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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Quando a social-democracia pegava em armas contra o fascismo

António Louçã, RTP
08 Fev, 2012, 19:21 / atualizado em 08 Fev, 2012, 19:50

DR
Foram precisos mais de 75 anos para um presidente austríaco promulgar o decreto que reabilita milhares de vítimas do austro-fascismo - um ato tardio de reparação por violências sofridas, mesmo se o parlamento não se atreveu a dizer a palavrinha impronunciável.

Ao austro-fascismo não pode chamar-se "austrofascismo" - embora seja uma expressão amplamente estabelecida na historiografia dos anos 30. O consenso partidário que esteve na base da aprovação do decreto cedeu à pressão do SPÖ (Partido Social-Democrata da Áustria) sobre a substância e reabilitou as vítimas. Já quanto à forma, não houve maneira de conseguir que os democratas-cristãos do ÖVP aceitassem designar a ditadura austro-fascista pelo seu nome.

O presidente da República austríaca, Heinz Fischer, promulgou o decreto e este entrará em vigor a partir de 1 de março próximo. Para muitos sobreviventes trata-se de uma reparação meramente simbólica, porque entretanto o exílio, o julgamento à revelia, a perda da nacionalidade, ou a prisão tinham ficado para trás.

Milícia socialista versus milícia fascista

A ditadura austro-fascista impusera-se pela mão do chanceler Engelbert Dolfuss, num país que era baluarte dum dos mais fortes partidos social-democratas da Europa. Os socialistas austríacos eram amplamente majoritários na classe operária e, no final da Primeira Grande Guerra, dispunham de uma milícia (RSB- Republikanische Schutzbund) que fazia sombra ao próprio exército.

Na sequência da guerra e das revoluções que sacudiram a Europa Central, tinham rompido pela esquerda com os seus congêneres alemães. Mantiveram durante algum tempo um sistema de ligações internacionais conhecido como a "Internacional 2 e meio". Só mais tarde voltariam à Segunda Internacional.

O chanceler Dolfuss, por seu lado, apoiou-se no exército, na polícia e numa milícia fascista (Heimatschutz) para reprimir o movimento operário. Em Fevereiro de 1934, duas semanas depois da greve geral portuguesa e da insurreição da Marinha Grande, ao ser assaltada uma sede social-democrata na cidade de Linz (da região natal de Hitler), a guarda da sede abriu fogo sobre os atacantes e rapidamente foi reforçada pelos operários das fábricas vizinhas.

Aí começou uma breve guerra civil, que iria durar três dias. Alastrou a grande parte da Áustria e chegou a pôr em xeque a segurança do Governo, em Viena. De um lado combatiam os social-democratas, apoiados por uim partido comunista minoritário; e do outro lutavam austro-fascistas dolfussianos, seminaristas católicos e nazis austríacos (apesar da hostilidade entre estes e os dolfussianos).

Finalmente, o exército conseguiu impor-se, utilizando artilharia pesada contra os bairros operários de Viena, e causando assim centenas de vítimas civis. Para a Checoslováquia fugiram as grandes figuras da social-democracia - Otto Bauer, Julius Deutsch e outros. Fugiram também jovens militantes, ainda sem notoriedade especial, como o futuro chanceler Bruno Kreisky. Outros foram capturados e enforcados. Alguns ficaram na prisão.

Nazis contra austro-fascistas

O autor da carnificina não ia gozar por muito tempo do seu triunfo: poucos meses depois, em julho, Engelbert Dolfuss foi assassinado por um punhado de militantes nazis que pretendiam dar um golpe de Estado e promover a anexação da Áustria pela Alemanha.

Apesar da morte do chanceler, a conjura falhou e os principais golpistas nazis foram condenados à morte e executados. Já nesse momento Hitler mandou mobilizar tropas para invadir a Áustria, mas Mussolini fez outro tanto e avisou-o que estava disposto a enfrentá-lo militarmente. A Alemanha nazi, ainda no início do seu rearmamento, emendou rapidamente a mão, desmobilizou as tropas e denunciou o levantamento dos seus sequazes austríacos.

No poder ficou um austro-fascista, continuador de Dolfuss e muito apreciado no Portugal de Salazar - Kurt von Schuschnigg. Iria durar mais quatro anos à cabeça do Estado austríaco até à invasão alemã de 1938 e ao Anschluss. Nesse momento, a relação de forças já era outra, Mussolini já estava disposto a sacrificar o pequeno país que considerava protetorado seu, Hitler já podia mandar prender Schuschnigg e homenagear, sinceramente, os nazis que mataram Dolfuss.

Mas, na alternância de austro-fascistas e nazi-fascistas, as vítimas do terror da extrema-direita iam continuar durante mais 75 anos a esperar por uma reparação. Foi essa que agora se decretou, embora sob o manto diáfano de tabus e eufemismos.

Fonte: RTP (Portugal)
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=525431&tm=4&layout=121&visual=49

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Extrema-direita desponta como maior favorecida nas eleições na Áustria

Da EFE
Luis Lidón.

Viena, 27 set (EFE).- Os partidos da direita populista despontam como os grandes favorecidos nas eleições antecipadas da Áustria de amanhã, uma punição às duas legendas majoritárias em um ambiente de incerteza econômica.

"Entre os imigrantes há ovelhas negras que devem ser expulsas". Com mensagens como esta, diretas e simples, Heinz-Christian Strache se transformou no líder incontestável do Partido Liberal da Áustria (FPÖ).

Com um discurso radical contra a imigração, a União Européia (UE) e um populismo social que promete defender o "homem da rua" dos grandes interesses corporativos, o FPÖ pode conquistar na melhor das hipóteses até 20% dos votos, o dobro que nas últimas eleições.

"A maioria de seus votos vem dos enfurecidos perdedores da 'modernização', mobilizados com lemas contra os estrangeiros e contra a Europa", explicou à Agência Efe Anton Pelinka, um dos analistas políticos mais respeitados do país.

Embora o FPÖ seja comandado por um grupo de "ideólogos de tendência ultradireitista", segundo Pelinka, o celeiro de seus votos está em antigos redutos social-democratas: os bairros operários menos favorecidos.

Strache costuma ser descrito como um clone de Jörg Haider, que levou o FPÖ a sua maior popularidade, ao conquistar quase 27% dos votos em 1999. Sua participação no Governo foi punida pela UE com um isolamento diplomático ao país.

Mas seus caminhos se separaram quando Haider criou em 2005 a Aliança pelo Futuro da Áustria (BZÖ), após uma cisão no FPÖ. Desde então, Strache qualifica seu antigo mentor de "traidor".

Agora, Haider, que pode conquistar até 8% dos votos, tenta vender uma imagem mais moderada, enquanto seu antigo aluno e agora rival apresenta um perfil mais agressivo.

Mesmo assim, Haider deixou claro que deseja uma "Áustria para os austríacos", e pretende expandir ao resto do país a proibição de construir mesquitas e minaretes, o que já está em vigor em Caríntia, a região que governa.

"Temos de proteger nossos valores, a cultura majoritária e nossas tradições da crescente islamização", argumenta um sorridente Haider em milhares de cartazes eleitorais.

Strache não tem o carisma e a retórica de Haider, mas, com apenas 39 anos, oferece uma imagem de frescor e fala uma linguagem mais fácil de ser assimilada por seus eleitores.

Assim como Haider, Strache não condenou os crimes nazistas, não demonstrou qualquer arrependimento pelo Terceiro Reich e mantém uma atitude calculadamente ambígua.

Em um recente debate pela TV, chegou a defender a conveniência de eliminar do código penal - sem fazer a menor alusão ao nazismo - o delito de "negacionismo", ou seja, a refutação do Holocausto e dos crimes do Terceiro Reich.

Além disso, durante a campanha surgiram fotos em que um jovem Strache usa roupas camufladas, no que aparentam ser exercícios paramilitares com pessoas que depois foram condenadas por atividades neonazistas.

O passado nazista que parece ligado a Strache, cujo avô pertencia às temidas Waffen SS, somente ressalta os ideais do FPÖ, que são muito mais óbvios em outros líderes de menor hierarquia do partido.

Wolfgang Zanger, deputado do FPÖ, causou um grande tumulto em 2006 ao defender as políticas positivas de Adolf Hitler, a quem se referiu em tom adulador como o "Führer".

"Cada mulher loira com olhos azuis, ou seja, cada mulher com o alemão como língua materna, tem de ter três filhos, porque de outra maneira seremos ultrapassados pelas turcas", disse durante a campanha o líder do FPÖ na região da Alta Áustria, Lutz Weinzinger.

Susanne Winter, candidata à Prefeitura de Graz, a segunda maior cidade do país, também demonstrou com clareza sua idéia sobre o Islã, ao tachar recentemente Maomé de "pedófilo" e o acusar de escrever o Corão durante "um ataque epilético".

"Não existe a tradição de estabelecer um 'laço mais saudável', como na França ou Bélgica. Na Áustria não há uma forma conseqüente de se distanciar de algumas tendências de extrema direita", indicou Pelinka, ao tentar explicar ataques abertos como esses.

As duas principais legendas do país, o Partido Social-Democrata da Áustra (SPÖ) e o Partido Popular Austríaco (ÖVP), descartaram formar um Governo com Strache.

No entanto, o aumento de sua popularidade lhes fez se aproximar do FPÖ, em "um giro à direita" em algumas políticas sociais, segundo Pelinka. EFE ll/mh

Fonte: EFE/G1(27.09.2008)
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL776023-5602,00-EXTREMADIREITA+DESPONTA+COMO+MAIOR+FAVORECIDA+NAS+ELEICOES+NA+AUSTRIA.html

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