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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

As vítimas esquecidas da anatomia nazista

As vítimas esquecidas da anatomia nazi
Victoria Gill. BBC; Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Liane Berkowitz

Liane Berkowitz foi executada pelos nazis
e seu corpo foi utilizado para experimentação
de cientistas anatomistas.
Liane Berkowitz tinha só 19 anos quando foi executada pelos nazis.

Foi presa em 1942 pela Gestapo, a polícia secreta, quando pegava cartazes com mensagens contra a propaganda nazi.

Estava grávida, mas isto só postergou sua execução até depois que desse a luz a seu bebê.

A sombria história de Liane não acabou com sua morte. Seu corpo foi um dos milhares que foram dissecados por anatomistas e utilizados para seus experimentos.

A identidade destas vítimas do horror nazi agora sai a luz graças aos pesquisadores que rastreiam os registros legais para identificar quem acabou nas mesas de trabalho de anatomistas do regime.

Liane foi uma das 182 pessoas cujos cadáveres foram analisados por Hermann Stieve, que naquele momento era um renomado especialista da Universidade de Berlim.

Os nomes completos da chamada "lista de Stieve" – composta principalmente por mulheres – acabam de ser publicados por Sabine Hildebrant, una anatomista alemã que trabalha na Universidade de Michigan.

"O mesmo Stieve elaborou esta lista em 1946", explica a doutora Hildebrant, que levou uma década pesquisando a história da anatomia alemã. O detalhado registro de Stieve com seu macabro trabalho permitiu identificar suas vítimas.

Hildebrant centrou seus esforços para contra as histórias dessas pessoas.

"Queria saber quem eram", disse a pesquisadora consultada pela BBC, "queria que fossem conhecidas outra vez".

Trauma e estresse

Vera Obolensky e Libertas Schulze-Boysen


Muitas das vítimas da lista de Stieve eram mulheres
e membros da resistência, como Vera Obolensky
e Libertas Schulze-Boysen.
Stieve estava interessado especialmente na anatomia reprodutiva. Por isso a maioria de suas vítimas foram mulheres.

"Antes de 1933 podia se estudar os cadáveres de homens que haviam sido executados, mas não mulheres, já que a Alemanha não executava mulheres".

"Mas repentinamente, durante o Terceiro Reich, começaram a fazê-lo".

Cerca da metade dessas mulheres, entre elas Liane Berkowitz, foram condenadas a morte acusadas de traição.

Algumas foram denunciadas à Gestapo por outros cidadãos depois de expressar suas ideias políticas contrárias ao nazismo.

William Seidelman, ex-professor de medicina da Universidade de Toronto, Canadá, também dedicou anos à pesquisa dos laços entre a "medicina e o "assassinato" no Terceiro Reich.

Num artigo acadêmico de 1999 publicado em "Dimensions: A Journal of Holocaust Studies", Seidelman revelou alguns detalhes sobre como Stieve trabalhou em estreita colaboração com a prisão berlinense na qual se realizava as execuções.

"Quando uma mulher em idade reprodutiva ia ser executada, informavam a Stieve, escolhia-se uma data e era comunicada à prisioneira quando ela iria morrer", escreveu o professor Seidelman.

"Stieve estava particularmente interessado nos efeitos do estresse e do trauma psicológico nos ciclos menstruais das mulheres condenadas".

Depois da execução, os órgãos pélvicos da mulher eram extraídos para ser examinados. Stieve publicou relatórios baseados nesses estudos sem nenhum remorso ou desculpa", disse Seidelman.

Stieve se referia aos órgãos que analisava como "material". Suas publicações de então foram as primeiras a sugerir que o estresse - encarnado em nada menos que uma sentença de morte - interrompia o ciclo menstrual.

Em sua missão de revelar a vida das pessoas por detrás desse "material", a doutora Hildebrandt revisou os arquivos pessoais das vítimas de Stieve, que são guardados no museu do Monumento à Resistência Alemã de Berlim.

Hildebrant analisou cada arquivo junto a uma cópia da lista de Stieve que é mantida no Ministério de Justiça alemão, e identificou a cada uma das pessoas.

Comprovou os nomes de 174 mulheres e oito homens da lista, as datas exatas de nascimento e óbito, as nacionalidades, as razões de sua execução e qualquer outra informação pessoal que pode encontrar.

Alguns dos arquivos contém cartas que expressam os últimos desejos dos prisioneiros condenados, como os de "se reunir com seus entes queridos na morte", segundo explica a pesquisadora.

Uma dessas cartas era de Libertas Schulze-Boysen, que havia sido membro do partido nazi, mas em 1937 se uniu à resistência alemã e documentou e coletou evidências fotográficas dos crimes do nacional-socialismo.

Libertas foi presa em setembro de 1942 e condenada à morte por traição em dezembro do mesmo ano.

Numa carta para sua mãe, escreveu: "Como último desejo pedi que lhe entreguem minha 'substância material' (restos mortais). Se for possível, enterrem-me em um lugar bonito, ensolarado e rodeado pela natureza".

EXPERIMENTOS NAZIS

De acordo com o historiador médico Paul Weindling, quase 25.000 vítimas dos experimentos científicos nazis foram identificadas.

Weindling disse que houve distintas "fases" desses experimentos". A primeira esteve ligada à eugenia e à esterilização forçada.

A segunda fase coincidiu com o início da guerra. "Os doutores começaram a experimentar com pacientes de hospitais psiquiátricos", escreveu o professor Weindling em uma reportagem à BBC. "Fizeram experimentos esporádicos em campos de concentração como o de Sachsenhausen, próximo de Berlim, e observações antropológicas em Dachau."

A terceira fase começou em 1942, quando a SS (a polícia militar nazi) e o exército alemão tomaram o controle da experimentação científica. Aumentou o número de provas nos quais se inocularam doenças mortais como malária e tifo, esta uma doença epidêmica para milhares de vítimas.

Durante uma quarta fase em 1944-45, explica o doutor Weindling, "os cientistas sabiam que a guerra estava perdida mas continuaram com seus experimentos".

O MACABRO ATLAS DE PERNKOPF

Eduard Pernkopf, diretor de Anatomia da Universidade de Viena entre 1933 e 1945 e membro do Partido Nazi, utilizou cadáveres de prisioneiros executados para seus estudos e registrou isso em seu atlas de anatomia.

As detalhadas ilustrações que ele detinha o fizeram famoso entre os estudantes de anatomia.

Pernkopf trabalhou 18 horas diárias dissecando cadáveres enquanto uma equipe de artistas criava as imagens. Levou mais de vinte anos para terminar seu livro.

Tal como Sabine Hildebrandt escreveu em um artigo de 2006 na publicação Clinical anatomy, este projeto revelou "o traslado de ao menos 1.377 corpos de pessoas executadas no Instituto Anatômico de Viena" durante o Terceiro Reich.

"O possível uso desses cadáveres como modelos não se pode descartar em ao menos metade das quase 800 lâminas do atlas".

História obscura

Hildebrant disse que sua investigação deixou "dolorosamente" em evidência o pouco que interessava então a anatomistas o destino das pessoas cujos corpos estavam dissecando.

Por associação, é uma mancha na pesquisa anatômica alemã.

Dos 31 departamentos de anatomia na Alemanha e nos territórios ocupados entre 1933 e 1945, a especialista descobriu que "em todos eles, sem exceção, receberam cadáveres das câmaras de execução".

Este tema no chamou a atenção pública senão há apenas duas décadas.

O professor Seidelman conta que em 1989 um acadêmico anatomista da Universidade de Tubinga indicou em uma conferência que os espécimes que estavam mostrando eram de trabalhadores escravos poloneses e russos executados durante o Terceiro Reich.

Segundo explicou Seidelman à BBC, "os estudantes estavam comocionados e exigiram uma explicação".

A universidade iniciou uma investigação formal. Todas as mostras anatômicas de "origem incerta ou suspeita" foram sepultadas em uma seção especial do cemitério de Tubinga e em 8 de julho de 1990 foi realizada uma cerimônia comemorativa.

Várias universidades realizaram pesquisas formais sobre a obtenção de corpos durante o auge do nazismo em seus próprios departamentos de anatomia.

Instituições da Áustria estiveram envolvidas.

"A Universidade de Viena teve um bonde fúnebre especial que transportava os cadáveres da sala de execução do tribunal regional para o instituto de anatomia", disse o professor Seidelman.

Eduard Pernkopf, que foi diretor de anatomia entre 1933 e 1945, deixou um legado impresso em um tomo acadêmico de duvidosa fama. Muitas das ilustrações incrivelmente detalhadas do atlas de Pernkopf retratam os corpos de vítimas do terror nazi.

Seidelman disse que os pesquisadores estão ainda em "uma fase muito prematura do processo de revelar as histórias daquelas pessoas que se converteram em 'material experimental'".

"Converteram-se em objetos inanimados", disse.

Hildebrant afirma que este tema ainda projeta uma sombra sobre a ciência anatômica e opina que "a anatomia alemã do pós-guerra foi construída em parte sobre os corpos das vítimas".

"É hora de devolver os nomes aos números, de dar rostos e biografias às vítimas da anatomia do Terceiro Reich para recordar sua humanidade e as injustiças que tiveram que enfrentar", conclui.

Fonte: BBC Mundo (em espanhol)
Título original: Las víctimas olvidadas de la anatomía nazi
http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2013/02/130128_historia_victimas_anatomistas_nazis_np.shtml
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Poucos falam na resistência a Hitler

Autor de obra lançada em Israel sustenta que, se oficiais rebeldes tivessem assassinado ditador, não seriam “nota de rodapé”

Poucos países tiveram sua existência tão condicionada pela II Guerra Mundial e pelo nazismo quanto Israel, fundado por europeus expatriados e, em grande parte, sobreviventes do Holocausto. Para os historiadores israelenses, o foco de interesse nesse período sempre foi a memória das vítimas e o funcionamento da máquina da morte nazista. No início deste ano, Danny Orbach, 28 anos, nascido em Kfar Saba e formado em história na Universidade de Tel Aviv, destoou dessa tendência ao publicar Valquíria – A Resistência Alemã a Hitler (Yedioth Ahronoth Books, inédito no Brasil).

O livro se detém nos complôs de oficiais alemães contra o ditador, especialmente sobre Claus von Stauffenberg (1907 – 1944), líder da conspiração que dá título ao livro e que inspirou em 2008 um filme estrelado por Tom Cruise. Para o eminente historiador Tom Segev, que resenhou Valquíria para o jornal israelense Haaretz em fevereiro, Orbach “acredita no mito da resistência alemã a Hitler”.

Aluno de doutorado em história em Harvard, nos Estados Unidos, Orbach não foge da polêmica. Ele chegou a peticionar o Yad Vashem, museu israelense do Holocausto, para que o almirante Wilhelm Canaris (1887 – 1945), chefe da Abwehr, agência de espionagem do Reich, fosse reconhecido como Justo entre as Nações, título honorífico concedido por Israel aos que ajudaram a salvar vidas de judeus sob o nazismo. Executado em 1945 pelos nazistas por conexões com a resistência, Canaris colaborou comprovadamente com os Aliados, especialmente a Grã-Bretanha, durante a guerra.

– Canaris não ajudou a salvar apenas um judeu, mas centenas – afirma Orbach, cujos avós maternos, de origem romena, sobreviveram ao Holocausto.

A abordagem controversa de Operação Valquíria sobre a oposição a Hitler na Alemanha se soma a outras obras recentes, como O Göring Esquecido, do australiano William Hastings Burke, sobre as atividades antinazistas de Albert Göring, irmão do marechal Hermann Göring. De Boston, Orbach falou por telefone a Zero Hora:

Zero Hora – Por que a resistência a Hitler no interior da Alemanha lhe atraiu como objeto de estudo?

Danny Orbach – Sempre fui interessado pela II Guerra Mundial. De fato, eu era fascinado pelo tema, não só porque meus avós eram sobreviventes do Holocausto, mas porque o assunto dizia respeito a Israel. Na escola secundária, encontrei livros de história geral da II Guerra e tomei contato com a história dos oficiais alemães que tentaram assassinar Hitler. Na universidade, descobri que havia diferentes complôs políticos com o mesmo objetivo.

ZH – Muitos historiadores se detiveram no fato de que a maioria dos alemães colaborou ativa ou passivamente com Hitler. Esse é o foco, por exemplo, do livro Os Carrascos Voluntários de Hitler, de Daniel Jonah Goldhagen. O que o senhor pensa dessa abordagem?

Orbach – Os envolvidos na resistência a Hitler na Alemanha eram uma pequena minoria. A maioria colaborou com o regime. Mas os historiadores em Israel analisam especialmente a colaboração, e praticamente ninguém ou muito poucos falam na resistência a Hitler. A pesquisa histórica deve analisar tudo, de muitos ângulos. É muito ruim levar adiante uma abordagem de um ponto de vista e negligenciar outro. Muitos historiadores fizeram estudos melhores do que o mencionado (Os Carrascos Voluntários de Hitler). Nele há muitos problemas, que outros pesquisadores apontaram. É muito mais um best-seller do que um estudo histórico.

ZH – O historiador Tom Segev escreveu que a resistência alemã a Hitler não merece mais do que “uma nota de rodapé na história”.

Orbach – Bem, depende do que seja o seu texto principal. (Risos.) Gosto muito de Tom Segev. Entretanto, a fim de entender a complexidade do regime nazista, deveríamos ver também a resistência e não somente a colaboração. Algumas tentativas de assassinato de Hitler falharam por falta de sorte, porque um explosivo não foi detonado ou porque alguém removeu a bomba de Stauffenberg. Se tivessem sido bem sucedidas, a resistência não seria uma nota de rodapé. O sucesso não pode ser o único critério ao se julgar fenômenos históricos. Em muitos países, no passado, no presente e talvez no futuro, seremos confrontados por ditaduras totalitárias como o regime nazista. Não é importante estudar como as resistências agem a fim de entender esse fenômeno no futuro? Segev se detém apenas na Alemanha nazista. Vejo a resistência de forma comparativa.

ZH – Stauffenberg pode ser visto como um opositor de boa-fé?

Orbach – É sabido que havia muitas pessoas sob o regime nazista que discrepavam em questões particulares, mas colaboravam em outras. Um bom exemplo é o do bispo Galen (Clemens von Galen, bispo católico de Münster), que se opunha fortemente à eutanásia, o assassinato de portadores de deficiência, mas não resistia em outros terrenos. Mas, quando se decide assassinar o líder no mais alto escalão de poder, essa é a suprema forma de resistência. É claro que nenhum oposicionista discorda do governo em todos os aspectos. Mas as discordâncias de Stauffenberg foram suficientemente importantes para levá-lo a uma vida perigosa, de autossacrifício, a fim de remover esse regime. É ilusório dizer que ele discrepava em algumas coisas. Stauffenberg – aliás, um líder muito complexo – adotou a suprema forma de resistência, e isso deve ser levado em conta.

ZH – O senhor propôs que Wilhelm Canaris seja considerado um Justo entre as Nações. Por quê?

Orbach – Sim, fiz um requerimento sobre Canaris. O Yad Vashem (Museu do Holocausto, em Israel) tem critérios legais pelos quais define um Justo entre as Nações. O primeiro é que tenha salvo pessoalmente judeus, mesmo um único. Canaris salvou centenas. O segundo é que tenha feito isso por, digamos, razões humanitárias – por exemplo, quem foi pago para isso não é um Justo entre as Nações. Pelo menos alguns dos salvos por Canaris o foram por motivos puramente humanitários, e isso significa, no caso dele, contratá-los como espiões ou como funcionários da agência de inteligência, e há mesmo provas de que muitos dos que foram salvos receberam ordens de não espionar e não se engajar em atividades de inteligência. O terceiro critério é ter arriscado a vida. Há evidências de que ele arriscou consideravelmente a vida. Adolf Eichmann (responsável pelos campos de extermínio) enviou uma carta no final de 1942, e tenho essa carta comigo, acusando a Abwehr de salvar judeus e dizendo que, toda vez que a agência empregara judeus como espiões, a ordem partira de Canaris. A carta foi enviada em 1942, e ele continuou salvando judeus. Foi executado em 1945, não apenas por salvar judeus, mas por estar ligado à resistência. O último critério é não reconhecer como Justo entre as Nações alguém engajado no Holocausto, especificamente no Holocausto contra judeus. Não há nem sombra de evidência de que Canaris tenha se envolvido pessoalmente com o Holocausto. Todas essas evidências o qualificam para ser reconhecido como Justo entre as Nações.

ZH – Como o senhor reage às críticas a sua obra dentro e fora de Israel?

Orbach – Para que o debate sobre o Holocausto seja feito, as diferentes opiniões devem ser consideradas legítimas se estiverem baseadas em fatos. Não podemos fazer um verdadeiro debate histórico sobre fatos que não compreendemos. Coloquemos primeiro os fatos sobre a mesa.

luiz.araujo@zerohora.com.br
POR LUIZ ANTÔNIO ARAUJO

Fonte: Zero Hora
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?edition=14783&local=1§ion=1029&source=a2919278.xml&template=3898.dwt&uf=1

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Morre aos 98 anos ativista antinazista Freya Von Moltke



Washington - A alemã Freya von Moltke, reconhecida ativista antinazista durante a Segunda Guerra Mundial, morreu na sexta-feira passada, aos 98 anos, nos Estados Unidos, onde vivia desde os anos 60, informou nesta segunda-feira a imprensa local. Helmuth von Moltke, filho de Freya, disse ao jornal "Lebanon Valley News" que sua mãe morreu após não resistir a uma infecção viral. Seu velório está marcado para a próxima sexta-feira em uma igreja de Norwich, no estado de Vermont.


O primeiro marido da ativista, Helmuth James Graf von Moltke, foi um dos fundadores do grupo de resistência Círculo de Kreisau e morreu nas mãos dos nazistas em 1945, acusado de traição por seu trabalho em prol das vítimas do regime.O casal, formado por dois advogados, se destacou pela liderança e militância no grupo de resistência, que chegou a incluir líderes religiosos, economistas e diplomatas.Freya von Moltke, nascida na Alemanha em uma família de banqueiros, organizou reuniões para discutir o futuro do país após a queda do regime de Adolf Hitler.A ativista se mudou com os dois filhos para a Polônia e posteriormente à África do Sul, onde passou a contar a luta da resistência em diversas conversas e relatos escritos.Ela foi para Norwich em 1960, onde viveu com Eugen Rosenstock-Huessy, um acadêmico da universidade Dartmouth que, como muitos nessa época, escapou da Alemanha após a ascensão dos nazistas.Rosenstock-Huessy morreu em 1973, mas Von Moltke continuou promovendo os feitos dele e de seu marido.O antigo lar dos Von Moltke é agora um centro de serviços para jovens e para a promoção da integração europeia.
Fonte: Último Segundo (IG)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Enzensberger narra a vida do general que disse não a Hitler

Em 'Hammerstein' ou 'A Obstinação', autor alemão reconta história do país pela ótica familiar

Antonio Gonçalves Filho, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Como Döblin, o poeta alemão Hans Magnus Enzensberger, que está em São Paulo, onde faz palestras amanhã e terça, às 19h30, no Instituto Goethe, poderia ter contado a história da República de Weimar e da ascensão de Hitler por meio de um romance. Não o fez. Döblin optou pela narrativa épica. Enzenzberger elegeu a investigação jornalística combinada com um diálogo entre vivos e mortos - inventado, mas baseado em pesquisas. No caso, trata-se de uma conversa com os contemporâneos de uma das figuras de proa da República de Weimar, o general Kurt von Hammerstein-Equord, personagem do novo livro de Enzensberger, Hammerstein ou A Obstinação (Companhia das Letras, tradução de Samuel Titan Jr., 344 págs., R$ 53).

A obstinação do título diz respeito ao repúdio perpétuo do barão, general de infantaria e comandante do exército alemão de 1930 a 1934, à figura de Hitler. Contra o oportunismo de seus colegas que ajudaram o ditador a erguer a máquina de guerra chamada Wermacht, Von Hammerstein resistiu ao canto da sereia e pagou alto preço por isso, sendo chutado para o banco dos reservas um ano depois de Hitler ser nomeado chanceler.

Hammerstein ou a Obstinação é uma conclusão involuntária de Berlin Alexanderplatz, no sentido de revelar os bastidores políticos que levaram os alemães a apoiar um lunático. Curiosamente, o livro de Enzensberger começa em 1929, quando o livro de Döblin foi publicado. Nesse mesmo ano, o herói de Hammerstein foi escolhido chefe do Estado Maior das Forças Armadas, sendo rechaçado por partidos de direita, que não o viam como "patriota" - o militar, conhecido como o "general vermelho", era atacado como esquerdista pelo Völkischer Beobacher, jornal dos nazistas.

Enzensberger conta a história da Alemanha sob o nazismo por meio da história pessoal de Hammerstein, um pouco à maneira de Simon Schama no recente O Futuro da América, em que o historiador elege a figura do general Montgomery C. Meigs, herói da Guerra Civil americana, como ponto de partida para entender a tradição bélica dos EUA. Com melhores resultados do que Schama, evoque-se. Embora tenha começado sua pesquisa um pouco tarde, uma vez que muitas testemunhas dessa história já haviam morrido, o poeta consegue apresentar uma explicação mais que razoável para o colapso da República de Weimar, o fracasso da Resistência e o fascínio que até nobres como os filhos do general tinham pela utopia comunista. De certo modo, os filhos seguiram em frente na luta contra Hitler, engajando-se na Resistência. Enzensberger conclui que, sem famílias como as do general Hammerstein, a história alemã seria tragicamente outra.

Veja também: Leia trecho do livro

Fonte: Estadão
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,enzensberger-narra-a-vida-do-general-que-disse-nao-a-hitler,387172,0.htm

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Os "Piratas" da resistência

Os "Piratas" da resistência

Piratas Edelweiss: Jean Jülich à direita, com o violão

Embora ainda considerados pela história oficial criminosos comuns, os Piratas Edelweiss escreveram um capítulo na história da resistência ao nazismo. Jovens e avessos ao regime, eles sonhavam, entre outros, com o longínquo Rio de Janeiro.

A origem do nome não é certa. O que se sabe é que o movimento juvenil conhecido como Os Piratas Edelweiss (Edelweiss Piraten) não teve final feliz. Em novembro de 1944, a Gestapo enforcou 13 adolescentes nas dependências de uma residência em Colônia. Os adeptos daquilo que simbolizava uma alternativa à Juventude de Hitler (Hitler Jugend), sabotadores do regime nazista, arriscaram não apenas serem detidos e torturados, mas suas próprias vidas.

Hoje, 60 anos depois, a história oficial ainda registra os jovens Piratas Edelweiss como meros ladrões e criminosos. Seus atos de resistência, embora ignorados pelas autoridades na Alemanha, já obtiveram o reconhecimento até mesmo do Estado de Israel. Em 1984, o Memorial Yad Vashem prestou uma homenagem a Jean Jülich, um dos sobreviventes do grupo.

Recuperando registros da memória

Jean Jülich

Enquanto as autoridades em Colônia debatem sobre a possibilidade de reescrever a história da resistência feita pelos Piratas Edelweiss, Jülich já publicou suas memórias há cerca de um ano, sobre as quais se produziu um documentário –...Piratas Edelweiss, eles são fiéis. Além disso, no CD Foi em Xangai bandas de Colônia interpretam canções dos Piratas. Um DVD e um livro sobre o assunto completam o projeto. Todas as obras são fruto de um trabalho árduo, uma vez que todo o material foi recolhido através da lembrança dos sobreviventes.

Estima-se que havia, nos anos que antecederam o fim da Segunda Guerra Mundial, cerca de três mil Piratas Edelweiss vivendo em Colônia e mais centenas de outros nas cidades vizinhas. Estes jovens não estavam aliados a nenhuma facção política ou organização religiosa, nem tampouco o movimento possuía uma estrutura organizada.

O que tinham em comum era não se identificarem com a ideologia propagada pela Juventude de Hitler, após a ascensão dos nazistas nos anos 30. Eram, em princípio, um grupo de adolescentes rebeldes como outro qualquer. A diferença é que viviam sob um sistema extremamente autoritário, sendo que muitos deles acabaram pagando o preço disso com suas próprias vidas.

Subcultura própria

Piratas Edelweiss

Segundo Nicola Wenge, historiadora do Centro de Documentação sobre o Nazismo em Colônia (cuja sede fica em um dos antigos quartéis da Gestapo), "os Piratas Edelweiss criaram sua própria subcultura nas regiões do Reno e do Ruhr, ao usar determinado estilo de roupas, cantar suas baladas românticas e, mais tarde, canções antinazistas".

Ao contrário do que determinavam as normas do regime, o movimento permitia a interação entre garotos e garotas, que viajavam juntos pela região, levando com freqüência um violão e uma gaita. "Por esta razão, eram perseguidos pela Juventude de Hitler, pela polícia e pela Gestapo. E até mesmo pela Justiça, que os tratava como criminosos e delinqüentes sexuais", conta Wenge.

Sabotagem e riscos

Piratas Edelweiss

Quando os aliados bombardearam Colônia e a ordem pública foi se desestabilizando aos poucos, os Piratas Edelweiss começaram a sabotar fábricas de munição e a colocar, por exemplo, água com açúcar nos tanques de gasolina de carros pertencentes aos nazistas. Além disso, distribuíam folhetos de propaganda contra o regime. Em 1944, porém, vários adeptos do movimento foram presos. Jülich, que na época tinha apenas 15 anos, passou quatro meses preso em uma cela em Colônia, tendo sido interrogado e torturado pela Gestapo. Outros 13 companheiros dele foram enforcados, o mais jovem deles tinha apenas 16 anos.

Culpa coletiva e exceções

Para a historiadora Wenge, os Piratas Edelweiss deveriam ser reconhecidos oficialmente como vítimas do nazismo, embora ela alerte para uma certa cautela no uso do termo resistência neste contexto. "Eu descreveria o movimento como uma conduta de oposição", opina Wenge, lembrando porém que distribuir panfletos, disseminar slogans contra o regime nos muros da cidade ou remover bandeiras nazistas eram ações que exigiam uma boa dose de coragem.

O reconhecimento do que foi feito pelos Piratas Edelweiss toca mais uma vez em um tema sensível na Alemanha: a culpa coletiva pelos horrores cometidos durante o holocausto da Segunda Guerra. Enquanto muitos defendem a idéia de que é preciso reaver a memória sobre o que foi um movimento de resistência ao nazismo, outros aconselham cautela em relação à tendência de supervalorizar comportamentos que foram uma exceção, se comparados ao da maioria da população na época.

Rumo ao "Rio de Schaniro"?

Rio de Janeiro: aportou aqui algum Pirata Edelweiss?

O desejo de abandonar a Alemanha nazista foi certamente um dos elementos que acompanharam estes adolescentes durante o período. No porão da casa onde estiveram presos os Piratas Edelweiss, pode-se ler a inscrição Rio de Schaniro encravada na parede. "Supõe-se que se trata de uma referência a Quando as Sirenes Ressoam, uma das várias canções que falam de lugares longínquos", diz Jan Krauthäuser, um dos responsáveis pelo projeto de produção do CD Foi em Xangai.

"Esta postura não é atípica na história da cultura alemã e durante a repressão, através da ditadura nazista, foi ainda mais alimentada. Sabemos de várias vítimas do nazismo, que durante ou depois da guerra procuraram outros lugares para viver. Mas se, concretamente neste caso, há ex-Piratas Edelweiss que chegaram a ir para o Rio ou para outros lugares do Brasil não sabemos. Para nós, seria muito interessante entrar em contato com possíveis Piratas Edelweiss brasileiros, se é que eles existem", completa Krauthäuser.

jm / sv

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,1401132,00.html

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Salvadores Alemães 10 - Martin Niemöller - Herói da Resistência alemã

Martin Niemöller. Herói da Resistência alemã. 6 de março. Aniversário de seu falecimento

"Primeiro vieram atrás dos comunistas,
mas eu não era comunista
não ergui a voz.

Logo depois vieram pelos socialistas e os sindicalistas,
mas como nenhuma das duas coisas,
tampoco ergui a voz(contra).

Depois vieram atrás dos judeus,
e como eu não sou judeu,
tampouco ergui a voz

E quando vieram atrás de mim,
já não restava ninguém que levantasse a voz
para me defender.
"

Martin Niemöller é, talvez, a figura emblemática da resistência alemã ao Terceiro Reich. Havia nascido em Lippstadt, Westphalia, em14 de janeiro de 1892. Foi tenente de um submarino durante a Primeira Guerra Mundial e por seus serviços recebeu a condecoração 'Pour le Mérite'.

Finalizada a contenda dedicou suas horas ao estudo da teologia. Em 1924 foi ordenado pastor. Entre 1931 e 1937 teve a seu cargo a igreja Berlim-Dahlem e, como muitos outros alemães protestantes, deu as boas-vindas ao nazismo quando assumiu o poder em 1933. Acreditava, como acreditou a maioria no começo, que Hitler encarnava o renascimento do nacionalismo alemão, mitologia desvalorizada por conta da derrota e dos acordos de Versailles.

Sua prematura autobiografia, 'Do submarino ao púlpito´ ('Vom U-Boot zur Kanzel'), de 1933, foi profusamente elogiada pela imprensa por suas ideias e prosa patrióticas.

Niemöller compartilhava com o regime nazi o desprezo pelos comunistas e pela República de Weimar sobre a qual ele mesmo diz que só havia dado à Alemanha 'catorze anos de obscuridade'.

Desencanto e desobediência

Mas rapidamente, contudo, em meados de 1934, a ilusão de Niemöller se desvaneceu quando Hitler subordinou a Igreja Evangélica da Alemanha com a colaboração de Ludwig Müller, o bispo do Reich. Instaurou-se um tipo de neo-paganismo. O Antigo Testamento foi abandonado. Todos os pastores foram obrigados a jurar lealdade ao Reich sob a ordem de 'Um Povo, Um Reich, Uma Fé'. Aqueles que se opuseram a aberração foram presos e muitos morreram nas câmaras de gás. 'O Nacional-Socialismo e o Cristianismo são irreconciliáveis', repetia Martin Bormann, à sombra de Hitler.

Com o objetivo de preservar a independência da Igreja Luterana dos avanços do poder totalitário, Niemöller fundou em 1934 a Liga Pastoral de Emergência (Pfarrernotbund) e assumiu a condução da Igreja Confessional (Bekennende Kirche), movimento opositor que se diferenciou claramente dos cristãos simpatizantes do nazismo.

Em março no Sínodo Geral de maio de 1934, a Igreja Confessional se declarou como a legítima representante do protestantismo na Alemanha e atraiu para as suas fileiras mais de sete mil pastores. Com conhecimento de causa de quais eram os planos que a autoridade tinha para ele, Niemöller disse em um de seus últimos sermões no Reich: 'Devemos usar nossos poderes para nos libertamos do braço opressor da autoridade assim como o fizeram os Apóstolos de outrora. Não estamos dispostos a guardar silêncio por mando do homem quando Deus nos ordenar a falar.'

Hitler, furioso com a atitude de aberta rebeldia do outrora elogiado ministro da fé, ordenou sua prisão no 1º de julho de 1937. Levado a juízo em março de 1938, Niemöller foi considerado culpado de ações subversivas contra o Estado e o condenou a sete meses de reclusão e a pagar uma multa de dois mil marcos.

Logo após de cumprir a pena, Niemöller continuou praticando sua tenaz desobediência e foi novamente preso. Desta vez a condenação foi mais dura e resultou em ter que passar sete anos preso no campo de concentração de Sachsenhausen sob a figura legal de 'custódia preventiva' e, por ordem de Hitler, como 'prisioneiro pessoal do Führer'. As tropas aliadas o libertaram em 1945. Nesse mesmo ano e durante uma de suas aulas, já restituído à vida acadêmica, um aluno, atordoado pelo relato de Niemöller sobre o sucedido na Alemanha, perguntou-lhe como tudo isso havia sido possível. Logo depois de meditar alguns segundos, respondeu-lhe com o famoso poema que inicia este artigo.

Em 1947 foi eleito presidente da Igreja Protestante em Hessen e Nassau, cargo que ocupou até seu retiro em 1964, com a idade de setenta e dois anos.

Pacifista consumado, dedicou os últimos anos de sua vida a pregar sobre o perigo das armas nucleares, atividade que o conduziu a múltiplos encontros com políticos e organizadores do bloco soviético. Morreu em Wiesbaden, em 6 de março de 1984.

Buenos Aires e Berlim, cidades irmãs

A Fundação Internacional Raoul Wallenberg relembra Niemöller e seu exemplo de vida. Além das mundialmente conhecidas figuras da resistência alemã houve outras muitas pessoas que, de uma ou outra forma, desobedeceram flagrantemente o mandato do Terceiro Reich. Junto com o Centro de Estudos sobre Antissemitismo da Universidade Tecnológica de Berlim, conduzido pelo professor Wolfgang Benz e dirigido academicamente pela Dra. Beate Kosmala, difundimos o produto de uma investigação que até o momento tem arrecadado dados fidedignos sobre mais de três mil pessoas, em sua maioria berlinenses, que auxiliaram a judeus e outros perseguidos durante o império do Nacional-Socialismo.

Por sua parte, a Igreja Evangélica da Alemanha, numa decisão sem precedentes, tem resolveu colocar na Igreja do Pai Nosso da capital alemã(Vaterunser-Kirche) uma réplica do Mural Comemorativo das Vítimas do Holocausto. Este símbolo de reconciliação foi instalado em 1997 na Capela da Virgem de Luján da Catedral Metropolitana pelo Cardeal Antonio Quarracino, em instâncias da nossa organização. Berlim será assim a segunda metrópole no mundo a hospedar uma lembrança dos assassinados na Shoá dentro de um templo cristão, privilégio até agora ostentado só pela cidade de Buenos Aires.

* Baruj Tenembaum é fundador da Fundação Internacional Raoul Wallenberg. Nova York, março de 2002.

Fonte: The International Raoul Wallenberg Foundation (website, seção em espanhol)
http://www.raoulwallenberg.net/?es/salvadores/rescate/martin-niemoller-heroe.504021.htm
Foto (AP/Deutsche Welle): O pastor Martin Niemoeller em 14.01.1977, dia do seu 85º aniversário
Tradução: Roberto Lucena

Último post da série Salvadores Alemães que começou aqui:
Salvadores Alemães 1 - Franziska Bereit
http://holocausto-doc.blogspot.com/2007/09/salvadores-alemaes-01-franziska-bereit.html

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