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terça-feira, 27 de outubro de 2015

Entrevista com o autor de “Os Árabes e o Holocausto”

"Há em Netanyahu um ódio tão profundo aos palestinos que não é difícil encontrar afinidade com Hitler"

Historiador franco-libanês, Gilbert Achcar é o autor de Les Árabes et la Shoah: La guerre israélo-arabe des récits ("Os Árabes e o Holocausto: A guerra israelo-árabe das narrativas"), aclamada como uma obra de referência. Não há aqui complacência com os negacionistas do genocídio de seis milhões de judeus. Uma grande parte do livro é dedicada a Haj Amin al-Husseini, Grande Mufti de Jerusalém, e aos seus encontros com os nazis, durante a II Guerra Mundial. Na sequência da acusação de Netanyahu de que o extermínio foi ideia do defunto líder espiritual palestino e não de Hitler, telefonámos para Beirute, onde Achcar se encontra em ano sabático da cadeira de Relações Internacionais que leciona na School of Oriental and African Studies (SOAS, Escola de Estudos Africanos e Orientais), em Londres.

Como avaliou a declaração do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de que a culpa pela Solução Final não foi de Hitler mas de Haj Amin Al-Husseini?

Netanyahu chocou o mundo inteiro, ao tentar exonerar Hitler. A única razão que encontro para este discurso ultrajante é a de que Netanyahu odeia os palestinos mais do que odeia Hitler. Isto é chocante. Sempre vimos revisionistas do lado pró-nazi e antissemita; do lado sionista este revisionismo, agora expresso por Netanyahu, é surpreendente. Do ponto de vista histórico, o que Netanyahu disse é um disparate total. Até o Governo alemão refutou imediatamente o que ele disse [assumindo o Holocausto como responsabilidade exclusiva nacional]. Na extrema-direita do movimento sionista há um ódio tão profundo aos palestinos que não é difícil encontrar esta afinidade com Hitler, tentando absolvê-los dos seus crimes sórdidos. Talvez, por quererem ver-se livres dos palestinos – não digo que seja recorrendo ao genocídio, mas através de expulsões ou transferência em massa. Isto é muito perigoso e trágico. Netanyahu é um político oportunista, capaz de se exprimir de forma muito demagoga, de acordo com a sua audiência, para conseguir o que quer.

Não foi a primeira vez que a figura de Amin al-Husseini foi invocada para associar os palestinos ao nazismo. Qual era, afinal, a relação entre o Mufti e Hitler?

Amin al-Husseini era um nacionalista de direita, sem escrúpulos e profundamente antissemita. Ao contrário de Hitler, porém, a natureza do seu antissemitismo estava na crescente colonização sionista da Palestina – isto não é uma justificação, mas é preciso distinguir o seu antissemitismo do antissemitismo na Alemanha, onde os judeus eram uma minoria oprimida. Quando cortou relações com os britânicos e se mudou para Berlim [em 1940], Husseini aliou-se aos nazis e participou na propaganda deles, mas não desempenhou qualquer papel direto na Solução Final. Husseini só teve conhecimento da Solução Final no Verão de 1943 – ele diz isso nas suas memórias, onde deixa claro que não lamenta o que aconteceu, “porque os judeus mereciam isso”, uma atitude que comprova a sua dimensão profundamente antissemita. No entanto, dizer que o genocídio foi levado a cabo por sugestão de Husseini é totalmente ridículo. A discussão entre historiadores respeitados é sobre se genocídio foi sempre um dos desígnios de Hitler ou resultou da sua derrota na Rússia. Jamais um historiador debateu se Husseini influenciou a Solução Final, porque Hitler desprezava-o. Até a sua linguagem corporal quando se encontrava com o líder palestino denotava desprezo. A tentativa de Netanyahu rever a História é um sinal de doença mental grave.

O historiador israelita Tom Segev, num artigo publicado no diário The Guardian, recorda que Husseini pediu a Hitler que assinasse uma espécie de Declaração Balfour de apoio aos direitos palestinos, semelhante ao documento britânico que defendeu um “lar nacional para o judeus”, mas que Hitler recusou. Lembra também que os árabes não foram os únicos a pedir assistência aos nazis. “No final de 1940 e de novo no final de 1941, antes de o Holocausto atingir o auge nos campos de extermínio, uma pequena organização terrorista sionista – Combatentes pela Liberdade de Israel, também conhecida por Bando Stern (Stern Gang) – contactou representantes nazis em Beirute esperando apoio alemão contra os britânicos [potência mandatária na Palestina]. Um dos sternistas, então numa prisão britânica, era Yitzhak Shamir, futuro primeiro-ministro de Israel”, e um dos líderes do partido Likud, de Netanyahu.

Sim, uma parte da extrema-direita sionista tentou colaborar com os nazis. Mais: havia na Alemanha um movimento judeu que colaborou com os nazis. Foi o único grupo não nazi autorizado a permanecer na Alemanha, e ajudou as autoridades nazis na transferência de judeus alemães para a Palestina. Essa colaboração manteve-se até 1941 – e isto está registrado por todos os historiadores do Holocausto. Pessoalmente, não gosto de entrar neste jogo. A extrema-direita colaborou mais com Mussolini, talvez, porque era menos problemático. A colaboração de judeus com os nazis acabou, naturalmente, quando a Solução Final começou a ser aplicada. O que nos deve interessar, agora, é a recolha dos fatos históricos e as lições que devemos aprender com eles. Netanyahu não segue esse caminho.

No seu livro reconhece que vários líderes árabes, não apenas Husseini, colaboraram abertamente com os nazis, e que outros permanecem negacionistas do Holocausto, mas opõe-se à generalização deste antissemitismo, que também distingue, por outro lado, do “sentimento antijudeu profundamente enraizado na Europa”. Pode explicar?

Se um alemão é antissemita, isso é racismo contra uma minoria que durante séculos foi oprimida na Europa. Se um palestino exprime opiniões antissemitas é por se sentir oprimido num Estado que exige ser reconhecido como judaico, ignorando os não judeus que são cidadãos israelitas. Perante a exigência de uma definição étnica, os palestinos são tentados a posições antissemitas – e devem ser criticados por isso –, mas é uma situação semelhante à dos negros sul-africanos que se manifestavam contra os brancos durante o regime de apartheid. Não é racismo preto-branco. É uma forma de o oprimido se rebelar contra a opressão.

A verdade é que há ainda muitos negacionistas do Holocausto no mundo árabe, não apenas palestinos...

Sim, é verdade. Negam, sobretudo, que sejam responsáveis pelo Holocausto, que foi cometido por europeus. Vale a pena frisar que havia muito mais soldados árabes nas fileiras do Aliados do que no campo dos nazis. É quase insignificante o número de combatentes árabes do lado nazi durante a II Guerra Mundial, comparado com o número extraordinário de soldados do Norte de África e do Médio Oriente que se juntaram às tropas britânicas e às francesas. Havia 9000 palestinos no Exército britânico! É certo que ainda há muitos árabes a negar o Holocausto, mas é uma maneira – completamente estúpida e eu chamo-lhes ‘loucos antissionistas’ – de exprimirem a sua fúria contra Israel. No entanto, é preciso realçar que essa negação não pode ser comparada à negação do Holocausto por parte de um europeu, cujos países foram protagonistas do genocídio. É estúpido, reafirmo, que haja palestinos a negar o Holocausto, mas convém salientar, também, que o Estado Israel continua a negar a Nakba, a catástrofe palestina [o êxodo] de 1948 que foi cometida por Israel. Isto é ainda mais grave. Tal como é muito grave que as autoridades turcas continuem a negar o genocídio armênio [em 1915-1917, durante o período otomano].

Depois de 1948, a palavra “Holocausto” tem sido usada e abusada, pelos palestinos, que reclamam reconhecimento da Nakba e se afirmam como “vítimas das vítimas”, e por muitos israelitas: O antigo primeiro-ministro Menachem Begin comparava Yasser Arafat, o líder da OLP, a Hitler, e até o filósofo Yeshayahu Leibowitz cunhou a expressão "judeu-nazi". Até que ponto a ideologia sionista é responsável por esta desvalorização de um dos piores crimes da Humanidade?

A ideologia sionista foi promovida, de uma forma generalizada, por Elie Wiesel [um sobrevivente do Holocausto e Prêmio Nobel da Paz]. É um termo muito mau. O significado bíblico é o da queima de oferendas a Deus. Isso é muito perigoso. É como uma representação dos judeus sacrificados em nome de Deus. De vez em quando, aparece um rabi doido que descreve o Holocausto como um castigo divino, porque não os judeus não obedecem às suas leis. Naturalmente, isto gera críticas. Para ser honesto, acho que a declaração de Netanyahu a propósito de Husseini e Hitler encaixa na mesma categoria: loucura ideológica. Em todo o caso, não é esta declaração de Netanyahu o grande problema, mas sim a atitude do Estado de Israel, já não apenas face aos palestinos sob ocupação mas, também e cada vez mais, em relação aos palestinos de cidadania israelita, sujeitos a mais e mais racismo – documentado por organizações israelitas de direitos humanos. É preciso que o mundo entenda que Israel não representa as vítimas do Holocausto. O que Netanyahu disse exonerando Hitler deveria ser um toque de alarme, sobretudo na Europa, que deveria reagir, antes que seja tarde de mais.

Margarida Santos Lopes

Fonte: Expresso (Portugal)
http://expresso.sapo.pt/internacional/2015-10-24-Entrevista-com-o-autor-de-Os-Arabes-e-o-Holocausto

Observação: fiz correções na grafia do texto da matéria, porque o jornal Expresso (Portugal), recusa-se a usar a nova ortografia da língua, que é lei, não é "favor" o jornal escrever na nova ortografia.

Eu tentarei não discutir este assunto aqui neste post (até pra não desviar do assunto do post), porque a gente se empolga e acaba alongando a observação, mas vou adiantar do que se trata pois o jornal fez uma provocação no texto que pode passar desapercebido de quem está por fora dessas questões políticas (e linguísticas) entre países. Caso a observação desvie muito do assunto do post eu a colocarei num post à parte como já fiz com outras.

Mas como dizia, há até post arquivado sobre essa questão (estava cheio do blog, então não coloquei), depois de ver ataques (vários) sistemáticos a brasileiros com a "desculpa" de "acordo ortográfico". Esse surto de "rebeldia" (entre aspas) em Portugal com o Acordo começou por parte da extrema-direita xenófoba de lá, que como toda extrema-direita só costuma fazer besteira, e encontrou eco em setores do país em virtude da crise. Chamo de surto porque não havia esse tipo de "chilique" com outros acordos da língua, por que essa reação agora? Quem quiser ver um histórico disso, clique aqui:
Acordo Ortográfico de 1945

Houve "revolta" em 1945? Duvido. Nem internet tinha, rs.

Querem transferir a revolta com a crise interna pra algum "inimigo externo", no caso o Brasil, uma vez que, como o nome diz, houve um "acordo", e não imposição de idioma? Chega a ser ridículo quererem uma briga dessas.

Mas como dizia, seria até mais fácil impôr a forma de escrever do Brasil visto que a maior parte dos falantes da língua falam a vertente brasileira e não a portuguesa, só pra ter uma ideia da desproporção, só o Brasil tem 204 milhões de falantes (valores atualizados, no link ainda consta a contagem mais antiga da população, mas fica próxima) contra menos de 70 milhões de todo o resto junto (Portugal, Angola etc), fora os locais que falam a vertente brasileira (dialeto) como o Uruguai e países vizinhos (nenhum quer aprender o dialeto de Portugal).

Quando a maioria das pessoas procuram aprender português no exterior, procuram a forma do Brasil e não a de Portugal, por 'n' motivos. Até fui descortês com o Roberto Muehlenkamp (mas não foi proposital e sim por ignorância minha à época) sobre pedir pra revisar o texto dele pois o Roberto aprendeu a escrever na forma portuguesa (dialeto), só que na parte escrita dá pra entender perfeitamente (só há uma modificação "forte" em nomes como Stalingrado que fica "Estalinegrado", Lênin que fica "Lenine" e coisas desse tipo, mas vamos concordar que dá pra entender perfeitamente), esse, por sinal, é mais um mito ridículo que difundem pelo Brasil e até por Portugal, o mito dos "dois idiomas", a parte complicada é mesma o som da língua (a forma de falar), não a escrita, só que o som do português do Brasil, levando em conta a variedade dos sotaques, fica próxima ao do "galego", que seria berço do "português", é estranho esse som adquirido em Portugal, mas isso é outro assunto. Aqui os números:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lusofonia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pa%C3%ADses_onde_o_portugu%C3%AAs_%C3%A9_l%C3%ADngua_oficial

Não me estenderei sobre o assunto aqui, mas há quem defenda no Brasil a adoção de gramática própria (brasileira) como forma de ruptura (provocam, provocam, a resposta sempre vem), muito em resposta a esses surtos xenófobos vindos de setores de Portugal. Brincam com coisas que uma vez rompidas, "tchau e fim de papo", o Brasil tem muito pouco a perder com uma ruptura dessas, se é que tem algo a perder.

Fica aqui o registro, assunto pra ser abordado depois. O jornal quer fazer birra mantendo a grafia que já não vale mais, mesmo sabendo que é lei, e que isso vigorará cedo ou tarde, mas como eu também sou birrento, tirei toda a grafia portuguesa, de propósito (sempre que dá eu faço isso) e coloquei a brasileira e a do acordo. Se o jornal não gostar, caso leia o post, peça pra remover, pois vai ficar assim aqui, de pirraça.

E por favor, não precisam se irritar ou se incomodar com essa questão, são surtos autoritários de algum suposto "orgulho nacional" ferido (ó), suposto porque beira à cretinice isso. Atenham-se à entrevista do historiador francês sobre Netanyahu e o Holocausto, noutro post se aborda essa questão do acordo (como disse acima, acabarei transferindo a observação prum post à parte).

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Sai Ahmadinejad, entra Netanyahu. "Revisionistas" ganham um "apoiador" inusitado

Por negacionismo ou "revisionismo" se enquadra não só a negação do fato em si (todo ou parcial), como a distorção do episódio e trivialização. Então o Netanyahu se enquadraria fácil no rótulo negacionista ou "revisionista" (caso alguém queira pegar mais leve usando o termo "revisionista" em vez de negacionista, por não suportar a crítica à postura cretina dele) pelas asneiras que disse hoje, embora ele sempre diz asneiras.

A quem não entendeu o que se passou pelo título do post, leiam a matéria da RTP abaixo que foi feita em cima da matéria do Haaretz (jornal de Israel). O título do Haaretz é até mais pesado:
"Netanyahu: Hitler Didn't Want to Exterminate the Jews"

Traduzindo:

"Netanyahu: Hitler não queria exterminar os judeus"

Isso dito da boca do Primeiro-ministro de Israel, primeiro-ministro de um país que não preciso ressaltar a ligação com o genocídio da segunda guerra.

Esse é o tipo de asneira que você espera que saia de algum "revisionista" ou coisa parecida, não de um primeiro-ministro, principalmente do país mencionado. Mas saiu.

É uma cretinice por dia no mundo, em termos de notícia. No Brasil a bancada "religiosa" executa seu arsenal de idiotices ridicularizando o Congresso com coisas como essa (já podem trocar o nome da bancada pra "bancada do estupro"), projeto do "fundamentalista" presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o do Porsche "em nome" do domínio Jesus.com, o mesmo pego com conta nos EUA na casa dos 61 milhões de reais, não foi a da Suíça.

Voltando ao assunto do post, as asneiras dele (Netanyahu) estão repercutindo pesado (mal) em Israel e entre os palestinos, houve uma rejeição total à cretinice dele naquela região do conflito.

Afirmar que Hitler foi incitado por um árabe pra executar a Solução Final e extermínio é como negar a origem do antissemitismo e genocídio da segunda guerra. Não foi uma declaração simplesmente idiota, ultrapassa a idiotice.

É impressionante o nível de ódio que ele nutre a palestinos ao ponto de chegar a fazer uma afirmação desse tipo, trivializar a culpa do maior algoz de judeus por ódio a palestinos. Esse cara não bate bem da cabeça.

Ele apresenta o mesmo tipo de mentalidade turva de gente que levou à morte o Rabin (assassinado por um fanático judeu de extrema-direita em Israel).

Incrível a neurose desse cidadão em citar genocídio da segunda guerra em todo evento envolvendo Israel. A Deborah Lipstadt (historiadora dos EUA) já havia criticado essa postura de políticos de Israel. Deborah Lipstadt é autora deste livro sobre o negacionismo, "Denying the Holocaust: The Growing Assault on Truth and Memory" (Link2), sem tradução pro português, mas que você pode ler a tradução do capítulo VI (feita pelo Leo) em três partes:
Negação [do Holocausto]: Uma ferramenta da Direita Radical (Parte 1)
Negação [do Holocausto]: Uma ferramenta da Direita Radical (Parte 2)
Negação [do Holocausto]: Uma ferramenta da Direita Radical (Parte 3)

A quem quiser ler a matéria (está em inglês, usem o tradutor do Google) sobre a declaração dela do abuso do uso do Holocausto por políticos israelenses (e dos EUA), segue abaixo o texto:
Top Holocaust Scholar Blasts 'Holocaust-abuse' by U.S., Israeli Politicians (Haaretz)

Matéria da RTP sobre as declarações de Netanyahu:
_____________________________________________________
Netanyahu inocenta Hitler e culpa um árabe pelo Holocausto


O primeiro-ministro israelita disse no Congresso Mundial Sionista ao afirmar que foi o Grande Mufti de Jerusalém o responsável pelo Holocausto, ao convencer Hitler a exterminar os judeus.

Ao discursar hoje, quarta feira, perante o Congresso Mundial Sionista, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, relatou o que diz ter sido uma conversa entre Hitler e o Grande Mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, numa reunião que mantiveram em Novembro de 1941.

Segundo o diário israelita Haaretz, no discurso de hoje Netanyahu reproduziu a conversa nestes termos: "Hitler na altura não queria exterminar os judeus e disse: 'Se os expulsarmos, eles virão todos para aqui [para a Palestina]'". Ainda segundo Netanyahu, Hitler pediu orientação ao Grande Mufti: "O que é que hei-de fazer com eles?". Ao que o Mufti terá replicado: "Queime-os".

Para Netanyahu, a decisão da cúpula nazi, no sentido de exterminar os judeus foi, assim, decisivamente influenciada pelas instruções que o Mufti deu a Hitler, a pedido deste.

Apesar do abalo sísmico que o discurso de Netanyahu está a causar nas redes sociais, o que ele contém não é inteiramente novo. Segundo recorda o Haaretz, o primeiro-ministro tem vindo de forma consistente a transmitir esta versão e já antes, num discurso pronunciado há três anos perante o Knesset (parlamento israelita), apresentara o Mufti de Jerusalém como "um dos principais arquitetos da Solução Final".

Na comunidade académica israelita, as palavras de Netanyahu estão, aliás, a ser tão ou mais criticadas do que noutros pontos do mundo. Segundo o diário britânico The Guardian, o mais conhecido investigador israelita vivo sobre o tema do Holocausto, Dan Michman, disse que, embora a reunião entre Hitler e Husseini tenha efectivamente sucedido, sucedeu num momento em que o Holocausto já estava em curso.

Dina Porat, do Instituto de Yad Vashem, afirmou, segundo citação do diário israelita Yeditoh Aaronot: "Não se pode dizer que o Mufti deu a Hitler a ideia de matar ou queimar os judeus. Não é verdade. A reunião deles teve lugar depois de uma série de fatos que apontam para isto [a decisão já tomada de exterminar os judeus]".

Meir Litvak, professor na Universidade de Tel Aviv, foi mais específico, explicando que a ideia nazi do extermínio dos judeus data já de 1939, quando se concebeu na cúpula do Terceiro Reich o plano de deportá-los para lá dos Montes Urais, após invasão e derrota da URSS, para que morressem de doença.

Ainda segundo Litvak, o plano alternativo, das câmaras de gás, surgiu quando a invasão da URSS fracassou e a guerra a Leste se mostrou impossível de ganhar com os métodos da Blitzkrieg. Como o objetivo do extermínio dos judeus se mantinha, a fantasia da deportação para lá dos Urais foi substituída pela realidade de Auschwitz e de outros campos de extermínio.

A isto acrescenta Litvak: "Husseini apoiou o extermínio do judeus, ele tentou impedir que fossem salvos judeus, ele era uma pessoa abominável. Mas isto não diminui a escala da culpa de Hitler".

A OLP (Organização de Libertação da Palestina) comentou o discurso no Twitter, dizendo "Netanyahu odeia de tal modo os palestinos, que está disposto a absolver Hitler pelo assassínio de seis milhões de judeus".

O líder da oposição israelita, Isaac Herzog, classificou o discurso de Netanyahu como "uma falsificação da História". E lembrou o histórico da sua família: "Ninguém precisa de ensinar-me como o mufti odiava Israel. Ele deu ordem para assassinar o meu avô, Rabbi Herzog, e apoiou Hitler ativamente. Mas só houve um Hitler. Hitler não precisava de Husseini para ordenar o extermínio dos judeus só por serem judeus".

Mesmo o ministro da Defesa Moshe Ya'alon, considerado um dos "falcões" do Governo de Netanyahu, achou necessário demarcar-se das afirmações do primeiro-ministro: "Claro que Haj Amin al-Husseini não inventou a 'Solução Final para a questão judaica'. A História mostra claramente que foi Hitler a iniciá-la. Haj Amin al-Husseini juntou-se a ele". Ya'alon acrescentou, contudo, que "os atuais movimentos jihadistas estão a encorajar o antissemitismo e apoiam-se na conhecida herança nazi".

Fonte: RTP (Portugal)
http://www.rtp.pt/noticias/mundo/netanyahu-inocenta-hitler-e-culpa-um-arabe-pelo-holocausto_n867583

domingo, 13 de janeiro de 2008

Pesquisa questiona relação da população palestina com o nazismo

Pesquisa questiona relação da população palestina com o nazismo

(Foto)Hitler discursando em Berlim, em 1937

O alemão René Wildangel questiona as versões históricas que apontam o apoio do povo palestino ao regime de Hitler. Segundo o historiador, os colaboradores entre os palestinos eram minoria.

"Entre o Eixo e o poder do Mandato" é o título da pesquisa do historiador René Wildangel, que se ocupa da relação entre palestinos e nazistas. Embora a posição do mufti (acadêmico responsável por interprestar as leis islâmicas) Haji Amin el Husseini, anti-semita ferrenho e colaborador do regime de Hitler, seja um fato comprovado, Wildangel acredita que essa postura "não seja representativa. É preciso se ocupar, antes de tudo, com as coisas que aconteciam na Palestina naquele momento, e não apenas com essa pessoa, que veio para a Alemanha e aí colaborou com os nazistas".

Imagem errônea

Wildangel, que se interessa em primeira linha pela perspectiva palestina, acredita que boa parte dos historiadores, até agora, partiram, em suas pesquisas, de fontes alemãs, britânicas e israelenses, chegando à conclusão de que a Alemanha de Hitler contava com um apoio ilimitado por parte dos palestinos.

Tudo levando a crer que o povo palestino, de forma geral, tenha se mostrado anti-semita. – "aos moldes do mufti" – diz Wildangel. A razão de tal "imagem errônea", segundo o historiador, está no fato de a contexto ter sido reconstruído a partir de relatos dos serviços secretos do Terceiro Reich e da SS.

(Foto)O mufti Hadj Amin Husseini: anti-semita declarado e colaborador dos nazistas

Em 400 páginas, Wildangel analisa como a Alemanha nazista era retratada pelas publicações e jornais palestinos da época. O historiador acredita que palavras de ordem nazista, bem recebidas na Palestina, eram repetidas menos em função de um anti-semitismo existente, mas como oposição à hegemonia britânica, a partir do lema: "O inimigo do meu inimigo é meu amigo".

História hoje

Wildangel aponta para o fato de que, nas publicações palestinas, havia também relatos diferenciados sobre o ditador alemão e o programa político do regime nazista. O que, segundo o historiador, prova que, pelo menos quem lia jornal na época, tinha consciência das metas perseguidas por Hitler e sabia que a Palestina só atraía o interesse da Alemanha nazista devido à emigração dos judeus alemães e não porque o governo quisesse, de alguma forma, apoiar os palestinos na luta contra o colonialismo britânico.

Para o historiador alemão, a imagem dos palestinos como simpatizantes do nazismo foi criada principalmente no pós-guerra. "Quanto maior o ódio no conflito do Oriente Médio, maior a disposição em transportar tais imagens históricas errôneas. Os autores israelenses apontam para a existência do mufti e os árabes se negam a discutir o anti-semitismo e o Holocausto", diz Wildangel.

Debate necessário

Segundo o historiador, meias-verdades históricas acabam, dessa forma, servindo como argumentos políticos duvidosos. "Acredito que o conflito no Oriente Médio seja, em grande parte, uma luta pela legitimação. Cada lado aponta a culpa do outro e nenhum dos dois se ocupa da história do outro. Isso acentua o confronto e impede que se consiga sair da espiral do conflito", resume Wildangel.

Sarah Mersch (sv)
Fonte: Deutsche Welle(12.01.2008)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3055209,00.html

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