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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

'Merkel abre velhas feridas'

Desde 'O jovem Törless' (1966) a 'Diplomacia', que estreia na próxima sexta-feira, poucas filmografias no continente que pisamos (o velho) vivem tão perenemente torturadas pela memória. A História Contemporânea está nas mãos de Volker Schlöndorff (Wiesbaden, 1939) uma ferramenta para fazer perguntas, para abrir cabeças. E assim até chegar a sua obra mais conhecida, mais premiada e mais dolorosa: 'O tambor', sobre a novela de Günter Grass; um filme que lhe valeu tanto o Oscar como a Palma de Ouro. "A única saída é Europa", comenta este alemão criado e formado na França em um inglês polido. E o diz em Valhadolid onde há algumas semanas apresentava seu último trabalho, um regresso ao ponto zero do que somos. Acaba a Segunda Guerra Mundial e o regime nazi claudicante sonha com a possibilidade de arrasar tudo desde as bases. A primeira coisa: Paris inteira.

Pe: Não lhe parece que ao reivindicar no estado atual das coisas a diplomacia sonha com o passado, em coisas de um século atrás?

Re: Não tenho isso claro. Talvez o mundo dos diplomatas da Primeira Guerra Mundial já não exista, mas a diplomacia necessária sim. Agora mesmo estava lendo sobre a Ucrânia, e me perguntava: como resolver o conflito se não através da diplomacia? Não há outra opção. O papel diplomático é prevenir uma guerra antes de que ela comece ou ajudar a acabar com alguma que já tenha começado. Porque os militares podem começar uma guerra mas não são capazes de acabá-la, limitam-se a lançar bombas.

Pe: Falamos então de política...

Re: Não, de diplomacia. A diplomacia é um trabalho muito nobre que lamentavelmente se perdeu. Os políticos se empenham em desempenhar trabalhos diplomáticos, mas não os podem fazer bem porque têm que se preocupar com as próximas eleições. Por outro lado, os diplomatas são empregados do Estado durante 30 anos, e eles sim podem entender as dinâmicas sociopolíticas melhor que ninguém. Aqui está o problema.

Pe: De novo um filme sobre a Segunda Guerra Mundial. A pergunta é talvez muito simples: Por que?

Re: Porque segue sendo necessário. Não temos memória suficiente. Creio sinceramente que dentro de 100 anos ainda seguiremos falando da Segunda Guerra Mundial. E a razão é que segue sendo a última grande guerra na Europa. E sempre falamos da última. Quando era criança, acompanhava meu pai, que era médico rural na ribeira do Reno. As pessoas da época então ainda seguiam falando de Napoleão como se tudo houvesse acontecido ontem. A memória tem seus próprios mecanismos: quando mais nos distanciamos de alguns fatos, mas se convertem esses em mito. Quando contemplamos as pinturas de Goya não pensamos em sua época, senão nele aqui e agora.

Pe: Mas, não se cansa de tanto insistir?

Re: o que me cansa é ver que às vezes insistir não serve para nada. Cada vez mais a Segunda Guerra Mundial é reduzida ao Holocausto. O que é uma estupidez. Se hoje em dia você pergunta a um norte-americano sobre a guerra, tudo o que diz é que os alemães trataram de aniquilar os judeus e que os norte-americanos entraram nela para acabá-la e salvar os judeus. Isso é a guerra graças a determinado cinema.

Pe: Seu esforço é quase messiânico...

Re: Minha filha de 22 anos me pergunta às vezes: por que você fala uma vez ou outra da Segunda Guerra Mundial? A razão é simples: nasci em 1939. E o mesmo pode se dizer para explicar meu interesse pelos estados totalitários. Sou um produto de Hitler e Stalin. A Europa nasceu do medo aos estados totalitários.

Pe: Já que você mencionou. Para que serve a Europa hoje?

Re: Para nos proteger da possibilidade do totalitarismo e para nos proteger de nós mesmos. Quando existia a ameaça de um estado totalitário, durante a Guerra Fria, juntar-nos era algo mais fácil. É quando essa ameaça desaparece que tudo se fez mais difícil. Suponho que se não fosse por minhas origens eu estaria mais interessado na democracia e como fazê-la funcionar.

Pe: Seu filme fala da França e da Alemanha, os lugares nos quais cresceu e os dois países que formam o núcleo da Europa...

Re: eu sou o filho da guerra e em particular das relações entre França e Alemanha; de sua reconciliação. Cheguei a Paris pela primeira vez em 1955, dez anos depois da guerra. Foi a primeira cidade que conheci na minha vida que não havia sido destruída pela guerra. Surpreendeu-me muitíssimo. Perguntava-me: era esse o aspecto que Berlim e Frankfurt tinham no passado?

Pe: Eu tentava lhe perguntar antes se acredita que agora vivemos o que se forjou então?

Re: Sem dúvida. Pertencemos a esse momento que conta o filme ao final da guerra. Não é mais necessário ver Merkel para se dar conta disso. Comporta-se como se fora o general no comando da Europa dizendo a todo mundo o que tem que fazer. Está abrindo velhas feridas e, na verdade, eu a fiz saber disso em pessoa. Mas pra ela é indiferente. Quando estava preparando o filme, cada dia ao abrir o jornal lia sobre o programa de austeridade de Merkel. No ato seguinte vinha Sarkozy dizendo que era necessário seguir o modelo alemão. Tenho a sensibilidade de que quando um francês fala em seguir o modelo alemão instintivamente lhe dá por exclamar: Heil Hitler!

Pe: Não lhe parece algo exagerado comparar aquela época com esta?

Re: De forma alguma. Os nazis sempre tiveram em mente a construção de uma nova Europa liderada pela Alemanha. Justo como agora. Göring era um grande europeísta.

Pe: E você, considera-se europeísta?

Re: sou um europeísta apaixonado e estou muito preocupado. O que parece não se entender é que as mentalidades são mais importantes que as leis. O modelo alemão não se pode exportar. Se um alemão deve cinco euros a um amigo, não poderá dormir por noites até que lhe tenham devolvido o dinheiro. Se lhes baixam os impostos para que tenham mais dinheiro para consumir, em lugar de fazer isso, eles meterão todas as suas economias no banco. É uma atitude protestante. O problema é que os economistas que dirigem a Europa não entendem de mentalidades.

Pe: Já que se anima a falar de alta política, como de longe ou perto vê a saída para a crise?

Re: a crise colocou sobre a mesa tudo o que estava escondido debaixo do tapete. Creio que inventar o euro e o impor da noite para o dia foi uma verdadeira ousadia. A princípio para todo mundo pareceu que não estava tão mal, mas agora nos damos conta de que os fundamentos da Europa não eram tão sólidos depois de tudo isso. Agora compreendemos que há que levar a cabo um debate mais sério, e que todo mundo deve ser incluído neste debate, ainda que sejam da extrema-esquerda ou da extrema-direita. Afinal, os europeus é que decidirão o que a Europa têm que ser, não os políticos nem nós os artistas. Billy Wilder dizia do público que separados todos são idiotas, mas juntos são um gênio. E dos europeus se pode dizer o mesmo.

LUIS MARTÍNEZ
Atualizado: 08/11/2014 05:39 horas

Fonte: El Mundo (Espanha)
http://www.elmundo.es/cultura/2014/11/08/545d0240ca474168668b456d.html
Título original: 'Merkel abre viejas heridas'
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Campo de detenção para imigrantes marca ascensão de direita radical na Grécia

De socialistas à extrema direita, partidos gregos instrumentalizam xenofobia para vencer próximas eleições. Centro de detenção na periferia de Atenas comporta mil estrangeiros sem documentos.

A Grécia abriu nesta segunda-feira (30/04), na periferia da capital, seu primeiro campo de detenção especialmente construído para imigrantes sem permissão de residência. A inauguração transcorreu a uma semana das eleições nacionais, em cuja campanha a imigração tem emergido como fator central, em meio a recessão e endividamento crônicos.

Pesquisas de intenção de voto mostram que os extremistas de direita contam com o apoio de 5% do eleitorado grego. Isso lhes garantiria assentos no parlamento pela primeira vez. Os imigrantes têm sido alvo da campanha eleitoral dos radicais.

Como recurso para conquistar votos, o partido socialista PASOK, atualmente no poder, e seu rival conservador Nova Democracia também prometem combater a imigração. Numa manifestação em Atenas, nesta segunda-feira, o ministro da Proteção Civil, Miahlis Chrysohoidis, declarou: "Estamos enviando uma mensagem em todas as direções: o país não está mais desguarnecido".

Na semana anterior, o líder oposicionista conservador Antonis Samaras declarara que deteria o que chamou de "invasão desarmada" por parte de imigrantes sem permissão.

Moradores protestam: medo da criminalidade

Polícia grega torna dfícil
a vida dos estrangeiros
Segundo um porta-voz da polícia, o campo de detenção comporta até mil presos. Até o momento, várias dezenas de pessoas foram transferidas para o local e alojadas em contêineres originalmente destinados a abrigar vítimas de desastres naturais, como terremotos.

A unidade se situa em Amygdaleza, no limite norte de Atenas. Seus moradores realizaram uma série de protestos contra a inauguração, alegando que o campo contribuirá para aumentar a criminalidade no local. Segundo Panayiotis Anagnostopoulos, vice-prefeito de Acharnes, a 25 quilômetros da capital, as autoridades locais já apelaram para a Justiça, numa tentativa de sustar a inauguração do campo. "Espero que os tribunais ajam rapidamente", declarou.

Até meados de 2013, está planejada a construção no país de um total de 50 campos de detenção para imigrantes não legalizados.

Cercas e batidas

As autoridades gregas estão também erguendo uma cerca de arame ao longo de parte do Rio Evros, que faz fronteira com a Turquia e configura um importante ponto de ingresso dos imigrantes ilegais.

Nos últimos anos – desde a adoção de medidas de controle mais severas nas outras fronteiras no Mar Mediterrâneo – a Grécia se tornou o principal ponto de acesso à União Europeia para imigrantes sem papéis. A cada ano, cerca de 130 mil deles – 90% do volume total do bloco de 27 países – entram na UE através da Grécia.

Numa batida no início de abril, a polícia deteve milhares de chamados "imigrantes ilegais" que ocupavam prédios vazios em Atenas. As autoridades calculam que haja cerca de 1 milhão de imigrantes em meio à população da capital, de 11 milhões de pessoas. Atualmente estão sendo processados 30 mil requerimentos de asilo.

Extremistas em ascensão

Dezenas de pessoas já foram
transferidas para campos de detenção
Até pouco tempo atrás, o partido Aurora Dourada era relativamente obscuro. Nas eleições de 2009 ele conseguiu ínfimo 0,23% dos votos. Seus membros fazem saudações fascistas e preconizam responsabilizar os políticos pela crise econômica nacional, deportar os imigrantes e selar as fronteiras nacionais com minas terrestres.

Recentemente, Ilias Nicolacopoulos, professor de Ciência Política na Universidade de Atenas, advertiu para um avanço do Aurora Dourada nas pesquisas de opinião. Ele classifica o grupo como "a forma mais extrema da extrema direita".

Ketty Kehagioglou, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) em Atenas, confirmou existir na Grécia "uma tendência alarmante de ataques racistas contra estrangeiros não pertencentes à UE". "Em épocas de instabilidade é sempre fácil procurar bodes expiatórios", declarou.

AV/afp/rtr/dapd/dpa
Revisão: Francis França

NOTÍCIAS / Política
União Europeia

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/dw/article/0,,15920422,00.html

quinta-feira, 1 de março de 2012

Anti-germanismo ressurge na Grécia (Spiegel)

Na dúvida, chame-os de nazis
Maus estereótipos da Alemanha ressurgem na Grécia

por Julia Amalia Heyer e Ferry Batzoglou

Galeria de fotos: Dragando o passado nazi na Grécia
Fotos
STATHIS STAVROPOULOS

Os gregos deixaram de ser grandes fãs dos alemães ao compará-los aos nazistas mortos - apontando que eles usam meios financeiros para estabelecer o "Quarto Reich". O que antes era o tipo de exagero comumente encontrado em caricaturas agora se tornou uma crença genuína, generalizada e preocupante entre os gregos.

Stathis Stavropoulos está cansado de constantemente desenhar alemães maus, mas ele faz isso de novo e de novo, variando ligeiramente o tema de cada vez. Em seus desenhos, o famoso cartunista grego vestiu a chanceler alemã Angela Merkel em sinistros uniformes, colocou-a em um tanque representado assustar meninos gregos.

Stavropoulos retrata Horst Reichenbach, o chefe alemão da força tarefa da União Europeia, como uma espécie de oficial da Wehrmacht, exército da Alemanha na Segunda Guerra, controlando bonecos com cordas com ele rindo ironicamente. Os bonecos têm os rostos de membros do governo grego. A palavra "Reich" em Reichenbach está escrito em letras maiúsculas.

O alemão 'desagradável' mais uma vez está usando um uniforme nazi na Grécia dos dias de hoje, tendo os bebês longe de suas mães e contando os grãos em fasolada, a sopa de feijão branco considerado um prato nacional. "O que devo fazer? Essa é apenas a situação agora", diz Stavropoulos. Mesmo o New York Times publicou recentemente uma de suas charges, a que Stavropoulos caracteriza como "mais trágica do que engraçado."

Um forte crescimento do sentimento antialemão

Apesar de lembretes semelhantes do passado da Alemanha nazista ocasionalmente terem aparecido em meios de comunicação franceses, espanhóis e ingleses, os alemães têm sido raramente descritos tão terrivelmente como estão atualmente nos meios de comunicação gregos.

Imagens da chanceler Merkel, com uma expressão facial triste agora aparecem quase todos os dias nas capas dos jornais gregos. As caricaturas a retratando como um sugador de sangue de dentes afiados ou como um professor rigoroso com o dedo indicador levantado parecem quase benignas quando comparadas com as representações mais duras dela empunhando um chicote de couro e usando uma braçadeira com a suástica.

Existe apenas uma outra pessoa que pode competir com Merkel na posição de figura mais odiada entre os gregos no momento: o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, que é mostrado às vezes vestindo um uniforme da SS.

O vitríolo não é apenas exibido em tablóides. O jornalista Georgios Trangas oferece tiradas ao vivo contra os "ocupantes alemães" todas as noites no Extra 3, uma estação de televisão de Atenas. Em seu show "Choris Anästhetiko" ("Sem Anestesia"), ele critica as "medidas bárbaras" sendo impostas a seu país "por Berlim."

A estação de rádio Real FM foi recentemente condenada a pagar uma multa de € 25.000 ($ 34.000) por "abuso da língua grega" depois de Trangas usando palavrões para repreender Merkel em duas transmissões ao vivo.

Intencionalmente acenando o bastão nazi

A ruptura da relação entre a Alemanha e Grécia é onipresente, mas a questão é se os meios de comunicação estão a alimentar o ódio ou simplesmente informando sobre isso. Andreas Kapsabelis, editor-chefe do tablóide Dimokratia, tem uma opinião clara sobre o assunto. Ele acredita que os alemães estão tentando destruir os gregos e usando os meios financeiros para alcançar o que eles não conseguiram fazer militarmente há mais de 60 anos atrás.

Seu jornal publicou recentemente uma reportagem de capa intitulada "Memorandum Macht Frei", uma referência ao slogan cínico "Arbeit Macht Frei" ("O trabalho liberta") que fica na entrada do campo de concentração de Dachau, de um lado, e as obrigações da Grécia decorrentes dos contratos de empréstimo com seus credores internacionais, por outro. Para garantir que até mesmo o leitor mais mal informado iria entender o título, a palavra "Dachau" foi impressa em letras garrafais sobre ele. "Estamos fazendo nosso trabalho e expressando a opinião pública", diz Kapsabelis.

Georgios Delastik escreve sobre a "implantação do Quarto Reich" no jornal liberal de esquerda Ethnos. Delastik acredita que uma possível meta desta nova ocupação é garantir que os aposentados alemães, com as suas supostas pensões de luxo, serão capazes de deitar ao sol em uma Grécia empobrecida.

Delastik, 59, é um homem amigável, com um sorriso malicioso. O colunista-chefe, que escreve os seus artigos de opinião diários em uma página própria no jornal, reúne-se conosco em seu escritório no edifício editorial. Há jornais e revistas internacionais ordenados e empilhados ao longo das paredes, incluindo o próprio Spiegel e o Frankfurter Allgemeine Zeitung da Alemanha, o jornal francês Le Monde e o diário espanhol El País, com a colorida publicação - saindo por entre as páginas. Delastik, que fala oito línguas, é muito consciente dos perigos do ressentimento nacional. "Sou um europeu convicto", diz ele.

op-ed pieces as an attempt to re-establish the wounded dignity of the Greeks, and that he does so by emphasizing the Germans' most vulnerable side: their Nazi past.

No entanto, ele também usa o termo "Quarto Reich" em seus escritos e se refere às medidas de austeridade que estão sendo exigidas de seu país como uma "Dachau fiscal." Quando perguntado por que ele usa uma linguagem tão dura, ele diz que é "auto-defesa" e explica que ele usa seus op-eds (editoriais) como uma tentativa de restabelecer a dignidade ferida dos gregos, e que ele faz isso enfatizando o lado mais vulnerável dos alemães: o seu passado nazista.

Ninguém nos meios de comunicação gregos está disposto a reconhecer que as duas coisas não têm nada a ver com a outra. E quem pode está agitando o bastão nazista.

Do namoro à hostilidade

Publicações alemãs eram de fato as primeiras a usar linguagem depreciativa, referindo-se aos "gregos falidos" como a "fraude na família euro." Os gregos entraram com uma ação por calúnia coletiva contra a revista Focus com sede em Munique há vários meses que depois retratou a estátua Vênus de Milo com um dedo médio estendido, em fevereiro de 2010. Os gregos ficaram também indignados com a crítica de Merkel da "ineficiência do sul da Europa." No entanto, dificilmente isso explica as tiradas de ódio que se seguiram.

Desde então, Delastik diz, o sentimento anti-alemão tem ido além da esfera jornalística. Avós agora estão lembrando seus netos sobre a ocupação nazista, diz ele, e quase todos os gregos de repente é um especialista sobre o empréstimo forçado do Reich alemão imposto ao banco nacional da Grécia em 1942. "É terrível", diz Delastik, observando que esse tipo de pensamento não se encaixa com a sua ideia de uma Europa unida.

No entanto, Delastik se recusa a admitir que ele também está alimentando o sentimento anti-alemão com suas peças editoriais duras. É seu dever, diz ele, "para convencer os políticos alemães de que sua abordagem é prescrita à pessoa errada."

Os gregos não podem ser humilhados continuamente, diz Delastik, acrescentando que a pressão tremenda e as medidas de austeridade impostas pelos credores internacionais - a Alemanha é o principal deles - não resultará em sucesso, mas, antes, na recusa total de seus companheiros gregos a cooperar. Na verdade, pelo menos de acordo com os resultados de uma pesquisa publicada pela revista de notícias Epikaira na semana passada, parece como muitos gregos tornaram-se convencidos do que antes era nada além de polêmica.

Dos cerca de 800 gregos pesquisados ​​pela empresa de pesquisas VPRC, mais de três quartos disseram que sentem que a Alemanha é hostil à Grécia. Uns 69 por cento ainda acreditam que os políticos alemães estão realmente buscando o objetivo de estabelecer um "Quarto Reich". Quando perguntados sobre o que eles associavam à Alemanha, um em cada três entrevistados usou termos como "Hitler", "nazismo" e "Terceiro Reich". Antes da crise, os gregos eram geralmente apaixonados pelos alemães.

Cruzando a linha

O editor-chefe do jornal da Grécia de maior vendagem, o liberal de esquerda Ta Nea, é um homem sensato. Notis Papadopoulos, 50, estudou em Essex e trabalhou como jornalista por mais de duas décadas. Ele não tem interesse em estabelecer paralelos com a era nazista. "Nós não gostamos de tais exageros", diz ele. Até recentemente, o jornal apoiava as políticas do governo e, por extensão, a dos credores internacionais. No entanto, ele acredita que uma linha foi cruzada quando a idéia de um comissário de austeridade para Atenas foi vazada - uma ideia alemã. "Isto fez todo mundo pensar em oficiais nazistas", diz ele.

Depois disso, o Ta Nea imprimiu em sua capa um desenho de um Merkel a aparência descontente segurando uma Grécia ansiosa, procurando por correntes. As palavras "Nein! Nein! Nein!" - em alemão - foram impressas acima da caricatura.

Comentando sobre a sugestão mais recente de Schäuble, de que as eleições gregas previstas para abril deveriam ser adiadas, o editor-chefe Papadopoulos pode apenas dizer: "Isso é antidemocrático. Esta política é contraproducente"

Até agora, o ressentimento tem sido limitado aos políticos alemães. Mas em uma recente entrevista, a cantora alemã Ute Lemper, que pretende dar concertos em Atenas e Salônica esta semana, implorou que os gregos "não pensem em mim como uma alemã."

Traduzido do alemão por Christopher Sultan

Fonte: Spiegel (Alemanha)
http://www.spiegel.de/international/zeitgeist/0,1518,817995,00.html
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Missa em memória do líder nazifascista croata Pavelic

Missa em memória do líder croata Pavelic causa polêmica*

ZAGREB, 2 Jan 2012 (AFP) -O centro Simon Wiesenthal, organização que se dedicou a procurar ex-nazistas, denunciou nesta segunda-feira uma missa celebrada recentemente em Zagreb, em memória de Ante Pavelic, líder croata pró-nazismo entre 1941 e 1945, e pediu à Igreja para reduzir à condição de laicos os dois sacerdotes que a presidiram.

A missa, celebrada dia 28 de dezembro, no 51º aniversário da morte de Ante Pavelic, é uma "vergonha para a Igreja croata e incompreensível em um país que está prestes a integrar a União Europeia" (em 2013), condenou o centro Simon Wiesenthal em um comunicado.

O chefe do centro, Efraim Zuroff, qualificou este ato religioso de "grave insulto à memória das numerosas vítimas de Pavelic".

Zuroff pediu às autoridades croatas que proíbam no futuro cerimônias similares e pediu às autoridades religiosas para rebaixar à condição de laicos os dois sacerdotes que chefiaram a missa "por ter celebrado uma cerimônia que ridiculariza totalmente os valores cristãos".

No passado eram celebradas regularmente missas em memória de Pavelic na basílica do centro de Zagreb, assim como em Split, na costa Adriática. Quase 90% da população croata é católica.

Entre 1941 e 1945, Ante Pavelic, fundador do movimento 'utasha', esteve à frente do Estado Independente da Croácia (NDH), um Estado fantoche, aliado da Alemanha nazista e do regime fascista italiano.

Ele morreu em 28 de dezembro de 1959, em Madri, dois anos depois de ser ferido em um atentado contra sua vida em Buenos Aires, onde estava refugiado desde 1945.

O regime croata de Pavelic matou milhares de sérvios, judeus e ciganos em campos de concentração.

Fonte: AFP/UOL
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2012/01/02/missa-em-memoria-do-lider-croata-pavelic-causa-polemica.htm

*Matéria publicada primeiramente no blog avidanofront.

Ler sobre a Ustasha:
Blog avidanofront
Blog holocausto-doc

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A força da palavra genocídio

A força da palavra genocídio
Data de publicação : 23 Dezembro 2011 - 7:34pm | Por Klaas den Tek (Foto: ANP)

Assuntos relacionados: Direito Internacional França genocídio armênio Turquia

A tensão entre Turquia e França está elevada agora que o parlamento francês aprovou uma lei que torna punível a negação do genocídio armênio pelos turcos (1915-1916). O primeiro-ministro turco Tayyip Erdogan, por sua vez, culpa a França de genocídio na Argélia após a Segunda Guerra Mundial. Assim que surge a palavra genocídio, as emoções em geral se elevam.

Genocídio. É um dos termos mais pesados do direito internacional. É o maior crime contra a humanidade. Uma grande e indelével mancha na história de um país. Quem pensa em genocídio pensa, automaticamente, nas horríveis imagens do holocausto. Ou no terrível massacre em Ruanda em 1994.

Assassinatos em massa

O jurista e linguista polonês Raphael Lemkin introduziu o termo genocídio em 1944 em seu livro ‘Axis Rule in Occupied Europe’. O termo foi utilizado durante os processos de Nuremberg, onde líderes nazistas foram julgados pelas atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Em 1948 as Nações Unidas estabeleceram a Convenção sobre Prevenção e Punição do Crime de Genocídio. Por influência do ditador russo Jozef Stalin, o massacre de grupos políticos não foi incluído na definição.
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Segundo Thijs Bouwknegt, do Instituto Holandês para Documentação de Guerra (NIOD), a palavra genocídio é claramente definida juridicamente: “Trata-se na verdade do ataque a quatro grupos: nacional, étnico, racial e religioso. Será genocídio se um destes grupos for massacrado ou expulso do país. E este último caso foi o que aconteceu com os armênios em 1915. Eles foram deportados em grande escala pelo regime otomano.”

Genocídio

Nos últimos anos fala-se com frequência sobre genocídio em conflitos. Opositores do ex-líder líbio Muamar Kadhafi logo falaram de genocídio no país. O termo também aparece quando se fala na violência usada pelo presidente sírio Bashar al-Assad contra manifestantes. Larissa van den Herik, professora de Direito Público Internacional na Universidade de Leiden, vê um motivo importante para isso:

“O termo é usado com frequência porque faz um apelo imperativo para que a comunidade internacional intervenha. Genocídio é o pior que pode acontecer. É usado como arma política. Frequentemente já não se olha objetivamente os fatos, mas dá-se uma carga emocional. O perigo é que o conceito perca sua força.”

Juízes internacionais

Segundo Van den Herik, os juízes e promotores internacionais têm consciência desse perigo. Nas acusações não se fala de genocídio gratuitamente. Há espaço para outros crimes. Além disso, o genocídio muitas vezes é difícil de ser provado. Nos últimos anos, os juízes comprovaram genocídio apenas em Ruanda e na antiga Iugoslávia.

Thijs Bouwknegt, do NIOD: “É preciso não só provar que um grande grupo foi eliminado ou está sendo vítima de alguma maneira, mas também precisa-se comprovar que ele pertence a um dos quatro grupos. Há um enorme fardo para as provas.”

Internacionalmente ainda correm casos de genocídio. No Tribunal do Camboja, por exemplo, alguns líderes do Khmer Vermelho estão sendo julgados por genocídio. Trata-se aqui do extermínio de um grupo nacional e religioso. O Khmer Vermelho teria exterminado dois grupos nos anos ’70: a minoria vietnamita e os islamitas Cham.

Negação

Em alguns países, mesmo a negação de um genocídio é um ato que vai longe demais para as autoridades. Na Holanda o holocausto não pode ser negado. Quem o faz pode ser processado. A França é agora o único país europeu onde o genocídio armênio não pode mais ser negado. Fica a dúvida se países como Holanda e Alemanha a seguirão.

Van den Herik: “Nos dois países vive uma grande comunidade turca que não se quer ofender com uma proibição assim. Mas não seria errado impor uma pressão extra sobre a Turquia. É sempre bom olhar honestamente para o passado.”

De qualquer forma, primeiro seria preciso apresentar um projeto ao parlamento. E a questão é: depois da reação feroz de Ankara, qual governo ainda se atreve a tocar nesta ferida.

Fonte: Radio Nerderland
http://www.rnw.nl/portugues/article/a-for%C3%A7a-da-palavra-genoc%C3%ADdio

Ver mais:
Tensão com França remete à candidatura da Turquia à UE (AFP/EFE/Reuters, Terra)
Presidente turco pede para França deixar mediação no Cáucaso (Terra/EFE)
Pró-turcos pirateiam site de deputada francesa que propôs lei sobre genocídio armênio (acrítica.com, Portugal)
«Hackers» atacam site de deputada francesa (abola.pt, Portugal)
Turquia retira diplomata de Paris por lei do genocídio armênio (Diário de Pernambuco)
Genocídio armênio: Turquia acusa Sarkozy de manobra eleitoralista (euronews)
Erdogan acusa franceses de genocídio na Argélia (DN, Portugal)
“Sarkozy que pergunte ao pai sobre os massacres na Argélia” (euronews)
Erdogan acusa França de genocídio argelino (Público, Portugal)
Armênios saúdam lei francesa sobre o “genocídio” (euronews)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ehri - Lançado site de buscas europeu sobre o Holocausto

BRUXELAS, 16 Nov 2010 (AFP) - Um novo site de buscas voltado ao Holocausto, financiado pela União Europeia, foi lançado nesta terça-feira em Bruxelas para permitir a "preservação da memória" desta tragédia, no momento em que desaparecem os últimos sobreviventes dos campos de extermínio nazis.

Batizado de Ehri (European Holocaust Research Infrastructure), o site, que alcançará sua máxima eficácia operacional em 2014, tem a ambição de agrupar as bases de dados de um grupo de vinte instituições, museus ou bibliotecas, dispersos em doze países europeus e em Israel, entre elas o Memorial da Shoah, na França e o Yad Vashem em Israel,

A UE autorizou um montante inicial de sete milhões de euros para financiar este projeto.

Os pesquisadores, professores e estudantes, terão acesso online a esta fonte única de documentos sobre o Holocausto.

Este site na web deverá permitir igualmente às famílias encontrar pistas de parentes assassinados nos campos nazis, ou ao público buscar informações sobre este período negro da história.

aje/pm/jo

Fonte: Univision.com
http://www.univision.com/contentroot/wirefeeds/noticias/8324137.shtml
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Ehri [http://www.ehri-project.eu/]
Launch European Holocaust Archives (EHRI)

domingo, 22 de agosto de 2010

Paris entra no clube dos “ultras”

(Foto) Durante a evacuação do acampamento cigano de Anglet (sudoeste), a 13 agosto 2010. AFP

A viragem de Nicolas Sarkozy em matéria de segurança coloca a França entre os Estados membros que aplicam as políticas mais duras relativamente à imigração. Outros países, como a Espanha e a Alemanha, adotaram abordagens mais flexíveis.

Olivier Schmitt

Ao decidir, a menos de dois anos das eleições presidenciais, colocar a segurança no centro do debate político e atacar a imigração clandestina e a presença dos ciganos no nosso país, Nicolas Sarkozy está a incluir a França naquilo a que se poderia chamar "o clube dos ultras": os países cujas políticas de segurança são fortemente influenciadas pela extrema-direita.

O "clube dos ultras"

Em Itália, segurança rima com luta contra a imigração clandestina. Mais do que de radicalização, pode falar-se de banalização. A Liga do Norte, partido xenófobo e populista, pilar da coligação liderada por Silvio Berlusconi e partido do ministro do Interior, Roberto Maroni, fez dessa luta uma prioridade do Governo. O ministro considera ter praticamente posto termo (menos 88%, entre 1 de agosto de 2009 e 31 de julho de 2010) aos desembarques de clandestinos ao longo das costas italianas, depois do acordo assinado com a Líbia, e não se preocupa com as críticas relativas ao não respeito pelo direito de asilo e pelo destino dos clandestinos enviados para a Líbia.

Vangloria-se igualmente do reforço da legislação, defendido pelo seu partido, através da introdução do conceito de "delito de clandestinidade", criado em agosto de 2009, e ainda da autorização de residência com pontos, lançada em fevereiro.

Nos Países Baixos, Geert Wilders conseguiu criar um clima em que se misturam as questões de insegurança, de integração dos estrangeiros e da posição do Islão. O futuro Governo – sem dúvida uma coligação minoritária de liberais e cristãos democratas, apoiados a partir de fora pelo partido de Wilders – inscreveu a luta contra a insegurança no seu programa. Wilders pretende que os delinquentes estrangeiros sejam expulsos para os seus países de origem e que o lenço islâmico seja penalizado.

Na Suíça, desde 1999, ano da sua subida eleitoral, a União Democrática do Centro (UCD) tem contribuído para tornar mais ousado o discurso em matéria de segurança. O primeiro partido do país vê no "estrangeiro", seja ele refugiado, trabalhador fronteiriço, islamista radical ou cigano, o inimigo que ameaça os valores helvéticos. Mais de um quarto do eleitorado suíço aprova estas ideias xenófobas, levando os partidos da direita tradicional a pescar nas mesmas águas.

O "clube dos moderados"

Na Alemanha, a política de segurança centra-se no essencial na luta contra o terrorismo islamista e contra os neonazis. O arsenal legislativo tem sido continuamente reforçado desde os atentados de 11 de setembro de 2001. Em 2009, o Bundestag aprovou um texto muito polémico, que permite condenar uma pessoa por um delito "em preparação". Mas, por razões históricas, os ataques dirigidos contra grupos étnicos específicos são globalmente condenados pela opinião pública. Só o NPD, partido neonazi ultra minoritário (menos de 2% dos votos, a nível federal), faz do ataque aos estrangeiros o seu cavalo de batalha. Esta formação é considerada como não tendo credibilidade política e como um perigo para a democracia. Contudo, o défice de integração da comunidade de origem turca é periodicamente tema de debate na Alemanha.

Em Espanha, o discurso em matéria de segurança centra-se tradicionalmente na luta contra o terrorismo da ETA. O Governo socialista de José Luis Zapatero acrescentou-lhe uma segunda prioridade, muito mediatizada: a violência contra as mulheres. A política de segurança também se centra na imigração ilegal. Em fins de 2008, foi criada, no seio da polícia nacional, uma "brigada de expulsão dos delinquentes estrangeiros". Em 2009, foram expulsos 7 600 delinquentes estrangeiros. A entrada em vigor, em fins de 2009, da reforma da lei dos estrangeiros aumentou, nomeadamente, de 40 para 60 dias, a duração máxima da detenção de imigrantes clandestinos em centros de trânsito. Mas, com exceção do partido xenófobo catalão Plataforma per Catalunya, criado em 2003, de um modo geral, as políticas não confundem imigração com delinquência.

A especificidade britânica

O primeiro-ministro conservador David Cameron deseja alterar o "Estado de vigilância" que os trabalhistas contribuíram para criar, na sequência dos atentados terroristas de julho de 2005, em Londres. Pretende regulamentar a utilização das câmeras de vigilância – as cerca de 4,2 milhões de CCTV (circuito fechado de televisão) instaladas nas ruas do Reino Unido e reforçar o direito à manifestação, um pouco maltratado nos últimos anos. E a "Great Repeal Bill" deverá alterar as regras de conservação das impressões do registo de ADN do país.

Visto de Bucareste e de Sófia
Os rapatriamentos de ciganos são inúteis e hipócritas
No momento em que, em 19 de agosto, 93 ciganos romenos a viver em França eram objeto de um "repatriamento humanitário voluntário" para a Roménia, o Evenimentul Zilei previa que "a maior parte irá regressar a França tão depressa quanto possível". Como a Roménia não dispõe de "programas concretos de reintegração" dessas populações, "o problema continuará a ser o mesmo e a não estar resolvido", quando "as equipas de jornalistas franceses, chegadas a Bucareste para fazerem reportagens no local", tiverem partido. Do lado búlgaro, o diário Novinar critica os políticos europeus por aplicarem "padrões ambíguos no que se refere aos ciganos", recorda que a tentativa das autoridades de Sofia de desmantelar um acampamento de ciganos no centro da cidade foi posto de lado, devido a pressões da UE, e pergunta por que motivo aqueles que, na altura, protestaram não reagem agora contra Nicolas Sarkozy.

Fonte: Le Monde(França)/presseurop
http://www.presseurop.eu/pt/content/article/319081-paris-entra-no-clube-dos-ultras

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Minaretes: autoridades suíças preocupadas com reações dos países muçulmanos

A Suíça mostrou-se preocupada, nesta segunda-feira, com as consequências para suas relações comerciais e diplomáticas com os países muçulmanos da proibição da construção de novos minaretes, num país que abriga 400.000 muçulmanos - um dia depois do voto surpreendente, em massa, de 57,5% de seus cidadãos. E tentou tranquilizá-los.

A ministra suíça dos Assuntos Exteriores, Micheline Calmy-Rey, explicou nesta segunda-feira ter recebido os embaixadores de países muçulmanos para explicar-lhes os resultados do referendo.

"Estamos tentando conversar sobre os resultados do voto, em particular aos países árabes e islâmicos. Encontrei os embaixadores dos países envolvidos (...) em Berna", declarou a ministra à rádio francesa RTL.

"O governo suíço teme efetivamente que este resultado tenha consequências para as exportações e o setor de turismo", reconheceu a ministra da Justiça e da Polícia suíças, Eveline Widmer-Schlumpf.

Na realidade, para o cientista político Pascal Sciariani da Universidade de Genebra, não haverá necessariamente apelo explícito dos governos destes países para boicotar a Suíça, mas pode haver reações individuais ou da elite pedindo aos muçulmanos que reduzam sua fortuna gerada na Suíça e suas viagens turísticas, principalmente a Genebra, complicando as relações comerciais com a Suíça".

O imame da mesquita de Genebra, uma das quatro únicas na Suíça com um minarete, fez nesta segunda-feira "um apelo à calma": "Os muçulmanos do mundo devem respeitar essa decisão, sem no entanto acatá-la. Caso contrário, nós seremos as primeiras vítimas", declarou o imame Youssef Ibram cuja mesquita foi visada por atos de vandalismo durante a campanha.

Os suíços aprovaram no domingo por 57,5% dos votos a proibição da construção de novos minaretes, em resposta a uma campanha da direita populista, que as considera um "símbolo político-religioso" do islã.

A União Europeia (UE) e o Vaticano criticaram a decisão.

"É a expressão de um preconceito e talvez de um medo, mas está claro que se trata de um sinal negativo, não tenho nenhuma dúvida", declarou o ministro sueco das Relações Exteriores, Carl Bildt, cujo país preside a UE durante o semestre.

apo/lm/sd

Fonte: AFP
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/11/30/minaretes+autoridades+suicas+preocupadas+com+reacoes+dos+paises+muculmanos+9187482.html

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Neonazismo ronda a União Europeia

Antônio Inácio Andrioli*, Jornal do Brasil

LINZ, ÁUSTRIA - Com o aprofundamento da crise econômica mundial, ganham força os movimentos de extrema-direita na Europa. Na maioria dos países europeus, grupos políticos fascistas e neonazistas ganham simpatias e adesões, especialmente entre os jovens. Em alguns países, como a Itália e a Áustria, partidos de extrema direita tiveram um grande sucesso eleitoral, passando a constituir bancadas parlamentares e ocupando parte de governos. Haveria paralelos com a crise de 1929 e a ascensão do nazismo na Europa? Como podemos explicar o crescimento da extrema direita?

O aumento da desigualdade social e do desemprego, as principais consequências visíveis do desmonte das políticas de privatização das últimas décadas, contribuiu para produzir um antigo fenômeno social: a xenofobia. Em períodos marcados pela recessão e pela ausência de movimentos e utopias revolucionários, abre-se o espaço para a interpretação simplista e populista da realidade, que culpa os estrangeiros pelos problemas sociais. A ausência de alternativas políticas e o consequente sentimento de impotência e desesperança social são um terreno fértil para o aumento da xenofobia. No atual cenário, o processo de mundialização do capital contribuiu para a reafirmação de estratégias de organização política com caráter nacionalista. A perda de identidade cultural, decorrente de uma crescente homogeneização da oferta de mercadorias, línguas e moedas, reforça o sentimento de nostalgia da população em relação ao período da Guerra Fria, que permitiu a construção do Estado de bem-estar social no ocidente europeu. Nesse contexto, em vez de buscar compreender os problemas sociais de forma histórica e estrutural, a tendência é identificar um “bode expiatório”, um culpado pela situação.

O contexto atual é outro, mas há semelhanças com outros períodos propícios à emergência de propostas políticas totalitárias. O período em que Hitler e Mussolini chegaram ao poder foi influenciado pela ascensão do nacionalismo, corrente política que se fortaleceu no contexto de derrotas de grandes impérios monárquicos na 1ª Guerra. Os conflitos entre povos e o racismo, entretanto, são muito mais antigos na Europa. A disputa por territórios e recursos naturais constitui a base do colonialismo europeu e o nacionalismo historicamente serviu para criar uma coesão interna nos países, eliminando as contradições de classe e legitimando o investimento bélico.

Em países que não se empenharam em refletir criticamente seu passado com as atuais gerações, como é o caso da Áustria, essa tendência tende a ser mais forte, como pudemos ver nas eleições de 2008, quando a extrema-direita obteve recorde de votos, especialmente entre os jovens. Em outros países, como a Alemanha, se intensifica a ofensiva de repressão aos movimentos sociais por parte de governos de direita, legitimado pelo discurso de “combate ao terrorismo”. Enquanto a ideologia do totalitarismo mobiliza a sociedade a seu favor, ditaduras reprimem movimentos sociais. Essa parece ser a diferença fundamental entre a direita e a extrema-direita, que dominam o atual cenário político europeu.

* Professor do Instituto de Sociologia da Universidade Johannes Kepler, de Linz, na Áustria

Fonte: Jornal do Brasil(07/02/2009)
http://jbonline.terra.com.br/nextra/2009/02/07/e07029791.asp

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Alemanha quer lei européia contra negação do Holocausto

Alemães querem assegurar que Europa aprendeu lição da História

A Alemanha pretende usar seus seis meses na presidência da União Européia para declarar ilegal a negação do Holocausto em todos os 27 países do bloco. Proposta gera debate sobre os limites da liberdade de expressão.

A Alemanha pretende acrescentar um item controverso a sua ambiciosa lista de metas para o período em que ocupa a presidência rotativa da União Européia. A ministra alemã da Justiça, Brigitte Zypries, afirmou que gostaria que a negação do Holocausto, já considerada crime por diversos membros do bloco, pudesse ser punida com até três anos de prisão em todos os 27 países da UE.

A proposta pode acabar gerando um amplo debate na Europa, com muitos questionando se o governo pode garantir a liberdade de expressão e ao mesmo tempo declarar ilegais certas declarações.

"Sempre dissemos que na Europa não deveria mais ser tolerável afirmar que o Holocausto nunca existiu e que ninguém matou seis milhões de judeus", disse Zypries. "Estou confiante de que chegaremos a um resultado positivo nos próximos seis meses."

Poderá a nova lei conter o neonazismo?

A Alemanha não poderia ter escolhido um momento mais apropriado, considerando a recente formação no Parlamento Europeu do bloco de extrema direita Identidade, Tradição e Soberania, liderado pela italiana Alessandra Mussolini, neta do ditador italiano, e por Jean-Marie le Pen, do francês Partido da Frente Nacional.

Ainda nesta semana, o fundador do grupo, Bruno Gollnisch, foi considerado culpado por um tribunal francês de questionar o Holocausto. Em seu veredicto, o tribunal salientou que Gollnisch teria questionado o número de judeus mortos durante a Segunda Guerra Mundial e o emprego de câmaras de gás.

O comissário de Justiça e Assuntos Internos da UE, Franco Frattini, pediu apoio imediato à proposta alemã. "Mesmo garantindo a liberdade de expressão, temos que tornar ilegais incitações concretas", explica.

Valor simbólico

Porém falar é mais fácil que fazer. Dois anos atrás, uma proposta semelhante apresentada por Luxemburgo foi bloqueada pela Itália. Desta vez, acredita-se que a oposição virá de países que tradicionalmente defendem a proteção incondicional aos direitos civis, como o Reino Unido e a Dinamarca.

Escritor britânico David Irving, preso por negar o Holocausto

Contudo, Robert Kahn, autor do livro A negação do Holocausto e a Lei, acredita que a liberdade de expressão não seria limitada desnecessariamente. "Leis contra a negação do Holocausto não restringem a liberdade de expressão per se, mas apenas um determinado tipo de discurso", argumenta.

"Sendo assim, uma lei como esta não difere de outras contra a obscenidade, a blasfêmia e a calúnia", disse Kahn, lembrando que mesmo nos Estados Unidos, geralmente tomados como modelo de liberdade de expressão, o grupo racista Ku Klux Klan é proibido de queimar cruzes e usar máscaras.

"Uma lei contra a negação do Holocausto pode servir como um posicionamento simbólico, mesmo que seja raramente usada", salienta. "Ela teria a importante função simbólica de ressaltar que a sociedade não tolerará o retorno de práticas nazistas de assassínio em massa."

Espectro do passado

Portanto, não surpreende que, como salienta Kahn, "a medida obtenha maior aceitação no Parlamento entre países que tiveram experiências diretas com o nazismo no passado". De fato, a lista do nove países nos quais negar o Holocausto é crime inclui a Alemanha, a Áustria, a Polônia, a Bélgica e a França.

Outros países insistem tratar-se de uma decisão a ser tomada em nível nacional. "Acho que esta questão deve ser respondida por cada nação, de acordo com seus próprios mecanismos e processos democráticos", disse o parlamentar britânico Daniel Hannan, do conservador Partido Popular Europeu. "Não vejo razão para impor uma decisão de Bruxelas."

Proibições funcionam?

Hannan duvida da eficácia da proibição. "No Reino Unido, há consenso de que proibir é fora de proporção e traria ainda mais publicidade aos que negam o Holocausto – aliás, poderia até confirmar sua própria visão, de que são mártires perseguidos ", acrescenta.

"A evidência histórica das deportações e assassinatos é inquestionável. Diante dos fatos, ninguém pode duvidar da enormidade do que aconteceu. Então por que criar a impressão de que temos algo a esconder?" Outros argumentam que proibições normalmente causam exatamente o oposto, ao provocar interesse em algo considerado estritamente fora dos limites.

Para o historiador Christoph Kreutzmüller, da Universidade Humboldt de Berlim, um olhar mais atento à maior parte da propaganda de extrema direita é suficiente para reconhecer sua fragilidade. "Basta folhear Minha luta (a autobiografia de Hitler) para perceber a besteira que é. Mas o fato de ser proibido na Alemanha sempre fará com que mais pessoas queiram lê-la."

A Aktion Sühnezeichen Friedensdienst (ASF) também tem receios quanto à eficácia da lei e preferiria que o extremismo de direita fosse cortado pela raiz, como afirmou seu porta-voz Johannes Zerger. A organização voluntária alemã ASF (Ação Sinal de Penitência) foi criada em 1958, para expor o legado do regime nazista.

"A lei teria nosso apoio se fosse parte de um conjunto de medidas mais amplas", disse. "Mas vemos mais sentido em medidas políticas para conter o problema."

As vantagens

Antigo campo de concentração de Buchenwald, próximo a Weimar

Já Imanuel Baumann, da associação responsável pelo museu e pela manutenção do website do antigo campo de concentração Buchenwald, a lei serviria para fins educativos. "Saudaríamos uma lei como essa. Chamar a atenção para qualquer forma de negação do Holocausto, tornando-a ilegal, pode ser proveitoso, pois sublinha as áreas em que precisamos nos concentrar – não apenas para os fins de advogados ou educadores, mas também para o público geral."

Como salienta Robert Kahn, a lei também serviria para pressionar extremistas de direita que se aproveitam de falhas da lei para incitar o ódio. "Uma legislação européia facilitaria a perseguição de grupos neonazistas que tiram vantagens de lacunas na legislação."

Jane Paulick (rr)

União Européia

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, 19.01.2007)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,2318614,00.html

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Extrema-direita desponta como maior favorecida nas eleições na Áustria

Da EFE
Luis Lidón.

Viena, 27 set (EFE).- Os partidos da direita populista despontam como os grandes favorecidos nas eleições antecipadas da Áustria de amanhã, uma punição às duas legendas majoritárias em um ambiente de incerteza econômica.

"Entre os imigrantes há ovelhas negras que devem ser expulsas". Com mensagens como esta, diretas e simples, Heinz-Christian Strache se transformou no líder incontestável do Partido Liberal da Áustria (FPÖ).

Com um discurso radical contra a imigração, a União Européia (UE) e um populismo social que promete defender o "homem da rua" dos grandes interesses corporativos, o FPÖ pode conquistar na melhor das hipóteses até 20% dos votos, o dobro que nas últimas eleições.

"A maioria de seus votos vem dos enfurecidos perdedores da 'modernização', mobilizados com lemas contra os estrangeiros e contra a Europa", explicou à Agência Efe Anton Pelinka, um dos analistas políticos mais respeitados do país.

Embora o FPÖ seja comandado por um grupo de "ideólogos de tendência ultradireitista", segundo Pelinka, o celeiro de seus votos está em antigos redutos social-democratas: os bairros operários menos favorecidos.

Strache costuma ser descrito como um clone de Jörg Haider, que levou o FPÖ a sua maior popularidade, ao conquistar quase 27% dos votos em 1999. Sua participação no Governo foi punida pela UE com um isolamento diplomático ao país.

Mas seus caminhos se separaram quando Haider criou em 2005 a Aliança pelo Futuro da Áustria (BZÖ), após uma cisão no FPÖ. Desde então, Strache qualifica seu antigo mentor de "traidor".

Agora, Haider, que pode conquistar até 8% dos votos, tenta vender uma imagem mais moderada, enquanto seu antigo aluno e agora rival apresenta um perfil mais agressivo.

Mesmo assim, Haider deixou claro que deseja uma "Áustria para os austríacos", e pretende expandir ao resto do país a proibição de construir mesquitas e minaretes, o que já está em vigor em Caríntia, a região que governa.

"Temos de proteger nossos valores, a cultura majoritária e nossas tradições da crescente islamização", argumenta um sorridente Haider em milhares de cartazes eleitorais.

Strache não tem o carisma e a retórica de Haider, mas, com apenas 39 anos, oferece uma imagem de frescor e fala uma linguagem mais fácil de ser assimilada por seus eleitores.

Assim como Haider, Strache não condenou os crimes nazistas, não demonstrou qualquer arrependimento pelo Terceiro Reich e mantém uma atitude calculadamente ambígua.

Em um recente debate pela TV, chegou a defender a conveniência de eliminar do código penal - sem fazer a menor alusão ao nazismo - o delito de "negacionismo", ou seja, a refutação do Holocausto e dos crimes do Terceiro Reich.

Além disso, durante a campanha surgiram fotos em que um jovem Strache usa roupas camufladas, no que aparentam ser exercícios paramilitares com pessoas que depois foram condenadas por atividades neonazistas.

O passado nazista que parece ligado a Strache, cujo avô pertencia às temidas Waffen SS, somente ressalta os ideais do FPÖ, que são muito mais óbvios em outros líderes de menor hierarquia do partido.

Wolfgang Zanger, deputado do FPÖ, causou um grande tumulto em 2006 ao defender as políticas positivas de Adolf Hitler, a quem se referiu em tom adulador como o "Führer".

"Cada mulher loira com olhos azuis, ou seja, cada mulher com o alemão como língua materna, tem de ter três filhos, porque de outra maneira seremos ultrapassados pelas turcas", disse durante a campanha o líder do FPÖ na região da Alta Áustria, Lutz Weinzinger.

Susanne Winter, candidata à Prefeitura de Graz, a segunda maior cidade do país, também demonstrou com clareza sua idéia sobre o Islã, ao tachar recentemente Maomé de "pedófilo" e o acusar de escrever o Corão durante "um ataque epilético".

"Não existe a tradição de estabelecer um 'laço mais saudável', como na França ou Bélgica. Na Áustria não há uma forma conseqüente de se distanciar de algumas tendências de extrema direita", indicou Pelinka, ao tentar explicar ataques abertos como esses.

As duas principais legendas do país, o Partido Social-Democrata da Áustra (SPÖ) e o Partido Popular Austríaco (ÖVP), descartaram formar um Governo com Strache.

No entanto, o aumento de sua popularidade lhes fez se aproximar do FPÖ, em "um giro à direita" em algumas políticas sociais, segundo Pelinka. EFE ll/mh

Fonte: EFE/G1(27.09.2008)
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL776023-5602,00-EXTREMADIREITA+DESPONTA+COMO+MAIOR+FAVORECIDA+NAS+ELEICOES+NA+AUSTRIA.html

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Anti-semitismo se difunde na Europa

Diz Frattini

ROMA, 17 SET (ANSA) - "Vi, infelizmente, um sentimento de anti-semitismo se difundir em muitos países europeus. Felizmente a Itália não é um deles, mas na Itália também existe o anti-semitismo", disse nesta quarta-feira o chanceler italiano, Franco Frattini, durante um encontro do Aspen Institute sobre o desenvolvimento das relações entre Itália, Europa e Israel.

Segundo Frattini, há a necessidade de avançar com os acordos entre União Européia e Israel. Além disso, o chanceler explicou, após um breve encontro com o ministro israelense para Assuntos Sociais, Isaac Herzog, que o governo italiano "defende que a segurança de Israel não poderá nunca ser negociada nem colocada em discussão". Na Europa houve e ainda há em parte "um difuso sentimento de anti-semitismo que infelizmente se confunde com a legítima crítica política", disse ainda o chanceler.

Frattini observou também que no recente passado houve uma "timidez política de alguns líderes europeus em reagir a alguns propósitos desconsiderados que chegaram até à negação do holocausto e proclamações públicas do fim do Estado de Israel do mapa".

Ainda segundo Frattini, felizmente "hoje a Europa entendeu melhor a necessidade de distinguir a desconfiança das críticas legítimas, tudo isso porque Israel, 60 anos depois, é uma aposta vencida. É um Estado prospero e livre e agora devemos trabalhar todos para que seja também um Estado seguro visto que a segurança é um direito e dever moral que deve ser aplicado sem precondições".(ANSA)

Fonte: ANSA(17.09.2008)
http://www.ansa.it/ansalatinabr/notizie/fdg/200809171400325087/200809171400325087.html

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