Várias organizações judaicas divulgaram esta segunda-feira um vasto arquivo digital com mais de 20 mil obras de arte confiscadas pelos nazis, incluindo dezenas de peças de Picasso e de Goya, entre outros autores.
Com a elaboração desta base de dados, as organizações judaicas pretendem facilitar o regresso das obras roubadas pelos nazis em França e na Bélgica durante a II Guerra Mundial aos seus proprietários originais.
Este trabalho, que pode ser visitado aqui [http://www.errproject.org/jeudepaume/], foi promovido pelo Museu do Holocausto em Washington e pela Conferência sobre as Reivindicações Materiais dos Judeus contra a Alemanha, com sede em Nova Iorque.
Até agora existiam várias listas, entre elas a dos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos e a dos Arquivos Alemães, mas não havia uma única base de dados com o nome e a descrição dos objetos roubados.
Para este trabalho, as organizações contaram com a ajuda do próprio regime nazi, que deixou como herança uma lista exaustiva das obras roubadas pela Einsatzstab Reichsleiter Rosenberg, a unidade militar do Terceiro Reich dedicada às obras de arte desviadas.
De facto, a identificação das obras foi possível graças aos documentos que os nazis processaram em Jeu de Paume, o edifício localizado nos Jardins de Tuileries, em Paris, onde as obras roubadas eram armazenadas antes de serem vendidas ou divididas entre os altos oficiais do Reich, informam as organizações.
A lista online, que está disponível neste momento, contém obras que foram retiradas aos judeus e inclui peças de Vermeer, Rembrandt e Leonardo. Há ainda registo de mais de 80 obras de Picasso, cerca de 20 de Goya e várias de Miró e de Dalí.
No entanto, as organizações explicam que esta lista inclui apenas uma pequena parte dos cerca de 650 mil trabalhos que foram roubados às famílias, a galerias e a colecionadores judeus aquando da invasão de França.
Muitas das obras foram devolvidas mas "milhares delas continuam desaparecidas".
Em declarações à BBC, o presidente da Conferência, Julius Berman, afirmou que "agora é da responsabilidade dos museus, das galerias e das casas de leilões analisarem as peças que possuem e determinarem se se trata de arte roubada às vítimas do Holocausto".
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
Lusa
Fonte: SIC Notícias(Portugal)
http://sic.sapo.pt/online/noticias/vida/divulgado+arquivo+digital+com+mais+de+20+mil+obras+roubadas+pelos+nazis+aos+judeus.htm
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terça-feira, 19 de outubro de 2010
Divulgado arquivo digital com mais de 20 mil obras roubadas pelos nazis aos judeus
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terça-feira, 8 de setembro de 2009
A Guernica - O manifesto de Picasso
Guernica
ou o manifesto político de P. Picasso
por Ângela Veríssimo
Um dos quadros que melhor transmite todo o desespero advindo da guerra é o intemporal Guernica de Pablo Picasso, fazendo plena justiça à expressão "uma imagem vale por mil palavras". No início de mais um ano, quase no fim do milénio, aqui neste cantinho do Mundo Ocidental, é tempo de pensar no outro Mundo, cujos povos vivem em palco de guerra, e para os quais nada resta senão esperar por dias de paz.
Picasso não tinha sido muito afectado pela I Guerra Mundial e só com a Guerra Civil Espanhola se interessou por política, tornando-se vivamente solidário com os republicanos. As fotografias que aparecem na imprensa no ínicio de Maio de 1937 relativas ao bombardeamento de Guernica (antiga capital do País Basco) em 36 de Abril tocam-no profundamente. Passado pouco mais de um mês e após 45 estudos preliminares, sai do seu atelier de Paris o painél Guernica (3.50x7.82 m) para ser colocado na frontaria do pavilhão espanhol da Exposição de Paris de 1937 dedicada ao progresso e à paz.
Rapidamente o painél se transforma num objecto de protesto e denúncia contra a violência, a guerra e a barbárie: "O quadro converte-se numa manifestação da cultura na luta política, ou melhor dizendo, no símbolo da cultura que se opõe à violência: Picasso opõe a criação do artista à destruição da guerra"(1).
Donde vem a genial monumentalidade que faz de Guernica uma obra tão singular? Na minha opinião, o seu poder advém da carga emotiva que possui. Efectivamente, o painél não representa o próprio acontecimento, o bombardeamento de Guernica, mas "evoca, por uma série de poderosas imagens, a agonia da guerra total"(2), chegando a constituir uma visão profética da desgraça da guerra que nos ameaça hoje e que nos ameaçará no próximo século que segundo S. Huntington "se caracterizará por muitos conflitos de pequenas dimensões"(3), devido em grande parte à existência, na actualidade, de mais de meia centena de estados fragéis e desintegrados. De facto, a destruição de Guernica foi a primeira demonstração da técnica de bombardeamentos de saturação, mais tarde empregue na II Guerra. Picasso já em fase pós-cubista, consegue aqui tornar o acto pictórico na narração objectiva da ideia que formou perante o acontecimento e da emoção que sentiu. Com ele,"a pintura carrega consigo o seu património de experiências emocionais" deixando de ser "um ideal abstracto de beleza formal ou de representação lírica da aparência vísivel"2. Citando o artista: "Quando alguém deseja exprimir a guerra, pode achar que é mais elegante e literário representá-la por um arco e uma flecha, que de facto, são estéticamente mais belos, mas quanto a mim (...) utilizaria uma metralhadora"(4).
Tecnicamente tudo em Guernica contribui para a transmissão de emoções avassaladoras a começar pelo uso da técnica de "collage" de que Picasso e Braque tinham sido pioneiros em 1911-12 e que o primeiro aqui retoma, já não "colando" objectos na superfície do quadro mas pintando como se fizesse colagens; com este Cubismo de Colagens cria-se um conceito de espaço pictórico radicalmente novo não criado por nenhum artifício ilusionista mas pela sobreposição dos "recortes" planos, neste caso especifíco em tons de preto e cinzento atravessados por claridades brancas e amareladas, numa total ausência da cor, inexoravelmente evocativa da morte.
A par disso, Picasso recorre a formas dramáticas, violentas, a fragmentações e metamorfoses anatómicas que se por um lado criam figuras que não aderem a nenhum modelo "real", por outro exprimem toda a realidade e agonia da dor insuportável. A comprovar isso atente-se nas várias figuras que o pintor representa neste quadro que aparentemente livre, obedece contudo a um rigoroso esquema em termos de construção (imagine-se a tela dividida em 4 rectângulos, com um triângulo cujo vértice corresponde ao eixo vertical que a divide em duas partes iguais): a mãe chorando a morte do filho (descendentes da Pietà...) e o ameaçador touro de cabeça humana, no 1º rectângulo, o "olho" luminoso do candeeiro que derrama uma luz inóspita (no 2º), a mulher com a lâmpada na mão recordando-nos a Estátua da Liberdade
(no 3º) e o homem que em desespero levanta os braços ao céu (no 4º). Repare-se ainda no cadáver empunhando a espada partida (um emblema da resistência heróica) e o cavalo ferido que aparecem no referido triângulo. O cavalo é à semelhança do touro uma figura saída da mitologia espanhola; representa o povo que agoniza sob o jugo opressor do touro, símbolo da brutalidade, das forças do mal.
Hoje, olhar para Guernica é partilhar o horror que Picasso sentiu há 59 anos perante as imagens da destruição da povoação. Por isso, aqui vai um desejo para o novo ano: que em 1996 tratados como os de Dayton não fiquem pelo papel e que haja sempre um pensamento na mente dos homens: GUERNICA NUNCA MAIS!
Bibliografia:
(1) in "Entender a Pintura", suplemento nº 2 da revista "Artes & Leilões", tradução de Margarida Viegas. (continuar)
(2) H. W. JANSON: "História de Arte", 4ª Edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1989. (continuar)
(3) CARDOSO,José: "O Terror Supremo", REVISTA do Expresso, 23 de Dezembro de 1995. (continuar)
(4) SECKLER, J.:"New Masses", 3 de Julho de 1945, citado em "Entender a Pintura", suplemento nº 2 da revista "Artes & Leilões", tradução de Margarida Viegas. (continuar)
Fonte: Revista CampUs (Portugal)
Universidade Técnica de Lisboa(Instituo Superior de Agronomia)
http://www.isa.utl.pt/campus/6_pablo.htm
ou o manifesto político de P. Picasso
por Ângela Veríssimo
Um dos quadros que melhor transmite todo o desespero advindo da guerra é o intemporal Guernica de Pablo Picasso, fazendo plena justiça à expressão "uma imagem vale por mil palavras". No início de mais um ano, quase no fim do milénio, aqui neste cantinho do Mundo Ocidental, é tempo de pensar no outro Mundo, cujos povos vivem em palco de guerra, e para os quais nada resta senão esperar por dias de paz.
Picasso não tinha sido muito afectado pela I Guerra Mundial e só com a Guerra Civil Espanhola se interessou por política, tornando-se vivamente solidário com os republicanos. As fotografias que aparecem na imprensa no ínicio de Maio de 1937 relativas ao bombardeamento de Guernica (antiga capital do País Basco) em 36 de Abril tocam-no profundamente. Passado pouco mais de um mês e após 45 estudos preliminares, sai do seu atelier de Paris o painél Guernica (3.50x7.82 m) para ser colocado na frontaria do pavilhão espanhol da Exposição de Paris de 1937 dedicada ao progresso e à paz.
Rapidamente o painél se transforma num objecto de protesto e denúncia contra a violência, a guerra e a barbárie: "O quadro converte-se numa manifestação da cultura na luta política, ou melhor dizendo, no símbolo da cultura que se opõe à violência: Picasso opõe a criação do artista à destruição da guerra"(1).
Donde vem a genial monumentalidade que faz de Guernica uma obra tão singular? Na minha opinião, o seu poder advém da carga emotiva que possui. Efectivamente, o painél não representa o próprio acontecimento, o bombardeamento de Guernica, mas "evoca, por uma série de poderosas imagens, a agonia da guerra total"(2), chegando a constituir uma visão profética da desgraça da guerra que nos ameaça hoje e que nos ameaçará no próximo século que segundo S. Huntington "se caracterizará por muitos conflitos de pequenas dimensões"(3), devido em grande parte à existência, na actualidade, de mais de meia centena de estados fragéis e desintegrados. De facto, a destruição de Guernica foi a primeira demonstração da técnica de bombardeamentos de saturação, mais tarde empregue na II Guerra. Picasso já em fase pós-cubista, consegue aqui tornar o acto pictórico na narração objectiva da ideia que formou perante o acontecimento e da emoção que sentiu. Com ele,"a pintura carrega consigo o seu património de experiências emocionais" deixando de ser "um ideal abstracto de beleza formal ou de representação lírica da aparência vísivel"2. Citando o artista: "Quando alguém deseja exprimir a guerra, pode achar que é mais elegante e literário representá-la por um arco e uma flecha, que de facto, são estéticamente mais belos, mas quanto a mim (...) utilizaria uma metralhadora"(4).
Tecnicamente tudo em Guernica contribui para a transmissão de emoções avassaladoras a começar pelo uso da técnica de "collage" de que Picasso e Braque tinham sido pioneiros em 1911-12 e que o primeiro aqui retoma, já não "colando" objectos na superfície do quadro mas pintando como se fizesse colagens; com este Cubismo de Colagens cria-se um conceito de espaço pictórico radicalmente novo não criado por nenhum artifício ilusionista mas pela sobreposição dos "recortes" planos, neste caso especifíco em tons de preto e cinzento atravessados por claridades brancas e amareladas, numa total ausência da cor, inexoravelmente evocativa da morte.
A par disso, Picasso recorre a formas dramáticas, violentas, a fragmentações e metamorfoses anatómicas que se por um lado criam figuras que não aderem a nenhum modelo "real", por outro exprimem toda a realidade e agonia da dor insuportável. A comprovar isso atente-se nas várias figuras que o pintor representa neste quadro que aparentemente livre, obedece contudo a um rigoroso esquema em termos de construção (imagine-se a tela dividida em 4 rectângulos, com um triângulo cujo vértice corresponde ao eixo vertical que a divide em duas partes iguais): a mãe chorando a morte do filho (descendentes da Pietà...) e o ameaçador touro de cabeça humana, no 1º rectângulo, o "olho" luminoso do candeeiro que derrama uma luz inóspita (no 2º), a mulher com a lâmpada na mão recordando-nos a Estátua da Liberdade
(no 3º) e o homem que em desespero levanta os braços ao céu (no 4º). Repare-se ainda no cadáver empunhando a espada partida (um emblema da resistência heróica) e o cavalo ferido que aparecem no referido triângulo. O cavalo é à semelhança do touro uma figura saída da mitologia espanhola; representa o povo que agoniza sob o jugo opressor do touro, símbolo da brutalidade, das forças do mal.
Hoje, olhar para Guernica é partilhar o horror que Picasso sentiu há 59 anos perante as imagens da destruição da povoação. Por isso, aqui vai um desejo para o novo ano: que em 1996 tratados como os de Dayton não fiquem pelo papel e que haja sempre um pensamento na mente dos homens: GUERNICA NUNCA MAIS!
Bibliografia:
(1) in "Entender a Pintura", suplemento nº 2 da revista "Artes & Leilões", tradução de Margarida Viegas. (continuar)
(2) H. W. JANSON: "História de Arte", 4ª Edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1989. (continuar)
(3) CARDOSO,José: "O Terror Supremo", REVISTA do Expresso, 23 de Dezembro de 1995. (continuar)
(4) SECKLER, J.:"New Masses", 3 de Julho de 1945, citado em "Entender a Pintura", suplemento nº 2 da revista "Artes & Leilões", tradução de Margarida Viegas. (continuar)
Fonte: Revista CampUs (Portugal)
Universidade Técnica de Lisboa(Instituo Superior de Agronomia)
http://www.isa.utl.pt/campus/6_pablo.htm
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