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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Walter Rauff - Criador das câmaras de gás móveis era triplo espião

O Arquivo Federal alemão irá divulgar na próxima semana em Koblenz um vasto conjunto de documentos que, segundo foi anunciado, confirmam as suspeitas de recrutamento do criminoso de guerra Walter Rauff pelos serviços sercretos da Alemanha Federal (BND), já nos anos 50. Procurando desfazer-se do lastro de um passado demasiado presente, o presidente do BND, Ernst Uhrlau, admite agora a vergonha que esse recrutamento representa. Mas Rauff trabalhou também para os serviços secretos da Síria e de Israel.

Walter Rauff, ao ser detido pela
polícia chilena, em dezembro de 1962




O volumoso acervo documental cuja divulgação está prometida para os próximos dias totaliza 900 páginas e confirma que o ex-agente dos serviços de segurança das SS trabalhou no pós guerra para o BND, da democrática Alemanha Federal. Rauff já em tempos revelara esse "emprego" a jornalistas, mas tudo então tomado como mera fanfarronada de um veterano da repressão nazi, a procurar fazer-se interessante na monotonia do pós-guerra.




O criador das "câmaras de gás móveis"

Walter Rauff era em 1933, quando o partido nazi ascendeu ao poder, um oficial da Marinha de Guerra, com o posto de tenente e a idade de 27 anos. Aí conhecera anteriormente o famigerado Reinhard Heydrich, também oficial da Marinha. Quando este passou a chefiar o RSHA (Serviço Central de Segurança do Reich, que reunia várias polícias) chamou Rauff para o seu lado e fez dele um dos seus braços direitos.

Depois de um breve interregno em que regressara à Marinha, Rauff retomou as funções policiais e continuou a sua ascensão meteórica, mesmo depois de a resistência checa ter liquidado o seu protector Heydrich. Em 1945, no final da guerra, com 39 anos, atingira a patente de coronel.

Entre as façanhas que lhe permitiram essa ascensão conta-se o desenvolvimento das câmaras de gás móveis, utilizadas para matar prisioneiros judeus e deficientes físicos ou mentais. As vítimas eram mortas por sufocação em camiões fechados, em que se lançava gases tóxicos. O equipamento foi usado primeiro no campo de concentração de Sachsenhausen, e depois também na capital lituana, Riga, e em campos de extermínio em Chelmno (Polónia) e Poltava (Ucrânia). Até serem substituídas pelas grandes instalações destinadas ao extermínio, as câmaras de gás móveis custaram a vida a um número de pessoas que é calculado entre 97.000 e 200.000.

Do Norte de África a Itália

Nessa fase, Rauff fora destacado para o Norte de África, à cabeça de um Einsatzkommando, que era suposto proceder ao extermínio dos judeus à medida que o Afrikakorps de Rommel fosse avançando no terreno. Na Tunísia, Rauff levou ainda a cabo verdadeiros massacres contra a comunidade judaica local.

Na fase final da guerra, esteve no norte de Itália e participou activamente na repressão contra a resistência em Milão, Turim e Génova. Aquando da insurreição de Milão, esteve a ponto de ser linchado por uma multidão e escapou por pouco. Foi depois capturado pelas tropas norte-americanas, que o deixaram fugir do campo de prisioneiros de Rimini. Segundo a sua ficha na CIA, ele pôde então esconder-se em conventos locais graças ao apoio do bispo católico Alois Hudal.

Espião duplo para a Síria e para Israel

Depois da fuga, Rauff foi recrutado para os serviços secretos sírios por um certo capitão Akram Tabara e partiu para Damasco, onde ficou, a partir de 1948, ao serviço do presidente sírio Hosni Zaim. Foi temporariamente detido na sequência de um golpe de Estado que derrubou Zaim, mas acabou por ser libertado e deixar o país.

A arregimentação de Rauff para os serviços secretos sírios, numa fase em que este e outros regimes árabes se encontravam em pé de guerra com o recém-nascido Estado de Israel, surgia, entretanto, ao senso comum como prova de uma convergência entre esses regimes e os restos do nazismo contra um inimigo comum.

As revelações de Elam e Whitehead

Mas o jornalista judeu Shraga Elam e o seu colega norte-americano Dennis Whitehead desenterraram há três anos documentos que lançavam uma nova luz sobre a história. Segundo esses documentos, então divulgados no diário israelita Haaretz, Rauff terá estado simultaneamente sob as ordens dos serviços secretos israelitas. Essa ligação era já conhecida da CIA em 1950.

Segundo o historiador residente do Haaretz, Tom Segev, Rauff já terá ido para a Síria sob ordens israelitas. Era precisamente o seu passado de criminoso do Holocausto que o tornava, aos olhos dos sírios, insuspeito de alguma simpatia pelo Estado de Israel.

Ainda segundo Elam e Whitehead, Rauff foi depois para o Egito sob ordens israelitas, com o plano de organizar o assassínio de diversas figuras políticas inquietantes para Israel. Mas o plano não chegou a concretizar-se e Rauff partiu então para a América Latina, com a ajuda dos serviços secretos israelitas.

No Chile, ao serviço da espionagem alemã

Na América Latina, Rauff estabelceu-se no Chile, como comerciante de gado. Foi aí que o BND o recrutou, com o intuito de obter informações provenientes da Cuba revolucionária. Aparentemente, a actividade de Rauff saldou-se num fracasso e decepcionou o seu novo patrão - os serviços secretos alemães. Por isso chegou a ser-lhe cortado o vencimento, segundo Klaus Wiegrefe em Der Spiegel.

Em 1962, a política falou mais alto que a polícia e o Governo da Alemanha Federal pediu ao Chile a extradição de Rauff. O refugiado foi temporariamente detido, mas o Supremo Tribunal chileno recusou o pedido de extradição, a pretexto de os crimes em causa já terem prescrito segundo a lei chilena, e mesmo a chegada ao poder de Salvador Allende não mudou a segurança que o país oferecia ao criminoso nazi.

Com o golpe de Estado de Pinochet circularam rumores sobre uma activa participação de Rauff no aparelho repressivo da ditadura. Novos pedidos de extradição foram, em todo o caso, rejeitados por Pinochet. Um provinha de Israel, em 1984, outro de uma especial amiga do ditador, Margareth Thatcher. Mas foi também em 1984 que Rauff morreu - enterrado com honras e rituais nazis pela comunidade germânica refugiada no Chile.

Fonte: RTP(Portugal)
http://www.rtp.pt/noticias/?t=Criador-das-camaras-de-gas-moveis-era-triplo-espiao.rtp&article=482924&visual=3&layout=10&tm=7

sábado, 4 de setembro de 2010

Nova biografia revela que Simon Wiesenthal trabalhava para o Mossad

Nova biografia revela que Simon Wiesenthal trabalhava para a agência israelita Mossad
Por Rita Siza

(Foto)A Mossad atribuíra o nome de código "Teocrata" a Wiesenthal AFP

Tom Segev, o autor do livro, consultou mais de 300 mil documentos deixados pelo sobrevivente do Holocausto no seu centro de Viena

Uma nova biografia de Simon Wiesenthal, o mítico sobrevivente do Holocausto que dedicou toda a vida à perseguição e exposição de criminosos de guerra nazis, revela que as suas diligências foram financiadas pela Mossad, e demonstra que os esforços da agência israelita de serviços secretos para capturar figuras ligadas ao Terceiro Reich foram bem mais longe do que se pensava.

O livro, intitulado Wiesenthal - The Life and Legends, da autoria do historiador e colunista israelita Tom Segev, assenta em mais de 300 mil documentos do arquivo pessoal e profissional depositados no Centro de Documentação Judaico criado por Wiesenthal em Viena, para caracterizar a missão a que ele dedicou toda a sua vida.

"É uma revelação surpreendente no contexto da narrativa da sua história pessoal, porque Wiesenthal sempre foi visto como um solitário, como alguém que lutou sozinho contra tudo e contra todos, contra todas as probabilidades e até contra as autoridades e leis locais", considera o autor da obra.

Salário de 300 dólares

Simon Wiesenthal, que nasceu em 1908 na actual Ucrânia, foi prisioneiro em cinco campos de concentração nazis. No final da guerra, começou a reunir provas das atrocidades cometidas pelos nazis para a secção de crimes de guerra do Exército dos Estados Unidos.

O resto da sua vida foi passado à procura de criminosos nazis - o seu trabalho levou à prisão de mais de mil intervenientes no Holocausto.

Tom Segev provou agora que a ligação de Wiesenthal aos serviços secretos israelitas remonta aos primeiros anos de actividade do seu escritório em Viena: a Mossad ajudou-o a montar o gabinete e passou a enviar-lhe um salário mensal de 300 dólares pelas suas informações.

O rabi Marvin Hier, fundador do Centro Simon Wiesenthal de Los Angeles, disse à agência Associated Press que o próprio Wiesenthal lhe tinha confessado ter em tempos colaborado com a Mossad, sem dar contudo a ideia de que essa colaboração tinha sido formal e remunerada.

Conforme se lê na biografia, Wiesenthal começou a trabalhar com os serviços secretos israelitas logo em 1948, um ano antes da constituição oficial da Mossad. O sobrevivente do Holocausto engendrou uma operação com o então "departamento de Estado" do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel para capturar Adolf Eichmann, conhecido como "o arquitecto do Holocausto", na localidade austríaca de Altaussee, onde acreditava que ele iria celebrar a passagem de ano com a sua mulher e filhos.

Eichmann não apareceu, mas Wiesenthal nunca desistiu de o procurar. Também nunca mais deixou de fornecer informações à Mossad: em 1953 informou a polícia secreta que Eichmann estava fugido na Argentina. No entanto, só em 1960 é que os serviços operacionais decidiram montar uma nova missão de captura daquele dirigente nazi, que foi detido no dia 21 de Março.

Durante a década de 70, Wiesenthal, a quem a Mossad atribuíra o nome de código "Teocrata", forneceu informação extensiva não só sobre os paradeiros de oficiais nazis (cuja detenção e acusação sempre foi a sua prioridade), mas também da génese de vários grupos neonazis que ameaçavam comunidades judaicas na Europa. Também denunciou uma série de cientistas alemães que trabalhavam no programa militar do Egito.

Fonte: Público20(Portugal)
http://jornal.publico.pt/noticia/04-09-2010/nova-biografia-revela-que-simon-wiesenthal-trabalhava-para-a-agencia-israelita-mossad-20141267.htm

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Poucos falam na resistência a Hitler

Autor de obra lançada em Israel sustenta que, se oficiais rebeldes tivessem assassinado ditador, não seriam “nota de rodapé”

Poucos países tiveram sua existência tão condicionada pela II Guerra Mundial e pelo nazismo quanto Israel, fundado por europeus expatriados e, em grande parte, sobreviventes do Holocausto. Para os historiadores israelenses, o foco de interesse nesse período sempre foi a memória das vítimas e o funcionamento da máquina da morte nazista. No início deste ano, Danny Orbach, 28 anos, nascido em Kfar Saba e formado em história na Universidade de Tel Aviv, destoou dessa tendência ao publicar Valquíria – A Resistência Alemã a Hitler (Yedioth Ahronoth Books, inédito no Brasil).

O livro se detém nos complôs de oficiais alemães contra o ditador, especialmente sobre Claus von Stauffenberg (1907 – 1944), líder da conspiração que dá título ao livro e que inspirou em 2008 um filme estrelado por Tom Cruise. Para o eminente historiador Tom Segev, que resenhou Valquíria para o jornal israelense Haaretz em fevereiro, Orbach “acredita no mito da resistência alemã a Hitler”.

Aluno de doutorado em história em Harvard, nos Estados Unidos, Orbach não foge da polêmica. Ele chegou a peticionar o Yad Vashem, museu israelense do Holocausto, para que o almirante Wilhelm Canaris (1887 – 1945), chefe da Abwehr, agência de espionagem do Reich, fosse reconhecido como Justo entre as Nações, título honorífico concedido por Israel aos que ajudaram a salvar vidas de judeus sob o nazismo. Executado em 1945 pelos nazistas por conexões com a resistência, Canaris colaborou comprovadamente com os Aliados, especialmente a Grã-Bretanha, durante a guerra.

– Canaris não ajudou a salvar apenas um judeu, mas centenas – afirma Orbach, cujos avós maternos, de origem romena, sobreviveram ao Holocausto.

A abordagem controversa de Operação Valquíria sobre a oposição a Hitler na Alemanha se soma a outras obras recentes, como O Göring Esquecido, do australiano William Hastings Burke, sobre as atividades antinazistas de Albert Göring, irmão do marechal Hermann Göring. De Boston, Orbach falou por telefone a Zero Hora:

Zero Hora – Por que a resistência a Hitler no interior da Alemanha lhe atraiu como objeto de estudo?

Danny Orbach – Sempre fui interessado pela II Guerra Mundial. De fato, eu era fascinado pelo tema, não só porque meus avós eram sobreviventes do Holocausto, mas porque o assunto dizia respeito a Israel. Na escola secundária, encontrei livros de história geral da II Guerra e tomei contato com a história dos oficiais alemães que tentaram assassinar Hitler. Na universidade, descobri que havia diferentes complôs políticos com o mesmo objetivo.

ZH – Muitos historiadores se detiveram no fato de que a maioria dos alemães colaborou ativa ou passivamente com Hitler. Esse é o foco, por exemplo, do livro Os Carrascos Voluntários de Hitler, de Daniel Jonah Goldhagen. O que o senhor pensa dessa abordagem?

Orbach – Os envolvidos na resistência a Hitler na Alemanha eram uma pequena minoria. A maioria colaborou com o regime. Mas os historiadores em Israel analisam especialmente a colaboração, e praticamente ninguém ou muito poucos falam na resistência a Hitler. A pesquisa histórica deve analisar tudo, de muitos ângulos. É muito ruim levar adiante uma abordagem de um ponto de vista e negligenciar outro. Muitos historiadores fizeram estudos melhores do que o mencionado (Os Carrascos Voluntários de Hitler). Nele há muitos problemas, que outros pesquisadores apontaram. É muito mais um best-seller do que um estudo histórico.

ZH – O historiador Tom Segev escreveu que a resistência alemã a Hitler não merece mais do que “uma nota de rodapé na história”.

Orbach – Bem, depende do que seja o seu texto principal. (Risos.) Gosto muito de Tom Segev. Entretanto, a fim de entender a complexidade do regime nazista, deveríamos ver também a resistência e não somente a colaboração. Algumas tentativas de assassinato de Hitler falharam por falta de sorte, porque um explosivo não foi detonado ou porque alguém removeu a bomba de Stauffenberg. Se tivessem sido bem sucedidas, a resistência não seria uma nota de rodapé. O sucesso não pode ser o único critério ao se julgar fenômenos históricos. Em muitos países, no passado, no presente e talvez no futuro, seremos confrontados por ditaduras totalitárias como o regime nazista. Não é importante estudar como as resistências agem a fim de entender esse fenômeno no futuro? Segev se detém apenas na Alemanha nazista. Vejo a resistência de forma comparativa.

ZH – Stauffenberg pode ser visto como um opositor de boa-fé?

Orbach – É sabido que havia muitas pessoas sob o regime nazista que discrepavam em questões particulares, mas colaboravam em outras. Um bom exemplo é o do bispo Galen (Clemens von Galen, bispo católico de Münster), que se opunha fortemente à eutanásia, o assassinato de portadores de deficiência, mas não resistia em outros terrenos. Mas, quando se decide assassinar o líder no mais alto escalão de poder, essa é a suprema forma de resistência. É claro que nenhum oposicionista discorda do governo em todos os aspectos. Mas as discordâncias de Stauffenberg foram suficientemente importantes para levá-lo a uma vida perigosa, de autossacrifício, a fim de remover esse regime. É ilusório dizer que ele discrepava em algumas coisas. Stauffenberg – aliás, um líder muito complexo – adotou a suprema forma de resistência, e isso deve ser levado em conta.

ZH – O senhor propôs que Wilhelm Canaris seja considerado um Justo entre as Nações. Por quê?

Orbach – Sim, fiz um requerimento sobre Canaris. O Yad Vashem (Museu do Holocausto, em Israel) tem critérios legais pelos quais define um Justo entre as Nações. O primeiro é que tenha salvo pessoalmente judeus, mesmo um único. Canaris salvou centenas. O segundo é que tenha feito isso por, digamos, razões humanitárias – por exemplo, quem foi pago para isso não é um Justo entre as Nações. Pelo menos alguns dos salvos por Canaris o foram por motivos puramente humanitários, e isso significa, no caso dele, contratá-los como espiões ou como funcionários da agência de inteligência, e há mesmo provas de que muitos dos que foram salvos receberam ordens de não espionar e não se engajar em atividades de inteligência. O terceiro critério é ter arriscado a vida. Há evidências de que ele arriscou consideravelmente a vida. Adolf Eichmann (responsável pelos campos de extermínio) enviou uma carta no final de 1942, e tenho essa carta comigo, acusando a Abwehr de salvar judeus e dizendo que, toda vez que a agência empregara judeus como espiões, a ordem partira de Canaris. A carta foi enviada em 1942, e ele continuou salvando judeus. Foi executado em 1945, não apenas por salvar judeus, mas por estar ligado à resistência. O último critério é não reconhecer como Justo entre as Nações alguém engajado no Holocausto, especificamente no Holocausto contra judeus. Não há nem sombra de evidência de que Canaris tenha se envolvido pessoalmente com o Holocausto. Todas essas evidências o qualificam para ser reconhecido como Justo entre as Nações.

ZH – Como o senhor reage às críticas a sua obra dentro e fora de Israel?

Orbach – Para que o debate sobre o Holocausto seja feito, as diferentes opiniões devem ser consideradas legítimas se estiverem baseadas em fatos. Não podemos fazer um verdadeiro debate histórico sobre fatos que não compreendemos. Coloquemos primeiro os fatos sobre a mesa.

luiz.araujo@zerohora.com.br
POR LUIZ ANTÔNIO ARAUJO

Fonte: Zero Hora
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?edition=14783&local=1§ion=1029&source=a2919278.xml&template=3898.dwt&uf=1

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