, tanto que sua propaganda se propunha a fortalecer consideravelmente a convicção antirrepublicana de seus compatriotas e a renovação dos 'verdadeiros valores alemães'. Fundamentalmente, a oposição das comunidades à toda política partidária foi sempre o maior obstáculo ao NSDAP, que só podia salvá-lo mediante uma propaganda hábil e moderada.
O partido encontrou resistência a seus ataques contra as associações e seus dirigentes, por exemplo na Argentina [06]. Os nazis exigiam que se mantivesse a pureza do sangue alemão e que se destacasse sua cultura própria acima da latina, enquanto que os argentinos de língua alemã rechaçavam essas pretensões. Além disso, a comunidade alemã se encontrava dividida em distintos grupos políticos: nacionalistas, liberais, social-democratas e socialistas [07]. O orgão dos liberais e da esquerda era a Argentinisches Tageblatt, que desde o início atacou os nazis [08]. A oposição incondicional do partido a seus adversários foi a causa pela qual não se aceitava o NSDAP. Deste modo, a maioria dos alemães se encontrou entre dois extremos: por um lado, eram por demais conservadores para adotar uma posição antinazista, mas por outra parte se sentiam tão ofendidos pelos ataques do partido que não podiam se juntar a ele.
No Brasil, o NSDAP se formou já no final dos anos vinte, ainda que a princípio dos trinta [09]. Desde o começo, o partido manifestou sua intenção de penetrar nas instituições alemãs com sua ideologia, quando achasse que era necessáro [10]. Segundo um diplomata alemão em 1931, os nazis procuraram impôr seus interesses políticos sem se preocupar com qualquer que fosse o eventual dano político [11]. Alguns alemães católicos no Brasil assumiram uma posição contrára aos nazis já desde 1932, sobretudo no orgão Deutsches Volksblatt de Porto Alegre [12]. No Rio de Janeiro, o grupo local do NSDAP atacou os dirigentes das instituições alemãs reprochándoles a 'desmoralização' e o 'espírito de classe e de camaradagem' [13]. De modo que, enfrentado pela oposição da maioria dos alemães e ante a impossibilidade de propagar plataformas programáticas e ideológicas na Argentina e no Brasil, o NSDAP se limitou a criticar o suposto 'caráter deficiente' dos valores nacionais. Aos chefes dos círculos alemães, o partido lhes repreendeu por uma 'falta de princípio nacionais' e o afã de obter cargos lucrativos.
O NSDAP no Chile fundou seu primeiro grupo local em Santiago no começo de 1932 14, e procedeu de maneira mais habil. Renunciou as agressões contra a comunidade alemã e seus dirigentes. Manipulou os temores da assimilação difundidos por chileno-alemães para seus fins políticos e tratou de aproveitar as antipatias da comunidade a respeito da República de Weimar. Graças a sua atitude moderada e sua colaboração nas instituições em "favor de todos os alemães", o NSDAP conseguiu reconhecimento. Não houve oposição ao partido até meados dos anos trinta. O Chile foi o único país da América Latina em que, inclusive antes de 1933, formou-se uma associação permeada pela ideologia nazi: a juventude chileno-alemã, a Deutscher Jugendbund für Chile (DJC)[15].
Ante a ascensão ao poder dos nazis em janeiro de 1933, os alemães na América Latina não os rejeitaram com regozijo; ao que mostraram interesse. Aprovaram o credo nacionalista alemão do novo regime, um ideal que sempre foi o seu, se bem que com um sentido menos radical. Aplaudiram as duras medidas adotadas contra os comunistas, os socialistas e os sindicatos, ainda que nem sempre aceitaram os métodos utilizados pelo regime. Só nos círculos antinazis houve crítica e resistência. A opinião das comunidades alemães mudaram depois das eleições de março de 1933, quando o NSDAP obteve a metade dos votos, de nacionalistas a nacional-socialistas. Mais tarde, os grupos nazis na América Latina exigiram assumir o controle nas colônias alemães. A 'promessa de adesão' do povo alemão que era cobrada pelos nazis a todos os alemães na América Latina era reclamada agora junto com a aceitação da ideologia e do programa nazi: não ser nazi significava ser traidor da pátria. Toda crítica e oposição era, para eles, uma expressão do pensamento 'judeu' ou comunista.
Enquanto que na Alemanha os nazis podiam usar todo o poder do Estado no processo de alienação dos cidadãos com o regime, os grupos do partido na América Latina tinham que se contentar no geral só com a propaganda. Por isso começaram a buscar a colaboração dos diplomatas alemães, agora representantes do Estado nazi, que sempre tiveram uma grande influência nos assuntos das comunidades alemãs.
NOTAS
[01] As publicações gerais mais importantes que se ocuparam do nazismo alemão na América Latina, baseando-se em documentos oficiais de instituições governamentais do Terceiro Reich, são: Louis de Jong, Die deutsche Fünfte Kolonne ¡ni Zweiten Weltkrieg, Stuttgart 1959; Hans-Adolf Jacobsen, Nationalsozialistische Aussenpolitik 1933-1938, Frankfurt/M., Berlin 1968; Reiner Pommerin, Das Dritte Reich und Lateinamerika. Die deutsche Politik gegenÜber SÜd- und Mittelamerika 1939-1942, DÜsseldorf 1977. Existe, além disso, muita literatura regida por interesses políticos, quer dizer, trabalhos dos anos trinta e quarenta, geralmente de autores norteamericanos, publicaos 'em defesa do hemisfério ocidental'; por exemplo: Carleton Beals, The Coming Struggle for Latín America, New York 1940; John Gunther, Inside Latin America, New York/London 1941; Hubert Herring, Good Neighbors. Argentina, Brazil, Chile and Seventeen Other Countries, New Haven 1941; Ernesto Giudici, Hitler conquista América, Buenos Aires 1938; Adolfo Tejera, Penetración nazi en América Latina, Montevideo 1938. Infelizmente, eles continuam esta mesma linha de erros, invenções e falsas valoraciones mais as monografias publicadas nos anos sessenta na República Democrática da Alemanha, sobretudo a coleção de Heinz Sanke (ed.), Der deutsche Faschismus in Lateinamerika 1933-1943, Berlin 1966; Manfred Kossok, Lateinamerika zwischen Emanzipation und Imperialismus. 1810-1960, Berlin 1961; e também o norteamericano Alton Frye, Nazi Germany and the American Hemisphere 1933-1941, New Haven/ London 1967.
Monografías dedicadas al `fascismo criollo' incluyen: Michael Potashnik, Nacismo. National Socialism in Chile 1932-1938, University of California, Los Angeles 1974; Gerardo Jorge Ojeda Ebert, "El Movimiento Nacional Socialista Chileno. Presentación de fuentes diplomáticas inéditas", Estudios Latinoamericanos, no. 9, 1982-1984, Wroclaw 1985, pp. 249-265; George F.W. Young, "Jorge González von Marées: Chief of Chilenn Nacism", Jahrbuch fÜr Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas, T. 11, Kbln/ Wien 1974, pp. 309-333; R. Alliende González, El Jefe. La vida de Jorge González von Marées, Santiago de Chile 1990; Hélgio Trindade, Integralismo (o fascismo no sul de Brasil. Germanismo - Nazismo - Fascismo, Porto Alegre 1987.
A respeito da atuação política do nazismo na América Latina, as publicações mais importantes são: Arnold Ebel, Das Dritte Reich und Argentinien. Die diplomatischen Beziehungen unter besonderer Berücksichúgung der Handelspolitik (1933-1939), Kóln/Wien 1971; Holger M. Meding (ed.), Nationalsozialismus und Argentinien, Frankfurt/M., Bern, New York, Paris, Wien 1995; Dawid Bartelt, " `Fünfte Kolonne ohne Plan'. Die Auslandsorganisation der NSDAP in Brasilien. 1931-1939", Ibero-Amerikanisches Archiv, no. 1-2 (1993), pp. 3-35; Jürgen Müller, Nationalsozialismus in Lateinamerika. Die Auslandsorganisation del NSDAP in Argentinien, Brasilien, Chile und Mexiko, 1931-1945, Heidelberg 1994 (tesis doctoral).
[02] Ver, a este respeito, Jürgen MÜller, "Hitler, Lateinamerika und die Weltherrschaft", Ibero- Amerikanisches Archiv, no. 1-2 (1992), pp. 67-101.
[03] Entre 1850 e 1919 imigraram cerca de 150.000 alemães para a América Latina; entre 1920 e 1931, quase 130.000. Ver Hermann Kellenbenz/Jürgen Schneider, "La emigración alemana a América Latina desde 1821 hasta 1930", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas, 13 (1976), pp. 394 e ss. Nos anos trinta havia na Argentina aproximadamente 300.000 descendentes de origem alemã, no Brasil 800.000 e no Chile 30.000; idem. A respeito da imigração alemã na América do Sul e a organização cultural e social das comunidades alemães, ver Olaf Gaudig/Peter Veit, Der Widerschein des Nazismus: Das Bild des Nationalsozialismus in der deutschsprachigen Presse Argentiniens, Brasiliens und Chiles 1933-1945, Berlin 1995 (tese de doutorado, em via de publicação), pp. 11-31.
[04] Os pontos de apoio tinham pelo menos 5 membros e os grupos locais 25 membros do NSDAP.
[05] Os outros, só de origem alemã, chamados de Volksdeutsche, não podiam se integrar ao NSDAP.
[06]Em setembro de 1932, o NSDAP na Argentina constava do grupo local de Buenos Aires e com sete pontos de apoio no país, com um total de 278 membros; Bundesarchiv Potsdam (Arquivo da República Federal da Alemanha, seção Potsdam; daqui em diante BA Potsdam), 62 Au 1, 59, p. 61, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], sept. 1932. Em 1937 o partido contava com 1.500 membros; ver Jürgen MÜller, op. cit. (1994), p. 111.
[07] Ver Ronald C. Newton, German Buenos Aires, 1900-1933. Social change and cultural crisis, Austin/London 1977; Ronald C. Newton, The 'Nazi Menace' in Argentina 1931-1947, Stanford 1992; Carlota Jackisch, El nazismo y los refugiados alemanes en la Argentina 1933- 1945, Buenos Aires 1989.
[08] Ver o artigo em Argentinisches Tageblatt, 30.7.31, p. 2. A respeito do Tageblatt, ver Sebastian Schoepp, Das Argentinische Tageblatt 1933-1945. Eine "bürgerliche Kampfzeitung" als Forum der antinationalsozialistischen Emigration, trabalho de exame de graduação, Miinchen 1991; Arnold Spitta, Die deutsche Emigration in Argentinien 1933-1945. Ihr publizistisches und literarisches Wirken, conferência, Bielefeld 1978.
[09] Em 1932 havia no Brasil 4 grupos locais e alguns pontos de apoio, com 507 membros do partido; ver BA Potsdam, 62 Au 1, 59, p. 64, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], set. 1932. Em 1937 havia 2903 membros; Jürgen Müller op. cit. (1994), p. 111.
[10] Ver Deutscher Morgen, 1.6.32, p. 4, 26.5.33, p. 5.
[11] Politisches Archiv des Auswdrtigen Amtes Bonn (Arquivo Político do Ministério das Relações Exteriores em Bonn; daqui em diante MRE), R 60028, consulado alemão em Porto Alegre ligado ao MRE, 20.8.31. A prática característica da política dos nazis obedecia a ordem da central do partido na Alemanha de espionar pessoas e dirigentes de associações alemães a fim de obter relatórios aproveitáveis sobre amigos e, principalmente, inimigos. Ver Aktion, 18.5.33, p. 1; Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 16; MRE, R 79001, consulado alemão em Porto Alegre ligado ao MRE, 20.5.33.
[12] Um resumo da oposição e da imprensa antinazista em língua alemã no Brasil, Argentina e Chile se encontra em Patrik von Zur Mühlen, Fluchtziel Lateinamerika. Die deutsche Emigration 1933- 1945: Politische Aktivitdten und soziokulturelle Integration, Bonn 1988; sobre o exemplo do Brasil, ver Izabela Maria Furtado Kestler, Die Exilliteratur und das Exil der deutschsprachigen Schriftsteller und Publizisten in Brasilien, Frankfurt a. M. 1992.
[13] Der Nationalsozialist, 1/33, pp. 17 e ss. O então chefe da AO (Auslandsorganisation, a organização do NSDAP para assuntos do exterior), Bohle, manifestou que não era objetivo do partido semear a discórdia dentro da colônia alemã. Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 149.
[14] Neste mesmo ano existiam no país 4 grupos locais e 6 pontos de apoio, no total 251 membros do partido; BA Potsdam, 62 Au 1, 59, p. 59, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], set. 1932. Em 1937 havia 985 membros; Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 111. Enquanto que no Chile havia uns 10% de cidadãos alemães que se afiliaram ao NSDAP, na Argentina e no Brasil esta porcentagem nem sequer ascendeu a 5%; idem., pp. 117 y ss.
[15] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 110 e ss.
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Parte 02 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
Parte 03 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
De fato, o continente latino não era objeto de interesse político ou militares por parte do Terceiro Reich. Embora se quisesse manter e ampliar as relações econômicas bilaterais, isto não era uma condição impressindível da política externa nazi. Todo o afã do Terceiro Reich se encontrava nos países da Europa oriental os quais se aspirava conquistar e dominar; a América Latina era considerada sob a esfera de influência dos Estados Unidos 2. Ao estourar da Segunda Guerra Mundial, a política alemã estava interessada em manter a neutralidade dos paíes latinoamericanos, sobretudo depois da entrada na guerra dos EUA em fins de 1941, mas isso foi conseguido somente no caso do Chile.
Tudo isto não implica que os nazis não tenham tentado formar uma 'Quinta Coluna', que poderia ser - menos em um sentido militar - um instrumento eficaz da política externa do Reich. Os nazis consideravam a população de origem alemã nos mais importantes países da América Latina como um importante fator econômico no sistema social desses países e, ao mesmo tempo, como um branco que deveria ser cooptado a fim de extender a soberania do nacional-socialismo sobre todos os alemães no mundo, aquele povo de 'cem milhões' que, devido a sua origem nacional e racial, obededeceria a uma 'vontade comum' encarnada no Partido Nacional-Socialista e na pessoa do Führer.
Nosso ensaio tentará mostrar a técnica e a dimensão da alienação nazista das comunidades alemãs da Argentina, Brasil e Chile. A historiografia existente, exceto no caso da Argentina, tende a retratar a população de descendência alemã como um bloco quase monolítico, político e ideologicamente alienado sob o comando do partido nazi; não trata dos conflitos entre o partido e as diversas instituições das colônias alemãs, que em muitos casos foram sucumbindo aos nazis muito gradualmente. As mais importantes fontes para nossa investigação são documentos oficiais de instituições governamentais na Alemanha e o variado material imprenso jornalístico em língua alemã na Argentina, Brasil e Chile, que refletiam os conflitos políticos e ideológicos causados pela conduta e atitude do Partido Nazi.
Os primeiros grupos nacional-socialistas
Desde a metade do século XIX, alemães imigraram para Argentina, Brasil e Chile [03] e, com a exceção da Argentina, estabeleceram-se em regiões apartadas no sul e criaram comunidades rurais, artesanais e industriais. Fundaram, além disso, inúmeras instituções culturais e sociais, entre elas muitas escolas, e publicaram também centenas de diários e periódicos. As comunidades estavam isoladas quase que por completo, sendo dois terços delas luteranas, de modo que esta população de origem alemã foi se distanciando cada vez mais da vida social, política, religiosa e cultural de suas novas pátrias. Seu isolamento, inevitável a princípio e por iniciativa própria depois, culminou com a incorporação dos territórios coloniais do século XIX e a consequente necessidade de se assimilar. Sempre respeitados por seu 'espírito e disciplina de trabalho' e sua exitosa posição econômica, os alemães, contudo, nunca tiveram uma destacada influência política; sua inevitável separação da cultura nacional aumentava sua ignorância em assuntos políticos locais. Contudo, apesar do isolamento, houve uma lenta aproximação da sociedade alemã, que foi interrompida pelo início da Primeira Guerra Mundial. Com os distúrbios políticos e econômicos na Alemanha do pós-guerra, a lealdade das comunidades alemãs à glória e grandeza do perdido império alemão se fortaleceu. A República de Weimar foi para eles um símbolo de ruptura, e em grande parte rejeitaram a nova bandeira alemã. Contudo, no final dos anos vinte, as comunidades alemãs aceitaram a nova realidade política na Alemanha mas não a suposta cultura e política decadente de Weimar: unidas e fieis ainda aos 'valores tradicionais do passado', as comunidades alemãs se consideravam assim mesmo 'melhores alemães' que aqueles em sua velha pátria.
Ainda que a opinião política da maior parte da população alemã fosse conservadora e nacionalista, a primeira aparição dos grupos nacional-socialistas foi recebida com indiferença e impugnação. Temia-se que a luta política interior no Reich se trasladasse às comunidades alemães no exterior. Os fundadores dos Stützpunkte (pontos de apoio) e os Ortsgruppen (grupos locais) do Partido dos Trabalhadores Alemães Nacional-Socialista (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, NSDAP) [04] haviam chegado à América Latina pouco depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Geralmente não tinham nenhum prestígio social nas colônias alemães dos países em questão e se encontravam marginalizados, pois ao NSDAP só podia pertencer a quem era do Reichsdeutscher (cidadão alemão) [05]. O partido tinha como objetivo a doutrinação ideológica e a alienação política uniforme de todos os alemães no exterior, tanto que sua propaganda se propunha a fortalecer consideravelmente a convicção antirrepublicana de seus compatriotas e a renovação dos 'verdadeiros valores alemães'. Fundamentalmente, a oposição das comunidades à toda política partidária foi sempre o maior obstáculo ao NSDAP, que só podia salvá-lo mediante uma propaganda hábil e moderada.
O partido encontrou resistência a seus ataques contra as associações e seus dirigentes, por exemplo na Argentina [06]. Os nazis exigiam que se mantivesse a pureza do sangue alemão e que se destacasse sua cultura própria acima da latina, enquanto que os argentinos de língua alemã rechaçavam essas pretensões. Além disso, a comunidade alemã se encontrava dividida em distintos grupos políticos: nacionalistas, liberais, social-democratas e socialistas [07]. O orgão dos liberais e da esquerda era a Argentinisches Tageblatt, que desde o início atacou os nazis [08]. A oposição incondicional do partido a seus adversários foi a causa pela qual não se aceitava o NSDAP. Deste modo, a maioria dos alemães se encontrou entre dois extremos: por um lado, eram por demais conservadores para adotar uma posição antinazista, mas por outra parte se sentiam tão ofendidos pelos ataques do partido que não podiam se juntar a ele.
No Brasil, o NSDAP se formou já no final dos anos vinte, ainda que a princípio dos trinta [09]. Desde o começo, o partido manifestou sua intenção de penetrar nas instituições alemãs com sua ideologia, quando achasse que era necessáro [10]. Segundo um diplomata alemão em 1931, os nazis procuraram impôr seus interesses políticos sem se preocupar com qualquer que fosse o eventual dano político [11]. Alguns alemães católicos no Brasil assumiram uma posição contrára aos nazis já desde 1932, sobretudo no orgão Deutsches Volksblatt de Porto Alegre [12]. No Rio de Janeiro, o grupo local do NSDAP atacou os dirigentes das instituições alemãs reprochándoles a 'desmoralização' e o 'espírito de classe e de camaradagem' [13]. De modo que, enfrentado pela oposição da maioria dos alemães e ante a impossibilidade de propagar plataformas programáticas e ideológicas na Argentina e no Brasil, o NSDAP se limitou a criticar o suposto 'caráter deficiente' dos valores nacionais. Aos chefes dos círculos alemães, o partido lhes repreendeu por uma 'falta de princípio nacionais' e o afã de obter cargos lucrativos.
O NSDAP no Chile fundou seu primeiro grupo local em Santiago no começo de 1932 14, e procedeu de maneira mais habil. Renunciou as agressões contra a comunidade alemã e seus dirigentes. Manipulou os temores da assimilação difundidos por chileno-alemães para seus fins políticos e tratou de aproveitar as antipatias da comunidade a respeito da República de Weimar. Graças a sua atitude moderada e sua colaboração nas instituições em "favor de todos os alemães", o NSDAP conseguiu reconhecimento. Não houve oposição ao partido até meados dos anos trinta. O Chile foi o único país da América Latina em que, inclusive antes de 1933, formou-se uma associação permeada pela ideologia nazi: a juventude chileno-alemã, a Deutscher Jugendbund für Chile (DJC)[15].
Ante a ascensão ao poder dos nazis em janeiro de 1933, os alemães na América Latina não os rejeitaram com regozijo; ao que mostraram interesse. Aprovaram o credo nacionalista alemão do novo regime, um ideal que sempre foi o seu, se bem que com um sentido menos radical. Aplaudiram as duras medidas adotadas contra os comunistas, os socialistas e os sindicatos, ainda que nem sempre aceitaram os métodos utilizados pelo regime. Só nos círculos antinazis houve crítica e resistência. A opinião das comunidades alemães mudaram depois das eleições de março de 1933, quando o NSDAP obteve a metade dos votos, de nacionalistas a nacional-socialistas. Mais tarde, os grupos nazis na América Latina exigiram assumir o controle nas colônias alemães. A 'promessa de adesão' do povo alemão que era cobrada pelos nazis a todos os alemães na América Latina era reclamada agora junto com a aceitação da ideologia e do programa nazi: não ser nazi significava ser traidor da pátria. Toda crítica e oposição era, para eles, uma expressão do pensamento 'judeu' ou comunista.
Enquanto que na Alemanha os nazis podiam usar todo o poder do Estado no processo de alienação dos cidadãos com o regime, os grupos do partido na América Latina tinham que se contentar no geral só com a propaganda. Por isso começaram a buscar a colaboração dos diplomatas alemães, agora representantes do Estado nazi, que sempre tiveram uma grande influência nos assuntos das comunidades alemãs.
NOTAS
[01] As publicações gerais mais importantes que se ocuparam do nazismo alemão na América Latina, baseando-se em documentos oficiais de instituições governamentais do Terceiro Reich, são: Louis de Jong, Die deutsche Fünfte Kolonne ¡ni Zweiten Weltkrieg, Stuttgart 1959; Hans-Adolf Jacobsen, Nationalsozialistische Aussenpolitik 1933-1938, Frankfurt/M., Berlin 1968; Reiner Pommerin, Das Dritte Reich und Lateinamerika. Die deutsche Politik gegenÜber SÜd- und Mittelamerika 1939-1942, DÜsseldorf 1977. Existe, além disso, muita literatura regida por interesses políticos, quer dizer, trabalhos dos anos trinta e quarenta, geralmente de autores norteamericanos, publicaos 'em defesa do hemisfério ocidental'; por exemplo: Carleton Beals, The Coming Struggle for Latín America, New York 1940; John Gunther, Inside Latin America, New York/London 1941; Hubert Herring, Good Neighbors. Argentina, Brazil, Chile and Seventeen Other Countries, New Haven 1941; Ernesto Giudici, Hitler conquista América, Buenos Aires 1938; Adolfo Tejera, Penetración nazi en América Latina, Montevideo 1938. Infelizmente, eles continuam esta mesma linha de erros, invenções e falsas valoraciones mais as monografias publicadas nos anos sessenta na República Democrática da Alemanha, sobretudo a coleção de Heinz Sanke (ed.), Der deutsche Faschismus in Lateinamerika 1933-1943, Berlin 1966; Manfred Kossok, Lateinamerika zwischen Emanzipation und Imperialismus. 1810-1960, Berlin 1961; e também o norteamericano Alton Frye, Nazi Germany and the American Hemisphere 1933-1941, New Haven/ London 1967.
Monografías dedicadas al `fascismo criollo' incluyen: Michael Potashnik, Nacismo. National Socialism in Chile 1932-1938, University of California, Los Angeles 1974; Gerardo Jorge Ojeda Ebert, "El Movimiento Nacional Socialista Chileno. Presentación de fuentes diplomáticas inéditas", Estudios Latinoamericanos, no. 9, 1982-1984, Wroclaw 1985, pp. 249-265; George F.W. Young, "Jorge González von Marées: Chief of Chilenn Nacism", Jahrbuch fÜr Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas, T. 11, Kbln/ Wien 1974, pp. 309-333; R. Alliende González, El Jefe. La vida de Jorge González von Marées, Santiago de Chile 1990; Hélgio Trindade, Integralismo (o fascismo no sul de Brasil. Germanismo - Nazismo - Fascismo, Porto Alegre 1987.
A respeito da atuação política do nazismo na América Latina, as publicações mais importantes são: Arnold Ebel, Das Dritte Reich und Argentinien. Die diplomatischen Beziehungen unter besonderer Berücksichúgung der Handelspolitik (1933-1939), Kóln/Wien 1971; Holger M. Meding (ed.), Nationalsozialismus und Argentinien, Frankfurt/M., Bern, New York, Paris, Wien 1995; Dawid Bartelt, " `Fünfte Kolonne ohne Plan'. Die Auslandsorganisation der NSDAP in Brasilien. 1931-1939", Ibero-Amerikanisches Archiv, no. 1-2 (1993), pp. 3-35; Jürgen Müller, Nationalsozialismus in Lateinamerika. Die Auslandsorganisation del NSDAP in Argentinien, Brasilien, Chile und Mexiko, 1931-1945, Heidelberg 1994 (tesis doctoral).
[02] Ver, a este respeito, Jürgen MÜller, "Hitler, Lateinamerika und die Weltherrschaft", Ibero- Amerikanisches Archiv, no. 1-2 (1992), pp. 67-101.
[03] Entre 1850 e 1919 imigraram cerca de 150.000 alemães para a América Latina; entre 1920 e 1931, quase 130.000. Ver Hermann Kellenbenz/Jürgen Schneider, "La emigración alemana a América Latina desde 1821 hasta 1930", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas, 13 (1976), pp. 394 e ss. Nos anos trinta havia na Argentina aproximadamente 300.000 descendentes de origem alemã, no Brasil 800.000 e no Chile 30.000; idem. A respeito da imigração alemã na América do Sul e a organização cultural e social das comunidades alemães, ver Olaf Gaudig/Peter Veit, Der Widerschein des Nazismus: Das Bild des Nationalsozialismus in der deutschsprachigen Presse Argentiniens, Brasiliens und Chiles 1933-1945, Berlin 1995 (tese de doutorado, em via de publicação), pp. 11-31.
[04] Os pontos de apoio tinham pelo menos 5 membros e os grupos locais 25 membros do NSDAP.
[05] Os outros, só de origem alemã, chamados de Volksdeutsche, não podiam se integrar ao NSDAP.
[06]Em setembro de 1932, o NSDAP na Argentina constava do grupo local de Buenos Aires e com sete pontos de apoio no país, com um total de 278 membros; Bundesarchiv Potsdam (Arquivo da República Federal da Alemanha, seção Potsdam; daqui em diante BA Potsdam), 62 Au 1, 59, p. 61, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], sept. 1932. Em 1937 o partido contava com 1.500 membros; ver Jürgen MÜller, op. cit. (1994), p. 111.
[07] Ver Ronald C. Newton, German Buenos Aires, 1900-1933. Social change and cultural crisis, Austin/London 1977; Ronald C. Newton, The 'Nazi Menace' in Argentina 1931-1947, Stanford 1992; Carlota Jackisch, El nazismo y los refugiados alemanes en la Argentina 1933- 1945, Buenos Aires 1989.
[08] Ver o artigo em Argentinisches Tageblatt, 30.7.31, p. 2. A respeito do Tageblatt, ver Sebastian Schoepp, Das Argentinische Tageblatt 1933-1945. Eine "bürgerliche Kampfzeitung" als Forum der antinationalsozialistischen Emigration, trabalho de exame de graduação, Miinchen 1991; Arnold Spitta, Die deutsche Emigration in Argentinien 1933-1945. Ihr publizistisches und literarisches Wirken, conferência, Bielefeld 1978.
[09] Em 1932 havia no Brasil 4 grupos locais e alguns pontos de apoio, com 507 membros do partido; ver BA Potsdam, 62 Au 1, 59, p. 64, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], set. 1932. Em 1937 havia 2903 membros; Jürgen Müller op. cit. (1994), p. 111.
[10] Ver Deutscher Morgen, 1.6.32, p. 4, 26.5.33, p. 5.
[11] Politisches Archiv des Auswdrtigen Amtes Bonn (Arquivo Político do Ministério das Relações Exteriores em Bonn; daqui em diante MRE), R 60028, consulado alemão em Porto Alegre ligado ao MRE, 20.8.31. A prática característica da política dos nazis obedecia a ordem da central do partido na Alemanha de espionar pessoas e dirigentes de associações alemães a fim de obter relatórios aproveitáveis sobre amigos e, principalmente, inimigos. Ver Aktion, 18.5.33, p. 1; Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 16; MRE, R 79001, consulado alemão em Porto Alegre ligado ao MRE, 20.5.33.
[12] Um resumo da oposição e da imprensa antinazista em língua alemã no Brasil, Argentina e Chile se encontra em Patrik von Zur Mühlen, Fluchtziel Lateinamerika. Die deutsche Emigration 1933- 1945: Politische Aktivitdten und soziokulturelle Integration, Bonn 1988; sobre o exemplo do Brasil, ver Izabela Maria Furtado Kestler, Die Exilliteratur und das Exil der deutschsprachigen Schriftsteller und Publizisten in Brasilien, Frankfurt a. M. 1992.
[13] Der Nationalsozialist, 1/33, pp. 17 e ss. O então chefe da AO (Auslandsorganisation, a organização do NSDAP para assuntos do exterior), Bohle, manifestou que não era objetivo do partido semear a discórdia dentro da colônia alemã. Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 149.
[14] Neste mesmo ano existiam no país 4 grupos locais e 6 pontos de apoio, no total 251 membros do partido; BA Potsdam, 62 Au 1, 59, p. 59, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], set. 1932. Em 1937 havia 985 membros; Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 111. Enquanto que no Chile havia uns 10% de cidadãos alemães que se afiliaram ao NSDAP, na Argentina e no Brasil esta porcentagem nem sequer ascendeu a 5%; idem., pp. 117 y ss.
[15] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 110 e ss.
Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena
Parte 02 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
Parte 03 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Conspiração Nazista - O plano para dominar a América Latina (History Channel)
Vídeo repassado no canal History Channel sobre a infiltração e presença nazista na América Latina, com cenas também da presença nazista nos EUA. Vale a pena assistir apesar de alguns erros repassados no documentário.
Duração: 1 hora e 14 minutos, em português.
Primeiro link removido:
https://www.youtube.com/watch?v=PVMvAIltRGU (315x420)
Duração: 1 hora e 14 minutos, em português.
Primeiro link removido:
https://www.youtube.com/watch?v=PVMvAIltRGU (315x420)
Marcadores:
América do Sul,
América Latina,
Ana Maria Dietrich,
Argentina,
Brasil,
Chile,
EUA,
Getúlio Vargas,
Goebbels,
Integralismo,
juventude hitlerista,
México,
Nazismo,
Nova York,
Peron,
Terceiro Reich
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Walter Rauff - Criador das câmaras de gás móveis era triplo espião
O Arquivo Federal alemão irá divulgar na próxima semana em Koblenz um vasto conjunto de documentos que, segundo foi anunciado, confirmam as suspeitas de recrutamento do criminoso de guerra Walter Rauff pelos serviços sercretos da Alemanha Federal (BND), já nos anos 50. Procurando desfazer-se do lastro de um passado demasiado presente, o presidente do BND, Ernst Uhrlau, admite agora a vergonha que esse recrutamento representa. Mas Rauff trabalhou também para os serviços secretos da Síria e de Israel.
O volumoso acervo documental cuja divulgação está prometida para os próximos dias totaliza 900 páginas e confirma que o ex-agente dos serviços de segurança das SS trabalhou no pós guerra para o BND, da democrática Alemanha Federal. Rauff já em tempos revelara esse "emprego" a jornalistas, mas tudo então tomado como mera fanfarronada de um veterano da repressão nazi, a procurar fazer-se interessante na monotonia do pós-guerra.
O criador das "câmaras de gás móveis"
Walter Rauff era em 1933, quando o partido nazi ascendeu ao poder, um oficial da Marinha de Guerra, com o posto de tenente e a idade de 27 anos. Aí conhecera anteriormente o famigerado Reinhard Heydrich, também oficial da Marinha. Quando este passou a chefiar o RSHA (Serviço Central de Segurança do Reich, que reunia várias polícias) chamou Rauff para o seu lado e fez dele um dos seus braços direitos.
Depois de um breve interregno em que regressara à Marinha, Rauff retomou as funções policiais e continuou a sua ascensão meteórica, mesmo depois de a resistência checa ter liquidado o seu protector Heydrich. Em 1945, no final da guerra, com 39 anos, atingira a patente de coronel.
Entre as façanhas que lhe permitiram essa ascensão conta-se o desenvolvimento das câmaras de gás móveis, utilizadas para matar prisioneiros judeus e deficientes físicos ou mentais. As vítimas eram mortas por sufocação em camiões fechados, em que se lançava gases tóxicos. O equipamento foi usado primeiro no campo de concentração de Sachsenhausen, e depois também na capital lituana, Riga, e em campos de extermínio em Chelmno (Polónia) e Poltava (Ucrânia). Até serem substituídas pelas grandes instalações destinadas ao extermínio, as câmaras de gás móveis custaram a vida a um número de pessoas que é calculado entre 97.000 e 200.000.
Do Norte de África a Itália
Nessa fase, Rauff fora destacado para o Norte de África, à cabeça de um Einsatzkommando, que era suposto proceder ao extermínio dos judeus à medida que o Afrikakorps de Rommel fosse avançando no terreno. Na Tunísia, Rauff levou ainda a cabo verdadeiros massacres contra a comunidade judaica local.
Na fase final da guerra, esteve no norte de Itália e participou activamente na repressão contra a resistência em Milão, Turim e Génova. Aquando da insurreição de Milão, esteve a ponto de ser linchado por uma multidão e escapou por pouco. Foi depois capturado pelas tropas norte-americanas, que o deixaram fugir do campo de prisioneiros de Rimini. Segundo a sua ficha na CIA, ele pôde então esconder-se em conventos locais graças ao apoio do bispo católico Alois Hudal.
Espião duplo para a Síria e para Israel
Depois da fuga, Rauff foi recrutado para os serviços secretos sírios por um certo capitão Akram Tabara e partiu para Damasco, onde ficou, a partir de 1948, ao serviço do presidente sírio Hosni Zaim. Foi temporariamente detido na sequência de um golpe de Estado que derrubou Zaim, mas acabou por ser libertado e deixar o país.
A arregimentação de Rauff para os serviços secretos sírios, numa fase em que este e outros regimes árabes se encontravam em pé de guerra com o recém-nascido Estado de Israel, surgia, entretanto, ao senso comum como prova de uma convergência entre esses regimes e os restos do nazismo contra um inimigo comum.
As revelações de Elam e Whitehead
Mas o jornalista judeu Shraga Elam e o seu colega norte-americano Dennis Whitehead desenterraram há três anos documentos que lançavam uma nova luz sobre a história. Segundo esses documentos, então divulgados no diário israelita Haaretz, Rauff terá estado simultaneamente sob as ordens dos serviços secretos israelitas. Essa ligação era já conhecida da CIA em 1950.
Segundo o historiador residente do Haaretz, Tom Segev, Rauff já terá ido para a Síria sob ordens israelitas. Era precisamente o seu passado de criminoso do Holocausto que o tornava, aos olhos dos sírios, insuspeito de alguma simpatia pelo Estado de Israel.
Ainda segundo Elam e Whitehead, Rauff foi depois para o Egito sob ordens israelitas, com o plano de organizar o assassínio de diversas figuras políticas inquietantes para Israel. Mas o plano não chegou a concretizar-se e Rauff partiu então para a América Latina, com a ajuda dos serviços secretos israelitas.
No Chile, ao serviço da espionagem alemã
Na América Latina, Rauff estabelceu-se no Chile, como comerciante de gado. Foi aí que o BND o recrutou, com o intuito de obter informações provenientes da Cuba revolucionária. Aparentemente, a actividade de Rauff saldou-se num fracasso e decepcionou o seu novo patrão - os serviços secretos alemães. Por isso chegou a ser-lhe cortado o vencimento, segundo Klaus Wiegrefe em Der Spiegel.
Em 1962, a política falou mais alto que a polícia e o Governo da Alemanha Federal pediu ao Chile a extradição de Rauff. O refugiado foi temporariamente detido, mas o Supremo Tribunal chileno recusou o pedido de extradição, a pretexto de os crimes em causa já terem prescrito segundo a lei chilena, e mesmo a chegada ao poder de Salvador Allende não mudou a segurança que o país oferecia ao criminoso nazi.
Com o golpe de Estado de Pinochet circularam rumores sobre uma activa participação de Rauff no aparelho repressivo da ditadura. Novos pedidos de extradição foram, em todo o caso, rejeitados por Pinochet. Um provinha de Israel, em 1984, outro de uma especial amiga do ditador, Margareth Thatcher. Mas foi também em 1984 que Rauff morreu - enterrado com honras e rituais nazis pela comunidade germânica refugiada no Chile.
Fonte: RTP(Portugal)
http://www.rtp.pt/noticias/?t=Criador-das-camaras-de-gas-moveis-era-triplo-espiao.rtp&article=482924&visual=3&layout=10&tm=7
Walter Rauff, ao ser detido pela polícia chilena, em dezembro de 1962 |
O criador das "câmaras de gás móveis"
Walter Rauff era em 1933, quando o partido nazi ascendeu ao poder, um oficial da Marinha de Guerra, com o posto de tenente e a idade de 27 anos. Aí conhecera anteriormente o famigerado Reinhard Heydrich, também oficial da Marinha. Quando este passou a chefiar o RSHA (Serviço Central de Segurança do Reich, que reunia várias polícias) chamou Rauff para o seu lado e fez dele um dos seus braços direitos.
Depois de um breve interregno em que regressara à Marinha, Rauff retomou as funções policiais e continuou a sua ascensão meteórica, mesmo depois de a resistência checa ter liquidado o seu protector Heydrich. Em 1945, no final da guerra, com 39 anos, atingira a patente de coronel.
Entre as façanhas que lhe permitiram essa ascensão conta-se o desenvolvimento das câmaras de gás móveis, utilizadas para matar prisioneiros judeus e deficientes físicos ou mentais. As vítimas eram mortas por sufocação em camiões fechados, em que se lançava gases tóxicos. O equipamento foi usado primeiro no campo de concentração de Sachsenhausen, e depois também na capital lituana, Riga, e em campos de extermínio em Chelmno (Polónia) e Poltava (Ucrânia). Até serem substituídas pelas grandes instalações destinadas ao extermínio, as câmaras de gás móveis custaram a vida a um número de pessoas que é calculado entre 97.000 e 200.000.
Do Norte de África a Itália
Nessa fase, Rauff fora destacado para o Norte de África, à cabeça de um Einsatzkommando, que era suposto proceder ao extermínio dos judeus à medida que o Afrikakorps de Rommel fosse avançando no terreno. Na Tunísia, Rauff levou ainda a cabo verdadeiros massacres contra a comunidade judaica local.
Na fase final da guerra, esteve no norte de Itália e participou activamente na repressão contra a resistência em Milão, Turim e Génova. Aquando da insurreição de Milão, esteve a ponto de ser linchado por uma multidão e escapou por pouco. Foi depois capturado pelas tropas norte-americanas, que o deixaram fugir do campo de prisioneiros de Rimini. Segundo a sua ficha na CIA, ele pôde então esconder-se em conventos locais graças ao apoio do bispo católico Alois Hudal.
Espião duplo para a Síria e para Israel
Depois da fuga, Rauff foi recrutado para os serviços secretos sírios por um certo capitão Akram Tabara e partiu para Damasco, onde ficou, a partir de 1948, ao serviço do presidente sírio Hosni Zaim. Foi temporariamente detido na sequência de um golpe de Estado que derrubou Zaim, mas acabou por ser libertado e deixar o país.
A arregimentação de Rauff para os serviços secretos sírios, numa fase em que este e outros regimes árabes se encontravam em pé de guerra com o recém-nascido Estado de Israel, surgia, entretanto, ao senso comum como prova de uma convergência entre esses regimes e os restos do nazismo contra um inimigo comum.
As revelações de Elam e Whitehead
Mas o jornalista judeu Shraga Elam e o seu colega norte-americano Dennis Whitehead desenterraram há três anos documentos que lançavam uma nova luz sobre a história. Segundo esses documentos, então divulgados no diário israelita Haaretz, Rauff terá estado simultaneamente sob as ordens dos serviços secretos israelitas. Essa ligação era já conhecida da CIA em 1950.
Segundo o historiador residente do Haaretz, Tom Segev, Rauff já terá ido para a Síria sob ordens israelitas. Era precisamente o seu passado de criminoso do Holocausto que o tornava, aos olhos dos sírios, insuspeito de alguma simpatia pelo Estado de Israel.
Ainda segundo Elam e Whitehead, Rauff foi depois para o Egito sob ordens israelitas, com o plano de organizar o assassínio de diversas figuras políticas inquietantes para Israel. Mas o plano não chegou a concretizar-se e Rauff partiu então para a América Latina, com a ajuda dos serviços secretos israelitas.
No Chile, ao serviço da espionagem alemã
Na América Latina, Rauff estabelceu-se no Chile, como comerciante de gado. Foi aí que o BND o recrutou, com o intuito de obter informações provenientes da Cuba revolucionária. Aparentemente, a actividade de Rauff saldou-se num fracasso e decepcionou o seu novo patrão - os serviços secretos alemães. Por isso chegou a ser-lhe cortado o vencimento, segundo Klaus Wiegrefe em Der Spiegel.
Em 1962, a política falou mais alto que a polícia e o Governo da Alemanha Federal pediu ao Chile a extradição de Rauff. O refugiado foi temporariamente detido, mas o Supremo Tribunal chileno recusou o pedido de extradição, a pretexto de os crimes em causa já terem prescrito segundo a lei chilena, e mesmo a chegada ao poder de Salvador Allende não mudou a segurança que o país oferecia ao criminoso nazi.
Com o golpe de Estado de Pinochet circularam rumores sobre uma activa participação de Rauff no aparelho repressivo da ditadura. Novos pedidos de extradição foram, em todo o caso, rejeitados por Pinochet. Um provinha de Israel, em 1984, outro de uma especial amiga do ditador, Margareth Thatcher. Mas foi também em 1984 que Rauff morreu - enterrado com honras e rituais nazis pela comunidade germânica refugiada no Chile.
Fonte: RTP(Portugal)
http://www.rtp.pt/noticias/?t=Criador-das-camaras-de-gas-moveis-era-triplo-espiao.rtp&article=482924&visual=3&layout=10&tm=7
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Antonio Salas - Diário de um Skin (Documentário)
Conforme prometido na postagem do filme Diário de um Skin, indicação do Daniel, segue abaixo o documentário com mesmo título do livro do jornalista Antonio Salas(pseudônimo).
Produzido pela Telecinco da Espanha, com cenas reais dos bandos neonazis na Espanha e de como esses bandos atuam naquele país. Como o filme, os vídeos servem pra traçar um parâmetro ou paralelo sobre a atuação desses bandos com os da América do Sul e os demais ao redor do mundo.
Antonio Salas - Diário de um Skin - parte 2
Antonio Salas - Diário de um Skin - parte 3
Produzido pela Telecinco da Espanha, com cenas reais dos bandos neonazis na Espanha e de como esses bandos atuam naquele país. Como o filme, os vídeos servem pra traçar um parâmetro ou paralelo sobre a atuação desses bandos com os da América do Sul e os demais ao redor do mundo.
Antonio Salas - Diário de um Skin - parte 2
Antonio Salas - Diário de um Skin - parte 3
Marcadores:
Antonio Salas,
Argentina,
Brasil,
Chile,
Cone Sul,
documentário,
Espanha,
Extrema-Direita,
Fascismo,
grupos de ódio,
internet,
Neonazismo,
Racismo,
torcidas organizadas,
ultradireita,
xenofobia
sábado, 5 de dezembro de 2009
Neonazista que ameaçou matar deputada é detido no Chile
Santiago do Chile, 30 nov (EFE).- O neonazista Elliot Quijada Ávila, que supostamente espionou e ameaçou matar a deputada do partido direitista chileno Renovação Nacional Lily Pérez, de ascendência judaica, foi detido hoje na localidade de Villa Alemana, informaram à Agência Efe fontes judiciais.
A detenção aconteceu durante uma operação policial na casa de Quijada Ávila, de 38 anos, ex-líder do grupo neonazista Martelo do Sul, que foi extinto.
O detido está acusado de "posse ilegal de munição", em uma investigação por ameaças contra a deputada aberta pela procuradoria de Villa Alemana, 140 quilômetros a oeste de Santiago.
Em sua casa foram encontradas três facas, seis canivetes, material sobre os grupos Patriotas e Skinheads, e propaganda política contra a presidente chilena, Michelle Bachelet; o candidato presidencial da direita, Sebastián Piñera, e a parlamentar Lily Pérez.
Fonte: EFE
http://www.google.com/hostednews/epa/article/ALeqM5ilrtQvrwfjXB2TXMCHFHX82F6vWA
A detenção aconteceu durante uma operação policial na casa de Quijada Ávila, de 38 anos, ex-líder do grupo neonazista Martelo do Sul, que foi extinto.
O detido está acusado de "posse ilegal de munição", em uma investigação por ameaças contra a deputada aberta pela procuradoria de Villa Alemana, 140 quilômetros a oeste de Santiago.
Em sua casa foram encontradas três facas, seis canivetes, material sobre os grupos Patriotas e Skinheads, e propaganda política contra a presidente chilena, Michelle Bachelet; o candidato presidencial da direita, Sebastián Piñera, e a parlamentar Lily Pérez.
Fonte: EFE
http://www.google.com/hostednews/epa/article/ALeqM5ilrtQvrwfjXB2TXMCHFHX82F6vWA
terça-feira, 15 de julho de 2008
Caçada a nazista no Chile: Aribert Heim
Doutor Morte» poderá estar vivo e a viver no Chile
Aribert Heim é o responsável pelo assassinato de centenas de pessoas no campo de concentração de Mauthausen
O «Doutor Morte», Aribert Heim, o nazi mais procurado, pode estar refugiado no sul do Chile, de acordo com o Centro Simón Wiesenthal de Jerusalém, dedicado a documentar as vítimas do Holocausto, refere o site El País.
O director do Centro Simón, Efraim Zuroff, chegou a Santiago do Chile para coordenar a busca deste nazi responsável pelo assassinato de centenas de pessoas no campo de concentração de Mauthausen. De acordo com Zuroff, este é o nazi mais sanguinário de sempre.
«É o número um porque matou pessoalmente centenas de pessoas. Não há dúvidas de que é culpado. Isto está perfeitamente documentado. Além disso, torturou as suas vítimas antes de as matar e usou partes do corpo destas como objectos de decoração no seu escritório», acrescentou.
A investigação já dura há cinco anos
A procura de Heim, que hoje terá 94 anos, começou em Puerto Montt, a 1044 km a sul do Chile, cidade onde, ao que parece, vive a sua filha, Waltraud Boser, o que leva a crer que o nazi estivesse refugiado naquele lugar.
Para além da investigação no sul do Chile também existe uma delegação que procura o criminoso na Patagónia Argentina. A viagem ao Chile marca a operação «Última Oportunidade», lançada, faz agora cinco anos, pela organização judia que procura deter os últimos nazis que ainda estão vivos.
Um médico sem escrúpulos
Heim, nasceu na Áustria, num dos campos de extreminio de Buchenwald onde trabalhou como médico. Depois da guerra foi detido pelas tropas dos EUA, não foi submetido a julgamento e foi mais tarde colocado em liberdade.
Pouco depois da extradição para a Alemanha, começou a exercer a profissão como médico ginecologista. Desde 1962 que se perdeu o rasto ao criminoso. Durante anos têm-se realizado várias tentativas para localizar o «Doutor Morte» apesar de a família dizer que este morreu em 1993.
Heim pode estar vivo
Em 2004 a polícia alemã colocou em marcha um dispositivo especial para encontrar o seu paradeiro depois de descobrir o seu nome num banco em Berlim. Os investigadores acreditam que a tese de que Heim está vivo se sustenta nessa conta bancária que contém 1,2 milhões de euros que nunca foi reclamada pelos filhos.
Zuroff acredita que Heim está vivo: «Todos os dias rezamos pela saúde dos criminosos nazis para os podermos levar à justiça». Se for encontrado será imediatamente requisitada a sua extradição para a Alemanha.
Fonte: Portugal Diário
http://diario.iol.pt/internacional/nazi-chile-criminoso-alemanha-doutor-morte-judeus/970289-4073.html
Aribert Heim é o responsável pelo assassinato de centenas de pessoas no campo de concentração de Mauthausen
O «Doutor Morte», Aribert Heim, o nazi mais procurado, pode estar refugiado no sul do Chile, de acordo com o Centro Simón Wiesenthal de Jerusalém, dedicado a documentar as vítimas do Holocausto, refere o site El País.
O director do Centro Simón, Efraim Zuroff, chegou a Santiago do Chile para coordenar a busca deste nazi responsável pelo assassinato de centenas de pessoas no campo de concentração de Mauthausen. De acordo com Zuroff, este é o nazi mais sanguinário de sempre.
«É o número um porque matou pessoalmente centenas de pessoas. Não há dúvidas de que é culpado. Isto está perfeitamente documentado. Além disso, torturou as suas vítimas antes de as matar e usou partes do corpo destas como objectos de decoração no seu escritório», acrescentou.
A investigação já dura há cinco anos
A procura de Heim, que hoje terá 94 anos, começou em Puerto Montt, a 1044 km a sul do Chile, cidade onde, ao que parece, vive a sua filha, Waltraud Boser, o que leva a crer que o nazi estivesse refugiado naquele lugar.
Para além da investigação no sul do Chile também existe uma delegação que procura o criminoso na Patagónia Argentina. A viagem ao Chile marca a operação «Última Oportunidade», lançada, faz agora cinco anos, pela organização judia que procura deter os últimos nazis que ainda estão vivos.
Um médico sem escrúpulos
Heim, nasceu na Áustria, num dos campos de extreminio de Buchenwald onde trabalhou como médico. Depois da guerra foi detido pelas tropas dos EUA, não foi submetido a julgamento e foi mais tarde colocado em liberdade.
Pouco depois da extradição para a Alemanha, começou a exercer a profissão como médico ginecologista. Desde 1962 que se perdeu o rasto ao criminoso. Durante anos têm-se realizado várias tentativas para localizar o «Doutor Morte» apesar de a família dizer que este morreu em 1993.
Heim pode estar vivo
Em 2004 a polícia alemã colocou em marcha um dispositivo especial para encontrar o seu paradeiro depois de descobrir o seu nome num banco em Berlim. Os investigadores acreditam que a tese de que Heim está vivo se sustenta nessa conta bancária que contém 1,2 milhões de euros que nunca foi reclamada pelos filhos.
Zuroff acredita que Heim está vivo: «Todos os dias rezamos pela saúde dos criminosos nazis para os podermos levar à justiça». Se for encontrado será imediatamente requisitada a sua extradição para a Alemanha.
Fonte: Portugal Diário
http://diario.iol.pt/internacional/nazi-chile-criminoso-alemanha-doutor-morte-judeus/970289-4073.html
Marcadores:
Aribert Heim,
Áustria,
caçada,
campo de concentração,
campo de extermínio,
Chile,
Efraim Zuroff,
Holocausto,
Mauthausen,
Nazismo,
nazista,
Wiesenthal Center
Assinar:
Postagens (Atom)