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sábado, 16 de abril de 2011

Eichmann quis sair do anonimato para contar sua versão do nazismo

O governo alemão sabia que vivia oculto na Argentina. Em 1956 pediu para voltar para “reclamar um lugar na história”.
FORTEMENTE VIGIADO. EICHMANN NA CORTE DE JERUSALÉM,
ONDE ALEGOU “OBEDIÊNCIA DEVIDA”. FOI ENFORCADO EM 1962.
Durante mais de uma década depois da II Guerra Mundial, seu paradeiro foi oficialmente desconhecido. Adolf Eichmann, o principal arquiteto do Holocausto, havia escapado de um campo de prisioneiros de guerra estadunidense, passado pela Itália e pego um barco com destino à Argentina.

O governo da Alemanha Ocidental, ocupado na reconstrução do país e em reabilitar sua reputação, sabia, pelo menos desde 1952, onde vivia Eichmann, mas nunca fez um esforço real para levá-lo ante a justiça.

Agora um novo livro afirma que Eichmann queria voltar a seu país e reclamar seu lugar na história vários anos antes de ser capturado pela inteligência israelense em 1960 e ser julgado em Jerusalém.

Em 1956, Eichmann escreveu uma carta aberta ao chanceler da Alemanha Ocidental, Konrad Adenauer.

É hora de renunciar a meu anonimato e me apresentar”, escreveu Eichmann, que então vivia sob o nome de Ricardo Klement num subúrbio de Buenos Aires. “Nome: Adolf Otto Eichmann. Ocupação: SS Obersturmbannfuhrer a. D (tenente coronel).” A carta supostamente devia ser publicada por uma empresa argentina com simpatias com os nazis mas nunca veio à luz. Foi descoberta nos arquivos do Estado alemão pela historiadora Bettina Stangneth de Hamburgo, cujo livro, "Eichmann antes de Jerusalém", será publicado esta semana na Alemanha.

Na carta a Adenauer, Eichmann, naquele momento com 50 anos, sugere que se deve lhe permitir voltar para contar aos jovens alemães o que havia ocorrido realmente sob o regime de Hitler.

Quando me deixarão viver o destino, não sei, mas sei sim que alguém tem que falar às gerações futuras sobre estes acontecimentos”, dizia, sem mencionar que “estes acontecimentos” incluíam o assassinato em massa de milhões de pessoas. “Tive um papel importante na condução e direção desses programas”, acrescentava.

Eichmann dirigia a “seção judaica” do escritório central de segurança do Reich, a orgamização SS responsável por combater os “inimigos do Reich”. Na prática, a missão de Eichmann era decidir qual era a melhor maneira de deportar os judeus para os campos de concentração. Dava-lhe muito prazer tratar de imaginar a maneira mais rentável e efetiva de executar um assassinato em massa: foram ele e sua unidade os que conceberam a ideia de que as autoridades e a polícia despojassem as vítimas de seus pertences antes da deportação.

Stangneth disse que Eichmann não gostava da humilde vida que levava na Argentina, onde criava coelhos. Ansiava o poder e o reconhecimento de que havia gozado no Terceiro Reich. “É por isso que escreveu a carta a Adenauer, porque queria ser famoso”, disse Stangneth. “Queria reclamar seu papel na história junto a Adolf Hitler.” Quase cinquenta anos depois que Eichmann foi enforcado em Israel, na Alemanha surgem incômodas perguntas sobre o papael do país em levá-lo ou não à justiça. Uma série de artigos da revista Der Spiegel há pouco sugeriam que os agentes secretos da Alemanha Ocidental sabiam perfeitamente onde estava Eichmann logo de sua fuga, mas nunca lhes foram ordenados que o recapturassem.

Depois do sequestro de Eichmann pelo Mossad em maio de 1960, o governo de Adenauer convocou uma reunião de crises, onde se acordou que se devia fazer o possível para deixar claro que “Eichmann era um suplente das SS de Himmler” e que não era um agente autorizado da Alemanha.

A um funcionário do Ministério de Relações Exteriores é atribuído ter dito que era crucial que “as principais figuras da Alemanha Ocidental” não se vissem prejudicadas pelo julgamento.

A última edição da revista sustenta que Adenauer pessoalmente enviou um agente do serviço secreto alemão, o BND, para seguir o julgamento de Eichmann em Jerusalém.

Adenauer disse a uma espião chamado Rolf Vogel que observasse o julgamento disfarçado de jornalista e influísse nele quando fosse possível.

Deves ir ao julgamento de Eichmann a pedido meu”, escreveu Adenauer, segundo documentos secretos descobertos pela Der Spiegel, que qualifica o envio de Vogel como “uma das operações do serviço diplomático/secreto mais delicadas da história da Alemanha Ocidental”.

Fonte: Clarín.com (Argentina)
http://www.clarin.com/mundo/Eichmann-anonimato-contar-version-nazismo_0_461953882.html
Tradução: Roberto Lucena

Matéria completa:
Adolf Eichmann wanted to return to Germany, historian claims (The Guardian, Inglaterra)
http://www.guardian.co.uk/world/2011/apr/11/eichmann-sought-trial-germany-1956

Ler mais:
Inteligência alemã ocultou identidade de Adolf Eichmann na Argentina
http://holocausto-doc.blogspot.com/2011/01/inteligencia-alema-ocultou-eichmann.html

domingo, 24 de outubro de 2010

Relatório revela planos nazistas de expatriar Thomas Mann

O pai do ex-presidente alemão Richar von Weizsäcker (1981-1984), o diplomata Ernst von Weizsäcker, recomendou em 1936 retirar a nacionalidade do escritor Thomas Mann, segundo um relatório do Ministério de Exteriores no Holocausto que revela neste domingo o jornal Frankfurter Allgemeine.

Pelo documento de uma comissão de pesquisa criada em 2005 quando o ecologista Joschka Fischer era ministro de Exteriores, Ernst von Weizsäcker, que foi secretário de Estado a partir de 1938, recomendou dois anos antes expatriar Mann por causa de sua propaganda contra o regime nazista.

Mann, autor de "A Montanha Mágica", "Morte em Veneza" e "Doutor Fausto" exilou-se na Suíça em 1933 para posteriormente transferir-se para os Estados Unidos, a partir de onde combateu ao nazismo com suas alocuções por meio do rádio.

O relatório, que será publicado na segunda-feira pelo semanário Der Spiegel, detalha que "o Ministério de Exteriores alemão foi uma organização criminosa" nos anos do nazismo (1933-1945) na perseguição dos judeus, como indica o presidente da comissão, o historiador Eckart Conze.

Contra o que diz o relatório, o ex-presidente Weizsäcker afirma ao Frankfurter Allgemeine Zeitung que seu pai "nunca foi uma figura relevante do nazismo e seu papel no Ministério de Exteriores foi exemplar para manter a tranquilidade nesses tempos de mudanças na Europa".

Ernst von Wezsäcker foi submetido a julgamento por crimes contra a humanidade nos processos nazistas entre 1948 e 1949 e condenado a cinco anos de prisão. "O Ministério de Exteriores funcionou como uma instituição do regime nacionalsocialista desde o primeiro dia e participou da política de violência instaurada pelo Terceiro Reich", assinala Conze.

O estudo revela que após 1945 "continuaram no Ministério pessoas que tiveram sério envolvimento no regime nazista", acrescenta Conze. O próprio ex-ministro Fischer se mostra "surpreso" no periódico com o papel de "proteção aos criminosos" do Ministério de Exteriores após 1945.

Seu sucessor no cargo, o social-democrata Frank-Walter Steinmeier, afirma não "acreditar" no envolvimento de diplomatas na eliminação sistemática de judeus e a posterior proteção de criminosos.

Fonte: Terra
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4752154-EI8142,00-Relatorio+revela+planos+nazistas+de+expatriar+Thomas+Mann.html

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A fuga dos alemães(Die Flucht der Deutschen) - Der Spiegel(2002)

Die Flucht der Deutschen(A fuga dos alemães) - Matéria da Der Spiegel

Artigo publicado numa edição especial da revista Der Spiegel(2002), sobre a fuga e expulsão dos alemães étnicos, no final da II Guerra Mundial.

"Pai, atire em mim"

Milhões de pessoas - mulheres, crianças, velhos - fugiram do Exército Vermelho nos últimos meses da guerra. Para centenas de milhares, a jornada terminou em inferno - elas se afogaram, foram fuziladas ou estupradas.

Em Nemmersdorf, não há ninguém vivo que ainda se lembre. O lugar chama-se agora Majakovskoje, agora são russos que estão morando em pequenas casas com telhados cinzentos. Da ponte sobre o rio Angerapp, restam somente algumas pedras e um dos pilares.

Aqueles que puderam fugiram a tempo naquela hora - ou pelo menos depois.

Depois? Sequer houve um depois?

Em 21 de outubro de 1944, quando uma unidade avançada do Exército Vermelho tropeçou sobre o vilarejo prussiano-oriental de Nemmersdorf, a história terminou para milhões de alemães. O massacre de Nemmersdorf foi a premonição para fuga e expulsão, que levou tudo a se despedaçar em ódio, fome, humilhação, e medo. Centenas de milhares, talvez até mesmo dois milhões, não sobreviveram à catástrofe.

Quando, em 21 de outubro, a névoa da manhã ainda pairava sobre a paisagem prussiana-oriental, os tanques soviéticos do 2º batalhão da 25ª brigada de tanques percorria o beco Gumbinnen. Os homens exaustos do Exército Vermelho haviam lutado por dias a fim. A Wehrmacht estava defendendo obstinadamente as fronteiras orientais do Reich.

Por mais de três anos, o Landser havia conduzido a guerra de Hitler à aniquilação em solo polonês, russo, ucraniano e letão - e foi devolvido. Agora as tropas de Stalin, pela primeira vez, entravam em áreas de assentamento alemão. Em Nemmersdorf, à frente dos tanques soviéticos no pequeno dique que levava à ponte através do Angerapp, havia carroças lotadas de famílias camponesas que haviam fugido das fazendas e comunidades vizinhas. O caminho a oeste levava ao outro lado do rio. Quando viu a ponte, o comandante mandou correr à toda velocidade. Às 7:30, elas havia sido tomada, com os tanques deixando para trás, sobre o dique, um emaranhado de cadáveres de cavalos, a madeira das carroças e, provavelmente, corpos humanos.

Gerda Meczulat vivia do outro lado do rio. Seu pai, Eduard, 71 anos, havia decidido não fugir. Os Meczulats não tinham uma carroça. Juntamente com outros aldeões, eles buscaram abrigo num porão. O que aconteceu lá não foi totalmente esclarecido até hoje. Gerda Meczulat depois relatou que os primeiros russos entraram no porão no início da manhã. Eles vasculharam a bagagem de mão, mas foram inesperadamente amistosos. Um deles até brincou com as crianças. Mas à tarde, um oficial apareceu e, em tom áspero, ordenou que os alemães saíssem.
"Quando nós saímos, havia soldados em ambos os lados da saída, com rifles prontos para atirar. Eu desmoronei, porque tenho pólio, fui erguida e não senti mais nada em toda a confusão. Quando recuperei meus sentidos, ouvi crianças chorando e rifles atirando. Então houve silêncio."
Gerda Meczulat sobreviveu gravemente ferida, porque o soldado que queria atirar nela mirou sem precisão. Ela foi a única sobrevivente.

Quando os homens da Wehrmacht tomaram de volta a comunidade de 637 almas no dia seguinte, eles encontraram no mínimo duas dúzias de cadáveres de mulheres, crianças e velhos. Soldados do Exército Vermelho os haviam fuzilado ou lhes golpeado as cabeças.

Quantas mulheres foram estupradas? É verdade que pessoas foram pregadas nuas numa porta de celeiro? Ou isso foi apenas a propaganda do Dr. Goebbels, que rapidamente exagerou o massacre como prova de que os soviéticos eram "bestas selvagens"?

Sobre os detalhes dos horríveis eventos em Nemmersdorf, historiadores e políticos expulsos estão discutindo até hoje, freqüentemente com ódio. Negadores? Revanchistas? Nemmersdorf tornou-se um símbolo do sofrimento alemão.

Uma coisa é certa: Em 21 de outubro de 1944, no quarto ano da guerra contra a União Soviética, Nemmersdorf mostrou que o povo de perpetradores havia se tornado um povo de vítimas.

Mas neste momento da história alemã, a catástrofe ainda poderia ter sido evitada. Pânico em massa, marchas da morte, bebês congelados, centenas de milhares de mulheres estupradas, mais de 33.000 pessoas afogadas no Báltico - todo esse horror caiu sobre a população somente porque Adolf Hitler e seus inescrupulosos senhores da guerra e gauleiters ainda falavam cegamente sobre a vitória final.

Defendendo cada metro quadrado do solo no leste até o último momento: esta frase tornou-se realidade, do modo mais terrível. O que teria sido, se ...? 2,5 milhões de alemães viviam na Prússia Oriental, 1,9 milhões na Pomerânia Oriental, 4,7 milhões na Silésia. Haveria muitas semanas, tempo para trazê-los em segurança, antes da chegada daquele inverno assassino que tornou-se tão frio que refugiados exaustos simplesmente congelavam em blocos à beira da estrada.

Mas na Alemanha de Hitler, era proibido fugir naquele outubro dourado de 1944. Num seminário do Gauleiter em Posen, Himmler havia anunciado que uma expansão do império alemão para o Leste estava obviamente prestes a acontecer. "Com certeza, nós aqui estamos criando as plantações de sangue germânico no Leste." Que imagem.

Assim, para o Gauleiter da Prússia Oriental, Erich Koch, certamente as preparações para fuga só poderiam ser um tipo infame de sabotagem. Servidores públicos e prefeitos da Gau receberam instruções para relatar qualquer um que planejasse qualquer coisa nesse sentido.

E havia a esperança, contra toda a razão, de que não ficaria tudo tão ruim. Nemersdorf, afinal, havia sido retomada. Os ataques aéreos de lá dificilmente tinham ocorrido aqui no leste - e não era aquele um outono de esplêndida beleza?

"A luz tão forte, o céu tão alto, a distância tão poderosa", assim o médico Hans Graf von Lehndorff descreveu em suas anotações daquele outubro o sentimento em seu lar, a terra do âmbar.

E apesar disso, todos sabiam que tudo estava acabado. Nunca mais eles veriam as cegonhas que nestes dias fugiam da Prússia Oriental na direção Sul.

Premonição de uma catástrofe: animais sem dono cruzavam os pastos, vindo de fazendas distantes do leste que já haviam sido abandonadas pelos seus proprietários. Nos campos em Preußisch Holland, havia estranhas construções sob uma camuflagem improvisada de tenda.

Aqui estavam as terras da jovem Marion Countess Döhnhoff, que secretamente tinha carroças de cavalo equipadas para fugir para o oeste. No escritório do Dr. Wander, prefeito de Insterburg, as cartas da entidade superior em Königsberg se amontoavam: "ultra-secreto" e "a ser colocado num cofre". Somente quando a senha "borboleta limão" fosse emitida, essas cartas deveriam ser entregues para os artesãos e representantes da economia de Insterburg: elas continham as instruções para enviar máquinas e suprimentos - mas não pessoas - para o oeste.

Quando, no dia seguinte aos eventos em Nemmersdorf, o prefeito pediu à liderança da Gau em Königsberg que enviasse trens de transporte para os refugiados do leste que já estavam superlotando a estação, perguntaram-lhe, em zombaria, se ele estava com febre. A sensação incômoda, mesmo durante a decoração da árvore de natal, de que a vida estava chegando ao fim e de que tudo viria abaixo, começou a se mostrar verdadeira logo em seguida: em 12 de janeiro de 1945, os tanques russos entraram na Prússia Oriental, e não havia nada para impedi-los. Não havia mais tempo para "borboleta limão" - agora as pessoas estavam fugindo para o oeste em pânico. Os trens que deixavam a estação de Königsberg estavam sobrecarregados já no primeiro dia.

Eram na maior parte as mulheres e crianças que deixavam suas casas e fazendas apressadamente. Os homens estavam ou servindo no front, ou eram considerados, sob a supervisão do NSDAP, como indispensáveis para a "Volkssturm", o último contingente de defesa. Três dias depois, quase nada funcionava. As ruas cobertas de neve estavam abarrotadas de refugiados em fuga, uma linha comprida de carroças de tenda puxadas por cavalos ou por pessoas, e pessoas com roupas grossas que haviam partido de suas casas com seus pertences mais importantes, alguns sacos e baldes cheios de comida.

Tudo o que eles possuíam tinha ficado para trás, as casas destrancadas, o gado desamarrado. E qualquer coisa pequena que trouxeram, eles também perderam na hora.

Sem chance de alcancar. As colunas se arrastavam lentamente, os cavalos escorregavam nas ruas congeladas. Esperando por horas a fio em entroncamentos ferroviários, onde transportes militares - vindos do front, indo para o front? - barravam seu caminho. Esperando em pé por horas a fio na noite gelada. Atrás das carroças, os velhos, envoltos em cobertas, haviam morrido de frio já durante as primeiras noites. O objetivo: os cruzamentos do Vistula em Marienburg e Dirschau. Porque, até o Vistula, com uma forte esperança, os russos não iriam.

O medo dos conquistadores espalhou-se pelas colinas com o vento frio do nordeste, da Prússia Oriental até a Silésia. A leste do rio Oder, trens especiais estavam trazendo massas de pessoas para a aparentemente protegida cidade de Breslau. O último transporte ocorreu em 18 de janeiro, e a partir daí as pessoas tiveram que ir a pé até lá também.

18 de janeiro: neste dia, tanques russos já estavam rodando pelo Warthegau, antiga Polônia, recentemente anexada à Alemanha. Na noite seguinte, um trem com mulheres e crianças partiu no sentido oeste a partir de Posen, mas como a evacuação começara muito tarde, os refugiados agora estavam caminhando sobre seus pés congelados. As trilhas estavam em pé na rua, com os refugiados ouvindo receosamente o ruído típico de trilhas de tanques - dos tanques russos.

Com a neve até a altura da barriga de seus cavalos, algumas famílias tentavam sair da fila atravessando os campos. Eles ficaram paralisados, tentando sobreviver à noite num celeiro, mas logo as fraldas dos bebês ficaram congeladas. E então as crianças morreram. Elas nem poderiam ser enterradas, porque a terra congelada estava dura como rocha. Animais selvagens as levavam de ambos os lados da estrada. E a neve continuava a cair.

Em 19 de janeiro, às 8 horas da manhã, o professor do vilarejo na cidade da Prússia Orienal de Gross-Nappen, condado de Osterode, veio até Lilly Sternberg e deu o alarme.

"O momento chegou, prepare sua jornada." Como centenas de outros, a senhora prussiana-oriental escreveu a história de seu sofrimento nos anos 50, para documentar a fuga e a expulsão. Este trabalho, que cobre milhares de páginas, foi compilado por historiadores em nome do Ministério dos Expelidos. A maioria dos testemunhos foram feitos sob juramento e constituem uma das mais impressionantes coleções sobre a miséria no final da guerra.

"Partam imediatamente! Somente com a bagagem de mão!", escreveu a Srª Sternberg. "Logo nós estávamos na rua do vilarejo, que estava cheia de mulheres em prantos." A partida: "As crianças acharam maravilhoso."

"Mãe, os russos, o que eles eles farão conosco?", uma das crianças perguntou a Lilly Sternberg. "Nada, eu digo, enquanto estou tremendo toda, nada, e eu coloquei minha mão sobre meus lábios."

Os russos, o que eles farão? Os piores rumores não são verdadeiros - a verdade é que é pior. A estudante de medicina Josefine Schleiter, tentando escapar da mesma área, viu como os tanques corriam em sua trilha.

"As carroças foram jogadas na vala, os cadáveres dos cavalos estavam caídos ao redor, homens, mulheres e crianças jazendo mortas." A estudante ouviu uma menina ferida dizer: "Pai, atire em mim!" Seu irmão também pediu: "Sim, pai, eu não tenho mais nada a esperar." E o pai, chorando: "esperem mais um pouco, crianças."

E então foi a vez dela. "Três sujeitos altos me agarraram e jogaram-me sobre o carro deles. O carro começou a se mover, e eu fiquei em pé em cima dele, observada pelo olhar predatório de um russo. Frio congelante. Eu não tinha comido nada desde o meio-dia. Um dos sujeitos sorriu: 'Frio?' Seguiram-se os momentos mais humilhantes da minha vida, os quais não podem ser descritos."

Quando o carro parou, a estudante saltou e fugiu para a floresta, correndo, correndo, correndo.

Havia um método por trás de tudo isso. Os estupros eram uma arma terrível dos soldados do Exército Vermelho, um meio de terror, como tortura, assassinato e incêndio.

Na Pomerânia Oriental, um trem com refugiados foi parado por soldados russos, e a locomotiva separada. "Todos pra fora!" Mulheres e crianças fugiam através da neve sobre os campos. No vilarejo de Dornitz, seus perseguidores os alcançaram. "Frau, komm!" foi a ordem temida. A garota Gabi Knopp, que o historiador do ZDF Guido Knopp menciona em seus relatórios sobre "A Grande Fuga", ainda não sabia o que essa ordem significava para ela. Ela ainda não tinha aprendido as verdades da vida.

Quem não viesse tinha certeza de que seria fuzilada. Um soldado russo que atacava refugiados amedrontados na Grande Dasekow Polonesa apontou para a mais nova. Sua irmã relatou: "Quando ela não se levantou imediatamente, ele foi até ela e apontou uma pistola para seu queixo. Todos nós gritamos bem alto, apenas minha irmã ficou lá sentada silenciosamente sem poder se mover. E então ele atirou nela."

Aqueles que ficaram para trás nos vilarejos, porque não podiam ou não queriam fugir, muitas vezes eram tratados pelos conquistadores de modo nada melhor do que as vítimas de Nemmersdorf. Quando os Arquivos Federais, na metade dos anos 70, avaliaram os relatórios das testemunhas, os cientistas contaram cerca de 3.300 dos chamados locais de crime a leste do Oder e Neisse, onde cidadãos alemães haviam sido espancados até à morte ou fuzilados, estupradas até à morte ou queimados vivos. Os Arquivos Federais concluíram que no mínimo 120.000 alemães haviam morrido na fuga.

Quantas pessoas, no total, morreram vítimas da fuga e expulsão, não foi esclarecido. Nos anos 50, o Escritório Federal de Estatísticas simplesmente estimou o número de alemães que antes de 1945 viviam a leste do Oder e Neisse e a partir disso deduziu o número daqueles que depois da guerra estavam vivendo na República Federal da Alemanha, Áustria ou República Democrática Alemã. A diferença era de mais de dois milhões.

Que esta ordem de magnitude devia ser muito alta ficou aparente na época, já a partir das listas de civis desaparecidos; somente cerca de um décimo - aprox. 200.000 pessoas - estavam sendo procurados por parentes e amigos. Até agora, entretanto, somente os Suábios do Danúbio [alemães étnicos da Iugoslávia, nota do tradutor R.M.] fizeram o esforço de documentar individualmente todas as vítimas - e reduziram pela metade as estimativas do Escritório Federal de Estatísticas para sua região.

Historiadores estimam em 1,4 mihão o número de mulheres que foram então estupradas. Depois disso, muitas delas deram fim às suas próprias vidas, em revolta ou horror. Meses depois - relataram as testemunhas - as crianças que chegavam com segurança no oeste ainda estavam brincando de "Frau, komm!" nos campos de refugiados.

O Exército Vermelho nunca fora especialmente disciplinado, e além disso tinha sido atacado violentamente pela guerra. Não havia a partida do lar, jovens tinham que entrar nos abrigos subterrâneos com lança-chamas ou observar as entranhas saindo das barrigas de camaradas feridos, sem nunca terem tido chance de processarem tais experiências. "Logo depois de um ataque, era melhor você não olhar nos olhos deles", escreveu um médico de campo russo, "não havia nada de humano ali"

A aniquilação de milhões de pessoas, que Hitler havia planejado para os russos, Stálin não havia previsto para os alemães. Mas quando o Exército Vermelho alcançou a fronteira oesta da União Soviética, muitos estavam cansados, e para levantar o moral, os generais de Stalin afrouxaram os controles que mesmo na guerra impediam que os soldados se tornarem assassinos.

Mais de mil jornais do exército haviam semeado o ódio que era agora necessário para vencer. Por exemplo, a proclamação de Ilya Ehrenburg: "Se durante o dia você não matou um alemão, seu dia foi perdido. Não conte os dias, não conte as camisas, conte somente uma coisa: os alemães que você matou. Mate os alemães."

A ordem do dia do 1º Front Bielo-Russo antes do ataque ao Reich lê-se da seguinte forma: "É chegado o momento de acertar contas com os carrascos nazi-fascistas alemães. Grande e intenso é o nosso ódio. Nós vingaremos aqueles que queimaram nos fornos do inferno, aqueles que se asfixiaram nas câmaras de gás, nós faremos uma vingança cruel por todas as coisas."

Parece que os generais de Stalin subestimaram os efeitos de sua propaganda. Uma pequena pilhagem, alguns excessos, era o que eles tinham em mente.

Mas as ondas de assassinato e destruição na Prússia Oriental e na Silésia aparentemente também amedrontaram a liderança russa. No décimo dia da ofensiva de inverno na curva do rio Vistula, o alto comando do 2º Front Bielo-Russo ordenou a supressão de "roubo, pilhagem, incêndios e orgias alcoólicas". Entretanto, Stalin cancelara a propaganda de ódio somente quando suas tropas haviam cruzado o Oder e Neisse e alcançado o solo que o líder do Kremlin planejara deixar para os alemães no futuro - a Alemanha Oriental.

O que se abateu sobre os alemães no leste certamente não tinha ocorrido na Europa Central desde a paz de Münster e Osnabrück em 1648. Naquela época, depois do fim da Guerra dos Trinta Anos, os comandantes haviam conseguido transformar seus negócios sangrentos numa questão razoavelmente organizada. Desde então, era comum promover guerras entre estados e soldados treinados, preferivelmente em algum lugar distante, onde os civis não fossem perturbados ou molestados.

Nos séculos seguintes, a guerra foi civilizada em forma de gabinetes de guerra, e até mesmo as armas e os meios de fazer a guerra foram estabelecidos contratualmente - estupros não eram parte dela. A guerra, que era o aspecto mais importante, tinha um objetivo, e esse objetivo era a paz, embora sob as condições do vencedor.

Mas agora todas as barreiras internas pelas quais a guerra havia sido "delimitada", como o cientista político Herfried Münkler de Berlim colocou, haviam sido derrubadas. A guerra selvagem, a guerra total: essa era a guerra de Adolf Hitler, a guerra da violência ilimitada. A aniquilação total, e não a paz, era seu objetivo.

Já em maio de 1941, os burocratas de Hitler haviam emitido o temido "decreto de justiça militar", que permitia que soldados alemães matassem civis soviéticos impunemente. Cerca de 11 milhões de civis morreram em conseqüência da guerra no império de Stalin.

Foram os comandantes de Hitler que inventaram isso: transformar pessoas em material de guerra, em unidade sem alma como barreiras anti-tanque e obuses, baratos e disponíveis em qualquer lugar.

Cidade completamente sem fortificação, como Breslau na Silésia, foram declaradas fortalezas, consistindo de nada mais que massas de pessoas. Um Muro Oriental feito de corpos humanos deveria se manter em pé contra os tanques bolcheviques. "Cada bloco de casas, cada vilarejo, cada fazenda, cada vala, cada arbusto", declarou Heinrich Himmler, "será defendido por homens, meninos, velhos e - se necessário - por mulheres e meninas." Breslau, com seus 630.000 civis, deveria resistir ao Exército Vermelho; canhões deveriam ser dispostos em todo o lugar. Primeiramente, as mulheres e crianças sem utilidade para a defesa marcharam a pé para Oppau, conforme ordenado pelo Gauleiter Karl Hanke. Por não haver veículos, e na estação de Freiburg, de onde os trens partiam para o oeste, já havia pânico em massa. A polícia ferroviária juntou centenas de pequenos corpos pisoteados quando o trem finalmente havia partido.

"As pessoas continuavam desnorteadas nas ruas. Muitas mulheres caíam chorando. Os bondes estavam superlotados, todos rodavam gratuitamente nesses últimos dias." Assim recordou Elisabeth Erbrich, que no dia seguinte fazia 20 anos de serviço na associação camponesa, e que também seguia em seu caminho. "Esse dia se tornou o mais difícil de toda a minha vida." Ela usava suas roupas de baixo e tantas roupas quantas podia vestir por cima, carregava uma mochila e frango cozido numa sacola de mão. Folhetos choviam do céu: "Alemães, rendam-se, nada acontecerá a vocês." Elizabeth Erbrich, entretanto, tinha que se juntar à interminável jornada para o oeste através da neve, junto com centenas de milhares de outras mulheres e crianças, a temperaturas de 16 graus centígrados abaixo de zero. Milhares perderam suas vidas nesta marcha a partir de Breslau. No dia seguinte, as garotas BDM da cidade receberam instruções para irem ao local da trilha das lágrimas, para "recolherem as bonecas ao longo do caminho".

Que bonecas? Eram todos bebês congelados, que tinham sido deixados para trás por suas mães.

Em Quittanien, a onze quilômetros de distância de Preussisch-Holland, Countess Döhnhoff havia morado por uns anos. "Ninguém", ela suspeitava na noite de sua fuga, "pronunciará novamente estes nomes." A maioria das pessoas que deve ir é deixada com a certeza de que suas casas continuarão a existir mesmo sem elas - na realidade, não apenas como uma imagem. O adeus das pessoas além do Oder, por outro lado, parecia como o fim do mundo.

O fim de um mundo é o que realmente foi. Por séculos, alemães e judeus haviam sido as minorias mais significativas na Europa Oriental. Mas Hitler primeiro tinha assassinado os judeus, e então a guerra que ele começara também levou o mundo alemão ao caos. Na idade média, os antepassados dos Krockows e dos Döhnhoffs, dos Matzkereits e Dubinskis, haviam ido para o leste. Eles tinham fundado cidades e colonizado terras - aparentemente constantes na história alemã.

Férias na praia da colônia de férias prussiana-oriental de Cranz, ou no balneário medicinal de Bad Warmbrunn, eram tão populares entre muitos alemães quanto são hoje as férias em Travemünde ou em Königssee. Todos as conheciam: o arqui-reacionário Junker, que já era considerado um intelectual se ordenasse o calendário de caça de Berlim, ou os miseráveis fiandeiros cujo destino recebeu um monumento literário de Gerhart Hauptmann.

A guerra de Hitler não deixou para trás quase nada do mundo alemão no Leste, somente as cidades e vilarejos vazios. "Trudchen, minha cozinheira, ainda tinha preparado um jantar", escreveu a Countess Dönhoff sobre sua fuga. "Nós comemos alguma coisa juntas rapidamente. Quando nos levantamos, deixamos a comida e a prataria na mesa e fomos para a porta pela última vez, deixando-a destrancada. Era meia-noite."

26 de janeiro: A maior parte da Prússia Oriental havia sido dividida e conquistada. A jornada dos Dönhoff, embora eles tivessem conseguido escapar do caldeirão, perderam coragem. Resignadas, as pessoas retornavam - melhor ir de volta para os russos que congelar até à morte na tempestade de neve. Somente Countess volta seu cavalo para o oeste e cavalga através da noite gélida em direção ao Vístula. Agora os prussianos-orientais só deixaram o caminho pela água. A partir de Königsberg, uma pequena faixa leva ao porto salvador de Pillau, onde navios de refugiados estão sendo carregados. Para a maioria deles, o caminho a pé para a costa leva através do congelado Frisches Haff, que se estende de Königsberg até Dantzig como uma barra em frente à Prussia Oriental, separada do Báltico apenas por uma pequena faixa de terra, a Frische Nehrung.

Para muitos milhares, este era o único caminho para a liberdade.

Heiligenbeil sobre o Haff: pela última vez, as pessoas têm solo firme sobre seus pés. A partir daqui, eles precisam cruzar o gelo. Sobre o novo cemitério, os corpos recolhidos daqueles que congelaram até à morte são enterrados todos os dias às duas e meia, 50 em média recebendo sua última bênção dentro de sacos de papel. Não restaram caixões.

Novamente, um dia radiante de inverno. O branco da enorme superfície gelada machuca os olhos. O caminho através do Haff mede 20 quilômetros. Foi marcado pelos soldados com pequenas árvores, mas essas não são mais necessárias. Em vez delas marcam o caminho aqueles que congelaram até à morte e foram simplesmente deixados para trás, animais mortos e carroças despedaçadas - e os buracos no gelo.

Várias carroças haviam quebrado nesses buracos. Pessoas e cavalos simplesmente desapareciam na água negra. A caravana interminável faz pequenas curvas ao redor desses locais. Uma horrível fuga. O céu no horizonte brilha em tom vermelho sangue e violeta - aquelas são as cidades incendiadas já alcançadas pelos russos. Na noite, fica ainda mais frio, mas os aviões não podem enxergar as colunas em marcha. A fonte de água subindo alto no ar durante o dia quando uma bomba arrebenta o gelo pode ser vista de muito longe. Um colegial de Lyck na Prússia Oriental fazia seu caminho junto com sua mãe e irmã: "O gelo estava quebrando. Em alguns lugares, nós tínhamos que andar com dificuldade com a água a 25 centímetros de altura. Com varas nós constantemente sentíamos o solo na nossa frente. Crateras de bombas nos forçavam a fazer retornos. Muitas vezes escorregávamos e pensávamos estar perdidos. Mas o pânico da morte espantava os tremores de frio que percorriam o corpo."

Os ataques dos aviões rasantes do Exército Vermelho contra os refugiados indefesos, cujos corpos destacavam-se do gelo coberto de neve como figuras numa galeria de tiro-ao-alvo, transformou o Haff num símbolo dos crimes de guerra soviéticos. Quando a primavera chegou e o gelo se partiu, a água trouxe milhares de corpos para a costa.

Estação de fuga de Pillau: A pequena cidade portuária no Nehrung não pode lidar com esta onda de imigrantes congelados. Em 26 de janeiro, também as fábricas de munições explodiram ali, devastando grandes áreas da cidade. No cais do porto, uma parede de pessoas aguardava em pé pela passagem para um navio. Aqueles da multidão confusa que caíam na água gelada não tinham chance.

No domingo de 28 de janeiro, 8.000 refugiados são aguardados, mas 28.000 desembarcam, muitos por navios vindos de uma distância próxima a Königsberg. A marinha provisoriamente abriga essas pessoas em alojamentos.

Quando barcos fazem a abordagem para levar os passageiros aos grandes navios parados no Báltico, o caos normalmente estourava no cais. Mulheres jogavam seus filhos para os salvadores para que pelo menos eles tivessem um lugar no navio - e para impedir que eles fossem esmagados pela multidão.

No anoitecer desse dia, o Gauleiter em Königsberg emite uma senha para os chefes dos escritórios administrativos na cidade: reunião em Fischhausen na manhã seguinte. Este lugar se localiza na estrada para Pillau. Uma ordem velada para fuga.

Depois disso não há impedimentos. Logo, milhares estão fazendo seu caminho através da tempestade de neve na rua para Fischhausen. Próximo ao vilarejo de Metgethen - um nome mais tarde tão bem conhecido como Nemmersdorf - soldados soviéticos atacam os refugiados e fazem um banho de sangue.

O médico Graf Lehndorff ficou para trás em Königsberg e escreveu em seu diário: "Onde quer que você escute, em todo o lugar, ultimamente eles estão falando sobre potássio cianógeno (Cyankali), que as farmácias estão distribuido em qualquer quantidade. A questão sobre tomá-lo ou não, não é para ser debatida. Discussões acontecem sobre a quantidade necessária, e isso de maneira casual e descuidada, como você normalmente conversaria sobre coisas como comida."

No dia seguinte, tropas russas cercaram a cidade. Königsberg, que ainda escondia cerca de 100.000 pessoas do lado de dentro de seus muros, havia ficado isolada.

Que terrível janeiro. "Meu Deus, quantas pessoas em nosso país haviam imaginado que o fim seria desse jeito", a Countess Dönhoff, que nesse momento estava cavalgando pelo frio em algum lugar, escreveu depois de chegar ao oeste. "O fim de um povo que tinha prometido conquistar as panelas de carne da Europa e subjugar seus vizinhos orientais."

O fim? Este ainda levaria um pouco de tempo para chegar.

Em 30 de janeiro, o "Wilhelm Gustloff", com quase 10.000 refugiados e soldados a bordo, afunda no Báltico em sua viagem para o oeste. E na praia próxima a Pillau, onde, apesar de tais notícias, números ainda maiores de pessoas estão subindo a bordo de navios mais novos, fogos de artifício macabros podem ser vistos algumas horas mais tarde.

São os sinalizadores disparados pelos homens da SS. Eles precisavam de luz para fuzilar 3.000 prisioneiros na praia escura. As vítimas, na maior parte mulheres, vêm do campo de concentração de Stutthof. Em Pillau, assim lhes fora dito, eles seriam embarcados em navios. Agora, as mesmas águas do Báltico banham seus corpos e aqueles dos passageiros do "Gustloff".

O oeste - esta não era uma direção promissora apenas para as vítimas alemãs, mas também aquela tomada pelos perpetradores alemães. Entre os refugiados, colunas especiais aparecem de novo e de novo - pessoas esquálidas em sujos trapos cinza de prisioneiros. A SS está evacuando um campo de concentração atrás do outro.

Marchas da morte é como eles chamam as colunas da miséria, porque os homens da SS deixam milhares para trás, de ambos os lados da estrada, fuzilados ou espancados até à morte.

No começo de fevereiro, não havia mais nenhuma Prússia Oriental Alemã. Exceto por alguns pedaços, o jardim da frente do Reich no Leste está firmemente em mãos soviéticas. Na Alta Silésia, a fuga dos vilarejos começou somente agora. Muitas pessoas tentaram alcançar a Saxônia, outros fugiram em pânico através das montanhas Riesengebirge para os Sudetos, onde eles se tornaram vítimas das primeiras expulsões organizadas pelos Tchecos.

Para onde fugir? O que quer que os alemães tentassem fazer nas ruas, para onde quer que eles se voltassem, eles se encontravam caçados. Como vítimas do frio, do Exército Vermelho, da SS e, finalmente, dos Tchecos.

Não havia poder, não havia poderosos, que pudessem pôr fim a toda essa miséria?

Não havia nenhum. Bombardeios, fuzilamentos e morte iriam continuar por mais três meses, até 8 de maio.

Tradução(alemão-inglês): Roberto Muehlenkamp
Tradução(inglês-português): Marcelo Oliveira
Fonte: Lista Holocausto-doc Yahoo!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Tabu na Alemanha, Carnaval era explorado pelos nazistas

Siobhán Dowling
do Der Spiegel

O Carnaval alemão é uma expressão de diversão anárquica e de gozação daqueles que estão no poder. Mas os nazistas buscaram explorar o potencial das festividades para seus próprios fins. Carros alegóricos antissemitas e discursos atacando os inimigos da Alemanha eram comuns e uma reação contrária era rara.

Era segunda-feira de Carnaval na cidade alemã de Colônia e as festividades de 1934 estavam em andamento. Dentre os muitos carros alegóricos que participavam do desfile tradicional, um exibia um grupo de homens vestidos como judeus ortodoxos. A faixa acima deles dizia: “Os Últimos Estão Partindo”. Afinal, aquele era o Carnaval sob o Terceiro Reich.

O carro alegórico foi uma das muitas expressões de antissemitismo que marcaram o período de Carnaval na Alemanha durante os anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Outro carro alegórico de 1935 parece um terrível arauto do Holocausto que viria. Em Nuremberg, onde as infames leis raciais antissemitas seriam introduzidas posteriormente naquele ano, uma figura em papel machê de um judeu estava pendurada em um modelo de moinho como se fosse uma forca.

Até recentemente, era quase tabu falar sobre o Carnaval alemão e os nazistas na mesma frase. O Carnaval, o festival pré-Quaresma celebrado no oeste e sul predominantemente católicos da Alemanha, exibe um lado alegre, bem-humorado e ruidoso da Alemanha. Nada poderia ser mais distante dos horrores perpetrados pelo regime de Hitler.

Mas os nazistas “perceberam rapidamente o potencial do Carnaval”, diz o jornalista e historiador Carl Dietmar. Ele e o colega historiador Marcus Leifeld discutem este aspecto da Alemanha Nazista em seu novo livro, “Alaaf and Heil Hitler: Carnival in the Third Reich”. Pesquisando os arquivos das organizações carnavalescas, eles descobriram o quanto os nazistas conseguiram exercer controle sobre a festa.

‘Surpreendentemente heterogêneo”

Os nazistas viram que a tradição do Carnaval poderia ser usada para retratar suas noções de “Volk”, ou nação, alemã. Mas sua diversão anárquica e potencial de zombar daqueles no poder era algo que buscaram controlar rigidamente. Desde o início do regime nazista em 1933, havia ordens para não mencionar Hitler durantes as festividades. E os muitos encarregados pela organização do festival –os presidentes dos comitês, os chamados “Büttenredner” (animadores do carnaval) e aqueles que criavam os carros alegóricos– eram todos cuidadosos em obedecer essa ordem.

No geral, a nazificação da tradição foi um processo gradual e incompleto. A pergunta é quanto o Carnaval se tornou nazificado de um clube a outro, de uma cidade para outra. “É surpreendente quão heterogêneo era”, disse Leifeld para a “Spiegel Online”. As pessoas encarregadas pelo Carnaval refletiam uma sociedade mais ampla. Havia nazistas convictos e pessoas que apenas obedeciam as ordens. Também havia disputas dentro dos clubes, apesar de raramente refletirem qualquer questionamento fundamental da ideologia nazista; eram principalmente desentendimentos sobre quanto à tradição deveria ser mantida e quão longe as coisas deviam mudar para refletir a nova era.

Os autores também acabaram com o mito de que em Colônia, os organizadores do Carnaval de alguma forma resistiram à tomada pelos nazistas. A famosa “Narrenrevolte” (“A revolta dos bobos da corte”) de 1935, na qual o comitê local se recusou a se deixar assumir pela organização de lazer nazista Kraft durch Freude, foi apenas uma forma de manter o poder e os lucros consideráveis arrecadados durante as festividades, disse Dietmar à “Spiegel Online”. De forma semelhante, o presidente do comitê do Carnaval de Colônia era membro do partido nazista desde 1932 –mas isso não o impediu de retornar ao comando da organização do evento anual após a Segunda Guerra Mundial.

Mas ocorreram alguns casos raros de desafio. Por exemplo, um grupo carnavalesco em Frankfurt ousou imprimir propagandas em um jornal mostrando o führer como bobo da corte carnavalesco. Uma equipe de nazistas foi imediatamente enviada para destruir o carro alegórico do clube e prender os editores, que passaram três semanas na prisão.

O famoso animador do Carnaval de Colônia, Karl Küppner, também teve problemas com as autoridades após fazer piadas demais sobre os nazistas. Em uma ocasião, ele estendeu a mão para fazer a saudação de Hitler e brincou: “Parece que vai chover”. Küppner acabou na prisão e foi proibido de continuar animando o Carnaval.

E o presidente do comitê do Carnaval de Düsseldorf, Leo Statz, pagou o preço mais caro por sua irreverência. Ele incomodava repetidamente os nazistas com suas canções carnavalescas satíricas e, em 1943, após questionar embriagado se a Alemanha venceria a guerra, ele foi preso pela Gestapo e acabou executado.

Mas estas foram exceções. No geral havia um alto grau de submissão ao regime. “Havia piadas em quase toda animação de Carnaval sobre os judeus e os inimigos, como os franceses ou russos”, diz Dietmar. Muitos dos carros alegóricos zombavam da Liga das Nações e os alvos favoritos de ódio eram os políticos americanos, como o prefeito de Nova York, Fiorello La Guardia, cuja mãe era judia.

Mas os nazistas também desconfiavam da tradição do Carnaval de desobediência atrevida em relação aos detentores do poder. Em grande parte organizado pela classe média baixa, o Carnaval era tradicionalmente uma das poucas formas de expressar as críticas contra os governantes autoritários. Os nazistas fizeram todos os esforços para domar os aspectos rebeldes do festival. Eles enfatizavam o desfile organizado e desencorajavam o aspecto de festa de rua das festividades. Durante o Carnaval, imagens de líderes nazistas tinham que ser retiradas por temor de que pudessem ser desfiguradas por foliões bêbados.

O Terceiro Reich tentou transformar a celebração em outro tipo de performance, semelhante aos comícios nos quais os nazistas demonstravam excelência. Os carnavais deles tinham “menos humor e mais pompa”, diz Leifeld. Por exemplo, a chamada Proclamação do Príncipe, que ocorre até hoje no Carnaval alemão, foi uma invenção nazista. Eles desencorajavam a tradição de pessoas se vestirem como o sexo oposto, devido à conotação homossexual. Também acabou a tradição de um homem vestido como mulher como parte do trio que liderava o desfile em Colônia. De 1936 em diante, esses papéis eram exclusivos das mulheres.

Para o regime, o Carnaval era uma ferramenta útil de propaganda para o mundo exterior. Havia repetidas referências aos empregos criados e ao crescimento econômico. Os nazistas lançaram uma campanha de propaganda para atrair turistas estrangeiros e mostrar o país sob uma luz favorável, a imagem de “alemães pacíficos, que não queriam guerra, apenas se divertirem”, diz Leifeld.

A campanha funcionou, com muitos turistas estrangeiros viajando para a Alemanha para o Carnaval, particularmente vindos da Holanda. Mais de 1 milhão de turistas teriam visitado Colônia no último Carnaval antes da guerra, em 1939.

A história do Carnaval reflete de muitas formas o processo pelo qual os nazistas tomaram a sociedade como um todo, diz Leifeld. Foi um processo lento mas contínuo, e não uma transformação completa do dia para a noite em 1933, quando os nazistas chegaram ao poder. A exclusão gradual dos judeus dos carnavais é uma indicação desse processo. Desde o século 19, muitos judeus exerciam papéis proeminentes nos carnavais, como por exemplo em Koblenz e Freiburg, e os judeus até mesmo fundaram seu próprio clube carnavalesco em Colônia, em 1922. Mas depois de 1930, o presidente desse clube emigrou para Los Angeles e, em 1935, cada clube teve que declarar que era completamente ariano.

Foi apenas nos últimos 10 anos, aproximadamente, que as pessoas começaram a demonstrar interesse por este aspecto esquecido da história alemã, em vez de desejar varrê-lo para baixo do tapete, diz Dietmar. As pessoas em Colônia e no restante da Alemanha querem saber a respeito da vida cotidiana durante o Terceiro Reich, sobre como eram as coisas localmente, diz Leifeld.

A história do Carnaval mostra de certa forma que os nazistas não eram forasteiros que repentinamente impuseram seu regime à Alemanha em 1933, mas que foi um processo gradual de “giro do parafuso”, até a sociedade se tornar nazificada, argumenta Leifeld.

“Eles não eram alienígenas do espaço”, ele diz. “Eles faziam parte da sociedade.”

Fonte: Der Spiegel/24HorasNews
http://www.24horasnews.com.br/index.php?tipo=ler&mat=319551

domingo, 8 de fevereiro de 2009

França condena novas provocações do bispo sobre Holocausto

Dirigentes do Governo e da oposição na França coincidiram neste domingo ao tachar de "inaceitáveis" as novas declarações do polêmico bispo Richard Williamson, que disse que não pensa em se retratar de sua negação do Holocausto.

"Aconselho a ele que vá a Yad Vashem (o Museu da História do Holocausto de Jerusalém) e veremos depois o que vai dizer", declarou hoje o ministro francês encarregado do plano de relançamento econômico, Patrick Devedjian, em alusão às últimas provocações do bispo.

O ministro ressaltou ainda que não concordava com a decisão do papa Bento XVI de revogar a excomunhão que pesava sobre Williamson e outros quatro bispos seguidores do ultraconservador Marcel Lefebvre.

A líder da oposição na França, a número um do Partido Socialista (PS), Martine Aubry, condenou as novas e "infames" declarações do bispo, ao considerar que representam uma injúria "não só para todos os judeus, mas também para a consciência humana".

Aubry também descorda da decisão do papa e afirma, em comunicado, que seu partido se une "a todos aqueles que desejam decisões para frear esta situação que provoca tanto sofrimento moral".

Em uma entrevista que será publicada pela revista alemã "Der Spiegel" em sua edição da próxima semana, Williamson diz que, antes de se retratar, tem de revisar as provas históricas do Holocausto.

"Se encontrar provas me corrigirei, mas para isso vou precisar de mais tempo", acrescentou.

Fonte: EFE
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI3501588-EI312,00-Franca+condena+novas+provocacoes+do+bispo+sobre+Holocausto.html

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