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quarta-feira, 21 de junho de 2017

Morre o historiador e hispanista britânico Hugh Thomas

Desde 1994 era membro da "Real Academia de la Historia"
e em 2001 recebeu a "Gran Cruz de la Orden
de Isabel la Católica"
O historiador e hispanista bitânico Hugh Thomas faleceu este domingo em sua casa emn Londres, aos 85 anos, segundo informou o diário 'ABC', com o qual colaborava.

Thomas, nasceu na cidade de Windsor em 1931 e foi educado nas universidades de Cambridge (Reino Unido) e Sorbone (Paris), escreveu duas dezenas de obras, entre as que destacam "El Imperio español, de Colón a Magallanes" (O Império espanhol, de Colombo a Magalhães), "La conquista de México" (A conquista do México), "El Imperio español de Carlos V" (O Império espanhol de Carlos V) e "El señor del mundo: Felipe II y su imperio" (O senhor do mundo: Felipe II e seu império). Contudo, na Espanha é conhecido principalmente por conta de "La Guerra Civil Española" (A Guerra Civil espanhola), publicado pela primeira vez em 1961, revisada pela última vez em 2011 e traduzida para 15 idiomas.

Desde 1994 era membro da Real Academia de la Historia e em 2001 recebeu a "Gran Cruz de la Orden de Isabel la Católica". Também era, desde 2013, membro da "Real Academia Sevillana de Buenas Letras" e em 2014 recebeu a Gran Cruz de la Orden de Alfonso X el Sabio".

Europa Press

Fonte: Público (Espanha)
http://www.publico.es/culturas/muere-historiador-e-hispanista-britanico.html
Tradução: Roberto Lucena

Observação: pra não passar em branco, uma vez que não foi possível publicar na ocasião, há mais de um mês atrás. O livro "A guerra civil espanhola" foi lançado no Brasil décadas atrás, é razoavelmente conhecido (do público que lê sobre segunda guerra). Não lembro se o livro foi relançado.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Paul Preston publica "A destruição da democracia na Espanha" (1978)

Entrevista com o historiador britânico (jornal El País)
Juan Cruz; 9 JUN 1978

Paul Preston, historiador britânico especializado em questões espanholas, apresenta hoje no hotel Princesa Plaza, de Madrid, sua última obra, "A destruição da democracia na Espanha" (La destrucción de la democracia en España), que será comentada no citado ato pelo líder socialista Felipe González. O livro, subintitulado como "Reacción, reforma y revolución en la Segunda República" (Reação, reforma e revolução na Segunda República), foi traduzido por Jerónimo Gonzalo e editado por Turner.

Na atualidade, o professor Preston ensina na Queen Mary College, da Universidade de Londres. Estudou sua especialidade - História Moderna - na Universidade de Oxford e agora prepara um amplo estudo sobre a resistência da esquerda espanhola ao franquismo. A destruição da democracia na Espanha, diz Paul Presto, foi para mim a obra mais importante entra as que escrevi. Nasce na realidade da tese doutoral que apresentei em Oxford sobre as conspirações monárquicas contra a República espanhola. Depois de muito trabalho, dei-me conta de que o assalto direitista contra a República não provinha somente dos grupos violentos. Havia dois assaltos direitistas. Um era violento, na realidade, e tinha como fim o estabelecimento por armas de um Estado corporativista autoritário".

"A outra ofensiva direitista contra a República seguiu uma tática legalista para destruir o regime democrático imperante. Ao terminar minha investigação me dediquei a analisar os grupos legalistas de direita, desde a CEDA aos radicais do sul da Espanha. Estudadas as atividades desses grupos, observei o impacto que tais atividades tinham na esquerda de então".

O livro serviu a Paul Preston para concretar as causas determinantes da guerra civil e para fazer um exame amplo da oligarquia espanhola. Esta investigação, além disso, resultou-lhe especialmente útil para seus trabalhos sobre o franquismo. Prova disto é que o livro "Spain in crisis" (Espanha em crise), cuja preparação ele dirigiu e que foi publicada na Inglaterra há dois anos. A edição espanhola está próxima. Na Itália ele já foi publicado.

"Da preparação da minha tese e de minha simpatia pela causa republicana nasceu também meu estudo sobre a esquerda espanhola e sua resistência ao franquismo. Neste volume, que agora preparo, faz-se especial fincar pé no papel que teve o Partido Comunista nessa atitude de resistência".

Paul Preston, que viveu a época republicana só como historiador - agora tem algo mais de trinta anos -, estima que "há implicações claras neste livro para a atualidade", ainda que matiza seu critério.

"A Espanha dos anos trinta - diz o professor Preston - era um país fundamentalmente agrário. Ante essas estruturas, o Partido Socialista e o de Esquerda Democrática tentaram fazer reformas básicas, humanitárias, para melhorar a situação cotidiana dos mais frágeis. Esses intentos reformistas repercutiram logo numa direita latifundiária agressiva e selvagem, que provocou reações muito violentas. Agora a situação econômica mudou de modo radical. Ainda assim, segue havendo uma esquerda - o Partido Comunista e o Partido Socialista - que volta a se plantar a tarefa de fazer reformas básicas, depois do estabelecimento da democracia burguesa, que para a esquerda é o contexto mais adequado para chegar a outras formas de sociedade, também democráticas, mas socialistas".

"Se os intentos reformistas se produziram agora", diz o professor Preston, "quando existe uma profunda crise econômica, poderiam provocar reações fascistas ou autoritárias, similares àquelas que produziria um revolucionarismo aberto. Essa é a situação que devem ter em conta o socialismo e o eurocomunismo na circunstância espanhola".

* Este artigo apareceu na edição impressa de Sexta-Feira, 9 de junho de 1978

Fonte: versão original (castelhana) do El País (até o momento este texto não saiu na "versão" brasileira deste jornal, por isso tomei a liberdade de traduzir)
http://elpais.com/diario/1978/06/09/cultura/266191209_850215.html
Título original: Paul Preston publica "La destrucción de la democracia en España"
Tradução: Roberto Lucena
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Observação 1: este texto estava arquivado há algum tempo (é um texto originalmente de 1978), e infelizmente tem muita coisa em comum com o que se passa no Brasil atualmente. Aos que acham que este golpe branco pode acabar em pouco tempo, a ditadura de Franco durou décadas com um legado de atraso (retrocesso) pesado pra Espanha, só superado (em parte) por uma coincidência conjuntural de terem entrado pra futura União Europeia.
Tem muito "idealista" tosco no Brasil, que acredita em qualquer asneira de "mudança pela mudança" (sem base real pra isso), principalmente na extrema-esquerda (tem uma extrema-esquerda ligada ao PSOL e cia que são incrivelmente ridículos e débeis, liberais mal assumidos) e que vai mudar subestimando as forças políticas fortes e retrógradas do Estado brasileiro. Por conta destas cretinices (a principal delas, mas não a única, aquelas marchas de 2013) o país se vê mergulhado numa encruzilhada política (eu iria comentar isso em outro post mas como este texto tem muito a ver com o presente do país, antecipei algo aqui).

"Ah, mas o golpe não vai sobrar pra mim"... rs, vai sim, tolinho (a), rs. Ninguém brinca de "revolucionário de araque" num país com uma direita arcaica, primitiva, vendepátria e truculenta como esta e sai impune disso. Julgam-se espertos? Pode sempre haver um (uns) mais que vocês, guardem isso como "lição política". Da próxima, quando forem brincar de "política", levem a coisa mais a sério e façam menos "cirandas" (o adjetivo "cirandeiro", de quem dança ciranda, é associado ao PSOL e seus espetáculos públicos ridículos, ou a uma esquerda dita "pós-moderna" com agenda política totalmente vazia e que adora espetacularizar tudo, só que pra tudo há limite, até pra espetáculos/performances teatrais pueris). Os caras ainda conseguiram avacalhar uma dança típico do meu estado com essa associação "macabra".

Observação 2: à turma "crítica" (entre aspas) ao blog (tem aparecido uns chiando nos textos críticos à doutrinação mofada e datada da guerra fria das tais olavetes golpistas apoiadoras de Temer e cia, com a falta de educação habitual, "cheios de si"), não adianta espernear comigo, eu não sigo essa postura "tanga frouxa" do PT ou de uma certa "esquerda cagona" do país ("cagão/cagona" é o mesmo que "frouxo/frouxa", neste sentido, principalmente a de alguns estados do país, ressalto isso pois muita gente de fora do Brasil lê este blog e pode não estar familiarizados com essas expressões do país), nem tenho medo de cara feia (como dizem na minha terra, "cara feia é fome"), se for discutir, discutam a sério, se quiserem brincar, eu também brinco (aponto os erros das bobagens que comentam) e não tenho obrigação de ser "educado" com gente mal educada, tampouco tenho paciência com gente "assim". A "tolerância" pós-golpe com essa "direita excêntrica liberal autoritária" do país, que já não era boa, ficou muito pior. Parece que não adianta avisar uma vez ou duas, sempre esse pessoal quer encher o saco e acaba tomando uma "entrada de sola" (gíria de futebol). O problema é que é estupidez "bater boca" com gente estúpida demais, e isso enche o saco, daí o aviso. Não creio que há mais espaço pra esse comportamento infantil demais desses grupos abobalhados que avacalharam o país por ignorância política aguda.

Caso alguém se incomode com o pessoal do blog ter posicionamento político, não posso fazer absolutamente nada em relação a isso (e nem quero). Todo mundo tem direito de ter o seu, mesmo que este governo ilegítimo - colocado de forma ilegítima no poder por um bando de imbecis e uma emissora golpista e mentirosa - queiram tentar silenciar quem discorde deles, não irão conseguir calar todo mundo, nunca.

Cansei de discutir com gente enviesada (politicamente) até o talo (muitos de direita, que adoravam posar de "moderados" sem ser) achando que os outros não têm direito de ter suas posições, foro o arsenal de idiotices que comentavam. Por muito tempo evitei colocar posicionamentos mais ligados ao presente (exceto o do cenário da extrema-direita de cunho fascista, literalmente), mas uma vez que o radicalismo só aumentou no país (principalmente pelo lado da direita neoliberal e entreguista), não vejo motivo algum com esse "excesso de respeito" com quem apoia isto, até porque há que frisar o seguinte: esta direita neoliberal do país sempre foi autoritária, arcaica e entreguista (contra o país) e não conseguirão impor um regime neoliberal no país sem provocar um conflito civil de graves proporções. Não venham até mim dizer como pensar, eu nunca disse a ninguém como agir e isso é uma via de mão-dupla.

sábado, 26 de dezembro de 2015

As três direitas de René Rémond, da Academia Francesa, e sua relevância hoje

"Les trois droites" (As três Direitas) de René Rémond, da Academia Francesa, e sua relevância hoje
Entrevista com o historiador Michel Winock, por Damien Le Guay

Em 1954, um jovem historiador, René Remond, 35 anos, publicou um livro que evento e se tornou um clássico: "La droite en France" (A Direita na França). Este livro (influenciado por Albert Thibaudet) será reeditado em 1963 e 1968 para voltar a ser relançado, com uma revisão, em 1982: "Les droites en France" (As Direitas na França). Damien Le Guay convidou Michel Winock, historiador de História Contemporânea da França e de suas correntes intelectuais, professor emérito da Sciences-Po de Paris e autor de "La droite, hier et aujourd’hui" (A Direita, ontem e hoje) (tempus, 2012) para nos dizer se o livro de René Rémond está datado, e se é ainda relevante e porque ele acredita que é possível acrescentar uma quarta Direita à Direita, que ele chama de "Direita nacional-populista".

Qual é a abordagem de René Rémond neste livro-evento?

- *Que há um sistema binário na política, da oposição na França entre Esquerda e Direita

- *Que esta Direita é plural e dividida em três correntes

- *Que também existe uma continuidade entre essas três Direitas desde 1815 até hoje.

Nessa pluralidade da Direita de se organizar em três linhas distintas, todas chegaram ao poder entre 1815 e 1900:

- *Uma Direita Legitimista, que segue uma contra-revolução, ansiosa em promover uma concepção orgânica, hierárquica e anti-igualitária. Seus pensadores são Louis de Bonald (1754-1840, eleito para a Academia Francesa em 1816) e Joseph de Maistre.

- * Uma Direita Orleanista e Liberal que aceita a bandeira tricolor e o papel do parlamento, que se centra no papel de notáveis.

- *Uma Direita Bonapartista, a de Napoleão III, que se centra no papel de um líder, sobre a fraqueza dos organismos intermediários e no apelo ao povo - com o uso do referendo.

Além disso, René Rémond vê uma continuidade dessas três Direitas após 1914. A Direito legitimista se estenderá para a Ação Francesa (Action Française), para o governo Vichy e, a partir de 1980, para a Frente Nacional. A Direito Orleanista é encontrada no Bloco Nacional (1919), com Poincaré, Tardieu, Paul Raynaud e por último no período de sete anos de Valéry Giscard d'Estaing. Quanto a Direita Bonapartista, René Rémond a situa no gaullismo - com o apelo para o povo, o desprezo pelos partidos políticos e o desejo de um forte poder para governar o país.

Será que esta análise é "insuperável"?

Não. Obviamente. Se o próprio René Rémond, na introdução do livro reeditado em 1982 de "Les droites en France" (As Direitas na França), pergunta-se se não existe novas Direitas! Michel Winock atravessa a questão e considera que apenas há apenas três Direitas clássicas restantes, e que devemos acrescentar uma outra, uma quarta Direita que (...)

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Fonte: Canal Académie (site)
http://www.canalacademie.com/ida8599-Les-trois-droites-de-Rene-Remond-de-l-Academie-francaise-et-leur-pertinence-aujourd-hui.html
Título original: Les trois droites de René Rémond, de l’Académie française, et leur pertinence aujourd’hui
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Paul Preston: "Franco pensava que o mundo era regido por um superestado maçônico"

O historiador e hispanista britânico (d), conversa com o reitor da Universidade de Estremadura, Segundo Píriz (i),
e com o presidente estremenho, Guillermo Fernández Vara (c), antes de ser investido Doutor Honoris Causa
num ato celebrado na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Estremadura. EFE/Esteban Martinena

CÁCERES.- O historiador e hispanista britânico Paul Preston foi investido como doctor honoris causa pela Universidade de Estremadura, onde afirmou que o ditador tinha "aspectos bastante cômicos", como o fato de que acreditava que "Paulo VI era um bolchevique".

"Pensava que o mundo era regido por um superestado maçônico, que não se sabia se estava na Lua ou debaixo do Atlântico", acrescentou em tom irônico durante sua conferência como doutor honoris causa pela Universidade estremenha (Uex).

Ante um abarrotado Paraninfo da Faculdade de Filosofia e Letras, no Campus de Cáceres, Preston recorreu a sua vinculação com a Espanha e com sua história, entre a que se situa a biografia que elaborou sob o título "Franco: Caudillo de España" ("Franco: Caudilho da Espanha").

Relatou que quando recebeu o encargo desta obra, tinha "a impressão de que a figura de Franco era tão tediosa, tão odiosa", que não lhe interessaria". Contudo, uma vez iniciada, se "enganchou", pois, entre outros motivos, "Franco era, pessoalmente falando, um enigma mas com aspectos bastante cômicos".

Seu discurso, seguido pelo reitor da UEx, Segundo Píriz, e o presidente da Junta de Estremadura, Guillermo Fernández Vara, entre outras autoridades, também serviu para conhecer sua relação com Estremadura, "uma terra" com a qual mantém "importantes laços pessoais e profissionais".
"Estremadura significa para mim a Guerra Civil e o sofrimento do povo espanhol"
De fato, sua relação com a Espanha começou nos fins dos anos 60, e "minha primeira viagem - revelou - foi a esta terra". Estremadura significa para mim a Guerra Civil e o sofrimento do povo espanhol", afirmou o historiador londrino, a quem em seu começo como historiador decidiu aproximar seus interesses pela Segunda Guerra Mundial pelo da Guerra Civil espanhola, a mercê do trabalho do professor Hugh Thomas.

"Pareceu-me mais fascinante" que qualquer outro tema que até então havia estudado, acrescentou, e que desvelou que o sentido do humor dos espanhóis e sua gastronomia foram elementos que influíram na hora de adentrar na História da Espanha.

Desde um prisma acadêmico, Presto assegurou que a UEx goza de uma "muito merecida e crescente reputação internacional, pelo qual é um privilégio poder se considerar uma pequena parte dela".

Píriz destacou a trajetória acadêmica "sólida e excelsa" de Preston, cuja obra qualificou como "extensa, profunda, influente e sugestiva". "Repassa de maneira crítica e fundada o devir de todo um século da vida na Espanha", acrescentou.

Na sua concepção, "os espanhóis de hoje estão em dúvida com seu retrato de nosso imediato passado". Também o presidente estremenho disse palavras de elogio para Preston, "um mestre dos historiadores", um conhecedor "dos sofrimentos desta terra e também os esforços que se há feito por aqui pela recuperação da memória histórica". "Estamos convencidos de que a melhor maneira de recuperar a história é contá-la", acrescentou Vara.

Fonte: Público/EFE (Espanha)
http://www.publico.es/politica/preston-franco-pensaba-mundo-regido.html
Título original: Preston: "Franco pensaba que el mundo estaba regido por un superestado masónico"
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Hitler era astuto, não tanto hipnótico, diz nova biografia alemã (Peter Longerich)

BERLIM (Reuters) - Uma nova biografia de Hitler escrita por um proeminente historiador alemão deve gerar controvérsias com seu argumento de que a perspicácia política do líder nazista foi subestimada e de que a crença de seu domínio hipnótico sobre os alemães é inflado.

O livro "Hitler", de Peter Longerich, que será publicado na segunda-feira é um tomo de 1.295 páginas que inclui material sobre os diários do chefe de propaganda nazista Joseph Goebbels e os primeiros discursos de Hitler.

"De modo geral, você tem uma imagem de um ditador que controlou muito mais, que era mais envolvido de perto em decisões individuais do que se pensava anteriormente. Eu quis colocar Hitler como uma pessoa de volta ao centro", disse Longerich em entrevista à Reuters.

Trabalhos recentes sobre o Terceiro Reich têm colocado mais ênfase nos climas social e político que levaram à ascensão do nazismo após a derrota na Primeira Guerra Mundial e as demandas de reparação incapacitantes.

Logo após a Segunda Guerra Mundial, os alemães agarraram-se na crença de que eles foram mantidos reféns de uma gangue criminosa liderada pelo carismático Hitler, empenhada em conquistar a Europa e exterminar judeus.

Longerich, professor da Universidade de Londres, argumenta que enquanto todas as políticas de Hitler e os resultados foram catastróficos, ele agiu de maneira inteligente em situações específicas.

"A questão de porquê ele conseguiu chegar tão longe precisa ser abordada: Obviamente ele tinha habilidade para explorar situações individuais em seu interesse próprio e para seus objetivos próprios", disse ele.

Mesmo suas políticas raciais foram em grande parte devido a um oportunismo político, disse Longerich, que não acha que Hitler era radicalmente anti-semita na sua juventude.

"Nos anos de 1919-1920 ele percebeu que poderia ser bem sucedido em política ao abraçar e incitar o antissemitismo", disse, acrescentando que isso virou elemento central apenas em 1930.

A habilidade de Hitler de tomar o poder é ainda mais impressionante dado que o estudante de arte nascido na Áustria era um "ninguém" sem ideologia até seus 30 anos. Apenas então, recusando-se a aceitar a derrota da Alemanha, ele foi levado ao recém-criado Partido Nazista.

Longerich também busca desmascarar a teoria de que Hitler tinha um carisma irresistível que cativou os alemães, argumentando que ela foi em grande parte construída artificialmente pela máquina de propaganda nazista, que bombardeou imagens de fãs extasiados em comícios.

O autor não exonera os alemães, dizendo que grande parte da população apoiou Hitler enquanto outros foram oportunistas em segui-lo, mas argumenta que havia uma tensão social e um descontentamento, por exemplo dentro da Igreja.

"Não seria lógico pensar que um país profundamente dividido como a Alemanha de repente se uniu por trás de uma pessoa e compartilhava de uma única visão política", disse Longerich.

Setenta anos após sua morte, as atitudes dos alemães em relação a Hitler ainda estão evoluindo, disse Longerich.

"Eu não acho que há qualquer entusiasmo por Hitler, mas estamos vendo tabus sendo quebrados", afirmou ele, citando filmes recentes sobre o ditador e um debate sobre a publicação "Minha Luta".

Com um crescimento de temores sobre o radicalismo de direita na Alemanha, por conta da crise dos refugiados, ele alerta que com uma atmosfera política "mais dura", "o potencial de uma figura política singular é um fator que não deve ser subestimado".

(Por Madeline Chambers)
sábado, 7 de novembro de 2015 11:01 BRST

Fonte: Reuters Brasil
http://br.reuters.com/article/entertainmentNews/idBRKCN0SW0GH20151107
Hitler was shrewd, not so hypnotic, new German biography says (Reuters, EUA)

terça-feira, 1 de abril de 2014

Morreu Jacques Le Goff, o historiador que nos explicou a invenção do Purgatório

Luís Miguel Queirós e Isabel Salema
01/04/2014 - 12:16
Mudou a percepção que tínhamos da Idade Média e escreveu várias obras que se tornaram clássicos.

Jacques Le Goff numa fotografia não datada AFP
O historiador francês que revolucionou a historiografia moderna e reabilitou a imagem da Idade Média europeia, mostrando-a como um período bastante mais dinâmico do que o humanismo renascentista quis fazer crer, morreu esta terça-feira em Paris, aos 90 anos, noticiou o jornal Le Monde.

Além de centenas de artigos, Jacques Le Goff tinha mais de 40 livros publicados, desde Os Intelectuais na Idade Média e Mercadores e Banqueiros na Idade Média, ambos de 1957 (as edições portuguesas são da Gradiva), até ao recente À la recherche du temps sacré, Jacques de Voragine et la Légende Dorée, de 2011.

Bernardo Vasconcelos e Sousa, autor da obra História de Portugal, juntamente com Rui Ramos e Nuno Monteiro, diz que Le Goff “é um dos historiadores mais importantes da segunda metade do século XX à escala mundial, sem dúvida e sem favor nenhum”. Com George Duby, outro grande historiador francês falecido em 1996, “mudou de forma radical e muito profunda a maneira de ver a Idade Média ocidental”.

O historiador francês pertencia à terceira geração de historiadores da escola dita dos Annales. A sua concepção de antropologia histórica e o seu interesse pela história da cultura e das mentalidades, de O Nascimento do Purgatório à monumental biografia do rei São Luís, distinguem-no dos modelos de interpretação social e económica de Fernand Braudel, representando um modo criativo de retomar o legado da revista fundada em 1929 por Marc Bloch e Lucien Febvre.

Sucessor de Braudel na direcção da École des Hautes Études en Sciences Sociales, publica em 1964 A Civilização do Ocidente Medieval (edição portuguesa da Estampa), uma obra que toma como objecto de estudo um vasto âmbito geográfico e um período de tempo longo e nos dá, diz Bernardo Vasconcelos e Sousa, uma nova Idade Média “combatendo quer a visão negra de uma Idade Média de ‘feios, porcos e maus’, que ainda hoje tem uma representação no discurso político ou jornalístico, quer uma imagem dourada e cor-de-rosa”, alimentada pelo romantismo. Na Idade Média que construiu, juntamente com a sua geração, “estudam-se as estruturas, as mentalidades, os valores, as representações do quotidiano”.

Se tivesse que escolher uma obra para um leitor leigo, Vasconcelos e Sousa destacaria A Civilização do Ocidente Medieval, “um livro de carácter científico que se lê como um bom romance”, um manual de história geral onde Le Goff defende a existência “de uma civilização do Ocidente medieval”, uma civilização que sucede à Antiguidade Greco-Romana e antecede o mundo moderno.

O historiador da Universidade Nova de Lisboa cita também O Nascimento do Purgatório (a obra que o próprio Le Goff preferia entre as outras) como “um livro magistral”, onde se analisa a criação, a invenção, do Purgatório, sobretudo a partir do século XII, como lugar intermédio entre o céu e o inferno: “Mesmo que não se esteja em condições de aceder de imediato à harmonia celestial há uma lugar intermédio, de esperança, que possibilita que se venha a aceder ao céu. É uma sociedade que se está a diversificar, a complexificar e isso teve consequência na estruturação do pensamento e da devoção cristãos.”

Na obra Para um Novo Conceito da Idade Média, onde junta vários pequenos estudos, Vasconcelos e Sousa destaca um intitulado “O tempo da Igreja e o tempo do mercador”, em que o historiador francês compara e contrapõe uma representação da vivência do tempo por parte da Igreja, de um tempo cíclico das horas litúrgicas, dos ciclos naturais, a um tempo quantificado dos mercadores, um tempo linear, um tempo que é dinheiro: “Esse tempo começa a fazer a sua afirmação a partir do século XIII e XIV, passando pela sua materialização, quantificado já não pela sucessão das horas diárias, pelo bater do sino das igrejas, mas pelo relógio mecânico que começa a surgir precisamente nas cidades ao longo do século XIV.”

Na sua abordagem antropólogica, na sua ambição de abarcar o homem em todas as suas dimensões, Le Goff construiu uma história das mentalidades medievais em que mostrou como estavam então interligados domínios aparentemente tão distantes como a teologia ou o comércio.

Esta diversificação dos temas, que abriu muitas linhas de investigação, dá uma ideia, diz Vasconcelos e Sousa, “da revolução que houve nos estudos medievais, de que Le Goff e Duby foram mais directamente responsáveis”.

A nova história

Nos anos 70, coordena duas obras colectivas de grande envergadura que se tornarão as referências teóricas da Nouvelle Histoire, a corrente historiográfica que funda com Pierre Nora, e que procurará levar mais longe a herança dos Annales: os três volumes de Fazer História (1974), e A Nova História, em colaboração com Jacques Revel (1978). A primeira foi traduzida pela Bertrand e a segunda pelas Edições 70.

Num artigo de 2010 que a edição on line do jornal Le Nouvel Observateur recuperou a propósito da morte de Le Goff, André Burguière defende a tese de que, tal como os alemães têm de ter, em cada época, um grande filósofo, os franceses “querem ter um grande historiador que o mundo inteiro lhes inveje”. E acrescenta que desde a morte de Fernand Braudel esse historiador era Jacques Le Goff.

Burguière lembra que Le Goff sempre se reclamou da lição de Marc Bloch, co-fundador da revista Annales e pioneiro em contrapor à historiografia convencional do feudalismo uma abordagem sociológica. Mas as investigações de Bloch e dos seus discípulos focavam-se essencialmente na história rural e agrícola. Caberá a Le Goff propor uma história da cidade medieval, já anunciada nos títulos dos seus primeiros livros, que evocam, com um sabor deliberadamente anacrónico, os intelectuais e banqueiros da Idade Média. Le Goff, diz Burguière, “combate o lugar-comum que identifica a herança da Idade Média com o mundo rural”.

Quando recebeu, em 2004, o prestigiado prémio Dr. A. H. Heineken de História, atribuído pela Academia Real das Artes e Ciências dos Países Baixos, a declaração do júri dizia que Le Goff “mudou a nossa percepção da Idade Média”.

Le Goff punha mesmo em causa as cronologias tradicionais, defendendo que a Idade Média correspondia a todo o período durante o qual a Igreja e a respectiva doutrina tinham sido consideradas como a fonte da verdade, um estado de coisas que só teria verdadeiramente sido posto em causa, na efera económica, com a revolução industrial iniciada em Inglaterra em meados do século XVIII, e também, na ordem das mentalidades, com a Revolução Francesa.

Ou seja, teríamos uma Idade Média que se estenderia até à primeira metade do século XVIII e que, desde o século IV teria tido, diz Le Goff numa entrevista ao mesmo André Burguière, “várias fases de progresso que se podem qualificar como renascenças”, do desenvolvimento das cidades à criação das universidades. Le Goff crê ainda que uma das mais fundas dívidas do sujeito moderno ao cristianismo medieval é o reconhecimento da “noção de interioridade”, que este favoreceu.

De Ivanhoe aos Annales

Filho de um professor de inglês, Jacques Le Goff nasceu no dia 1 de Janeiro de 1924 em Toulon, no sul de França, onde fez os estudos liceais e teve como professor o historiador Henri Michel, que depois se tornaria um especialista na história da Segunda Guerra. Le Goff referir-se-ia sempre com veneração a Henri Michel, cujo magistério terá contribuído para que se tornasse historiador.

Mas Toulon, dirá mais tarde Le Goff, era uma cidade profundamente racista, e o estudante ficou satisfeito quando teve de se mudar para a mais cosmopolita Marselha, com o seu porto de mar e a sua população multiétnica.

Frequenta em Marselha os estudos preparatórios de acesso ao ensino superior, mas vai pouco às aulas. Convocado para o “serviço de trabalho obrigatório”, vulgo STO, imposto pela Alemanha nazi ao governo de Vichy, foge e junta-se à Resistência. Leitor compulsivo e omnívoro, devora os romances históricos de Walter Scott, como Ivanhoe, cuja influência na sua decisão de se tornar medievalista ele próprio não descartará.

No pós-guerra, estuda literatura, mas acabará por se licenciar em História. Em 1947, prossegue os seus estudos na universidade de Praga, onde assiste, no ano seguinte, à invasão soviética que poria fim à Primavera de Praga. Le Goff dirá mais tarde que foi esta “vacina” que o imunizou definitivamente contra o comunismo.

Concluídas as provas de agregação em 1950, torna-se professor e começa por dar aulas num liceu de Amiens, vai depois para a Universidade de Oxford como bolseiro, e em 1954 assume funções docentes na universidade de Lille.

Em 1958 conhece o historiador Maurice Lombard, especialista no Islão medieval, um encontro que se revelará. Le Goff dirá sempre que foi com Lombard que mais aprendeu, e foi também ele que o apresentou a Braudel, que após ter lido as primeiras obras do jovem historiador, lhe arranja um lugar de assistente na prestigiada VI secção (ciências económicas e sociais) da École Pratique d’Hautes Études, que então dirigia.

Em 1969, Le Goff torna-se co-director da revista Annales e, em 1972, sucede a Braudel na presidência da VI secção da École Pratique d’Hautes Études.

Grande comunicador, estreia-se em 1968 no programa radiofónico Les Lundis de l’Histoire, que ainda hoje é emitido pela France Culture, e com o qual Le Goff colaborou até ao final da vida.

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/cultura/noticia/morreu-o-historiador-jacques-le-goff-1630555

sábado, 13 de julho de 2013

Neonazismo no RS: “que há de verdade ou mentira em tudo isso?” Entrevista especial com René Gertz

Neonazismo no RS: “que há de verdade ou mentira em tudo isso?” Entrevista especial com René Gertz

“Há autoridades gaúchas claramente interessadas em, por razões abscônditas, superestimar a presença “neonazista” por aqui", diz o historiador.

Confira a entrevista.
Foto: www.brasilescola.com

Desde 2003 o tema do neonazismo “ocupa algum lugar na imprensa brasileira”, mas os dados apresentados não conferem com o que acontece na realidade, diz o historiador gaúcho, René Gertz à IHU On-Line, em entrevista concedida por e-mail. Crítico às matérias publicadas na imprensa gaúcha, ele assegura que “há razões para ser cético em relação aos ‘neonazistas virtuais’”. E dispara: “O delegado Paulo César Jardim lida há dez anos com o ‘neonazismo’ no Rio Grande do Sul. Segundo declarações públicas suas, ele fichou 35 ‘neonazistas’ durante todos esses anos. No meu livro, arrolo 32 nomes – e provavelmente o delegado não tem mais que isso, na sua lista. Para Santa Catarina não se conhece lista, mas sabe-se de muito poucos casos concretos. Para o Paraná há uma lista de 12 – portanto: 32 + 12 + 6? = 50 (talvez um pouco mais). Isso é aquilo que existe de concreto, de palpável”.

René Gertz (foto abaixo) é professor nos Departamentos de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Licenciado em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, é mestre em Ciência Política pela UFRGS, e doutor, na mesma área, pela Universidade de Berlim, onde também obteve o título de pós-doutor. É autor de O aviador e o carroceiro: política, etnia e religião no Rio Grande do Sul dos anos 1920 (Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002), O Estado Novo no Rio Grande do Sul (Passo Fundo: Editora Universidade de Passo Fundo, 2005), e O neonazismo no Rio Grande do Sul (Porto Alegre: EDIPUCRS e Editora AGE, 2012).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Desde quando e por que razão se fala que existem grupos neonazistas no Rio Grande do Sul?

Foto: Helena Gertz
René Gertz – Nas décadas de 1930 e 1940, existiu uma coisa chamada “nazismo”. Militantes ou simpatizantes, obviamente, sobreviveram no pós-guerra pelo mundo afora. Também no Rio Grande do Sul existiram alguns nazistas, naqueles anos. Parte deles foi expulsa no contexto da Segunda Guerra Mundial, outros foram embora por conta própria e ainda outros ficaram por aqui. Além disso, é provável que um ou outro tenha vindo para cá após a guerra, fugindo da caça a eles, na Alemanha derrotada. Não existem estudos a respeito destes últimos, de forma que as referências a eles são folclóricas, significando que são diz-que-diz-ques, sem base objetiva.

Nos anos 1980, ocorreu em Porto Alegre um fenômeno que poderia ter sido classificado de “neonazista”, mas, em geral, não o foi. Trata-se da Editora Revisão, cujo proprietário foi Siegfried Ellwanger Castan, o qual publicou livros e outros materiais em que criticava e negava as versões sobre o regime alemão, sobre a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. Como Castan não era um nazista dos anos 1930-1940, poderia ter sido classificado como “neonazista” – mas não o foi, ao menos de forma usual, nas referências que eram feitas a ele em público.

Na verdade, incluir o episódio da Editora Revisão na tradição nazista está correto, em certo sentido, pois o “neonazismo”, de fato, é algo neo/novo. Nos anos finais do século passado, ganhou força, no cenário internacional, um fenômeno de radicalismo, de preconceito e de violência promovido, via de regra, por jovens, como os “hooligans” e semelhantes. E ainda que aqui, nesta breve fala, seja obrigado a simplificar ao máximo esse tipo de movimento, ele também chegou ao Brasil.

No início, um dos tratamentos mais difundidos para designar tais grupos foi “skinhead”, mas, aos poucos, se popularizou, cada vez mais, a expressão “neonazista”. O primeiro caso mais concreto, no Rio Grande do Sul, que despertou interesse na opinião pública, ocorreu dez anos atrás, na forma de uma banda chamada Zurzir. Em 2005, aconteceu um dos episódios mais marcantes, quando um grupo de três jovens identificados como judeus por usarem quipá foi atacado, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, resultando em ferimentos graves em um deles. Houve também incidentes em campos de futebol, um ataque a um guarda negro do Trensurb, e alguns episódios semelhantes. Em resumo, isso que atende, por aqui e pelo restante do Brasil, pelo nome de “neonazismo” é um fenômeno que veio a ser considerado relevante nos últimos dez anos.

IHU On-Line – Como o senhor avalia as matérias recentes publicadas na imprensa, divulgando dados de pesquisas que apontam o RS como o segundo estado que mais baixa material neonazista? Quais são seus argumentos contrários à pesquisa?

René Gertz – Desde, no mínimo, 2003, o tema “neonazismo” ocupa algum lugar na imprensa brasileira. A intensidade variou, mas o citado ataque aos rapazes judeus, em 2005, representou um primeiro pico. Em 2009, houve um assassinato no Paraná que representou outro momento de intensificação de notícias – talvez tenha oportunidade de voltar a este caso, mais diante. E ao final de 2012 foi noticiado que está marcado para meados deste ano de 2013 o julgamento daqueles rapazes que participaram do ataque aos meninos judeus.

Além de uma possível agitação natural decorrente da aproximação do julgamento, pode-se – como hipótese! – imaginar certa artificialidade nessa alaúza de agora, pois o julgamento se dará por júri popular, e os interessados na condenação, obviamente, sabem que uma agitação para criar um clima negativo contra o “neonazismo”, na opinião pública, pode influenciar os jurados contra os réus. É apenas uma hipótese, mas plausível.

Dentro desse contexto, ao menos duas matérias jornalísticas de impacto foram divulgadas no decorrer do mês de abril. Uma de repercussão mais restrita, sob o título “Proliferação de grupos neonazistas aterroriza Sul”, na edição online de O Globo, do dia 6 de abril de 2013, e a outra publicada pela Empresa Brasileira de Comunicação – EBC, sob o título “O mapa da intolerância... mapa da intolerância...”, no dia 11 do mesmo mês.

A pergunta, naturalmente, se refere a esta segunda matéria, que divulgou uma pesquisa que teve repercussão em uma infinidade de meios de comunicação. Tenho, porém, restrições a ambas as matérias.

IHU On-Line – Quais são suas restrições a esta segunda matéria? Suas pesquisas parecem concentrar-se em “neonazistas reais”, desconfiando, por consequência, dos números de “neonazistas virtuais” – é isso?

René Gertz – É mais ou menos isso. Em primeiro lugar, devo dizer que no meu recente livro O neonazismo no Rio Grande do Sul (EDIPUCRS/AGE, 2012) transcrevo uma longa (e até maçante) pendenga com a autora da pesquisa em questão, Adriana Abreu Magalhães Dias. Como alguns colegas me criticaram de forma veemente por essa parte do livro, acusando-me até de falta de decoro acadêmico, remeto os interessados ao livro, pois, com a leitura, entenderão minhas razões pessoais para não comprar um carro usado dessa pessoa.

Mas há também argumentos lógicos, universais para não me entusiasmar com os números apresentados por ela. Ainda que numa entrevista dela ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU, em 2007, tenha falado num total de 150.000 “neonazistas” para todo o Brasil, na sua dissertação (p. 35), então recém-defendida, e em várias outras manifestações insistiu em 90.000. O destaque da manifestação na matéria da EBC está num suposto ou efetivo crescimento vertiginoso no decorrer dos anos. Acontece que na dissertação de 2007 ela insistiu que metade dos “neonazistas” brasileiros se encontrava em Santa Catarina (45.000). Um dado que causa estranheza é que, mesmo a matéria de 2013 não apresentando um número total para todo o Brasil, certamente não é exagerado pressupor, agora sim, 140.000, pois – além dos 45.000 de SC – ela arrola 42.000 no RS, 29.000 em SP, 18.000 no PR, 8.000 no DF, 6.000 em MG. Isso dá um total de 137.000. Não está errado pressupor – dentro desta lógica – que haja, no mínimo, mais 3.000 nos demais estados. Isso representaria um crescimento geral de 50.000, ou, em termos percentuais, em torno de 55%. Estranho que em Santa Catarina esse crescimento teria sido ZERO!

Outro argumento. Santa Catarina foi insistentemente apresentado como o estado com o maior número de “neonazistas” do país. Acontece que a polícia de lá desconhece essas hordas, inclusive não trabalhando com esquema especial para reprimir os poucos atos classificados na categoria de “neonazistas” – concentrando, muito mais, sua preocupação nos desafios representados por ações de bandidos “comuns”, que têm desafiado o poder do Estado com atos violentos, divulgados com muito destaque na imprensa, mas jamais apresentados como “neonazistas”.

Terceiro argumento. Em abril de 2009, ocorreu uma famigerada reunião de “neonazistas” no Paraná, durante a qual duas pessoas foram assassinadas. O episódio teve enorme repercussão em todo o país. A violência dentro do próprio grupo decorreu do fato de que foi uma reunião programática, na qual se discutiram questões fundamentais de longo prazo do movimento, objetivos e estratégias de ação, enfim. Estranho é que numa reunião dessa importância estivessem representantes do “neonazismo” do Paraná, de São Paulo, de Minas Gerais e de outros estados, mas NENHUM representante do Rio Grande do Sul nem de Santa Catarina (uma pessoa que, naquele momento, residia há pouco tempo no Rio Grande do Sul era paranaense, e se desconheciam atos “neonazistas” da parte dele, por aqui, até então). Como se pode explicar esse fato se dos pressupostos 140.000 “neonazistas” de todo o Brasil as duas “bancadas” supostamente majoritárias, que representariam nada menos que 87.000, ou seja, mais de 60% do total, não estivessem representadas numa reunião de tanta importância?

Estes são apenas três argumentos que recomendam que pessoas responsáveis tenham cuidado em divulgar a matéria em pauta – e esta foi minha crítica ao IHU, por divulgá-la de forma acrítica, e que, no final, motivou esta entrevista. Há razões para ser cético em relação aos “neonazistas virtuais” de Adriana Abreu Magalhães Dias.

Com isso chego aos “neonazistas reais”. O delegado Paulo César Jardim lida há dez anos com o “neonazismo” no Rio Grande do Sul. Segundo declarações públicas suas, ele fichou 35 “neonazistas” durante todos esses anos. No meu livro, arrolo 32 nomes – e provavelmente o delegado não tem mais que isso, na sua lista. Para Santa Catarina não se conhece lista, mas sabe-se de muito poucos casos concretos. Para o Paraná há uma lista de 12 – portanto: 32 + 12 + 6? = 50 (talvez um pouco mais). Isso é aquilo que existe de concreto, de palpável. Nos 105.000 que Adriana Dias diz ter detectado para RS, SC e PR, juntos, precisamos acreditar cegamente como acreditamos em fantasmas, em duendes. Mais uma razão para ter tomado a iniciativa de criticar o IHU/Unisinos por publicar os dados propalados por Adriana Dias, sem qualquer referência ou comentário críticos.

IHU On-Line – Como o governo do estado e as autoridades se manifestam diante das notícias de que há grupos neonazistas no RS?

René Gertz – Esta pergunta me permite voltar à outra notícia recentemente divulgada, a de que a “proliferação de grupos neonazistas aterroriza o Sul” brasileiro. Segundo a matéria, o citado delegado Paulo César Jardim teria fornecido a informação de que fichou, ao todo, 500 (quinhentos) “neonazistas”. Acontece que essa mesma autoridade está falando, há anos, em “entre 30 e 40”, para, alguns meses atrás, numa declaração pública, citar o número exato de 35 “neonazistas” gaúchos. Causa estupefação que, de repente, sem que tenha sido noticiada qualquer intensificação de atos “neonazistas” no estado, esse número se tenha multiplicado por 15!

A polícia de SC tem dado menos atenção ao “neonazismo”, até porque tem coisas mais prementes a resolver (os atentados da bandidagem); no PR há um delegado designado para tratar do assunto, mas ele já declarou em público que “os ataques de neonazistas são mais escassos” no estado. Só no Rio Grande do Sul o delegado Jardim não perde oportunidade para desenhar um quadro tétrico da “ameaça neonazista” – a população gaúcha que leu o título da matéria de O Globo sabe que aquilo que efetivamente “aterroriza” aqui são os ataques diários a bancos, os assaltos chegando às próprias áreas rurais do interior do estado, as drogas etc. Os exageros divulgados aqui chamaram a atenção até de Adriana Dias. Em seu blog pode ler-se: “o delegado Jardim adora colocar seus feitos como primeiros. Além disso, afirmar que o racismo está na gênese do gaúcho é tão racista quanto o próprio racismo... Cadê o botão de sanidade?”.

Em resumo, respondendo à pergunta: há autoridades gaúchas claramente interessadas em, por razões abscônditas, superestimar a presença “neonazista” por aqui.

IHU On-Line – Como compreender a afinidade de pessoas com grupos neonazistas e a proliferação de conteúdos neonazistas na internet, mais de 60 anos depois da Segunda Guerra Mundial?

René Gertz – A esta pergunta não posso responder, porque eu justamente não consigo estabelecer qualquer relação de continuidade entre o nazismo dos anos 1930-1940 e o “neonazismo” atual, ao menos aqui no Rio Grande do Sul.

Fonte: site do Instituto Humanistas Unisinos
http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/520006-neonazismo-no-rs-que-ha-de-verdade-ou-mentira-em-tudo-isso-entrevista-especial-com-rene-gertz

domingo, 23 de junho de 2013

O ícone mais idiota da negação do Holocausto: a piscina de Auschwitz

Mas o que quero dizer é, Jon Harrison já tratou disso, Pressac já tratou disso, e van Pelt já tratou disso:
Dada a dicotomia entre a muito complexa natureza e a história de Auschwitz e o hábito de muitos em considerar o campo apenas como um "centro de extermínio em massa altamente secreto", muitas pessoas, incluindo historiadores e sobreviventes de boa-fé, e gente de não 'tão' boa-fé assim como os negadores do Holocausto, muitas vezes acabam cometendo a falácia de composição: eles, em razão das características de parte de Auschwitz, que foi usado para extermínio em massa, citam isso como as características de Auschwitz como um todo. Um exemplo clássico e favorito dos negacionistas é a chamada piscina de Auschwitz I. Eles argumentam que a presença de uma piscina, com três trampolins, mostra que o campo era realmente um lugar bastante benigno e, portanto, não poderia ter sido um centro de extermínio. Eles ignoram que a piscina foi construída como um reservatório de água com a finalidade de combater incêndios (não havia hidrantes no campo), e que os trampolins foram adicionados mais tarde, e que a piscina era apenas acessível a homens da SS e alguns prisioneiros arianos privilegiados empregados como 'presos-funcionários' no campo. A presença da piscina não diz nada sobre as condições de prisioneiros judeus em Auschwitz, e não põe em cheque a existência de um programa de extermínio, com suas instalações apropriadas em Auschwitz II (Birkenau).
No entanto, isto continua retornando, retornando, e retornando, como um zumbi.

O "argumento" é tão assustadoramente ilógico que alguém fica surpreso de até mesmo com os cultuadores do negacionismo quererem repeti-lo, já que eles continuam fazendo isso mesmo havendo perdido a "graça" (o impacto inicial).

Nenhum historiador ou tribunal jamais afirmou que cada prisioneiro de Auschwitz tinha que morrer - ou que tiveram que morrer imediatamente. A presença de grupos relativamente privilegiadas de prisioneiros (como Kapos, "arianos" ou judeus) é reconhecido por todos. A presença de amenidades (como um bordel) para determinados prisioneiros privilegiados não é um segredo.

Então, por que a persistente menção da estrutura, a qual não contradiz a existência de nada, até mesmo se alguém negar sua principal função como um reservatório de água (e que nem sequer está situado na seção de extermínio, ou seja, Birkenau, e no entanto, mesmo que se se situasse lá, isto não seria um problema)?

Como completamente um estúpido, ignorante ou desonesto pode continuar pensando em usar a piscina Auschwitz como um truque/distorção em nome do "revisionismo"?

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.de/2010/01/dumbest-holocaust-denial-icon-auschwitz.html
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 4 de maio de 2013

Browning e a tomada de decisão no III Reich - Raul Hilberg

Abaixo, entrevista concedida a Jennie Rothenberg por Christopher Browning, historiador do Holocausto e autor de "Origins of the Final Solution", e que atuou na defesa de Deborah Lipstadt no processo movido por David Irving contra ela.

O processo de tomada de decisão no Terceiro Reich é explicado aqui por Browning, bastante próximo da idéia de Raul Hilberg.

*Observação: Abaixo consta apenas um trecho da entrevista traduzido, a entrevista inteira - em inglês - está no link da fonte.

Tradução:
...
[Jennie Rothenberg] Sua conclusão choca-se contra uma discussão do papel de Hitler na Solução Final. Você enfatiza que o entusiasmo de Hitler unia todos os tipos de pessoas -- eugenistas que queriam alcançar pureza racial, técnicos que queriam mostrar suas habilidades, políticos carreiristas que queriam progredir. Mas você também mostrou que muitas das idéias e planos específicos não vinham de Hitler, mas de seus subordinados, que captavam sinais das vagas declarações de Hitler. Você acha que aqueles líderes nazistas de segundo escalão como Himmler deveriam ser tão responsáveis quanto Hitler pelo Holocausto?

[Christopher Browning] É verdade que Hitler não tinha que ser um micro-administrador nisto. Ele podia fazer exortações, dar discursos proféticos. Estava embutido no sistema nazista que o dever ou imperativo sobre todo nazista leal era, em seus próprios termos, "trabalhar para alcançar o Fuehrer", sempre antecipá-lo e apoiá-lo, de um jeito a devotar sua vida a ele. Quando ele fazia uma profecia, sua obrigação era fazer aquela profecia virar realidade. Quando ele reclamava para si algo em termos de um objetivo vago, seu trabalho era fazer aquilo tornar-se realidade.

Isto provocou todos os tipos de iniciativas, todos os tipos de planos. Esses eram trazidos para Hitler. A alguns ele dizia "não, você não me entendeu direito". Às vezes ele mostrava um sinal vermelho. Algumas vezes ele fazia piscar uma luz amarela -- "não pronto ainda" -- e às vezes ele mostrava luz verde e dava aprovação para continuar. A pessoa que entendia melhor Hitler nisso era Himmler. Ele era o único que podia normalmente antecipar o que Hitler queria e entender o que Hitler queria dizer. É por isto que os SS ganharam poder tão rapidamente neste período, porque enquanto Himmler os estava liderando, ele se tornou progressivamente indispensável para Hitler em termos de transformar profecias em realidades.

Para um historiador, esta forma de tomada de decisão é absurdamente imprecisa. Você não pode ir até um documento específico ou uma reunião específica e dizer "Aqui é quando a decisão foi tomada." Há um longo período para Hitler dar sinais vagos, outros para entender os sinais, eles vindo até Hitler, ele afirmando que eles tinham-no entendido bem, eles voltando e fazendo planos e então trazendo-os de volta. Então o processo de tomada de decisão pode acontecer durante meses, tempo durante o qual não há um único dia ou documento que nós podemos marcar e dizer "Aconteceu aqui."

Fonte: The Atlantic
Entrevista completa: http://www.theatlantic.com/past/docs/unbound/interviews/int2004-02-11.htm
http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/4929
Tradução: Marcelo Oliveira

*A observação antes do trecho fui eu que fiz, não consta do texto original da lista holocausto-doc.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Historiadora ajuda órfãos do Holocausto a encontrar identidade

Guila Flint. De Tel Aviv para a BBC Brasil
Atualizado em 8 de abril, 2013 - 05:57 (Brasília) 08:57 GMT

Encontro de sobreviventes do Holocausto com freiras que os protegeram

Israel celebra nesta segunda o Dia do Holocausto; acima, sobreviventes do extermínio com freiras que os protegeram

Milhares de sobreviventes do Holocausto que, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), eram crianças judias que sobreviveram escondidas em casas polonesas ou em conventos tornaram-se adultos que até hoje não conhecem sua verdadeira identidade.

De acordo com a historiadora israelense Lea Balint, uma das consequências dolorosas do extermínio em massa dos judeus pelo regime nazista é o problema das "crianças sem identidade".

Balint é sobrevivente do genocídio, marcado nesta segunda-feira, o Dia do Holocausto, em Israel, a 68 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.

Ela dedicou os últimos 22 anos a ajudar essas crianças - hoje já pessoas idosas - a encontrar suas raízes.

"Tudo começou em 1991, quando um homem, sobrevivente do Holocausto, me disse não saber quem era, nem quem eram seus pais", disse a historiadora polonesa à BBC Brasil.

"Ele tinha cerca de 50 anos e viveu a vida inteira sofrendo por não conhecer sua própria história. Naquele momento, decidi começar a pesquisar essa questão."

Balint criou o Arquivo das Crianças Sem Identidade, que recebeu o apoio do Museu dos Combatentes dos Guetos, e começou a colher informações sobre crianças judias nascidas na Polônia e que ficaram órfãs na Segunda Guerra.

"Naquele período sombrio, houve muitas tragédias. Entre os 6 milhões de judeus exterminados pelos nazistas, houve 1,5 milhão de crianças, e muitas mães fizeram tudo para salvar seus filhos", disse.

Bebê dentro da mala

Visitante no Museu do Holocausto, em Jerusalém (Reuters)

Museu do Holocausto, em Jerusalém; extermínio deixou muitas crianças órfãs

Milhares de crianças judias foram entregues a conventos ou a famílias polonesas quando seus pais foram presos e levados aos campos de concentração.

Houve casos em que mães simplesmente deixaram bebês junto às portas de vizinhas polonesas, com um bilhete pedindo que cuidassem de seus filhos.

"Um dos casos mais dramáticos que acompanhei foi o de Richard Berkovitz, um bebê que foi jogado dentro de uma mala, pela janela do trem que transportava seus pais para um campo de concentração", contou Balint.

"Foi um gesto de desespero extremo por parte dos pais, que sabiam que iam morrer e tentaram dar uma chance de vida à criança. Felizmente, o bebê foi encontrado por poloneses que cuidaram dele até o fim da guerra e depois o entregaram a um orfanato judaico."

Richard Berkovitz é uma das 180 pessoas que recuperaram sua identidade graças ao trabalho de Lea Balint.

Durante mais de 20 anos, Balint fez inúmeras viagens à Polônia, para consultar arquivos e entrevistar pessoas que após a guerra trabalharam em orfanatos e organizações humanitárias e acolheram as crianças órfãs.

A historiadora também visitou conventos que esconderam crianças judias e fez entrevistas longas com os sobreviventes, em busca de pistas para encontrar a identidade daqueles que não tinham ideia sobre seu passado.

"Durante as conversas, muitas vezes, surgiram lembranças que nem os próprios sobreviventes sabiam que tinham, pois durante a vida inteira recalcaram as memórias dolorosas da guerra", disse.
Identificação
Lea Balint

Lea Balint criou arquivo para identificar crianças que perderam sua identidade na guerra

Cruzando informações de documentos que encontrou e de testemunhos que ouviu, ela conseguiu levantar dados que possibilitaram a identificação de parte das crianças sem identidade.

Em vários casos, depois de saberem seu nome e data de nascimento, os sobreviventes conseguiram encontrar parentes que não sabiam que estavam vivos.

"Quando comecei a divulgar a existência do nosso arquivo recebi milhares de telefonemas, tanto de pessoas em Israel como no exterior, procurando saber quem eram seus pais, onde e quando tinham nascido e o que aconteceu com sua família", disse.

No entanto, segundo ela, à medida que o tempo passa, o número de pessoas que a procuram diminui.

"Muitos sobreviventes do Holocausto já morreram e outros estão muito idosos e não têm forças para abrir as feridas do passado", afirmou.

Calcula-se que haja 200 mil sobreviventes judeus do genocídio em Israel e um número semelhante ao redor do mundo.

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/04/130407_dia_holocausto_pai_gf.shtml

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Morre o historiador Eric Hobsbawm aos 95 anos

LONDRES — O eminente historiador marxista britânico Eric Hobsbawm, que escreveu sobre os extremos dos séculos XIX e XX e era considerado um dos pensadores imprescindíveis do século passado, morreu nesta segunda-feira aos 95 anos.

"Ele morreu de pneumonia nas primeiras horas da manhã em Londres", afirmou a filha do historiador, Julia Hobsbawm.

O historiador lutava contra a leucemia e faleceu no no Royal Free Hospital da capital britânica.

"Ele fará falta não apenas para sua esposa há 50 anos, Marlene, e seus três filhos, sete netos e um bisneto, mas também por seus milhares de leitores e estudantes ao redor do mundo", completou.

Hobsbawm era uma figura consagrada, mas também controversa, por sua longa ligação com o Partido Comunista, que ele apoiou apesar das atrocidades na União Soviética e no leste europeu.

O livro mais famoso de Hobsbawm, provavelmente, é "Era dos Extremos, o breve século XX (1914-1991), de 1994, que foi traduzido para quase 40 línguas e recebeu muitos prêmios internacionais.

Hobsbawm, que influenciou gerações de historiadores e políticos, é reconhecido por seus três volumes sobre o "longo século XIX": "A Era das Revoluções: Europa 1789-1848", "A Era do Capital: 1848-1875" e "A Era dos Impérios: 1875-1914".

Sua perspectiva marxista foi formada em parte pela experiência de morar na Alemanha no início da década de 1930, quando acompanhou a ascensão de Adolf Hitler ao poder.

Nascido em 9 de junho de 1917 em uma família judaica de Alexandria, Egito, filho de um britânico e de uma austríaca, Hobsbawm foi criado em Viena no período entre as duas grandes guerras mundiais, antes de seguir para Berlim em 1931, depois da morte de seus pais no intervalo de dois anos.

Ele se mudou para Londres dois anos depois, quando Hitler virou chanceler, e entrou para o Partido Comunista britânico em 1936.

Depois de estudar História e obter o Doutorado na Universidade de Cambridge, Hobsbawm se tornou professor em 1947 no Birkbeck College de Londres, centro ao qual seguiu ligado por toda a carreira.

Também foi professor convidado em universidades de prestígio, como Stanford, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e Cornel.

Fã de jazz, escreveu críticas para a revista britânica New Statesman sob um pseudônimo entre 1956 e 1966.

Hobsbawm nunca abandonou a filiação ao Partido Comunista da Grã-Bretanha, que acabou em 1991, após a queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética.

"Era dos Extremos", em particular, dividiu leitores de diferentes linhas ideológicas na Grã-Bretanha, com muitos conservadores e liberais afirmando que a obra ignorou as atrocidades soviéticas, mas muitos da esquerda elogiaram a visão marxista da história.

Ele foi indicado para a ordem Companion of Honour em 1998 pelo governo trabalhista do primeiro-ministro Tony Blair.

Hobsbawm casou duas vezes, primeiro com Muriel Seaman em 1943. Após o divórcio em 1951, o historiador casou com Marlene Schwarz.

Fonte: AFP
http://br.reuters.com/article/entertainmentNews/idBRSPE89002920121001

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Historiador britânico analisa queda do Terceiro Reich

Em livro sobre a Alemanha antes da capitulação dos nazistas em 1945, o historiador Ian Kershaw procura explicações para a conivência da população do país com o regime até os últimos momentos do Terceiro Reich.

Ian Kershaw tornou-se conhecido depois de ter escrito uma biografia de Hitler, de duas mil páginas, publicada no fim dos anos 1990 e responsável por sua popularidade internacional como historiador. Seu livro mais recente, Das Ende – Kampf bis in den Untergang (O Fim – Combate até a Queda), Kershaw, hoje aos 68 anos, procura respostas para o relativo bom funcionamento da sociedade alemã na fase final e apocalíptica do Terceiro Reich.

Ainda em abril de 1945, salários e honorários eram pagos normalmente no país, os músicos da Filarmônica de Berlim apresentavam-se em concertos, o time de futebol Bayern de Munique jogava regularmente e as tropas alemãs recebiam armas e munição. Até mesmo o abastecimento da população com alimentos esteve garantido até os últimos dias da guerra, mesmo considerando que de vez em quando e em alguns lugares houvesse escassez.

Militarismo prussiano


Ian Kershaw
Ian Kershaw Ian Kershaw questiona como isso foi possível, perguntando por que a população alemã tolerou as atrocidades da guerra até a derrocada total, sem se rebelar, como ocorreu, por exemplo, em novembro de 1918. "A resposta é simples. O terror do aparelho de repressão nazista era tão grande que uma revolução vinda de baixo era completamente impossível", diz Kershaw.

Esta foi inclusive a principal diferença entre aquele momento e o fim da Primeira Guerra Mundial, acredita o historiador. Em 1918, aponta ele, havia na Alemanha um Parlamento, partidos políticos e até mesmo um movimento pacifista. Não existia nenhuma Gestapo e nem soldados inimigos em território alemão. "A situação em 1918 era completamente diferente da de 1945. O terror funcionou até as últimas semanas da Segunda Guerra, sendo capaz de abortar qualquer ameaça revolucionária ao regime", diz o historiador.

Hitler: poderes ilimitados

Ian Kershaw analisa de maneira clara, em seu livro de 700 páginas, a queda do regime de Hitler, destrinchando detalhadamente e de maneira impressionante as estruturas de comando do Terceiro Reich até o terceiro ou quarto escalões. "Por que os generais da mais alta patente do Exército obedeciam às ordens cada vez mais absurdas de Hitler?", pergunta o historiador. Por um lado, diz ele, em função das tradições nefastas do militarismo prussiano, que ainda eram presentes; por outro lado, continua Kershaw, porque os nazistas souberam explorar magistralmente antigos conceitos militares como "obrigação" e "honra" para atingir seus propósitos.

Conformidade no Estado do "Führer"

A principal explicação de Ian Kershaw para a conformidade bizarra dos alemães é, contudo, uma outra, de ordem estrutural: ao contrário da Itália fascista, segundo ele, a Alemanha nazista era, de fato, um "Estado do Führer".

Edição alemã do livro
de Ian Kershaw

Enquanto Mussolini tinha, durante todo o período de seu governo, que dar satisfações ao rei Vítor Emanuel 3° e ao Grande Conselho do Fascismo, que o depôs em julho de 1943, não existia nada na Alemanha que equivalesse a essa divisão parcial de poder. Hitler não devia satisfações a nenhuma instância, nem a ninguém, e não havia nenhuma instituição com a qual ele fosse obrigado a debater suas decisões. E como ele, na condição de ditador, havia tomado a decisão de levar a guerra até a autodestruição, o povo alemão não tinha outra alternativa exceto obedecê-lo praticamente sem resistência, opina Kershaw.

Em seu livro, o historiador britânico dá provas de maestria em narrativa histórica. Em uma espécie de cinemascope historiográfico, Kershaw oferece ao leitor uma interpretação coerente e marcante dos últimos dias de guerra na Alemanha. Trata-se de um livro grandioso como um filme sobre a história daquele período, apresentado por Kershaw ao público de hoje.

Autor: Günter Kaindlstorfer (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,15655277,00.html

sábado, 29 de outubro de 2011

A "técnica" do negacionista Faurisson de "revisar" a História do Holocausto - parte 2

Em mais um texto ridículo, o 'guru' "revisionista" francês Robert Faurisson, tentando aliviar a barra do fascista Le Pen, seu compatriota, e suas declarações negacionistas na França sobre o Holocausto anos atrás, demonstra como elabora seu "método" de "revisar" a História: ele cata 'supostos' furos em livros e acusa que a não citação de câmaras de gás no Holocausto ou mesmo do próprio genocídio, por uma personalidade, equivale a uma 'admissão' de que as mesmas não existiram.

Sobre o historiador francês René Rémond, a alegação de Faurisson (ver aqui):
No terceiro volume de sua Introdução à história de nossos tempos (Introduction à l'histoire de notre temps), René Rémond, que foi então presidente da comissão sobre história da deportação dentro do Comitê de História da Segunda Guerra Mundial (Comité d'histoire de la Deuxième Guerre mondiale), não fez qualquer tipo de menção a estas câmaras de gás (Le XXe siècle de 1914 à nos jours ["The 20th Century from 1914 to the Present"], Le Seuil, 1974). Catorze anos depois, quando ele havia tornado presidente do Instituto de História Contemporânea (Institut d'histoire du temps présent), uma vez mais ele não fez nenhuma menção delas em um trabalho de 1013 páginas entitulado Notre Siècle de 1916 à 1988 ("Nosso século de 1916 a 1988"*," Paris: Fayard, 1988).[1]
Pois bem, que tal o próprio citado(o historiador René Rémond) falando sobre as declarações de Le Pen sobre câmaras de gás, em vídeo, numa entrevista dada a um jornal?

Link do vídeo: ina.fr René Rémond

Resumo do vídeo: Plateau René Rémond (15/09/1987 - 03min20s)
Convidado do jornal, o historiador René Rémond, fala sobre as palavras de Jean-Marie Le Pen no "Grande Júri RTL-Le Monde", considerando as câmaras de gás como um "detalhe técnico". René Rémond considera, por sua vez, que as palavras de Le Pen e dos próprios fascistas banalizam o que aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial: "Negar a verdade do genocídio. O que é chocante é que para ele (JM Le Pen) é apenas um detalhe." René Rémond diz que no campo revisionista não há historiadores, mas sim polemistas. "Le Pen se encaixa no campo dos revisionistas." Respondendo à "gafe" de Le Pen: "Le Pen tenta tranquilizá-los. Acho que é um relaxamento de sua vigilância, lapso, gafe." René Rémond explica o impacto sobre o primeiro turno das eleições presidenciais e seu impacto entre o primeiro e segundo turno.[2]

O "método Faurisson" de "revisar" História (que é um método comum e praticado por todos os "revisionistas") é tão bisonho que chega a ser constrangedor saber que há gente que dá crédito às cretinices de sites de extrema-direita na internet que negam o genocídio da segunda guerra com distorções e manipulações.

*Observação: no texto original no site do IHR consta no título em francês "Notre Siècle de 1918 à 1988", só que na tradução para o inglês o título aparece assim "Our Century from 1916 to 1988". Um pequeno erro de digitação, que não mereceria nem sequer uma observação exceto que por pura implicância mesmo já que os "revisionistas" adoram se "amarrar" em "erros" deste tipo.

Notas

[1] Texto "The Detail", Robert Faurisson. Texto alojado no site do IHR sobre o historiador René Rémond.
[2] Entrevista de René Remond a um telejornal francês. Vídeo alojado no site ina.fr datado de 1987.

Pra quem não viu a parte 1, confiram-na no link.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Inteligência alemã ocultou identidade de Adolf Eichmann na Argentina

Alemanha ocultou a identidade do criminoso nazi Adolf Eichmann na Argentina

Adolf Eichman em
sua cela em 1961
 As autoridades alemãs sabiam do paradeiro do assassino nazista Adolf Eichmann, mas o ocultaram. Como evidenciado por um documento publicado pelo jornal Bild Zeitung, os serviços secretos alemães sabiam desde 1952 que Eichmann estava escondido na Argentina com uma identidade falsa, com o nome de Ricardo Klement, assim como seu endereço e contatos.

O achado documental, que forma parte do material reunido pela historiadora Bettina Stangneth na preparação de um livro sobre Eichmann a ser publicado no próximo mês de abril, põe de manifiesto que Alemania seguiu protegendo os hierarcas nazis ocultos muitos anos depois do término da II Guerra Mundial.

Finalmente, Eichmann foi capturado em 13 de maio de 1960 por agentes israelenses na Argentina e transportado para Jerusalém para ser julgado por seu papel no assassinato de um terço da população judaica da Europa durante a Segunda Guerra Mundial. O julgamento de Eichmann, em abril de agosto 1961, atraiu a atenção mundial como o mais importante julgamento de criminosos nazis desde os Julgamentos de Nuremberg de 1945-1946.

Ao ocultar sua verdadeira identidade, tanto Alemanha como os EUA, cujos serviços secretos também tinham notícia da vida de Eichmann na Argentina, estavam dando proteção ao homem que, no verão de 1941 foi um dos primeiros a falar da 'Solução Final', e em 20 de janeiro de 1942, foi um dos 15 que assistiram a Conferência de Wannsee, onde o setor formal decidiu de enviar os judeus europeus para os campos de extermínio.

Eichmann oculpou-se pessoalmente de manter a capacidade de matança dos campos de concentração nazis, mantendo um fluxo constante das vítimas. Foi o responsável direto da decisão de incluir as crianças nas câmaras de gás, junto con suas mães e idosos.

Em 1944, Eichmann informou a Himmler que uns quatro milhões de judeus foram assassinados nos campos e uns dois milhões mais haviam sido fuzilados pelas unidades móveis.

Rosalía Sánchez | Berlim

Fonte: Elmundo.es (Espanha)
http://www.elmundo.es/elmundo/2011/01/08/internacional/1294481753.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Serviço secreto alemão sabia que Eichmann vivia na Argentina desde 1952 (AFP, postado em avidanofront.blogspot.com)
Bonn sabía que el nazi Eichmann se ocultaba en Argentina 8 años antes (ABC)
New claims surface around German intelligence and Nazi Eichmann (DW, Alemanha)

Observação: em matéria da Deutsche Welle de 2006, há quase cinco anos, o assunto já havia sido abordado com o título de "Ex-premiê alemão e CIA encobriram criminoso nazista". As matérias que saíram ontem e hoje sobre o tema é o que se pode chamar de requentar assunto.

sábado, 13 de novembro de 2010

Biografia HITLER - Ian Kershaw

Quando foram publicados, em 1998 e 2000, os dois volumes da monumental biografia de Hitler escrita por Ian Kershaw foram imediatamente saudados em todo o mundo como obras fundamentais sobre a figura mais sinistra da história do século XX. A presente tradução foi realizada a partir da versão condensada elaborada pelo autor, que eliminou cerca de quatrocentas páginas de notas e referências - destinadas sobretudo ao público acadêmico -, sem no entanto prejudicar a força da narrativa e o poder de seu argumento.

Kershaw escreve baseado na farta documentação já conhecida e em novas fontes, como o surpreendente diário de Goebbels, redescoberto no início da década de 1990, que traz revelações mais íntimas sobre as atitudes, as hesitações e o comportamento de Hitler no poder. A trajetória inteira desse indivíduo que parecia destinado ao fracasso e que acabou na direção de um dos países mais desenvolvidos, cultos e complexos da Europa é esmiuçada pelo autor, em busca de uma explicação para essa incrível trajetória ascendente, para o domínio que Hitler exerceu sobre as elites alemãs e para a catástrofe que causou em seu país e no resto do mundo.

Sem desprezar os traços de personalidade do ditador na explicação da história, o autor enfatiza os aspectos sociais, políticos e econômicos da sociedade alemã traumatizada pela derrota na Primeira Guerra, a instabilidade política, a miséria econômica e a crise cultural. E, em vários momentos, Kershaw permite-se fazer exercícios contrafactuais, perguntando-se como tudo poderia ter sido diferente se, por exemplo, a elite conservadora alemã tivesse se comportado de outra maneira, ou se as potências ocidentais não tivessem hesitado tanto, ou mesmo se Hitler simplesmente não tivesse tido tanta sorte (sua sobrevivência a vários atentados, por exemplo, se deveu muitas vezes ao acaso).

De um lado, o autor evita as simplificações de alguns críticos do nazismo, mas por outro contesta, utilizando para isso um exame detalhadíssimo de documentos e eventos, as teorias revisionistas que tentam “absolver” Hitler do Holocausto. Ele mostra que, de fato, não existe uma ordem escrita por Hitler para a execução da “solução final para a questão judaica”, mas isso não o isenta da responsabilidade pelo extermínio de milhões de judeus, pois, além de estimular verbalmente essa “aniquilação” (palavra que usava com prodigalidade), ele estava perfeitamente a par do que se passava nos campos de concentração (“Não faço nada que o Führer não saiba”, disse o carrasco-mor Himmler).

Em suma, trata-se da biografia mais completa e abrangente do homem que levou o racismo, o desprezo pela vida humana, a insensatez política e o desvario militar a extremos tais que o romancista Norman Mailer chegou a ver nele a pura encarnação do demônio.

Supera todos os relatos anteriores. É o tipo de biografia magistral que somente um historiador de primeira linha é capaz de escrever.” - The Observer

Quem quiser entender o Terceiro Reich deve ler Kershaw, pois ninguém fez mais do que ele para desnudar a psique mórbida de Hitler.” - Sunday Telegraph

Será a biografia clássica de Hitler para o nosso tempo.” - The New York Review of Books

Fonte: Companhia das Letras
http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12507

sábado, 4 de setembro de 2010

Nova biografia revela que Simon Wiesenthal trabalhava para o Mossad

Nova biografia revela que Simon Wiesenthal trabalhava para a agência israelita Mossad
Por Rita Siza

(Foto)A Mossad atribuíra o nome de código "Teocrata" a Wiesenthal AFP

Tom Segev, o autor do livro, consultou mais de 300 mil documentos deixados pelo sobrevivente do Holocausto no seu centro de Viena

Uma nova biografia de Simon Wiesenthal, o mítico sobrevivente do Holocausto que dedicou toda a vida à perseguição e exposição de criminosos de guerra nazis, revela que as suas diligências foram financiadas pela Mossad, e demonstra que os esforços da agência israelita de serviços secretos para capturar figuras ligadas ao Terceiro Reich foram bem mais longe do que se pensava.

O livro, intitulado Wiesenthal - The Life and Legends, da autoria do historiador e colunista israelita Tom Segev, assenta em mais de 300 mil documentos do arquivo pessoal e profissional depositados no Centro de Documentação Judaico criado por Wiesenthal em Viena, para caracterizar a missão a que ele dedicou toda a sua vida.

"É uma revelação surpreendente no contexto da narrativa da sua história pessoal, porque Wiesenthal sempre foi visto como um solitário, como alguém que lutou sozinho contra tudo e contra todos, contra todas as probabilidades e até contra as autoridades e leis locais", considera o autor da obra.

Salário de 300 dólares

Simon Wiesenthal, que nasceu em 1908 na actual Ucrânia, foi prisioneiro em cinco campos de concentração nazis. No final da guerra, começou a reunir provas das atrocidades cometidas pelos nazis para a secção de crimes de guerra do Exército dos Estados Unidos.

O resto da sua vida foi passado à procura de criminosos nazis - o seu trabalho levou à prisão de mais de mil intervenientes no Holocausto.

Tom Segev provou agora que a ligação de Wiesenthal aos serviços secretos israelitas remonta aos primeiros anos de actividade do seu escritório em Viena: a Mossad ajudou-o a montar o gabinete e passou a enviar-lhe um salário mensal de 300 dólares pelas suas informações.

O rabi Marvin Hier, fundador do Centro Simon Wiesenthal de Los Angeles, disse à agência Associated Press que o próprio Wiesenthal lhe tinha confessado ter em tempos colaborado com a Mossad, sem dar contudo a ideia de que essa colaboração tinha sido formal e remunerada.

Conforme se lê na biografia, Wiesenthal começou a trabalhar com os serviços secretos israelitas logo em 1948, um ano antes da constituição oficial da Mossad. O sobrevivente do Holocausto engendrou uma operação com o então "departamento de Estado" do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel para capturar Adolf Eichmann, conhecido como "o arquitecto do Holocausto", na localidade austríaca de Altaussee, onde acreditava que ele iria celebrar a passagem de ano com a sua mulher e filhos.

Eichmann não apareceu, mas Wiesenthal nunca desistiu de o procurar. Também nunca mais deixou de fornecer informações à Mossad: em 1953 informou a polícia secreta que Eichmann estava fugido na Argentina. No entanto, só em 1960 é que os serviços operacionais decidiram montar uma nova missão de captura daquele dirigente nazi, que foi detido no dia 21 de Março.

Durante a década de 70, Wiesenthal, a quem a Mossad atribuíra o nome de código "Teocrata", forneceu informação extensiva não só sobre os paradeiros de oficiais nazis (cuja detenção e acusação sempre foi a sua prioridade), mas também da génese de vários grupos neonazis que ameaçavam comunidades judaicas na Europa. Também denunciou uma série de cientistas alemães que trabalhavam no programa militar do Egito.

Fonte: Público20(Portugal)
http://jornal.publico.pt/noticia/04-09-2010/nova-biografia-revela-que-simon-wiesenthal-trabalhava-para-a-agencia-israelita-mossad-20141267.htm

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Martin Gilbert: O Holocausto – Uma História dos Judeus da Europa durante a Segunda Guerra Mundial

Como não encontrei resenha desse livro em algum site de jornal e acho que é um dos maiores lançamentos de uma obra sobre o Holocausto em língua portuguesa, portanto, não poderia deixar de citar aqui, o jeito foi traduzir duas resenhas breves(do inglês pro português) sobre o livro e colocar aqui pra divulgação.

Livro de Sir Martin Gilbert, biógrafo oficial de Winston Churchill e historiador britânico de peso, sobre o Holocausto. Livro finalmente lançado em língua portuguesa(finalmente lançaram algo de peso e de referência sobre o assunto no país, exceção feita a alguns poucos títulos consagrados que foram, alguns relançamentos e uns poucos inéditos, publicados nos últimos anos).

Título: O Holocausto – Uma História dos Judeus da Europa durante a Segunda Guerra Mundial
Editora: Hucitec
Título original(inglês): The Holocaust: A History of the Jews of Europe During the Second World War

Críticas Editoriais

Crítica da Amazon.com
Um livro convincente sobre um tema horrível, 'O Holocausto(The Holocaust) deve ser o livro mais refinado disponível para aqueles que querem um entendimento geral de como a ascensão dos nazis na Alemanha impactou o povo judeu - como também aqueles que querem aprender exatamente o que esteve em jogo na Segunda Guerra Mundial. Quando 'O Holocausto'(The Holocaust) foi publicado pela primeira vez em 1986, Elie Wiesel fez uma elogiosa crítica escrevendo, "Este livro tem que ser lido e relido".

Ocasionalmente parece como um catálogo entorpecido de horrores indescritíveis, mas como alguém escreveria uma história compreensiva daquela grande tragédia? Gilbert é um autor consagrado com uma espantosa longa lista de livros em seu crédito; esse está entre seus melhores.

Da Publishers Weekly

Uma pungente introdução do autor (biógrafo oficial de Winston Churchill) é seguida por sua análise instrutiva do antissemitismo na Europa, dos ataques venenosos de Martinho Lutero contra os judeus até o motivante poder do antissemitismo no movimento nacional-socialista(nazista). A "solução final" de Hitler começou formalmente dentro do período da invasão alemã da Rússia, uma campanha que, como Gilbert mostra, proporcionou uma oportunidade para o que faltava até este ponto para genocídio.

Com um implacável acúmulo de detalhes e depoimentos de testemunhas, ele escreve sobre a eficiência sistemática do intento Nazi para destruir a judiaria europeia e a muito difundida descrença de que tais coisas pudessem acontecer. Embora a figura de Adolf Hitler permaneça no pano de fundo, executores tais como Himmler, Eichmann e Mengele ficam muito mais em evidência por toda a narrativa comovente (há um novo material sobre os trabalhos dos últimos em Auschwitz). Um elemento na tragédia histórica que Gilbert enfatiza é a deliberada destruição das crianças dos interesses principais de Mengele aos quais o autor chama de "o novo barbarismo".

A narrativa alcança seu espantoso clímax com a convergência sobre os campos da morte para Aliados e o exército soviético, um tempo em que "resgate e chacina marcham lado a lado." Uma seção particularmente perturbadora trata com erupções o antissemitismo depois da rendição alemã. Em 4 de julho de 1946, pela ocasião de mais de um ano após o dia da vitória, 42 judeus foram massacrados por poloneses na cidade de Kielce.

Gilbert traz dentro das páginas deste volume todas as maiores evidências substanciadas da resistência judaica através da guerra, mas também de muitos exemplos de não-judeus que arriscaram suas vidas para proteger pessoas da caçada de Hitler. Fotos. Major ad/promo. Janeiro Copyright 1985 Reed Business Information, Inc.

Fonte das resenhas: Amazon.com
Resenha/Crítica de "The Holocaust: A History of the Jews of Europe During the Second World War"
Tradução: Roberto Lucena

Ver também: Bibliografias
Bibliografia do Holocausto - Nazismo - Fascismo
Bibliografia da Segunda Guerra - Primeira Guerra - Guerra Civil Espanhola e outros
Bibliografia sobre Racismo - Neonazismo - Neofascismo - Negação do Holocausto

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Historiador britânico Tony Judt morre nos EUA aos 62 anos

NOVA YORK — O historiador Tony Judt, que ironizava o rótulo recebido de esquerdista e comunista que renegava a origem judia, morreu em sua casa de Manhattan, aos 62 anos, anunciou neste domingo o jornal The New York Times.

O historiador, que ensinava na New York University, faleceu na sexta-feira, com a notícia só sendo divulgada agora, vítima de complicações de uma enfermiade degenerativa que tem o nome do jogador de beisebol Lou Gehrig.

Nascido e educado na Grã-Bretanha, Judt vivia nos Estados Unidos, tendo ensinado em universidades americanas durante a maior parte da carreira, como especialista em história francesa do pós-guerra.

Sua tese sobre a reconstituição do Partido Socialista francês depois da primeira guerra mundial foi publicada na França como "La Reconstruction du Parti Socialiste: 1921-1926" (1976).

Em 1979 publicou um ensaio sobre a esquerda francesa: "Socialism in Provence, 1871-1914: A Study in the Origins of the Modern French Left," e em 1986 "Marxism and the French Left: Studies on Labour and Politics in France, 1830-1981" sobre as relações entre o poder político e o movimento operário na França.

"Hoje, fora da Universidade de Nova York, sou visto como uma caricatura de esquerdista, como um comunista que renega suas origens. Dentro da universidade, consideram-me um típico elitista liberal branco, fora de moda", declarou ao jornal The Guardian de Londres, em janeiro passado. "Gosto disso. Estou nos limites de ambos".

Embora filho de judeus e de seu apoio a Israel no princípio, Judt deixou de acreditar no sionismo mais tarde e começou a ver Israel como um poder ocupante nefasto, cuja autodefinição como Estado judeu - argumentou depois - era um anacronismo, afirmou ao Times.

Fonte: AFP
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5g-tH_XlcOOlhYeHZnorBP3dwBWNA

Mais:
Morreu o historiador Tony Judt Destak(Portugal)

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