Mostrando postagens com marcador Gobineau. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Gobineau. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 7 de maio de 2013

Racismo: Uma Visão Geral

Ilustração anti-semita de um curta-metragem nazista.
A legenda, traduzida do alemão, declara: "Por serem
de uma raça estrangeira, os judeus não tinham direitos
civis na idade média. Eles tinham de morar em áreas
restritas da cidade, em um gueto."
Local e data incertos.
— US Holocaust Memorial Museum (Fotografia)
Racismo é a crença que as pessoas possuem características inatas, biologicamente herdadas, que determinam seu comportamento. A doutrina do racismo afirma que o “sangue” é o marcador da identidade étnica-nacional, ou seja, dentro de um sistema racista o valor do ser humano não é determinado por suas qualidades e defeitos individuais, mas sim pela sua pertinência a uma "nação racial coletiva". Neste modo de ver o mundo, as “raças” são hierárquizadas como “melhores” ou “piores”, “acima" ou “abaixo”. Muitos intelectuais do final do século 19, incluindo alguns cientistas, contribuíram com apoio pseudocientífico ao desenvolvimento desta falsificação teórica, tais como o inglês Houston Stewart Chamberlain, e exerceram grande influência em muitas pessoas da geração de Adolf Hitler.

Atualmente sabe-se que "raça" não existe em termos biológicos, apenas sociais. O ódio nazista contra a "raça judaica" desconsiderava o fato de que existiam judeus brancos, negros, orientais, e assim por diante. O "racismo" contra os judeus é denominado anti-semitismo, que é o preconceito contra ou ódio contra os judeus baseados em falsas teorias biológicas, uma parte essencial do Nacional Socialismo alemão, i.e. o nazismo. Em 1935, após chegarem ao poder, os nazistas criaram as Leis de Nuremberg, criando uma definição biológica errônea do que é ser judeu. Para os nazistas, movimentos políticos como o marxismo, comunismo, pacifismo e internacionalismo soavam como anti-nacionalistas e, para eles, eram consequência da "degeneração" causada pelo "perigoso" intelectualismo judáico.
Tabela de 1939 mostrando a quantidade
de judeus e "miscigenados" (Mischlinge)
dentro do total da população alemã.
— US Holocaust Memorial Museum

Os nazistas acreditavam que a história humana era a de uma luta biologicamente determinada entre povos de diferentes raças, dentre as quais eles eram a mais elevada, destinada a comandar todas as outras, a "raça superior". Em 1931, as SS, Schutzstaffel, guarda de elite do estado nazista, estabeleceram uma Secretaria de Povoamento e Raça para conduzir "pesquisas" raciais e para determinar a compatibilidade racial de possíveis parceiras para os membros das SS.

Os nazistas consideravam os alemães portadores de deficiências físicas ou mentais como resultado de falhas na estrutura genética da chamada “raça superior”, e achavam que tais pessoas não deveriam se reproduzir por serem um "perigo" biológico para a pureza da “raça ariana”. Após seis meses de uma minuciosa coleta de dados, durante os últimos seis meses de 1939 ,e de um planejamento cuidadoso, os médicos nazistas começaram a assassinar os deficientes que encontravam-se em instituições médicas por toda a Alemanha, em uma operação que eles denominaram eufemismisticamente de "eutanásia" (que quer dizer "morte tranquila"), que podia ser tudo, menos isto.

Segundo as teorias raciais nazistas, os alemães e outros povos do norte europeus eram "arianos" (que na realidade haviam sido um povo pré-histórico da Ásia central que havia migrado para a Europa e a Índia), e que eram uma raça superior às demais. Durante a Segunda Guerra Mundial, médicos nazistas conduziram “experiências médicas” que procuravam identificar provas físicas da superioridade ariana e da inferioridade não-ariana. Apesar de haverem conseguido assassinar milhões de prisioneiros não-arianos durante tais “experiências” de sadismo, os nazistas não foram capazes de encontrar quaisquer provas de suas teorias de diferenças raciais biológicas entre os seres humanos, e de que eram os mais capazes.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a liderança nazista iniciou o que eles chamaram de "limpeza étnica" nos territórios por eles ocupados na Polônia e na União Soviética. Esta política incluía o assassinato e extermínio das chamadas "raças inimigas”, entre elas os judeus, e também a destruição das lideranças dos povos eslavos, que eles planejavam tornar seus escravos por considerá-los inferiores. O racismo nazista foi responsável por assassinatos horrendos , em uma escala sem precedentes na história humana.

Fonte: site do USHMM
http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005184#related

Observação: acho que uma vez apareceu um questionário nesse site do USHMM que respondi comentando que deveriam pôr fontes nos textos que não possuem pois isso credencia o texto e fornece indicações a quem queira ler mais sobre o assunto do texto. A "ideia de raça" é uma construção social baseada na maioria dos casos em teorias pseudo-científicas do século XIX que separavam pessoas por características principalmente físicas (biotipo), algo disseminado até hoje mesmo que quem dissemine a ideia saiba que a mesma é totalmente furada. No Brasil (mas também em outros países) muitos grupos contrários a qualquer reparo histórico do racismo usam a formulação correta de que não existe raças pra dizer que tais reparações são sem sentido ignorando que o racismo não ocorre com base em algo preciso e exato e sim em preconceito e ideias distorcidas sobre povos e principalmente, no Brasil, com a cor da pele e a origem, o racismo majoritário no Brasil ocorre mais dessa forma.

Há outros textos sobre o assunto mas infelizmente não será possível traduzir agora, ficando pruma próxima ocasião. Sugestão que procurem infos sobre Michael Banton e os livros The Idea of Race e Racial Theories. Quem quiser dar uma olhada por conta própria (54 páginas), em inglês, PDF da Unesco com participação do Michael Banton: Four statements on the race question.

sábado, 8 de agosto de 2009

Richard Wagner e as fontes do nazismo

Reflexões sobre o antissemitismo do compositor alemão

Enquanto se escute música de Wagner, eu estarei presente
(palavras que Hans Jürgen Syberberg pôs na boca de Hitler, num filme alemão).

Richard Wagner

Tanto ou mais que por suas óperas, Richard Wagner aspirava ser julgado “pelo bem que elas fizeram à humanidade”, e segundo três coordenadas: como músico, literato e ideólogo. Em verdade, foi um músico genial; como escritor e dramaturgo, medíocre; como ideólogo, sinistro. Embora os judeus tivessem na Europa do século XIX numerosos inimigos, as razões não eram biológicas, senão de ordem religiosa, política, econômica.

A redenção por via da conversão foi possível ainda que feita pelos piores inquisidores. É Wagner quem introduz e extende a pretensão de que o judeu é intrinsecamente irremedível. Depois de uma juventude tempestuosa, onde participou de episódios que antecipam os métodos nazis – incendiar alguma casa “de má fama”, espancar entre muitos, a algum divergente –, e sofrer por certo tempo as hipotecas do álcool e do jogo, Wagner observou – meramente observou –, a revolução em Dresden(1849), espectáculo que lhe valeu o exílio. Sua confusa ideologia, a partir de então, vai tomando uma direção concreta, onde prevalecem o satânico orgulho e a tensão discriminatória. Desdenhava o latino: Paris lhe parecia fariséia, aborrecível, e odiava o italiano ao extremo a ponto de detestar 'Don Giovanni' de Mozart, ópera das óperas, por seu libreto em tal idioma. Em todos seus escritos não se achará referência alguma a Verdi – esteticamente seu par, mas cívica e moralmente seu antípoda.

Entre 3 e 6 de setembro de 1850, Wagner publicou, sob o pseudônimo de F. Freigedank, no Diário musical de Leipzig, que editava Franz Brendel, seu opúsculo “O judaísmo na música”. Ali negava ao judeu, fatalmente e definitivamente, toda possibilidade de criação artística, toda inventiva própria, toda espiritualidade. Vejamos: lhe “surpreende primeiro, seu aspecto exterior”, sempre “desagradável”. O judeu para Wagner, carece da “faculdade de expressar-se... (com) originalidade e personalidade... Com mais razão, uma manifestação semelhante seria impossível pelo canto”. Ou seja, nem pela palavra nem pelo canto e tampouco pela composição, pois “jamais possuiu uma arte própria”, e nunca conseguirá produzir música autêntica. O que o faz, sempre de “um caráter frio e indiferente, chegará até o ridículo e trivial”. Mendelsohn, por ex., como judeu rico, pode aprender mecanicamente as técnicas, mas no verdadeiramente profundo, no que toca as últimas fibras, só “se engana a si mesmo e a seu público de tediosos”. Assim mesmo, Heine “mentiu a si mesmo ao crer-se poeta”.

Como conclusão, Wagner advertirá piedosamente, aos judeus, “que existe um só meio de conjurar a maldição que pesa sobre eles: a redenção de Ahasverus: o Extermínio”. E não creia que são delírios juvenis. A instância de Cosima, o músico –sessentão – reeditaria seu panfelto a vinte anos depois. O editor Brendel, que havia sofrido moléstias a raíz daquela primeira publicação, foi desdenhado por Wagner, que –sempre ingrato–, até 1862, na Zewandhaus de Leipzig, fingiu não reconhecê-lo, o que “me divertiu [...] Minha conduta afetou muito ao que parece, ao pobre diabo” [...] Porque Wagner era sistematicamente mal-agradecido com seus benfeitores, inclusive Meyerbeer e Mendelsohn.

A seus amigos lhes arrebatava desde muito jovem, quase como um ritual, noivas e consortes. De suas amizades, muito poucas perduraram, mas sustentou e privilegiou a de seu real discípulo, o Conde Gobineau, cujo “desigualitarismo” ele contribuiu decisivamente a parir. Enquanto ao herdeiro intelectual de Gobineau, Houston Chamberlain, converteria-se em genro do músico. O sectarismo e racismo wagnerianos dão testemunhos, além de sua correspondência, suas memórias (Minha vida), e outros numerosos escritos. Mas, mais grave ainda, grande parte de seus dramas musicais. Por exemplo: uma raça inferior, feia e atroz, usurpa o ouro do mundo. Wotan deverá criar a outra raça, superior, de heróis loiros, atléticos, “dolicocéfalos”, que não conhecem o medo, manipularão a espada e enfrentarão aos outros. Haverá um holocausto final. E não se diga que o Parsifal é um regresso ao cristianismo. Ali há um mau cavaleiro, que como não consegue ser casto, se “disfarça” castrando-se. Mas nem ainda assim se redime porque é inerentemente perverso e – com justiça –, o rechaçam. Então, rancoroso e castrado(circunciso?)se converterá num inimigo demoníaco. E há mais exemplos ...

Se afirma em defensa de Wagner, que, morto meio século antes, não podia evitar que sua música ilustraria a saga do nazismo. Mas ocorre que o nazismo não só se apropriou de sua arte, como também de suas idéias. E em última instância, el numen criador daqueles horrores, chamou-se Richard Wagner. Tal como ele reclamava, julguemo-lo pelo que fez a Humanidade.

Dr. Horacio Sanguinetti
Reitor do Colégio Nacional de Buenos Aires

Fonte: Fundación Memoria del Holocausto (Argentina)
http://www.fmh.org.ar/revista/20/wagner.htm
Tradução: Roberto Lucena

Ainda sobre Richard Wagner, arquivo em .doc(word):
Ópera, cultura e nação: Richard Wagner na formação do orgulho nacional alemão

quinta-feira, 22 de maio de 2008

A ideologia nacional-socialista (nazista)

Prof. Abraham Zylberman
As origens do Nacional-Socialismo.

"Origens da ideologia, síntese "Nação-social", racismo e anti-semitismo arraigados no povo, a política exterior, o conceito chave de "luta", Hitler como personificação do espírito do Povo. Sua habilidade para dar uma forma coerente a idéias díspares, e uma expressão política de massas.

O nacional-socialismo alemão tem suas raízes numa tradição intelectual e política nacional poderosa, que não se limita a simples herança científica ou filosófica de fins do século XIX(Darwin, Gobineau, Chamberlain, Nietzsche, Wagner). Numerosos temas que ressurgem no nacional-socialismo, animavam a vida política social alemã faz-se desde décadas.

A síntese "Nacional-social" se apóia sobre as duas correntes políticas principais do século XIX, o nacionalismo e o socialismo, que foram por muito tempo antagonistas. A idéia desta síntese foi formulada na Alemanha em fins de século por Adolf Stöcker e Friedrich Naumann. Sua influência política foi reduzida, mas a idéia se difundiu tanto entra a esquerda como na direita. A derrota e a crise alemã posterior a 1918 não fizeram mais que reforçar esta corrente. Levada esta idéia à prática, implicou numa mistificação pois nada teve a ver com o nacionalismo ou socialismo, tal como estes termos são entendidos. E sim parte das promessas não cumpridas do primitivo programa do Partido, redatado em 1920, que foram socialistas, e só tiveram valor como meio para ganhar o apoio das massas.

Várias são as explicações que se faz acerca do nacional-socialismo.

1. A crítica à democracia parlamentarista e a aspiração a um governo forte são produto da evolução econômica e política moderna. O liberalismo aparece como superado. Para fazer frente as novas tarefas interiores e exteriores, o Estado deve dispôr de meios mais amplos. O parlamentarismo não foi jamais aceito totalmente na Alemanha, nem sequer depois de 1918, e o vêem como produto da Revolução Francesa, imposto pelo estrangeiro vitorioso. Weimar é o regime da derrota, anti-nacional por essência e nascimento.

2. A idéia do «völkisch», o racismo e o anti-semitismo em fins do século XIX, a idéia da especificidade dos povos e das raças, e a de um laço estreito entre o povo(natureza) e sua civilização(cultura) conheceu uma grande expansão e não somente na Alemanha. A situação geopolítica da Alemanha na Europa, suas fronteiras móveis e sua recente unidade, contribuíram para necessidade de afirmar sua superioridade.

3. O anti-semitismo não é uma exclusividade da Rússia ou França. No plano político é na Áustria onde alcança seu desenvolvimento mais brilhante com Karl Lueger, intendente de Viena entre 1897 e 1919. Na Alemanha, apesar de que o intento de Stöcker fracassara rapidamente e de que os deputados anti-semitas no Reichstag não fossem mais que 16, a idéia impregnou a setores cada vez mais amplos da população (exército, professores, classes-médias rurais e urbanas). Uma poderosa imigração judaica em começos do século XX proveniente da Europa do leste e a concentração dos judeus em certos setores da vida nacional (bancos, comércio, profissões liberais, imprensa) não fizeram mais que exacerbar, em ocasião da crise, sentimentos já arraigados no povo alemão.

4. A política exterior: desde o tombo de Bismarck (1890), a Alemanha não cessou de reclamar seu «lugar ao sol», ou seja, terras para povoamento, fontes de matérias-primas, mercados para sua indústria, colônias em relação com seu dinanismo demográfico. A amputação de 10% de seu território e a perda das colônias em 1918 provocaram um profundo sentimento de frustração. O nacional-socialismo não será neste aspecto senão o eco sonoro de uma reivindicação comum a imensa maioria dos alemães.

A manifestação de todas estas aspirações será projetada quando o nacional-socialismo se expressar através de Adolf Hitler e seu partido, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães(NSDAP).

Em 1925 o NSDAP que não era mais que um grupo pequeno minado por divergências e rivalidades, reconstruiu-se. Se implanta primeiro na Alemanha média e setentrional, e sua fisionomia mudava por completo: o pequeno partido fascista bávaro se converte num movimento de massas alemão, que pronto abarca todas as regiões e todas as camadas sociais do país. Com freqüência deve conquistar pela força a liberdade de expressar-se nos bastiões ocupados pela esquerda. Sua propaganda, as demonstrações de poderio das SA, a novidade de seu programa e de seu estilo, os erros de seus adversários e o cansaço da opinião pública, asseguram êxito após êxito. Em julho de 1932 o NSDAP se torna o primeiro partido no Reichstag. Com os comunistas, tem a maioria absoluta. Os chanceleres Papen e Schleicher devem governar sem parlamento. O sistema político weimariano está morto. De agora em diante, nenhum governo será possível sem os nacional-socialistas. Em 30 de janeiro, Adolf Hitler se torna Chanceler do Reich.

O nazismo não estava baseado num conjunto de normas razoadas e coerentes como ocorre em outras ideologias. E tampoco as opiniões dos líderes nazis ofereceram um programa detalhado da política a seguir uma vez no poder. A Weltanshauung de Hitler, a atitude frente à vida, se move num contexto de conflito. Sua obra escrita, Mein Kampf, significa Minha Luta, e luta é uma palavra a qual se recorre uma e outra vez nos discursos do líder nazi: “Toda a obra da natureza é como uma luta entre a força e a debilidade. Os Estados que violam esta lei elementar, sucumbem”. Hitler considerava esta luta como a base de tudo o que fora alcançado pelo homem e sem ela, os indivíduos nunca conseguiriam nada”.

O aspecto mais característico da Weltanschauung era sua insistência na raça e na interpretação histórica de Rosenberg, o ideólogo do partido, que estava estruturada a partir de categorias de luta interracial. A luta que Rosenberg havia acreditado perceber ao longo da história, havia tido lugar entre a super-raça nórdica ou ária e outras raças menores da humanidade. A palavra “raça” utilizada sem um significado biológico preciso, e a pretensão de descender de uma pretendida raça superior ária, tem talvez origem no conde Gobineau. O conde Gobineau em seu “Ensaio da Desigualdade das raças humanas” havia sustentado a idéia, em meados do século XIX, para dar suporte a aristrocracia contra a democracia. Em princípios do século XX, Chamberlain, um inglês casado com a filha de Richard Wagner e que adotou a nacionalidade alemã, popularizou o mito ário numa obra pseudo-científica, “Os fundamentos do século XIX”. A vital contribuição de Chamberlain consistiu em elevar o existente culto ao germanismo a reivindicações de superioridade nacional. Gobineau havia afirmado a superioridade de uma classe social; Chamberlain a superioridade de um povo sobre o resto do gênero humano.

Rosenberg sustentava que a raça ária provinha do norte da Europa, de onde se havia expandido ao Egito, Pérsia, Índia, Grécia e Roma. Esta raça, a única apta para criar cultura, havia remodelado as antigas civilizações que floresciam naquelas áreas. O colapso destas civilizações, sustentava, havia obedecido a degeneração provocada pela mescla de ários com raças inferiores. A filosofia na qual se baseava esta compreensão da história torna-lhe a estar inatacável desde a visão do autor. Para ele, todas as faculdades morais e mentais eram raciais, pelo o que os ários conheciam intuitivamente qual era sua verdade essencial.

“Pensamos com nosso sangue” era a resposta a qualquer argumento convincente de crítica analítica. Rosenberg caracterizava “sua” raça ária como loira, de olhos azuis, alta e de crânio alongado. Entre suas características pessoais incluía a honra, o valor, o amor à liberdade e seu espírito de investigação científica. A anti-raça e grande parte da causa do que, para Rosenberg, era “degenerado”, era a raça judia. A inumana perseguição dos judeus por parte dos nazis estava firmemente baseada em sua atitude ante à vida. O fato de que foram capazes de pregar um anti-semitismo tão aberto antes de sua ascensão ao poder, indica quão arraigado estava este prejuízo social na Europa central. Nesta concepção racial, os ários constituíam uma parte da nação alemã e sua missão estava em formar uma elite com uma função de fazer extensiva sua weltanschauung à nação, dando-lhe assim um caráter ário. Este mítico conceito justificava o direito dos nazis em dirigir os alemães e o dos alemães em dirigirem os eslavos. Isto implicava, assim mesmo, que não houvesse igualdade de raças ou indivíduos humanos, que para Hitler era uma norma natural inquebrantável.

De aceitar a compreensão da história como uma luta entre raças à exaltação do Volk, só havia um passo. Este mito constituía o núcleo da ideologia de Hitler. Era de importância essencial, para ele, “localizar adequadamente o Volk; o estado era um organismo artificial, destinado a preservar o Volk mais que a nenhuma outra coisa”. Assim foi como se justificaram os primeiros ataques nazis à República de Weimar, que foi acusada de não proteger o Volk. Esta situação axial do Volk, determinava assim mesmo a função principal do Partido e justificava a subordinação dos desejos e liberdades individuais a seu serviço. Hitler sustentava que os verdadeiros interesses do Volk não podiam ser alcançados através de formas democráticas de governo.

As votações secretas, as decisões da maioria e outros procesos semelhantes, debilitavam as responsabilidades do indivíduo frente ao Volk, destruindo as heróicas qualidades da raça ária.

Hitler tomou como modelo a organização militar tradicional. Daí ele desenvolveu do seu Führerprinzip, “princípio da liderança”, que foi aplicado pela primeira vez à organização do Partido e depois de 1933, ao governo do Estado. Dizia a respeito que “o funcionário no cargo escuta as distintas expressões de opinião e logo, por sua parte, outorga sua decisão. Não cabe decisão possível na qual um homem não assuma responsabilidade. Este é um princípio que guia nosso movimento”. Nos termos do estudo clássico da fonte da autoridade feito por Max Weber, Hitler teria sido descrito como um líder “carismático”. Esta qualidade consiste em que possui aparentemente qualidades “sobrenaturais ou sobre-humanas ou pelo menos, especificamente fora do comum”, que o façam aparecer como um emissário de Deus, ou um Líder predestinado. Mas apesar dele, Hitler não pode haver chegado jamais ao poder sem seus seguidores que fizeram o trabalho preparatório, “de manipulação”, quando os opositores foram aterrorizados e silenciados, as decisões tomadas antes das reuniões que supostamente deviam adotá-las e se simulava a uninamidade pela combinação de terror, intriga e teatralidade, onde o Líder surge gradualmente como infalível e invencível.

Teoricamente o Führer era a personificação do espírito do Volk, espírito que podia estar adormecido ou ser ignorado durante séculos, mas que ocasionalmente podia se manifestar na pessoa de seu líder. O Führerprinzip pegava a idéia de Hitler de que os grandes acontecimentos e realizações da história eram obra de grandes homens, ainda que em determinadas circunstâncias cabia atribui-las além disso, a um grupo aristocrático ou elite.

No contexto nazi, o papel da elite correspondia ao Partido, um organismo eleito, disciplinado e com funções específicas. Servia de vínculo entre o Führer e o Volk, o que permitiu a Hitler negar, ao menos para sua própria satisfação, que fôra um ditador. Mas uma vez feito com o poder, o Partido é transformado de uma instituição hierárquica dotada de vida política, em um bando de seguidores obedientes e incondicionais. O Estado estava subordinado ao Partido, ainda que ambos existiam para executar a vontade do Volk. Em virtude de que o Führer não era só o chefe do Partido senão também a voz mística do Volk alemão, para Hitler lhe resultou fácil ascender a condição de Líder único, por sobre o Partido e o Estado. Hitler assumiu o título de Führer e chanceler do Reich depois da morte de Hindenburg em 1934, indicando assim que sua autoridade derivava de uma fonte distinta da Constituição. Na prática, isto significava mostrar que a autoridade do Führer derivava da “vontade unida do povo” e não provinha do Estado nem do Partido.

Unida à idéia de comunidade racial indo até a do Lebensraum ou espaço vital. Essa idéia foi elaborada a partir de idéias conhecidas na Europa há muito tempo e fundamentalmente pretendia uma Alemanha poderosa na Europa central e oriental, que se extenderia tanto o quanto permitisse o poder militar. Esta teoria estava baseada em grande parte no conceito de luta. Se mantinha a idéia de um processo natural de seleção que permitiria destruir o Estado débil ou não expansivo. Os Estados vigorosos realizariam sua expansão de um modo natural, pelo qual as fronteiras estáticas apenas teriam algum significado. Contudo, estes conceitos seriam usados, principalmente, como propaganda, para provocar nos alemães uma “consciência espacial”.

O razoamento mais eficaz presente na concepção do espaço vital, descansava na primazia do poder político sobre o econômico. O desenvolvimento econômico, sustentava Hitler, está baseado num controle político e ambos dependiam do poder militar. O espaço como tal carecia de importância, mas as amplas áreas contíguas à Alemanha, uma vez conquistadas e controladas eficazmente, proveriam as materias-primas e outras exigências econômicas em quantidades suficientes para converter a Alemania em auto-suficiente, fator vital para um estado de guerra ou de trégua armada. Os povos subjugados das regiões conquistadas estavam destinados a servir de meio à raça alemã para manter um alto standard(padrão)de vida, enquanto os seus próprios povos permaneceriam perpetuamente abaixo.

Onde reside a originalidade do nacional-socialismo? Na reivindicação do Lebensraum, já presente nos pangermanistas? Na organização dirigista da economia e da sociedade, preconizada pelos socialistas e ainda por certos conservadores? Na eliminação da luta de classes, que a maioria das forças políticas não marxistas consideravam almejável? Nas concepções raciais sobre a superioridade dos ários(arianos)sobre as outras raças? A originalidade reside em haver sabido dar-lhe uma forma coerente e dinâmica a todas essas idéias e no marco de uma crise geral, uma expressão política de massas.

BIBLIOGRAFIA
Drioton-Vandier. Los Fascismos. Fondo de Cultura Económica
Neumann Franz. Behemot. Fondo de Cultura Económica
Payne Stanley. El Fascismo. Alianza
Saborido, Jorge. Interpretaciones del fascismo. Nueva Visión.

Fonte: Fundación Memoria del Holocausto(Argentina)
http://www.fmh.org.ar/revista/16/laideo.htm
Texto original(espanhol): Prof. Abraham Zylberman
Tradução: Roberto Lucena

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...